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PIERO NÁDIO ARÁDIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TÓPICOS 
 
DE 
 
HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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ÍNDICE 
 
 
INTRODUÇÃO, 5 
 
CAPÍTULO I – O MUNDO ANTIGO, 7 
 
01 – O Mundo Helênico, 7 
02 – O Mundo Romano, 9 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – A Economia Primitiva, 11 
 
CAPÍTULO II – DE BIZÂNCIO AO FEUDALISMO, 15 
 
03 – O Início da Idade Média, 15 
04 – As Invasões Bárbaras, 15 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – A Economia e a Filosofia Escolástica, 19 
 
CAPÍTULO III – O MERCANTILISMO, 21 
 
05 – O Período da Renascença, 22 
06 – O Regime Colonial, 24 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – As Idéias Econômicas do Mercantilismo, 27 
 
CAPÍTULO IV – AS ESCOLAS ECONÔMICAS, 29 
 
07 – A Escola Fisiocrática, 29 
08 – A Escola Clássica, 30 
09 – A Doutrina de Malthus, 31 
10 – A Teoria da Renda de David Ricardo, 32 
11 – A Influência da Escola Clássica, 35 
12 – Stuart Mill, 36 
 
CAPÍTULO V – A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A TESE SOCIALISTA, 37 
 
13 – A Ascensão da Classe Burguesa, 37 
14 – O Socialismo Pré-Marxista, 39 
15 – O Socialismo de Karl Marx, 40 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – A Teoria Econômica de Karl Marx, 43 
 
CAPÍTULO VI – A EXPANSÃO DO CAPITALISMO, 45 
 
16 – Imperialismo: A Nova Face do Capitalismo, 45 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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4 
17 – Anarquistas e Sindicalistas, 47 
18 – O Comunismo Soviético, 48 
 
LEITURA COMPLEMENTAR, Os Neoclássicos, 51 
 
CAPÍTULO VII – A CRISE DO CAPITALISMO, 53 
 
19 – A Grande Depressão, 51 
20 – A Economia do Pós-Guerra, 55 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – A Teoria Keynesiana, 57 
 
CAPÍTULO VIII – A NOVA REALIDADE ECONÔMICA, 59 
 
21 – Capitalismo versus Comunismo, 60 
22 – A Nova Revolução Industrial, 63 
23 – Um Novo Mundo Econômico, 66 
24 – O Problema dos Países Emergentes, 68 
25 – Tecnologia e Desenvolvimento, 71 
26 – Haverá Uma Ideologia para a Nova Época? , 72 
 
LEITURA COMPLEMENTAR – A Nova Economia, 73 
 
CAPÍTULO VIII – O PROBLEMA BRASILEIRO, 75 
 
27 – O Brasil e o Cone Sul, 75 
28 – Os Problemas da Integração Econômica, 75 
 
APÊNDICE, 77 
 
A MOEDA, 79 
A RENDA NACIONAL, 81 
A FORMAÇÃO DOS PREÇOS, 83 
A POLÍTICA DEMOGRÁFICA, 85 
 
QUESTIONÁRIO, 87 
 
BIBLIOGRAFIA, 91 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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5 
INTRODUÇÃO 
 
 
 A história do pensamento econômico refere-se ao desenvolvimento progressivo, ao 
longo da história humana, e retratada em cada um dos povos que surgiram desde a mais 
antiga civilização, das atividades humanas que se têm por “econômicas”. 
 A procura incessante pelos meios de subsistência, o cultivo da terra, o sistema de 
trocas, o conceito de propriedade, são fenômenos que se enquadram nestas atividades 
econômicas, e que evoluíram, de meios bastante rudimentares, para os modernos e 
complexos sistemas econômicos característicos de nosso tempo atual. 
 
 Devemos ressaltar a diferença básica que existe entre história do pensamento 
econômico, ou história da economia,1 entre história das doutrinas econômicas, e 
história econômica geral. 
 A primeira refere-se, e tem por objetivo, estudar o processo histórico pelo qual 
surgiu o fenômeno propriamente econômico, através da análise da evolução deste 
sistema de trocas, do surgimento do dinheiro, do conceito de empréstimos, juros, 
capitais, bem como da atividade econômica em seu todo. Todo este processo tem um 
fundamento social, com base nas necessidades humanas de subsistência, proteção contra 
os elementos e as intempéries, e no progressivo acúmulo de bens econômicos através de 
trocas mercantis. 
 
 A história das doutrinas econômicas visa, especificamente, estudar o pensamento dos 
autores e historiadores que se propuseram a explicar este fenômeno, criando teorias, 
escolas e sistemas econômicos, cujo exemplo mais claro é a forma como as doutrinas se 
dividiram ao longo do século XX, em sistema capitalista e sistema socialista, divisão 
esta que atingiu o próprio cerne das sociedades, dividindo o mundo em dois blocos 
políticos principais, os países democráticos e os países comunistas. 
 Quanto à história econômica geral, é uma espécie de síntese entre as duas primeiras, 
cuja especificidade coloca a história sob um prisma econômico, ou seja, busca-se 
estudar os fatos sociais e históricos dando realce à tessitura econômica sobre a qual eles 
se desenvolveram. A história econômica geral difere da história do pensamento 
econômico sob vários aspectos. Enquanto esta procura realçar as teorias econômicas que 
vão surgindo à medida que as sociedades e a civilização em geral se desenvolvem, a 
primeira dá ênfase às razões econômicas (embasadas estas, por sua vez, em teorias 
econômicas diversas) pelas quais surgem os fatos sociais capazes de transformar a 
própria realidade histórica. 
 
 Em nossa abordagem, não nos furtamos a incluir um breve escorço sobre as Escolas 
Econômicas (Fisiocrática e Clássica), cujos conceitos teóricos são indispensáveis para a 
compreensão mais exata da evolução dos fatos históricos sob o prisma econômico. 
 
1
 Mesmo aqui devemos distinguir entre a história dos fatos econômicos (constituídos pelas ações 
realizadas pelos indivíduos), e a interpretação intelectual (muitas vezes a posteriori), destes mesmos 
fatos, e que constituem propriamente tanto a teoria econômica (proposta para explicá-los) quanto a 
história das (várias) teorias econômicas propostas. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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6 
Quase sempre, os fatos concretos ocorrem no bojo de um substrato teórico que lhes dá 
causa. 
 Além disso, o nosso propósito é o de tentar buscar um entendimento acerca da 
evolução do pensamento, da história e dos fatos econômicos, apelando eventualmente 
para disciplinas autônomas auxiliares, tais como a História, a Antropologia, Ciência 
Política, entre outras, mas apenas com o objetivo de elucidar o modo como se deu tal 
evolução. 
 
 As leitura complementares têm por objetivo dar um suporte teórico maior, que 
permita ao leitor entender e interpretar as causas e motivações econômicas que 
conduzem o desenvolvimento da história. O Capítulo IV em especial, bem como as 
leituras constantes do Apêndice, ainda que tenham um conteúdo não programático, irão 
reforçar este suporte teórico, muitas vezes buscado pelo leitor mais exigente. 
 
 Aqueles que desejarem expandir seus conhecimentos para além destes modestos 
tópicos, encontrarão na bibliografia uma indicação para auxiliar tal intento. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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7 
CAPÍTULO I 
 
O MUNDO ANTIGO 
 
 
1 – O Mundo Helênico 
 
 O estudo dos povos primitivos levou à conclusão de que a sua conduta, sob o aspecto 
das relações econômicas, pautava-se por um primitivo sistema de trocas, inexistindo 
qualquer tipo de moeda como base de troca, ou usando-se, para tal finalidade, objetos 
tidos como valiosos, tais como dentes ou peles de animais, clavas, arcos e flechas, etc. 
 Em épocas recuadas, supõe-se que os indivíduos não tinham a capacidade de lavrar 
ou de semear a terra, com a finalidade de garantir umaprovisão constante de alimentos. 
É possível que houvesse inicialmente apenas um sistema simples de coleta de vegetais, 
a par de um sistema baseado na caça coletiva de animais, como fonte de alimentação, 
pela sua carne, e de proteção contra as intempéries, pela sua pele. A subsistência podia 
ser suprida também através da pesca e do consumo de frutos silvestres. Talvez os 
alimentos fossem consumidos crus, e, com certeza, não havia como armazená-los para 
posterior consumo. Isto transformava a atividade de subsistência em um processo 
permanente, causando a necessidade de os grupos estarem em constante deslocamento, 
sem se fixarem em definitivo em uma localidade qualquer. Os grupos eram, então, 
selvagens e errantes, vagando de região a região, entrando eventualmente em conflito 
com outros grupos, quando invadiam sua área de caça. 
 Aos poucos, os grupos foram se fixando em determinados locais mais amenos, onde 
puderam desenvolver um sistema de lavratura da terra; foi onde surgiram as primeiras 
comunidades. Surgiu assim a atividade pastoril, com a domesticação de certos animais, 
principalmente gado e ovelhas. A nutrição aos poucos mudou para o consumo de grãos 
e sementes, o que acarretou diversas conseqüências. Entre elas, a necessidade de usar 
instrumentos e utensílios, ainda que rudimentares, seja para arar a terra, seja para a 
transformação dos alimentos: trituração; moagem; fermentação; etc. A fixação à terra, 
ainda que criando grupos comunais, pode ter levado à necessidade de isolar grupos 
familiares em terrenos restritos e vivendo em cabanas, o que terminou por levar ao 
conceito de “propriedade”. A necessidade de defender esta propriedade também levou 
ao desenvolvimento de armas rústicas de defesa. 
 Evidentemente, nada causou tanto impacto quanto a domesticação do fogo, ou seja, a 
capacidade de acender e manter uma fogueira, sem ter que esperar pela queda de um 
raio, que o provocasse. O fogo, que podia ser provocado pelo atrito entre galhos secos, 
serviu para cozer alimentos, e com o tempo permitiu o nascimento de uma incipiente 
“indústria” de forja, pela manipulação de metais dúcteis e de baixo ponto de fusão: 
inicialmente criando instrumentos de cobre, e posteriormente desenvolvendo 
ferramentas de ferro. 
 
 As primeiras comunidades, se viviam em paz, chegaram a organizar vários sistemas 
sociais, com a produção de mitos complexos, que normalmente eram memorizados 
pelos seus integrantes, e que tornavam possível uma vida em comum, pela aceitação 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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8 
coletiva de uma origem comum, pelo respeito e culto aos ancestrais, e pelo temor aos 
fenômenos físicos da natureza. 
 Com o tempo, estas comunidades puderam desenvolver uma complexa arte 
manufatureira, composta de cestaria (produção de cestas) e de artefatos de cerâmica. O 
calor do fogo permitiu manipular a argila, produzindo vasos, tijolos e telhas, entre 
outras coisas. Também a ouriversaria se desenvolveu, com a produção de jóias em geral. 
O contato progressivo entre várias comunidades levou gradativamente à necessidade de 
criar métodos de transporte e mecanismos de troca comercial, inicialmente usando 
objetos considerados valiosos pelos membros das várias comunidades. Mas os contatos 
comerciais muitas vezes redundavam em conflito, o que também podia provocar a 
necessidade da comunidade isolar-se e buscar sua auto-suficiência. 
 
 A partir de 600 a.C., começou a surgir as civilização que mais iria influenciar a 
civilização ocidental: a civilização grega. A época mais recuada, ou época de Homero 
(que escreveu a Ilíada e a Odisséia), cada aldeia e cidade era bastante independente, e o 
tipo de vida econômica e social era bastante simples. A atividade diária de subsistência 
consistia em lavrar a terra, colher no tempo certo e trocar as mercadorias no mercado da 
cidade. 
 
 Por volta de 800 a.C., as cidades começaram a se integrar em organizações políticas 
mais amplas, tanto devido ao comércio crescente quanto à inevitável necessidade de 
defesa contra povos invasores. As maiores e mais importantes cidades gregas foram 
Atenas e Esparta, que compartilhavam a hegemonia política e econômica. No auge de 
seu poderia, cada uma chegou a ter por volta de 400.000 habitantes. 
 O comércio e a indústria se tornaram as principais atividades, levando ao 
crescimento da população urbana e criando uma classe de cidadãos que vivia na 
opulência. A escravidão era bastante comum, e os escravos eram prisioneiros de guerra 
vencidos em batalhas. O crescimento da riqueza criou uma classe de latifundiários, que 
começou a explorar os lavradores. 
 Na luta pelo poder, a classe média em ascensão uniu-se aos lavradores, e o 
descontentamento com o governo despótico levou à fundação de governos 
democráticos, quando não de oligarquias liberais. 
 O auge da história de Atenas ocorreu com o governo de Péricles (461-429 a.C.), 
durante o qual as artes foram levadas a um nível extremamente elevado. Foi um período 
de expansão econômica e de grande comércio realizado com as outras cidades da região 
do Peloponeso. 
 
 Em Esparta, entretanto, ao contrário de Atenas, a situação política acabou levando a 
um sistema político absolutista; enquanto em Atenas floresciam as artes e o comércio, 
nesta outra, o governo oligarca ditatorial optou por criar uma comunidade voltada para o 
militarismo e para a conquista. A cidade fechou-se em si mesma, proibindo que seus 
cidadãos viajassem ou comerciassem com o exterior. A vida social imposta aos 
cidadãos era caracterizada pelo coletivismo e por rígidas normas de disciplina e de 
comportamento. Além disso, os cidadãos impunham uma férrea dominação sobre o 
grande número de escravos existentes. 
 A organização econômica da cidade visava os seguintes objetivos: garantir a 
eficiência e a supremacia militar contra as cidades vizinhas; garantir a segurança interna 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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9 
e a dominação da classe dos cidadãos.2 As melhores terras pertenciam ao Estado, mas a 
maioria acabava nas mãos da classe dominante (esparciatas). O comércio e a indústria 
ficavam a cargo dos periecos. 
 
 Em épocas posteriores, o crescente fortalecimento das comunidades gregas 
transformou-as em cidades-estado, cuja supremacia era marcada por aquela que se 
destacava pela sua força guerreira, mas também pela sua hegemonia comercial. O 
comércio entre as cidades se dava tanto por via terrestre quanto por vias marítimas, e o 
constante contato comercial entre povos diferentes permitiu que várias conquistas 
intelectuais se divulgassem entre eles. 
 
 
2 – O Mundo Romano 
 
 Roma foi a mais importante cidade dos tempos antigos, em virtude de sua hegemonia 
militar. Aproximadamente em 265 a.C., toda a Itália já estava sob o jugo romano, e 
Roma encontrava apenas uma cidade que rivalizava com ela em força militar: Cartago. 
Ambas eram cidades ricas, prósperas e com grande força militar, e o embate entre elas 
durou muitos anos, antes que Roma a vencesse. 
 As guerras com Cartago obrigaram a que Roma iniciasse uma expansão militar pelo 
Mediterrâneo, vencendo e conquistando povos vizinhos. Tais guerras3 tiveram grandes 
conseqüências; além de mudar a vida cultural romana, iniciaram uma grande revolução 
social e econômica, cujas características principais foram: um grande aumento da 
escravidão, como resultado da captura de enorme contigente de prisioneiros de guerra; o 
lento desaparecimento dos pequenos lavradores, que não podiam competir com o trigo 
mais barato cultivado nas províncias conquistadas; o aumento explosivo de uma classe 
de lavradores e camponeses empobrecidos, cujo trabalho fora substituído pelamão-de-
obra escrava; o surgimento de uma classe média formada de mercadores, usurários e 
“publicanos”4 ; o surgimento de uma classe opulenta, que enriquecia com os lucros de 
guerra. 
 Estas transformações levaram a contínuos conflitos de classes, em razão do profundo 
abismo que passou a separar ricos e pobres. A situação política degenerou a tal ponto 
que provocou diversas revoltas dos escravos, sendo que a mais famosa ocorreu quando 
um escravo chamado Espártaco5 liderou, em 73 a.C., uma revolta contra o jugo romano, 
à frente de 70.000 revoltosos. 
 Entre os lavradores sem terra, deu-se a chamada “revolta dos Gracos”, que lutavam 
contra a aristocracia senatorial. Tibério Graco fazia parte da elite, mas defendia o 
interesse dos lavradores, o que deu motivo a que fosse morto a mando da aristocracia. 
 
2
 Havia três classes principais: a classe dos esparciatas, dominante; os periecos, intermediária (que viria a 
constituir a classe média); os ilotas, classe composta de servos (que eram desprezados pelos seus amos). 
3
 As famosas Guerras Púnicas. 
4
 Que detinham o poder de explorar minas, construir e manter estradas e cobrar impostos. 
5
 Espártaco não era propriamente um escravo, e sim um gladiador que lutava nas arenas romanas. Ele foi 
capturado e morto em batalha, e mil de seus adeptos foram crucificados. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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10 
Nove anos depois, o seu irmão, Caio Graco, também foi morto ao tentar defender os 
interesses dos desprotegidos.6 
 
 Roma, que era uma república, tornou-se politicamente um império. Foi durante esta 
época que começou o seu declínio. A manutenção de um extenso império, a luta 
contínua contra os bárbaros, a corrupção interna, eram fatores que corroíam os recursos 
do Estado e que acabaram levando à sua queda. 
 Outro fator, de ordem econômica, era a balança de comércio desfavorável, com as 
províncias. Aos poucos, com o contínuo escoamento de metais preciosos para fora, o 
governo romano, ao invés de incrementar as manufaturas para exportação, optou por 
aviltar a moeda. Isto teve graves e drásticas conseqüências: o desaparecimento do 
dinheiro de circulação, e o retorno às trocas de mercadorias; o declínio da indústria e do 
comércio; o crescimento da escravidão; o aumento da intervenção governamental sobre 
a economia, com resultados em geral catastróficos. Além disso, o aumento exacerbado 
da carga tributária sobre a classe média desencorajava qualquer novo empreendimento 
econômico. 
 
 
6
 Em ambos os casos, eles queriam fazer passar uma legislação que permitisse o acesso dos pobres a um 
trigo mais barato. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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11 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
A Economia Primitiva 
 
 
 Os primeiros povos civilizados, e que deixaram sua marca na história (egípcios; 
gregos; romanos), pouco se caracterizaram pelas iniciativas de tentar explicar o 
fenômeno econômico; apesar de exercerem uma intensa atividade econômica, houve 
raras tentativas explícitas de tentar entendê-lo. Nos diversos escritos filosóficos, existem 
apenas idéias esparsas e pouco concatenadas a respeito das idéias econômicas. Os 
gregos, de uma maneira geral, externavam muito mais idéias monetárias do que 
propriamente idéias econômicas. Até mesmo Platão, um dos maiores dentre os filósofos 
gregos, não chegou a compreender a enorme influência da atividade econômica na 
evolução das sociedades. No que mais se aproximou de uma exegese deste tipo de 
pensamento, em sua obra “A República” ele expõe o que considera o tipo ideal de 
Estado. Minimiza e despreza as atividades manuais e de comércio, e não dá valor ao 
acúmulo de riqueza. Este ponto de vista extremado tornou-se deletério para qualquer 
pensador que quisesse dedicar-se ao fenômeno econômico. Entretanto, Aristóteles 
recuperou a importância deste tipo de atividade intelectual, ao voltar-se para alguns 
temas considerados polêmicos. Entretanto, em sua obra “A Política”, ao analisar o 
surgimento da moeda, suas conclusões viriam a se tornar o fulcro e influenciar 
consideravelmente todas as análises sobre doutrinas econômicas que seriam feitas 
futuramente, pelos autores medievais. Na verdade, a condenação por Aristóteles de todo 
tipo de lucro (seja comercial, industrial e pelo usurário), orientou para o futuro a própria 
posição da Igreja Católica no que se refere a este tema, e deu ensejo a perseguições e 
lutas religiosas sem fim. 
 
 Aristóteles fez uma distinção bastante precisa (e até hoje usada) quanto às funções da 
moeda: ela serviria como intermediária de trocas comerciais; como instrumento de 
comparação de valores; e como uma reserva de valor. Ele propôs também uma questão 
monetária que só se resolveu em tempos modernos. O valor da moeda depende do valor 
do metal precioso de que é feita, ou o seu valor depende da autoridade de quem a coloca 
em circulação?7 Platão era de opinião que a moeda tinha um valor nominal, constituído 
pelo Estado, talvez porque em sua época as moedas eram cunhadas em metal nobre, de 
ouro ou prata (mas as havia, também, de chumbo, cobre e bronze). Para Xenofonte, o 
valor da moeda estava no valor do metal precioso que a constituía. Já Aristóteles não se 
definiu quanto à questão, admitindo uma posição dúbia intermediária. Aristófanes foi o 
primeiro a evidenciar o fato de que a moeda de melhor qualidade é expulsa da 
circulação pela moeda de pior qualidade8 (a primeira passa a ser entesourada ou 
 
7
 Quando percebemos, nos tempos atuais, que a moeda foi sendo gradativamente substituída por sistemas 
cada vez mais abstratos de crédito (os vários tipos de títulos de crédito: o papel-moeda; o cheque, o 
cartão, etc.; os créditos interbancários nos quais apenas valores eletrônicos mudam de lugar), percebemos 
cada vez mais que a moeda é, em princípio, um acordo em comum acerca de um valor atribuído a uma 
ficção monetária instituída pelo Estado (vide A MOEDA, pág. 77). 
8
 Esta é a chamada Lei de Gresham. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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12 
derretida, pelo seu maior valor). Opunham-se, então, as teorias “nominalista”9 e 
“metalista”, com debates acirrados sobre a questão.10 
 
 
 Entre os romanos, a orientação especulativa acerca das idéias econômicas provinha 
da política, e não mais da filosofia, como era entre os gregos. Vários fatores 
contribuíram para que o entendimento romano sobre este assunto se expandisse. A 
chamada Pax Romana, ou hegemonia militar sobre os povos circundantes (que 
pressupunha um forte espírito guerreiro); o estabelecimento de extensas vias ou estradas 
de comunicação interligando Roma com todo o império;11 a navegação segura no 
Mediterrâneo; o desenvolvimento de um sistema jurídico eficaz; um espírito público 
administrativo; todas estas foram causas que deram ensejo à expansão das transações 
comerciais, que levaram à criação de companhias mercantis e de sociedades por ações. 
 
“O romano é consumidor, mas não quer ser produtor. Sem dúvida era 
próspera, a princípio, a agricultura romana; mas logo os lavradores 
indígenas, pequenos proprietários de suas terras, foram sendo substituídos 
por escravos, enquanto a pequena propriedade, de cultura intensiva, cedia 
os passos ao latifúndio, de cultura extensiva. Dentro em pouco passaram as 
artes e os ofícios industriais e o comércio a ser considerados atividades 
indignas de um homem livre. Roma faz com que produzam para ela; as 
províncias, conquistadas e escravizadas,abastecem-na do necessário ao 
seu consumo.” (HUGON, Paul. Pág. 42). 
 
 Mas não foi somente a escravatura que provocou a decadência da agricultura. Os 
pensadores romanos que se dedicaram ao assunto dividiam-se basicamente em duas 
correntes.12 Uns inclinavam-se pelo intervencionismo do Estado, que seria o único 
capaz de regulamentar e controlar os mecanismos econômicos; outros tendiam à 
corrente individualista, afirmando que o indivíduo em si era o único capaz de regular e 
equilibrar a economia.13 Em duas oportunidades, a tendência intervencionista se 
sobrepôs, acabando por se mostrar desastrosa. A Lei Semprônia, de 123 a.C., tornava o 
Estado responsável pela distribuição de cereais a preços abaixo do mercado; em 58 a.C., 
a Lei Clódia reservou aos indigentes tal responsabilidade. As conseqüências, 
 
9
 No período medieval a teoria nominalista foi retomada pelos chamados regalistas, e ela é hoje uma das 
teorias preferidas pelos economistas. A este respeito, é importante considerar a impossibilidade, 
atualmente, de qualquer país ou nação conseguir lastrear os seus ativos circulantes. O montante de moeda 
em circulação no mundo, considerando-se apenas o dólar dos EUA, ultrapassa consideravelmente a 
quantidade de ouro em estoque, seja em Forte Knox, seja nos cofres-fortes dos Bancos Centrais dos 
países mais ricos. 
10
 Os marxistas, para verem justificada a sua teoria do valor-trabalho, aceitavam a teoria metalista. 
11
 Estas vias romanas começaram a ser edificadas no século IV a.C., continuando até o século IV d.C. (ou 
seja, durante oitocentos anos elas se expandiram, sendo mantidas e cuidadas de forma a permitir um fácil 
acesso a todo o império). 
12
 As quais, curiosamente, ainda prevalecem ainda entre os teóricos modernos, que oscilam entre a duas 
tendências apontadas no texto. 
13
 O individualismo veio, mais tarde, a se desenvolver nas chamadas escolas fisiocrata, clássica e no 
moderno neo-liberalismo. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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13 
previsivelmente, foram desastrosas, provocando a derrocada da lavoura.14 Além dessas, 
outras leis intervencionistas vieram conturbar o sistema econômico romano, provocando 
déficit orçamentário e fraudes sem fim. Quanto maiores se tornavam os problemas, mais 
o Estado intervinha, tentando por sob controle a economia. O plantio, a colheita e o 
transporte dos grãos era todo colocado sob estrito controle monopolista do estado. 
 A tendência individualista surgiu sob a ótica jurídica, que veio dar ênfase ao sistema 
de propriedade privada, do direito das obrigações, dando um contorno visível à 
transmissão da propriedade, seja por meio de venda, seja por meio de sucessão. A obra 
dos jurisconsultos romanos veio a lançar as bases doutrinárias da economia política que 
começou a se desenvolver no Renascimento, vindo a desembocar nas escolas 
fisiocrática e clássica, e no chamado Liberalismo Econômico. 
 
 
14
 Alguns cantos ou hinos desta época foram compostos visando levar os romanos de volta à atividade 
rural, pela celebração da vida rústica. Como exemplos, temos os poemas “De re rustica”, de Catão, e “As 
Geórgicas”, de Virgílio. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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14 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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15 
CAPÍTULO II 
 
DE BIZÂNCIO AO FEUDALISMO 
 
 
3 – O Início da Idade Média 
 
 A decadência do império romano trouxe por decorrência dois pólos políticos opostos 
constituídos pelo Império Romano do Ocidente, com sede em Roma, e o Império 
Romano do Oriente, ou Império Bizantino. A rápida derrocada do primeiro trouxe como 
conseqüência o afrouxamento dos laços comerciais existentes entre as diversas nações, 
pela falta de um poder centralizador. Já não existindo a hegemonia militar romana, as 
fronteiras do império foram cedendo às rebeliões e às invasões de povos bárbaros 
oriundos do oriente, cujo intuito preponderante era mais o de destruir do que dominar. 
Os governos centralizados se enfraqueceram, e as cidades e aldeias que sobreviveram 
fecharam-se em si mesmas, ou simplesmente desapareceram, pela dispersão de seus 
habitantes, que espalharam-se em centros fortificados (os castelos) para garantir a sua 
sobrevivência. 
 Na primeira fase da Idade Média, as condições sociais presentes no Império 
Bizantino eram bastante superiores às do Império do Ocidente. Neste, grandes porções 
da Itália e do sul da França já tinham regredido a um ruralismo primitivo, em uma total 
decadência da civilização que Roma tinha imposto em seus tempos áureos. Já no 
Império do Oriente, mantinha-se ainda o caráter urbano e suntuoso, com uma classe rica 
que vivia no luxo e no conforto. 
 Constantinopla, Tarso, Edessa e Tessalonica eram cidades populosas, com um 
comércio ainda florescente. Só em Constantinopla viviam cerca de um milhão de 
pessoas, e não havia sinais de decadência cultural ou econômica. Mercadores, 
banqueiros, industriais e ricos proprietários de terras absorviam-se em uma atividade 
comercial intensa, consumindo artigos de luxo, ricas vestimentas de lã e de seda, 
tapeçarias, artefatos de vidro e porcelana. O esplendor das artes do Império Bizantino 
foi tal que até os dias de hoje ainda surpreendem os especialistas. A sua arte do 
mosaico, por exemplo, influenciou a arte dos vitrais, usados extensamente nas catedrais 
góticas. 
 Apesar da miséria (comum para a época) das classes inferiores, estes ainda assim 
estavam em melhores condições econômicas do que a dos cidadãos das partes ocidentais 
do Império. Havia uma estabilidade política e econômica, que permitia uma 
prosperidade crescente. Foi somente com a ascensão do império sarraceno que teve 
início a decadência do Império Bizantino. 
 
 
4 – As Invasões Bárbaras 
 
 No Império do Ocidente, a invasão dos bárbaros ocorrida entre os anos de 395 d.C. e 
571 d.C. deixou terras devastadas e povos trucidados por onde eles passaram. Em sua 
esteira ficavam apenas ruínas de povoados, de cidades e de terras de cultivo, numa ânsia 
inconcebível de destruição. Os bárbaros invadiram a Trácia, a Panônia, as Gálias, a 
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16 
África, a Itália, e finalmente a própria cidade de Roma, jogando abaixo séculos de 
refinamento cultural e de civilização. Se é possível situar no tempo o início das trevas 
que se abateram sobre o ocidente, dando início à Idade Média, é exatamente no período 
destas invasões. O ano de 410 d.C. representa aproximadamente este limite entre idades, 
dando fim à idade antiga e iniciando um período que só veio a ter término por volta do 
ano de 1300. 
 Até a época das primeiras cruzadas pouca coisa tinha mudado após mais de 
quinhentos anos, no continente europeu. Com o término dos império romanos do 
Ocidente e depois do Oriente, um marasmo se instalou por todo lado e a evolução 
histórica e cultural dos povos europeus como que estagnou. O feudalismo, regime 
estático por excelência, tornou-se dominante. A Idade Média estava começando. 
 
