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Economia cafeeira escravista Ao fi nal desta aula, você deverá ser capaz de: Reconhecer o papel fundamental do café na recuperação da economia brasileira no início do século XIX. Conceituar bases iniciais de produção ao longo do século XIX. 4 ob jet ivo s A U L A Meta da aula Analisar as origens da economia cafeeira, sua importância para a recuperação econômica brasileira na primeira metade do século XIX, bem como os limites do uso da mão-de-obra escrava na produção. 1 2 Aula_04.indd 71 1/12/2006, 2:05:16 PM 72 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista INTRODUÇÃO O século XIX marcou um importante processo de estagnação da economia brasileira, particularmente no período que se seguiu ao processo de independência do país. No campo externo, crescia o déficit comercial – resultante, sobretudo, de dois fatores. Primeiro, a extensão de vantagens comerciais dadas a outros países além da Inglaterra – como vimos na aula passada, esse país teve grandes privilégios com os tratados comerciais fi rmados a partir da abertura dos portos. Segundo, as culturas da cana-de-açúcar e do algodão, principais fontes de recursos externos (moeda estrangeira), sofriam crescente concorrência no mercado internacional. No caso da cana, o aumento da produção de açúcar, na Europa, a partir da beterraba, e a pesada entrada no mercado de países como Cuba aumentaram sobremaneira a oferta internacional. Como conseqüências, temos a queda do preço no mercado externo e a redução da receita de exportação brasileira (reveja, na Aula 1, a crise da cultura da cana-de-açúcar). A cultura do algodão passou por problemas semelhantes. Apesar do quadro favorável para a produção no Brasil nos últimos 25 anos do século XVIII – em especial no Maranhão –, o panorama mudou radicalmente no início do século seguinte. O fi m da guerra pela independência nos Estados Unidos (1776) propiciou um grande aumento da produção de algodão em regiões da Flórida, o que também fez despencar os preços internacionais e reduzir drasticamente a receita de exportação brasileira do produto. No plano interno, agravava-se rapidamente o défi cit público. Isso ocorreu em função do aumento das despesas militares. Os confl itos regionais multiplicaram- se, e houve também disputas territoriais, como as GUERRAS CISPLATINAS. Além disso, como você viu na aula passada, o Brasil se viu obrigado a pagar uma indenização a Portugal para ter sua independência reconhecida. Durante esse período, houve uma queda importante das receitas alfandegárias, resultado direto da adoção de medidas direcionadas à prática do LIVRE CAMBISMO, que estendeu a outros países as vantagens comerciais concedidas à Inglaterra quando da assinatura dos tratados comerciais – que você viu com mais detalhes na Aula 3. GU E R R A S C I S P L A T I N A S “A Banda Oriental, disputada por brasileiros e castelhanos, é incorporada ao Império em 1821 como Província Cisplatina. Em 1825, líderes separatistas locais, comandados por Fructuoso Rivera, proclamam a independência da região. O Brasil declara guerra à Argentina, que também reivindica a posse da Província, em 10 de outubro de 1825. É derrotado na batalha de Passo do Rosário em 20/2/ 1827. A diplomacia britânica intervém e os dois países desistem da região. Um tratado de paz cria a República Independente do Uruguai, em 27 de agosto de 1828.” – In: http://www.conhe cimentosgerais.com. br/historia-do-brasil/ unidade-nacional-e- resistencia.html LI V RE C A M B I S M O Conjunto de medidas direcionadas para a liberação do comércio internacional – a redução das tarifas alfandegárias, por exemplo. Aula_04.indd 72 1/12/2006, 2:05:17 PM C E D E R J 73 A U LA 4 Nesse cenário de estagnação e difi culdades de crédito, o único fator abundante na economia brasileira era a terra. Era essencial encontrar um produto exportável que aproveitasse essa vantagem, pois o capital disponível era praticamente inexistente, e a mão-de-obra estava entrando em um claro processo de escassez, já que a queda de receita das principais culturas