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1 Disciplina: Dto do Trabalho II Professora: Marice Taques. Aula 10 10-REMUNERAÇÃO E SALÁRIO (1ª parte) 1. REMUNERAÇÃO - CONCEITO O art. 457 da CLT dispõe que: "Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber". Remuneração consiste no somatório da contraprestação paga diretamente pelo empregador, seja em pecúnia, seja em utilidades, com a quantia recebida pelo obreiro de terceiros, a título de gorjeta. Nesse contexto, pela análise do art. 457 consolidado, podemos extrair a seguinte fórmula: A remuneração é o gênero do qual salário é espécie. Dessa forma, todo salário é remuneração, porém, nem toda remuneração é salário. Frise-se que o salário é a contraprestação paga diretamente pelo empregador, seja em dinheiro, seja em utilidades (alimentação habitação etc.). Remuneração é a soma dos pagamentos diretos e indiretos em virtude do contrato de trabalho. Portanto, as gorjetas são sempre pagas em dinheiro e por terceiros não sendo pagas pelo próprio empregador, que inclui o pagamento indireto recebido pelo empregado. A remuneração é característica da onerosidade contratual, viste que um dos requisitos caracterizadores da relação de emprego é a onerosidade, ou seja, o recebimento de contraprestação salarial pele obreiro em função do serviço prestado ao empregador. 2.GORJETA Gorjeta, segundo o § 3° do art. 457 da CLT, é "não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também aquela que for cobrada pela empresa ao cliente, como adicional nas contas, a qualquer título, e destinada à distribuição aos empregados". O pagamento da gorjeta é feito, assim, sempre em dinheiro e por um terceiro, o cliente, e não pelo próprio empregador. Logo, não integra o salário do obreiro, o qual é pago diretamente pelo empregador, apenas integrando a remuneração do trabalhador. A gorjeta pode constituir-se num valor fixo dado pelo cliente como também num percentual incidente sobre a nota de serviço, normalmente fixado em 10%. A remuneração não poderá ser fixada exclusivamente na base de gorjeta, haja vista que a gorjeta é paga por terceiros, e não pelo empregador. Nessa esteira, permitido o pagamento da remuneração exclusivamente à base de gorjeta, ficaria o empregador desonerado de sua principal obrigação, qual seja, a de remunerar o empregado pelos serviços prestados. Portanto, ainda que o trabalhador receba gorjetas, cujo valor total mensal supere o salário mínimo nacionalmente unificado, assim mesmo deverá o empregador pagar ao obreiro o salário mínimo ou o piso salarial da categoria, se houver. Embora integre a remuneração do obreiro, a gorjeta não servirá de base de cálculo para as parcelas de aviso prévio, adicional noturno, horas extras e repouso semanal remunerado, conforme entendimento consubstanciado na Súmula 354, do TST, in verbis: "S. 354 do TST. As gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de serviço ou oferecidas espontaneamente pêlos clientes, integram a remuneração do empregado, não servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso 2 prévio, adicional noturno, horas extras e repouso semanal remunerado". 17173821 - GORJETAS INDIRETAS OU IMPRÓPRIAS. REPERCUSSÕES. Nos termos do art. 457 da CLT, as gorjetas, compulsórias ou espontâneas, integram a remuneração do empregado, não o salário. Por isso a restrição feita pela Súmula no 354 do C.TST em relação às incidências contratuais das gorjetas, que não integram a base de cálculo dos dias de repouso, das horas extras, do adicional noturno e da indenização do aviso prévio, verbas essas que são calculadas com base no estrito conceito de salário, sem o acréscimo de outras parcelas, ainda que de caráter remuneratório. (TRT 3ª R.; RO 678/2010-024-03-00.6; Quinta Turma; Rel. Juiz Conv. Maurilio Brasil; DJEMG 18/04/2011) 92335989 - RECURSO DE REVISTA. GORJETAS. PAGAMENTO ESPONTÂNEO. ALTERAÇÃO DE NATUREZA JURÍDICA MEDIANTE NORMA COLETIVA NÃO TÊM VALIDADE AS CLÁUSULAS COLETIVAS QUE ALTERAM A NATUREZA JURÍDICA DAS GORJETAS DE PAGAMENTO ESPONTÂNEO, CONVERTENDO-AS EM VERBAS INDENIZATÓRIAS, EXCLUINDO SUA INTEGRAÇÃO ÀS FÉRIAS, 13º SALÁRIO E FGTS. ISSO, DIANTE EXISTÊNCIA DE NORMA COGENTE (ART. 457, CAPUT E § 3º, DA CLT) NO SENTIDO DE QUE AS GORJETAS, INCLUSIVE AQUELAS ESPONTANEAMENTE PAGAS PELOS CLIENTES AOS EMPREGADOS, INTEGRAM A REMUNERAÇÃO DO TRABALHADOR. SUSPEIÇÃO DE TESTEMUNHA O ACÓRDÃO RECORRIDO ESTÁ CONFORME À SÚMULA Nº 357 DO TST. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. 1. No tocante à Assistência Judiciária Gratuita, o acórdão recorrido está em conformidade com a orientação jurisprudencial nº 304 da sbdi-1. 2. Quanto aos honorários advocatícios, o eg. tribunal de origem contrariou a Súmula nº 219 do TST. Recurso de revista parcialmente conhecido e provido. (TST; RR 1332-40.2010.5.07.0031; Oitava Turma; Rel. Min. João Pedro Silvestrin; DEJT 16/08/2013; Pág. 2234) 3 SALÁRIO 3.1 Conceito A palavra salário deriva do latim salarium, que teve sua origem na palavra salis, que significa sal. O sal era a moeda de pagamento oferecida pelos romanos para pagar seus domésticos e soldados da legiões romanas. Também deriva do latim a expressão pecúnia, que significa boi. O boi, assim como o sal, o óleo e o metal eram moedas de troca na antiguidade. Algumas categorias têm nomeclatura própria para o salário: - Funcionário público: vencimento; - Magistrado: subsídio; - Militar: soldo; - Aposentado: provento - Chefes religiosos: côngrua, etc... Dispõe o art. 457, §1°, da CLT que integram o salário: a parte fixa, as comissões, as gratificações, os abonos e o valor total das diárias quando excedentes a 50% do salário. A parte fixa é a parcela invariável do salário, que compõe a base irredutível. Uma das características do salário é a possibilidade de sua natureza composta, ou seja, a possibilidade de parte da contraprestação ser paga em dinheiro e parte em in natura (utilidades). Portanto, salário é a contraprestação paga diretamente pelo empregador, seja em dinheiro, seja em utilidades . 3.2 Princípios de Proteção ao Salário 3 O Direito do Trabalho pátrio é permeado de princípios e normas de proteção ao salário do empregado, objetivando que o obreiro receba seus numerários de forma integral, irredutível e intangível. Como princípios de proteção ao salário, podemos destacar: • Princípio da irredutibilidade salarial ou inalterabilidade: o princípio, elevado em nível constitucional, é o de que o salário é irredutível, não se permitindo a redução salarial do obreiro, uma vez que os contratos devem ser cumpridos (pacta sunt servanda), bem como o art. 468 consolidado proíbe qualquer alteração contratual que cause prejuízos ao empregado. Em função da flexibilização de algumas normas trabalhistas, permitiu o legislador constituinte originário, no art. 7.°, VI, da Carta Maior, que em situações excepcionais, mediante intervenção sindical por intermédio de negociação coletiva, os salários fossem reduzidos temporariamente, em caso de dificuldades da empresa, pela assinatura de convenção ou acordo coletivo de trabalho. Reza o art. 503 da CLT que: É lícita, em caso de força maior ou prejuízos devidamente comprovados, a redução geral dos salários dos empregados da empresa, proporcionalmente aos salários de cada um, não podendo, entretanto, ser superior a 25% (vinte e cinco por cento), respeitado, em qualquer caso, o salário mínimo da região. Parágrafo único - Cessados os efeitos decorrentes do motivo de força maior, é garantido o restabelecimento dos salários reduzidos. Assim, compatibiliza o art. 503 da CLT como artigo mencionado da Constituição Federal, temos que no caso de força maior ou prejuízo manifesto da empresa, temporariamente e com autorização em negociação coletiva, poderá existir redução geral e proporcional de salários, no importe de 25%. Preferiu-se, nesse caso, diminuir-se temporariamente os salários, preservando o bem maior dos trabalhadores, qual seja o emprego, prevalecendo o princípio da continuidade da relação de emprego. No entanto, frise-se: a regra geral é da irredutibilidade salarial. Excepcional e temporariamente, comprovada a dificuldade financeira momentânea do empregador em honrar o valor integral dos salários dos obreiros, e objetivando preservar o emprego dos trabalhadores, a Carta Magna permitiu a redução salarial temporária (pelo prazo máximo de 2 anos), desde que haja a intervenção sindical com a assinatura de convenção ou acordo coletivo do trabalho. Também como forma de flexibilização foi criado o regime por tempo parcial que inclusive originou a edição da citada OJ. 358 da SDI-1. 