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PROCESSOS REVERSÍVEIS E IRREVERSÍVEIS Considere um sistema típico em equilíbrio ter- modinâmico, digamos n moles de um gás real con- finado em um arranjo cilindro-pistão de volume V , estando o gás à pressão p e à temperatura T . No estado de equilíbrio, estas variáveis termodinâmicas permanecem constantes no tempo. Suponha que o cilindro, cujas paredes são isolantes, mas cuja base conduz calor, seja colocado em um grande reserva- tório mantido à temperatura T , como mostra a Fig. 1. Agora, levemos o sistema a outro estado de equi- líbrio cuja temperatura T é a mesma, mas o volume é reduzido à metade. Vamos discutir dois casos ex- tremos entre as várias maneiras de fazer isto. 1. Comprimimos o pistão rapidamente e espe- ramos até que o equilíbrio com o reservatório seja restabelecido. Durante este processo, a pressão e a temperatura não são bem definidas por causa da turbulência; não podemos representá-lo por uma li- nha contínua em um gráfico pV , pois não conhece- mos o valor da pressão (ou da temperatura) corres- pondente a um dado volume. O sistema passa de um estado de equilíbrio i a outro f através de uma série de estados de não-equilíbrio (Fig. 1a). 2. Comprimimos o pistão (suposto sem atrito) muito lentamente - por exemplo, colocando aos pou- cos areia sobre ele - de modo que, em todos os ins- tantes, o volume, a pressão e a temperatura sejam grandezas bem definidas. Colocamos inicialmente uns poucos grãos de areia sobre o pistão; o volume do sistema diminuirá um pouco, a temperatura ten- derá a subir e o sistema se afastará levemente do estado de equilíbrio; uma pequena quantidade de calor será transferida para o reservatório. Coloca- mos mais um pouco de areia no pistão, reduzindo ainda mais o volume; esperamos que o novo es- tado de equilíbrio seja atingido e assim sucessiva- mente. Repetindo o processo muitas vezes, redu- zimos o volume à metade. Durante todo este pro- cesso, o sistema estará sempre em um estado que difere muito pouco do equilíbrio. Se imaginásse- mos este procedimento realizado mediante aumen- tos de pressão sucessivos ainda menores, os estados intermediários difeririam ainda menos de estados de equilíbrio. Aumentando indefinidamente o número de passos e, em consequência, diminuindo o tama- nho de cada variação, alcançamos o processo ideal em que o sistema passa por uma sequência ininter- rupta de estados de equilíbrio, que pode ser repre- sentada no diagrama pV (Fig. 1b) por uma linha contínua. Durante este processo uma certa quan- tidade de calor Q é transferida do sistema para o reservatório Processos do tipo 1 são chamados irreversíveis e os do tipo 2 são chamados reversíveis. Um pro- cesso reversível é aquele que pode ser efetuado em sentido inverso, ao longo do mesmo trajeto no dia- grama pV , por meio de variações diferenciais na vi- zinhança. Isto é, se acrescentarmos alguns grãos de areia ao pistão, quando o sistema está em um certo estado A, o volume decresce dV e uma pequena quantidade de calor é transferido ao reservatório; se, em seguida, removemos aqueles grãos (uma mu- dança diferencial na vizinhança), o volume aumen- tará dV , uma quantidade igual de calor é transfe- rida do reservatório e tanto o sistema como o reser- vatório retornam ao estado original. Na prática, to- dos os processos são irreversíveis, mas podemos nos aproximar da reversibilidade fazendo refinamentos experimentais. O processo estritamente reversível é uma abstração simples e útil que tem uma relação com os processos reais semelhante à relação do gás ideal com os gases reais. Nem todos os processos realizados muito len- tamente são reversíveis. Por exemplo, se o pistão de nosso exemplo exercesse uma força de atrito nas paredes do cilindro, o sistema não retornaria ao es- tado original quando removêssemos alguns grãos de areia. Se acrescentássemos areia lentamente, o sis- tema passaria por uma série de estados de equilí- brio, mas não reversivelmente. A expressão quase- estático é utilizada para descrever um processo que seja suficientemente lento para que o sistema passo por uma sequência contínua de estados de equilí- brio; um processo quase-estático pode ser ou não 1 Figura 1: Um gás real passa do estado inicial i (caracterizado pela pressão pi, volume Vi e temperatura Ti) ao estado final (caracterizado por pf , volume Vf e temperatura Tf ). O processo pode ser realizado (a) irreversivel- mente, deixando um peso cair subitamente no pistão, ou (b) reversivelmente, pondo de cada vez alguns grãos de areia sobre o pistão. reversível. O processo descrito em 2 é não só reversível, como também isotérmico, porque supusemos que a temperatura do gás, durante todo o tempo, difira da temperatura constante do reservatório em que o cilindro é posto apenas de uma quantidade diferen- cial dT . Poderíamos também reduzir o volume adiaba- ticamente, se o cilindro estivesse sobre um suporte não-condutor de calor. Em um processo adiabático o calor não entra nem sai do sistema. Um pro- cesso adiabático pode ser reversível ou irreversível - a definição não exclui nenhum dos dois. Quando re- versível, movemos o pistão de modo extremamente lento, talvez pela técnica dos grãos de areia; num processo adiabático irreversível empurramos o pis- tão rapidamente. A temperatura do gás subirá durante a com- pressão adiabática porque, pela primeira lei, sendo Q = 0, o trabalho realizado pela vizinhança sobre o sistema - ao se empurrar o pistão - deve apare- cer como um aumento ∆U int da energia interna do sistema. O trabalho W tem diferentes valores para diferentes taxas de deslocamento do pistão, sendo dado por ∫ pdV (isto é, pela área debaixo da curva no diagrama pV ) somente nos processos reversíveis para os quais p tem um valor bem definido. Assim ∆U int e a variação correspondente de temperatura ∆T não são os mesmos para processos reversíveis e irreversíveis nesse caso. Por outro lado, numa transformação de um dado estado inicial i para um estado final f , a varia- ção da energia interna depende apenas das variáveis termodinâmicas (por exemplo, p, V e T ) dos estados i e f . Apesar de W e Q dependerem da trajetória, ∆U int não depende; em particular, se formos capa- zes de calcular ∆U int para um determinado trajeto reversível, ela terá o mesmo valor para todos os ou- tros trajetos, inclusive os irreversíveis. Como vere- mos, a entropia, tal como ∆U int , é uma variável de estado cuja variação em qualquer processo irrever- sível pode ser determinada a partir de um processo reversível apropriado que ligue os mesmos estados inicial e final. 2