reduzia a capacidade de aquisição de escravos. O INÍCIO DA CAFEICULTURA PARA EXPORTAÇÃO NO BRASIL Cultivado no Brasil desde o início do século XVIII, o café era, até então, um produto direcionado à subsistência e com difusão bastante limitada no país. Apenas no século XIX passou a ser incentivada sua produção para o mercado externo. Alguns fatores contribuíram decisivamente para isto. Pelo lado da demanda, o crescimento dos mercados europeu e norte-americano, em função do avanço da indústria e da urbanização, foi fundamental. Ao mesmo tempo, do lado da oferta, o colapso da produção haitiana (colônia francesa em processo de independência) determinou um importante aumento dos preços internacionais, estimulando a entrada do Brasil nesse mercado. Contava ainda, a favor do produto, uma característica crucial para o momento: a baixa capitalização requerida para o processo produtivo, bem mais reduzida que na economia açucareira – o maquinário utilizado para a produção de açúcar tinha um custo bem superior. Concorriam para isso a utilização extensiva da terra, com técnicas rudimentares e de fácil acesso, e as menores necessidades de reposição de maquinário, pois os equipamentos eram bem simples e, em grande parte, de fabricação local. Você já ouviu falar na cidade de Colônia do Sacramento? Situada à margem direita do Rio da Prata, em frente a Buenos Aires, foi fundada por portugueses e ingleses em 1680 por ordem de D. Pedro I. Os objetivos do monarca eram estender seus domínios até o estuário do Prata e continuar captando a prata peruana. A cidade, inicialmente domínio português, acabou fi cando em poder dos espanhóis a partir de 1750. Em http://www.seol.com.br/mneme/ed12/119.pdf, você pode obter mais informações sobre a importância estratégica de Colônia do Sacramento. Aula_04.indd 73 1/12/2006, 2:05:19 PM 74 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista As contas do café Observe, na Tabela 4.1, o crescimento da participação relativa do café ao longo do século XIX. De 1821 a 1840, por exemplo, a porcentagem aumentou de 18,4% a 43,4%. Impressionante, não acha? Repare, agora, nas taxas relacionadas ao açúcar e ao algodão, vistos nas aulas anteriores, e compare-as ao que aconteceu com o café. O que você pode verifi car? Lembre-se de incluir, nas suas observações, o contexto histórico do século XIX. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Resposta Comentada Em apenas 70 anos (de 1821 a 1890), o café passou a representar 61,5% das exportações brasileiras – uma participação de peso, você não acha? Enquanto a cultura cafeeira não parava de crescer, as do algodão e da cana-de-açúcar atravessavam uma grande crise, causada pela redução dos preços de revenda no mercado internacional. Você consegue perceber a dupla importância do café nesse contexto? Atividade 1 Como resultado, na década de 1830 o café já era o principal produto de exportação do Brasil, superando as receitas das culturas tradicionais de açúcar e algodão. Vamos ver isto com mais detalhes? 1 Tabela 4.1: participação relativa dos principais produtos de exportação no Brasil (%) Produtos 1821/30 1831/40 1841/50 1851/60 1861/70 1871/80 1881/90 Café 18,4 43,4 41,4 48,8 45,5 56,6 61,5 Açúcar 30,1 24 26,7 21,2 12,3 11,8 9,9 Algodão 20,6 10,8 7,5 6,2 18,3 9,5 4,2 Fumo 2,5 1,9 1,8 2,6 3 3,4 2,7 Cacau 0,5 0,6 1 1 0,9 1,2 1,6 Total 72,1 81,1 78,4 79,8 80 82,5 79,9 Fonte: CANABRAVA (1997) Aula_04.indd 74 1/12/2006, 2:05:20 PM C E D E R J 75 A U LA 4 O início da produção de café para exportação no Brasil se deu no Vale do Paraíba. Tratava-se de uma região de condições climáticas propícias para o cultivo desse produto, com terras abundantes para o plantio (você vai ver este assunto com mais detalhes na Aula 7, fi que atento!). Ao mesmo tempo, havia recursos ociosos da área da mineração (em franca decadência em Minas Gerais), tanto de capitais como de mão-de-obra escrava. É importante ressaltar que o Vale do Paraíba já vinha sendo ocupado, por ser caminho natural da área de mineração para o Rio de Janeiro, que era a capital e principal porto de