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A Estrutura e Funcionamento de Ecossistemas A distribuição espacial e o desenvolvimento dos grandes domínios paisagísticos da superfície terrestre estão condiciona- dos às características do meio físico, com destaque ao clima, aos solos e à topografia. A compreensão da sua dinâmica, entretanto, requer também a análise da estrutura interna e funcionamento de cada ambiente. Segundo Gliessman, um ecossistema pode ser definido como um sistema funcional de relações complementares entre organismos vivos seu ambiente, de forma arbitrária, as quais, no espaço e no tempo, parecem manter um equilíbrio dinâmico, porém estável. A função do ecossistema depende das relações que se estabelecem entre o meio físico e o meio biótico por meio do fluxo de matéria e energia e das interações e inter-relações entre as espécies que habitam esse meio. Essas relações podem adquirir um caráter de harmonia, quando uma espécie auxilia a outra, ou de desarmonia, quando uma espécie é predadora da outra. O conceito de ecossistema é biocêntrico, tendo o organismo com elemento principal. O meio abiótico serve de substrato para o desenvolvimento dos organismos. Considerando as inter-relações entre as espécies, os ecossistemas se organizam de forma hierárquica em diversos estágios. No primeiro estágio encontramos os indivíduos, que quando agrupados formam o próximo estágio, isto é, a população da mesma espécie. O conjunto de populações de espécies diferentes forma a comunidade, e esta, quando considerada conjuntamente com o meio físico, constitui o ecossistema propriamente dito. No estágio mais simples está o organismo individual. O estudo deste nível de organização é chamado autoecologia, pois procura entender o comportamento de um único indivíduo de uma espécie quando exposto ao estresse produzido por fatores de ordem ambiental. A tolerância em maior ou menor grau vai definir a distribuição espacial deste indivíduo no ambiente. No próximo estágio são agrupados os indivíduos da mesma espécie, formando a população. O seu estudo é chamado de ecologia de populações. Normalmente o estudo da população se constitui em importante ferramenta para determinar quais os fatores ambientais que interferem no seu desenvolvimento, além de detectar se o ambiente tem a capacidade de suporte para manter e sustentar aquela população ao longo do tempo. O seguinte estágio de organização é formado por populações de espécies diferentes, que juntas ocupam um determinado lugar, estabelecem relações e criam a comunidade. O estudo do nível de organização da comunidade é conhecido como ecologia de comunidade. As relações de competição que se estabelecem entre as comunidades têm efeito direto sobre a distribuição e predominância de uma espécie sobre a outra. O último estágio corresponde ecossistema propriamente dito, visto que este inclui todos os fatores bióticos e abióticos de um determinado ambiente e suas interações. Uma característica importante dos ecossistemas diz respeito ao surgimento de novas propriedades que não estavam presentes no estágio anterior. Os ecossistemas estão sujeitos a grandes perturbações, tanto de ordem natural quanto pela intervenção do homem. A natureza, no entanto, tem a capacidade de recuperação, pois mediante a sucessão ecológica proporcionada pelo conjunto das condições ambientais, ela busca adquirir as características originais ou próximas a elas, mesmo que isso leve muito tempo. Conforme a dinâmica desse processo o ecossistema pode buscar novamente o equilíbrio dinâmico e a estabilidade. A Energia no Ecossistema A dinâmica interna dos ecossistemas está intimamente relacionada à capacidade dos mesmos em absorver energia solar e de ciclar os nutrientes por meio dos processos biogeoquímicos. No mundo físico e em ecossistemas, a energia move-se constantemente de um lugar para outro e muda de forma. Como isso ocorre é descrito por duas leis da termodinâmica. De acordo com a primeira lei da termodinâmica, a energia não é criada nem destruída, não importando que transferências ou transformações ocorram. A energia muda de uma forma para outra