 Foi com o Papa Urbano II e com Pedro, o Ermitão, que conclamaram à libertação de 
Jerusalém e do Santo Sepulcro do jugo muçulmano, que tiveram início as primeiras 
cruzadas. Estas foram movimentos militares de inspiração religiosa que lançaram as 
bases para uma mudança profunda nas estruturas sociais, políticas e mesmo religiosas 
até então vigentes. Seguindo o caminho aberto pelas cruzadas, o comércio intensificou-
se por toda as rotas asiáticas, com o que as cidadesportuárias de Pizza, Veneza e 
Gênova alcançaram grande poder marítimo. O comércio intensificou-se a tal ponto que 
as instituições feudais mostraram-se incapazes de atender a demanda dos territórios 
conquistados; esta situação, por fim, conduziu à criação de centros urbanos por todo 
lado, sementes das futuras cidades européias, bem como contribuiu decisivamente para 
a derrocada do feudalismo e para a ascensão futura de uma nova classe, a burguesia. 
 O contato dos cruzados com a civilização árabe, bem mais refinada e culta nesta 
época, levou por outro lado a mútuos intercâmbios culturais que mais aproveitaram ao 
Ocidente. Os árabes tinham traduzido os autores gregos clássicos, os quais chegaram, 
via as traduções muçulmanas, às mãos de vários estudiosos ocidentais. Os sistemas de 
filosofia, a medicina, a matemática, a geometria, a literatura, a arquitetura, formaram 
parte deste legado cultural. 
 
 Com o surgimento das cidades e o reinício das trocas comerciais, começaram a 
surgir também associações de trabalhadores artífices. O comércio se dava através de 
vias de transporte e também de feiras, entre as quais as mais célebres foram as de 
Flandres15 e de Champagne.16 O contato cultural proporcionado pelas cruzadas permitiu 
o desenvolvimento de novas cidades-Estado, tais como Veneza, Florença, Gênova e 
Pizza, com a criação de grandes corporações de comércio. A especialização em ofícios e 
a divisão do trabalho se intensificaram, expandindo o mercado; a manutenção das 
cidades passou a depender dos produtos agrícolas, aumentando a interação urbano-rural. 
Novas profissões surgiram, e as trocas comerciais entre os centros urbanos e as 
localidades rurais produtivas se consolidaram. 
 
* * * 
 
15
 Região da Europa localizada ao longo do Mar do Norte. Atualmente, está dividida entre a França, 
Bélgica e Holanda 
16
 Região do nordeste da França; no período medieval, foi um importante condado , tendo atingido o seu 
apogeu no século XIII, graças às feiras que realizava. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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17 
 
 A partir do ano 800, já se podia notar, no Ocidente, um lento despertar da letargia da 
época medieval. O contato com as civilizações bizantina e sarracena, o embate com os 
nórdicos, foram algumas das causas deste ressurgimento. Nos quinhentos ou seiscentos 
anos seguintes (principalmente a partir do século XII) houve um surto de progresso, e o 
aumento do comércio trouxe prosperidade e estimulou as artes, a ciência e a cultura. 
 
 Basicamente, o feudalismo foi uma estrutura descentralizada da sociedade (ou seja, 
com um fraco ou inexistente poder central). O poder era dividido entre a nobreza, 
através de um sistema de suserania e de vassalagem. A partir do século VII, os reis 
merovíngios costumavam recompensar os condes e duques com benefícios e com terras 
(que se tornavam condados – no primeiro caso – ou ducados – no segundo caso). 
Posteriormente, os reis carolíngios recompensavam os nobres locais quando estes 
forneciam tropas de soldados para lutarem contra os mouros. Quem possuía o feudo 
tinha o direito de propriedade, e por conseqüência o direito de governar. Entre o 
suserano e os seus vassalos havia uma relação contratual, que envolvia obrigações 
recíprocas. Os vassalos pagavam tributos aos seus senhores, que se obrigavam a 
proporcionar-lhes proteção de assistência econômica. 
 Aos poucos, aumentou a dependência do governo central com relação às diversas 
suseranias. Como a maioria adquiria imunidade (isenção de pagamento de impostos), a 
autoridade central foi diminuindo cada vez mais. Apenas nominalmente, o suserano se 
submetia à autoridade do rei. Além disso, as constantes invasões de nórdicos, turcos e 
muçulmanos levavam a população a se voltar para os senhores feudais em busca de 
proteção. Aos poucos, este sistema evoluiu para um tipo de sociedade estratificada; no 
segundo período da Idade Média (“Alta Idade Média”), o feudalismo (que já se tornara 
hereditário) chegou a constituir um tipo legalmente reconhecido de estrutura social, até 
mesmo encarado como um sistema ideal. A lei era produto do costume ou da vontade de 
Deus. 
 No regime feudal, a principal unidade econômica era a chamada “herdade senhorial”, 
que era geralmente o domínio de um cavaleiro. Alguns chegavam a possuir várias 
herdades (às vezes, centenas ou milhares), em que o tamanho médio de cada uma podia 
chegar a 150 hectares. Em cada uma havia uma ou mais aldeias, e as terras cultivadas 
pelos camponeses se dividiam em três partes: o terreno de plantio da primavera, o 
terreno de plantio do outono e o “pousio”. Todos eram revezados a cada ano (era o 
sistema chamado de “três campos”). 
 
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18 
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19 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
A Economia e a Filosofia Escolástica 
 
 
 As idéias econômicas predominantes neste período tinham forte influência da Igreja 
Católica, através de seus pensadores (teólogos, canonistas e filósofos moralistas), que 
procuraram se alicerçar nos escritos sagrados e nas obras aristotélicas, principalmente. 
Aristóteles é o pensador de maior influência entre os medievos, e sua noção de 
“equilíbrio” foi a base para a concepção de justiça nas trocas (preço justo e justo 
salário), e para o princípio de moderação e moralidade como essência do fenômeno 
econômico. 
 A Igreja Católica admitia a propriedade individual, mas regrada por um princípio 
social restritivo, que a legitima. O proprietário não deve abusar do seu direito de 
propriedade em detrimento da coletividade. O direito de propriedade é reconhecido 
como propiciador de ordem e paz social, além de aumentar o rendimento da produção 
(essencialmente agrícola). Reconhece, entretanto, que os benefícios da posse da terra 
não devem ficar restritos a uma minoria privilegiada, porque isto traz desigualdade de 
condições e injustiça social. Entretanto, tal reconhecimento não foi capaz de evitar a 
prevalência das condições que exatamente se procurava evitar: a concentração da posse 
da terra, com a conseqüente ascensão social daqueles que a detinham. O feudalismo, 
como veremos, foi exatamente isso: a posse privilegiada da terra pela nobreza, que tinha 
poder total sobre os camponeses que a ocupavam e a faziam produzir. 
 O princípio moral regulador, a proibição da usura (empréstimo a juros) bem como o 
princípio da troca justa eram basicamente a base do sistema econômico deste período. 
Os artífices, organizados em corporações, tinham fixado o seu salário como uma 
retribuição máxima regulamentada oficialmente (não se fixava um valor mínimo, como 
se procede na atualidade). O lucro resultaria do equilíbrio entre o trabalho empregado 
(com a perícia envolvida) e a utilidade do serviço. Condenava-se o lucro imoderado, por 
ser contrário á “justiça nas trocas”. 
 Os chamados Padres da Igreja (Tomás de Aquino; Boaventura, entre outros), 
acompanhando o raciocínio aristotélico, distinguiam entre bens fungíveis e não 
fungíveis. O dinheiro seria um bem fungível, que desaparece com o consumo. O bem 
não fungível, por não desaparecer com o uso, pode ser emprestado ou locado por 
contrato. O seu detentor, por se privar do uso e gozo da coisa, pode exigir uma 
compensação. Mas no empréstimo de coisa fungível, o cedente entrega simultaneamente 
o uso e a propriedade da coisa. A justiça e o justo preço se realizariam pela simples 
devolução do objeto, sem mais nada (ou seja, sem juros sobre o empréstimo). Desse 
modo, o dinheiro não pode ser objeto de empréstimo a juros. Tal era a concepção inicialda Igreja. 
 Além da preocupação com o “preço justo”, S. Tomás considerava também a 
possibilidade de um vendedor vender um produto defeituoso. Ele afirmava que caso isto 
ocorresse, não deveria ser um ato intencional, e que, se descoberto o defeito, o vendedor 
deveria compensar o comprador. 
 Esta concepção veio a se modificar gradativamente, quando novas condições foram 
surgindo. Por exemplo, começou-se a se admitir a possibilidade de recebimento de juros 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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20 
pelos empréstimos, nos seguintes casos: se o emprestador sofria danos resultantes do 
empréstimo; se havia riscos, ou se havia renúncia a um possível lucro imediato. Razões 
religiosas levaram a liberar a usura para os judeus e para os lombardos,17 que se admitia 
não estarem submetidos às regras católicas. 
 
 Com relação às idéias monetárias, havia grandes debates a respeito do valor e da 
circulação da moeda, bem como da conveniência de alterar ou não o seu valor. Nicolau 
Orèsme, bispo de Lisieux e conselheiro do Rei Carlos V, e Buridan, reitor da 
Universidade de Paris, foram teóricos que estudaram o assunto. Orèsme criticou as 
mutações monetárias; para ele, o rei não tem legitimidade para fazer estas mutações de 
valor. O valor da moeda é garantido pela autoridade do Rei, que ordena sua cunhagem, 
e que teria assim, autoridade para mudar o seu valor. O cunho indicava a qualidade da 
peça e o seu peso. Entrando, entretanto, em circulação, o seu valor passa a depender da 
comunidade onde ela circula, que decide pela conveniência de lhe alterar o valor.18 
 Orèsme observou que em sua época praticavam-se cinco diferentes formas de 
mutações monetárias: 1) mudanças na efígie, o que acontecia normalmente devido à 
mudança de governantes; 2) mudança da proporção, ou mudança do valor entre o metal 
nobre (ouro ou prata) e o valor da moeda; 3) mudança nominal, ou modificação dos 
preços em moeda corrente (havia uma moeda real, cujas subdivisões em moeda corrente 
podiam variar); 4) mudança oficial do peso da moeda (as fraudes se davam, pela 
diminuição – ou cerceamento – do peso da moeda, limando suas beiradas circulares); 5) 
mudança de sua substância: neste caso, mudava-se a sua liga, substituindo um metal por 
outro. 
 Como já dissemos, a moeda má expulsa a moeda boa do mercado, e se acontecia de 
haver muitas mutações, quando a situação econômica se deteriorava, a tentativa de 
restaurar a ordem econômica pela introdução de uma nova moeda esbarrava neste 
obstáculo: a moeda boa, capaz de trazer estabilidade monetária, era fundida, ou 
simplesmente tomava rumo para fora do país. 
 
 
 
 
17
 Povo germânico que veio a se fixar na Panônia (atual Hungria). 
18
 Algumas classes sociais mais elevadas, tais como juizes e eclesiásticos, que costumavam ter uma renda 
fixa, ficavam prejudicados por estas mutações de valor na moeda. O povo também via-se despojado, 
quando era obrigado a receber moedas de valor nominal muito baixo, em troca de mercadorias de muito 
maior valor. Foi o que ocorreu, por exemplo, graças a um edito real de Jaime II, que forçou o 
recebimento, sob pena de morte, de moedas de cobre cujo valor aposto era seis vezes maior do que o seu 
valor intrínseco. 
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21 
CAPÍTULO III 
 
O MERCANTILISMO 
 
 
 Por volta de 1400, aconteceu a chamada “Revolução Comercial”, cujas causas 
básicas foram as seguintes: a conquista do monopólio comercial do Mediterrâneo pelas 
cidades italianas; 2) o desenvolvimento de um lucrativo comércio entre estas cidades e 
os mercadores da Liga Hanseática, no norte da Europa; 3) a introdução de moedas de 
circulação geral; 4) a acumulação de capitais excedentes; 5) a procura de materiais 
bélicos e o estímulo ao comércio proporcionado pelos novos monarcas; 6) a procura 
pelas especiarias do Oriente. 
 A procura das especiarias era uma preocupação constante das coroas portuguesa e 
espanhola, interessadas que estavam em quebrar o monopólio das cidades italianas. A 
Península Ibérica, afastada deste comércio, era obrigada a pagar altos preços por sedas, 
perfumes, especiarias e tapeçarias provenientes do Oriente. Em busca de uma nova rota 
para o Oriente, os navegadores espanhóis e portugueses acabaram encontrando novas 
terras. A introdução da bússola e do astrolábio deu também um novo impulso a estas 
viagens, cuja motivação, muitas vezes, era apenas o intenso fervor proselitista e um 
excesso de zelo religioso, que ardia por converter os pagãos. 
 As viagens de navegação realizadas por espanhóis e portugueses foram seguidas 
posteriormente por inglese e franceses. Também os holandeses participaram desta 
corrida por novas terras, com intenções visivelmente colonialistas. 
 O resultado destas viagens de descobrimento foi uma tremenda expansão do 
comércio. Os navios das grandes potências mundiais podiam ser encontrados singrando 
quaisquer dos setes mares, e logo o monopólio das cidades italianas chegou ao seu final. 
Enquanto Gênova, Pizza e Veneza passavam para segundo plano, cidades como Lisboa, 
Liverpool, Bordéus, Bristol e Amsterdã se alçavam a cidades de grande importância. 
Em seus portos, um intenso movimento marítimo mostrava a pujança do seu comércio, 
e os armazéns custavam a conter a enorme quantidade de mercadorias vindas de toda 
parte. Ao lado de tecidos e especiarias do Oriente, juntavam-se agora o tabaco, as 
batatas e o milho da América do Norte; o melaço e o rum das Antilhas; o cacau, o 
chocolate, a quina e a cochonilha da América do Sul; completando este rol de 
mercadorias, achavam-se ainda, vindos da África, penas de avestruz, marfim e até 
mesmo escravos. 
 
 Outros produtos já conhecidos tiveram também intensificado o seu comércio, tal 
como o café, o açúcar, o arroz e o algodão, que em razão do extenso comércio acabaram 
deixando de ser mercadorias de luxo. 
 Entretanto, talvez o maior e mais importante resultado da descoberta e conquista 
dessas novas terras foi a espantosa quantidade de metais preciosos, ouro e prata, que 
inundaram o continente europeu. Esse ouro e prata provinha tanto das pilhagens 
realizadas nos tesouros dos incas e astecas, como também das minas do México, Bolívia 
e Peru. A acumulação desta riqueza fabulosa e as extensas especulações que propiciou 
em sua esteira iriam forjar as bases para o capitalismo. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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 Também durante a época da Revolução Comercial desenvolveu-se o sistema 
bancário. No século XVI, surgiu a sociedade por ações, que era formada através da 
subscrição de quotas de capital por um considerável número de investidores. O dinheiro, 
que tinha ressurgido com força a partir do século XI, mas cujo valor dificilmente era 
reconhecido fora de sua região de origem, começou, através das moedas de ducado 
veneziano e florim florentino, começaram a ter ampla aceitação por toda a Itália e nos 
mercados do norte da Europa. Entretanto, não havia um padrão monetário estável, e os 
valores sofriam constantes modificações. Foi como conseqüência do desenvolvimento 
da Revolução Comercial que se buscou adotar um sistema monetário mais estável e 
uniforme, e de maior eficiência. Esta fase caracterizou-se também por uma maior 
especulação teórica, de cujos frutos veio a surgir a doutrina econômica conhecida como 
mercantilismo. 
 
* * * 
 
 É provável que o mercantilismo remonte ao reinado de Eduardo I (1272-1307). Este 
monarca estabeleceu o comércio de lã com Antuérpia, e tentou por várias formas 
regulamentar o comércio interno. SobEduardo III, uma guerra prolongada com a França 
provocou uma inflação desastrosa. Para mitigar o sofrimento dos trabalhadores, este 
monarca fixou preços e salários em uma proporção favorável a eles, exigindo em troca 
que se dedicassem a todas as formas de trabalho disponíveis. 
 Uma das características dos escritores mercantilistas era a de que a de que devia 
alcançar o pleno emprego, por todos os meios. Entre as medidas tomadas para fomentar 
a indústria, destaca-se a concessão de patentes de monopólio. De um modo geral, davam 
maior importância às exportações, relegando o comércio interno a segundo plano. 
 Para se entender todas as implicações das idéias surgidas sob o prisma do 
mercantilismo, necessário se faz estudar o pano de fundo histórico no qual ele se 
desenvolveu. 
 
 
5 – O Período da Renascença 
 
A partir do ano 1300, as características gerais que definiam o feudalismo começaram a 
desaparecer. Novas instituições e novos modos de pensar vieram substituir o 
pensamento escolástico e as dogmáticas e esclerosadas instituições políticas, sociais, 
econômicas e religiosas que tinham dominado por séculos. A noite prolongada do 
período medieval foi sucedida por um período de grandes conquistas em todos os 
campos do conhecimento. Até cerca de 1650, houve um súbito renascimento do 
interesse pela cultura clássica, caraterizada pelas civilizações grega e romana. O século 
XVI, principalmente, foi um século marcado por grandes mudanças sociais, geográficas, 
religiosas e políticas. Foi o século das grandes descobertas, das grandes invenções, das 
grandes navegações de Magalhães e Colombo, os quais descobriram novos continentes. 
Entre as grandes invenções do período, encontra-se a da imprensa, que viria a se tornar 
um poderoso fator de difusão das novas idéias. 
 
* * * 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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23 
 
 Com a invenção do livro impresso as idéias difundiam-se rapidamente entre todos os 
países. Lutero e Calvino, insurgindo-se contra o Papa, deram origem à reforma religiosa 
mais profunda no seio da Igreja Católica. Tiveram seguidores na Alemanha, Suíça, 
estados escandinavos e sul da França. Neste país, seus seguidores eram chamados de 
huguenotes e de livres-pensadores. 
 
“Lutero, atacando a autoridade, fazendo da palavra evangélica a base de 
seus ensinamentos, dirigia-se a essas massas inquietas. Ele seguiu as 
massas enquanto elas exigiam pequenas reformas; mas os camponeses 
estavam se transformando numa classe que queria uma revolução na ordem 
social, que a pequena burguesia tinha interesse vital em conservar”. 
(TRAGTENBERG, Maurício. Pág. 24). 
 
 
 A reforma chamada “Protestante” viria a ter enormes conseqüências no 
desenvolvimento futuro das relações comerciais entre os países. Os seguidores de 
Lutero e Calvino eram mais liberais no tocante às relações econômicas e não se 
deixavam tolher pela ética cristã,19 contrária aos juros e sempre temerosa de uma 
possível punição divina, em razão de uma prática comercial injusta. Os países que 
primeiro se converteram à pregação luterana e calvinista eram mais pragmáticos; além 
disso, o crescente fortalecimento do Estado, com o fim das suseranias feudais dava 
ensejo a um incremento no comércio entre as nações, bem como à busca de novos 
territórios a serem colonizados. 
 
 
“Assim, precisamente num período em que a expansão dos métodos 
burocráticos no comércio e no governo e o desenvolvimento da fabricação 
em grande escala estavam transformando todo o curso da atividade prática 
numa labuta árdua e cada vez mais destrutiva, o protestantismo desenvolvia 
uma habilidade especial de tirar prazer dessa árdua labuta. Esta foi a 
contribuição especial do protestantismo para o desenvolvimento do 
capitalismo e da indústria mecânica: não iniciá-los, mas torná-los 
toleráveis e instilar neles todas as energias da vida moral. Os trabalhos 
penosos serviam ao protestante de preciosa mortificação da carne; preciosa 
tanto num sentido profano como num sentido espiritual, pois, ao contrário 
dos cilícios e da autoflagelação da santo medieval, sua firme e constante 
concentração no trabalho fastidioso rendia lucros tangíveis”. (MUMFORD, 
Lewis. Pág. 226). 
 
19
 O fundamento das concepções religiosas do protestantismo baseava-se na doutrina pela qual os homens 
se justificam (ou se “salvam”) não pelas obras, mas pela fé. Enquanto esta última favorecia o poder do 
clero católico (única via “salvacionista”), a primeira admitia uma “verdade do coração”, tornando-se o 
homem juiz de si próprio. Esta doutrina individualista chamou a atenção da nova classe média de artesãos 
e negociantes, porque eliminava a culpa que se admitia ser trazida pelo acúmulo de riqueza. Embora a 
ética protestante (o chamado “espírito puritano”) atribuísse grande importância ao ascetismo e à 
temperança, por outro lado admitia uma valorização religiosa do trabalho (considerado uma forma de 
glorificar a Deus) e o próprio lucro, que seria uma mostra da generosidade divina. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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24 
* * * 
 
 A chamada “revolução puritana” veio a se tornar a bandeira ideológica do 
desenvolvimento (em época posterior) do capitalismo inglês, iniciado com a Revolução 
Industrial. 
 A revolução puritana tem cinco períodos delimitados, que podem ser assim 
divididos: de 1642 a 1647, período da guerra civil que derrubou o rei; de 1647 a 1649, 
período que se caracterizou pela luta entre proprietários e lavradores (vencendo os 
primeiros); de 1649 a 1660, em que se consolida a revolução e o domínio de Cromwell, 
que se voltava para o interesse dos novos comerciantes e capitalistas.20 
O quarto período transcorreu durante o reinado de Carlos II e Jaime II. Caracteriza-se 
pelo desaparecimento dos últimos vestígios do feudalismo. O último período vai dos 
Stuarts até o estabelecimento da monarquia constitucional em 1689, quando a Coroa 
aceitou a Declaração de Direitos (mas já em 1688 o governo inglês submetera-se ao 
controle da pequena nobreza e da classe média dos capitalistas). 
 
* * * 
 
 As monarquias absolutistas, sempre com espírito beligerante, exigiam enormes 
somas de dinheiro para as guerra necessárias, dinheiro este que devia provir tanto dos 
impostos internos quanto da exploração externa de colônias ricas, capazes de fornecer 
metais preciosos em grande quantidade. O poder marítimo dividia-se entre Inglaterra, 
França, Holanda e Portugal, países colonialistas por natureza. A expressão do poder e da 
riqueza de uma nação era compreendido como produto do acúmulo de metais preciosos, 
principalmente o ouro e a prata, e eram as colônias que deveriam prover esta riqueza. 
Outra fonte de riqueza estava na exportação de artigos de luxo, que recebiam uma alta 
taxação para limitar a venda interna. A Inglaterra buscou incrementar largamente o 
comércio exterior;21 já a Espanha tendia ao acúmulo irrefreado de ouro, que ia buscar 
em suas colônias. 
 
 
6 – O Regime Colonial 
 
 As grandes navegações iniciadas pelos portugueses, espanhóis, ingleses e 
holandeses, principalmente, propiciaram o descobrimento de terras desconhecidas fora 
do continente europeu, que foram reivindicadas pelas coroas (reinos ou impérios) que as 
descobriram (a que se acrescentam a Bélgica e a França). O continente sul-americano, 
por exemplo, sofreu colonização espanhola e portuguesa, e foi a fonte de grandes 
riquezas minerais, seja de ouro, prata ou pedras preciosas, que enriqueceram o erário 
das nações européias. 
 
 
20
 Este interesse tinha por base a necessidadede Cromwell de arregimentar uma nova classe que o 
apoiasse contra os interesses da nobreza, que poderia tentar fazer voltar o regime monarquista. 
21
 Já no século XV a Inglaterra possuía uma grande indústria têxtil, como também a hegemonia do 
mercado mundial de produtos têxteis. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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25 
“O início dessa colonização de povoamento no século XVII abre uma etapa 
nova na história da América. Em seus primeiros tempos essas colônias 
acarretam vultosos prejuízos para as companhias que as organizam. 
Particularmente grandes são os prejuízos dados pelas colônias que se 
instalam na América do Norte. No êxito da colonização agrícola portuguesa 
tivera como base a produção de um artigo cujo mercado se expandira 
extraordinariamente. A busca de artigos capazes de criar mercados em 
expansão constitui a preocupação dos novos núcleos coloniais.” 
(FURTADO, Celso. Pág. 21/22). 
 
 
 Os territórios reivindicados tornaram-se possessões e/ou colônias, e foram 
progressivamente ocupados por levas de colonizadores, provindos dos continentes 
europeus.22 Durante os séculos XVI a XIX, principalmente, os países europeus 
intensificaram o processo de colonização e dominação (período de expansão colonial), 
como um meio de conquistar fontes de diversos produtos econômicos (especiarias, 
metais e pedras preciosas, açúcar e outros produtos tropicais), necessários ao comércio 
que se intensificava entre as nações. América, Ásia e África foram os continentes 
colonizados, tornando-se fontes supridoras das matérias-primas ansiadas pelas 
metrópoles. 
 Neste período colonialista (denominado de “acumulação primitiva”), também os 
países produtores de especiarias sofreram intervenção militar dos países europeus, 
interessados em dominar este monopólio. Mas onde quer que existisse um interesse 
econômico (extração de metais e pedras preciosas, por exemplo), as potência européias 
colocavam sob o seu jugo militar os países ou nações mais fracos. Um as um, eles 
tornavam-se colônias da metrópole.23 
 A política colonial, ou política comercial imposta às colônias tinha um aspecto 
unilateral, favorável unicamente à metrópole (era o chamado “pacto colonial”). Desta 
forma, era comum que qualquer manifestação contrária a esta política fosse brutalmente 
reprimida, bem como qualquer forma de competição, seja da própria colônia, seja de 
outras nações. Havia um monopólio de compra e venda por parte da metrópole (e a ela 
favorável), como também de exportação/importação e de transportes de mercadorias.24 
Também cabia à metrópole a fixação dos preços das mercadorias. A colônia tinha que 
aceitar essas imposições, ou aceitar os riscos de uma rebelião.25 
 
22
 Em alguns casos, como a colonização do Brasil, por exemplo, as guerras napoleônicas forçaram a 
transferência de toda a corte para o território da colônia, mudando drasticamente o seu status político 
(entretanto, deve-se à perspicácia e ao gênio do Visconde de Cairú ter convencido D. João VI a abrir os 
portos brasileiros ao comércio internacional, em 1808). Antes disso, a colônia não podia comerciar com o 
exterior. 
23
 A disputa entre estas potências, entre outras coisas, levou à criação do Tratado de Tordesilhas. 
24
 Foi esta política monopolizadora que provocou a revolta de várias colônias. A política de comércio do 
sal, por exemplo, deu ensejo às lutas pela independência por parte dos Estados Unidos da América, bem 
como foram o motivo unificador da resistência indiana contra a dominação inglesa. 
25
 Este foi basicamente um fenômeno político (a formação e exploração de colônias), e apenas a forma 
como se desenvolveu a exploração econômica nos interessa realmente, no contexto que estudamos este 
assunto. Politicamente, a colonização pressupõe uma relação de dependência entre o colonizado – a 
colônia – e a metrópole – o colonizador. É um fenômeno que resultou do Mercantilismo, e predominou 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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26 
 
 
 A riqueza resultante da exploração colonial nem sempre se mantinha; muitas vezes, o 
esforço resultante da colonização esgotava os cofres mais rapidamente do que estes se 
enchiam pela exploração. Entretanto, muitas das economias nacionais que vieram a se 
desenvolver propiciaram a formação de um capitalismo incipiente no continente 
europeu, iniciando uma economia de mercado e um sistema financeiro que permitiram o 
enriquecimento e um progresso econômico das nações ocidentais. Além disso, nem 
sempre o processo era extremamente desfavorável para a colônia. Muitas vezes ela 
sofria um processo civilizatório ou de modernização acentuado, que a tirava de um 
estado primitivo no qual sequer possuía uma economia nacional; em alguns casos, a 
colonização forçava a um processo político unificador entre tribos ou etnias rivais, 
eternos adversários na luta pela hegemonia política e pelo poder. 
 