escoamento das exportações. Desta forma, havia um claro interesse na ocupação e plantio dessa área para abastecer a capital, principalmente após a vinda da corte portuguesa para o país em 1808. Veja, na Figura 4.1, a região do Vale do Paraíba e a proximidade entre o Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Na próxima aula, você verá a importância dessa trajetória natural de expansão da cultura de café. Além disso, havia uma razão favorável para esta localização, em função da ausência de meios de transporte capazes de garantir o escoamento da produção a ser exportada a partir do porto do Rio de Janeiro. O café era então transportado por mulas, disponíveis em grande quantidade e bastante resistentes para a atividade. Figura 4.1: O Vale do Paraíba. Observando este mapa, é possível constatar que a proximidade de Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo é notável. Aula_04.indd 75 1/12/2006, 2:05:20 PM 76 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista O sistema de ocupação, como em geral ocorria à época, foi realizado por meio do sistema de SESMARIAS: as terras eram distribuídas e entregues aos fazendeiros de acordo com o número de escravos possuídos por eles. Este é um ponto importante; você pode perceber nele um dos determinantes do processo de concentração fundiária no Brasil. SE S M A R I A S “Grandes extensões de terras devolutas pertencentes à Coroa portuguesa e que eram doadas pelo monarca, fi cando os benefi ciados na obrigação de cultivá-las num prazo de três anos, sob pena de revogação da doação, e de pagar a sesma (daí o nome de sesmarias) ou um sexto do que nela viessem a produzir para a Coroa. A instituição das sesmarias deveu-se a uma lei promulgada em 1375 por D. Fernando I de Portugal e serviu para benefi ciar a burguesia comercial nascente que não possuía terras. Inicialmente, o benefi ciário se obrigava de uma sexta parte dos lucros obtidos nas terras das sesmaria. A instituição foi transferida para o Brasil, onde assumiu forma mais abrangente com o estabelecimento da Capitanias Hereditárias: as doações de sesmarias eram feitas aos colonos pelos donatários e pelos governadores – gerais. O sistema, só extinto em julho de 1822, deu origem à grande propriedade rural (latifúndio) no Brasil, benefi ciando apenas uma pequena parte dos habitantes da Colônia, e contribuiu para a concentração da propriedade fundiária no Brasil” (SANDRONI, 2004, p. 555). A história do café no Brasil está estreitamente ligada a Francisco de Mello Palheta, ofi cial que trouxe clandes- tinamente, da Guiana Francesa para o Brasil, a primeira muda da planta em 1727. Quer saber mais? Consulte http://www.abic.com.br/scafe_ historia.html. Veja, também, http://enetovix.tripod.com/ cafe-fi nal.pdf Neste caso, quando a produção de café começou a ganhar peso e importância, elevando substancialmente a capacidade de geração de renda e lucros no setor, os grandes fazendeiros expulsaram os pequenos proprietários – sobretudo por meio da falsifi cação dos registros. Isso obrigava os minifundiários a migrar para as cidades ou a partir para regiões periféricas, formando cordões agregados aos grandes latifúndios. Aula_04.indd 76 1/12/2006, 2:05:22 PM C E D E R J 77 A U LA 4 Café e ouro: atividades interdependentes? Em sua opinião, a expansão da atividade cafeeira no Brasil e o processo de decadência econômico-fi nanceira da mineração estão relacionados? Justifi que sua resposta. _____________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Resposta Comentada Apesar da elevação dos preços internacionais do café e da abundância de terras no Vale do Paraíba, a produção de café na região não seria viável sem os recursos ociosos da decadente atividade mineradora, com destaque para a oferta de mão-de-obra escrava e de capitais. Afi nal, o ouro encontrado no país parecia estar se esgotando rapidamente, e toda a infra-estrutura montada para encontrá-lo, purifi cá-lo e vendê-lo estava disponível. Atividade 2 BASES E CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO DE CAFÉ A produção de café no Vale do