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PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL Violar os princípios, fundamentos irrevogáveis do sistema (cláusulas pétreas), é muito mais grave do que violar a lei, por excelência, revogável. Princípios são postulados que se irradiam pelo ordenamento jurídico, servindo de base de interpretação, integração, conhecimento e aplicação do direito. Há princípios implícitos e explícitos no sistema normativo. Muitos dos princípios penais estão diretamente previstos na Constituição Federal brasileira. 1) PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (art.5o, XXXIX da CF e art. 1º, do CP): O princípio da legalidade (reserva legal ou estrita legalidade), pelo qual opõe-se ao poder punitivo do Estado a exigência da anterioridade da norma (preceito e sanção) ao ato imputado ao réu (hoje, após a reforma de 1984, requisito também estendido à imposição de medida de segurança - arts. 96/99 do CP), tem origem na Carta Magna da Inglaterra (1.215), época em que os nobres impuseram o requisito às sanções a eles impostas pelo Rei João Sem Terra; ganhando, posteriormente, maior vigor com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (Iluminismo, França/1789) e Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU/1948). É direito (garantia) fundamental por excelência, inerente ao ser humano, independente do Estado que o jurisdiciona, apenas declarado e não outorgado pelo Estado. Os regimes totalitários sempre atentam contra esse primado do Estado Democrático de Direito: Alemanha Nazista: “Será punido quem cometer um crime declarado punível pela lei, ou que mereça uma sanção segundo a idéia fundamental da lei penal e o são sentimento do povo”. URSS/Stalinista: “Reputa-se perigosa toda ação ou omissão dirigida contra a estrutura do Estado Soviético ou que ofenda a ordem jurídica criada pelo regime dos trabalhadores e camponeses para a época da transição à organização social comunista”. Desdobramentos do princípio da legalidade: a) “nullum crimen, nulla poena sine lege praevia”, (princípio da anterioridade): “A lei que institui o crime e a pena deve ser anterior ao fato que se quer punir. E só a lei em sentido estrito pode criar crimes e penas criminais.” (Assis Toledo) Excluídos, portanto, o decreto-lei (Constituição anterior), a lei delegada (art. 68, § 1o, II “... direitos individuais...”) e as medidas provisórias. b) “nullum crimem, nulla poena sine lege scripta” (princípio da reserva legal), exclusão do costume (realidade social) como fonte geradora da criação ou agravamento de crimes e penas, impondo-se a norma escrita, formalmente elaborada; podendo sê-lo em favor do acusado (Teoria da Adequação Social), v.g., jogo do bicho, etc. Portanto, não servem os costumes como fontes imediatas do direito penal, mas sim como complemento de interpretação. c) “nullum crimem, nulla poena sine lege stricta”, vedação à analogia (integração do sistema jurídico ante a ausência de lei) para criar ou agravar pena, não se confundindo com a interpretação analógica (tem-se presente a norma, apenas que carece de complementação), que é permitida. Admitindo-se, todavia, a “analogia in bonam partem”, objetivando beneficiar o réu; v.g, art. 181, I do CP, beneficiando não apenas o cônjuge, como também o companheiro (união estável). d) “nullum crimem, nulla poena sine lege certa” (princípio da taxatividade), “A exigência de lei certa diz com a clareza dos tipos, que não devem deixar margens a dúvidas nem abusar do emprego de normas muito gerias ou tipos incriminadores genéricos, vazios.” (Assis Toledo). A taxatividade da norma - “lex certa”, da certeza da Lei (Iluminismo, século XIX); v.g. de lesão a esse princípio, art. 184 do CP, “violar direito autoral”; qual? Todo o inscrito na Lei 5.988/73? Isso é ilicitude civil (contínua), não penal (tipificada). 