* * * 
 
 Os mercantilistas, ainda que pecassem pelo excessivo valor dado aos metais 
preciosos como fonte de riqueza, ainda assim tiveram o mérito de ter desenvolvido uma 
idéia ou noção nova, qual seja a de economia nacional. Além disso, as formas de 
comércio que desenvolveram criaram as bases políticas para as florescentes dinastias da 
Áustria, de Florença e de Frankfurt, entre outras. Foi daí também que surgiriam os 
modernos e poderosos complexos bancários, base de todo sistema capitalista. 
 
 
até pouco antes da II Guerra Mundial; após esta, as colônias iniciaram um processo irreversível de 
emancipação política e de independência. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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27 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
As Idéias Econômicas do Mercantilismo 
 
 
 Não existiu apenas um sistema mercantilista, mas vários, de acordo com o país. A 
Espanha, por exemplo, confundia os conceitos de “riqueza” e “metal precioso”, achando 
que o mero acúmulo deste levaria àquela. Esta forma rudimentar de mercantilismo era 
chamada de “metalista” ou de “bulionista”.26 Criavam-se medidas para impedir ou 
restringir a saída ou evasão de metais valiosos; por outro lado, criavam-se mecanismos 
para tentar atrair moedas estrangeiras para dentro do país. No comércio entre os países, 
regrada pela chamada “balança de contratos”, os navios espanhóis eram obrigados a 
levar mercadorias e a voltar com cargas de ouro. Quanto aos navios estrangeiros que 
aportavam com suas cargas em portos espanhóis, deveriam voltar com mercadorias, e 
não com pagamento em moedas ou em metais preciosos. 
 Esta concepção mercantilista de “balança de contratos”, devido ao seu caráter 
restritivo, veio a evoluir para o sistema denominado “balança de comércio”. Na troca 
entre metais preciosos, buscava-se sempre uma condição favorável de superávit, que 
assegurasse ao país uma posição de credor. De qualquer modo, concebia-se a riqueza 
como resultado do acúmulo incessante de moeda e de metais preciosos. 
 A França tinha outra posição, denominada mercantilismo “industrialista” ou 
“colbertista”.27 Colbert fomentou a indústria, com a finalidade de aumentar a quantidade 
de mercadorias exportadas, que seriam trocadas por metais preciosos. Caracterizou-se 
pelo intervencionismo de Estado, que outorgava monopólios de produção e 
regulamentava a indústria. O preço do trabalho, ou mão-de-obra, era fixado em um 
máximo. Também a taxa de juros era determinada pelo Estado. A preocupação 
metalista, voltada ao acúmulo de metais pela exportação, além de restringiro consumo 
interno, forçou a ingerência do Estado também em outros campos, como a adoção de 
uma política demográfica (favorável ao crescimento populacional, que redundaria em 
mais gente produzindo) e a organização de um exército poderoso. 
 A Inglaterra, por sua vez, adotou um sistema mercantilista de moldes 
“comercialistas”. Sendo uma grande potência marítima, podia comerciar em grande 
escala em todo o mundo conhecido. Para conseguir um saldo favorável na balança de 
pagamentos, o Estado regulamentava a produção e controlava as vendas no exterior, 
assegurando-se de que a importação de ouro e prata fossem superiores à sua exportação. 
 
 No século XVIII vemos aparecer a forma de mercantilismo denominada fiduciária. 
Entres outros teóricos das idéias econômicas e monetárias, temos o nome de John Law, 
banqueiro escocês que teve extenso papel na evolução destas idéias. 
 Para Law, o aumento da riqueza pública podia ser feito unicamente pelo aumento da 
quantidade de moeda. Ele não se opunha à exportação de metais ou de moedas; também 
achava que não era obrigatório o repatriamento de metal precioso no valor das 
 
26
 De bullion, ouro em barras ou em lingotes. 
27
 De Jean Baptiste Colbert (1619-1683), ministro das Finanças do Rei Luís XIV. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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28 
exportações realizadas. Achava que a simples criação do papel-moeda deveria permitir a 
aquisição de mercadorias, por ser o melhor instrumento de trocas. 
 
 Ele parte de uma análise simples: enquanto persistir a confiança do cliente de um 
banco, ele não irá solicitar a conversão e reembolso de seus “bônus” (os papéis-moeda) 
em espécie metálica. A moeda em papel (notas bancárias, ou moeda emitida por bancos) 
poderia ser emitida em abundância, na proporção de sua procura, sem por em risco o 
desenvolvimento econômico. 
 Mas Law não se deu conta que o excesso de notas bancárias em circulação tinham 
grande influência sobre os preços, que tendiam a elevar-se. Juntando-se a isso o excesso 
de emissões, a confiança dos portadores se evaporou, e houve uma correria para pedir 
reembolsos. Quando o público percebeu que não havia reservas em metais para cobrir as 
notas, o valor destas simplesmente desapareceu, ainda que tivessem curso forçado. 
 Law, evidentemente, fez uma análise contrária; ele não percebeu que deveria ser a 
riqueza que deveria prover o aumento de circulação (por emissão) de moedas, e não o 
contrário. Se não havia reserva de valor, o volume monetário, por si só, também não 
conseguiria garantir o valor da moeda-papel ou nota bancária em circulação.28 Ainda 
que tenha antevisto o sistema de crédito e de trocas comerciais baseado em papel-moeda 
(e não em moedas metálicas), Law não conseguiu perceber que o uso desta deveria 
apoiar-se em uma prosperidade real.29 
 
 
 
28
 Este tipo de equívoco repetiu-se em diversas oportunidades históricas. Logo após a Revolução 
Francesa, a escassez de moedas levou à emissão de papel-moeda cujo lastro seria formado pelas terras 
confiscadas da Igreja. Em pouco tempo, a derrocada inflacionária veio mostrar o erro desta concepção. 
Também no início da República, no Brasil, cometeu-se o erro (a que se chamou “encilhamento”) de tentar 
fomentar a prosperidade econômica através de largas emissões de notas, além da concessão de crédito 
fácil e barato. Em breve, percebeu-se que o valor destas notas emitidas, e das ações das sociedades que se 
criaram eram apenas fumo, fumaça e vacuidade. 
29
 Com o economista David Ricardo, percebeu-se mais tarde que esta prosperidade deveria resultar do 
aumento do emprego e do aumento da renda suplementar que resultaria deste fato. Esta renda suplementar 
aumentaria o consumo, que por sua vez aumentaria a produção. Keynes, futuramente, voltaria a este tema 
da multiplicação real da renda. 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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29 
CAPÍTULO IV 
 
AS ESCOLAS ECONÔMICAS 
 
 
 Denomina-se escola “liberal” às concepções que dão ênfase à iniciativa individual, 
em detrimento da iniciativa do Estado, para realizar a atividade econômica. Este 
movimento individualista caracteriza-se por uma divisa: “laissez-passer; laissez-faire” 
(deixe passar; deixe fazer). O liberalismo econômico, expresso neste sistema 
individualista, vinha como uma reação aos excessos do mercantilismo, que se 
caracterizou pelo exagero de regulamentação e pela ênfase dada à indústria, em 
detrimento da atividade agrícola. Esta política, agravada pelos baixos preços pagos 
pelos gêneros alimentícios, levou a população rural à miséria, bem como trouxe a 
ameaça de fome, pela redução das áreas de cultivo. 
 O excesso de intervencionismo estatal acabou gerando grande descontentamento e 
oposição. Tudo isto veio a provocar uma reação ampla, de índole individualista e 
liberal, bem como de caráter científico, ao se procurar a explicação dos fenômenos 
econômicos. Esta reação se materializou através das escolas chamadas fisiocrática, 
francesa, e clássica, inglesa. 
 
 
7 – A Escola Fisiocrática 
 
 A escola fisiocrática surgiu com a obra do médico François Quesnay, que publicou 
suas investigações sobre economia na Enciclopédia dirigida por Diderot, a partir de 
1756. Para os fisiocratas, as leis que regem os fatos econômicos são leis naturais, e 
assim devem ser compreendidas e estudadas. Há uma ordem natural que tudo rege, e 
que dá apoio ao direito de propriedade privada. Este direito exercia-se livremente, 
proporcionando progresso social e assegurando um preço justo ao produto agrícola. Por 
outro lado, afirma que este preço satisfatório também decorre da concorrência. 
 Os fisiocratas dividem a sociedade em três classes: a classe produtiva, formada pelos 
agricultores; a classe de proprietários de imóveis; uma classe não-produtiva, ou 
“estéril”, formada por comerciantes, industriais, bem como por profissionais liberais e 
outras pessoas que se dedicam ao serviço doméstico. 
 O sistema de circulação da riqueza proposto tem por base a descoberta realizada por 
William Harvey, em 1628, da circulação do sangue no corpo humano. Quesnay 
apresenta um sistema de circulação da riqueza análogo à fisiologia humana. A riqueza 
originalmente produzida pela classe “produtiva” circula pelas classes sociais conforme a 
sua importância, repartindo os bens produzidos. No fim do ciclo, a riqueza volta às 
mãos da classe “produtiva”, que volta a reparti-la (seja por pagamentos, ou por custos 
de produção – a classe “produtiva” obtém o seu lucro pela diferença entre a venda dos 
produtos agrícolas e o seu custo de produção). 
 Entretanto, este ciclo mostra-se estacionário, pois não há produção de novas 
riquezas. Entretanto, ele já dá uma idéia do equilíbrio econômico, idéia que viria a ser 
retomada por Léon Walras em fins do século XIX. 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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30 
 A riqueza somente poderia ser gerada pela produção agrícola, sempre em maior 
volume do que a riqueza consumida. O lucro obtido é chamado pelos fisiocratas de 
“produto líquido”. Assim, a idéia de valor está ligada à idéia de produção, confundindo-
se riqueza e valor.30 
 Este erro de concepção levou os fisiocratas a difundirem uma doutrina de aversão ao 
comércio, de um modo geral, porque ele não seria criador de riqueza. Este erro apenas 
substituiu o erro cometido pelo mercantilismo, o de não dar importância à agricultura. 
 
* * * 
 
 Como já vimos, aceitava-se a existência de uma ordem natural, que Deus criara para 
levar a felicidadeaos homens. As leis naturais não deveriam tolher a liberdade do 
homem, porque esta seria a base do progresso econômico e social. Além disso, este 
progresso baseava-se no direito de propriedade privada. 
 Uma das preocupações dos fisiocratas era com relação ao “bom preço”. Para 
Quesnay, “abundância com preço alto é opulência”. O bom preço aproveitaria a todas as 
classes, pois elevaria todos os preços, trazendo abundância geral. Com relação aos 
impostos, as taxas deveriam incidir unicamente sobre a terra, por ser ela a riqueza real 
(dela provinha o “produto líquido”).31 
 
 
8 – A Escola Clássica 
 
 A partir do século XVII, as teorias mercantilistas já vinham sofrendo grandes 
críticas; William Petty (1623-1687), por exemplo, apontava que a riqueza provinha do 
trabalho, e não do comércio. Os fisiocratas, como vimos, colocavam os bens materiais 
como a fonte das riquezas: estes eram extraídos do solo, mediante o cultivo. Assim, 
somente da agricultura poderia provir o excedente que seria distribuído entre as demais 
classes da sociedade. 
 A partir de Adam Smith surgiu a denominada “concepção clássica da economia”, 
também chamada de Escola Clássica. Em sua obra mais famosa, “A Riqueza das 
Nações”,32 publicada em 1776, Smith aponta que a riqueza é constituída pelos valores 
de uso (seguindo Petty, ele distingue entre o valor de uso e o valor de troca das 
mercadorias). O que determina a riqueza de uma nação é a sua produção total (que 
modernamente diz-se: Produto Nacional Bruto, ou PNB). 
 Uma das análises mais penetrantes de Smith se dá quando ele distingue qual é, 
verdadeiramente, o fundamento do valor de troca.33 Este fundamento não está na 
utilidade da mercadoria, ou na sua capacidade de satisfação das necessidades humanas; 
está, isto sim, refletido no trabalho gasto em sua produção. 
 
 
30
 Apenas em épocas posteriores viriam os economistas a ligar a idéia de valor à satisfação das 
necessidades do homem. Desta forma, a indústria e o comércio, além de gerarem utilidade, aumentariam a 
utilidade das coisas já existentes. 
31
 As constantes sugestões modernas a respeito de imposto único têm nos fisiocratas a sua origem 
conceitual. 
32
 Cujo nome correto era: Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações. 
33
 Valor de troca é a quantidade de mercadorias que se pode obter em troca da mesma. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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31 
 Com base nesta concepção, Smith afirma que a riqueza, para crescer, depende 
diretamente da produtividade do trabalho. Esta produtividade, por sua vez, depende do 
grau de especialização, ou seja, do grau de divisão do trabalho atingido. Esta divisão 
depende ainda da extensão do mercado, o qual é normalmente limitado por todo tipo de 
obstáculos que se opõem ao comércio interno e externo da nação. A divisão do trabalho, 
para acontecer, devia resultar também de uma contínua acumulação de capital.34 Este 
aumento de capital deveria se processar em um regime de liberdade (principalmente 
sem intervencionismo estatal), e a sua causa imediata seria a poupança. 
 Para Smith, quando o comércio provoca a expansão da divisão do trabalho, todos 
ganham, porque se beneficiam do aumento da produtividade. Ele via, na divisão do 
trabalho, a melhor cooperação entre os indivíduos, com vista a um bem comum. Propôs 
o câmbio livre, pois que somente este poderia conduzir ao desenvolvimento das forças 
produtivas. Era, igualmente, a favor de remover todas as limitações ao comércio 
interno.35 
 A ordem natural defendida pelos fisiocratas é entendida por ele de um modo 
racionalista; para ele, o equilíbrio do mercado é regulado por uma “mão invisível”, 
capaz de impedir os excessos de exploração econômica por parte das classes mais 
favorecidas, ciosas de seus privilégios e voltadas aos seus próprios interesses. Esta “mão 
invisível” faria com que a luta pelos interesses de cada um traria, ao final, benefícios a 
todos. 
 Smith mostrou que havia um excedente, ou parte do produto do trabalho. Este 
excedente tomaria a forma de lucro e renda da terra. Antecipando-se de certa maneira a 
Karl Marx, ele chegou a demonstrar como ocorria uma apropriação deste excedente. Em 
oposição aos fisiocratas, afirma que todas as atividades capazes de produzir mercadoria, 
também produziam valor. Este valor pertencia, originalmente, ao trabalhador, quando 
este possuía os meios de subsistência e de produção (inclusive a terra). Quando 
perderam esta propriedade para os capitalistas e para os proprietários fundiários, 
puderam ter acesso a estes meios apenas em troca de uma parte do produto do trabalho 
(o qual seria exatamente o lucro). Entretanto, por lhe faltar uma melhor perspectiva 
histórica, Smith não desenvolveu a idéia, o que viria a ser feito futuramente por Marx. A 
renda da terra, por sua vez, decorria da diferença de custos de produção provocados 
pelas diferenças de fertilidade e de localização da mesma (terras férteis davam maior 
lucro do que terras menos férteis). 
 
 
9 – A doutrina de Malthus 
 
 Robert Malthus foi outro teórico da escola clássica. Basicamente, ele preocupava-se 
com a possibilidade de o crescimento populacional atingir um patamar de crescimento 
superior à capacidade de produção de alimentos. Em um estudo que realizou, chamado 
“Ensaio sobre a População”, ele reflete sobre alguns conceitos demográficos e suas 
conseqüências sobre a população. 
 
34
 Smith distinguia entre capitais circulantes (que hoje se chamam capital de giro), e capitais fixos, ou 
aquele usado para a aquisição de instrumental e maquinaria. 
35
 Que em sua época caracterizavam-se por regulamentações corporativas; vedação ao exercício de vários 
ofícios; proibição de migrações internas; etc. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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32 
 Malthus percebera que existia um descompasso entre o crescimento da população e o 
aumento dos meios de subsistência. Fazendo uma análise científica, ele demonstrou que, 
enquanto o crescimento populacional se dava em proporção geométrica, o crescimento 
da produção de alimentos se dava apenas em proporção aritmética. Sendo assim, podia-
se prever uma catástrofe, a qualquer momento.36 
 Entretanto, ele mostrou ainda que existiam dois tipos de óbices ao crescimento 
ilimitado da população: os repressivos e os preventivos. Os primeiros resultavam de 
fatos naturais (epidemias, doenças, etc.) ou provocados (guerras, conflitos, etc.). Os 
segundos resultariam de um controle espontâneo da natalidade, que entretanto se dava 
em menor escala, e que, para Malthus, deveria não somente ser colocado em prática, 
como também recomendado enfaticamente.37 
 
 
10 – A Teoria da Renda de David Ricardo 
 
 David Ricardo foi outro pensador vinculado à Escola Clássica. Foi bastante 
influenciado pela leitura da obra de Adam Smith,38 que dirigiu sua atenção para a 
economia política. Mas, ao contrário deste e de outros pensadores, Ricardo é menos 
acadêmico do que um filósofo prático, com extraordinário talento para os negócios, e 
com uma visão bastante abrangente a respeito do fenômeno econômico. 
 Suas primeiras especulações dirigem-se para a moeda, e ele demonstra que o valor 
da moeda metálica deriva do trabalho para produzi-la; quanto à moeda fiduciária, ou 
moeda sem lastro, o seu valor depende da quantidade em circulação. Apontou a relação 
entre o comércio exterior e o valor desta moeda: se há excesso de moeda, os preços 
internos sobem, o que leva ao aumento de importação, que por sua vez acarreta déficit 
na balança comercial. Este déficit deverá ser coberto pelasaída de ouro, que ao sair do 
país, elimina o excesso. Por outro lado, se os preços internos baixam, há um incremento 
na exportação, trazendo superávit na balança de pagamentos, e portanto haverá entrada 
de ouro país (este equilíbrio somente irá ocorrer se a moeda possuir lastro, ou ouro 
bastante que sustente o seu valor de conversão). 
 
 
36
 Chama-se “transição demográfica”, a relação entre mortalidade e fecundidade. No Ocidente, a partir do 
século XIX, os índices de mortalidade começaram a declinar lentamente. Mas existe também o chamado 
“índice de mortalidade infantil”, que indica a quantidade de óbitos infantis por cada mil nascimentos. 
Enquanto o primeiro diminui em função de medidas adequadas de higiene e da melhoria da alimentação, 
o último (geralmente endêmico em países do Terceiro Mundo) pode ter causas bem mais complexas. 
37
 Em países de alta densidade populacional, tais como a Índia e a China, o Estado intervém 
vigorosamente com uma política drástica de limitação da natalidade (ou de planejamento familiar). Com 
relação aos temores de Malthus, estes não se concretizaram em virtude da criação de métodos de 
produção agrícola cada vez mais eficientes (o uso de adubos; técnicas mais eficientes de uso da terra; o 
uso de defensivos agrícolas; etc.). 
38
 Contemporâneo de Ricardo, Jean Baptiste Say também sofreu esta influência; na verdade, ele levou as 
idéias de Smith para a França. Deve-se a Say a famosa lei dos mercados, bastante citada nos livros de 
texto, até a atualidade. Para ele, da produção de bens provém uma demanda global efetiva, que é capaz de 
adquirir a oferta global destes bens. Em outra palavras, jamais pode haver uma escassez de demanda, que 
é a contrapartida da superprodução (esta lei, como veremos oportunamente, foi refutada por John 
Maynard Keynes, quando ocorreu a Grande Depressão). 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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33 
 Ricardo elaborou uma teoria geral da renda, que ele baseou em hipóteses 
econômicas. Ele considera que em um primeiro momento, haverá um acesso em comum 
a terras férteis, que serão cultivadas com o mesmo custo, e vendidas ao mesmo preço; 
não há, pois, renda, pois que o lucro é igual para todos. 
 Com o aumento da população, novas terras deverão ser cultivadas, para suprir a 
alimentação dos novos contigentes populacionais. Entretanto, só estarão disponíveis, 
nesse instante, terras menos férteis, cujo cultivo terá maior custo. Assim, eleva-se o 
preço de venda (admite-se que a produção feita em terras mais férteis terá seu preço 
ajustado aos das terras menos férteis; assim, o lucro das primeiras será maior, porque 
terão um lucro suplementar, independente do capital e do trabalho dedicado à 
produção). O que não se pode admitir, seria vender abaixo do preço de custo. 
 Em um processo crescente, provocado pelo aumento populacional, novos contigentes 
de produtores entram no esquema, em uma escala decrescente de lucros. Haverá sempre 
uma diferença de custos entre os primeiros e os últimos produtores, acarretando o que se 
denomina renda diferencial. 
 Levando mais longe o seu raciocínio, Ricardo chega ao momento em que já não 
haverá mais terras disponíveis. Mas como a população continua crescendo, os preços 
também sofrem aumentos constantes. Esta alta de preços traz uma renda suplementar 
àqueles que detêm as menos férteis das terras (terras marginais). Neste caso, não se 
chama de renda diferencial, mas de renda de monopólio. 
 Os proprietários das terras mais férteis, em todos os casos, estarão sempre 
aumentado os seus preços (e incrementando a sua produção), para aproveitar o preço 
ditado pelo custo de produção das terras menos férteis. Entretanto, esta produção 
suplementar exige, por sua vez, quantidades cada vez maiores de trabalho e de capital, 
os quais deverão ser remunerados.39 
 A necessidade progressiva de explorar terras sempre menos férteis altera esta 
repartição. Enquanto a renda aumenta sem limite, o salário e o lucro tendem a 
diminuir.40 O primeiro, pela crescente oferta de mão-de-obra; quanto ao lucro, tende a 
uma margem cada vez menor, devido aos custos crescentes de produção. Mas, ainda que 
a renda aumente, haverá uma queda nas taxas de juros, e com isto uma queda na 
poupança, o que por fim levaria a uma estagnação na indústria. 
 Analisando os detalhes práticos da política econômica inglesa, Ricardo se opôs às 
restrições legais à importação de trigo, que só poderia ser feita caso o preço 
ultrapassasse um determinado patamar. Para ele, o alto preço do produto impunha altos 
salários nominais, que traziam redução nos lucros. O acúmulo de capital que se daria a 
partir dos lucros vê-se impedido, e até ameaçada a expansão da atividade econômica, 
porque a elevação dos preços limitava a acumulação. 
 
“Ricardo era contemporâneo do início da Revolução Industrial e 
identificava-se com a burguesia industrial, cujos interesses supunha que 
coincidiam com os de toda a sociedade. Verificava que o excedente se 
repartia lucros e renda da terra e defendia abertamente uma política 
 
39
 A remuneração pela venda dos produtos agrícolas tinha três destinatários: a renda, para os proprietários 
da terra; o salário, para remuneração do trabalho; o juro (na verdade, o lucro), ou remuneração do 
capitalista empreendedor (esta é a teoria da repartição, de Ricardo). 
40
 O salário nominal, que acompanha a alta de preços, poderia aumentar; não, entretanto, o salário real. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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34 
favorável ao lucro em detrimento da renda. Ricardo tomava, dessa maneira, 
posição no conflito de classes a favor da burguesia, o que o levou a entrar 
em polêmica contra o seu amigo Malthus, que era partidário dos 
proprietários fundiários.” (4) 
 
 
* * * 
 
 Numerosas críticas surgiram a respeito da explicação generalista que Ricardo tentou 
estender a todos os casos de renda fundiária (mas não da sua teoria, do modo como ele a 
expôs). Por exemplo, o economista Charles Henry Carey (1793-1879), que também 
estudou a renda, contestou a idéia de que a exploração da terra passava forçosamente 
por estas etapas, como se fosse uma lei histórica imutável.41 
 Analisando a forma como se deu a exploração de vários países, mesmo na Europa, 
Carey observa que muitas vezes, o início da exploração agrícola se dá a partir de terras 
menos férteis, principalmente se se encontram em território a salvo de invasões, ou 
mesmo se são de maior facilidade de cultivo. Em seguida, podia-se se passar (o cultivo) 
para terras mais férteis. Essa ordem de cultivo, para Carey, daria origem a uma possível 
baixa progressiva do preço dos produtos, e com isso, do valor da terra (Carey chegou a 
negar a possibilidade de existência da renda).42 
 Para Ricardo, o valor baseia-se estritamente no trabalho;43 ele rejeita a utilidade44 
como causa e medida do valor. Para ele, havia duas espécies de bens: aqueles não 
suscetíveis de reprodução, cujo valor depende de sua raridade e da relação entre oferta e 
procura; e aqueles suscetíveis de reprodução indefinida, sempre a um mesmo preço de 
custo. 
 
* * * 
 Ricardo também fez interessantes estudos a respeito de moeda, crédito e comércio 
internacional. Para ele, cada país está, em um determinado instante, em equilíbrio 
 
41
 Segundo John Kenneth Galbraith, nos Estados Unidos a civilização e o aumento populacional 
pressionaram a que o plantio se deslocasse não para solos mais pobres, mas sim para solos muito mais 
férteis (a colonização do território americano deslocou-seprogressivamente de leste para o oeste, que 
tinha terras mais ricas para o plantio. Estas terras a oeste, posteriormente, devido ao aumento 
populacional e às ferrovias, viriam a sofrer extensa valorização, com a conseqüente especulação sobre 
elas). 
42
 A chamada lei do rendimento decrescente proposta por Ricardo, apesar de exata, vem-se se mostrando 
inoperante pela força dos fatos históricos mais recentes. O progresso técnico, o aumento do rendimento 
ocasionado por novas técnicas de cultivo, o desenvolvimento dos meios de transporte, tem mostrado que 
esta lei só tem eficácia em determinados momentos históricos de sistema econômico mais simplificado, 
voltado principalmente para a agricultura. Além do mais, a teoria da renda proposta por ele não leva em 
conta o fator procura, mas sim a oferta. Stuart Mill, em oposição a este fato, apontou para o fato de que 
era perfeitamente possível toda a terra de uma nação ser cultivada (qualquer que fosse a sua qualidade), e 
ainda assim proporcionar uma renda. 
43
 Esta teoria do valor-trabalho, entretanto, carecia de uma maior fundamentação, e mesmo Ricardo tinha 
dúvidas a seu respeito. Por exemplo, como explicar o valor de um diamante frente ao trabalho de 
extração, ou como explicar que alguns produtos tinham variação de preço de um ano para outro, ainda 
que o trabalho não variasse? (era o caso, por exemplo, das safras desiguais de uvas, que alteravam o preço 
do vinho). 
44
 Capacidade inerente a uma coisa, de satisfazer nossas necessidades. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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35 
monetário resultante de sua atividade econômica, do sistema monetário e do sistema 
bancário. Este equilíbrio não está relacionado com a quantidade total de moedas e de 
metais preciosos que existe em todo o mundo. Admite-se que os metais preciosos 
possuem a mesma capacidade de aquisição de mercadorias, em cada país. 
 Em sua análise, ele afirma que o equilíbrio decorre da relação entre um superávit 
inicial, que: 1) provoca a entrada de ouro em função do excedente exportado; 2) 
provoca uma alta de preços; 3) provoca um aumento das importações (com a saída de 
ouro correspondente); e que, 4) acaba por levar a um déficit na balança na pagamentos, 
até que, 5) se atinja o equilíbrio entre os preços e a distribuição do ouro.45 
 Ricardo notou também que os países de economia mais desenvolvida (e de preços 
mais baixos) atraíam moedas e metais de países menos desenvolvidos.46 Ao identificar a 
moeda metálica com a moeda bancária (papel-moeda), ele fez várias ilações, das quais 
extraiu várias propostas: a criação de um sistema monetário de papel-moeda em 
circulação e de conversibilidade em ouro; criação de bancos nacionais; políticas de 
deflação; etc. 
 
 
11 – A Influência da Escola Clássica 
 
 As idéias econômicas clássicas tiveram extrema influência no comportamento 
prático das nações, seja na política fiscal, seja nas idéias monetárias e nos fatos 
econômicos. As idéias defendidas por Ricardo fizeram-se sentir, por exemplo, quando 
da promulgação do “Bullion Report”, de 1810, como no “Act” (Lei) de Peel, de 1844, 
que procedeu à reforma do Banco da Inglaterra. 
 No século XIX procedeu-se à revogação, na Inglaterra, de uma série de leis 
protecionistas (até criando-se leis antiprotecionistas), e tomaram-se medidas a favor do 
câmbio livre, bem como outras medidas de forte influência clássica, principalmente 
ricardiana. No continente (na França), as idéias pessimistas de Malthus não encontraram 
eco; ao contrário, a maioria dos autores que escreviam acerca de economia tinham 
propensão ao otimismo. E enquanto a escola inglesa dava ênfase à propriedade rural e à 
renda, a escola francesa privilegiava o empreendedor e o lucro. Colocou também a 
indústria como o centro da produção, e a produção como o centro da economia. 
 
 As idéias econômicas clássicas continuaram a influenciar a próxima geração de 
economistas de fins do século XIX e início do século XX.47 O economista Mac-Leod 
 
45
 Esta análise, por se basear unicamente quantidade do ouro, sem levar em consideração a quantidade de 
moeda, acabou por ser abandonada. Ricardo acreditava que somente o ouro bastava para fazer variar os 
preços. Por outro lado, ele também acreditava que a oferta da moeda bastava para regular a procura; mas, 
por confundir a moeda-ouro com a moeda-papel, não foi capaz de perceber que a primeira tinha função de 
instrumento de reserva de valor, enquanto que a segunda era apenas um título jurídico, sem valor real e 
nem sempre conversível ou procurada internacionalmente (modernamente, apenas as moedas “fortes” 
costuma ser entesouradas). 
46
 Atualmente, esta relação decorre da relação cambial entre as moedas dos vários países, e de sua 
produção industrial. Países como China e Japão, de moeda desvalorizada, mas de grande produção 
industrial, possuem superávits em suas balanças de pagamento em razão da proporção entre os volumes 
de exportação e de importação. Países deficitários serão aqueles que exportam menos e importam mais (o 
que provoca desequilíbrio na balança de pagamentos). 
47
 E continuam a influenciar até os tempos modernos. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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36 
fez um amplo estudo a respeito da natureza do crédito, e do papel exercido pelos 
bancos, em sua criação. Ele apontou a semelhança existente entre a nota de banco e os 
créditos bancários utilizáveis através de cheques. Achava que se devia substituir a noção 
de criação de riqueza pela de criação de utilidade. Mostrou, entre outras coisas, que as 
dívidas e os créditos também são bens econômicos a se levarem em conta. Sendo assim, 
concluía-se (como ele o fez) que poderiam existir utilidades econômicas em potencial, 
ou futuras.48 
 
* * * 
 
 No século XX, surgiram novas tendências no pensamento do classicismo. Registra-
se o aparecimento das escolas históricas, hedonista e intervencionista moderada. Deve-
se às primeiras a metodologia de análise e de dedução; às segundas, a noção de 
utilidade, produtividade marginal e de equilíbrio econômico; às terceiras, a concepção 
de intervencionismo de Estado, permeado por um liberalismo moderado. 
 
