Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
1 Lei de Ampère* No capítulo 25 vimos que, de um ponto de vista prático, a utilidade da Lei de Gauss para o cálculo de campos elétricos resumia-se a distribuições com uma si- metria tal que a integral SdE. pudesse ser facilmente resolvida. O mesmo acontece com a Lei de Ampère (aplicada ao cálculo de campos magnéticos): sua utilidade res- tringe-se aos casos onde a simetria da distribuição de correntes permite o cálculo da integral de linha ldB. facilmente. Frise-se, no entanto, que a lei continua válida mesmo em situações onde não existe simetria. A Lei de Ampère é um caso particular da Lei de Ampère-Maxwell, que é uma das Equações de Maxwell. A equação )/(. 00 dtdildB E é a expressão da Lei de Ampère-Maxwell. Esta equação descreve o efeito magnético de uma corrente elétrica (i) ou de um fluxo elétrico variável )/( dtd E . Porém, quando não existem variações de fluxo elétrico envolvidas no problema, o termo dtd E / é nulo, e a Lei de Ampère-Maxwell se reduz à Lei de Ampère: ildB 0. Nesta equação, a integral ldB. é uma integral de linha sobre um percur- so fechado qualquer; i é a corrente líquida que atravessa a área delimitada pelo per- curso de integração; B é o vetor indução magnética sobre o percurso de integração, ld é um vetor sempre tangente ao percurso de integração e no sentido deste, dl é um comprimento elementar sobre o percurso de integração; 0 é chamado de constante de permeabilidade. Para se aplicar a Lei de Ampère ao cálculo de um campo de indução magnética B , devido a uma distribuição simétrica de correntes, procede-se da seguin- te maneira: - Determina-se (a partir da simetria do problema) a direção e o sentido de B . - Escolhe-se um percurso fechado tal que se possa tirar partido da sime- tria do problema em questão e aplica-se a Lei de Ampère a esse percurso. - Explicita-se o produto escalar da integral e coloca-se B fora do sinal de integração. Se isso não for possível, ou seja, se, a partir da simetria do problema, não se puder concluir que o módulo de B é constante sobre o percurso escolhido de inte- gração, então B não deve ser calculado usando a Lei de Ampère e sim a de Biot- Savart. - Calcula-se a corrente líquida que atravessa a área delimitada pelo per- curso de integração. Substitui-se esta corrente no lado direito da Lei de Ampère e iso- la-se B. * Texto elaborado por Sônia S. Peduzzi. 2 Exemplo: A figura mostra um longo cabo coaxial formado por um condutor cilíndrico de raio R1 envolvido por uma casca cilíndrica condutora de raio R2. O condutor carrega uma corrente i uniformemente distribuída sobre sua seção reta. A casca cilíndrica conduz uma corrente de mesma intensidade, mas de sentido oposto. Calcule B(r), sendo r uma distância genérica medida radialmente a partir do eixo do con- dutor cilíndrico. Vejamos primeiramente o caso r R1: A direção de B é tangente a círculos concêntri- cos em torno do eixo do condutor cilíndrico e o sentido de B é anti-horário. Vamos escolher como percurso fechado para a aplicação da Lei de Ampère uma circunferência de raio r R1. A partir da simetria do problema, conclui-se então que B é tangente ao percurso de integração formando um ângulo de 0º com ld ( ld é também tangente à circunfe- rência e escolhe-se o seu sentido como o mesmo de B ). Ainda baseado na simetria do problema, pode-se concluir que o módulo de B , ainda desconhecido, é constante so- bre todo o percurso de integração. Pode-se então aplicar a Lei de Ampère e explicitar o produto escalar da integral ldB. : iBdliBdlildB 000 º0cos. Como B é constante sobre o percurso, ele pode ser colocado fora do símbolo de integral: idlB 0 , mas dl é a integral de um elemento de comprimen- to sobre toda a circunferência (integral fechada). Ora, isso é simplesmente o períme- tro da circunferência (2 r). Logo: irB 02. O próximo passo é calcular i, a corrente líquida que atravessa a superfí- cie delimitada pelo percurso de integração. No caso em questão, i é uma fração da corrente carregada pelo condutor, pois o percurso de integração tem um raio r qual- quer, menor do que R1, i.