2) PRINCÍPIO DA IGUALDADE: Não se trata de igualdade linear, sim, de isonomia (art. 5o, “caput” da C.F.), ou seja, qualquer distinção deve estar fundamentada em uma razão acolhida pela ordem jurídica, v.g., diferenciação legítima, reserva de vagas para negros em universidades públicas, de mulheres candidatas nas eleições (políticas compensatórias), etc.; v.g. de discriminação ilegítima, art. 59 da LCP sancionando a vadiagem a quem encontre-se “... sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência...”; estelionato do empregado contra o patrão (art. 171 do CP, pena de um a cinco anos), do patrão contra o empregado (art. 203 do CP, pena de um mês a um ano). 3) PRINCÍPIO DA HUMANIDADE DA PENA Fundamenta-se na ideia de que os efeitos deletérios da internação forçada devem ser evitados através de um procedimento prisional que reduza significativamente o perigo da dessocialização; vedação à tortura de tratamento degradante (art. 5o, III da CF), individualização da pena (art.5o, XLVI da C.F.), banimento de penas cruéis, trabalhos forçados (art.5o, XLVII da CF), bem como deverá ser assegurado o respeito à integridade física e moral do preso (art. 5º, XLIX, da CF). 4) PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE (art.5o, XLV da C.F.): “Nullum crimen sine culpa”, culpa “lato sensu” (dolo e culpa “stricto sensu”), inexiste crime sem responsabilidade subjetiva, pessoal, individualizada, contrariamente ao Direito Civil, cuja tendência, visando compensar juridicamente uma desigualdade econômica, é objetivar a responsabilidade (Estado, fornecedor, transportador ferroviário, etc.). Existem três fatores de análise da culpabilidade: 1) Como fundamento da pena e existência do crime: culpabilidade = imputabilidade+potencial conhecimento do caráter ilícito do fato+exigibilidade de conduta diversa. 2) Como elemento da determinação da pena ou medição da pena= funciona com limite da pena. 3) Como conceito contrário a responsabilidade objetiva. 5) PRINCÍPIO DA NECESSIDADE DA TUTELA PENAL: a) “Ultima ratio regum” (princípio da intervenção mínima), o “ius puniendi” apenas “in extremis”; o Direito Penal restringe-se a proteger os bens jurídicos cuja tutela pelos demais ramos (Civil, Comercial, Tributário, Administrativo, Trabalhista, Consumerista, etc.) sejam insuficientes; argumento de extraordinária valia, especialmente quando se tem, simultaneamente, sanção paralela dos demais ramos do Direito, v.g., descaminho (art. 334 do CP) com confisco da mercadoria (pena administrativa); a banalização do Direito Criminal atenta contra o Estado de Direito. Um exemplo dessa situação é a questão das penas administrativas por infrações no trânsito, com perda de pontos na carteira do motorista, como o pagamento de altas multas. Isso é mais eficaz do que a própria pena por crime no trânsito. b) “Minimus non curat praetor” (princípio da insignificância - crime de bagatela), “O crime não tem apenas um modo de ser objetivo que o caracteriza, mas também por assim dizer, um peso, de sorte que há um limite de suficiência, por qualidade e quantidade da empresa criminosa. Aquém desse limite qualitativo quantitativo, não há racional consistência de crime, nem justificação de pena” (Aldo Moro); v.g., tóxico (Lei 11.343/2006) até 1 g, furto ínfimo, etc. c) Princípio da Efetividade, o Direito Penal deve ser potencialmente eficiente; a inoperância atenta contra a “dignidade da Justiça”, cujo zelo compete às partes e ao magistrado (art. 125, III do CPC); v.g., multas, corrigíveis apenas a partir do trânsito em julgado, fianças defasadas; estelionato do cheque sem fundos (art. 171, § 2o, VI do CP); eficiência maior das sanções bancárias (BACEN, corte de crédito, etc.); d) Princípio da Proporcionalidade, correlação ente o mal do crime e o mal da pena; “O crime é a negação do Direito e a pena, que é a negação do crime, é a confirmação do Direito. Essas duas negações devem ser iguais, para que a segunda anule a primeira” (Hegel); v.g., de violação é o furto de um “fusca” 66 no RS, trazido