12 – Stuart Mill 
 
 John Stuart Mill (1806-1873) é o filósofo da “justiça social”, e, ainda que de 
tendência liberal, inicialmente, voltou-se posteriormente para uma corrente de 
pensamento de molde socialista e intervencionista. Mill preocupou-se, e fez uma 
distinção radical entre os fenômenos da produção e da repartição. Para ele, os primeiros 
eram fixos e rígidos, e não podiam sofrer intervenção humana para modificá-los. Já os 
segundos, dependiam da vontade humana. 
 Mill achava que a distribuição da riqueza podia ser submetida a regras da sociedade, 
e ele mesmo propôs algumas medidas de organização social, para melhor repartição 
desta riqueza. Ele é, a um só tempo, individualista e intervencionista; enquanto defende 
a expansão da pequena propriedade agrícola, por outro lado volta-se para medidas 
arbitrárias de restrição da prole (neste caso, mostra-se um neomalthusiano convicto). 
Propôs o desenvolvimento de cooperativas de produção, pois achava que isto 
transformaria a classe obreira em capitalista. Mas não deixa também de ansiar por uma 
ordem futura, baseada no comunismo, como ele a definia. 
 Era, claramente, um reformista social, devido às suas preocupações humanitárias, 
mas suas idéias sofrem de freqüente contradição, quando buscava conciliar pontos de 
vista opostos, sobre os quais não tinha uma posição definida; nestes casos, seu 
pensamento se mostrava nebuloso. 49 Mas suas idéias, principalmente o conceito de 
dinâmica econômica(ou transformação econômica) viriam a permitir que se fizesse 
posteriormente, em épocas posteriores, uma distinção entre “Economia Pura” (que 
lançava mão do método matemático para pesquisar a relação entre os fatos econômicos) 
e “Economia Aplicada” (os conceitos e ferramentas teóricas utilizados pelas autoridades 
que podem decidir sobre os fatos econômicos). 
 
48
 Muito do atual comércio mundial se faz em compra e venda de bens futuros (é o chamado mercado de 
futuros). 
49
 A crítica moderna sobre Mill aponta o fato de que ele separou arbitrariamente dois fenômenos 
econômicos que são estritamente solidários e interdependentes, e que não podem ser divididos do modo 
como ele o fez. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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37 
CAPÍTULO V 
 
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A TESE SOCIALISTA 
 
 
13 – A Ascensão da Classe Burguesa 
 
 A Revolução Industrial teve início, basicamente, na Inglaterra, nas primeira três 
décadas do século XVIII (teve seu auge entre 1750 e 1830). Foi uma transição de uma 
economia de moldes agrícolas e artesanais, para outra predominantemente urbano-
industrial. O acúmulo de capital decorrente do extenso comércio com as colônias deu 
ensejo a um grande crescimento econômico, que por sua vez deu ensejo ao surgimento 
de novas técnicas de produção. Aliado ao acesso a grandes reservas de recursos 
naturais, tudo isto permitiu a criação de grandes fábricas equipadas com máquinas que 
tinham sido inventadas recentemente, graças aos progressos paralelos da ciência e das 
técnicas.50 Na Inglaterra, a Revolução Industrial provocou dramáticas e repentinas 
transformações na repartição da demografia nacional, com afluxo em massa de mão-de-
obra para as cidades, a partir dos campos. O ritmo de urbanização corria a par de uma 
intensificação do crescimento demográfico. Se antes de 1840 havia apenas duas cidades 
na Inglaterra com mais de 100.000 habitantes, depois de 1910 já existiam quarenta e 
oito. Nos últimos trinta anos do século XIX, cerca de um terço da população rural já 
havia migrado para as cidades, engrossando o contigente de trabalhadores na indústria e 
tendo uma vida miserável. 
 
 A Revolução Industrial teve uma multiplicidade de causas. A Revolução Comercial 
já propiciara fazer surgir novas invenções, tais como o relógio de pêndulo, o 
termômetro, a roda de fiar e o tear, bem como novas técnicas metalúrgicas. Progressos 
paralelos ocorreram em outras indústrias, tais como a vidraria, a relojoaria, a construção 
naval e a carpintaria. A imensa disponibilidade de capitais que surgira a partir do 
intenso acúmulo de metais preciosos provocou um surto de novos negociantes que 
buscavam incessantemente novas formas de lucrar; entretanto, com o correr do tempo 
havia cada vez menos atividades lucrativas. A procura intensa por produtos 
“industrializados” (de início, apenas manufaturados, em escala doméstica) provocou a 
necessidade de aumentar a produção destes produtos, o que se podia fazer unicamente 
adotando melhoramentos mecânicos. O crescente povoamento das novas colônias 
obrigava a aumentar constantemente a quantidade de produtos para exportação. A 
produção de ferro, que exigia inicialmente um grande consumo de carvão, ao passar a 
usar o coque (cujas minas estavam normalmente inundadas) levou à necessidade de 
encontrar bombas eficientes capazes de fazer a sucção desta água das minas; isto acabou 
levando à invenção da máquina a vapor, que se tornou verdadeiramente o ícone da 
revolução industrial em progresso. Também a necessidade premente de mecanização da 
 
50
 Foi a época das grandes máquinas a vapor, que vieram substituir extensamente o trabalho humano. Na 
verdade, há um paralelo possível entre a industrialização desta época, e a robotização, que é uma 
característica crescente das fábricas do final do século XX e início do século XXI. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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38 
indústria têxtil levou ao desenvolvimento da máquina de fiar e do tear hidráulico, e não 
tardou a que novas máquinas fossem inventadas para os outros tipos de manufatura. 
 A Revolução Industrial acelerou a divisão da sociedade em duas novas classes: a 
burguesia industrial e o proletariado. A revolução política representada pela Revolução 
Francesa já tinha mostrado o abismo existente entre as classes sociais, e os anseios 
populares de justiça e de inclusão social. A distribuição (ou repartição) da riqueza se 
dava principalmente entre as classes favorecidas, entre as quais a nobreza e os 
representantes do clero. A grande massa do povo vivia na miséria, contemplando 
impotentes a opulência e o luxo das outras classes. Agora, a emergência desta nova 
classe social (a burguesia) mostrava uma dinâmica social cuja causa só poderia estar nos 
fenômenos econômicos. Se o fim do feudalismo permitiu maior mobilidade social, o 
mercantilismo permitia por sua vez que, através do comércio, novos contigentes sociais 
pudessem ascender economicamente, com o conseqüente aumento de status político. 
Entretanto, esta ascensão social era privilégio de poucos; o novo liberalismo econômico, 
bem como o sistema capitalista que teve início com a Revolução Industrial, apesar de 
propiciarem esta ascensão social, por outro lado escancaravam novos abismos entre as 
classes, e já em 1848 ocorriam convulsões sociais provocadas pela situação de miséria 
das populações, miséria esta basicamente provocada pela exploração dos pobres pelos 
novos ricos. 
 
* * * 
 
 A inexistência total de uma política oficial de proteção ao trabalhador permitiu aos 
capitalistas que exercessem uma exploração da mão-de-obra trabalhadora, que se 
submetia a extensas jornadas de trabalho, sem contrapartidas de salário justo, descanso 
ou mesmo proteção no caso de doença. As condições de vida para os trabalhadores 
urbanos eram terríveis, e os salários permitiam apenas um mínimo de subsistência, 
próximo à miséria. Por outro lado, mesmo entre os capitalistas as condições da 
economia eram desfavoráveis, porque a competição acirrada muita vezes trazia como 
conseqüência a falência ou a absorção pelos mais fortes (o que acarretava, cada vez 
mais, a formação de monopólios). 
 
“A experiência histórica demonstra que sempre que as sociedades 
precisaram obrigar parte de seus membros a apertar os cintos e a viver ao 
nível da subsistência, foram os de menor poder econômico e político que 
tiveram que arcar com os sacrifícios. Foi o que aconteceu na Inglaterra, à 
época da Revolução Industrial. Em 1750, a classe operária vivia em 
condições extremamente precárias, próximas ao nível de subsistência, e seu 
nível de vida (avaliado em termos do poder aquisitivo dos salários) 
deteriorou-se durante a segunda metade do século XVII.” (ADAM 
SMITH/RICARDO. Pág. 246). 
 
* * * 
 
 Como vimos, o liberalismo dos clássicos decorria de uma visão de mundo no qual 
pensavam existir uma ordem natural. Este liberalismo batia-se pela liberdade 
econômica, pela livre concorrência e pelo individualismo, opondo-se a qualquer 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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39 
restrição legislativa ou regulamentação estatal, somente aceitando a regulamentação do 
mercado. Mas contra esta concepção viria a formar-se, no início do século XIX, uma 
reação geral provinda principalmente dos pensadores socialistas. Em 1867, Karl Marx 
editou a sua obra máxima, “O Capital”, na qual fez uma extensa análise das 
conseqüências da adoção deste tipo de concepção econômica (o capitalismo) e suas 
conseqüências deletérias sobre o campesinato e sobre ooperariado. Antes, contudo, 
veremos o que veio antes. 
 
 
14 – O Socialismo Pré-Marxista 
 
 A injustiça flagrante desta nova sociedade fez com que vários filósofos e pensadores 
se levantassem contra ela. Os socialistas, por exemplo, que se batiam pela igualdade 
entre os indivíduos, 51 vieram propor formas de repartição, tanto da riqueza, quanto dos 
meios de produção (que podiam produzi-la). Idéias como participacionismo, 
apropriacionismo e coletivismo eram bastante comuns, sempre com a idéia de 
compartilhamento da propriedade como fundo comum. Outro ponto característico do 
socialismo era a restrição à propriedade; o socialismo não admitia senão um mínimo de 
propriedade privada. Mas também a liberdade se restringia (e com ela a livre iniciativa, 
característica do capitalismo). Como substituto à livre concorrência, propunha-se a 
planificação ou planejamento.52 Os socialistas se dividiam entre voluntaristas (que 
acreditavam que as medidas econômicas seriam aceitas pelos interessados) e em 
autoritários (que pensavam que se devia lançar mão da coerção, para obrigar a esta 
aceitação).53 
 Contra a ordem natural defendida pelos economistas clássicos, que viam a natureza 
como um reflexo das leis divinas, o socialismo propôs o materialismo, segundo o qual a 
vida orgânica seria a principal finalidade da vida humana (e que a matéria determinava a 
formação da consciência, por ser anterior a ela); contra o livre-arbítrio (que dava 
fundamento à liberdade econômica), propôs o determinismo (filosofia coerente com o 
ceticismo, para a qual os fatos humanos são determinados pela história ou pelas 
correntes sociais preponderantes). 
 
 
 
 
 
51
 A indefinição deste conceito de igualdade provocou extensas polêmicas, tanto entre socialistas quanto 
entre os seus críticos. Na verdade, jamais se chegou a um consenso sobre ele, e os regimes políticos que 
se diziam “socialistas” mostraram que sua sociedade ideal podia se mostrar extremamente desigual (foi o 
caso, por exemplo, da classe burocrática soviética, denominada Nomenklatura, que detinha privilégios 
não alcançados pela população em geral). 
52
 A extinção da União Soviética e a abertura política e econômica decorrente puseram a nu os excessos 
do planejamento oficial, que controlava de modo avassalador todos os aspectos da vida econômica. 
53
 O socialismo marxista sempre teve esta tendência, e os países que adotaram o socialismo tornaram-se 
regimes fechados, exatamente para impor suas idéias e reprimir pela força os dissidentes. O Camboja, em 
época bem recente, sofreu um mortícinio que eliminou mais de três milhões de pessoas, em nome do 
“purismo” marxista. A própria Rússia sofreu tanto nas mãos de Stálin que Khruschev se viu obrigado a 
denunciar o “stalinismo”, quando se tornou Primeiro Ministro. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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40 
15 – O Socialismo de Karl Marx 
 
 O socialismo pré-marxista era voltado a ideais de uma sociedade onde fossem 
abolidas as diferenças sociais, como também a propriedade privada e o princípio do 
lucro. Nesta época, tornou-se comum a tentativa de criar comunidades ideais, em que se 
voltaria ao “comunismo primitivo”. Cooperativas (ou falanstérios, como foram 
denominadas) eram incentivadas, mas todas as iniciativas neste sentido acabaram 
redundando em fracasso.54 Mesmo os socialistas mais moderados eram a favor de que o 
Estado se apropriasse da administração da produção e da distribuição. 
 Marx classificava as idéias socialistas anteriores a ele “socialismo utópico”;55 ele 
propôs uma nova interpretação tanto das leis econômicas quanto das leis históricas, à 
qual deu o nome de “socialismo científico”. Para ele, os socialistas anteriores eram 
apenas filantropos, que se indignavam com a exploração desumana que foi uma 
característica do início do capitalismo. Muitos pertenciam à própria classe que 
abominavam, e os verdadeiros revolucionários seriam poucos. 
 
 Marx tinha uma formação filosófica, e foi bastante influenciado por Hegel, um dos 
maiores filósofos alemães. Ele aderiu ao materialismo histórico, e usou o processo 
chamado de “análise dialética” de Hegel para explicar a História, os sistemas e as 
instituições sociais. Para Marx (e seguindo o pensamento de Hegel), a História move-se 
dialeticamente, devidos às forças sociais antagônicas que se criam em seu seio: a vida 
econômica, social e política estão em constante transformação. Marx dedicou a sua vida 
a tentar descobrir quais eram as forças sociais subjacentes a este processo, cujo 
resultado era a História. De acordo com a lógica dialética de Hegel (ou dialética dos 
opostos), há três elementos da realidade: a tese; a antítese; a síntese.56 Tais elementos 
foram apropriados por Marx para a sua explicação da História, que se dava por 
movimentos sociais que criavam antagonismos internos (que ele chamava de 
contradições); tais contradições resultavam das relações de produção e das forças 
produtivas materiais. 
 
 Em outras palavras, Marx disse que o que movia a História era a economia. A base 
econômica da sociedade (modo de produção) influenciava todas as demais instituições 
sociais. Ele a chamou de infra-estrutura. As demais instituições (religião, sistemas 
políticos, leis, costumes, etc.), ele chamou de superestrutura. Assim, sobre uma infra-
estrutura econômica erguia-se uma superestrutura jurídica e política. 
 
54
 Talvez uma das poucas iniciativas de vida comunal que deram certo foram as comunidades criadas em 
Israel, os denominados kibutzim. Kibutz é uma fazenda coletiva, que se baseia no regime de propriedade 
comunal e na cooperação voluntária. Tiveram início bem antes da formação do Estado de Israel (que se 
deu em 1948), a partir do início do século XX, em terras palestinas (à época). Os moldes pelas quais 
foram criados tiveram inspiração nos ideais socialistas dos imigrantes sionistas russos. 
55
 Entre os nomes mais famosos, representantes de várias tendências do socialismo, temos: Robert Owen; 
Charles Fourier; Louis Blanc; Gracchus Babeuf; Michael Bakunin; Eugen Dühring; Auguste Blanqui; 
Peter Kropotkin; William Godwin; Henri de Saint Simon; Pierre Proudhon; Thorstein Veblen. 
56
 De acordo com Hegel, a história se desenvolve assim: em um primeiro momento surge a tese, um 
momento da realidade que se impõe; em seguida, surge uma reação, chamada antítese. Posteriormente, 
surge uma conciliação entre os contrários, chamada antítese (e que se torna uma nova tese, para 
movimentos futuros). 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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41 
 
 O modo de produção seria formado por dois elementos: as forças de produção; as 
relações de produção. As primeiras são constituídas por fábricas, ferramentas, 
equipamentos em geral; as segundas são formadas pelas relações sociais que os homens 
mantêm entre si. Ele destacava, entre elas, a relação de propriedade que cada classe 
estabelecia com os meios de produção. O modo de produção da vida material 
determinava o desenvolvimento da vida social, política, intelectual, etc. Após um certo 
estágio de desenvolvimento, as forças de produção entram em contradição com as 
relações de produção existentes (ou relações de propriedade). Deste choque surge uma 
época de revolução social, que busca transformar a base econômica, pela mudança das 
relações de produção. 
 Para Marx, houve quatro sistemas econômicos (modos de produção distintos), ao 
longo da evolução da civilização européia: o comunismo primitivo; o escravismo; o 
feudalismo; o capitalismo. Cada um destes sistemas era dominado por um modo de 
produção,caracterizado por determinadas forças produtivas e relações de produção, 
com uma estrutura particular de classes. 
 
 Marx vê com olhos bastante críticos a fase do capitalismo, que ele coloca como uma 
característica da classe “burguesa”,57 classe dominante que detinha o modo de produção 
e explorava economicamente a classe de trabalhadores (proletários, operários e 
camponeses), que se opunham dialeticamente entre si, dando ensejo a uma interminável 
“luta de classes”.58 Este conceito de luta de classes59 foi aproveitado por ele (juntamente 
com a análise dialética de Hegel) para definir a História como uma sucessão de 
movimentos sociais de oposição entre si, compostos por várias fases: a formação de 
uma classe social; o avanço desta classe em direção a novas estruturas sociais, num 
movimento contrário às classes já existentes, que buscam o seu status quo; revoluções 
sociais como forma de transformar os modos de produção em propriedade social (a 
síntese dialética histórica). 
 
 Para Marx, o comunismo seria a última forma de sociedade, na qual o proletariado 
seria a última classe.60 Suprimidas todas as classes, o próprio Estado já não teria razão 
de existir.61 Entre a sociedade capitalista e a comunista, haveria um período de 
transformação revolucionária, caracterizado pelo que chamou de “ditadura do 
proletariado”. Como socialista autoritário, e também em razão de sua análise histórica, 
Marx acreditava que as classes dominantes não entregariam facilmente o poder (os 
 
57
 Que começara a surgir a partir da Revolução Francesa. 
58
 No Manifesto Comunista, Marx afirma que “a história de todas as sociedades até hoje existentes é a 
história das lutas de classes”. Curiosamente, Marx, que era contra a exploração dos trabalhadores pelos 
capitalistas, não tinha uma posição clara contra a escravidão negra, ainda imperante em sua época (os 
últimos países a aboli-la foram Cuba, em 1880, e Brasil, em 1888). 
59
 Já conhecido por outros autores anteriores, tais como Maquiavel, Sismondi, Thierry, Thiers, Carlyle, e 
muitos outros historiadores e economistas. 
60
 Dialeticamente, seria a síntese histórica final de todos os movimentos sociais passados, cujas teses e 
antíteses (ou contradições internas, como Marx as chamava) redundavam em sínteses insatisfatórias, por 
não trazerem o final das lutas de classes. 
61
 A maioria dos marxistas acreditava que esta fase estaria em um futuro muito distante. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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42 
modos de produção), e que portanto deveriam ser desalojadas (pela força da 
revolução).62 
 
 Engels, parceiro teórico das idéias de Marx, afirmava por sua vez que o proletariado 
deveria se apoderar da força do Estado e começar a transformar e transferir para este os 
meios de produção. Somente assim ele iria se destruir como proletariado, pela abolição 
de todas as distinções e antagonismos de classe. E somente assim o próprio Estado 
poderia ser abolido. 
 Para Engels, a classe antiga, que se move através dos antagonismos de classe, tem 
necessidade do Estado, pois somente através dele pode manter a sua força exploradora e 
sua força de opressão contra as classes trabalhadoras. 
 
 
62
 Lênin, a este respeito, manifestou-se assim: “Por dois motivos e em dois sentidos diferentes, a ditadura 
é necessária na transição do capitalismo para o socialismo. Em primeiro lugar, a vitória do proletariado é 
impossível sem a opressão mais absoluta exercida sobre as classes dominantes, que não querem renunciar 
a seus privilégios e que durante muito tempo colocarão todas as forças em movimento para derrubar o 
governo proletário que odeiam. Por outro lado, nenhuma grande revolução, sobretudo socialista, é 
possível sem guerra civil, mesmo se reina a paz com as potências estrangeiras” (CASTRO, Paulo. Pág. 
155.). 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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43 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
A Teoria Econômica de Marx 
 
 
 Marx foi um escritor extremamente prolixo, e sobre economia, suas obras são 
inúmeras.63 Para ele, toda mercadoria deveria satisfazer uma necessidade (deveria ter 
um valor de uso). Ele identificou o valor de troca da mercadoria, e afirmou que toda 
mercadoria acabada (produzida) tinha um valor maior do que o valor dos seus 
componentes. Assim, um casaco teria um valor maior do que o valor do tecido utilizado 
em sua confecção. Ele explicava este acréscimo de valor como resultante da quantidade 
de trabalho. Mas havia o trabalho médio simples, e o trabalho complexo. O primeiro 
varia conforme o país, enquanto que o segundo seria uma espécie de múltiplo do 
primeiro, com custos mais altos e de maior duração. 
 A troca de mercadorias se daria através de um equivalente geral, o dinheiro. Este 
seria a medida padrão para todas as mercadorias, com “consistência objetiva e validade 
social universal”. Produtos diversos de trabalho são equiparados, e o valor da 
mercadoria, normalmente, tem o seu valor de troca determinado através do tempo de 
trabalho. Este valor da mercadoria não é o seu preço, mas está intrinsecamente ligado a 
ele (na troca de mercadorias simples, predomina o valor de uso). Por fim, preços 
diferentes podem representar quantidades iguais de trabalho social. 
 
 Marx afirma que os meios de produção transferem valor ao produto pela perda do 
valor próprio, durante o processo de trabalho. A diferença excedente entre o valor total 
do produto e a soma dos elementos que o formam tem origem na força de trabalho 
humana, que expende mais esforço do que aquele necessário à própria subsistência. 
Quanto ao capital, uma parte se mantém constante (é o chamado capital constante), 
quando convertida em instrumentos de produção; já aquela convertida em força de 
trabalho muda de valor no processo de produção. Além do próprio valor (que ela 
reproduz), há um valor excedente, que Marx chama de mais-valia.64 Esta parte do 
capital pode ser maior ou menor; ele a chama de capital variável. 
 Esta parte do capital (a mais-valia) torna-se objeto de litígio entre o capitalista e o 
trabalhador, principalmente pelo que ela representa de diferença entre o tempo de 
trabalho excedente e o tempo de trabalho necessário ao sustento da força de trabalho 
(materializada na jornada de trabalho. Marx afirma que, na história da produção 
capitalista, a regulamentação da jornada de trabalho é um embate incansável entre a 
classe capitalista e a classe trabalhadora.65 
 
63
 Dos seus vários textos, podemos citar: O Capital; Introdução à Crítica da Economia Política; 
Contribuição à Crítica da Economia Política; Salário, Preço e Lucro; Teorias sobre a Mais-Valia; etc. 
64
 O conceito de mais-valia tem sofrido extensas críticas de vários economistas. Ele não surgiu com Marx; 
na verdade, os fisiocratas já utilizavam um conceito semelhante quando acreditavam que somente a 
agricultura produzia riqueza, e portanto somente ela produzia um excedente que podia ser tributado. 
Muitos economistas criticam a noção de que a produção, de algum modo, possa criar um excedente de 
receita, que é acumulado por determinadas classes. 
65
 Marx previu que o conceito de mais-valia deveria sofrer revisão em uma época de automatização (como 
é o caso cada vez mais comum na atualidade). Para ele, o tempo de trabalho poderia deixar de ser a 
medida da riqueza, se a própria forma de trabalho se modificar (vide nota 130). 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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44 
 
 Para Marx, o trabalhador sentia-se alienadode seu trabalho, do seu meio cultural e 
até de seus próprios companheiros. Alienação, no contexto em que ele emprega o termo, 
significava que o trabalhado era externo ao trabalhador, não lhe pertencia. O seu 
trabalho não era voluntário, e sim forçado; quando trabalhava, não o fazia para si, mas 
para outrem. Por isso, por não poder desenvolver livremente a sua energia física e 
espiritual, o trabalhador era infeliz, e sentia-se degradado e desumanizado. Por ter sido 
transformada em mercadoria a sua atividade necessária de subsistência, ele sofria uma 
deformação no desenvolvimento da sua personalidade. A única forma de eliminar a 
alienação seria fazendo a propriedade dos meios de produção mudar de mãos. 
 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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45 
CAPÍTULO VI 
 
A EXPANSÃO DO CAPITALISMO 
 
 
 Entre 1840 e 1873 houve uma rápida expansão econômica em toda a Europa. O 
processo de industrialização iniciado na Inglaterra teve prosseguimento nos países do 
continente, que importavam os bens de capital deste país. Entre 1840 e 1860 as 
exportações inglesas atingiram níveis incríveis, que levaram a um tremendo progresso 
interno. A produção de ferro, aço e carvão aumentou consideravelmente, e extensas 
linhas ferroviárias foram construídas. 
 Este período, caracterizado pela livre concorrência,66 levou também a uma grande 
concentração de capital, e em pouco tempo as empresas menores sucumbiram às mais 
poderosas, que se fundiam em cartéis e trustes monopolistas. O mercado se expandiu 
ainda mais, e surgiram grandes sociedades anônimas e corporações, que controlavam 
um grande volume de capital. Ao final do século XIX, o excesso de concorrência em 
um mundo dominado por estas gigantescas corporações forçou a uma maior associação 
entre elas, como forma a eliminar a concorrência predatória. Companhias ainda maiores 
começaram a surgir como resultado das concentrações e fusões, e com isto surgiram 
enormes monopólios e oligopólios, que controlavam instituições financeiras, bancos e 
grupos industriais. 
 
 
16 – O Imperialismo – A Nova Face do Capitalismo 
 
 O antigo colonialismo das grandes potências foi substituído pelo imperialismo, uma 
nova forma de dominação econômica.67 Um dos primeiros países a sofrer as 
conseqüências da expansão imperialista foi a Índia. Desde 1757, ano em que Bengala 
foi conquistada, a Companhia das Índias Orientais manteve intensas relações comerciais 
com a região. Nesta época, a Índia já era economicamente avançada, com métodos 
organizados de produção industrial. A partir da conquista de Bengala, a Companhia das 
Índias iniciou um longo e metódico processo de dominação e de exploração de uma 
grande parte do território indiano. A exploração foi brutal e gigantesca, arrancando 
grandes somas de dinheiro deste país.68 
 
66
 O capitalismo, como doutrina econômica, sempre pressupôs a existência de alguns princípios: o direito 
à propriedade individual; a livre-iniciativa; a concorrência livre; a busca do lucro. Caberia ao Estado 
normatizar alguns parâmetros, tais como, entre outros: o câmbio; as taxas de juros; a emissão e o controle 
de moedas; o exercício do fisco. Somente em épocas posteriores o Estado preocupou-se em criar uma 
legislação voltada à proteção do trabalhador (assistência médica, previdência, aposentadoria, etc.). O 
controle fiscal e financeiro da economia pelo Estado é, também, característica das modernas economias 
capitalistas 
67
 O nome imperialismo, que obteve uma conotação depreciativa graças às invectivas marxistas, na 
realidade tem sua origem no fato de que uma grande parte das ricas nações européias do início do século 
XX ainda eram estados imperiais, no sentido de que eram governados por um imperador (como era o 
próprio caso do Brasil). 
68
 Ainda que o capital das sociedades anônimas que operavam no país não ultrapassasse 36 milhões de 
libras, calcula-se que entre 1757 e 1815 os ingleses tenham retirado do país entre 500 e 1000 milhões de 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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46 
 A partir de 1857, para poder atingir e explorar o restante do território, os ingleses 
começaram a construir uma extensa malha ferroviária.69 O governo assegurava aos 
investidores ingleses um retorno mínimo de 5% para o dinheiro investido nas estradas 
de ferro, prometendo que, se os lucros caíssem abaixo deste limite, a diferença seria 
coberta por meio de impostos lançados sobre o povo indiano. 
 