17080242 - REDUÇÃO SALARIAL. Preconiza o art. 7., VI, da Constituição Federal a irredutibilidade salarial, salvo previsão em convenção coletiva, de modo que o disposto no art. 503 da CLT somente poderia ser acolhido se a redução estivesse respaldada em instrumento coletivo, razão pela qual referido dispositivo legal não foi recepcionado pela CF/88. A redução salarial perpetrada pela reclamada não poderia ser realizada, ainda que com o consentimento da reclamante, sob pena de transferir os riscos da atividade econômica aos empregados. (TRT 3ª R.; RO 00628-2008-053-03-00-0; Belo Horizonte; Segunda Turma; Rel. Des. Luiz Ronan Neves Koury; DJEMG 19/12/2008) (Publicado no DVD Magister nº 24 - Repositório Autorizado do TST nº 31/2007) 4 Assim vem decidindo o TST: 92300639 - RECURSO DE REVISTA. IRREDUTIBILIDADE SALARIAL. I. O tribunal regional manteve a decisão originária, que deferiu as diferenças salariais decorrentes da redução constatada. Entendeu que embora o contrato esteja sujeito a modificações em seu transcurso, inclusive por manifestação de vontade do trabalhador, a legislação o protege em face daquelas que possam lhe trazer prejuízos. Consignou a existência de documentos autorizadores da redução salarial proporcional à redução da carga horária, mas que não restou demonstrada a efetiva redução de carga horária na jornada de trabalho do reclamante. Registrou que a recorrente não demonstrou o preenchimento dos requisitos autorizadores da implementação da redução horária, vale dizer, existência de força maior (art. 503, CLT) ou prejuízos (Lei nº 4.923/65) e previsão em norma coletiva e que restou patente, apenas e tão-somente, a redução salarial. Considerou que a alteração do contrato de forma unilateral causou prejuízo ao reclamante e, como referido, não teve embasamento em norma coletiva. II. A reclamada se insurge contra a decisão regional, sob o argumento de que comprovou inexistir qualquer ilegalidade na alegada redução salarial do recorrido, haja vista que a mesma se deu com a concordância do recorrido e a proporcional redução da carga horária. Aduz que jamais foi ocasionado qualquer prejuízo ao recorrido que, inclusive, em algumas oportunidades, requereu que a redução da jornada fosse procedida. III. Não prospera a indicação de ofensa ao art. 110 do CC, o qual estabelece que a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento, pois referido preceito legal não trata da controvérsia ora examinada (preenchimento, ou não, dos requisitos autorizadores da redução salarial). lV. Os arts. 818 da CLT e 333 do CPC disciplinam a distribuição do encargo probatório entre as partes no processo. Caracteriza-se a afronta aos referidos dispositivos legais, se o juiz decidir mediante atribuição equivocada desse ônus probatório, o que não ocorreu no caso dos autos. A corte de origem não proferiu julgamento com base no critério do ônus da prova, mas decidiu a controvérsia mediante a valoração dos elementos de convencimento, na forma do disposto no art. 131 do CPC. Portanto, não se observa ofensa aos arts. 818 da CLT e 333 do CPC. V. Não há violação do art. 503 da CLT, uma vez que a corte regional registrou que a recorrente não demonstrou o preenchimento dos requisitos autorizadores da implementação da redução horária, vale dizer, existência de força maior (art. 503, CLT) ou prejuízos (Lei nº 4.923/65) e previsão em norma coletiva e que restou patente, apenas e tão-somente, a redução salarial. Qualquer análise em sentido contrário depende do revolvimento de fatos e provas, o que é vedado nesta fase recursal, nos termos da Súmula nº 126/TST. VI. Os arestos apresentados pela recorrente não servem para demonstração de divergência jurisprudencial, pois não possuem a indicação da fonte oficial de publicação, o que impossibilita o conhecimento da insurgência, conforme previsto na Súmula nº 337, I, do TST. VII. Recurso de revista de que não se conhece. (TST; RR 60140-29.2006.5.01.0004; Quarta Turma; Rel. Min. Fernando Eizo Ono; DEJT 17/05/2013; Pág. 1415) • Princípio da Impenhorabilidade: O art. 462 da CLT, estabelece a segurança do 5 empregado, que não pode ter seu salário penhorado em nenhuma hipótese, ressalvando a pensão alimentícia. 95604152 - AGRAVO DE INSTRUMENTO. BLOQUEIO "ON LINE". CONTA-CORRENTE. FATO COMPROVADO NOS AUTOS, SEM QUE SE DEMONSTRASSE QUE OS VALORES PENHORADOS EMERGEM DO PAGAMENTO DO SALÁRIO. ART. 649, INCISO V, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. TODOS OS BENS DO DEVEDOR, PRESENTES E FUTUROS, SUJEITAM-SE À PENHORA, EXCETO OS IMPENHORÁVEIS. O salário recebido pelo empregado em cumprimento de contrato de conta-corrente subscrito para esse fim, não transmuda a natureza da obrigação, que continua alimentar, nem enseja a sua penhora, porquanto subsiste em sentido contrário o veto legal. Não demonstrada a natureza alimentar de alguns valores creditados na conta-corrente da agravante, exclui-se a impenhorabilidade. Manutenção do bloqueio efetivado. Conta-poupança. Impossibilidade de penhora sobre os valores depositados em caderneta de poupança até o limite de 40 salários mínimos Art. 649, X, do CPC. Agravo de instrumento a que se dá parcial provimento. (TJSP; AI 0255921-43.2012.8.26.0000; Ac. 6625983; Campinas; Décima Nona Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Conti Machado; Julg. 18/03/2013; DJESP 10/04/2013) 92228726 - RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. Ordem de penhora de 20% dos salários de cada um dos sócios da executada. Ilegalidade configurada. Natureza alimentícia do crédito penhorado. O juízo da execução determinou a penhora de 20% dos salários de cada um dos sócio da executada na ação trabalhista originária, sendo esse o ato impugnado, mantido no acórdão recorrido, que firmou-se pela legalidade da penhora de percentual de salário, realizando juízo de ponderação de princípios constitucionais, entendendo que o crédito trabalhista também detém natureza alimentar e, portanto, pode haver restrição razoável de direito de mesma categoria. Entretanto, tal exegese não legitima a constrição parcial de salários, pois a regra do art. 649, IV, do CPC é taxativa e a exceção a que alude o seu parágrafo segundo - Penhora para pagamento de prestação alimentícia - É aquela decorrente de quem tem o dever legal de prestar o sustento vital de quem não pode fazê-lo por si, quer por laços de parentesco, quer por obrigação legal; a prestação alimentícia do §2º do art. 649 do CPC tem caráter pessoal e natureza extrapatrimonial, o que não se enquadra na relação de credor-devedor, como é o caso do crédito decorrente de ação trabalhista, de característica puramente patrimonial. Nessa senda, aplicam-se as regras legais pertinentes e, ao caso incide a regra estabelecida no inciso IV do art. 649 do CPC, da impenhorabilidade absoluta dos proventos para subsistência. Entendimento consolidado na orientação jurisprudencial nº 153 desta subseção especializada II e inúmeros precedentes. Ilegalidade configurada. Recurso ordinário em mandado de segurança a que se dá provimento para restaurar definitivamente a decisão liminar que cassou o ato que determinou o bloqueio e a penhora de 20% dos salários dos impetrantes. (TST; RO 1146-67.2010.5.05.0000; Segunda Subseção de Dissídios Individuais; Rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann; DEJT 07/12/2012; Pág. 268) • Princípio da intangibilidade: o obreiro tem de receber o salário integralmente, 6 abstendo-se o empregador de efetuar descontos no salário do obreiro, salvo as hipóteses legais, conforme descrito no art. 462 da CLT e consubstanciado na Súmula 342 do TST. Após a promulgação da CF/1988, o princípio da intangibilidade salarial foi reforçado, tendo em vista que o art. 7.