ao PR após adulteração do chassi, cuja pena é de seis a quatorze anos de reclusão, com sanção média de dez anos (arts. 155, §5o c/c 311 do CP), em contraposição ao homicídio com culpa gravíssima, com pena de um a três anos de detenção (art. 121, § 3o do CP), cabendo, além do sursis (art. 77 do CP), a suspensão do processo (art. 89 da Lei. 9.099/95). e) Princípio da Adequação Social (ação socialmente adequada),”A teoria da ação socialmente adequada firma-se na consideração de que ações postas em prática com o necessário cuidado, embora possam ser perigosas ou até mesmo lesivas, não incidem em nenhuma figura típica posto que, por sua utilidade social, mostra-se conforme a vida societária num determinado momento histórico” (Jescheck); v.g., de inadequação social é a usura (art.4o da Lei 1.521/51) em contraposição aos juros bancários (legais) extorsivos; punição do jogo do bicho (art. 27 da LCP) em contrapartida ao Estado como agenciador da jogatina. Apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal, não será considerada típica se for socialmente adequada, isto é, se estiver de acordo com a ordem social vigente. 6) PRINCÍPIO DO “DUE PROCESS OF LAW”: Observância dos princípios e garantias inerentes ao devido processo legal: segurança de que ninguém será privado da liberdade ou dos bens sem o devido processo (art.5o, LIV da C.F.), apenas o Judiciário podendo fazê-lo (art.5o, XXXV da C.F.), com garantia da mais ampla defesa (art.5o, LV da C.F.), com presunção de inocência antes do trânsito em julgado da sentença condenatória (art.5o, LVII da C.F.), restrição da prisão à ordem judicial ou flagrante delito (art.5o, LXI da C.F.), sendo, na hipótese de ilegalidade ou cabimento de liberdade provisória, imediatamente revogada (art.5o, LXV da C.F.), garantia do Juiz e Promotor naturais (art.5o, LIII da C.F.), sendo vedado tribunal de exceção (art. 5o, XXXVII da C.F.), etc. 7) PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA A dignidade da pessoa humana é valor fundamentador do sistema de direitos fundamentais consagrado constitucionalmente (art. 1º, III, CF), de modo que o estado Democrático de Direito e social deve garanti-los, abstendo-se de práticas a eles lesivas, como também proporcionar condições para que sejam respeitados, inclusive com a eventual remoção de obstáculos à sua total realização. Nesse postulado fundamental, reside o limite mínimo a que está subordinada toda e qualquer legislação. EX: o STJ já invocou esse princípio para proibir o recolhimento de preso em contêiner (HC 142.513/ES, Rel. Min. Nilson Naves, 6ª Turma, julgado em 23.03.2010, DJe 10.05.2010). 8) PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE OU PERSONALIDADE Este princípio se refere a responsabilidade penal, a qual é de origem subjetiva, ou seja, depende da comprovação de culpa do agente no momento da realização da conduta criminosa. Significa que a pena não deve ultrapassar a pessoa do delinquente. Por isso, a Constituição, em seu artigo 5º, inciso XLV, prevê: “nenhuma pena passará da pessoa do condenado (...)”. A única exceção é em relação ao pagamento de indenização pela prática do crime, conforme o inciso já descrito: “(...) podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”. 9) PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA Segundo o artigo 5º, inciso XLVI: “XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição de liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos“. O juiz, ao fixar a pena, deverá levar em consideração vários fatores, que serão estudados posteriormente, mas de cunho subjetivo do indivíduo. Ex: crimes hediondos. 10) PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DA DUPLA PUNIÇÃO PELO MESMO FATO (NE BIS IN IDEM) Esse princípio aponta que ninguém deve ser processado e punido duas vezes pela prática da mesma infração penal. Tal garantia está prevista na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 8º, n. 4).