Paraíba seguiu as mesmas características básicas das demais culturas para exportação anteriormente assentadas no Brasil. O café era cultivado em latifúndios monocultores de base escravista, utilizando-se técnicas absolutamente precárias para a plantação, o que destacava a forma extensiva do processo produtivo. Tradicionalmente, o “preparo” da terra para o plantio baseava- se na derrubada e queimada da Mata Atlântica que cobria a região, utilizando o método vertical de plantação nas encostas, quando o recomendado para solos montanhosos seria a plantação das mudas em platôs ao longo da encosta. Não havia, entretanto, qualquer cuidado adicional com a terra, já bastante desgastada pelas queimadas 2 Aula_04.indd 77 1/12/2006, 2:05:24 PM 78 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista e exposta à ação erosiva das chuvas – uma constante naquela região. A intenção explícita dos cafeicultores era facilitar o trabalho dos escravos, desprovidos de qualquer experiência com o plantio do café – oriundos, em sua maioria, da atividade de mineração. É importante perceber que essa forma de utilização da terra impôs uma produção que ocupava áreas cada vez mais extensas, pois a deterioração do solo tornava-se acelerada. A necessidade recorrente de utilização de novas terras é um ponto-chave na dinâmica produtiva do Vale do Paraíba, explicando diretamente sua expansão na direção do Oeste paulista. De todo modo, como essas terras eram fartas e sem valor comercial à época, este não foi um problema fundamental no início da produção. Ao mesmo tempo, o emprego da mão-de-obra escrava não causou maiores problemas para os produtores – havia escravos ociosos da mineração e, posteriormente, outros foram trazidos de outras regiões decadentes, em particular do Nordeste. Os problemas decorrentes dessa forma de mão-de-obra, todavia, eram iminentes, pois o tráfi co negreiro vinha sendo cada vez mais combatido, o que determinava uma elevação substancial dos preços dos escravos. A Lei Eusébio de Queiroz, de 1850, determinando o fim do tráfi co, reduziu drasticamente a oferta de escravos. Nem isso, entretanto, causou uma mudança de postura dos cafeicultores do Vale do Paraíba, que mantiveram a prática de trazer negros de outras regiões brasileiras. !! Os últimos 209 escravos trazidos para o Brasil desembarcam em Serinhaém (PE), em 1855. Aula_04.indd 78 1/12/2006, 2:05:26 PM C E D E R J 79 A U LA 4 O resultado foi que, ao fi nal de 1877, cerca da metade dos escravos do país estava nessa região. Observe, na Tabela 4.2, o crescimento do número de escravos no Rio de Janeiro. Esse comportamento tinha uma raiz claramente cultural, pois já vinham ocorrendo, desde 1845, experiências com mão-de-obra imigrante (esse assunto será tratado com mais detalhe na próxima aula). Na verdade, os produtores não foram capazes de vislumbrar, até por questões ideológicas, a necessidade de uma forma alternativa de trabalho, considerando a iminente escassez de escravos após a extinção do tráfi co. O crédito e a comercialização do café seguiam um esquema semelhante ao apresentado na cultura do açúcar. Destacava-se, assim, a fi gura do comissário intermediando as transações entre fazendeiros, exportadores e importadores. A maior parte do lucro resultante do café girava em torno da comercialização do produto, a cargo dos exportadores e dos intermediários (como as CASAS COMISSÁRIAS). CA S A S C O M I S S Á R I A S Eram os pontos de venda do café nas cidades. Nestas localidades, os comissários – que intermediavam o comércio entre os meios rural e urbano – compravam o café dos fazendeiros e revendiam o produto para compradores na cidade ou no exterior. Os comissários vendiam, também, produtos industrializados aos fazendeiros. Muitos deles tinham procuração dos fazendeiros para comercializar em seu nome. Entre as mais importantes Casas Comissárias, destacam-se a Prado Chaves, que era também exportadora – e, em 1910, exportou 1,5 milhão de sacas de café –, a Whitalter & Brotero, a Companhia Intermediária de Café de Santos e a Companhia Paulista de Armazéns de