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Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 57 4. Extração A extração do caldo nas usinas de açúcar brasileiras se dá, em sua grande maioria, através de moagem. O outro sistema (Difusão) é utilizado por poucas unidades industriais, sendo amplamente empregado na Europa em usinas de açúcar que processam beterraba açucareira. Moendas e Difusores são equipamentos que têm o mesmo objetivo (extração do caldo), porém princípios diferentes. Enquanto nas moendas, a extração se dá por pressão, nos difusores, a mesma ocorre por difusão e lixiviação. As moendas são equipamentos que funcionam a baixas velocidades e altas pressões, daí terem maior desgaste ao longo da safra, quando comparadas aos difusores. Na prática, as moendas, quando bem reguladas extraem entre 95 e 97% do açúcar da cana, enquanto que para os difusores, esses valores oscilam entre 97 e 98%. 4.1. Extração do caldo por moendas A extração do caldo de cana constitui a primeira etapa básica da fabricação do açúcar a partir dessa gramínea. Atualmente no Brasil, as moendas são equipadas para extrair da cana, preparada convenientemente pelas facas rotativas e desintegradores, o máximo da sacarose presente. A maior ou menor extração de sacarose da cana-de-açúcar depende de 3 operações básicas: preparo da cana, moagem e embebição. Um terno de moenda constitui-se numa unidade esmagadora contendo 3 cilindros ou rolos dispostos de tal forma que a união dos seus centros forma um triângulo isósceles. Figura 4.1. Terno de moenda e seus principais componentes. Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 58 De acordo com sua posição, o cilindro recebe uma denominação especial. Assim, o primeiro localizado no plano inferior é denominado de cilindro anterior, alimentador ou rola-cana. O segundo, situado no mesmo plano, é denominado de cilindro posterior, rola- bagaço, bagaceiro ou cilindro de descarga. Esses dois cilindros movem-se no mesmo sentido. Sobre esses, no plano superior, acha-se localizado o cilindro superior ou principal, que se movimenta no sentido contrário. 4.1.1. Aberturas Os cilindro inferiores trabalham fixados em suas posições, enquanto que o superior tem sua posição controlada por um regulador de pressão hidráulica. Assim, num terno de moenda, existem duas aberturas, uma de entrada e outra de saída, sendo a primeira sempre maior do que a segunda. A abertura de entrada visa, sobretudo, capacidade de moagem, enquanto que é na abertura de saída que se objetiva a extração. Figura 4.2. Detalhes das aberturas de entrada e saída em um terno de moenda. As aberturas principais da moenda devem ser periodicamente checadas. Apesar do controle da oscilação indicar que a carga hidráulica está sendo efetivamente aplicada à camada de cana, isto não significa que as aberturas estão adequadas. Como a maior força de esmagamento ocorre na saída, esta praticamente é a responsável pela extração. Se, devido ao desgaste dos rolos, a abertura de entrada estiver muito acima da calculada, pode-se prejudicar a admissão de cana no terno e a extração neste ponto, havendo, assim, queda na extração do terno. 4.1.2. Castelos Os cilindros são sustentados por estruturas metálicas (aço ou ferro fundido) denominadas de castelos. Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 59 Em cada lado das moendas, fixado à base ou alicerce de concreto, assenta-se um castelo vertical que tem por finalidade suportar os eixos do cilindro e a bagaceira. Os castelos possuem três fendas (duas inferiores e uma superior), onde se fazem presentes os mancais, sobre os quais são assentados os eixos dos cilindros. Quanto à fenda superior, existem alguns modelos onde a mesma apresenta uma inclinação em torno de 15, o que faz com que o deslocamento desse cilindro não seja na vertical. Tal disposição permite colocar os mancais e a pressão hidráulica na mesma linha, como resultante das forças exercidas de forma diferenciada pela pressão do rolo superior sobre os dois