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Da escola seletiva à educação inclusiva

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DA ESCOLA SELETIVA À EDUCAÇÃO INCLUSIVA: 
APONTAMENTOS SOBRE EDUCAÇÃO E A PSICOPEDAGOGIA NO 
BRASIL
1
 
 
Introdução 
 
Neste texto, pretendemos analisar aspectos da evolução histórica recente do 
sistema escolar e a emersão da psicopedagogia como um campo de conhecimento em 
sintonia com os problemas atuais da aprendizagem. 
O conceito de Inclusão social está presente no conjunto dos debates das 
políticas públicas em todo o mundo e mais recentemente no Brasil. Dentre as diversas 
vertentes da inclusão social está a perspectiva da inclusão sócio-educacional. 
Mas, o que é inclusão social? A maior parte dos autores procuram defini-la 
como sendo uma ação que combate a exclusão social geralmente ligada a pessoas de 
classe diferente, etnias, gênero ou opção sexual, portadores de necessidades especiais, 
idosas, etc. 
A exclusão social é um fenômeno multidimensional que superpõe uma 
multiplicidade de trajetórias de desvinculação social. Esta contém elementos de 
mercado, éticos e culturais, que resultam em discriminação e estigmatização. No 
conjunto das sociedades humanas, ao longo da história, podemos encontrar 
manifestações as mais diversas da exclusão social. 
Na Roma antiga, os deficientes eram vítimas frequente de infanticídio, 
enquanto que, nas famílias mais pobres, eram utilizados como fonte de renda das 
famílias, com a aquisição de esmolas. Na idade média européia, a deficiência era 
associada à fenômenos sobrenaturais e diabólicos. Os portadores de necessidades 
especiais eram considerados bruxos ou hereges. A prática de outras religiosidades não-
cristãs (como o islamismo ou o judaísmo) era vista como pecado e levava à intensa 
perseguição. A Igreja Católica legitimava a escravização de africanos, utilizando 
inclusive a Bíblia para fundamentá-la. 
 
1
 Éder da S. Dantas – Doutor em educação. Professor adjunto I do Departamento de 
Psicopedagogia/UFPB. 
Portanto, a exclusão social é um fenômeno universal, com características 
diferenciadas. Sua manifestação deve ser percebida no âmbito de cada experiência 
cultural particular. 
 
Exclusão social e capitalismo 
 
A sociedade capitalista é, por natureza, socialmente excludente na medida em 
que se articula em torno da produção de mercadorias, buscando-se a maximização dos 
lucros, objeto de toda empresa. A racionalização e o produtivismo do sistema 
capitalista, apontam no sentido de que, mantido o sistema sob suas próprias rédeas, só é 
considerado indivíduo útil aquele que possui duas características básicas: poder 
produzir e consumir em larga escala, como destaca Max Weber. 
Desde o século XIX, os trabalhadores tem reagido às diversas manifestação de 
exploração no trabalho, organizando sindicatos, partidos políticos e outras associações, 
visando lutar por melhores condições de vida e de trabalho. Realizaram greves e outras 
formas de mobilização, ocupando cada vez mais espaço político, o que levou à 
incorporação no âmbito do Estado de parte de sua pauta de reivindicações, como o fim 
do trabalho infantil, redução da jornada de trabalho, férias remuneradas, dentre outros 
benefícios. 
Na Europa ocidental, em meados do século XX, após o fim da Segunda Guerra 
Mundial, se desenvolveram as chamadas “sociedades do bem-estar social”, 
caracterizadas pela criação de uma rede pública de proteção social (fundada na 
implantação de uma legislação trabalhista protetora do trabalho, sistemas de saúde e 
educação públicos e gratuitos). Segundo Giddens (2005), a principal instituição deste 
sistema é a Previdência Social, criada como mecanismo para neutralizar os efeitos 
negativos do mercado, assegurando proteção para aqueles que, por ventura, fiquem 
improdutivos do ponto de vista econômico, seja por tempo limitado, seja pelo resto da 
vida. Países como a França, a Suécia, a Suíça e Dinamarca são casos típicos de 
sociedades do bem-estar. 
Frigotto (2002) tem destacado os recentes processo de reestruturação 
capitalista, como mecanismo que estariam aprofundando o processo de exclusão social. 
Com a crise do petróleo em 1973, os chamados estados do bem-estar começaram a 
entrar em crise e ocorreu a emersão do chamado pensamento “neoliberal”, procurando 
resgatar os valores do individualismo e do livre-mercado e propondo o desmonte dos 
sistemas de proteção antes constituídos. 
O processo de globalização capitalista acabou por gerar grandes empresas 
transnacionais cuja maximização dos lucros encontra-se na expansão internacional dos 
seus negócios. Especialistas se reuniram em evento realizado nos EUA e lançaram o 
“Consenso de Washington”, propondo a desregulamentação das atividades econômicas, 
com a redução do papel do Estado e as privatizações. 
Os anos 1990 representaram o auge destas concepções, com o receituário 
neoliberal sendo reproduzido pelo governo da maioria dos países. Durante estes anos, 
houve grande crescimento da pobreza e, especialmente, da desigualdade social. 
Diferente da realidade enfrentada pelos países da Europa ocidental, no Brasil, a 
exclusão social não se constitui em uma perda de conquista. Para Sposati, as bases da 
exclusão no Brasil estão associadas ao processo de colonização, segregação, escravidão 
e patrimonialismo. 
A tentativa de construir um sistema de proteção social em nosso país é recente. 
Resultado do processo de luta pela redemocratização, contra a carestia e a desagregação 
social resultantes do modelo concentrador de riqueza oriundo do regime militar de 
1964, movimentos sociais de diversas matizes, com o apoio das bancadas parlamentares 
progressistas na Constituinte, conseguiram colocar na Carta Magna de 1988 a garantia 
de direitos sociais como saúde, educação, moradia, proteção à criança, ao idoso e á 
família. 
 