Santos, controlada por ingleses. As vendas para o mercado externo eram muito lucrativas, já que, em virtude de a comunicação entre os continentes ser precária, os comissários podiam manipular a cotação do café. Tabela 4.2: Escravos no Rio de Janeiro Ano Número 1844 119.000 1877 370.000 Fonte: COSTA, 1989. Aula_04.indd 79 1/12/2006, 2:05:27 PM 80 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista Além disso, no que se refere ao crédito, os bancos nunca forneciam empréstimos diretamente aos fazendeiros, que fi cavam dependentes dos comissários para auferir os recursos necessários para a produção. Os comissários, por sua vez, seriam responsáveis pela venda do café, recebendo uma comissão remuneradora. Isso ocorria em função das próprias características do crédito, algo eminentemente pessoal até 1930 – o conhecimento direto e pessoal assumia uma importância muito grande para a concessão do crédito. Os fazendeiros, residentes na área rural, tinham poucas oportunidades para esse contato mais próximo com os banqueiros, o que criava um mecanismo que perpetuava a intermediação dos comissários, pois a garantia do dinheiro emprestado aos produtores era, exatamente, a sua produção. Inicialmente, o café era transportado por mulas, em estradas precárias, causando perdas importantes de café e de escravos. Essa prática era possível em função da proximidade entre as áreas iniciais de plantio no Vale e o porto do Rio de Janeiro, como você pôde verifi car na Figura 4.1. À medida que a produção se expandia, e considerando sua natureza extensiva, outra forma de transporte tornava-se necessária. A Estrada de Ferro D. Pedro II foi um exemplo: foi fi nanciada com capitais antes empregados no tráfi co de escravos e que fi caram sem aplicação após a Lei Eusébio de Queiroz. Vendo e aprendendo: café também é cultura Observe esta tela, de autoria de Cândido Portinari (1903-1962). Nela, o pintor brasileiro retrata a maneira de produção e armazenagem do café. A partir dela, como você descreveria a produção do café no Brasil? Na sua resposta, lembre-se de considerar: a) o tipo de mão-de-obra; b) a extensão do terreno; c) o perfi l dos trabalhadores. Atividade 3 2 Aula_04.indd 80 1/12/2006, 2:05:29 PM C E D E R J 81 A U LA 4 Resposta Comentada Resposta comentada: Você reparou a quantidade de pessoas trabalhando? São tantas que Portinari nos faz ter a impressão de que não cabem na tela. E o tamanho do terreno? Parece não ter fi m, não é mesmo? Assim era a produção cafeeira no Brasil: em grandes extensões de terra (latifúndios), utilizando a mão-de-bra escrava. Repare nas feições dos trabalhadores. Homens e mulheres têm características físicas dos negros. Eram ainda os escravos, remanejados de várias partes do país. Viu que não existem outros tipos de plantação ao redor? A monocultura também era outro traço marcante da produção cafeeira da época. Café, de Candido Portinari, 1935 1,30m x 1,95m. Óleo sobre tela. Exposta no Museu Virtual da Administração O DECLÍNIO DA PRODUÇÃO DE CAFÉ NO VALE DO PARAÍBA A decadência da cultura do café no Vale é explicada diretamente pelas bases assumidas no seu processo de produção, sobretudo no que diz respeito à utilização das terras e à mão-de-obra escrava insistentemente empregada ao longo da segunda metade do século XIX, quando sua oferta tornou-se defi nitivamente escassa. Ao mesmo tempo, a decadência da cafeicultura implicou a inadimplência crescente dos produtores junto aos comissários, levando-os também a uma situação fi nanceira complicada. A quebra de casas comissárias, por sua vez, atingiu também bancos em que os Aula_04.indd 81 1/12/2006, 2:05:29 PM 82 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista comissários descontavam títulos para obter recursos. Esse processo foi responsável por uma importante redução da disponibilidade de crédito para a produção, o que difi cultou ainda mais a continuidade do negócio. Apesar de algumas tentativas de diversifi cação produtiva com o algodão e o açúcar, no intuito de fugir da grande dependência da plantação de café, a maior parte das fazendas do