 Entre 1875 e 1900, Grã-Bretanha, Bélgica, França, Alemanha, Rússia e Estados 
Unidos incorporaram imensas áreas aos seus impérios, submetendo ao seu domínio 
cerca de um quarto da população mundial. No continente africano, 93% das terras 
estavam sob dominação estrangeira, na busca frenética de seus recursos minerais 
(necessários à constante expansão industrial) e agrícolas.70 A Inglaterra apoderou-se das 
mais ricas regiões do território africano, entrando em choque com outra potência 
colonialista, a Holanda. Após a Guerra dos Boeres (1899 a 1902), a Inglaterra adquiriu 
o controle da África do Sul, em substituição àquela (o império colonial britânico chegou 
a abranger uma área de 33,5 milhões de quilômetros quadrados, com cerca de 500 
milhões de habitantes, um quarto do total da população mundial, à época). 
 Também o continente asiático sofreu a invasão colonial. Em 1878 o Afeganistão foi 
conquistado pelos ingleses; em 1858, a França conquistou o território da Indochina.71 
Os Estados Unidos, por sua vez, conquistou possessões no Pacífico, tais como as Ilhas 
Samoa, Pago-Pago e o Havaí. Em 1898 foram anexados Porto Rico, Guam e as Ilhas 
Filipinas. Em 1903, ao forçar a separação do Panamá da Colômbia, adquiriu direitos 
sobre a chamada “Zona do Canal do Panamá”. Mas o embate entre as potências 
colonialistas era constante, e viria a ter enormes conseqüências.72 
 As potências que emergiram vitoriosas da Primeira Guerra Mundial impuseram às 
derrotadas as humilhações econômicas inscritas no famoso Tratado de Versalhes, que 
limitava grandemente o desempenho econômico e militar destes países. A Liga das 
Nações, organismo criado para reunir em um foro único os países do mundo, teve vida 
curta, e foi inoperante enquanto existiu. Houve grandes esforços pelo desarmamento 
mundial, mas tais esforços esbarravam na desconfiança mútua e na indiferença, quando 
não na rivalidade militar patente. Aos poucos, as potências entraram em uma corrida 
armamentista irrefreável. No período entre guerras, além da anarquia econômica trazida 
pelas dívidas de guerra, pelo nacionalismo econômico e pela diminuição do comércio 
mundial, o espectro da depressão econômica rondava, e veio a fazer a sua aparição em 
1929 (como veremos no item 16). 
 
 
libras (em especiarias, jóias, ouro e pedras preciosas). A corrupção interna dentro desta empresa atingiu 
níveis inauditos, com os funcionários lutando entre si para explorar a miséria dos nativos indianos. 
69
 Que viria a se tornar uma das maiores do mundo. 
70
 O Congo, uma das mais lucrativas possessões, fornecia diamantes, urânio, cobre, algodão e derivados 
do coco. 
71
 Atual Vietnã. Obrigada a retirar-se em 1957, a França cedeu o seu lugar aos Estados Unidos, que tinha 
uma política asiática de aconselhamento militar, visando rechaçar o comunismo. Aos poucos, este 
envolvimento transformou-se em uma guerra não declarada (em 1964), na qual os Estados Unidos 
chegaram a enviar cerca de um milhão de soldados para esta região. Em 1975, a tomada da capital sul-
vietnamita, Saigon,pelas forças comunistas levou ao fim da guerra e à retirada americana. 
72
 A Primeira Guerra Mundial (1914) surgiu dos embates e oposições políticas que ocorriam 
constantemente entre os impérios austro-húngaro e prussiano-alemão, que disputavam a hegemonia 
imperialista. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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47 
* * * 
 
 Já no início do século XX os Estados Unidos haviam se tornado o maior país 
industrial do mundo, bem à frente do segundo colocado (a Alemanha). O seu parque 
industrial, no entanto, era dominado por um pequeno número de empresas. O ramo 
petrolífero, do aço, do tabaco, as ferrovias e os bancos, principalmente, estavam nas 
mãos de um reduzido grupo de pessoas. A concentração de renda chegou a atingir níveis 
alarmantes.73 
 Naturalmente, este estado de coisas fazia pressupor que havia algo errado com a 
ideologia liberal clássica ou mesmo neoclássica, que supostamente era a doutrina 
econômica em voga. Para esta, a economia deveria ser composta de uma infinidade de 
pequenas empresas. Assim, nenhuma seria capaz de exercer influência significativa 
sobre os preços, ou sobre o total de mercadorias que seriam vendidas no mercado. Cada 
decisão econômica dependeria da preferência do consumidor e da concorrência 
oferecida pelo mercado.74 Ao contratarem ou adquirirem fatores de produção, as 
empresas os utilizavam de forma a maximizar os seus lucros. Entretanto, os preços dos 
produtos finais e dos fatores de produção estavam fora de seu controle. 
 
 
17 – Anarquistas e Sindicalistas 
 
 Ao tempo em que a agitação marxista-leninista tomava conta da Europa, já existiam 
outros movimento paralelos que os combatiam, geralmente radicais de outras 
tendências. Entre 1860 e 1870, o movimento anarquista (membros da Associação 
Internacional dos Trabalhadores, ou Primeira Internacional)75 lutava por um ideal que se 
expressava por um tipo de coletivismo não submetido a qualquer controle 
governamental; eles se batiam pelo fim do Estado e do Capital.76 Na esteira do 
anarquismo surgiu outro movimento trabalhista que viria a redundar, em 1895, na 
criação do chamado “sindicalismo revolucionário”,77 por Fernand Pelloutier. Pela sua 
fórmula, o sindicato operário devia ser utilizado como instrumento da luta de classes por 
melhores condições de vida, entre cujas armas ele apontou a greve geral e a violência. 
 Nos Estados Unidos, o sindicalismo floresceu entre 1905 e 1920 através da IWW 
(Industrial Workers of the World). Este sindicato organizava os trabalhadores por 
 
73 Em 1929, apenas 5% da população controlava 34% das rendas. Isso, apesar de o Estado ter feito 
aprovar uma legislação anti-truste já desde o final do século XIX (a Lei Sherman). Outras se seguiram, 
tais como a Lei Clayton, e a lei que criou o Federal Trade Commission. 
74
 Esta concepção se devia basicamente às obras de três economistas de final do século XIX: William 
Stanley Jevons; Karl Menger; Léon Walras. 
75
 Foram, entretanto, expulsos em 1872. 
76
 Os anarquistas mais radicais foram os primeiros a usarem bombas para criar o terror e para matar 
governantes e autoridades (foi um ato terrorista anarquista executado na região dos Bálcãs que levou à 
deflagração da Primeira Guerra Mundial). 
77
 No início do século XIX, punia-se, na Inglaterra, com prisão e deportação, para a Austrália, quem 
procurasse criar sindicatos trabalhistas. A Revolução Industrial recente tinha provocado desemprego, pela 
introdução de máquinas; entre 1811 e 1818, os inconformados com esta situação chegaram mesmo a 
iniciar uma campanha de destruição destas máquinas, no movimento que ficou conhecido como ludita 
(Luddites, devido ao seu inciador, Ned Ludd). A partir de 1824, a persistência dos trabalhadores levou à 
revogação dos Combination Acts, que eram leis que proibiam a organização sindical. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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indústrias, e não por profissão. Em 1935 foi fundado o Congresso das Organizações 
Industriais (CIO), que viria a fundir-se futuramente (em 1955) com a Federação 
Americana do Trabalho, AFL, que já existia desde 1886,78 criando a AFL-CIO. 
Chegaram a congregar 125 sindicatos, representando 15 milhões de trabalhadores. 
 No final do século XIX e início do século XX as lutas sindicais estiveram 
principalmente sob a égide do movimento anarquista internacional. Aos poucos, 
contudo, este movimento foi desaparecendo (muitos de seus membros foram se 
convertendo ao socialismo), e a condução do movimento trabalhista mundial passou a 
ser regido pelos vários partidos comunistas dos vários países, que seguiam a orientação 
central de Moscou. 
 
 
18 – O Comunismo Soviético 
 
 A Rússia, que desde o início da Primeira Guerra Mundial estivera em grande 
agitação interna, viu uma revolução acabar (em 1917) com o império czarista e alçar em 
seu lugar um governo que tomaria tendência socialista. Os mencheviques (que também 
lutavam pelo poder) deram lugar aos bolchevistas, que, com Lênin à frente, iriam 
adaptar as idéias de Marx para eliminar os resquícios da burguesia e do feudalismo que 
caracterizavam a sociedade russa. 
 Nos anos subseqüentes, a Rússia bolchevista começou a formar um novo império ao 
espalhar a agitação política pelos países asiáticos vizinhos. Logo conseguiram o 
controle dos governos da Ucrânia, Azerbaijão, Armênia e Geórgia. A partir de 1923, 
este bloco de países formou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). 
Cada república, dominada basicamente pelo partido comunista, era formada tendo à 
frente um Comissariado do Povo, que respondia ao Comitê Executivo Central. 
 
 A revolução bolchevista produziu profundas reformas no sistema econômico, 
político e social da Rússia e países satélites, abolindo quase que por completo a 
manufatura e o comércio privado. Foram estatizadas fábricas, minas, ferrovias e 
serviços de utilidade pública, bem como armazéns e cooperativas de produtores e 
consumidores. A agricultura também foi socializada, e foram organizadas fazendas 
coletivas sob base cooperativa. Até o final de 1918, a luta contra os ricos latifundiários 
estava concluída, tendo-se efetuado a nacionalização e a distribuição das suas terras. O 
monopólio estatal do comércio do trigo foi implantado, visando-se, com tal medida, 
evitar intermediários na distribuição deste cereal. 
 
 Entretanto, vários fatores imprevistos começaram a afetar a economia soviética já em 
seu início. Primeiro, a excessiva politização imposta aos camponeses. Somente em 1918 
já existiam 70.000 comitês políticos no campo. Era mais importante tornar-se comunista 
(oficialmente) do que dedicar-se à produção de grãos. Segundo: nesta época, ainda 
havia lutas internas contra os “Brancos”, que se opunham aos bolchevistas. Assim, o 
meio rural era constantemente devastado e saqueado por forças opostas. Os próprios 
meios de transporte, tais como estradas de ferro e vias fluviais estavam em estado de 
total anarquia, interrompendo a atividade comercial. Em terceiro lugar, a inflação fora 
 
78
 Antes de 1886 existia a organização sindical chamada Ordem dos Cavaleiros do Trabalho. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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49 
de controle levou à completa desvalorização do dinheiro, que já não era mais aceito, e 
forçando a economia a regredir a um estágio de trocas.79 Por último, a excessiva ênfase 
dada à planificação, com a instituição de Planos Qüinqüenais priorizando a indústria 
pesada e a fabricação de armamentos levou a escassez de produtos e bens de consumo 
geral, cujoqualidade também sempre deixava a desejar. Em alguns períodos (por volta 
de 1925, principalmente), houve fome generalizada em virtude dos métodos ineficazes 
de agricultura que foram impostos. 
 
 Durante a Segunda Guerra Mundial a Rússia passou por fortes privações 
econômicas, ao transformar todas as suas fábricas para que produzissem equipamento 
bélico para o Exército Vermelho, em luta contra os exércitos nazistas. O parque 
industrial montado na Sibéria (com forte ajuda dos norte-americanos, que eram aliados 
contra Hitler), seria levado após a guerra para as estepes russas, e seriam utilizadas 
posteriormente para manter uma produção militar de armas que seriam usadas contra 
alguns países europeus. 
 No final da guerra, a pretexto de “libertar” os povos das repúblicas da Europa 
Oriental do jugo nazista, os russos começaram a ocupar militarmente estes países,80 
impondo governos fantoches em todos. Em 1956, a tentativa de criar um governo 
democrático na Hungria levou a que seu território fosse invadido pelas forças militares 
do Pacto de Varsóvia, reprimindo brutalmente o movimento popular. Em 1967, foi a vez 
da Tcheco-Eslováquia, que ao tentar criar uma versão mais amena de socialismo, 
também foi invadida e ocupada, sofrendo forte repressão. Em ambos os casos, os líderes 
foram punidos ou executados. 
 
 Antigos aliados, os Estados Unidos e Rússia iriam passar os próximos quarenta anos 
em uma corrida armamentista que teria fortes reflexos na economia mundial como um 
todo.81 
 
 
 
 
79
 De um modo ingênuo, muitos dirigentes bolchevistas acreditavam que a abolição do dinheiro estava 
dentro da política marxista mais ortodoxa, e nada fizeram, de início, para controlar a inflação. 
80
 Polônia, Hungria, Bulgária, Tcheco-Eslováquia, Alemanha Oriental, Romênia, Iugoslávia, (estes dois 
últimos foram os únicos países que conseguiram manter uma certa autonomia frente ao intervencionismo 
soviético). A Ucrânia, Bielo-Rússia, Azerbaijão e outros países asiáticos já estavam sob o domínio da 
União Soviética de Stálin. 
81
 Os negócios mundiais que movimentaram maior quantidade de dinheiro nas quatro últimas décadas do 
século XX foram: petróleo, armas e fretes marítimos (o comércio mundial de armas sempre esteve por 
trás das principais revoluções políticas em todo o mundo). Na década de 1960, os Estados Unidos 
gastaram cerca de vinte bilhões de dólares (em valores da época) em seu programa espacial de conquista 
da Lua, mas quando saíram do Vietnã em 1973, já tinham gasto cerca de dez vezes este valor, em 
equipamento bélico e com suas forças de ocupação. 
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TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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51 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
Os Neoclássicos 
 
 
 Para os neoclássicos, o consumidor distribuiria a sua renda entre as várias 
mercadorias que desejavam adquirir, de forma a maximizar a utilidade extraída dessas 
mesmas mercadorias. Estas constituíam uma fonte de prazer ou de utilidade, que eles 
criam que podia ser quantificada. Através de uma medida-padrão, poder-se-ia avaliar a 
intensidade de necessidades ou a utilidade intensiva, seja em unidades similares ou em 
unidades diversas, de um mesmo tipo ou de vários tipos de riqueza. Esta avaliação podia 
ser quantificada através do uso de fórmulas matemáticas gerais.82 
 Para os neoclássicos, em razão da distribuição de riqueza e rendas, quando os 
consumidores adquiriam mercadorias, eles estavam distribuindo a sua renda, de forma a 
maximizar o bem-estar de todos. Eles também tinham a firme convicção, derivada das 
idéias de Adam Smith, de que a mão invisível da concorrência regia o mercado, e 
defendiam ferrenhamente a política do laissez-faire. A interferência do governo no 
mercado devia se restringir ao mínimo indispensável. 
 Em épocas posteriores, alguns economistas buscaram modificar esta teoria, por 
perceberem que não existia a chamada “concorrência perfeita”. Existiam vários e 
ponderados fatores que influíam nos preços; em certos casos, os custos de produção 
diferiam enormemente dos custos sociais,83 ainda que o produtor se beneficiasse com a 
venda da mercadoria, e tivesse bons lucros. Uma das soluções que estes economistas 
neoclássicos apontaram foi a admissão de uma intervenção governamental limitada. 
 
 Como sistema econômico, o capitalismo, principalmente aquele praticado nos países 
europeus e nos Estados Unidos, evoluiu segundo as linhas teóricas da livre 
concorrência; na prática, a concorrência desleal e o excesso de concentração econômica 
levaram à falência grande parte dos participantes do mercado.84 Mas a concorrência foi 
feroz também em várias outras áreas da economia, que se tornaram cada vez mais 
concentradas. Em alguns casos, a concorrência foi tão destruidora que os próprios 
participantes solicitaram uma intervenção federal. Entretanto, as empresas monopolistas 
que sobraram buscaram fazer acordos de preços entre elas, elevando-os de forma a 
maximizar os lucros. O clamor público em razão do descontentamento se elevou tanto, 
que forçou o governo a promulgar a Lei Anti-Truste, ou Lei Sherman, em dezembro de 
1889. Esta lei forçava ao desmembramento das corporações em partes menores, não 
sujeitas ao controle acionário dos acionistas originais. Tinha por objetivo principal 
evitar a formação de monopólios, na economia. 
 Tanto a escola clássica quanto a neoclássica propuseram diversas leis para 
explicarem os fatos econômicos. As principais delas são: 1) a lei do interesse pessoal. 
Segundo esta lei, cada indivíduo tem uma tendência natural a buscar o máximo de bem-
 
82
 Estas técnicas deram origem à economia matemática, ou econometria. 
83
 Na atualidade, a preocupação com o meio-ambiente levou à criação de uma legislação para proteção 
ecológica, que restringe ou penaliza fortemente as indústrias poluidoras. 
84
 Através de práticas extremamente desleais, John D. Rockefeller chegou a dominar ente 90 a 95% da 
produção de petróleo refinado. A maioria de seus concorrentes foi simplesmente esmagada. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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52 
estar e prosperidade, com o mínimo de esforço. 2) lei da livre concorrência. Em um 
regime de liberdade individual, cada indivíduo é livre para escolher o que mais lhe 
agrade.85 3) lei da oferta e da procura. Talvez a mais famosa e mais popular, estabelece 
que o valor de troca de uma mercadoria varia na razão direta da procura, e na razão 
inversa da oferta. Já Stuart Mill tinha compreendido que esta relação não tinha um 
caráter matemático rigoroso; entretanto, alguns neoclássicos procuram submetê-la a 
uma forma matemática, representando de forma gráfica a evolução entre os dois fatores 
(a oferta e a procura).86 
 A questão da estabilidade da moeda e dos preços também foi uma fonte de perenes 
discussões entre os economistas clássicos e neoclássicos. O desenvolvimento das 
operações a crédito e os contratos a prazo levaram a se estabelecer medidas de previsão 
de preços mais seguras; na Inglaterra, usava-se um sistema no qual tomava-se a média 
de preços das mercadorias de maior consumo (no atacado), em um determinado ano, e 
os anos subseqüentes eram referidos a este ano base (este sistema era chamado de 
“números índices”).87 
 Quanto à moeda em si, havia a mentalidade predominante pela qual ela deveria ter 
um lastro de metal precioso, de ouro ou de prata, e o seu valor deveria ser tomado em 
relação a um deste metais.88 O montante de moeda (papel-moeda) em circulação jamais 
deveriaultrapassar o lastro disponível, se se quisesse manter a estabilidade da moeda e 
da economia como um todo. Antes da Segunda Guerra Mundial, existia uma constante 
drenagem de ouro (em razão dos sistemas de comércio mundial): ora esta se fazia para a 
Inglaterra, ora para os Estados Unidos,89 ora para a França. Até mesmo quando em 1931 
a Inglaterra abandonou o padrão ouro, houve uma grande afluência deste metal para os 
seus depósitos. 
 Alguns economistas temiam que este excesso de ouro pudesse provocar uma alta 
excessiva de preços, levando a uma especulação exagerada e a um estado de otimismo 
infundado. Na verdade, foi o que aconteceu em outubro de 1929, com a quebra da Bolsa 
de Nova Iorque, que levou os Estados Unidos, e todo o mundo junto, à Grande 
Depressão. 
 
 
 
 
 
 
85
 Este princípio aplica-se a todos os aspectos práticos da vida diária, como a procura do melhor trabalho 
ou o estabelecimento da livre concorrência. Insurge-se contra o intervencionismo de Estado e contra todas 
as medidas de tutela e de proteção por parte do governo. 
86
 Outros conceitos também foram desenvolvidos ou melhor teorizados, tais como as noções de riqueza, 
utilidade, necessidade, valor; renda; moeda; crédito; circulação; consumo. Estes e outros conceitos 
formam o substrato teórico da moderna teoria econômica. 
87
 Entre 1845 e 1850 tomaram-se os preços de 45 mercadorias (depois reduzidas a 22). 
88
 Modernamente, usa-se o chamado deflator implícito, que é um método matemático para calcular o 
valor real da moeda. Esta medida costuma ser o mais preciso indicador da inflação, em um período 
determinado (o ano-base tomado para essas medidas, no Brasil, é 1949). 
89
 Em 1937, os estoques de ouro do Tesouro americano representavam a metade dos estoques mundiais. 
Isto se devia à pujança do parque industrial dos Estados Unidos, que fornecia mercadorias para o mundo 
todo. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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53 
CAPÍTULO VII 
 
A CRISE DO CAPITALISMO 
 
 
19 – A Grande Depressão 
 
 A Grande Depressão econômica surgida a partir de 192990 podia fazer supor o fim do 
capitalismo.91 Esta crise econômica afetou todo o mundo, pondo fim à crescente pujança 
econômica característica dos anos 1920 e 1930.92 Nenhum país escapou desta crise, e o 
comércio mundial caiu enormemente.93 Internamente, o desemprego em massa, as 
falências sucessivas e as perdas de fortuna da noite para o dia trouxeram uma dramática 
mudança de cenário na vida econômica.94 
 
 Não existe uma razão ou motivo único que tenha causado esta crise. Uma série de 
fatores foi se acumulando e criando o cenário para que ela acontecesse. Em 1929, havia 
pouco conhecimento econômico teórico sobre mercados de capitais, e sobre a 
necessidade de regulação governamental sobre este mercado. A euforia da expansão 
econômica na década de 192095 deixou mais ousadas as pessoas, que arriscavam suas 
economias em quaisquer papéis que prometessem um enriquecimento rápido. O 
consumo em massa veio acompanhar este cenário de fartura, através do crédito fácil e 
rápido. Entretanto, quando em 24 de outubro de 1929 o valor dos títulos negociados na 
Bolsa de Nova Iorque iniciou uma trajetória descendente, isto veio abalar a confiança 
nos negócios, e o otimismo foi substituído rapidamente pelo pessimismo. Os 
 
90 A Grande Depressão americana não foi nem de longe semelhante à crise econômica ocorrida na 
Alemanha na década de 1920. Enquanto que nesta a inflação atingiu níveis estratosféricos, numa rápida 
deterioração da moeda, a depressão nos Estados Unidos provocou uma deflação, ou queda de preços, que 
solapou a indústria e a agricultura. Em certos momentos, apesar de os juros estarem praticamente a níveis 
nominais, quem possuía alguma poupança não desejava consumir, o que fazia retrair ainda mais a 
economia. 
91
 Uma das manias mais freqüentes de Marx era a de prever a derrocada do sistema capitalista (ele 
afirmava constantemente que “a economia capitalista contém em si o germe de sua própria destruição”). 
A crise de 1929 não foi a primeira das crises do capitalismo (houve crises em 1825, 1836, 1847, 1857 e 
1866), mas talvez tenha sido a mais importante, pelas suas conseqüências políticas e sociais (deve-se a 
ela o surgimento dos regimes fascistas da década de 1930). Em 1937, uma nova crise foi chamada de 
recessão. 
92
 O sistema capitalista nos Estados Unidos, em razão de sua extensa base industrial, permitiu o 
progressivo crescimento do poder aquisitivo dos operários da indústria. O advento das linhas de 
montagem, com o aumento explosivo da produção em massa, trouxe a necessidade de aumentar os 
salários, para que os produtos pudessem ser consumidos (foi o caso, por exemplo, da indústria 
automobilística; Henry Ford aumentou os salários de seus trabalhadores para que estes pudessem comprar 
os carros que fabricavam). 
93
 Entre 1929 e 1932 o comércio exterior dos Estados Unidos caiu em mais de dois terços. 
94
 Era comum encontrar pessoas bem vestidas (ricos que tinham perdido tudo) nas filas de instituições 
caritativas, à espera de uma sopa. 
95
 De 1914 a 1929, o produto nacional bruto americano (índice que avalia todos os bens e serviços 
produzidos no país) crescera 62%. Em 1929, o desemprego estava em 3,2% da população ativa, e o 
número de veículos vendidos já atingira a cifra recorde de 26 milhões de unidades. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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54 
empresários começaram a fazer cortes na produção e nos investimentos, o que por sua 
vez acarretou novo declínio da renda nacional e do nível de emprego. A corrida aos 
bancos, por sua vez, provocou uma “quebra” generalizada no sistema financeiro e 
bancário. 
 De 1929 a 1932, o cenário econômico americano virou um verdadeiro pandemônio; 
85.000 empresas foram à falência e mais de 5.000 bancos fecharam, levando ao 
desemprego cerca de 12 milhões de pessoas. A renda agrícola reduziu-se a menos da 
metade, e o produto industrial reduziu-se em cerca de 50%. A crise atingiu 
indistintamente ricos e pobres; enquanto que muitos dos primeiros foram levados ao 
suicídio pelo desespero de terem perdido suas fortunas, não coube outra solução aos 
últimos senão conformar-se com a própria miséria. As minoria raciais sofreram ainda 
mais, sendo mais intenso o desemprego entre elas. A cadeia de inadimplência estendeu-
se por todos os segmentos econômicos e afetou um grande contingente de pessoas, e o 
espectro da fome levou à necessidade de que entidades assistenciais providenciassem 
uma ajuda humanitária em massa. 
 A pior parte deste cenário é que ele não tinha solução pela economia ortodoxa, 
representada pelos economistas clássicos e neoclássicos. Nos Estados Unidos, esta 
ortodoxia, que aceitava em todos os seus termos a famosa Lei de Say (vide nota 38), 
queria que o governo se mantivesse ao largo dessa crise, esperando que ela 
desaparecesse por si só.96 O governo de Herbert Hoover caracterizou-se pela inércia, 
pois amparava a sua política econômica nos conceitos ortodoxos do esquema clássico, e 
com isso nada fez para intervir na economia. Foi somente com a posse de Franklin 
Roosevelt que novos conceitos econômicos vieram a ser adotados no combate à 
depressão; tais conceitos surgiram basicamente a partir dos estudos econômicos de John 
Maynard Keynes. 
 
* * * 
 
 Já em 1932, alguns economistas à margem da ortodoxia tinham alertado para alguns 
fatos pouco levados em consideração. Rex Tugwell e Adolf Berle, em um estudo que 
realizaram abordando a administração e o controle da empresa moderna, tinham96
 Até esta época, não existiam estudo consistentes sobre ciclos econômicos, matéria considerada 
excessivamente “esotérica”, para ser estudada seriamente nos centros acadêmicos. Apenas o economista 
Wesley C. Mitchell (1874-1948) chegou a realizar um estudo sobre o assunto (Marx acreditava que o 
capitalismo estava sujeito a crises cíclicas, cuja causa, ele acreditava, decorreria basicamente da 
introdução de maquinaria pelos capitalistas, propensos a compensar qualquer diminuição de seus lucros). 
Atualmente, aceita-se a realidade dos ciclos econômicos. Um ciclo econômico é definido como a 
sucessão de períodos de auge e depressão sofridos pelo sistema econômico. Entende-se por depressão um 
período de baixa de preços, escassez de negócios e desemprego generalizado. O auge se caracteriza por 
alta de preços, grande produção, grande consumo, pequeno ou nenhum desemprego. Não há uma 
explicação plausível para a existência destes ciclos, mas há várias teorias que tentam fazer isso. Algumas 
delas referem-se a ciclos climáticos; outras, a diferenças entre a demanda de bens de capital (que é 
indireta) e bens de consumo (que é direta). Outras ainda apelam à flutuação periódica dos preços, 
suscetíveis de variar em função de vários fatores: inovações tecnológicas; mudanças políticas; erros na 
política fiscal; políticas recessivas propositais; gastos governamentais excessivos; desequilíbrios 
cambiais; desequilíbrios da balança de pagamentos; desequilíbrios do mercado resultante de fatores 
exógenos (por exemplo, se o mercado interno não for protegido, o excesso de importações de mercadorias 
mais baratas pode destruí-lo). 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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55 
percebido que, na maioria das grandes empresas americanas (da época), os acionistas já 
não exerciam qualquer função prática e significativa. Isto significava que quem 
realmente tomava as decisões eram os administradores (que não eram proprietários das 
empresas que administravam), e que respondiam unicamente a uma diretoria (conselho 
diretor) que eles próprios escolhiam.97 Isto conduzia naturalmente ao oligopólio, mais 
do que à livre concorrência. Este estudo foi ignorado pelos economistas da época, pelo 
seu conteúdo heterodoxo. 
 A crença predominante na Lei de Say e nas teorias clássicas, juntamente com a 
ausência de estudos ou teorias a respeito de crises econômicas fazia acreditar que a crise 
realmente terminaria por si própria. De acordo com a ortodoxia clássica, a economia iria 
encontrar o seu equilíbrio no pleno emprego, do qual viria o fluxo de demanda capaz de 
sustentá-lo. Keynes refutou esta crença, quando afirmou que a economia moderna não 
encontra o seu equilíbrio, necessariamente, no pleno emprego. Ela pode também 
encontrar este equilíbrio no desemprego. Mas Keynes tinha outras afirmações 
revolucionárias. Além de mostrar o equilíbrio do desemprego, a teoria keynesiana 
apelava a que o governo empreendesse gastos sem ter as receitas necessárias para cobri-
los, a fim de manter o nível de demanda. 
 