Escolarização, normalização e inclusão no Brasil 
 
A escola moderna surge no século XVII e consolida-se no século XIX, 
laicizando-se e organizando um programa didático preciso. Ao longo dos séculos, e sob 
influência das mudanças ocorridas no âmbito da sociedade, sejam econômicas, culturais 
ou políticas, vai se aperfeiçoando e mantendo algumas características destacadas por 
Franco Cambi, segundo o qual, esta escola busca produzir consenso social e controle. 
Busca o aprendizado das regras da vida civil, procurando integrar as crianças e os 
jovens à “civilização das boas maneiras” (p. 308). Como instituição, ela buscava 
desenvolver a personalidade dos jovens segundo um modelo “standart”, de homem-
cidadão, de acordo com o ideário burguês-revolucionário hegemônico. 
No século XIX, países como a França iniciam um processo de massificação do 
sistema educacional, buscando ampliar a escolaridade, entendida como base 
fundamental a ser estendida á todos os cidadãos, independente de serem ricos ou pobres. 
Dentro do ideário dominante, acreditava-se que a educação constituiria-se como a base 
fundamental para que todas as pessoas pudessem alcançar o sucesso social individual. 
Eduard Thompson destaca que no período de surgimento e consolidação da 
escola moderna, a transição da sociedade manufatureira para a sociedade industrial 
alcança o conjunto da vida social, alcançando a cultura. Assim, a ética puritana do 
trabalho estendeu-se para o conjunto da sociedade. Dentro de uma cultura de combate à 
“ociosidade”, à resistência cultural de artesãos e camponeses e valorização da 
severidade capitalista, ocorre uma regulamentação detalhada do tempo, sendo as escolas 
metodistas inglesas, por exemplo, pioneiras no ensino da ordem, no estímulo ao 
trabalho, à frugalidade e às regularidades (p. 289). Promove-se uma nova concepção do 
tempo, o do tempo disciplinar. 
A mesma tese
é defendida por Michel Foucault. Este destaca que escolas 
organizaram-se com base em princípios e atitudes higienistas, controladoras dos 
sentidos e uniformizadoras. A escola moderna, portanto, priorizaria os iguais, o 
“normal” e procuraria segregar as diferenças, aquilo que era considerado “patológico”. 
Os portadores de deficiência estavam fora da escola moderna. Se antes, durante 
a idade média, os deficientes recolhidos a asilos e conventos no quadro de 
ambivalência: castigo versus caridade, com a modernidade, passa a predominar uma 
visão racionalista, de matiz cientificista e a adoção do paradigma médico. No século 
XX, emerge a predominância de um modelo clínico-assistencialista de atendimento aos 
deficientes. 
Nos anos 1950, emerge o discurso da “normalização”, marcado pela tentativa 
de fazer com as pessoas com déficit intelectivo, se assemelhassem aos demais 
indivíduos, o que em grande medida, apontou no sentido da superação das tendências 
segregadoras de que eram vítimas anteriormente. Nos anos 1960 amplia-se a crítica ao 
legado psicomédico e ocorre a emersão das novas identidades e luta pelos direitos civis. 
Como um dos exemplo, desta luta o Movimento de Desinconstitucionalização 
Antimanicomial. 
As lutas pelos direitos civis espalham-se pelo mundo, refletindo o desejo dos 
grupos sociais não hegemônicos em assegurar condições de vida mais justas, 
combatendo a opressão e a discriminação. Movimentos de mulheres, negros, indígenas, 
homossexuais e outros grupos sociais iniciam longa jornada de pressão sobre o Estado 
contra o ódio racial, as diferentes formas de discriminação, por acesso aos serviços 