inferiores. Como a maior resistência encontra-se no rolo posterior, a tendência é de empurrar o cilindro superior para cima em direção inclinada ao rola-cana, resultando numa maior pressão sobre a camada de bagaço. Dessa forma tem-se uma menor pressão na entrada (maior capacidade de moagem) e uma maior pressão na abertura de saída (maior extração), otimizando o funcionamento do equipamento. Em outros casos as inclinações ocorrem nas fendas inferiores, o permite que se proceda ao ajuste das aberturas de entrada e saída das moendas, em decorrência do desgaste a que normalmente são submetidas, sem contudo alterar o ângulo (ângulo formado pelas retas que podem ser traçadas a partir do centro do cilindro superior em direção aos centros dos cilindros inferiores). Em termos práticos, sendo a abertura de entrada maior do que a abertura de saída, pode-se estimar que 40% da pressão total é aplicada sobre o rola-cana e 60% sobre o rola-bagaço). Figura 4.3. Vista parcial dos cilindros de um terno de moenda, cabeçotes laterais e corte esquemático dos cilindros assentados nas fendas do castelo (Fonte: Dedini, Indústrias de Base, 2007). Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 60 4.1.3. Mancais Os mancais estão fixados nas fendas dos castelos. Sua estrutura é fundida em uma liga metálica onde predomina o bronze fosforado, conferindo-lhe a característica de se desgastar mais facilmente do que o eixo do cilindro. Ademais, os mancais são lubrificados e refrigerados com água, que circula em seu interior, reduzindo o atrito com o eixo do cilindro, preservando-o. 4.1.4. Tandem Dessa forma os ternos de moendas são agrupados em seqüência, constituindo os tandens, que são compostos de 4 a 6 ternos enfileirados, conforme a capacidade de moagem e a extração desejada. Figura 4.4. Conjunto de moendas – Tandem com 5 ternos. 4.1.5. Acionamento das moendas O acionamento de um terno de moenda se dá através do cilindro superior, sendo os movimentos transmitidos aos cilindros inferiores através de engrenagens denominadas de rodetes. Esta operação pode ser executada por equipamentos diversos (motores elétricos, motores a vapor e turbinas a vapor). Os motores elétricos são muito raros na região centro-sul do país. Cada motor aciona um terno de moenda, possuindo redução de velocidade. Entre as desvantagens da sua adoção pode-se citar o alto custo de implantação e de manutenção. Os motores a vapor são acionados por vapor direto das caldeiras. Os mesmos podem ser de alta rotação ou de baixa rotação. As turbinas a vapor são as que predominam nas unidades industriais devido ao seu baixo custo e elevada eficiência. São acionadas por vapor superaquecido direto das caldeiras. Uma turbina normalmente é dimensionada para acionar ternos de moendas aos Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 61 pares, sendo a redução da velocidade angular e a distribuição do movimento entre os ternos realizada através de engrenagens intermediárias e redutores de velocidade. A velocidade inicial da turbina é de 4000 rpm, sendo reduzidas num primeiro ponto a 200 rpm e posteriormente reduzida a 3 a 7 rpm, que é a velocidade angular de trabalho das moendas. Figura 4.5. Vista geral do sistema de acionamento das moendas. Usina Costa Pinto Piracicaba – SP –Brasil Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 62 4.1.6. Cilindros Os cilindros são constituídos basicamente de um eixo, que se assenta no castelo e é fixado através de cabeçotes, e de uma camisa, construída a partir de uma liga especial que lhe atribui porosidade para facilitar a apreensão da cana, aumentando assim a capacidade de moagem, com ranhuras (circunferenciais e transversais) que, além de facilitar a apreensão da cana pelo aumento da superfície de contato, facilitam também a drenagem do caldo extraído, evitando que o mesmo seja reabsorvido pela massa fibrosa durante o processo de extração. Essas ranhuras, dependendo da posição do cilindro no terno, podem ocorrer juntas ou não. As ranhuras circunferenciais são constituídas, em