 
20 – A Economia do Pós-Guerra 
 
 No cenário do pós-guerra, após 1946, as economias européias estavam 
completamente destruídas.98 A Inglaterra, em razão do esforço de guerra, estava 
praticamente falida, e os Estados Unidos emergiu deste período como a principal 
potência econômica do mundo. O fato da antiga aliada, a União Soviética, ter se 
expandido politicamente pela Europa oriental, na esteira do Exército Vermelho, que 
vinha ocupando sistematicamente os países a propósito de “libertá-los” do jugo nazista, 
alertou os americanos para a necessidade de uma reconstrução econômica da Europa e 
do Japão.99 
 
 
97
 Posteriormente, os gerentes receberam um respaldo oficial dos empresários. Em 1956, por iniciativa da 
Universidade de Colúmbia, promoveu-se um ciclo de conferências no qual se abordava em profundidade 
a ideologia gerencial. Os empresários, em geral, viam o gerente como um “profissional”, que se 
preocupava “com os consumidores, os empregados, os acionistas, os fornecedores, as instituições 
educacionais, as instituições de caridade, o governo e o público em geral, tanto quanto com as vendas e 
com os lucros”. (HUNT & SHERMAN, pág. 188). 
98
 Também os países da América Latina, Oriente Médio e Extremo Oriente tiveram as suas economias 
arrasadas em virtude da guerra. Nem todos, entretanto, chegaram a receber a ajuda americana para a sua 
reconstrução. A ameaça comunista tornou prioritária a ajuda a aliados (Inglaterra e França, 
principalmente), mas também a ex-inimigos (Alemanha, Itália e Japão). 
99
 Durante a guerra (a Segunda Guerra Mundial), os Estados Unidos foram os grandes fornecedores de 
material bélico para os países que lutavam contra o Eixo (formado pela aliança entre Alemanha, Japão e 
Itália). O ataque japonês a Pearl Harbor levou os Estados Unidos a entrarem na guerra, e a invasão, por 
Hitler, da Rússia (tomando completamente de surpresa Stálin, que não acreditava nesta possibilidade), 
colocou esta última entre os chamados “Aliados”. As perdas em equipamento militar da Inglaterra, Rússia 
e China foram repostas maciçamente graças à enorme produção industrial americana (que Roosevelt 
chamava de “o Arsenal de Democracia”), que desviou todo o seu parque industrial para a produção de 
armas. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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56 
 Para reerguer estas economias, os Estados Unidos criaram um plano econômico 
chamado de “Plano Marshall”100 Este plano de auxílio econômico destinava cerca de 22 
bilhões de dólares (entre 200 a 250 bilhões de dólares, a preços atuais) para a 
reconstrução econômica e política dos países europeus. A recém formada Organização 
das Nações Unidas (ONU), criada em 1945, tornou-se o fórum de debates econômicos; 
a chamada “Carta de Havana” (com todas as suas deficiências e cláusulas duvidosas) 
tornou-se, na prática, o código de comércio internacional para o pós-guerra. 
 
 A partir de 1945, novos organismos internacionais entraram em cena, visando 
regulamentar o comércio mundial. Em 1947 criou-se o Acordo Geral de Tarifas e 
Comércio (GATT), um tratado sobre comércio internacional. Este órgão criou e 
regulamentou as regras a serem seguidas neste comércio entre nações, estipulando, entre 
outras coisas, cotas de importação e exportação e os limites a serem seguidos na 
proteção tarifária aos produtos internos.101 Em 1954 foi criada a Conferência das 
Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), instituição destinada a 
estimular o comércio internacional. 
 No bloco soviético, foi criado o Conselho de Mútua Assistência Econômica 
(COMECON), órgão que centralizava o comércio e os planos de desenvolvimento 
econômico. O COMECON, contrariando sua feição marxista, adotou critérios da 
economia clássica, atribuindo funções especializadas a cada economia do leste 
europeu.102 
 
 O Plano Marshall cumpriu o seu intento, e a economia européia (e por extensão, o 
comércio mundial) se expandiu, atingindo níveis de prosperidade cada vez maiores. O 
Japão, que emergira da Segunda Guerra Mundial totalmente aniquilado 
economicamente, sofreu ocupação militar por parte dos Estados Unidos. O general 
Douglas MacArthur, responsável pela ocupação, procedeu à implantação de reformas 
econômicas no país, extinguindo o sistema feudal que ainda prevalecia. Esta reforma se 
deu basicamente através de uma reforma agrária que distribuiu terras entre colonos, mas 
também através da criação dos primeiros sindicatos japoneses, e da introdução do 
sistema de governo democrático (escolha de representantes através do voto). Mas a 
figura do imperador não foi tocada, mantendo-se como símbolo de uniãodo povo 
japonês. 
 
 
100
 George Catlett Marshall foi chefe do Estado-Maior do exército americano entre 1939 e 1945. Era 
altamente respeitado, tanto como militar quanto estadista. Como Secretário de Estado do governo 
Truman, deu início ao Programa de Recuperação Européia, também chamado Plano Marshall. Participou 
da criação da Organização do Tratado Militar do Atlântico Norte (OTAN), uma aliança militar ocidental 
criada em oposição ao Pacto de Varsóvia. 
101
 Estes pactos comerciais nem sempre ajudavam aos participantes, principalmente os de economia 
menos desenvolvida. O Brasil, que tem uma participação mínima no comércio internacional (menos de 
3% do total), ainda assim sofre constantemente a retaliação por parte dos Estados Unidos, que o acusam 
de dumping (exportação de mercadorias com preços artificialmente baixos). Por outro lado, este país do 
norte, além de abusar da proteção alfandegária, recusa-se a admitir que o Brasil crie barreiras 
alfandegárias contra os seus produtos. 
102
 Na única, o único país que resistiu a esta tentativa de desenvolvimento segmentado foi a Romênia. 
Resistindo às pressões soviéticas, optou pelo que chamou de desenvolvimento multilateral, ou 
industrialização completa. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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57 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
A Teoria Keynesiana 
 
 
 Em 1936 Keynes publicou um livro chamado “Teoria Geral do Emprego, do Juro e 
da Moeda”. Esta obra é considerada como um marco na evolução da ciência econômica, 
e determinou uma virada conceitual profunda e abrangente nas doutrinas econômicas 
em geral. Keynes contrapõe a sua teoria à teoria clássica, da qual aponta várias 
contradições. Aponta principalmente a ausência de hipóteses ou teorias sobre a moeda; 
a desconsideração do desemprego; o tratamento fragmentário da realidade econômica. 
Contra a crença dos clássicos, a de que o mercado em geral (de trabalho, de capital e de 
mercadorias) funciona através da lei da oferta e da procura, ele apresenta novos 
princípios sistematizadores. 
 Para ele, cabe à procura o papel de agente motor de todo o sistema econômico. O 
emprego varia no mesmo sentido que o rendimento global (que gera a procura global). 
Afirma que este rendimento pode ser empregado de três modos: entesourado; investido; 
consumido. Quanto à procura efetiva, depende de três fatores psicológicos e 
independentes entre si: a preferência pela liquidez; o estímulo para investir; a propensão 
a consumir. A primeira se traduz pela preferência pelo dinheiro líquido (papel-moeda ou 
títulos de crédito a vista); tal se dá porque, como a moeda é uma reserva de valor, as 
pessoas tendem a conservar as suas economias para o fim de transação (trocas 
comerciais), por precaução ou para especulação. 
 Através da taxa de juros, a moeda transforma-se em um elemento ativo capaz de 
modificar as condições de equilíbrio econômico. O juro representa a renúncia à liquidez, 
e a sua taxa representa a diferença entre o volume de moeda em circulação e a sua 
procura para entesouramento. 
 Para Keynes, é necessária a intervenção do governo na economia, porque nem 
sempre funcionam os mecanismos auto-reguladores previstos pela economia clássica; 
situações de desemprego podem prolongar-se no tempo, enfraquecendo a economia. Por 
outro lado, esta intervenção, feita através de uma política fiscal e monetária adequada, 
não deve induzir a um entesouramento estéril, e sim estimular despesas (consumo e 
investimento) capazes de aumentar o emprego. A política tributária deve tornar-se um 
elemento ativo na distribuição dos rendimentos, bem como na orientação geral da 
política econômica. A expansão do crédito deve basear-se na redução da taxa de juros 
(tornando “barato” o dinheiro); na verdade, a política de juros constitui o fulcro do 
sistema de Keynes. 
 Além de incentivar o mercado livre, o governo deve estimular os investimentos; 
Keynes recomenda uma política de grandes obras públicas. Também recomenda uma 
balança econômica favorável.103 
 
 
 
103
 As idéias de Keynes, apresentadas na Conferência de Bretton-Woods, em 1944 (que iria definir o 
futuro econômico do pós-guerra) serviram de base à criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e 
do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento Econômico (BIRD – mais conhecido como 
Banco Mundial). 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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58 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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59 
CAPÍTULO VIII 
 
A NOVA REALIDADE ECONÔMICA 
 
 
 O Japão, apesar de se submeter à ocupação militar, não se submeteu a uma ocupação 
econômica. Ainda que totalmente devastado, o parque industrial japonês continuou sob 
controle nacional, e o gênio e a capacidade de trabalho deste povo logo deu início à sua 
recuperação. Programas econômicos governamentais em paralelo com a ajuda externa 
propiciaram a recuperação econômica, e já na década de 1960 o Japão era um dos países 
de mais rápido crescimento da economia, em todo o mundo, com um crescimento 
bastante veloz da renda nacional.104 Uma florescente indústria automobilística e 
eletrônica logo colocou de novo o país como um dos maiores exportadores do mundo.105 
 
 A formação de uma comunidade econômica européia na década de 1960 evoluiu 
para a formação de um bloco político e econômico, a União Européia, com uma moeda 
única (o Euro)106 e que caminha para um governo unificado (o Parlamento Europeu 
ainda não tem total autonomia sobre todos os assuntos dos países membros).107 A 
Alemanha, apesar de ter gasto uma soma fabulosa em sua reunificação, não tem dado 
mostras de esgotamento econômico. 
 
 
104
 Apesar de uma recessão quase endêmica que o assolou, a economia do Japão ainda é a segunda do 
mundo, com uma produção nacional de cerca de 10 trilhões de dólares por ano. A renda per capita 
japonesa, atualmente, é uma das maiores do mundo. 
105
 O comércio do Japão com o resto do mundo, extremamente favorável para a sua balança de 
pagamentos (constantemente superavitário), tem permitido a que este país acumule uma grande 
quantidade de moedas fortes (as reservas monetárias). Este fenômeno, ainda que aparentemente benéfico, 
talvez explique a paralisia econômica que assolou o país. Com um excesso de poupança, os 
consumidores, ainda que com dinheiro nas mãos, recusavam-se (tal como na época da Grande Depressão 
americana) a consumir, agravando o problema e causando desemprego crescente (o Japão sempre se 
orgulhou de seus níveis de emprego, pois é – ou era – uma característica, da maioria das empresas 
japonesas, a de jamais demitir). 
106
 A União Européia é formada por vinte e sete países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária. Chipre, 
Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, 
Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos (Holanda), Polônia, Portugal, Reino Unido, 
República, Romênia e Suécia Inicialmente, doze países se uniram economicamente (Alemanha, Áustria, 
Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo e Portugal), com a 
condução da economia sendo feita por um banco central europeu. Macedônia, Croácia e Turquia 
caminham para esta integração econômica. Os tratados que definem a União Européia são: Tratado da 
Comunidade Econômica Européia (CEE); Tratado da Comunidade Européia do Carvão e do Aço 
(CECA); Tratado da Comunidade Européia da Energia Atômica (EURATOM); Tratado da União 
Européia (UE),o Tratado de Maastricht, que estabeleceu os fundamentos da futura integração política. 
Neste último tratado, fizeram-se acordos mútuos de segurança e política exterior, bem como a 
confirmação de um Constituição Política para a União Européia. A integração monetária foi realizada 
através de uma moeda única, o Euro. 
107
 A produção de riqueza deste bloco europeu é calculada em cerca de mais de 10 trilhões de dólares por 
ano. 
 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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60 
 No continente americano, os projetos de unificação comercial (ALCA e Nafta) 
esbarram na exagerada desproporção econômica dos países centro e sul-americanos 
frente ao gigante do norte. Problemas políticos e econômicos sempre foram a regra no 
chamado Cone Sul, e o crescimento econômico sempre foi descontínuo (o México, 
ainda que tenha passado recentemente por graves problemas, apresenta atualmente uma 
economia em franco progresso). 
 
 As décadas de 1980 e 1990 foram marcadas pelo início do processo de 
regionalização das relações comerciais mundiais. Este processo, contudo, apenas 
continuava aquele processo iniciado a partir da década de 1950, quando se iniciou o 
processo de integração econômica européia. Em 1957, com a assinatura do Tratado de 
Roma, foi criada a CEE – Comunidade Econômica Européia (ou Mercado Comum 
Europeu – MCE), na esteira do Plano Marshall, inicialmente com os seguintes países: 
Alemanha Ocidental, França, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Em 1973, 
incorporaram-se à organização a Irlanda, Inglaterra e Dinamarca, que antes 
participavam da Associação Européia de Livre Comércio. Em 1967, surgiu a Asean, ou 
Associação das Nações do Sudeste, que atualmente compreende a Indonésia, Filipinas, 
Malásia, Tailândia, Singapura, Brunei, Vietnã, Mianmar (antigo Ceilão), Laos e 
Camboja. Em 1969, surgiu o Pacto Andino, ou Comunidade dos Países Andinos, que 
compreende os seguintes países: Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Em 
1973, foi formado o Mercado Comum e Comunidade do Caribe (Caricom), integrado 
por Suriname, Guiana, Honduras, Belize e as Ilhas do Caribe. Em 1988, surgiu o Nafta, 
reunindo Estados Unidos da América, Canadá e México. Em 1989 veio a Apec, ou 
Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico, composta por Austrália, Brunei, Canadá, 
Indonésia, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Filipinas, Singapura, Coréia do Sul, 
Tailândia, Estados Unidos, China, Hong Kong, Formosa (Taiwan), México, Papua, 
Nova Guiné, Chile, Peru, Federação Russa e Vietnã. A CEE, ou Comunidade dos 
Estados Independentes, foi criada em 1991, tendo como participantes a Armênia, 
Belarus (Bielo-Rússia), Cazaquistão, Federação Russa, Moldávia, Quirguistão, 
Tadjiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Ucrânia, Geórgia e Azerbaijão. Em 1991 
criou-se o Mercosul, ou Mercado Comum do Cone Sul, formado por Brasil, Argentina, 
Paraguai e Uruguai. Em 1992, surgiu a Comunidade da África Meridional para o 
Desenvolvimento (SADC), integrado por Angola, África do Sul, Botswana, Lesopo, 
Malauí, Ilhas Maurício, Moçambique, Namíbia, República Democrática do Congo, Ilhas 
Seicheles, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue. 
 
 Este processo de regionalização econômica marcou o modo como se tem se 
desenvolvido a economia mundial, nas últimas décadas. O Mercado Comum Europeu 
evoluiu para a integração política do continente europeu (a União Européia), unificando 
moedas e abrindo fronteiras internas. Ainda hoje estão em processo embrionário de 
formação outras comunidades; o grande debate hoje em dia, no Brasil, é decidir se o 
país fará parte da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), que irá integrar todo 
o continente americano (com a exceção prevista de Cuba) em um único bloco 
econômico. 
 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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61 
21 – Capitalismo versus Comunismo 
 
 A constante expansão econômica que se deu no período do após guerra veio 
desmentir em toda a linha as críticas que sempre se fizera contra o sistema capitalista. 
No confronto econômico entre os blocos dos países capitalistas e dos países ditos 
socialistas, a realidade acabou por mostrar a diferença crônica entre os dois sistemas. 
 A derrocada do socialismo e o fim da União Soviética se deu exatamente por 
motivos econômicos. O planejamento econômico centralizado sucumbiu ante a pujança 
da economia baseada na propriedade individual e na livre concorrência.108 A economia 
soviética não pôde suportar os sucessivos aumentos de gastos militares, e acabou 
ruindo. Mesmo um país como a China, que se declara politicamente marxista, aderiu 
completamente ao sistema econômico capitalista, admitindo a propriedade privada e a 
livre iniciativa. 
 
 A preocupação com o bem-estar do trabalhador, ainda que nebulosamente fizesse 
parte das considerações teóricas de Karl Marx em sua revolta furibunda contra o 
capitalismo de sua época,109 realmente jamais fez parte da sua ou das demais 
preocupações dos marxistas. Assim, quando Lênin subiu ao poder na Rússia, ele estava 
mais preocupado em fortalecer o Estado contra os inimigos internos ou externos; jamais 
houve nenhuma iniciativa no sentido de criar uma legislação trabalhista adequada, por 
exemplo. Qualquer sinal de comportamento “anti-revolucionário” (que incluía a busca 
do conforto ou da prosperidade pessoal) era severamente punido. 110 
 Não se pode citar uma só conquista trabalhista que se tenha dado em função da 
pretensa “proteção” socialista ao trabalhador, constantemente apregoada pelo regime. 
Na verdade, a regra sempre foi a repressão a qualquer anseio de melhoria, qualquer que 
fosse ele.111 Durante o período stalinista, faltar ou chegar atrasado ao trabalho era 
 
108
 Os países socialistas sempre se caracterizaram por uma agricultura extremamente pobre, incapaz de 
produzir para as próprias necessidades. Desde os tempos de Stálin, a Rússia sempre foi um grande 
importador de grãos e cereais do ocidente, por não poder produzi-los em quantidade suficiente. Em 1958, 
na sessão plenária do Comitê Central, foi lida a seguinte declaração de Khruschev: “o principal objetivo 
da União Soviética consiste em desenvolver, por todos os meios, o caráter mercantil da economia 
agrícola, o progresso de relações mercantis, conduzindo à abundância de produtos agrícolas para o 
mercado (...)”. Isto ocorreu depois de 41 anos de sucessivas planificações econômicas. Apesar da retórica 
marxista, os sucessivos planos econômicos sempre redundaram em fracasso. O sucesso conseguido na 
indústria militar e espacial, por sua vez, se deu à custa de um limitado atendimento às necessidades do 
mercado interno (produzia-se “mais canhões, e menos manteiga”). 
109
 Revolta esta que se justificava, tendo em vista unicamente a perspectiva histórica que a criou. Mas 
Marx jamais foi capaz de aceitar que o capitalismo seria capaz de propiciar um bem-estar aos 
trabalhadores, como realmente acabou acontecendo. Ele não poderia prever que os novos acionistas das 
grandes corporações seriam exatamente os trabalhadores, cuja riqueza cresceria na proporção do 
crescimento da empresa (pela distribuição dos dividendos dos lucros acionários). 
110
 Que se faz normalmente pela elevação do poder aquisitivo. Isto pressupõe a existência de outros 
fatores, como pleno (ou quase pleno) emprego, bons salários, boa educação, sistemas adequados de 
previdência e de aposentadoria, etc. 
111
 Nos pretensos “paraísos” socialistas, era considerado como dissidência política achar que o sistema era 
menos que perfeito, e o infrator era geralmente punido com o exílio para a Sibéria. A falsificação dos 
fatos históricos tomou tais rumos na União Soviética, que asua historiografia, mesmo nos dias de hoje em 
que se tem acesso aos arquivos oficiais, já não é mais possível distinguir entre a falsificação e a verdade. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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62 
considerado falta gravíssima, punida com o exílio na Sibéria. Além disso, o Estado 
soviético não tinha nenhum respeito pelo trabalhador. Em vários momentos, cogitou-se 
da substituição do salário por bens “úteis”. 
 
 
 
“Na Rússia, o Estado combina as formas mais evoluídas de controle e 
dominação burocrática com o que de mais baixo e atrasado existe no que se 
refere ao desenvolvimento econômico. Daí a consideração da 
personalidade humana como mero índice de produção, podendo a 
burocracia dirigente dispor como bem quiser do homem, transferindo-o do 
Kirkiz à Sibéria ou de Vladivostok a Moscou”. (TRAGTENBERG, Maurício. 
Pág. 112). 
 
 
 A situação do trabalhador soviético só começou a melhorar com a ascensão de 
Khruschev ao poder, após a morte de Stálin.112 E no entanto, este estado de coisas 
apenas representava a paranóia que tomava conta dos dirigentes, sempre vendo a 
ameaça capitalista em tudo. Lênin, assim que tomou o poder na Rússia, procedeu a um 
verdadeiro expurgo nas próprias fileiras marxistas, exterminando antigos companheiros 
a pretexto de seu (deles) vezo burguês.113 
 
* * * 
 
 O sistema capitalista, por sua vez, após ter passado pela fase “selvagem” (que foi a 
que Marx conheceu), começou gradativamente a mudar. Não foi uma mudança rápida; 
entretanto, já em 1880 o cenário social alemão viu surgir uma nova mentalidade, que 
viria a se traduzir no moderno Estado do Bem-Estar. O chanceler Bismarck, temeroso 
que a ordem do Estado fosse afetada por revoluções sociais,114 começou a exortar para 
que se atenuasse a face mais cruel do capitalismo. Seu poder de convencimento levou o 
Reichstag alemão a aprovar, em 1884 e 1887, leis que, ainda que de forma rudimentar, 
viriam a prover aos trabalhadores proteção e assistência nos casos de doença, acidentes, 
incapacidade, bem como ampará-los na velhice. Medidas similares foram adotadas na 
Áustria, na Hungria e no resto da Europa. Na Inglaterra, por volta do final do século 
 
A historiografia “oficial” mudou tantas vezes (naquele estilo descrito no romance de George Orwell, 
1984), que é quase impossível encontrar documentos idôneos nos arquivos russos. 
112
 Não se pode afirmar, contudo, que o socialismo tenha morrido (exceto o socialismo “marxista”). Antes 
de Marx já existiam outros socialistas (que foram menosprezados por ele), cujas teorias sociais ainda 
continuam válidas, em sua maioria (não é o caso da prática social, que na maioria dos casos redundou em 
fracasso). 
113
 Também Stálin procedeu a grandes expurgos entre as suas próprias fileiras: “As primeiras vítimas da 
repressão stalinista foram todas as organizações populares de caráter esquerdista que não se dobraram 
ante os fundadores das ‘democracias populares’ ”. Citação extraída de: Planificação – Desafio do Século 
XX, por Maurício Tragtenberg. Pág. 128. 
114
 Em vista das agitações promovidas pelas internacionais socialistas, dominadas por Marx e seus 
seguidores. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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63 
XIX e início do século XX, homens e mulheres115 socialmente engajados, bem como os 
sindicatos (que já eram poderosos e bem organizados), fizeram aprovar leis (em 1911) 
que instituíam proteção contra doença e invalidez, e mais tarde, contra o desemprego (o 
seguro-desemprego). Para sustentar todas estas medidas, novos impostos foram criados, 
que agora alcançavam uma classe que jamais os pagara: os ricos.116 
 Quando o presidente Roosevelt subiu ao poder em 1933, e tendo como tarefa vencer 
a Grande Depressão, ele tomou medidas econômicas117 visando combater o marasmo 
econômico e a queda de produção e de renda nacional. Apesar de que tenha ocorrido 
outra crise (uma recessão) em 1937, suas medidas118 levaram pouco a pouco o país a 
recuperar-se, e lançaram as bases da prosperidade que se seguiria à Segunda Guerra 
Mundial. 
 
 
22 – A Nova Revolução Industrial 
 
 Com a derrocada do sistema socialista da União Soviética, e com o predomínio da 
mentalidade capitalista, o mundo entrou em uma nova era econômica. Se antes se 
dividia em pólos opostos pela ideologia, agora o mundo se divide em áreas econômicas 
de influência. A civilização atual, seja ela formada nos moldes capitalista ou provinda 
dos escombros do socialismo, caracteriza-se por uma forte tendência ao consumismo. 
 
“A Revolução Industrial elevou a produtividade do trabalho a níveis sem 
precedentes na história do homem. A multiplicação das fábricas e a ampla 
utilização de máquinas constituíram a base mecânica dos ganhos de 
 
115
 Que já se batiam pelos seus próprios direitos (eram as chamadas sufragistas, que defendiam o direito 
de voto da mulher, proibida de manifestar seu direito de escolha política). 
116
 A legislação social aprovada sofreu forte oposição das classes mais privilegiadas, que se opunham a 
ser taxados. Conflitos políticos e tumultos criaram uma crise sem precedentes, e em 1910, a Câmara dos 
Lordes somente aprovou a lei a contragosto. A instituição destes impostos não tinha uma sustentação 
teórica de fundo clássico; na verdade, a ortodoxia clássica se opunha à redistribuição de renda, porque 
acreditava que a utilidade marginal do dinheiro para o indivíduo que o adquire não diminui (sua 
satisfação não é reduzida com cada unidade adicional). Afirmava também que não era possível comparar 
utilidades interpessoais (não se podia dizer que alguém com mais bens obtinha menor satisfação dos 
incrementos do que alguém com menos bens). Assim, não havia uma justificativa econômica para a 
transferência de renda de ricos para pobres. Em 1920 o economista Arthur Pigou demonstrou que desde 
que a produção global não diminuísse devido às medidas tomadas, o bem estar econômico aumentava, 
com a transferência de recursos de ricos para pobres. Mas a adoção de uma legislação que assegure 
proteção aos pobres, seguro-desemprego e pensões de aposentadoria continua sendo condenada por 
economistas aferrados às concepções clássicas (por exemplo: Ludwig von Mises e Friedrich Hayek). Para 
eles, a única coisa que se conseguiria com isto seria a destruição do capitalismo. Ainda que radicais, suas 
idéias são válidas até um certo ponto. Os países escandinavos, por exemplo, foram obrigados a limitar a 
sua política pública social devido ao esgotamento atingido (crescentes benefícios sociais que já não 
podiam ser cobertos por novos impostos, que já estavam em um patamar altíssimo). 
117
 Com base nas teorias de Keynes. As características mais perversas da Depressão (a deflação, o 
desemprego e a privação trazida aos desfavorecidos) foram combatidas com medidas amplas, algumas de 
alcance restrito, outras de alcance a longo prazo. As medidas adotadas para amenizar o sofrimento dos 
grupos mais vulneráveis do sistema econômico lançaram a gênese do Estado do Bem Estar (welfare). 
118
 Entre as várias medidas econômicas adotadas, criou-se uma política de preços mínimos para os 
principais produtos agrícolas, políticas de limitação (se necessário) da produção, e a criação de estoques 
de regulação do mercado. Tais medidas acabaram sendo adotadas pela maioria dos países industriais. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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64 
produtividade. Contudo, a canalização do potencialprodutivo para a 
criação de bens de capital exigiu que uma parte relativamente menor deste 
potencial fosse dedicada à produção de bens de consumo. A aquisição de 
bens de capital fez-se, portanto, a um custo social elevado, resultando em 
grandes privações para as massas”. (HUNT & SHERMAN. Pág. 71). 
 
 Nos países mais avançados economicamente, o aumento crescente da produtividade, 
trazendo mais altos salários que propiciassem ao consumo, levou à criação de um forte 
mercado interno de consumo.119 O bem estar e a aparente tranqüilidade proporcionada 
pela pujança material, por outro lado, possuem um lado menos racional; a prosperidade 
pagou o seu preço. 
 
“Os direitos e liberdades que foram fatores assaz vitais nas origens e fases 
iniciais da sociedade industrial renderam-se a uma etapa mais avançada 
desta sociedade: estão perdendo o seu sentido lógico e conteúdo 
tradicionais. Liberdade de pensamento, liberdade de palavra e liberdade de 
consciência foram – assim como o livre empreendimento, que elas 
ajudaram a promover e proteger – idéias essencialmente críticas destinadas 
a substituir uma cultura material e intelectual obsoleta por outra mais 
produtiva e racional. Uma vez institucionalizados, esses direitos e 
liberdades compartilharam do destino da sociedade da qual se haviam 
tornado parte integral. A realização cancela as premissas”. (MARCUSE, 
Herbert. Pág. 23). 
 
 
 Entretanto, uma nova consciência vem surgindo por entre os benefieiários desta 
sociedade de opulência, representada por uma atitude crítica frente ao preço a pagar por 
ela. Cada vez mais se levantam críticas, oposições e movimentos organizados contra a 
ação predatória e poluidora120 característica do sistema industrial. Atualmente, aumenta 
cada vez mais a preocupação pelo equilíbrio ecológico do planeta, ameaçado pela 
exploração desenfreada de seus recursos. Por todo o mundo, grupos se organizam 
visando defender não apenas o futuro, mas o próprio presente ameaçado. 
 
119
 O grosso da produção industrial de países tais como EUA, Japão, Inglaterra, França e Alemanha, entre 
os de economia mais desenvolvida, volta-se principalmente para o mercado interno. Apenas o excedente 
da produção (que por si já é bastante elevado) é exportado. Tal política não é seguida pelos países 
periféricos (ditos em desenvolvimento), que privilegiam a exportação, em detrimento do seu mercado 
interno. Ao mesmo tempo, a dificuldade econômica crônica destes países leva-os a ter que seguir as 
determinações do FMI, cuja orientação econômica volta-se claramente para uma ortodoxia clássica. 
120
 A poluição trazida por empresas de alta tecnologia não atinge a atmosfera, mas sim a terra e os lençóis 
freáticos. O chamado “Vale do Silício”, região de tecnologia de ponta localizada na Califórnia, é 
atualmente o lugar onde o meio-ambiente está mais exposto. Para produzir os chips e outros componentes 
usados intensivamente em computadores, são necessárias substâncias extremamente tóxicas. Estas 
substâncias, de acordo com a Enviroment Protection Agency, são: xilênio (que pode causar defeitos em 
fetos); compostos de chumbo (cancerígeno); ácido nítrico e compostos do nitrato (envenena os pulmões e 
corrói a carne); éter glicólico (afeta o sistema nervoso e pode interromper a gravidez); ácido 
hidroclorídrico (corrói a pele e provoca choque anafilático). As empresas que industrializam a celulose 
(base para a produção do papel, indispensável por formar o substrato físico da civilização intelectual) são 
as maiores poluidoras dos rios. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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65 
 
“A questão política mais básica, ( ... ) não é quem controla os últimos dias da 
sociedade industrial, mas quem modela a nova civilização que surgirá 
rapidamente para substituí-la. Enquanto as escaramuças políticas de curto 
alcance esgotam a nossa energia e atenção, uma batalha muito mais profunda já 
está tomando lugar sob a superfície. De um lado estão os guerrilheiros do 
passado industrial; do outro, crescentes milhões que reconhecem que os 
problemas mais urgentes do mundo – a comida, a energia, o controle da armas, a 
população, a pobreza, os recursos, a ecologia, o clima, os problemas da idade, o 
colapso da comunidade urbana, a necessidade de trabalho produtivo e 
compensador – não mais podem ser resolvidos dentro da estrutura da ordem 
industrial”. (TOFFLER, Alvin. Págs. 30/31). 
 