públicos e melhores condições de vida e de trabalho. No núcleo principal destas 
reivindicações, postam-se o acesso á educação e seu reconhecimento como seres sócio-
culturais nos currículos escolares. Emerge a bandeira da defesa do multiculturalismo. 
O conjunto destas mudanças sociais impôs o debate sobre o acesso efetivo à 
educação como um dos elementos fundamentais para a conquista do bem-estar social. 
Busca-se a inclusão sócio-educativa, seja das crianças com distúrbios ou dificuldades de 
aprendizagem provocadas por problemas de ordem neurológico ou social. 
Mas é o que a educação inclusiva? Stainback a define como sendo a “Prática da 
inclusão de todos – independente de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou 
cultural – em escolas e salas de aula provedoras, onde o conjunto das necessidades 
desses alunos sejam satisfeitas”. 
A educação inclusiva tem sido reafirmada em importantes documentos 
internacionais, a exemplo da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), da 
Declaração dos Direitos da Criança (1959), a Convenção dos Direitos da Criança 
(1988), da Declaração Mundial de Educação para Todos (1991) e a Declaração de 
Salamanca (1994). 
O documento de Jointien consagra o direito o direito de toda criança ter acesso 
aos bens culturais produzidos pela humanidade, ressaltando o objetivo de “satisfazer as 
necessidades básicas da aprendizagem de todas as crianças, jovens e adultos”. Aponta 
no sentido de que “cada pessoa - criança, jovem ou adulto - deve estar em condições de 
aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades 
básicas de aprendizagem. Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos 
essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a 
solução de problemas), quanto os conteúdos básicos da aprendizagem (como 
conhecimentos, habilidades, valores e atitudes), necessários para que os seres humanos 
possam sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com 
dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, 
tomar decisões fundamentadas e continuar aprendendo.” Os focos das políticas 
educacionais orientadas à partir daí se concentraram na aprendizagem, no 
desenvolvimento de habilidades e afirmação da educação inclusiva. 
Segundo a Declaração de Salamanca, toda criança tem direito fundamental à 
educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de 
aprendizagem. Os sistemas educacionais devem ser designados e programas 
educacionais e deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta 
diversidade de tais características e necessidades. As crianças com necessidades 
educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los 
dentro de uma pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades. 
Prega-se a implantação de escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva 
constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se 
comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação 
para todos. 
No Brasil, as políticas educacionais inclusivas tem avançado lentamente, 
resultando das lutas sociais e das mudanças na legislação. 
Os resultados do Censo Escolar da Educação Básica de 2008 indicam um 
crescimento significativo nas matrículas da educação especial nas classes comuns do 
ensino regular. O índice de matriculados passou de 46,8% do total de alunos com 
deficiência, em 2007, para 54% no ano passado. Estavam em classes comuns 375.772 
estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades 
ou superdotação. Veja gráfico elaborado pelo INEP/MEC sobre a questão. 
 