°, X, da Carta Magna disciplinou que a retenção dolosa do salário constitui crime. O tema descontos de salários será objeto de estudo mais aprofundado no decorrer deste Capítulo. 3.3 Elementos da Remuneração. Não é pacifico nas doutrinas os elementos ou características do salário, todavia para a corrente majoritária os elementos do salário ou da remuneração são: a) habitualidade: é o elemento preponderante para se saber se o pagamento feito pode ou não ser considerado como salário ou remuneração. O contrato de trabalho é um pacto de trato sucessivo, em que há a continuidade na prestação de serviços e, em conseqüência, o pagamento habitual dos salários Ex.: as horas extras habituais integram a indenização por antiguidade, o 13° salário, as férias, o repouso semanal remunerado, o aviso prévio indenizado, conforme previsão em lei e em jurisprudência, b) quantificação: empregado deve saber quanto ganha por mês, de acordo com certos padrões objetivos Como o risco da atividade é do empregador, de acordo com o artigo 2º da CLT, o empregado não pode ficar na dependência de receber salários somente se o empregador obtiver lucros com seu negócio. c) periodicidade (pós numerário): o pagamento dos salários se faz em determinados prazos máximos previstos em lei. O pagamento do salário deverá ser feito após a prestação dos serviços. d) essencialidade: Não havendo salário não se configurara a relação de emprego. Essa pressupõe o salário, pois o contrato de trabalho é oneroso. e) reciprocidade ou Sinalagmático : o salário põe em posição de reciprocidade duas ou mais partes do contrato de trabalho, o empregado e o empregador. Do lado do trabalhador, há uma obrigação fundamental que é a de prestar o trabalho Do lado do empregador, há, dentre outros, um dever básico, o de pagar salários. f) forfetário: o salário é definido previamente, independente do resultado. g) Comutatividade = consiste numa equivalência simbólica entre o serviço prestado e o valor pago; 3.4 Normas de Proteção ao Salário Conforme já indicado, o inciso X do art. 7.° da CF/1988 menciona a proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa. Tal dispositivo é de eficácia contida, carecendo de regulamentação penal, embora alguns doutrinadores entendam que o dispositivo constitucional foi regulamentado indiretamente, utilizando-se, em caso de retenção dolosa do salário, o art. 168 do CP, que tipifica o crime de apropriação indébita. Por sua vez, o Decreto-lei 368/1968 define mora contumaz como o atraso ou sonegação de salários devidos aos empregados, por período igual ou superior a três meses, sem motivo grave e relevante, excluídas as causas pertinentes ao risco do empreendimento (art. 2.°, § 1.°). Nesse contexto, prevê o art. 4.° do mesmo Decreto-lei que os diretores, sócios, gerentes, membros de órgãos fiscais ou consultivos, titulares de firma individual ou quaisquer outros dirigentes de empresa que estiverem em débito salarial com seus empregados (mora contumaz) e assim mesmo distribuírem lucros, dividendos, pro labores, honorários, 7 gratificação etc., entre si, estarão sujeitos à pena de detenção de l mês a l ano.1 Ademais, a legislação infraconstitucional traz diversos dispositivos que objetivam proteger o salário do empregado em face do empregador, dos credores do próprio empregado e dos credores do empregador, conforme adiante descrito. 92316395 - DANOS MORAIS. Mora contumaz no pagamento de salários ou atraso reiterado. Efeitos. Ofensa à dignidade do trabalhador. A mora contumaz no pagamento dos salários - Ou o atraso reiterado, que se prolonga demasiadamente no tempo, produzindo efeitos equivalentes - Não atinge apenas a esfera patrimonial do empregado, diante do comprometimento da sua subsistência e de sua família, uma vez que o obreiro fica também limitado em sua capacidade de contrair obrigações financeiras com terceiros e de honrá-las no prazo avençado. Ademais, a condição de hipossuficiência do empregado inibe a exigência imediata do pagamento dos salários em atraso, porquanto de tal ato poderia resultar retaliação por parte da empresa, pondo em risco a própria incolumidade da relação de emprego, com sacrifício do seu único meio de sobrevivência. Nesse contexto, esse ato patronal atenta contra o valor social do trabalho - Um dos princípios fundantes da república federativa do Brasil. Inevitável, portanto, reconhecer que o atraso reiterado e prolongado no pagamento dos salários caracteriza afronta à dignidade do trabalhador, ensejando a reparação por danos morais. Recurso de revista conhecido e não provido. (TST; RR 646-28.2011.5.04.0021; Primeira Turma; Rel. Min. Lelio Bentes Corrêa; DEJT 21/06/2013; Pág. 214) 21124784 - ATRASOS NO PAGAMENTO SALARIAL. RESCISÃO INDIRETA. A reestruturação financeira da empresa ou a "crise econômica" do país não justificam o descumprimento das obrigações contratuais básicas, principalmente a contraprestação salarial. O risco do empreendimento é do empregador, descabendo a tentativa de transferi-lo ao empregado, mormente devido à sua condição de hipossuficiência. O parágrafo único do art. 1º do Decreto-Lei nº 369/68 informa estar em débito salarial a empresa que não paga, no prazo e nas condições da Lei ou do contrato, o salário devido a seus empregados, configurando-se a mora contumaz quando o atraso perdura por 3 meses (art. 2º, parágrafo 1º). Para efeitos do artigo 483, "d", da CLT, a mora ensejadora da resilição contratual caracteriza-se por freqüentes atrasos nos pagamentos dos salários. O art. 7º, X, da Constituição Federal estabelece a "proteção do salário na forma da Lei, constituindo crime sua retenção dolosa". (TRT 2ª R.; RO 02794-2004-046-02-00-4; Ac. 2009/0329443; Quarta Turma; Rel. Des. Fed. Sergio Winnik; DOESP 15/05/2009; Pág. 291) (Publicado no DVD Magister nº 27 - Repositório Autorizado do TST nº 31/2007) 12505365 - RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO 1 22594350 - INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ATRASO NO PAGAMENTO DE SALÁRIO. Embora reprovável a atitude da empregadora, ao deixar de adimplir tempestivamente os salários, este ato não caracteriza ilícito capaz de ensejar direito à indenização pretendida, se não comprovado o prejuízo do trabalhador. (TRT 4ª R.; RO 0001637-80.2010.5.04.0201; Décima Turma; Rel. Des. Emílio Papaléo Zin; Julg. 12/07/2012; DEJTRS 19/07/2012; Pág. 108) 34092854 - ATRASO NO PAGAMENTO DAS VERBAS RESILITÓRIAS. SALÁRIO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO. A responsabilidade por danos morais, reconhecida pelos incisos V e X do artigo 5º da Constituição da República e que encontra guarida no artigo 186 do Código Civil, decorre de uma lesão ao direito da personalidade, inerente a toda e qualquer pessoa. Diz respeito à ordem interna do ser humano, seu lado psicológico, seja em razão de uma dor sofrida, tristeza, sentimento de humilhação ou outro qualquer que venha a atingir seus valores e repercutir na sua vida social. Deve - Se ficar demonstrado que o ato do empregador foi suficientemente agressivo a ponto de ofender a honra do trabalhador ou de que foi ele submetido a uma situação vexatória e humilhante. No caso vertente, ficou demonstrado, por meio da prova produzida, que o atraso no pagamento de salários a que o reclamante teria direito, o impossibilitou de quitar seus compromissos, situação que atrai o pagamento da indenização por dano moral. (TRT 17ª R.; RO 136700- 89.2011.5.17.0004; Rel. Des. Mário