 A obra de Toffler que citamos acima tem uma penetrante visão sobre o modo como 
se desenvolveu a nossa civilização. Para este autor, este desenvolvimento pode ser 
dividido em três fases: a Primeira Onda, de características essencialmente agrícolas; a 
Segunda Onda, especificamente industrial; e a Terceira Onda, que apenas iniciamos, e 
que se caracteriza pela desurbanização, des-industrialização e por formas de produção 
econômicas totalmente novas.121 Para Toffler, a atual revolução está se processando em 
um eixo cujo motor é a tecnologia, transportes aperfeiçoados e as comunicações. 
 
 Daniel Bell, um outro teórico da nova civilização, a chama de “sociedade pós-
industrial”. Ele diz que esta sociedade se caracteriza por três componentes principais: 
em economia, pela mudança da manufatura para os serviços; em tecnologia, pela 
centralização destas nos ramos de computadores, eletrônica, ótica e polímeros; 
sociologicamente, pela ascensão de novas elites técnicas e novas estratificações de 
classes sociais122. 
 Para este autor, as mudanças na indústria e na economia irão se caracterizar pela 
automação em massa, impondo novos ritmos à vida cotidiana, ao modo de vida e ao 
lazer, pela diminuição dramática do número de horas trabalhadas por semana. A 
 
121
 É o caso do surgimento de empresas “virtuais” na Internet, cujo valor não pode ser avaliado por um 
patrimônio “visível”, como é o caso das empresas tradicionais. Isto não impede que elas atinjam um valor 
de mercado impressionante. 
122
 Alguns autores, por sua vez, criticam esta nova sociedade tecnológica. De um modo geral, esta crítica 
aponta para o fato de que, nas nações industrializadas, o homem moderno tornou-se escravo desta 
tecnologia, e o vício do conforto material apenas esconde as profundas deficiências e a injustiça social 
desta sociedade. Além disso, a tecnologia trouxe poluição, envenenamento do solo por defensivos 
agrícolas e o perigo nuclear. Para Robin Clarke, autor inglês, esta análise é injusta, por não levar em 
consideração que a tecnologia traz mais benefícios reais do que malefícios. Para ele, a tecnologia pode 
evoluir para formas não poluentes e menos perigosas para o meio-ambiente. O erro está no modo como se 
trata a tecnologia. A própria forma de ajuda dos países ricos aos mais pobres mediante o fornecimento de 
tecnologia avançada, além de ser extremamente dispendiosa, nem sempre resolve os problemas 
econômicos dos últimos. Além disso, para Clarke, sempre se encontram, integrados na tecnologia, os 
valores e os ideais da sociedade que a criou. Em contato com outras culturas, esta tecnologia geralmente 
tem um efeito perverso, capaz de deformar o seu sistema de valores (inclusive a sua atitude frente à 
natureza e à sociedade). O mau uso da tecnologia poderia decorrer destes equívocos culturais e da 
assimilação deturpada do conhecimento tecnológico (por exemplo, os conhecimento tecnológicos 
relativos à pesquisa de defensivos agrícolas podem ser desviados para a pesquisa de armas químicas e 
biológicas). 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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66 
composição básica da força de trabalho se altera, à medida que os processos 
automáticosreduzem o número de operários industriais necessários à produção. Como 
conseqüência mais importante, Bell aponta o fato de que as indústrias passariam a se 
localizar distantes das grandes cidades, mais perto das fontes de matéria-prima e 
combustíveis. 
 A descentralização industrial, além de revolucionar a topografia social, tornaria 
indistinta as orlas radiais das metrópoles e das fronteiras entre urbano e suburbano. Sob 
o domínio da automação, a depreciação do maquinário representaria um custo maior do 
que o dos salários da mão-de-obra; assim, para neutralizar o alto investimento de 
capital, cada vez mais as fábricas automatizadas passariam a funcionar 24 horas por dia. 
Como conseqüência, ficariam alteradas todas as formas conhecidas de “turnos de 
trabalho”, trazendo como conseqüência novas relações trabalhistas, nova legislação e 
novas formas sociais e jurídicas de interpretação do trabalho.123 
 
 Um aspecto que causa calafrios é o gigantismo da nova economia. Fusões sucessivas 
estão criando corporações tão gigantescas, que fazem parecer insignificantes as 
corporações de fim do século XIX. O advento da tecnologia da informática e do mundo 
virtual criado pela rede de computadores (a Internet) propiciou o surgimento de novas 
corporações cujo valor de mercado ascende a centenas de bilhões de dólares. 
Atualmente, já não se pode definir uma empresa como sendo de capital intensivo ou de 
mão-de-obra intensiva. A pesquisa, a engenharia e o design levaram à criação de um 
novo termo, a inteligência intensiva. No custo final de um chip, por exemplo, apenas 
15% referem-se à matéria prima, energia, maquinário e mão-de-obra. Os restantes 85% 
são gastos com a pesquisa e o design.124 A maioria das gigantescas corporações está 
migrando o seu pessoal para a produção de softwares e projetos de sistemas; outra parte 
está ligada ao marketing de vendas. Apenas 5% do pessoal se ocupa com a fabricação 
propriamente dita. 
 
 
23 – Um Novo Mundo Econômico 
 
 A característica mais marcante da nova economia mundial, a globalização, tem 
efeitos favoráveis e efeitos perversos. As gigantes empresas transnacionais, ao perderem 
a sua identidade, já não possuem um centro definido; elas procuram se instalar 
preferencialmente em países de mão-de-obra barata, e buscam também unificar a sua 
produção, fabricando produtos “mundiais” que se possam rapidamente adaptar para 
outros perfis de consumo. Globalização, então, é o processo de descentralização 
industrial, processo este que força a que as economias mundiais (ou seja, que os países 
 
123
 Esta análise de Bell foi feita na década de 1970, e mostrou-se extremamente profética quanto às atuais 
formas de trabalho nos Estados Unidos e no Japão, principalmente. 
124
 Marx já havia previsto que, no futuro, o advento de instrumentais criados pela ciência e pela técnica 
iria modificar a relação entre o tempo de trabalho (e da quantidade de trabalho) e a criação da riqueza 
real. Desta forma, o trabalho humano já não estaria incluído no processo de produção; o homem apenas se 
relacionaria com este processo como supervisor e regulador. Na verdade, é isto que vem acontecendo nas 
empresas de alta tecnologia e elevada robotização, onde o trabalho humano está exatamente neste nível 
previsto por Marx (entretanto, mesmo assim ele condenou esta forma de trabalho, porque, dizia, se 
apropriava da produtividade universal do homem). 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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67 
participantes deste processo tenham uma economia aberta, permitindo um maior fluxo 
tanto de capital quanto de mercadorias e serviços – seja na exportação, seja na 
importação). Isto implica na necessidade de limitar o controle alfandegário, diminuindo 
(ou mesmo abolindo) tarifas protecionistas sobre mercadorias. 
 O próprio fato de que a maioria das mercadorias atualmente fabricadas em qualquer 
país surge da montagem de peças provindas dos mais variados pontos do globo obriga a 
esta abertura. A característica mais marcante da globalização é o surgimento do 
chamado “produto mundial”, uma mercadoria que tem basicamente as mesmas 
características em qualquer dos mercados nacionais onde seja fabricada e vendida. O 
produto mundial (que surgiu da necessidade de diminuir custos de produção, e da 
concorrência enorme no mercado) decorre da padronização das linhas de montagem e 
da unificação e diminuição das peças básicas usadas no produto (ou seja, diminuição do 
número de fornecedores).125 
 
 Novas técnicas de administração, tais com o Controle de Qualidade Total ou de 
reengenharia vem assolando os manuais de economia e de administração, e em seu 
nome, crescem as demissões. Neste processo capitalista acelerado, as mercadorias são 
vendidas em todo o mundo, num processo de competição sem paralelo. 
 Este fenômeno é acompanhado por uma maior circulação de capitais (via 
empréstimo), que entretanto já não deseja seguir as regras tradicionais de maturação 
(tempo médio estimado para retorno dos investimentos); em um único dia, uma 
quantidade inacreditável de dinheiro (chamado “dinheiro volátil”) gira pelos vários 
mercados financeiros mundiais, sem se fixar por muito tempo em uma ou outra 
economia nacional.126 Frente a estas quantias astronômicas,127 o dinheiro público 
disponível para investimentos, na maioria dos países, é simplesmente insignificante. 
Esta situação, agravada pela contenção orçamentária, obrigou muitos países a 
desestatizarem a sua economia, pela privatização de empresas públicas, apenas porque 
não tinham outro meio para conseguir dinheiro para investimentos. 
 Esta movimentação econômica mundial sem precedentes mudou todos os parâmetros 
e teorias econômicas, incapazes de abarcar todo o processo. Mais do que a Revolução 
Industrial, que deslocou o foco da sociedade do campo para as cidades,128 a nova 
 
125
 A produtividade industrial também decorre desta padronização. Da década de 1980 para cá, o tempo 
de produção de um carro “mundial” no Brasil baixou de, entre 5 a 10 dias, para 24 horas. O número de 
fornecedores baixou em média, de 1000, para menos de 100 (Revista Veja, edição 1749, 1º de maio de 
2002. Pág. 108). 
126
 Entre 1971 e 1995, o volume de empréstimos internacionais aumentou em 130 vezes, de um total de 
10 bilhões de dólares, para 1,3 trilhão. Este capital volátil, nas duas últimas décadas do século passado, 
foi o terror das economias nacionais, arrasando economias tão díspares como a mexicana, coreana ou 
brasileira. 
127
 Apenas para comparação, as dez maiores corporações mundiais (e tomando-se apenas aquelas da 
economia tradicional) chegaram a faturar 1,4 trilhão de dólares em 1995, superando o PIB de muitos 
países. E a maior parte do seu faturamento é feito a nível mundial. Em geral, estas corporações possuem 
as suas unidades fabris espalhadas pelo mundo. Um único produto tecnológico pode ser composto por 
componentes físicos fabricados em lugares tão diversos quanto Formosa, Coréia do Sul, Cingapura ou 
Vietnã. 
128
 Galbraith chama a atenção para um fato a que se dá pouca atenção, o de que a escravidão é um 
fenômeno tipicamente agrícola. Assim, é possível que o advento da Revolução Industrial tenha permitido 
a abolição da escravidão, em todos os países. Não é uma surpresa que a Inglaterra, berço desta revolução, 
foi a primeira a aboli-la. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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68 
economia está lançando as bases para um mundo totalmente diferente, que mal pode ser 
imaginado.129 
 Sob um ponto de vista, parece que uma característica marcante desta nova economia 
seria o desempregomaciço, mesmo em países economicamente avançados. Segundo 
alguns especialistas, os índices de desemprego na Europa, ao final do século XX eram 
os mais elevados desde a época da Grande Depressão. Visto sob outra ótica, parece estar 
havendo, na verdade, uma migração em massa de empregos, originalmente das 
empresas tradicionais, para empresas de serviços e até mesmo empresas automatizadas. 
Os países que mais avançaram nestas áreas (Estados Unidos e Japão) atravessaram o 
período sem graves crises de desemprego (mesmo em recessão, o Japão manteve os seus 
índices tradicionais de emprego). 
 
 A globalização, apesar da grande oposição que tem levantado, tem mostrado ser um 
fenômeno irreversível. Os países que tentaram fechar a sua economia ao comércio 
mundial regrediram a um nível vegetativo de crescimento, com fome e miséria interna 
(é o caso da Coréia do Norte e da Albânia). 
 
 Se a globalização tem uma faceta ruim, ela pode estar no fato de que os governos 
nacionais vêm perdendo sua autonomia interna (e, em certos casos, até mesmo uma 
parte de sua soberania), pelo fato de terem de se submeter aos ditames do capital 
internacional.130 A quebradeira generalizada de vários países deu-se em função, 
basicamente, da sua incapacidade de controlar os capitais voláteis.131 
 Reservas de mercado, legislação reguladora, controle de preços, proteção 
alfandegária, são medidas inócuas e até mesmo deletérias, em uma economia 
globalizada.132 E se o país tenta simplesmente fechar suas fronteiras, fatalmente deixará 
de ter acesso aos capitais externos e a novas tecnologias. Caminhando para trás, seus 
produtos acabam por perder competitividade, a indústria sucateia, e a inflação acaba 
vindo como corolário deste estado de coisas. 
 
 
24 – O Problemas dos Países Emergentes 
 
129
 Para Kenichi Ohmae, autor do livro “O Fim do Estado Nação”, “trata-se de uma nova espécie de 
processo social, uma civilização genuinamente transnacional, alimentada pela exposição à tecnologia e 
pelas mesmas fontes de informação”. 
130
 Marx afirmava que a concorrência entre os capitalistas levando ao esmagamento dos menores pelos 
maiores, bem como o aperfeiçoamento da tecnologia (que levaria, segundo ele, a que as empresas 
precisassem ampliar a produtividade do trabalho, com aumento da escala de produção) levavam 
inexoravelmente à concentração da riqueza e do poder econômico em um número cada vez mais restrito 
de capitalistas. A par desta concentração cresceria a miséria e a exploração econômica. Como corolário de 
sua análise, Marx exortava a que as massas se unissem e se organizassem contra o sistema capitalista. 
131
 Se o país desvaloriza a moeda tentando proteger a sua economia, estes capitais se volatizam da noite 
para o dia, pulverizando as suas reservas internacionais. 
132
 Não significa que a economia não possa ter segmentos protegidos, principalmente nos países de 
economia mais vulnerável. E no entanto, esta também é uma prática comum nos países mais fortes 
economicamente. O aço, por exemplo, é um produto que volta e meia entra na pauta de produtos 
protegidos pelos Estados Unidos (como proteção, é claro, à sua siderurgia). No entanto, sempre que isto 
ocorre, algum outro segmento da economia americana sofre as conseqüências (quase sempre, a indústria 
automobilística). 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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69 
 
 Com a progressiva descolonização que ocorreu após o fim da Segunda Guerra 
Mundial, um novo problema surgiu. A maioria dos países recém-independentes era 
muito pobre e subdesenvolvido, sendo a sua pobreza caracterizada por desemprego, 
baixos salários, analfabetismo, doenças, fome, etc. Enfim, a má qualidade de vida era a 
principal característica desses países. 
 Mas não eram apenas as ex-colônias que estavam nesta situação. Países há muito 
independentes politicamente, por seu lado, mostravam-se extremamente dependentes 
economicamente, apresentando uma economia fraca e incapaz de trazer prosperidade e 
bem-estar aos seus cidadãos. 
 A solução buscada, adotada ou imposta, na maioria dos casos, voltava-se para um 
desenvolvimento urbano-industrial, como o único capaz de eliminar o atraso crônico 
destes países. 
 Vários preceitos foram postulados para se proceder a este desenvolvimento forçado: 
industrialização urbana maciça; mecanização intensiva da agricultura; desenvolvimento 
das áreas urbanas; controle demográfico; adoção de uma política de redistribuição de 
renda; adoção de reformas políticas e administrativas, visando basicamente coibir a 
corrupção; incremento das exportações. Por outro lado, nada disto funcionaria se não 
houvesse uma contrapartida externa, materializada na forma de ajuda, investimento 
direto, transferência de tecnologia e importação. 
 
 Analisando-se os resultados gerais desta política de desenvolvimento, podemos notar 
que pouca coisa mudou desde que ela foi adotada. Em geral, e com poucas exceções, os 
países do Terceiro Mundo que conseguiram sair do “círculo vicioso” da pobreza o 
fizeram às próprias custas, através de investimento maciço em educação e pesquisa 
tecnológica.133 De um modo geral, as condições econômicas e sociais bastante instáveis 
que prevaleceram nas décadas de 1960 a 1980 impediram que diversos países pudessem 
proceder a um desenvolvimento auto-sustentável. A tentativa de industrialização a 
qualquer custo redundou em fracasso, em muitos países, principalmente devido ao fato 
de que eles careciam de know-how tecnológico. A falta de uma estrutura educacional 
abrangente impede o aproveitamento integral da ajuda tecnológica.134 
 Por outro lado, a maioria das indústrias tecnológicas estão em mãos de empresas 
estrangeiras, que repassam apenas uma tecnologia ultrapassada para suas filiais. Alia-se 
a este fato a relutância dos países avançados em passar para os menos desenvolvidos o 
que consideram “tecnologia sensível”, principalmente nos campos da mecânica fina, 
robótica, nanotecnologia, ótica, microprocessadores, polímeros, energia nuclear,135 
exploração espacial, etc. 
 
133
 Os exemplos mais flagrantes são a Índia e a China, que adotaram uma via própria de desenvolvimento, 
pressionados pelo seu gigantismo demográfico. 
134
 No Brasil, é comum encontrarmos equipamentos tecnológicos, que foram fornecidos (e muitas vezes, 
comprados), ainda encaixotados, enferrujando e tornando-se obsoletos, simplesmente porque não há 
quem possa montá-los e operá-los. 
135
 Na década de 1970 o Brasil assinou contratos de ajuda para a implantação de usinas nucleares com a 
Alemanha Ocidental que vieram a se mostrar extremamente prejudiciais ao país. Paralelamente, e em 
segredo, havia um projeto secreto de pesquisas que foi capaz de, realmente, fazer o Brasil adquirir know-
how neste campo de pesquisas. Infelizmente, no Governo Collor, o excesso de demagogia fez interromper 
estas pesquisas, as quais tornavam o país autônomo, nesta área. No campo da exploração espacial, o 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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70 
 
 Os problemas relativos ao desenvolvimento levaram várias pessoas a repensar esta 
questão. Acreditar, por exemplo, que o desenvolvimento deva ter como parâmetro único 
o crescimento econômico, é perigosamente enganoso. Expandir, simplesmente, a 
produção de bens e serviços, talvez seja uma condição necessária, mas não é suficiente 
para garantir o desenvolvimento. Distribuir riqueza não é o mesmo que criar um 
mercado de consumo (que, quase sempre, baseia-se na obsolescência planejada como 
forma para continuamente criar novos anseios de consumo, em uma espiralinterminável). 
 
 Os países em desenvolvimento, ou países “emergentes”, geralmente buscam 
transplantar um ou vários tipos de indústria a partir de países avançados, sem no entanto 
buscar paralelamente usar os recursos técnicos e culturais disponíveis internamente para 
complementar a tecnologia estrangeira. Além disso, muitas vezes esquecem que os 
países avançados dão grande ênfase à sua produção primária, alocando recursos baratos 
e proporcionando constantes estímulos (via subsídios) à classe de agricultores. Isto quer 
dizer que os países industrializados o são tanto na parte urbana quanto na parte rural, 
característica esta facilmente esquecida pelos países do Terceiro Mundo, que dão pouco 
apoio à agricultura. 
 Em alguns países menos desenvolvidos, a experiência provou que algumas 
iniciativas simples de mistura de política doméstica e internacional eram capazes de 
acelerar o desenvolvimento, reduzir disparidades de renda e colocar sob controle o 
crescimento populacional. Estas iniciativas passam pela oferta generalizada de 
educação, crédito, tecnologia barata e serviços de saúde a pequenos produtores rurais e 
urbanos, bem como a trabalhadores sub-empregados. De um modo surpreendente, 
notou-se que estas iniciativas eram capazes de, por si só, tornar altamente produtivos 
estes segmentos sociais, que também adquiriam capacidade de poupança e de 
investimento positivo. 
 
 Outro fator comumente desconsiderado é o fato de que, nos países avançados, a 
maioria dos empregos oferecidos geralmente estão no setor de serviços; a indústria e a 
agricultura, excessivamente mecanizadas, ocupam pouca mão-de-obra. Entretanto, na 
maioria dos países do Terceiro Mundo, o Estado (o setor público) vem assumindo este 
mister. O que se nota é que o setor público vem se expandindo e absorvendo áreas do 
setor privado (indústrias nacionalizadas, bancos, etc.) ou simplesmente aumentando o 
quadro de pessoal da administração direta e indireta. Na maioria dos países menos 
desenvolvidos, o excesso de burocracia, a voracidade fiscal e um excesso de leis, 
regulamentos e decretos, em vários níveis governamentais, aliado a um excesso de 
impostos, vem onerando a produção de riqueza nacional via o comércio. A soma destes 
fatores maléficos tem como conseqüência a redução da oferta de empregos e o aumento 
da sonegação, como forma de sobrevivência econômica. 
 
* * * 
 
Brasil tem um projeto completo, inclusive com veículos lançadores de satélites (na base de Alcântara), 
que sofrem a mesma miopia demagógica, pois restringem-se cada vez mais as verbas, o que provoca a 
dissolução de sofisticados grupos de pesquisa, graças aos baixos salários e à falta de motivação. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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71 
 
 Há um último e importante parâmetro a ser considerado, no que tange às 
necessidades econômicos de um país. Normalmente, considera-se a necessidade de uma 
poupança interna elevada, como meio de suprir as elevadas demandas de capital 
necessário para os investimentos. Historicamente, os países menos desenvolvidos tem 
mostrado uma menor capacidade de poupança. Entretanto, um fator importante 
normalmente é desconsiderado, aqui. A poupança existente nos países mais ricos 
somente surgiu após ser satisfeita a demanda de consumo interno. Um país como o 
Japão, por exemplo, que apresenta índices atuais altíssimos de poupança, criou um 
mercado interno vigoroso, de intensa demanda, e nele baseou o seu crescimento 
econômico. A exportação jamais foi a mola-mestre do crescimento econômico japonês 
(dizendo de outro modo: o Japão jamais necessitou priorizar as exportações, como o 
fazem os países menos desenvolvidos, que praticam uma política equivocada de 
desenvolvimento). 
 
* * * 
 
 Todos os fatores apontados mostram claramente a necessidade de mudanças 
culturais, antes que se proponham mudanças econômicas. O desenvolvimento deve 
começar pela reorientação das metas, apoiando e estimulando todas as iniciativas que 
levem à formação de uma verdadeira e coerente base material e tecnológica interna, 
bem como a uma reforma coerente do sistema produtivo de riqueza. 
 
 
25 – Tecnologia e Desenvolvimento 
 
 Na atualidade, pode-se dizer que a tecnologia é sinônimo de desenvolvimento e 
importante fator para a prosperidade dos países avançados. O alto grau de dependência 
da ciência em relação à tecnologia força a que as nações lancem cada vez mais mão dos 
recursos disponíveis com o fim de possibilitar a pesquisa científica, pesquisa esta que, 
aplicada praticamente, contribui para que estas nações mantenham os seus altos índices 
de progresso e crescimento econômico. 
 Nenhuma nação que esteja em vias de desenvolvimento deve desdenhar este esforço, 
ou jamais alcançará a sua emancipação. No entanto, ainda assim parece existir, nestas 
nações, uma dicotomia entre esta necessidade e o esforço que despende para tal. 
 Um equívoco, contudo, parece imperar entre os responsáveis por este esforço. 
Quando se trata de adquirir tecnologia, sustentam a tese de que esta deve ser adquirida 
no exterior, justificando que assim se pode “queimar etapas” inúteis. Agindo assim, ou 
demonstram má-fé ou parecem ignorar que isso só faz dar continuidade à dependência 
cultural, científica e econômica do país que age assim. O pior é que, além da tecnologia, 
o país absorve uma infra-estrutura cultural que não lhe é própria, na forma 
aparentemente inocente de métodos educacionais (acompanhados por livros didáticos, 
manuais, técnicas pedagógicas, etc.) estranhos, que apenas fazem tumultuar o esforço 
nacional. 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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72 
 A dependência tecnológica que se cria é perpetuada pelo fato de que qualquer 
atualização, além de dispendiosa, não acompanha o desenvolvimento tecnológico 
interno, porque este fica amarrado à produção de ciência feita no exterior. 
 Este monopólio da tecnologia cria aspectos inusitados de dominação econômica, 
porque a carência de pesquisa interna não cria os benefícios que se poderia esperar dos 
avanços científicos. O próprio sistema internacional de patentes cria obstáculos à 
pesquisa, além de criar monopólios de comercialização em diversas áreas sensíveis, tais 
como defensivos agrícolas e remédios. Além do mais, a tecnologia transferida sempre 
constitui, para quem a recebe, autêntica “caixa preta” da qual não tem idéia do 
conteúdo. 
 Em várias ocasiões, a ONU posicionou-se quanto a este assunto, manifestando uma 
preocupação neste sentido. Para este órgão internacional, os seguintes fatores devem ser 
considerados: 1) o custo real da tecnologia é superior ao que se poderia desejar; 2) os 
modos atuais de transmissão de tecnologia tendem a perpetuar a dependência 
tecnológica dos países que a recebem, e impedem o incremento de uma tecnologia 
nacional; 3) a tecnologia estrangeira, ainda que possa fortalecer a capacidade produtiva 
nacional, freqüentemente se converte em fator de elevação dos custos de produção; 4) a 
tecnologia transferida nem sempre contribui para a expansão das exportações de 
produtos manufaturados; 5) muitas vezes, a tecnologia importada é incompatível com as 
condições locais. 
 
 A implantação de uma tecnologia genuinamente nacional choca-se muitas vezes com 
diversos obstáculos. O núcleo natural do qual ela deveria provir, universidade e centros 
de pesquisa avançadas, muitas vezes sofre de alta de recursos, pela falta de apoio 
governamental, ausência de uma educação de alto nível, baixos salários, etc. Este último 
fator tem levadoa uma intensa evasão de talentos, que agrava ainda mais o problema. 
 Outras vezes a pesquisa é mal orientada, dando prioridade a setores não tão 
importantes. Com isso, recursos preciosos são mal gastos, piorando o problema. 
Também falta de planejamento ou até mesmo planejamentos errôneos, bem como a falta 
de técnicos de nível médio capazes de dar suporte (montagem, conserto e manutenção) 
aos equipamentos de alta complexidade tecnológica acaba por tornar-se um obstáculo 
absolutamente intransponível. 
 
 
26 – Haverá Uma Ideologia para a Nova Época? 
 
 Finalmente, neste mundo novo que se avizinha, a antiga pregação ideológica perde o 
seu matiz. A “queda” do Muro de Berlim em 1989 foi um marco referencial para uma 
mudança de paradigma, a passagem para uma nova época na qual perde o sentido 
qualquer discussão ou separação entre “esquerda” e “direita”, ambos órfãos de uma 
filosofia social capaz de dar sentido e finalidade a qualquer discussão, debate ou 
confronto entre ideologias. 
 Doravante, apenas um discurso de novo tipo, voltado para a conservação 
ecológica,136 para a tentativa de realização de um ideal social baseado em premissas 
 
136
 “Calcula-se que, atualmente, os negócios são responsáveis por mais de 25 bilhões de toneladas de 
poluentes, dispersos no ar e lançados na água e na terra; cerca de 125 toneladas de dejetos, anualmente, 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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73 
possíveis, pode conseguir a atenção do habitante deste mundo novo, e será capaz de 
lançar os modelos para uma nova sociedade, modelos estes calcado em novas teorias 
sociais e econômicas capazes não só de trazer prosperidade e eliminar o fosso existente 
entre as classes privilegiadas e as classes desfavorecidas, mas principalmente trazer 
condições não apenas para que este mundo novo seja, além de próspero e feliz, também 
mais equilibrado e mais racional. 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
A Nova Economia 
 
 
 A chamada economia “globalizada” não se baseia em premissas econômicas 
recentes. O “neo-liberalismo”, que é o fulcro teórico que sistematiza esta onda 
econômica atual já existe desde 1938; surgiu pois, às vésperas da Segunda Guerra 
Mundial. Como doutrina, foi balizada por diversos teóricos da economia, tais como 
Hayek, Mises, Robbins, Baudin, etc.137 
 
 O neoliberalismo procurou examinar os resultados das numerosas intervenções do 
Estado na economia. Este estudo, além de focalizar o mecanismo dos preços, tentava 
também avaliar todas as conseqüências de uma economia planificada (cuja característica 
principal é o controle de preços). 
 