 
A ampliação das matrículas significa que, de fato, está sendo praticada a 
educação inclusiva? É claro que não. Faltam condições materiais e equipes 
multiprofissionais preparadas na maioria das escolas. Além disso, a maioria dos 
gestores e professores não está convencida da educação inclusiva. Se já há 
dificuldades para dar conta das classes repletas de aluno, imagine propiciar 
atendimento especializado? 
Por outro lado, grupos sócio-culturais discriminados também tem lutado por 
mais acesso e visibilidade na educação brasileira, a exemplo dos índios e negros. 
A educação indígena apresenta demandas no tocante á formação inicial e 
continuada de professores em nível médio (magistério indígena), formação de 
professores indígenas em nível superior (licenciaturas interculturais), implantação do 
ensino médio indígena nas comunidades e produção de material didático específico 
em línguas indígenas ou bilíngües. 
No tocante à questão da diversidade étnico-racial, destaca-se a lei 10.639/2003 
que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e tornou obrigatório o 
ensino de história e cultura afro-brasileiras nos estabelecimentos de ensinos 
fundamental e médio, oficiais e particulares. Junto com as mudanças curriculares, 
estão em debate e andamento no Brasil políticas voltadas à educação nas 
comunidades remanescentes de quilombos (quilombolas) e a implantação das 
políticas de cotas étnico-raciais que, a título de reparação histórico, promovem a 
reserva de vagas em instituições públicas de ensino superior para estudantes de 
origem afro-brasileira. 
Os dados oficiais indicam que os índios e os negros são os grupos com maior 
índice de analfabetismo no Brasil, além de terem presença pequena no meio 
universitário. 
Também merecem nossa preocupação as desigualdades regionais e sócio-
econômicas no tocante ao acesso á educação. Estudantes das regiões mais ricas do 
país (sul e sudeste) tem mais anos de escolaridade e melhor desempenho escolar que 
os das regiões mais pobres (norte e nordeste). Além disso, alunos das escolas 
públicas tem rendimento escolar inferior aos da rede privada. Os estudantes da zona 
urbana tem melhor performance educacional que os da zona rural. O acesso à 
educação no Brasil ainda é muito desigual. 
A educação
sócio-inclusiva não pode ser entendida apenas por assegurar acesso 
e condições materiais de funcionamento das escolas para atendimento especializado. 
Quando falamos em educação para todos, estamos pautando a idéia de que todas as 
crianças – sem exceção – tem o direito a aprender. Esta é a questão fundamental. 
Neste sentido, cabe discutir qual o olhar educativo está se debruçado sobre nosso 
sistema escolar. 
Olhamos a escola apenas com intenções quantitativas, de resultados? Ou temos 
que perceber a escola pela sua função essencial, ou seja, o aprender? O Brasil hoje já 
possui mais de 97% de suas crianças e jovens matriculados no ensino fundamental. 
Caminhamos para, a médio e longo prazos, universalizar o acesso á educação básica. 
No entanto, caminhamos para assegurar uma formação de verdade aos nossos jovens, 
como diz a LDB, para a vida e o trabalho? 
Para equacionar tais problemas, emerge com importância no cenário 
educacional brasileiro a psicopedagogia, como um novo campo do conhecimento, a 
fazer com que nos debrucemos sobre a aprendizagem de nossas crianças. 
 