sua maioria, de sulcos em "V", cujo ângulo pode variar de 40 o a 60 o . Dependendo de sua elaboração de construção, elas recebem denominações especiais de acordo com o passo, altura, a presença ou não de "Chevrons", de canais e os ângulos de secções. Assim, pode-se citar alguns tipos de ranhuras especiais: - Ranhuras Fulton; - Ranhuras de passo duplo; - Ranhuras Hind-Henton; - Ranhuras Messcharert. As ranhuras transversais têm por função facilitar a apreensão de cana inteira ou parcialmente esmagada, estando presente no cilindro de entrada e superior. As dimensões dos cilindros (diâmetro e comprimento) são avaliadas em polegadas, obedecendo sempre a relação D/L 1/2. Assim, o processo de extração nas usinas de açúcar ocorre de forma gradual e progressiva à medida em que a cana se desloca através dos ternos, que se viabiliza com o auxílio das esteira de borracha denominados de condutores intermediários. Ao deixar o último terno, exaurida ao máximo em açúcar, a cana apresenta-se na forma de bagaço com um teor de umidade variando entre 48 e 52%. Vale lembrar que, durante o processo de extração, realiza-se a adição de água de embebição, no caso de embebição simples ou de caldo diluído (embebição composta), visando-se dissolver o açúcar remanescente e reduzir a porcentagem de fibra da cana em processo de moagem, o que facilita a extração minimizando a reabsorção de caldo que normalmente acontece quando se tem elevados teores de fibra. Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 63 Figura 4.6. Cilindro Superior de moenda. 4.1.7. Raspadores ou Pentes Os raspadores ou pentes constituem-se de placas de aço ou ferro endurecido, dotadas de ranhuras de passo semelhante ao do rolo em que estão acoplados. Sua finalidade é a de manter limpos os cilindros superior e posterior quando em funcionamento. Esses raspadores são mantidos justapostos aos cilindros em ângulo apropriado, por meio de placas de sustentação e de molas de aço. Quanto ao rola-cana sua limpeza é realizada pelo "rabo" da bagaceira. 4.1.8. Bagaceira A bagaceira constitui-se de uma estrutura metálica localizada sob o rolo superior e entre os rolos inferiores. Normalmente a bagaceira é ajustada de forma a manter o rabo encostado no rola-cana, e a ponta próxima ao rola-bagaço. Assim, a parte correspondente ao rabo constitui-se de uma série de dentes que permitem a perfeita aproximação da peça ao rola-cana. A função da bagaceira é permitir que a cana que sofreu um primeiro esmagamento seja conduzida ao segundo, entre o rolo superior e o rola-bagaço, sem a Rodete v Eixo “Chevron” Ranhuras Circunferenciais Flange Seção Quadrática Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 64 ocorrência de embuchamento, além de promover a limpeza do “rola-cana”. Também tem a finalidade de evitar que a fração menor de bagaço, em processo , acompanhe o caldo extraído. Esse fenômeno torna-se mais intenso ao longo da safra quando o desgaste do rabo da bagaceira, a aproximação dos cilindros inferiores faz-se necessária. Contudo, esse procedimento não deve ser realizado de forma indiscriminada. É importante que esses ajustes sejam monitorados e registrados, resultando em melhores condições para preservação e durabilidade de seus frisos e das suas camisas. 4.1.9. Pressão nas Moendas O controle da pressão nas moendas tem por função manter constante a ação dos cilindros sobre a cana inteira ou esmagada, independente da espessura da camada por ela formada. Essa pressão é exercida pelo o rolo superior, através dos seu sistema hidráulico, que possibilita o fenômeno de flutuação. Existem diversos tipos de reguladores de pressão, podendo-se citar: - reguladores de molas; - reguladores de cunhas; - reguladores aero-hidráulicos; - reguladores hidráulicos. Os reguladores de pressão hidráulica devem ser especificados individualmente para cada terno de moenda. Normalmente, recomenda-se a adoção de pressões hidráulicas crescentes do primeiro ao último terno de moenda. 