 Para o neoliberalismo, este controle é daninho para a economia, porque eles não 
podem ser usados para aferir o mecanismo da oferta e procura. Assim, a única 
intervenção que aceitam é no sentido de o Estado intervir com uma função reguladora 
(impedindo cartéis) ou mesmo reformando instituições ineficientes. Aceitam também a 
possibilidade de vir o Estado a exercer de uma forma permanente uma atuação em 
certos setores da economia, tomando medidas econômicas que visem reduzir ao mínimo 
as injustiças sociais, aceitando mesmo uma legislação social para isso. 
 Os neoliberais mais radicais, por seu lado, acreditam que o Estado é perdulário, 
incompetente e corrupto, e por isto incapaz de intervir de forma eficiente na economia e 
no sistema econômica; sua tese é a de que os indivíduos deste sistema econômico são 
capazes de encontrar suas próprias soluções para sanar todos os problemas.138 
 
* * * 
 
 
para cada homem, mulher e criança nos Estados Unidos. Incluídos nessa quantidade estão cerca de 150 
milhões de toneladas de fumaça que escurece o céu e envenena o ar, 22 milhões de toneladas de produtos 
de papel jogados fora, 3 milhões de toneladas de sobras de fábricas, e 50 trilhões de galões de líquidos 
aquecidos e poluídos que são despejados em rios, cursos d’água e lagos, todos os anos”. (HUNT & 
SHERMAN. Pág. 216). 
137
 Especificamente, foi com Jacques Rueff, economista francês, que surgiu inicialmente a fundamentação 
teórica do neoliberalismo. 
138
 Enquanto os socialistas acreditam que a intervenção do Estado visa tão somente garantir sua 
sobrevivência, pela manutenção das formas de produção e das relações tradicionais de dominação, os 
neoliberais mais radicais possuem as suas próprias razões para não quererem esta intervenção. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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74 
 Com relação à doutrina econômica neoclássica, a crítica que se faz a ela não ataca os 
problemas práticos enfrentados pelo Estado e pela sociedade moderna. Não enfrenta 
desigualdade de crescimento, ou defasagem de crescimento entre segmentos diversos; 
não ataca a crescente desigualdade na distribuição da renda; não explica porque o 
abismo entre ricos e pobres aumenta cada vez mais, ainda que aumente a produção geral 
de riqueza; não explica, nem apresenta alternativas aos problemas de decadência urbana 
e de poluição ambiental. 
 
 O atual cenário apresentado pela economia internacional faz crer que as atuais 
teorias econômicas, apresentadas nos manuais acadêmicos, são apenas adaptações das 
antigas teorias. Na verdade, desde Keynes não surgiu uma teoria abrangente capaz de 
explicar o atual panorama econômico, em toda a sua complexidade. As modernas 
teorias matemáticas que procuram explicar o comportamento econômico apresentam o 
ranço histórico de sua origem. Nenhuma nova teoria tem ousado ir além dos moldes 
capitalistas e socialistas tradicionais, em busca de um novo mundo econômico. 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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75 
CAPÍTULO VIII 
 
O PROBLEMA BRASILEIRO 
 
 
27 – O Brasil e o Cone Sul 
 
 O Brasil possui atualmente uma economia estabilizada, com uma inflação sob 
controle, situação esta surgida após um dramático período caracterizado por índices 
elevadíssimos de inflação. 
 Entretanto, de um modo paradoxal, os remédios econômicos adotados à época, ainda 
que pouco ortodoxos (correção monetária; câmbio fixo; etc.) permitiram um 
crescimento relativamente alto durante este período. 
 Por outro lado, a situação atual caracteriza-se por índices nominais de juros 
altíssimos; elevada distorção na distribuição de renda; um apetite fiscal insaciável e um 
nível ainda baixo de crescimento econômico. 
 Ainda assim, a economia brasileira apresenta um potencial de crescimento geral, 
com segmentos da economia apresentando bom desempenho (safra regular e produção 
industrial estável, por exemplo). 
 
 Acompanhando a tendência mundial de integração econômica, o país vem tentando 
consolidar um grupo econômico regional no Cone Sul (o MERCOSUL) através de 
negociações de alto nível para diminuir barreiras tarifárias e legislações protecionistas. 
Este esforço, contudo, tem esbarrado no nacionalismo crescente dos países sul-
americanos. Por outro lado, o Brasil vem sendo solicitado a se integrar a um mercado 
econômico mais vasto (ALCA), que abrangeria todo o continente americano. 
 
 
28 – Os Problemas da Integração Econômica 
 
 As negociações a nível diplomático e comercial conduzidas no processo da 
integração econômica (e também na integração à economia globalizada) envolvem 
grandes e complexos temas. Não está descartado totalmente o uso de barreiras 
alfandegárias139 para proteção de certos produtos, principalmente devido ao fato (que 
constitui umatendência histórica) de que certos segmentos da economia estão sempre 
defasados das áreas tecnologicamente mais adiantadas, e que sucumbem facilmente ante 
a exposição à importação de produtos mais baratos.140 
 
139
 Uma forma de protecionismo é feita através de barreiras não tarifárias, como por exemplo a criação de 
subsídios agrícolas. Políticas locais de lobby também são responsáveis pela adoção de medidas 
antidumping, geralmente através de legislação específica. Medidas compensatórias também costumam ser 
tomadas pelo país que se julga prejudicado por medidas tais como a desvalorização da moeda. 
140
 Os Estados Unidos costumam criar barreirar alfandegárias contra determinados produtos brasileiros, 
tais como suco de laranja, aço, produtos siderúrgicos, calçados e fumo. Até bem pouco tempo, o Brasil 
costumava proteger o seu mercado de eletrônica e de informática. A importação de produtos chineses 
tem afetado bastante certos setores industriais brasileiros. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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76 
 Talvez um dos grandes problemas relativos à integração (ou não) do Brasil e de 
outros países latinos ao ALCA seja a tremenda diferença que separa estes países da 
dinâmica economia americana (incluindo a economia do Canadá). Enquanto que a 
integração econômica na Ásia e Europa se deu entre países de mesmo nível 
(relativamente) econômico, a integração a ser realizada pela ALCA poderia levar a um 
desequilíbrio econômico insuportável pelos países latino-americanos, que poderia vir a 
favorecer a economia norte-americana (e inclusive provocar uma ênfase indesejável na 
produção de produtos primários, pelos países abaixo do Equador), pelo aumento da 
dependência dos países mais fracos economicamente. 
 
 Outras considerações a serem levadas em conta incluem o problema relativo a 
patentes (de informática, fármacos, bio-químicos, eletrônica, etc.), que é fonte perene de 
discussões acirradas. A falta de uma política nacional voltada para a pesquisa e 
desenvolvimento, aliado ao (ainda) porte reduzido do mercado interno no Brasil 
(derivado, por outro lado, da desigual distribuição de renda e dos baixos salários), são, 
basicamente, a causa do pequeno número de patentes registradas aqui. A defasagem 
tecnológica atual já faz o país depender completamente das corporações multinacionais, 
para adequar o seu parque interno de informática, eletrônica, comunicações, telefonia. O 
Brasil não possui sequer um segmento nacional, no que tange à produção de veículos 
automotores, fazendo o seu mercado depender exclusivamente das decisões tomadas 
fora do país. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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77 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APÊNDICE 
 
 
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78 
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79 
A MOEDA 
 
 
 Não há notícia acerca do surgimento efetivo da moeda, como meio de pagamento de 
mercadorias. Na antigüidade, a partir dos “tempos históricos”, inicialmente usavam-se 
bastões em metais ou fios, como forma de pagamento. Acredita-se que a cunhagem de 
moedas surgiu a partir de Pheidon, Rei da Ilha de Egina, em 750 a.C. No início, havia 
moedas redondas, quadradas e com outras formas. No Japão, por exemplo, usavam-se 
pedaços chatos e oblongos de prata, chamados itbizus. Ao tempo do império romano, a 
moeda era fundida, e não cunhada. 
 Modernamente, não há distinção básica entre “moeda” e “dinheiro”; entretanto, o 
costume tem levado a entender por “moeda” apenas os objetos metálicos assim 
rotulados. 
 
 A moeda é um objeto que possui um valor intrínseco ou apenas nominal, que é 
utilizado como meio intermediário de troca, seja como medida, seja como reserva de 
valor. Há dois tipos de moeda: a moeda-mercadoria, que é este objeto dotado de valor 
de troca; a moeda-escritural, formada de papel-moeda e recibos de depósitos bancários 
(esta última concepção surge em uma etapa posterior de civilização, por ser um meio 
mais abstrato de medida de valor). 
 Intrinsecamente ligados ao conceito de moeda, e derivados de seu uso, surgiram o 
conceito de crédito, o conceito de câmbio (pela consideração do valor relativo de uma 
moeda em relação a outra) e a necessidade prática de criar estabelecimentos de troca: os 
bancos. Ordens de pagamento bancário, por exemplo, já eram utilizados desde o tempo 
dos egípcios antigos (impostos já eram cobrados, há tempos, pela apropriação de parte 
da produção agrícola). 
 Atualmente, a “moeda” (seja ela constituída de moeda metálica, papel-moeda, letras 
de câmbio, ações, recibos de compra de mercadoria, que constituem a quantidade total 
de dinheiro em circulação) tem um valor intrínseco de mercado superior ao custo de sua 
manufatura (impressão ou cunhagem). Se em virtude da inflação este valor se iguala ou 
se torna inferior, a autoridade encarregada do controle de circulação monetária troca-a 
por outra, de maior valor de mercado, ou procede à troca do meio de circulação, 
trocando a “moeda” por outra (basicamente, o que se faz é apenas dar outro nome a uma 
moeda com outra efígie: é que acontece, por exemplo, quando ocorre uma inflação 
descontrolada). 
 
 Até por volta do início da segunda metade do século XX, a maioria dos países 
procurava ter um lastro para a sua moeda, lastro esse baseado no ouro ou na prata. Isto 
significava que a moeda era conversível, ou seja, que o Banco Central trocaria aquele 
papel (o papel- moeda) por ouro (foi o que fez a França de De Gaulle, que levou 
grandes quantidades de ouro dos EUA, em troca do dólar em papel. Isto mudou quando 
os EUA tornou a sua moeda inconversível. Sendo, entretanto, um país de enorme 
quantidade de riqueza produzida anualmente (o PNB, ou Produto Nacional Bruto) e 
com uma gigantesca participação no comércio mundial, isto não teve qualquer 
conseqüência na aceitação e circulação do dólar-papel em todo o mundo. Atualmente, 
na verdade, costuma-se basear a quantidade de moeda em circulação já não mais no 
ouro, e sim nesta riqueza nacional produzida anualmente. Dentro de uma economia em 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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80 
crescimento, procura-se medir a produtividade do trabalho, que se considera um índice 
seguro da relação entre produto social, renda distribuída, uso de mão-de-obra, know-
how e capacidade de aproveitamento dos recursos naturais. 
 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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81 
A RENDA NACIONAL 
 
 
 A renda nacional costuma ser calculada pelo valor líquido das mercadorias e serviços 
produzidos, e a sua flutuação normalmente141 se reflete na quantidade de moeda 
existente. Quanto ao poder aquisitivo do indivíduo, este aumenta na relação direta da 
produção de bens (desde, é claro, que estes bens sejam destinados ao consumo interno). 
O dinheiro é a expressão material desse maior ou menor poder aquisitivo. 
 Todas as tentativas feitas por diversos governos para aumentar artificialmente esta 
renda redundaram em total fracasso. Durante o governo Blum, na França, em 1936, e 
posteriormente no governo de Roosevelt, foram feitas experiências cujo escopo era dar 
dinheiro a certas classes sociais para que pudessem gastá-lo (e que, achavam os 
governantes, provocaria um aumento de produção). 142 Todas estas experiênciasredundaram em retumbante fracasso.143 
 
 A teoria quantitativa da moeda144 visa explicar as variações do valor do dinheiro em 
função da quantidade de dinheiro existente. Os partidários desta teoria acreditam que o 
valor da moeda está ligado a esta quantidade: tendo-se um determinado volume de 
comércio, os preços irão variar em proporção direta com a oferta de moeda. 
 
“Como o valor da moeda é expresso pela comparação desta com o valor 
das utilidades mediante o índice dos preços, conclui-se que qualquer 
alteração na quantidade da moeda acarretará correlativa variação nos 
preços das mercadorias, estabelecendo-se assim rígida dependência entre o 
valor do dinheiro e a sua quantidade. Eis a teoria de que participaram os 
economistas da Idade Média, na quadra sintética dos fenômenos 
econômicos. Sofrendo a evolução peculiar às teorias econômicas, chegou 
ela até nossos dias desdobrada em novos elementos fornecidos pela análise, 
que, tornando-se mais percuciente à medida que avançam os conhecimentos 
da ciência, desagregou o bloco inteiriço de certas noções”. (GOMES, Luiz 
Souza. Pág. 112). 
 
 Mas a renda nacional é, também, o total do valor monetário de gastos em todos os 
bens e serviços que, por sua vez, geram rendas dentro do país. Este valor não é obtido 
pelo somatório de todos os gastos em todos os bens e serviços, por três motivos: 1) os 
gastos em compras de matérias-primas e outros insumos se reflete nos preços de venda 
dos bens produzidos; alguns dos gastos realizados no exterior não revertem em criação 
de renda interna; enquanto alguns gastos são subsidiados, outros são (menos ou mais) 
tributados. 
 
141
 Entre 1933 e 1934 a quantidade de moeda em circulação na Inglaterra diminuiu um pouco, apesar do 
aumento sensível da renda nacional, no mesmo período. 
142
 No Canadá, chegou-se, inacreditavelmente, a distribuir somas de dinheiro entre os cidadãos, para 
compensar o dinheiro que estes entesouravam. 
143
 A experiência histórica não impede que novas iniciativas neste sentido sejam tomadas, seja por 
governos clientelistas, seja por socialistas que vêm propor renda mínima, como se isso resolvesse os 
problemas econômicos. 
144
 Esta teoria é atribuída a John Locke (1632-1704). 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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82 
 
 Uma parte da renda nacional surge através dos chamados “pagamentos de 
transferência”, ou “rendas de transferência” (por exemplo: pensões de aposentadoria; 
benefícios da previdência; juros sobre a dívida nacional). Esta renda transferida sempre 
aumenta o poder aquisitivo de quem os recebe às expensas de outros participantes do 
processo econômico, que foram tributados para isso.145 
 
 
145
 Alguns economistas dizem jocosamente sobre isso que “não existe lanche grátis” (alguém sempre 
paga por ele). 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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83 
A FORMAÇÃO DOS PREÇOS 
 
 
 Define-se “preço” como a relação numérica existente entre a moeda (a moeda 
corrente) e o valor subjetivo de uma coisa, produto ou serviço. Em geral, o preço 
decorre de várias circunstâncias, entre as quais podemos citar: o montante ou volume de 
moeda em circulação; o montante de produção industrial e agrícola; a facilidade ou 
dificuldade de crédito, em função dos juros (que reflete a política fiscal do governo); o 
maior ou menor valor intrínseco de um objeto, pela sua raridade, valorização (é o caso 
das ações, p. ex.), ou da menor ou maior oferta no mercado. A relação cambial da 
moeda em comparação com outras também se reflete nos preços, devido ao comércio 
exterior (é o caso, por exemplo, do preço da gasolina, que reflete o preço internacional 
do petróleo). Evidentemente, o preço também reflete o custo total de produção, o 
pagamento das taxas de juros envolvidas e a margem de lucro do capitalista. 
 
 Em uma economia livre (livre de qualquer forma de monopólio), geralmente é o 
mercado que define os preços, em função da oferta e procura de produtos e serviços, e 
em função da concorrência (mercado é o conjunto de todos os bens e serviços que são 
oferecidos aos consumidores que manifestem interesse em adquirí-los; concorrência é a 
oferta do produto no mercado, a preços iguais ou menores do que os de outros produtos 
semelhantes, oferecidos por aqueles que estão no mercado). 
 Costuma-se distinguir entre preço de mercado e preço natural (tomando-se o valor 
intrínseco da mercadoria). Há também o preço de monopólio, que é o preço da 
mercadoria sem concorrência. O preço normal de mercado é também chamado de preço 
corrente. O preço corrente pode flutuar, em razão de vários parâmetros: estoque; 
velocidade de venda; demanda; perecibilidade da mercadoria; encolhimento do mercado 
(por exemplo, no início de uma feira livre, há bastante gente, e os preços são maiores; à 
medida que passam as horas, há menos gente comprando, e como ainda há estoque 
perecível, o feirante diminui o seu preço de venda). 
 O preço das coisas e serviços não se mantém estável; o próprio aumento da renda 
(tanto individual quanto nacional) tende a aumentá-los, ano após ano. Quando a 
economia se descontrola ou se desequilibra, este fato pode dar início a um aumento 
descontrolado de preços, fenômeno este denominado inflação (a inflação muitas vezes 
resulta do excesso de emissão de papel-moeda). No processo de inflação, o valor de 
aquisição de uma moeda se deteriora, e os preços aumentam continuamente (quando o 
ritmo é muito rápido, estamos diante de uma hiper-inflação). Por outro lado, se os 
preços diminuem, o processo é chamado de deflação. A deflação pode trazer recessão 
(que é fenômeno da diminuição ou parada da produção de renda e riqueza nacional); 
mas se estão juntas a recessão e a inflação, temos o terrível fenômeno da estagflação. 
Em geral, os Bancos Centrais costumam estipular uma taxa de juros anual, que, ainda 
que baixa, não permite que a economia se torne estática (ou que venha a ocorrer a 
deflação, tão prejudicial quanto a inflação). 
 
 Em geral, os preços estão relacionados a vários índices oficiais de medida 
econômica, que medem o desempenho da economia como um todo: são, por exemplo, 
os índices (medidos em vários períodos) da variação do preço (seja para o consumidor, 
seja para os diversos segmentos produtores de riqueza – agricultura, indústria, serviços, 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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84 
construção civil, etc.); os índices de inflação; as taxas de juros; a variação cambial; etc. 
Tais índices podem ser medidos ou avaliados tanto por órgãos oficiais quanto por 
entidades civis, e servem (os primeiros) de referência para outras decisões econômicas, 
tais como a estipulação do salário mínimo; as tabelas e taxas de impostos; o orçamento 
fiscal da União; estipulação de preços controlados e de preços públicos; etc. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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85 
A POLÍTICA DEMOGRÁFICA 
 
 
 Uma das grandes preocupações modernas é o aumento dramático da população 
mundial. As intensas medidas de saúde pública, de saneamento e de higiene, de combate 
às doenças, a par do progresso da medicina preventiva levaram a uma queda progressiva 
do índice de mortalidade em todos os países. Os antibióticos, as vacinas contra doenças 
endêmicas, medidas sanitárias diversas (como o tratamento da água) podem ter 
contribuído para o aumento da população. A fome endêmica também foi vencida pela 
chamada “revolução verde”, que, com o uso intensivode fertilizantes químicos e usando 
sementes de trigo e arroz de alto rendimento, proporcionou a colheita de enormes safras 
agrícolas nos países menos avançados, reduzindo a morte por esta causa. 
 Ainda que a taxa de natalidade tenha decrescido, principalmente devido a políticas 
deliberadas de anticoncepção, o crescimento populacional ainda ameaça a maioria das 
políticas econômicas dos países, que nem sempre conseguem incorporar as constantes 
levas de novos indivíduos em idade de trabalhar. 
 Esta preocupação geral levou alguns especialistas a se voltarem para as idéias de 
Thomas Malthus, que analisara no século XVIII quais seriam as conseqüências de um 
crescimento populacional desenfreado. Para Malthus, a terra (a produção agrícola) 
jamais seria capaz de acompanhar o crescimento da população. 
 Estas idéias de Malthus foram atualizadas e aperfeiçoadas; atualmente, os 
neomalthusianos apontam para o fato de que os recursos naturais do planeta (metais, 
petróleo, água potável) estarão em breve exauridos, devido à exploração em alta escala. 
A poluição e a decadência do meio-ambiente146 acabarão por tornar inabitável grandes 
porções de território, aumentando terrivelmente, por outro lado, os custos para a 
sobrevivência. 
 Ainda que a expectativa geral de vida tenha aumentado, nem sempre a oferta de 
alimentos acompanhou este crescimento. Além disso, ocorre um fenômeno perverso por 
trás desta estatística. Em certos casos, ainda que a produção total de alimentos tenha 
registrado aumento, ocorreu um declínio per capita, anunciando uma deficiente 
distribuição desta produção (e até o desperdício). 
 
 Se Malthus acertou em sua previsão, seu acerto somente se dá quando se considera a 
expansão do índice de consumo per capita, quando confrontado com a produção total de 
alimentos. A renda per capita (tomando-se aqui a renda econômica), ainda que tenha 
subido na maioria dos países do Terceiro Mundo, nas três últimas décadas do século 
XX, ainda assim sobem mais lentamente do que do produto nacional bruto, porque sobe 
muito rapidamente o número de bocas a serem alimentadas.147 Além do mais, o índice 
de crescimento desta renda entre habitantes do Primeiro Mundo é bem maior do que o 
 
146
 O surgimento dos buracos na camada ionizada da atmosfera terrestre são um terrível alerta neste 
sentido. 
147
 Atualmente (2008), cresce o espectro da fome. Na disputa entre bio-combustíveis e alimentos, a 
produção agrícola tende gradativamente para os primeiros, diminuindo a produção de alimentos (em área 
plantada e colheita). Além disso, o aumento da renda per-capita em países como China e Índia, de enorme 
contingente populacional, tem pressionado o consumo geral de bens e insumos não-renováveis e de 
alimentos, aumentando ainda mais o problema. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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86 
mesmo índice entre os habitantes dos países mais pobres.148 Desta forma, o rápido 
crescimento demográfico entre estes últimos os afasta cada vez mais de uma 
prosperidade econômica.149 
 De qualquer forma, os neomalthusianos afirmam que, seja como for, qualquer 
aspiração de riqueza dos países pobres é irrealizável, devido à insuficiência de recursos 
naturais capazes de sustentar uma industrialização em grande escala. Para alcançar o 
patamar de prosperidade e o padrão de vida apresentado pelos europeus, por exemplo, 
estes países iriam consumir um volume de recursos que levaria rapidamente ao 
esgotamento todas as reservas mundiais.150 
 
 
 
 
 
148
 O pequeno índice de crescimento demográfico entre países ricos traz, por outro lado, conseqüências 
imprevistas. O aumento da idade média da população tem reflexos na política previdenciária, de 
aposentadoria e de bem-estar social. De um modo geral, a política interna desses países oscila entre a 
necessidade de abrirem-se para a imigração de mão-de-obra, e a rejeição à invasão (via esta mesma 
imigração) de culturas indesejáveis. Atualmente, a maioria dos países europeus que fechar os seus países 
a esta imigração (o Canadá tem uma política voltada para admitir novos imigrantes – preferencialmente, 
altamente qualificados). 
149
 De 1970 para cá, os índices de natalidade tem caído com rapidez em vários países. O declínio da 
fecundidade tem se apresentado em países tão diversos quanto a China, Coréia do Sul, Formosa, 
Singapura, Malásia, Chile, Costa Rica, Brasil, Porto Rico, Jamaica, e um longo número de pequenos 
países. Política de controle demográfico apenas tinham se iniciado nesta época em países de alta 
densidade demográfica, tais como Índia, Bangladesh, Paquistão, Indonésia, Nigéria e México. 
150
 A própria crise de energia que assola atualmente todos os países decorre desta exploração. A demanda 
incessante por petróleo e por gás natural levaram ao encarecimento destes recursos, utilizados como 
armas estratégicos pelos países produtores. As sucessivas crises no Oriente Médio levaram os preços do 
barril de petróleo a preços cada vez mais altos (cerca de 114 dólares o barril, em 2008). Por outro lado, a 
opção da energia atômica traz os seus próprios problemas, tais como contaminação ambiental e ausência 
de lugares seguros para depositar os resíduos tóxicos provenientes deste tipo de energia. 
 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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87 
QUESTIONÁRIO 
 
 
1. Como se pode descrever os mais simples sistemas de trocas comerciais? 
2. Quais as diferenças básicas entre as sociedades ateniense e espartana, sob o aspecto 
econômico? 
3. Qual a orientação seguida pelos filósofos gregos, no tocante às idéias econômicas? 
4. A intervenção do Estado foi benéfica para a economia de Roma? Por que? 
5. Quais as conseqüências do confronto entre Roma e Cartago? 
6. O que se entende por “revolta dos Gracos”? 
7. Quais as possíveis causas para a decadência econômica do império romano? 
8. Qual a diferença entre as teorias “nominalista” e “metalista”? 
9. Como justificava S. Tomás de Aquino a sua oposição à cobrança de juros nos 
empréstimos? 
10. Como era a situação econômica geral durante o império bizantino? 
11. Qual a época aproximada do surgimento do feudalismo? 
12. Qual a influência comercial propiciada pelas cruzadas? 
13. O que significa a noção medieval de “equilíbrio”? 
14. Quais são as formas de mutação monetária? 
15. Por que a moeda má expulsa a moeda boa do mercado? 
16. Por que os protestantes e o luteranos eram mais voltados à produção de riqueza, do 
que os católicos? 
17. Quais os fatos econômicos que caracterizam a fase colonialista? 
18. Que artigo econômico chegou a provocar várias guerras pela independência? 
19. O que se entende por “bullionismo”? 
20. Quais as características da Revolução Comercial? 
21. Quais as moedas que mais se impuseram, na época da Revolução Comercial? 
22. O que se entende por mercantilismo “fiduciário”? 
23. O que foi o “encilhamento”? 
24. Cite duas escolas econômicas liberais. 
25. Segundo os fisiocratas, qual era a única classe que produzia riqueza? 
26. Qual é a origem da riqueza, para Adam Smith? 
27. O que é a “mão invisível” de Adam Smith? 
28. Para Adam Smith, de onde decorre a renda da terra? 
29. Qual é o fundamento do valor de troca, para Smith? 
30. Explique sucintamente a doutrina de Malthus. 
31. O que significa “transição demográfica”? 
32. O que é a Lei de Say? 
33. Qual é a causa e a medida do valor, para Ricardo? 
34. Explique a relação entre o comércio exterior e o valor da moeda, conforme Ricardo. 
35. Explique como, para Ricardo, se dá o equilíbrio monetário de um país. 
36. Explique a teoria geral da renda, de Ricardo. 
37. ComoCarey analisou a renda fundiária? 
38. Explique as idéias de Mac-Leod. 
39. Qual a principal contribuição de Stuart Mill ao pensamento econômico? 
40. Cite algumas causas que provocaram a Revolução Industrial. 
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 
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88 
41. Quais as características da Revolução Industrial? 
42. Quais as principais idéias dos socialistas anteriores a Marx? 
43. Quais os elementos filosóficos de Hegel utilizados por Marx em sua explicação da 
evolução da história? 
44. O que se entende por mais-valia? 
45. O que Marx queria dizer por “alienação”? 
46. Fale sobre a fase do capitalismo chamada “imperialismo”. 
47. O que se entende por “anarquismo”? 
48. O que significa “ludita”? 
49. Em que época surgiram os primeiros sindicatos ingleses? 
50. Quando foram criados os primeiros sindicatos nos Estados Unidos? 
51. O que significa “econometria”? 
52. Qual a concepção econômica do neoclassicismo? 
53. Para que servia a “Lei Anti-Truste”? 
54. Onde, e com quem, surgiram inicialmente as linhas de montagem na indústria? 
55. Quais foram as conseqüências da introdução das linhas de montagem? 
56. Quais as principais leis das escolas clássica e neoclássica? 
57. O que significa “números-índices”? 
58. O que quer dizer “Grande Depressão”? 
59. Quais foram as características mais perversas da Grande Depressão? 
60. Quais as principais medidas econômicas adotadas contra a Grande Depressão? 
61. O que se entende por ciclo econômico? 
62. Qual a diferença entre as idéias de Keynes e dos clássicos, a respeito de crises 
econômicas? 
63. Quais as idéias de Keynes a respeito do sistema econômico? 
64. O que Keynes achava da intervenção governamental na economia? 
65. Qual foi a influência de Keynes, na definição de uma política econômica mundial? 
66. O que foi o Plano Marshall? 
67. Quais os principais órgãos de comércio internacional que surgiram após a Segunda 
Guerra Mundial? 
68. Quais os atuais órgãos econômicos regionais no mundo? 
69. O que significa “Euro”? 
70. Quais os principais projetos de unificação comercial das Américas? 
71. Onde, quando e com quem surgiu inicialmente a concepção do Estado do Bem Estar 
Social? 
72. Por que a ortodoxia clássica se opõe à redistribuição de renda? 
73. Quais as conseqüências, para o meio-ambiente, das tecnologias voltadas para a 
informática? 
74. Qual a concepção de Alvin Toffler sobre o desenvolvimento da civilização? 
75. O que se entende por sociedade “pós-industrial”, e quem criou este termo? 
76. Quais os benefícios e malefícios provindos do uso da tecnologia? 
77. O que pode provir da absorção irrefletida de tecnologia estrangeira por um país 
economicamente menos desenvolvido? 
78. Quando surgiu, e quais as concepções do neo-liberalismo? 
79. Qual o significado do termo: “empresa de inteligência intensiva”? 
80. Quais as idéias de Marx a respeito do advento da tecnologia? 
81. O que significa “globalização”? 
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82. O que quer dizer “produto mundial”? 
83. Quais os países integrantes da União Européia? 
84. O que dizem os “neomalthusianos” sobre os recursos naturais mundiais? 
85. Em sua opinião, a tecnologia traz benefícios ou malefícios? 
86. Quais os fatores que a ONU aponta, no que tange à absorção de tecnologia 
estrangeira? 
87. Cite alguns dos problemas acarretados pela dependência tecnológica. 
88. Quais os problemas atuais que impedem uma maior integração econômica no Cone 
Sul? 
 
 
 
 
 
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