O olhar psicopedagógico sobre a educação 
 
Na medida em que, nas décadas recentes, ganhou relevância o aspecto 
cognitivo do processo educativo e a perspectiva inclusiva, ampliam sua influência 
sobre os debates educativos os campos do conhecimento que se voltam a pensar a 
aprendizagem da criança, de forma holística e contextualizada. Assim, campos como 
a psicopedagogia são incorporados ao pensar educativo quando almejamos 
potencializar os processos de ensino-aprendizagem. 
Fontes destaca que a psicopedagogia surge no final do século XIX, na Europa, 
visando entender e sanar os problemas de aprendizagem, relacionada à outros 
campos do saber como a pedagogia e a psicologia e a medicina. A primeira escola 
preocupada em solucionar problemas de aprendizagem foi fundada no final do século 
XIX em Séguin, França, destinada a crianças portadoras de deficiência mental. Neste 
primeiro momento, o aluno ou sujeito da aprendizagem não estava presente nas 
preocupações sobre a aprendizagem, sendo o enfoque nos distúrbios e nas técnicas 
capazes de superá-los (2006: 57). 
Ao longo do século XX, cresceu o número de escolas destinadas a crianças 
com “aprendizagem lenta” tanto na Europa como nos EUA. Após a segunda guerra 
mundial, Boutonier e Mauco fundaram o primeiro centro-médico-psicopedagógico 
em Paris, com a tentativa de articular medicina, psicopedagogia, psicanálise e 
pedagogia. 
O primeiro enfoque a orientar os psicopedagogos no esclarecimento dos 
problemas de aprendizagem foi também o orgânico, amparado por uma postura 
pautada na biologia e na medicina. Pretendia-se, assim, uma readaptação do aluno 
por meio da psicopedagogia, com a utilização do chamado método adaptativo (idem: 
59). 
Em 1948, foi criado o segundo Centro Psicopedagógico, em Estrasburgo, na 
França. Nessa mesma época surge a Associação dos Centros Psicopedagógicos em 
todo o país. Cresce a influência de novas abordagens quanto à problemática da 
aprendizagem, com a superação aos poucos dos paradigmas médicos e a 
incorporação dos paradigmas psicanalíticos e sócio-culturais na análise do chamado 
“fracasso escolar”. 
Na Argentina, a graduação em psicopedagogia surgiu há cerca de 30 anos, 
ocupando importante espaço no âmbito da educação e da saúde. Em entrevista à 
Nádia Bossa, Alícia Fernandes e Carmen Montti observam que os cursos de 
psicopedagogia naquele país, na área educativa, tem servido para cooperar na 
redução do fracasso escolar, seja este “da instituição, seja do sujeito ou, o que é mais 
freqüente, de ambos” (2000: 44). Esse objetivo é perseguido por meio de 
assessoramento aos pais, professores e diretores, para que possam decidir e opinar na 
elaboração de planos de recreação, cujo objetivo é o desenvolvimento da 
criatividade, do juízo crítico e da cooperação entre os alunos. Ainda na área 
educativa, o psicopedagogo argentino atua no serviço de orientação vocacional, na 
passagem do ensino fundamental para o ensino médio e deste para o ensino superior, 
bem como em outras atividades que aparecem em função das demandas concretas da 
instituição. 
No campo da saúde, os psicopedagogos argentinos trabalham em consultórios 
particulares e outras instituições como hospitais públicos e particulares. Busca, na 
sua ação cotidiana, reconhecer e atuar sobre as alterações de aprendizagem 
sistemática e/ou assistemática, reconhecer as alterações da aprendizagem sistemática 
(utilizando diagnóstico na identificação dos múltiplos geradores desse problema e, 
fundamentalmente, busca-se descobrir como o sujeito aprende. Também trabalham 
com os pais, fazendo entrevistas cuja intenção é levantar hipóteses relativas ao perfil 
familiar e social que interfere na formação da criança (idem). 
No Brasil, também perdurou durante décadas a idéia de que os problemas de 
aprendizagem tinham sua origem em fatores orgânicos, sendo provocados por 
distúrbios, nos quais em geral a sua causa é atribuída a uma disfunção do sistema 
nervoso central (idem: 50). Na década de 1970, difundiu-se amplamente a 
perspectiva de que tais problemas resultavam de uma disfunção neurológica 
denominada “disfunção cerebral mínima – DCM”. 
No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, a problemática do fracasso 
escolar começa a ser pensada de outros pontos de vista. Inicialmente, identifica-se a 
dificuldade da maioria de nossos alunos em aprender como resultado de sua origem 
sociocultural, com os educadores tentando imputar o fracasso escolar a causas extra-
escolares. Maria Helena Patto (1996), uma das principais estudiosas da temática 
indica que o fracasso escolar é um problema social e politicamente produzido, 
resultando de fatores sociopolíticos, resultantes da política educacional hegemônica, 
seletiva, elitista e excludente. 
Junto a tais fatores intrínsecos à política educacional, resgate-se os fatores 
sociopolíticos de nossa sociedade, que contribuem para a perpetuação da 
desigualdade social e más condições de sobrevivência de milhões de famílias. Sem 
desconhecer a melhora de nossos indicadores sócio-educacionais nos anos recentes, 
não podemos isolar a educação de tais problemas, que vivem a pressionar as crianças 
e jovens ao abandono da escola e a impedir sua progressão com efetivo aprendizado. 
A psicopedagogia propriamente dita no Brasil parte do consultório para a 
escola, influenciada pela formulação acadêmica e prática profissional da Argentina. 
Nos anos 1970 e 1980, difundem-se centros de estudos e clínicas voltadas aos 
problemas da aprendizagem, no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Em 1986, é 
realizado o 1º Encontro de Psicopedagogos em São Paulo. No mesmo ano, ocorre no 
Rio Grande do Sul o 1º Seminário de estudos em Psicopedagogia, em Porto Alegre. 
Em 1979, havia sido criado o curso de formação clínica e institucional de 
psicopedagogia no Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, à partir de um grupo de 
educadores, pedagogos e psicólogos. Segundo Fagali, 
 