4.1.10. Embebição nas moendas A embebição é uma operação fundamental para o sucesso do processo de extração. A mesma consiste em se adicionar água ou água mais caldo diluído à cana em seu percurso ao longo do tandem de moendas, visando diluir o caldo residual e reduzir o teor de fibra da cana durante a ação das moendas, o que facilitará a extração da sacarose remanescente, reduzindo o fenômeno de reabsorção do caldo extraído pelo bagaço, especialmente quanto o teor de fibra é elevado. De acordo com os materiais empregados, a embebição pode ser classificada como embebição simples ou embebição composta. A embebição simples consiste em se adicionar apenas água em um ou mais pontos ao longo do tandem, sobre a cana em processo. A embebição composta consiste na utilização de água num último ponto e de caldo diluído, sempre utilizando o caldo diluído obtido de um terno para embeber a cana que vai ser esmagada pelo terno anterior. De acordo com o número de pontos de aplicação, tanto a embebição simples quanto a composta pode ser classificada como única, dupla , tripla , etc. A aplicação da embebição pode ser feita através de canos perfurados, bicos injetores ou de calhas. Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 65 Dentro das limitações impostas pela fabricação e pela própria capacidade da moenda, a embebição deve ser mantida constante, no nível mais elevado possível, recomendando-se a existência de um tanque específico para esse fim, bem como um sistema de medição e controle da vazão. Na prática, a umidade do bagaço e a pressão de vapor nas caldeiras são os fatores limitantes da embebição. O controle de temperatura da água só se torna importante para temperaturas acima de 70 o C, uma vez que abaixo desse valor o benefício em extração é praticamente inexistente, com possível prejuízo à alimentação e ao serviço de manutenção da solda tipo chapisco. Figura 4.6. Visão geral das tubulações empregadas no retorno de caldos diluídos no processo de embebição composta. Usina Açucareira Guaira – SP – Brasil. 4.1.11. Eficiência das Moendas A eficiência de um terno de moendas deve ser considerada em função da capacidade de moagem e da extração. Os fatores que afetam a capacidade de moagem da usina são: preparo da cana, uniformidade de alimentação, grau de automação do processo, teor de fibra da cana, dimensões, número, configuração, textura das camisas e velocidade dos cilindros, quantidade de água de embebição, regulagem das moendas, direção e elemento humano. Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 66 Entende-se por extração como sendo a quantidade de sacarose extraída da cana pelas moendas. A mesma pode assim ser expressa: Caldo Misto extraído por cento de cana, caldo extraído por cento de cana, sacarose (Pol) extraída por cento de cana, sacarose (Pol) extraída por cento sacarose (Pol) contida na cana e sacarose (Pol) perdida no bagaço por cento de fibra existente na cana. 4.1.12. Cálculo da Extração. Para o cálculo da extração é necessário se conhecer as seguintes equações: cana = caldo + bagaço açúcar na cana = açúcar no caldo + açúcar no bagaço cana + água = caldo misto + bagaço caldo = água + sólidos solúveis (Brix) bagaço = água + fibra + sólidos solúveis (Brix) Dessa forma, verifica-se a necessidade de se conhecer pelo menos 2 componentes dos 3 abaixo citados: peso de água peso de caldo peso de bagaço Na indústria do açúcar, a pesagem da água e do caldo é mais simples, sendo a do bagaço mais complexa. Assim, vários são os métodos para o cálculo da extração. Aqui é apresentado um método considerado ideal, porém problemático porque requer a pesagem do caldo misto e principalmente do bagaço o que é extremamente complexo. 4.1.12.1. Procedimento Dados: Peso de caldo (p.c.) = 2400t Peso de caldo misto (p.c.m.) = 2300t Pol do caldo misto (pol c.m.) = 15% Peso de bagaço (p.b.) = 600 t Pol do bagaço (pol b.) = 4% 4.1.12.2. Cálculos - Peso de pol do caldo misto (p. pol c. m.) 100 c.m. pol c. m. Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 67 p. c.m. p.pol c.m. p. pol c. m. = p.c.m. . pol c. m./100 p. pol c.m. = 2300 . 