Ribeiro Cantarino Neto; DOES 09/08/2012; Pág. 292) 8 DE TRABALHO. MORA SALARIAL. O quadro fático delineado no acórdão recorrido revela que, à época do ajuizamento da presente ação, o reclamado devia ao reclamante dois meses de salário e uma parcela da gratificação natalina. O Tribunal Regional considerou que o atraso salarial inferior a três meses não caracteriza falta grave do empregador, apta a ensejar a rescisão indireta do contrato de trabalho. Tal decisão ofende o artigo 483, "d", da CLT, pois restou evidente o descumprimento de importante obrigação contratual por parte do empregador. Considerando-se que o salário tem natureza alimentar, não é razoável exigir do empregado que suporte três meses de trabalho sem a competente paga, para, só depois, pleitear em juízo a rescisão do contrato, por justa causa do empregador. O atraso salarial de apenas um mês já é suficiente para causar grandes transtornos ao trabalhador, que se vê privado de sua única ou principal fonte de renda e, conseqüentemente, fica impedido de prover o sustento próprio e de seus familiares, bem como de honrar seus compromissos financeiros. O conceito de mora contumaz, estabelecido no § 1º do artigo 2º do DecretoLei nº 368/68, destina-se apenas a nortear procedimentos de natureza fiscal e penal, não interferindo nos regramentos atinentes à rescisão do contrato de trabalho. DEVOLUÇÃO DE DESCONTO INDEVIDO. RECURSO DESFUNDAMENTADO. Não se conhece de recurso de revista, no qual a parte não indica, expressamente, ofensa a dispositivo da Constituição ou a artigo de Lei Federal, nem aponta dissenso pretoriano. Exegese do artigo 896 da CLT e da Súmula nº 221 do Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de revista de que se conhece parcialmente e a que se dá provimento parcial. (TST; RR 771.212/2001.0; Sétima Turma; Rel. Min. Pedro Paulo Manus; DJU 05/09/2008; Pág. 444) (Publicado no DVD Magister nº 24 - Repositório Autorizado do TST nº 31/2007) 92333051 - RECURSO DE REVISTA. Atleta profissional de futebol - Rescisão indireta do contrato de trabalho - Inadimplência quanto ao recolhimento do FGTS - Indenização prevista no artigo 479 da CLT. No caso, ficou configurada a mora contumaz pelo não recolhimento do FGTS. Assim, nos termos do §2º do artigo 31 da Lei nº 9.615/98 e do artigo 483, alínea d, da consolidação das Leis do Trabalho, a ausência habitual de recolhimentos do FGTS caracteriza falta grave, o que gera a rescisão indireta do contrato de trabalho. Desse modo, configurada a rescisão indireta do contrato de trabalho do reclamante, por mora salarial, a indenização do artigo 479 da consolidação das Leis do Trabalho é devida ao reclamante. Recurso de revista conhecido e provido. (TST; RR 198200-13.2007.5.15.0018; Segunda Turma; Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva; DEJT 16/08/2013; Pág. 1207) 3.4.1 Defesa do Salário em Face do Empregador O diploma consolidado é permeado de normas de proteção ao salário do empregado em face do empregador, evitando-se, assim, que o empregador retenha, de modo injustificado, total ou parcialmente, o salário do obreiro. Senão vejamos: • qualquer que seja a modalidade do trabalho, o pagamento não pode ser estipulado por período superior a um mês, devendo ser pago até o 5.° dia útil subsequente ao mês vencido, salvo quanto às comissões, percentagens ou gratificações (CLT, art. 459, parágrafo único); • ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários dos empregados, salvo quando esse resultar de adiantamentos, de dispositivo de lei ou de contrato coletivo (CLT, art. 462); • em caso de dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que essa possibilidade tenha sido acordada, ou na ocorrência de dolo do empregado (CLT, art. 462, § 1.°); 21268161 - PROTEÇÃO AO SALÁRIO. DANO CAUSADO POR EMPREGADO. CULPA. RESSARCIMENTO AO EMPREGADOR. AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL. ILICITUDE DO DESCONTO. É ilícito o desconto efetuado pelo empregador destinado a 9 ressarcir prejuízo causado com culpa, quando não há previsão contratual nesse sentido. CLT, art. 462, parágrafo 1º. Recurso da ré a que se nega provimento, nesse ponto. (TRT 2ª R.; RE 0000714-20.2012.5.02.0046; Ac. 2013/0812085; Décima Primeira Turma; Rel. Des. Fed. Eduardo de Azevedo Silva; DJESP 13/08/2013) 21265084 - DESCONTOS SALARIAIS. PREVISÃO CONTRATUAL. O parágrafo 1º do artigo 462 da CLT prevê a possibilidade de desconto salarial em caso de dano causado pelo empregado ao empregador, desde que haja previsão contratual para tanto, o que se evidencia pelo teor dos documentos carreados aos autos, de sorte que não prevalece a alegação de ausência de culpa da sua parte. Por fim, salienta-se que os descontos efetivados no Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho a título de compensação de empréstimo contraído pelo obreiro junto ao empregador, observaram o disposto no artigo 477, parágrafo 5º, do mesmo diploma legal, sendo forçosa a manutenção do julgado quanto a isso. (TRT 2ª R.; RO 0002670- 87.2011.5.02.0052; Ac. 2013/0689291; Décima Segunda Turma; Rel. Des. Fed. Marcelo Freire Gonçalves; DJESP 05/07/2013) • o salário deve ser pago em moeda do país, entendendo-se como não realizado se for pago em outra moeda (CLT, art. 463); • o pagamento será feito mediante recibo (CLT, art. 464); • o pagamento será feito em dia útil e no local de trabalho, dentro do horário de serviço ou imediatamente após o encerramento deste (CLT, art. 465). 3.4.2 Defesa do Salário em Face dos Credores do Empregado O principal diploma de proteção do salário do empregado está previsto no art. 649, IV, do CPC, que declara que os salários são impenhoráveis, salvo para pagamento de prestações alimentícias. Todavia, alguns tribunais vem decidindo desta forma: 14409078 - AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA. BLOQUEIO DE VALORES EM CONTA-CORRENTE. PROTEÇÃO DOS VALORES COMPROVADAMENTE DE NATUREZA ALIMENTAR. 1. Trata-se de agravo de instrumento em face de decisão que deferiu o levantamento parcial do valor bloqueado até o limite do salário do executado. 2. A agravante alega, em síntese, que: 1) teve suas contas penhoradas, o que retirou das suas contas o valor da execução mesmo existindo processo administrativo pendente de julgamento; 2) foi bloqueada a importância total de R$ 16.672,56 da conta da Caixa Econômica federal do agravante e ainda os valores de R$ 15.279,66 e R$ 255,75 ambos das contas do banco do Brasil, relativas a remuneração/salário e proventos de aposentadoria; 3) a decisão agravada determinou o desbloqueio apenas de R$ 255, 75; 4) está impedido de exercer suas atividades junto a empresa que trabalha a qual tem participação estando, inclusive, os outros sócios sofrendo prejuízos, tendo em vista que o nome de um deles, que é o caso do agravante está com essa restrição, não podendo fazer empréstimo nem contrair créditos bancários. 3. Inegável o fato de que não há a mínima possibilidade de se admitir a penhora de valores considerados indispensáveis para a manutenção do executado, uma vez que, caso se admitisse o oposto, estar-se-ia violando 10 a Constituição Federal, ao priorizar-se o patrimonialismo em detrimento da dignidade da pessoa humana, sobretudo pela limitação, redução ou extinção de verba em questão. 4. No caso, o desbloqueio determinado pelo juízo a quo foi de R$ 255,75 (duzentos e cinqüenta e cinco reais e setenta e cinco centavos) na conta do banco do Brasil, visto não ter havido comprovação de que os valores restantes seriam provenientes de conta salário. Desta forma, não é possível se identificar o que se refere à referida verba e a parte que pode ser penhorada, que, segundo a jurisprudência, é aquela não prejudique os recursos necessários à subsistência da parte executada. 5. Cabe observar que o §2º do art. 655-a impõe ao executado o ônus de comprovar que os valores eventualmente bloqueados referem-se a hipótese do inciso IV do art. 649 do código de processo civil. 6. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TRF 2ª R.; AI 0004037-24.2013.4.02.0000; RJ; Quarta Turma Especializada; Rel. Des. Fed. Luiz Antonio Soares; DEJF 15/08/2013; Pág. 99) 17140387 - BLOQUEIO PARCIAL DE SALÁRIO. POSSIBILIDADE DIANTE DE CRÉDITO DE IGUAL NATUREZA. ATIVAÇÃO DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE. A norma processual civil que torna o salário impenhorável destina-se a proteger o trabalhador de credores civis, razão pela qual não subsiste em caso de dívida de igual natureza. Sendo, portanto, trabalhista o crédito que se executa, e não dispondo o devedor de bens, hábil a autorização para bloqueio parcial do salário e outros proventos de natureza existencial, assim como a própria penhora de parte dos mesmos créditos, exclusivamente para quitação de execução trabalhista definitiva. Trata-se, pois, de ativação do princípio constitucional da igualdade, no âmbito do Direito Processual do Trabalho. Impõe-se, todavia, um limite, ora fixado em 30% do valor líquido dos créditos remuneratórios do executado. (TRT 3ª R.; AP 341/1999-014-03-00.5; Quarta Turma; Rel. Juiz Conv. Vitor Salino de M. Eca; DJEMG 12/07/2010) O que está valendo por enquanto é a impenhorabilidade absoluta dos salários, salvo nos casos dispostos em lei. No entanto, a tendência é caminhar para a penhorabilidade relativa. 3.4.3 Defesa do Salário em Face dos Credores do Empregador - Crédito Privilegiado. Lei de Falência 4. MODOS DE AFERIÇÃO DO SALÁRIO O salário pode ser aferido levando-se em consideração os seguintes critérios: • o tempo trabalhado ou à disposição do empregador; • o resultado obtido em função da produção; • a tarefa realizada em determinado tempo. Na fixação do salário, levando-se em conta o tempo trabalhado ou à disposição do empregador, não se leva em consideração a produção ou o resultado alcançado, mas sim o tempo em que o empregado permaneceu trabalhando ou aguardando ordens do empregador. Nessa modalidade de aferição, verifica-se a fixação do salário por hora, dia, semana, quinzena ou por mês, não se vislumbrando o resultado como critério para fixação do salário, 11 mas sim o tempo empregado. Nesse sentido, destaca o art. 4.° da CLT que: "Considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada". O salário também pode ser aferido levando-se em conta a produção ou o resultado alcançado pelo obreiro. Nessa modalidade de aferição do salário, não se leva em consideração o tempo gasto na consecução do serviço, mas sim o próprio serviço realizado, independente do tempo despendido. Podemos citar como exemplo os empregados que recebem seus salários exclusivamente em proporção ao número de peças produzidas ou de trabalhos executados. Outrossim, os obreiros que recebem seus salários exclusivamente à base de comissões ou de porcentagens (remuneração variável), devidas em proporção aos negócios realizados em favor do empregador, também estão incluídos nesse grupo. Vale transcrever a Súmula 340 do TST, que versa sobe o pagamento de horas extras para os obreiros comissionistas: "S. 340/TST. O empregado, sujeito a controle de horário, remunerado à base de comissões, tem direito ao adicional de, no mínimo 50% (cinqüenta por cento) pelo trabalho em horas extras, calculado sobre o valor-hora das comissões recebidas no mês, considerando-se como divisor o número de horas efetivamente trabalhadas". Em relação aos que recebem remuneração variável, a CF/198 8, no art. 7.°, VII, garantiu ao menos a percepção de um salário mínimo a título de salário. Quando o salário mensal do empregado por comissão ou que tenha direito à porcentagem for integrado por parte fixa e variável, ser-lhe-á sempre garantido o salário mínimo, vedado qualquer desconto em mês subsequente, a título de compensação, conforme dispõe a Lei 8.716/1993 (arts. 1.°, 2.° e 3.°). A comissão depende da realização do negócio. Os autores debatem sobre a expressão utilizada no artigo 466 da CLT (ultimada a transação). Para alguns, a transação somente é ultimada com o pagamento do preço; para outros é quando o vendedor e comprador se põem de acordo com todas as condições do negócio. Considera-se assim ultimada a transação no momento em que o empregador, tomando conhecimento da proposta feita por intermédio do empregado, a aceita e declara fechado o negócio com o comprador. Nas vendas a crédito, o pagamento é exigível proporcionalmente à liquidação das prestações sucessivas, não significando com isso que elas não deverão ser pagas caso haja a inadimplência do comprador do produto. Nas lições de José Martins Catharino, extraída do livro Curso de Direito do Trabalho, nas vendas a crédito, contudo, o pagamento é exigível proporcionalmente à liquidação das prestações sucessivas, face a dispositivo legal expresso (art. 466, § 1º, da CLT). Para os pracistas, vendedores ou representantes comerciais empregados, com atividades externas, a tutela legal é outra, corporificada na Lei nº 3.207, de 18.07.57. 17281638 - COMISSÕES. Nos termos do art. 2º da Lei nº 3.207/57, o vendedor somente tem direito às comissões avençadas pelas partes. Não havendo ajuste de pagamentos de comissões relativas às vendas de determinado produto, não faz jus o empregado à referida comissão. (TRT 3ª R.; RO 516-23.2010.5.03.0111; Rel. Juiz Conv. José Marlon de Freitas; DJEMG 28/06/2013; Pág. 110) 23084732 - PAGAMENTO DE COMISSÕES. ARTIGO 466 DA CLT. VENDA ULTIMADA. DEVOLUÇÃO DE MERCADORIA. AUSÊNCIA DE CULPA DO AUTOR. ESTORNO INDEVIDO. Para fins do disposto no artigo 466, da CLT, considera-se a venda ultimada, ensejando o pagamentos 12 de comissões, após o decurso do prazo legal outorgado para desistência da compra pelo consumidor. Uma vezultimada a venda, não podem ser descontados do empregado os valores pagos a título de comissões, por falta de pagamentoou cancelamento do pedido, seja porque os riscos do empreendimento são, inquestionavelmente, do empregador, como tambémpor força dodisposto naLei nº 3.207/57. Esta, que regula as atividades de empregados vendedores, é clara ao prever a única hipótese em que se autoriza o estorno das comissões pagas ao vendedor, qual seja, o caso do comprador ser considerado insolvente (art. 7º). No caso, a prova documental dá conta que o estorno ocorreu por devolução demercadorias pelosclientes sem que tenha restado demonstrada a culpa do empregado nas ocorrências, situação que não legitima, portanto, o estorno das comissões nos termos da Lei. (TRT 9ª R.; RO 409-76.2012.5.09.0002; Sexta Turma; Relª Desª Sueli Gil El-Rafihi; DEJTPR 04/06/2013) Por último, embora raro, permite-se que a remuneração do empregado seja fixada na modalidade tarefa, na qual o obreiro deve realizar durante a jornada de trabalho as tarefas determinadas pelo empregador. Cumpridas as tarefas, mesmo antes do fim da jornada diária, tem o empregado a faculdade de se retirar da empresa. A CLT, nos arts. 142, § 2.°, e 483, g, menciona a possibilidade de pagamento do salário por tarefa. 5 TIPOS DE SALÁRIO O salário fixado contratualmente podem ser acrescidas de outras parcelas em função das peculiaridades da prestação laboral. Em razão disso, e conforme a sua natureza, algumas repercutem no cálculo das demais. Esta repercussão é também chamada integração ou projeção. Assim dizer que as horas extras habitualmente prestadas integram o DSR é o mesmo que dizer que as horas extras habituais prestadas se projetam no cálculo do DSR. São três requisitos para que uma parcela Podemos identificar as seguintes parcelas integrantes do salário: • salário básico; • salário in natura; • sobre-salários; • salário complessivo. 