esses fundadores do curso tinham em comum uma visão 
integrada da pessoa que aprende e que orienta a 
aprendizagem, considerando os aspectos afetivos, 
psicomotores, cognitivos e sociais, atentas às necessidades 
educacionais da realidade brasileira, com especial atenção às 
populações de baixa renda. Apesar de se identificarem em 
relação às abordagens assinaladas, complementavam-se em 
relação às suas especializações e atuações específicas na 
educação e no espaço clínico. Seus interesses, abordagens e 
atuações correspondiam às metas do Instituto que tem como 
prioridade o apoio e a prestação de serviços educacionais e 
sóciopsicológicos à população de baixa
renda. (2007: 22). 
 
A partir dos Encontros de Psicopedagogis, promovidos inicialmente pela 
Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo e em intercâmbio com os 
grupos de estados como o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais, 
gerando troca de experiência, enriquecimento das discussões da área no país e, 
principalmente, como destacam Scos & Barone “sedimentação do sentimento de uma 
identidade profissional apesar das diferenças” (2007: 93). Destacam também que 
também eram chamados a “responder anseios de outros colegas que isoladamente 
trabalhavam na área”. Segundo os autores 
 
podemos dizer que a história da Associação Brasileira de 
Psicopedagogia – ABPp tem acompanhado a evolução 
histórica da psicopedagogia no Brasil. Ambas assumiram um 
compromisso social com a redução dos altos índices de 
fracasso escolar e, além disso, com uma concepção dos 
processos e dos problemas de aprendizagem. Ao mesmo 
tempo, condizentes com os movimentos que tem norteado a 
evolução do mundo, ambas evidenciam a questão do 
conhecimento como prioritária sem deixar de lado a 
complexidade do ser/existir humano.” (idem) 
Do encontro da Associação dos Psicopedagogos de São Paulo, em 1980, 
começou a se constituir a ABPp, que em 2010 completou trinta anos. Esta possui 
dois núcleos e 16 secções pelo Brasil. Na maioria dos estados do país, podemos 
encontrar dezenas de cursos de especialização em psicopedagogia (presenciais e à 
distãncia), além de alguns cursos de mestrado e de graduação, que eram quatro em 
2010. Na Universidade Federal da Paraíba - UFPB, foi implantado em 2009 o 
primeiro curso de graduação em psicopedagogia do nordeste brasileiro, pioneiro em 
universidades públicas. Este forma bacharéis voltados ao exercício da profissão nas 
áreas institucional e clínica. 
As principais lutas dos psicopedagogos atualmente estão relacionadas ao 
reconhecimento e regulamentação de sua atividade profissional. Tramita no 
Congresso Nacional, o projeto de Lei 3512/08, da deputada Professora Raquel 
Teixeira (PSDB-GO), que regulamenta a atividade profissional do psicopedagogo e 
que, já aprovado na Câmara Federal, inicia seu trâmite no Senado. A aprovação do 
projeto é fundamental porque cria melhores condições para o exercício profissional. 
Ao mesmo tempo. Os psicopedagogos lutam para que o Estado, as entidades 
não-governamentais e o setor privado reconheçam a importância desta nova 
abordagem sobre a questão da aprendizagem e percebem o profissional da área como 
habilitado para atuar junto com outros no sentido de melhorar a educação em nosso 
país. 
 