é., a corrente que atravessa a superfície delimitada pelo per- curso de integração é apenas uma parte da corrente conduzida pelo condutor de raio R1. (Nessa etapa do cálculo, é comum cometer-se o erro de considerar toda a corrente i; esse perigo de errar é ainda agravado pelo uso do mesmo símbolo i na Lei de Ampère e no enunciado do problema.) Como a corrente está uniformemente distribuída na seção reta do condu- tor, pode-se nele considerar uma densidade de corrente 21// RiAiJ . J representa então a corrente por unidade de área através da seção reta do condutor. Então, se qui- sermos saber qual a corrente numa certa área dessa secção reta basta multiplicar J por esta área. (J faz aqui o papel de ou no cálculo de campos elétricos.) No presente 3 caso queremos saber qual a corrente que atravessa a área r2 (área delimitada pelo percurso de integração): 2 1 2 2 2 1 2 ' R rir R i rJi no qual i' é a corrente dentro do percurso de integração e i é a corrente no condutor. Observe que, se r = R1, i' = i, o que era de se esperar. Feito o cálculo da corrente, podemos escrever: 2 1 0 2 1 2 0 2 2. R riB R rirB (1) Esta expressão nos dá B(r) para r R1. Para R1 r R2 as considerações iniciais acerca de B e do percurso de integração são as mesmas exceto que o percurso de integração deverá ter um raio ge- nérico r entre R1 e R2 : ildB 0. iBdliBdl 00º0cos irBidlB 00 2 Nesse caso, porém, i é a própria corrente que percorre o condutor interno, pois a área delimitada pelo percurso de integração é maior do que a área da seção reta do condutor. Então: r i B 2 0 (2) é a expressão de B(r) para R1 r R2. Observe-se que as expressões (1) e (2) dão o mesmo resultado para r = R1. Isso pode parecer óbvio, mas é uma boa maneira de conferir se os resul- tados obtidos nas diferentes etapas de um problema são coerentes. Esta expressão (2) nada mais é do que indução magnética de um fio reti- líneo, muito longo. Registre-se também que até agora a casca metálica não entrou nos cálcu- los. Isso em princípio não significa que a casca não tenha influência nenhuma na re- gião r R2. A indução magnética B que aparece na Lei de Ampère é calculada sobre o percurso de integração, podendo ser devido a correntes internas ou externas a ele. (Mas o i que aparece na lei refere-se somente a correntes internas.) Portanto, qualquer contribuição a B que a casca tivesse na região r R1 teria que ser considerada no cál- culo de B . Entretanto, o B por ela criado nesta região é nulo. Muito cuidado, no en- tanto, pois esta afirmação só pode ser feita a partir das condições de simetria do pro- blema. Se a casca fosse paralelepipédica, por exemplo, a situação seria diferente. 4 Com esta discussão queremos apenas destacar o fato de que o B que a- parece na Lei de Ampère não é necessariamente devido às correntes internas ao per- curso de integração, pois, no caso da casca cilíndrica em questão, pode-se mostrar, usando a mesma lei, que o campo magnético no seu interior devido à corrente que a percorre é nulo. Finalmente, examinemos o caso r > R2: As considerações acerca da direção e do sentido de B são as mesmas. É claro que o fato de que as correntes são iguais e opostas já nos leva a suspeitar que nessa região o campo magnético será nulo. Porém, vamos mostrar isto. Suponhamos que B seja diferente de zero, que sua direção seja tangente a círculos concêntricos tal como nos casos anteriores e seu sentido seja o do campo da casca, pois ela está mais próxima do ponto considerado. ildB 0. iBdliBdl 00º0cos irBidlB 00 2 Nesse caso o percurso de integração en- cerra as duas correntes que são iguais e opostas. Logo, o i que aparece no lado direito da última expressão ob- tida será nulo: B.2 r=0 de onde vem que B = 0, pois r é um raio genérico e 2 uma constante. Portanto, é nulo o campo magnético na região r R2.