5.1 Salário básico Salário é a contraprestação paga pelo empregador ao obreiro em função do serviço prestado, podendo ser saldada totalmente em dinheiro ou parte em pecúnia e parte em utilidades. Por sua vez, o salário é formado pelo somatório do salário básico com as parcelas denominadas sobre-salário. O salário básico é aquele pago simplesmente em dinheiro (simples) ou em dinheiro e utilidades (composto) (in natura). Impende destacar que o salário não poderá ser pago exclusivamente em utilidades, devendo, pelo menos, 30% ser pago em dinheiro, conforme previsto nos arts. 82, parágrafo único, e 458, § 1.°, ambos da CLT. 13 5.2 Salário in natura A enumeração do artigo 458 da CLT não é taxativa, ao contrário, é exemplificativa, pois outras prestações “in natura” ali não especificadas poderão ser proporcionadas pelo empregador ao empregado, sem que caracterize salário. Versa o art. 458 da CLT que: Art. 458. Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações in natura que a empresa, por força do contrato ou o costume, fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas. Salário, portanto, é a contraprestação paga diretamente pelo empregador, seja em dinheiro, seja em utilidades (alimentação, habitação etc.). Existem alguns requisitos que podem ser elencados a fim de identificar se determinado pagamento é ou não salário utilidade, dentre eles: a- fornecimento habitual, com constância; b- não se tratar de algo necessário para o trabalho, sendo portanto uma utilidade que satisfaz o trabalhador, que se não oferecida, o empregado teria que se utilizar de recursos próprios para a aquisição; c- a utilidade ser oferecida em face do vínculo trabalhista existente, embora não dependa dela (utilidade) para a execução do serviço; d- a utilidade ter valor econômico estimado. Nesse contexto, para configuração da utilidade fornecida pelo empregador como parte integrante do salário, ela tem de ser fornecida com habitualidade (conforme prevê o art. 458 da CLT) e gratuitamente. A eventualidade e onerosidade no fornecimento da utilidade descaracterizam a utilidade como parte integrante do salário. Observações importantes sobre o salário in natura: - não representa salário-utilidade o fornecimento de bebidas alcoólicas ou drogas nocivas (CLT, art. 458, parte final); - a Lei 10.243/2001 deu nova redação ao § 2.° do art. 458 da CLT, não considerando como salário as seguintes parcelas: - vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço; - educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os valores relativos à matrícula, mensalidade, anuidade, livros e material didático; - transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retomo, em percurso servido ou não por transporte público; - assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro- saúde; - seguro de vida; - previdência privada; - a doutrina estabeleceu um critério para definir se a prestação fornecida pelo empregador é salário in natura ou não: - se a utilidade é fornecida como uma vantagem pela prestação dos serviços, terá natureza salarial, pois representa uma vantagem concedida pelo trabalho executado e não apenas para o trabalho; - ao contrário, se a utilidade for fornecida para a prestação de serviços, estará 14 descaracterizada a natureza salarial (ex.: fornecimento de EPI, moradia cedida ao caseiro ou zelador de edifício para desempenho de suas funções etc.); • a alimentação fornecida de acordo com o Programa de Alimentação ao Trabalhador (PAT), Lei 6.321/1976, não se considera salário utilidade;2 • a Súmula 241 do TST estabelece que o vale-refeição fornecido por força do contrato de trabalho tem caráter salarial, integrando a remuneração do empregado para todos os efeitos legais; • o vale-transporte fornecido pelo empregador não tem natureza salarial (Lei 7.418/1985, art. 2.°, a); • a cesta básica fornecida habitual e gratuitamente ao empregado, em princípio, não tem natureza salarial, sobretudo quando a determinação decorre de norma coletiva. Contudo, se a cesta básica é fornecida pelo empregador espontaneamente, independente de haver determinação em norma coletiva, passará a ter natureza salarial; • o § 3.° do art. 458 da CLT estabelece que a habitação e a alimentação, fornecidas como salário-utilidade, deverão atender aos fins a que se destinam e não poderão exceder, respectivamente, a 25% e 20% do salário contratual; • a Súmula 258 do TST estabeleceu o entendimento de que "Os percentuais fixados em lei relativos ao salário in natura apenas perimem às hipóteses em que o empregado percebe salário mínimo, apurando-se, nas demais, o real valor da utilidade". Esse entendimento deve ser conjugado com o § 3.° do art. 458 da CLT; • o § 4.° do art. 458 da CLT estabelece que: "Tratando-se de habitação coletiva, o valor do salário- utilidade a ela correspondente será obtido mediante a divisão do justo valor da habitação pelo número de co- ocupantes, vedada, em qualquer hipótese, a utilização da mesma unidade residencial por mais de uma família". • a Súmula 367 do TST, com redação dada pela Rés. 129/ 2005, estabeleceu que a habitação, a energia elétrica e o veículo fornecidos pelo empregador ao empregado, quando indispensáveis para a realização do trabalho, não têm natureza salarial, ainda que, no caso do veículo, seja ele utilizado pelo empregado também em atividades particulares. A mesma Súmula também estabeleceu que o cigarro não se considera salário utilidade em face de sua nocividade à saúde. 2 01/09/2009 VALE-TRANSPORTE EM DINHEIRO NÃO TEM NATUREZA SALARIAL A Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho acolheu recurso da prestadora de serviços de atendimento telefônico Atento Brasil S.A. e reformou decisão que mantinha a aplicação de multas administrativas da Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo à empresa, pelo não recolhimento de FGTS e 13º salário sobre parcela de vale-transporte concedido em dinheiro aos empregados. Em janeiro de 2005, a Atento foi autuada por ter concedido a seus empregados o vale-transporte em dinheiro e desconsiderá-lo como parcela integrante da remuneração para fins de recolhimentos do FGTS e do pagamento de 13º salário. Tais multas acarretariam inscrição da empresa na dívida ativa da União, impedindo a renovação da Certidão Negativa de Debito e do Certificado de Regularidade do FGTS, dificultando suas atividades operacionais. Contra isso, a empresa ingressou com mandado de segurança, com pedido liminar, para que as multas fossem desconstituídas. O relator do recurso no TST, ministro Maurício Godinho Delgado, destacou em seu voto que a controvérsia instaurada refere-se à transmutação da natureza jurídica da parcela – de indenizatória (como sustentado pela empresa) para salarial – quando o beneficio é concedido aos empregados em forma pecuniária. Ele considerou que a imposição de multas afrontou direito líquido e certo da empresa, uma vez que existe norma legal que trata da natureza indenizatória do vale-transporte e da não-constituição da verba como base de incidência da contribuição previdenciária. As alíneas “a” e “b” do artigo 2º da Lei nº 7.418/1985 estabelecem que o vale-transporte não possui natureza salarial, não se incorpora à remuneração para quaisquer efeitos e tampouco constitui base de incidência de contribuição previdenciária ou de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. "No caso específico, ainda, o pagamento em pecúnia estava previsto em regular negociação coletiva", acrescentou o relator. O Tribunal Regional da 2ª Região (SP) e a 66ª Vara do Trabalho de São Paulo negaram o pedido da empresa por falta de requisitos legais para a concessão da liminar. O Regional destacou em acórdão que a Lei nº 7.418/1985, em seu artigo 4°, é contrária à natureza do pedido da empresa, e que a legislação buscava impedir desvios à contribuição previdenciária. Para o Regional, aplica-se ao caso o artigo 214, parágrafo 10°, do Decreto nº 3.048/1999, segundo o qual as parcelas “pagas ou creditadas em desacordo com a legislação pertinente” passam a integrar o salário-contribuição. Contudo, na decisão da Sexta Turma, o relator mostrou jurisprudência do TST no sentido de que a concessão do benefício em dinheiro não altera a natureza jurídica do vale-transporte. A Turma seguiu, por unanimidade, o voto apresentado pelo relator e decretou a insubsistência dos autos de infração, com o consequente cancelamento das multas administrativas impostas à Atento Brasil S.A ( RR- 2462/2005-066-02-00.5) 15 5.3 Sobre-salário Sobre-salário é a prestação que, por sua natureza, integra o complexo salarial como complementos do salário básico. Os §§ 1.