quando se move de um lugar para outro ou é usada para realizar trabalho. A segunda lei da termodinâmica afirma que, quando a energia é transferida ou transformada, parte dela é convertida em uma forma que não pode mais ser passada adiante e não fica disponível para realizar trabalho. Esta forma degradada de energia é calor, que é simplesmente o movimento desorganizado de moléculas. A segunda lei da termodinâmica significa que sempre há uma tendência na direção de maior desordem, ou entropia. A energia flui somente em um sentido dentro do ecossistema, ou seja, do Sol para os produtores (vegetais clorofilados), daí para os consumidores (animais) e destes para o ambiente. A principal fonte de energia é o Sol, cuja energia ingressa no ecossistema pelo processo chamado fotossíntese, desenvolvido pelas plantas e algas. Durante esse processo a energia solar é convertida em energia potencial e armazenada na biomassa. Quando os organismos se utilizam da biomassa como fonte de alimento, parte da energia acumulada é transformada em calor, sendo perdida para o ambiente pela respiração, portanto não está mais disponível para realizar trabalho. Essa mesma situação ocorre quando da decomposição da matéria orgânica por organismos decompositores. Os Nutrientes no Ecossistema Os nutrientes fluem por todos os compartimentos do ambiente na forma de ciclos, pois podem se deslocar de um componente abiótico, como o solo, para um biótico, no caso as plantas, e posteriormente voltar para o solo. Também podem fazer outro caminho, ou seja, sair de um componente biótico como as plantas, ir para o solo e ser absorvido pelas plantas, iniciando o ciclo novamente. A ciclagem dos nutrientes por meio dos ciclos biogeoquímicos é determinada pelas condições do meio físico no qual se insere cada ecossistema e principalmente pelo fluxo de energia. Sendo a energia proporcional à complexidade da cadeia trófica temos, então, a ciclagem ocorrendo em velocidades diferentes de acordo comas características ecológicas e posição geográfica dos ecossistemas. Nas regiões de climas quentes e úmidos a ciclagem da matéria orgânica, por exemplo, é mais acelerada, já nas áreas de climas frios esse processo é mais demorado, pois o metabolismo dos organismos também é mais lento. Existe uma variedade grande de nutrientes que são ciclados nos ecossistemas. Dentre eles podemos destacar os macronutrientes, como o carbono (C), o nitrogênio (N), o oxigênio (O), o fósforo (P), o enxofre (S) e a água. Também são ciclados nos ecossistemas inúmeros outros elementos, denominados de micronutrientes, como o ferro (Fe), o magnésio (Mg), o manganês (Mn), o zinco (Zn), entre outros, que apesar das necessidades serem menores, são de importância significativa para o desenvolvimento da biodiversidade,dado que complementam a nutrição de plantas e animais. O CICLO DO CARBONO O carbono está presente em todos os organismos, tendo como grande reservatório a atmosfera, na qual se encontra sob a forma de dióxido de carbono (CO2). O carbono tem relativa facilidade de se deslocar da atmosfera para o meio biótico, pois é absorvido pelas plantas durante a fotossíntese. A partir daí é convertido em biomassa na forma de carboidratos. A biomassa quando descomposta incorpora carbono no solo e quando queimada libera-o para a atmosfera, dando início a novo ciclo. O carbono também é encontrado no interior da Terra preso em rochas carbonáticas ou nos grandes reservatórios de hidrocarbonetos, como os de petróleo, gás natural e carvão, os chamados combustíveis fósseis. A queima destas fontes de carbono libera grandes quantidades desse elemento para a atmosfera, por isso ele é considerado um dos gases do efeito estufa. O CICLO DO NITROGÊNIO O nitrogênio (N2) é o elemento de presença mais significativa na atmosfera, atingindo 78%. Ele apresenta-se sob a forma de gás nitrogênio, sendo essencial para todas as formas de vida, uma vez que participa do processo de elaboração da biomassa, no entanto a maioria dos organismos não pode utilizá-lo nesta forma. O nitrogênio então precisa ser transformado em amônia, nitrato e nitritos, formas estas nas quais o