Vale do Paraíba mais próximas da capital entrou em um processo irreversível de falência. Como resultado, a produção de café passou a se concentrar, defi nitivamente, na região conhecida como Oeste Paulista, assunto da próxima aula. CONCLUSÃO O café tornou-se rapidamente o principal produto de exportação do Brasil no século XIX, expandindo sua cultura de maneira acelerada. Encontrou condições excepcionalmente propícias para esse crescimento, reunindo vantagens associadas à facilidade para sua plantação em larga escala (pela pouca exigência de capital inicial e pela oferta abundante de terras próximas ao porto do Rio de Janeiro). A possibilidade de utilização de mão-de-obra escrava ociosa em outras culturas foi também um fator altamente favorável no início da produção no Vale do Paraíba. Em um período relativamente curto de tempo, todavia, essas mesmas condições determinaram o fi m da produção nessa região. As terras, apesar de fartas, não eram as mais adequadas para o plantio, tanto pela sua qualidade, quanto pela situação geográfi ca em encostas – a erosão era extremamente veloz. Por seu turno, a manutenção do trabalho escravo nas lavouras logo viria a se apresentar como um problema crucial para a continuidade da produção, especialmente a partir do fi m defi nitivo do tráfi co negreiro, o que reduziu substancialmente a oferta deste tipo de mão-de-obra. Atualmente, o Brasil é o maior produtor de café do mundo, sendo responsável por 30% do volume total de produção. É, também, o segundo maior consumidor, antecedido apenas pelos Estados Unidos, segundo informações do Instituto Brasileiro do Café (IBC). Aula_04.indd 82 1/12/2006, 2:05:30 PM C E D E R J 83 A U LA 4 Contradições da economia cafeeira Imagine que você está arrumando sua prateleira para colocar seus livros de Administração. Você tem de tirar do lugar materiais antigos, álbuns, coisas de que você nem se lembrava... De repente, cai no chão um álbum antigo. Quando você vai olhar, descobre que ele pertencia aos seus bisavós. Ao pegá-lo, cai um recorte de jornal. Ele está envelhecido, mal se pode ler o que ele contém. A data? 18... Tomado pela curiosidade, você começa a ler. O único trecho legível é: “A existência do braço escravo relativamente abundante, no Vale do Paraíba, tornou-se um fator diretamente contrário ao progresso da cultura cafeeira na região.” Que coincidência, não? Justo o que você estudou nesta aula. Já que você acabou de ver este assunto em detalhes, é uma hora propícia para perguntar se você concorda com essa afi rmação. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Resposta Comentada Refeito do susto provocado pela grande coincidência – há quem diga que o acaso não existe, principalmente nas suas aulas de FEB –, você deve ter concordado com o que se disse no texto que você encontrou. Dois motivos contribuem, fundamentalmente, para esse raciocínio. Primeiro, de maneira mais direta, a pouca especialização do escravo para a lavoura cafeeira determinava o uso de técnicas precárias. Segundo, a reduzida necessidade de buscar uma alternativa de mão-de-obra aos escravos, pois havia a possibilidade de trazê-la de regiões onde se encontrava ociosa – mesmo após o fim do tráfico negreiro – primeiro de Minas e depois do Nordeste. Atividade Final 21 Aula_04.indd 83 1/12/2006, 2:05:30 PM 84 C E D E R J Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista Nesta aula, vimos que a produção de café para exportação no Brasil encontrou uma situação especialmente favorável no início do século XIX. Vimos também que a decadência de culturas tradicionais (veja na Tabela 4.1) e a disponibilidade de recursos ociosos, em um contexto de elevação dos preços internacionais do produto, permitiram um rápido crescimento de sua cultura no País. Todavia, as condições propícias do Vale do Paraíba para seu deslanche inicial, sobretudo a fartura de terras e a oferta de mão-de-obra escrava, foram também responsáveis diretas para seu rápido declínio, pelo uso inadequado dessa terra e o fi m do tráfi co de escravos. R E S U M O Aula_04.indd 84 1/12/2006, 2:05:31 PM