Conclusão 
 
Desde a aprovação da Constituição de 1988 e especialmente, depois de 2003, 
vivemos um período de expansão das políticas sociais e de proteção da criança, do 
idoso e demais grupos discriminados e/ou excluídos em nosso país. 
Vivemos um momento de queda nos índices de pobreza e desigualdade social, 
ao mesmo tempo em que ocorre significativa mobilidade social, com famílias 
deixando posição subalterna na estrutura de renda na sociedade para alcançar uma 
posição melhor. 
No entanto, ainda não conseguimos, no âmbito das políticas sociais, atingir a 
universalização prevista dos serviços públicos (especialmente de educação e saúde), 
com a qualidade desejada. 
As políticas de inclusão social, contudo, estão sendo ampliadas no Brasil. 
Precisamos fazer delas um instrumento não só de eliminação da pobreza e da 
exclusão brutal que dominou durante séculos, mas um meio de promover a 
autonomia das pessoas, com dignidade e cidadania. 
A presença do psicopedagogo agregará valor às políticas inclusivas em curso e 
poderá contribuir para dar o salto de qualidade necessário no sentido de fazer com 
que as pessoas deixem de depender do Estado e de outras estruturas sociais e 
consigam alcançar sua autonomia econômica, cultural e social. 
No campo da educação, por exemplo, a presença da psicopedagogia poderá 
ajudar bastante o pais a sair do estágio de cobertura apenas quantitativa das 
oportunidades educacionais e buscar, de fato, o aprender. 
 
Referências 
 
BOSSA, Nádia. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3ª 
edição. Porto Alegre, Artmend, 2007. 
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: Unesp, 1999. 
Conferência Mundial sobre Educação para Todos. Declaração Mundial de 
Educação para Todos. Jomtien, Tailândia, 1990. 
Conferência Mundial de Educação Especial. Declaração de Salamanca - sobre 
princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. 
Salamanca, Espanha, 1994. 
FAGALI, Eloísa Q. Os sentidos da história e a “busca das raízes” no processo de 
aprender – formação psicopedagógica no “Sedes Sapientiae” .In: MALUF, Maria I. 
& BOMBONATO, Quesia (org). História da psicopedagogia e da ABPp no Brasil 
– fatos, protagonistas e conquistas. Rio de Janeiro: Wac, 2007. 
FONTES, Marisa A. Psicopedagogia e Sociedade – história, concepções e 
contribuições. São Paulo: Vetor, 2006. 
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir – história da violência nas prisões. 36ª 
edição. Petrópolis: Vozes, 2009. 
FRIGOTTO, Gaudêncio & GENTILI, Pablo. A cidadania negada: políticas de 
exclusão na educação e no trabalho. 3ª edição. São Paulo: Cortez/Clacso, 2002. 
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4ª edição. São Paulo: Artmed, 2005. 
PATTO, Maria H. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e 
rebeldia. São Paulo, T. A. Queiróz, 1996. 
SCOZ, Beatriz & BARONE, LEDA M. /C. a Associação Brasileira de 
Psicopedagogia e a constituição da psicopedagogia no Brasil. In: MALUF, Maria I. 
& BOMBONATO, Quesia (org). História da psicopedagogia e da ABPp no Brasil 
– fatos, protagonistas e conquistas. Rio de Janeiro: Wac, 2007. 
SPOSATI. Aldaiza. Exclusão social abaixo da linha do Equador. Extraído de 
http://www.dpi.inpe.br/geopro/exclusao/exclusao.pdf. Acesso em 20/11/2010 às 
21:23 hs. 
STAINBACK, Susan & STAINBACK, William. Inclusão – um guia para 
educadores. São Paulo, Artmend, 1999. 
THOMPSON, Eduard. Costumes em comum – estudos sobre a cultura popular 
tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 
WEBER, Max. Economia e sociedade. Vol. 1. Brasília: UNB, 1999. 
 
 
 
EXERCÍCIO 
Sobre a atividade, vocês devem responder (com base no texto mas usando 
suas próprias palavras!), as seguintes questões: 
1) Construa um pequeno texto explicando o que é exclusão social e 
inclusão social. 
 
2) Qual a relação entre a exclusão em geral e a educação inclusiva? 
Discuta o tema. 
 
3) Relacione educação inclusiva e o surgimento da psicopedagogia, 
destacando a inserção do profissional na melhora da educação brasileira. 
 
 
Sem mais, 
 
Atenciosamente, 
 
 
Éder Dantas

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