° e 2.° do art. 457 consolidado estabelecem: "Art. 457. (...) § 1.° Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagem e abonos pagos pelo empregador; § 2.° Não se incluem nos salários as ajudas de custo, assim como as diárias para viagem que não excedam de 50% (cinqüenta por cento) do salário percebido pelo empregado". São exemplos de parcelas sobre-salário as gratificações ajustadas, comissões, percentagens etc. Também são consideradas parcelas sobre-salário: o adicional de horas extras, adicional noturno, adicional de insalubridade, periculosidade e o adicional de tempo de serviço (S. 203 do TST). A ajuda de custo não integra o salário, tendo natureza de mero reembolso de despesas. O abono é uma parcela sobre-salário, e consiste em um adiantamento em dinheiro ou em uma antecipação salarial concedida ao empregado. As diárias para viagem, recebidas para suprir despesas de viagem do empregado com deslocamento, hospedagem, alimentação etc., somente têm natureza salarial se excederem de 50% do salário percebido pelo empregado mensalmente (Súmula 101 do TST), e desde que não estejam sujeitas à prestação de contas (IN MTPS/ SNT 8/1991). O prêmio é uma recompensa ao empregado que se destaca, por sua produtividade, no desempenho de determinada função na empresa, constituindo-se numa parcela sem natureza salarial. O salário-família e o salário-maternidade não têm natureza salarial, mas sim previdenciária. O TST firmou o entendimento, consubstanciado na Súmula 247, de que a parcela paga aos bancários sob a denominação de quebra de caixa possui natureza salarial. Em relação às comissões, nada impede que o empregado receba seu salário exclusivamente à base de comissões (remuneração variável). Todavia, se, no final do mês, as comissões auferidas não alcançarem l (um) salário mínimo, deverá o empregador complementar o pagamento até aquele valor, vedado qualquer desconto no salário do trabalhador no mês seguinte. A comissão pode ser paga em percentagem, unidade, valor fixo etc. Estabelece o art. 466 da CLT que o pagamento das comissões e percentagens só é exigível depois de ultimada a transação a que se referem. Nas transações realizadas por prestações sucessivas, é exigível o pagamento das percentagens e comissões que lhes disserem respeito proporcionalmente à respectiva liquidação. A cessação das relações de trabalho não prejudica a percepção das comissões e percentagens devidas. 5.4 Salário complessivo Salário complessivo é o pagamento englobado, sem discriminação das verbas quitadas ao empregado. Revela-se o salário complessivo quando o empregador efetua o pagamento do salário ao obreiro por meio de parcela única, sem discriminar os valores quitados (salário, adicional noturno, horas extras, adicional de insalubridade, férias, gratificação natalina, etc.). O pagamento do salário de forma complessiva é condenado pela doutrina, uma vez que tal procedimento patronal pode vir a prejudicar o empregado, o qual, não tendo como verificar 16 o quanto recebeu atinente a cada parcela, poderá ser lesado em seus direitos, auferindo menos do que o devido. O TST firmou entendimento contrário ao salário complessivo, materializado na Súmula 91, ao estabelecer que: "Nula é a cláusula contratual que fixa determinada importância ou percentagem para atender englobadamente vários direitos legais ou contratuais trabalhador". 6. FIXAÇÃO DO VALOR DO SALÁRIO O salário é fixado de forma livre pelas partes (autonomia da vontade - art. 444 da CLT). Mas devem ser respeitadas as normas de proteção do trabalho, os contratos coletivos e as decisões judiciais. Não havendo no contrato de trabalho estipulação específica sobre o valor do salário, ou havendo dúvida, o empregado terá direito a receber salário igual ao daquele que, na mesma empresa, fizer serviço equivalente ou ao que for pago habitualmente para serviço semelhante (art. 460 da CLT). Será nula a estipulação de remuneração inferior ao salário mínimo (art. 7º, IV, da CF e art. 117 da CLT). Salário mínimo profissional é aquele estipulado em lei para determinada profissão, como ocorre com o jornalista. Piso salarial é o patamar mínimo para a remuneração de uma categoria profissional, como os metalúrgicos, por exemplo. Salário normativo é aquele fixado em sentença normativa proferida em dissídio coletivo pelos Tribunais do Trabalho. Expressa-se como uma forma de garantir os efeitos dos reajustamentos salariais coletivo, porque impede a admissão de empregados com salários menores que o fixado pela sentença. Salário de função é aquele garantido por sentença normativa como mínimo, que pode ser pago a um empregado admitido para ocupar vaga aberta por outro empregado despedido sem justa causa. Como a dispensa sem justa causa gera a presunção de dispensa obstativa da aplicação dos reajustamentos salariais coletivos, garante-se ao novo empregado o valor que o empregador pagava na função, tomando-se por base o menor salário da função. 7 DESCONTOS NO SALÁRIO Em respeito ao princípio da intangibilidade e com o objetivo de proteger o salário do obreiro em face de descontos abusivos praticados pelo empregador, o art. 462 da CLT dispõe que: "Art. 462. Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo. § l.° Em caso de dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado". Nesse sentido, o caput do art. 462 somente permitiu o desconto no salário do trabalhador, quando resultasse de adiantamento, de dispositivos de lei (ex.:contribuição sindical) ou previsto em norma coletiva (ex. contribuição assistencial). Não obstante, o Colendo TST, com a Súmula 342, também reconheceu como lícito o desconto efetuado no salário do obreiro, condicionado à autorização prévia, por escrito e livremente consentida do empregado, para ser integrado em planos de saúde, de previdência privada, de entidade recreativa, cultural etc. Vejamos a Súmula 342 do TST: "S. 342/TST. Descontos salariais efetuados pelo empregador, com a autorização prévia e por escrito do empregado, para ser integrado em planos de assistência odontológica, médico-hospitalar, de seguro, de previdência privada, ou de entidade cooperativa, cultural ou recreativa-associativa dos seus trabalhadores, em seu benefício e dos seus dependentes, não afrontam o disposto no art. 462 da CLT, salvo se ficar demonstrada a existência de coação ou de outro defeito que vicie o ato jurídico". Em caso de dano causado pelo empregado, será lícito o desconto, desde que resulte de 17 dolo do empregado, ou que essa possibilidade tenha sido acordada no contrato de trabalho (CLT, art. 461, § 1.°), conforme já abordado. Por sua vez, o art. 462, § 2.°, da CLT condena a utilização do sistema de barracão ou armazéns, figura conhecida como truck system, ao mencionar que "É vedado à empresa que mantiver armazém para venda de mercadorias aos empregados ou serviços destinados a proporcionar-lhes prestações in natura exercer qualquer coação ou induzimento no sentido de que os empregados se utilizem do armazém ou dos serviços". Em verdade, o truck system, consistente no empregador induzir, ameaçar ou mesmo coagir os empregados a utilizarem produtos do armazém ou barracão da empresa a preços exorbitantes, de modo a consumir todo seu salário, aliado a outros fatores, acabam por reduzir o trabalhador à condição análoga a de escravo. O recrutamento de trabalhadores em outros Estados, confinando-os em alojamentos assemelhados a "depósitos de seres humanos", o trabalho sem registro (sem assinatura da CTPS), a ausência de pagamento de salários e demais vantagens trabalhistas e o labor em situação degradante, sem as mínimas condições de higiene e de segurança (muitas vezes não são sequer fornecidos equipamentos de proteção individual ao obreiro), concorrem para a chamada "senzala moderna", nova modalidade de trabalho escravo, infelizmente ainda existente no Brasil. O § 3.