nitrogênio torna-se disponível para ser absorvido pelas plantas. Essa transformação pode se dar por fenômenos naturais, como no caso dos relâmpagos, que convertem o nitrogênio em nitratos, e também pelo trabalho de algumas plantas e bactérias que possuem a propriedade de fixar o nitrogênio do ar. Outra possibilidade refere-se aos processos artificiais, como aqueles em que a indústria química transforma o gás nitrogênio em fertilizantes. A Figura 4 a seguir mostra o ciclo do nitrogênio na natureza. O CICLO DO FÓSFORO Um dos nutrientes mais importantes para a construção de organismos é o fósforo. O seu ciclo tem início com o processo de intemperismo das rochas, sendo incorporado ao solo de forma lenta. A partir do solo o fósforo é absorvido pelas plantas e passa a fazer parte da biomassa, podendo retornar ao solo pela decomposição de matéria orgânica ou excrementos de animais. Geralmente o fósforo é mais escasso que outros nutrientes, por isso a necessidade de constante reciclagem dentro do ecossistema, sob pena de a falta do nutriente gerar limitações ao desenvolvimento do sistema como um todo. O CICLO DA ÁGUA A água é o elemento determinante para o desenvolvimento dos ecossistemas, uma vez que os seres vivos são constituídos em grande parte de água e a utilizam constantemente para a manutenção do seu metabolismo. A exuberância de um ecossistema depende entre outros fatores da disponibilidade de água. A água é ciclada na natureza por uma série de processos que incluem a evaporação, saturação, condensação e precipitação, tendo como grandes reservatórios os oceanos, as geleiras, o subsolo e a atmosfera. ECOSSISTEMAS NATURAIS E AGROECOSSISTEMAS COMPARADOS 1. Fluxo de Energia O fluxo de energia em agroecossistemas é bastante alterado pela interferência humana. Insumos derivam principalmente de fontes humanas e, freqüentemente, não são auto-sustentáveis. Assim, os agroecossistemas tomam-se sistemas abertos, onde parte considerável da energia é dirigi da para fora do sistema na época de cada colheita, em vez de ser armazenada na biomassa que poderia, então, se acumular dentro do sistema. 2. Cic1agem de Nutrientes A recic1agem de nutrientes é mínima na maioria dos agroecossis- temas, e o sistema perde quantidades consideráveis com a colheita ou como resultado de lixiviação ou erosão, devido a uma grande redução nos níveis de biomassa pernanente mantidos dentro do sistema. A exposição freqüente de solo nu entre plantas cultivadas e, temporariamente, entre épocas de cultivo também cria "vazamentos" de nutrientes do sistema. Para repor essas perdas, ultimamente, os produtores têm contado intensamente com nutrientes de insumos externos, fabricados a partir do uso de petróleo. 3. Mecanismos Reguladores de População Devido à simplificação do ambiente e redução nas interações tró- ficas em agroecossistemas, raramente populações de plantas cultivadas ou de animais são auto-reprodutoras ou auto- reguladoras. Os insumos humanos, na forma de sementes ou agentes de controle, freqüentemente dependem de grandes subsídios de energia, determinando o tamanho das populações. A diversidade biológica é reduzida, as estruturas tróficas tendem a se tomar simplificadas, e muitos nichos não são ocupados. O perigo de praga catastrófica ou erupção de doença é alto, apesar da intensiva interferência humana. 4. Estabilidade Os agroecossistemas, se comparados aos ecossistemas naturais, têm muito menos resiliência, devido à sua reduzida diversidade funcional e estrutural. Quando a colheita é o enfoque principal, há perturbação em qualquer equilíbrio que se tenha estabelecido, e o sistema só pode ser mantido se a interferência externa - na forma de trabalho humano e insumos humanos externos - for mantida. Embora tenham sido apontados contrastes agudos entre ecossistemas naturais e agroecossistemas, sistemas reais de ambos os tipos existem num contínuo. Por um lado, poucos ecossistemas "naturais" são verdadeiramente naturais, no sentido de serem completamente independentes da influência humana; por outro, os agroecossistemas podem variar bastante em sua necessidade de interferência humana e insumos.