15/100 = 345t - Peso de pol no bagaço (p. pol b.) 100 b. pol b. p.b. p. pol b. p. pol b = p.b. . pol b./100 p. pol b. = 600 . 4/100 = 24t - Peso de pol na cana (p. pol c.) p. pol c. = p. pol c.m. + p. pol b. p. pol c. = 345 + 24 = 369t - Extração (%) 369t 100 345t Extração (%) Extração (%) = 345 . 100/369 = 93,5% 4.2. Extração do caldo por difusão 4.2.1. Introdução O processo de difusão baseia-se na diluição e lixiviação do açúcar presente na matéria prima. De uso muito comum na Europa, em unidades industriais que produzem açúcar a partir da beterraba, o mesmo pode perfeitamente ser empregado para cana-de- açúcar. Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 68 De fundamental importância para o bom desempenho dos difusores é o grau de preparo da cana. Com o advento dos desintegradores nas usinas de açúcar, essa etapa do processo passou a apresentar altos índices de eficiência, deixando, assim, de ser motivo de preocupação. Esses equipamentos atuam sobre os colmos, expondo suas partes internas, o que vem a facilitar a solubilização e extração dos açúcares. Com o desempenho otimizado, o processo de difusão passou a ser uma alternativa muito interessante por proporcionar altos níveis de extração e envolver equipamentos de custos relativamente baixos, tanto na aquisição quanto na manutenção, especialmente quando se compara com a extração convencional realizada por moendas. Os difusores podem operar isoladamente, e nesse caso são denominados “Difusores de Cana”. Outra opção é a associação dos mesmos com moendas, as quais podem ser instaladas no início do processo, sendo responsáveis pelas primeiras porções de caldo extraído. Nesse caso os difusores são empregados para extrair o caldo residual da cana que passou pelas moendas. Assim, são denominados “Difusores de Bagaço”. 4.2.2. Tipos de difusores Os difusores encontrados no mercado podem ser classificados em: - Difusores Oblíquos (DDS); - Difusores Horizontais (BMA, De Smet, etc.); - Difusores Circulares (Silver). Os difusores horizontais normalmente são difusores de bagaço. Sendo instalados entre dois ternos de moendas, incumbem-se de extrair de 35 a 45% do caldo da cana, que não foram extraídos no primeiro terno de moenda. O equipamento constitui-se de uma esteira sobre a qual é transportada a cana proveniente da primeira moenda. Sobre o colchão de cana existem vários bicos pulverizadores instalados convenientemente com o objetivo de se realizar a lavagem da matéria prima, visando a solubilização e lixiviação dos açúcares, através de um processo de embebição composta, ou seja, retorno de caldos diluídos a estágios anteriores ao seu ponto de coleta localizados abaixo da esteira do difusor. As porções terminais da esteira do difusor constitui-se no único ponto de aplicação de água. Em conseqüência disso, ao deixar o equipamento, o bagaço apresenta-se com elevados teores de umidade, cuja remoção é feita passando-o por um segundo terno de moenda. Dessa forma, ao longo da esteira do difusor e no sentido de movimentação da mesma, existe um gradiente decrescente de concentração de açúcar no caldo extraído, de tal forma que as porções de caldo mais rico em sacarose são obtidas no início do difusor, sendo esta a fração, juntamente com aquela obtida no primeiro terno de moenda, serão encaminhadas aos processo subseqüentes da fabricação. Com relação ao caldo residual oriundo da últimas moendas, normalmente o mesmo apresenta concentração em torno de 2 o Brix e tem sua temperatura elevada a 75 o C, quando então é caleado até pH de 8,5 a 9,0 e encaminhado a um decantador. Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 69 O caldo clarificado é aplicado juntamente com a água, nas porções terminais da esteira do difusor. A outra porção de caldo extraído pelo difusor é encaminhado aos tanques de caleagem onde o processo é monitorado para que se obtenha, no final, um caldo com pH entre 6,5 e 7,5 , que seguirá pelas demais etapas de fabricação. Figura 4.7. Difusor Modular Dedini/Bosch, sem correntes. (Fonte: Dedini Indústrias de Base, 2007) 4.2.3. Aspectos Econômicos Os resultados das indústrias que operam com difusores têm sido animadores. O custo total do processo de produção do açúcar envolve o custo da mão-de-obra, o custo de construção e instalação dos equipamentos e a manutenção destes. Estudos realizados ainda na década de 60 concluíram que o custo de um sistema de difusão instalado corresponde à 70% do custo de um sistema de moagem instalado. Estudos mais recentes têm ampliado a vantagem dos difusores por conta da limitação do binômio capacidade de moagem-extração, que se observa para as moendas. Em relação aos custos de manutenção, unidades que operam com moendas apresentam custo de manutenção 148% maior do que aquelas que operam com difusor. Ou seja, em média, o custo de manutenção de um difusor representa 68% do custo de manutenção de um conjunto de moendas de mesma proporção em termos de capacidade de moagem. Existem dados que reduzem esses valores na casa dos 56%. A seguir são apresentados os rendimentos de duas unidades industriais americanas de mesmo porte, operando com sistemas distintos de extração (Silver Engineering Works). Unidade 1: Moendas Capacidade de Moagem: 6000TCD Número de dias de safra: 150 Total de cana moída na safra: 900.000 toneladas Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 70 Pol % Cana: 13,4 Extração média das moendas: 82,9% Total de açúcar extraído na safra: 900.000 x 0,134x0,829 = = 99.917,4 toneladas de Pol Unidade 2: Difusor Silver Capacidade de Moagem: 6000TCD Número de dias de safra: 150 Total de cana moída na safra: 900.000 toneladas Pol % Cana: 13,4 Extração média do difusor: 86,85% Total de açúcar extraído na safra: 900.000 x 0,134x0,8685 = = 194.741,1 toneladas de Pol Diferença entre as unidades industriais 10.741,1 – 99.917,4 = 4763,7 toneladas de Pol Isso representa, em termos de açúcar cristal com 96% de Pol , 4.962,19 toneladas. Aplicando esses dados à cotação do açúcar atual no mercado brasileiro, pode-se inferir que a difusão proporcionaria um adicional de receita de R$ 1.809.602,00. 4.2.4. Cor do açúcar Além do aspecto econômico outras comparações de conotação qualitativa podem ser feitas. O caldo de cana pode ter redução no conteúdo de sacarose através do processo denominado de inversão, especialmente quando submetido à altas temperaturas por longo período de tempo. Num tandem de moendas 75% do caldo da cana são extraídos nos dois primeiros ternos. O tempo decorrido nesta fase é de aproximadamente 1 minuto e a temperatura gira em torno de 30 o C. Esse caldo apresenta um pH que, em condições normais, situa-se próximo de 5,5. Assim, os 25% de caldo restante serão extraídos pelos demais ternos. O tempo decorrido é da ordem de 6 minutos, numa temperatura de 45 o C e pH de 5,2. Nessas condições, fibra e caldo são submetidos a repetidas compressões e aerações, o que gera condições favoráveis ao desenvolvimento de microrganismos, ação de inúmeras enzimas e de decomposição oxidativa. As perdas estimadas devido a essas ações são da ordem de 0,3% da Pol da cana. Nos difusores circulares 75% do caldo da cana é extraído num tempo médio de 3 minutos a uma temperatura média de 60 o C e pH 5,5 (não caleado) ou pH 7,0 (caleado). A fração restante é extraído num tempo de 30 minutos a uma temperatura de 70 o C e pH 6,0 (não caleado) ou pH 6,5 (caleado). A fibra não sofre alterações significativas até o final do processo. Porém o caldo é submetido à aeração e sucessivos bombeamentos. Essas Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 71 condições são menos favoráveis à ação de microrganismos e à atividade enzimática. As perdas estimadas nesse caso são da ordem de 0,15% da Pol da cana ( caldo não caleado) e desprezível nos casos de caldo caleado. As últimas porções de caldo, obtidas de moendas que trabalham juntas com difusor, contém até 6% da Pol e são obtidas num tempo médio de 120 minutos à temperatura de 85 o C. Assim, no caldo não caleado, as