° do mesmo art. 462 consolidado menciona que: "Sempre que não for possível o acesso dos empregados a armazéns ou serviços não mantidos pela empresa, é lícito à autoridade competente determinar a adoção de medidas adequadas, visando a que as mercadorias sejam vendidas e os serviços prestados a preços razoáveis, sem intuito de lucro e sempre em benefício dos empregados". DESCONTO SALARIAL. PRESUNÇÃO DE COAÇÃO. "É inválida a presunção de vício de consentimento resultante do fato de ter o empregado anuído expressamente com descontos salariais na oportunidade da admissão. É de se exigir demonstração concreta do vício de vontade" (OJ 160 SDI/TST). Existem funções, inclusive, pela sua própria qualidade, nas quais pequenos erros e prejuízos podem revelar-se inseridos no próprio risco da atividade econômica, assumido pelo empregador, como por exemplo, o caixa do banco. Indicadas as situações em que a integralidade salarial pode ser rompida, devemos enfrentar os limites da invasão no patrimônio do trabalhador. Os empréstimos consignados, instituídos pela Lei nº. 10.820/2003, ainda suscitam dúvidas quanto aos procedimentos para o desconto das parcelas dos empréstimos em folha de pagamento e nas verbas rescisórias. Não raro, os sindicatos se recusam a homologar rescisão de contrato de trabalho por não concordarem com os descontos efetuados a título de empréstimos consignados contratados pelo trabalhador. A Lei nº. 10.820/2003, regulamentada pelos Decretos nº. 4.840/2003 e nº. 5.892/2006, se refere aos conceitos de remuneração básica, descontos legais, remuneração disponível e descontos voluntários, como elementos de orientação à aplicação dos descontos dos empréstimos consignados. A lei permite ao empregado autorizar de forma irrevogável e irretratável descontos em folha de pagamento e nas verbas rescisórias de prestações de empréstimos, financiamentos e operações de arrendamento mercantil, concedidos por instituições financeiras e sociedades de arrendamento mercantil. O empregador é responsável pelas informações prestadas, pela retenção e repasse dos valores às instituições, até o quinto dia útil após o pagamento do empregado, respondendo sempre como devedor principal e solidário perante a instituição consignatária por valores a ela devidos que deixarem de ser retidos ou repassados por sua falha ou culpa. Não será, 18 porém, co-responsável pelo pagamento dos empréstimos, financiamentos e arrendamentos mercantis concedidos aos mutuários, salvo disposição contratual contrária. É importante mencionar que a lei não restringiu a quantidade de empréstimos consignados, mas estabeleceu que o percentual de desconto em folha não pode ultrapassar 30% da remuneração disponível do empregado, de acordo com o Decreto 4.840/2003. Em relação ao percentual máximo de desconto, após análise da fórmula apresentada no referido decreto, se conclui:- a soma dos descontos (de um ou mais empréstimos consignados) não pode exceder a 30% da remuneração disponível; . 11778399 - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO. LIMITAÇÃO. POSSIBILIDADE. 1.- "Ante a natureza alimentar do salário e do princípio da razoabilidade, os empréstimos com desconto em folha de pagamento (consignação facultativa/voluntária) devem limitar-se a 30% (trinta por cento) dos vencimentos do trabalhador. " (RESP 1.186.965/RS, Rel. Min. MASSAMI UYEDA, DJe 3.2.11). 2.- Agravo Regimental provido. (STJ; AgRg-Ag-REsp 66.970; Proc. 2011/0181317-0; RS; Terceira Turma; Rel. Min. Sidnei Beneti; Julg. 28/02/2012; DJE 15/03/2012) 21111564 - DESCONTOS DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO EM FOLHA. VERBAS RESCISÓRIAS. A Lei nº 10.820/2003, em seu artigo 2º, parágrafo 2º, I, estabelece a margem de comprometimento salarial em 30%, inclusive quanto ao valor das verbas rescisórias. Assim, se observado este limite na rescisão contratual e ainda remanescer saldo devedor do empréstimo contraído pelo reclamante, cabe a este liquidá-lo diretamente junto à instituição financeira para não legitimar a cobrança destes valores e respectivo lançamento de seu nome nos órgãos de proteção ao crédito. (TRT 2ª R.; RO 00240-2008-074-02-00-5; Ac. 2008/0951656; Décima Segunda Turma; Red. Des. Fed. Adalberto Martins; DOESP 07/11/2008; Pág. 162) (Publicado no DVD Magister nº 24 - Repositório Autorizado do TST nº 31/2007) 8 PARCELAS NÃO SALARIAIS Maurício Godinho Delgado classifica as parcelas não-salariais/remuneratórias em três grupos: a) indenizatória; b)instrumental; c) de direito intelectual. Indenizatórias: As indenizatórias o autor subdivide em dois tipos: 1) indenização por despesas reais; 2) indenizações para ressarcir direitos trabalhistas. Como indenizatórias de despesas reais estão inseridas as já feitas ou a serem feitas, para a execução do trabalho, como diárias, ajuda de custo etc.; Como indenizatórias de direitos trabalhistas, encontram-se as férias indenizadas; aviso prévio indenizado; indenização por tempo de serviço (477 da CLT); FGTS com 40%; indenização data-base (art. 9º da Lei 7238/84); indenizações convencionais ou normativas; por não recebimento das guias do seguro desemprego e por dano moral e dano material. Instrumentais: Como instrumentais tem-se as utilidades ou serviços para a realização do serviço contratado como uniformes, e EPIs, veículo e outros acessórios; inclui-se ainda as utilidades a que se refere o § 2º do artigo 458 da CLT que, embora não se preste para a execução do trabalho, sua natureza jurídica não-salarial decorre de determinação legal; Direito Intelectual: Como de direito intelectual, enquadra-se a, os direitos de propriedade industrial (art. 5º XXIX CF/88 e Lei 9279/96), bem como, os direitos autorais (art.5º XXVII e XXVIII, CF/88 e Lei 9610/98), e direitos intelectuais como criação de software (mesmos dispositivos constitucionais citados e Lei 9609/98); 19 Além disso, temos: - Participação nos Lucros Empresariais, desvinculada da remuneração por força do art.7, XI CF/88 e Lei 10.101/2000); 3 - Parcelas Previdenciárias pagas pelo empregador com ulterior reembolso (repasse para posterior ressarcimento do empregador): Salário-família e Salário-maternidade; - Parcelas de Seguridade Social: PIS/PASEP e Seguro-desemprego 3 Em 21 de junho de 2013 foi publicada no D.O.U. a Lei nº 12.832, de 20 de junho de 2013, que alterou dispositivos da Lei nº 10.101, de 19 de dezembro de 2000, que regulamenta a participação nos lucros e resultados da empresa. A primeira alteração é na composição da comissão escolhida pelas partes, que passa a ser Paritária, conforme previsto no inciso I do § 2º da Lei revisanda.Ressalte-se que a participação nos lucros e resultados será objeto de negociação entre empresa e seus empregados, que podem, de comum acordo, optar por instituí-la através da Comissão Paritária ou de Convenção ou Acordo Coletivo de Trabalho. A segunda alteração é quando forem considerados como critérios e condições os índices de produtividade qualidade ou lucratividade da empresa e/ou programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente, deve-se considerar o que segue: → A empresa deverá prestar aos representantes dos trabalhadores na comissão paritária informações que colaborem para a negociação; e → Não se aplicam as metas referentes à saúde e segurança no trabalho. A Lei em referência veda o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em mais de 2 (duas) vezes no mesmo ano civil e em periodicidade inferior a 1 (um) trimestre civil. E a terceira alteração diz respeito a tributação em separado do pagamento do PLR com limite de isenção até R$6.000,00.