perdas são da ordem de 0,05% da Pol da cana. No caldo caleado as perdas são da ordem de 0,02% da Pol da cana. Pode-se inferir que a cor é a maior preocupação dentro das refinarias, e por isso a remoção de substâncias coloridas do açúcar é objeto das atenções. O procedimento padrão para medir a cor envolve a determinação do decréscimo da quantidade de luz que passa através de uma solução de açúcar cristal. A diminuição da passagem da luz deve-se a duas principais causas: - absorção de luz por compostos coloridos; - dispersão da mesma por partículas em suspensão ou compostos de peso molecular elevado. As substâncias coloridas são formadas por aquelas que ocorrem normalmente advindas da matéria prima e aquelas formadas durante o processo de fabricação. Entre as substâncias que ocorrem naturalmente, as mais importantes do ponto de vista quantitativo são pigmentos de plantas (antocianinas, ácidos polifenólicos e clorofilas). Entre as substâncias formadas durante o processo de fabricação destacam-se aquelas resultantes do processo denominado escurecimento não enzimático – compostos da Reação de Maillard, que nada mais são do que os produtos de reações químicas em cadeia envolvendo aminoácidos e açúcares redutores como compostos iniciais. Além desses, outras substâncias coloridas podem ser produzidas pela ação do leite de cal sobre os açúcares redutores e outros compostos orgânicos. Também complexos produzidos pela reação de aminoácidos e produtos da decomposição térmica ou alcalina, compostos escuros formados através da reação entre o elemento ferro e compostos polifenólicos, dão a sua contribuição. A dispersão da luz pode-se dar em decorrência de material coloidal em suspensão e compostos dissolvidos de alto peso molecular. O material coloidal em suspensão inclui produtos do processo de clarificação bem como constituintes naturais da cana e materiais estranhos que acompanham a matéria prima oriunda do campo. As substâncias dissolvidas incluem, além de constituintes da própria cana, materiais estranhos. Exemplos desses podem ser citados: polímeros de carboidratos como xilana, arabana, ambas de ocorrência natural da cana. Um produto que se destaca nessa categoria é a dextrana, que trata-se de um produto decorrente da ação microbiana. Cana ou caldo que se apresenta em processo de deterioração normalmente contém dextrana resultante do crescimento de bactérias do gênero Leuconostoc. Parte desses fenômenos ocorre independentemente de se empregar moendas ou difusores. Outros são mais pronunciados nas moendas e outros, ainda, como específicos para operação com difusores. Um pequeno desenvolvimento de cor pode ser esperado quando se emprega difusor. Isso acontece pois substâncias coloridas são mais facilmente Capítulo 4 Extração MARCOS OMIR MARQUES 72 extraídas no processo de difusão do que em moagem. Substâncias que produzem cor, no colmo são limitadas à superfície da casca. Quantidades presentes em colmos maduros são mínimas, porém colmos não maduros apresentam muito mais. As maiores concentrações são encontradas nas folhas verdes ou secas. Seu efeito na cor do caldo ou açúcar em processos tradicionais de moagem é bem conhecido. Na difusão o mesmo também é maior especialmente quando se realiza a caleagem. Dados da literatura têm demonstrado que 3% de folha aumenta a cor do caldo em 50% em uma hora, num processo simulado de difusão. Como a quantidade de material necessária para se ter efeito significativo na cor do caldo é extremamente baixa, a mera presença desses é suficiente para causar prejuízo à qualidade do açúcar. 4.2.5. Filtrabilidade A taxa de filtração de açúcar na presença de um coadjuvante é governado principalmente pelo tamanho e quantidade de partículas solúveis presentes. Não existe nenhuma evidência de que a difusão aumente a quantidade dessas partículas que impedira o processo de filtração. Atualmente não existe nenhum registro de que soluções de açúcar obtidas por difusão apresentem menor filtrabilidade do que aquelas obtidas por moendas.