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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. SISTEMAS POLIFÁSICOS CIRCUITOS TRIFÁSICOS 1. INTRODUÇÃO 1.1. PREÂMBULO As primeiras linhas de transmissão de energia elétrica surgiram no final do século XIX, e inicialmente, destinavam-se exclusivamente ao suprimento de sistemas de iluminação. A utilização destes sistemas para o acionamento de motores elétricos fez com que as "companhias de luz" se transformassem em "companhias de força e luz". Estes sistemas operavam em baixa tensão e em corrente contínua, e foram rapidamente substituídos por linhas monofásicas em corrente alternada. Dentre os motivos que propiciaram essa mudança, podemos citar: (i) o uso dos transformadores, que possibilitou a transmissão de energia elétrica em níveis de tensão muito maiores do que aqueles utilizados na geração e na carga, reduzindo as perdas no sistema, permitindo a transmissão em longas distâncias; e (ii) o surgimento dos geradores e motores em corrente alternada, construtivamente mais simples e mais baratos que as máquinas em corrente contínua. Dentre os sistemas em corrente alternada, o trifásico tornou-se o mais conveniente, por razões técnicas e econômicas (como a transmissão de potência com menor custo e a utilização dos motores de indução trifásicos), e passou a ser o padrão para a geração, transmissão e distribuição de energia em corrente alternada. Por outro lado, as cargas ligadas aos sistemas trifásicos podem ser trifásicas ou monofásicas. As cargas trifásicas normalmente são equilibradas, ou seja, são constituídas por três impedâncias iguais, ligadas em estrela ou em triângulo. As cargas monofásicas, como por exemplo, as cargas de instalações residenciais, por sua vez, podem introduzir desequilíbrios no sistema, resultando em cargas trifásicas equivalentes desequilibradas. 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Neste texto vamos definir os sistemas polifásicos e estudar em particular os sistemas trifásicos. 1.2. OS SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA Os sistemas elétricos de potência têm a finalidade de produzir energia elétrica em grande quantidade e distribuí-la aos utilizadores finais. A maioria desses sistemas opera com circuitos trifásicos. Por isso, precederemos o estudo das redes trifásicas por uma breve descrição dos sistemas elétricos de potência. Os sistemas elétricos de potência compõem-se de três subsistemas, dedicados a: 1. Geração da energia elétrica; 2. Transmissão da energia elétrica; 3. Distribuição da energia elétrica. Ao subsistema de geração compete a produção de energia elétrica, a partir de outras fontes de energia, nas usinas geradoras. As grandes usinas geradoras podem ser hidroelétricas, termoelétricas ou nucleares. Em instalações de menor porte também são utilizadas as energia eólica, das marés, geotérmica, solar e outras. Nas instalações de grande porte, normalmente a energia é gerado em trifásico, em tensões da ordem de centenas de volts até dezenas de quilovolts. O subsistema de transmissão transporta energia das usinas até os centros de consumo, ou centros de carga, por meio de linhas de transmissão. Em sua maioria, as linhas de transmissão operam em corrente alternativa (alternada) trifásica, com tensões que podem chegar até centenas de kV. Excepcionalmente, para vencer grandes distâncias ou para compatibilizar diferentes freqüências de geração e utilização, são usadas linhas de transmissão de corrente contínua, operando com tensões muito elevadas, da ordem de megavolts. No Brasil existe uma linha de transmissão em corrente contínua, ligando a usina de Itaipu a São Paulo, operando a 600 kV, com 3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. cerca de 800 km de comprimento. Por essa linha se transmite parte da energia de Itaipu, gerada a 50 Hz (Orsini & Consonni, 2004). Finalmente, o subsistema de distribuição recebe a energia das linhas de transmissão e a encaminha aos consumidores, em níveis de tensão adequados. Esse subsistema se divide em dois: Sistema de distribuição primária, que fornece a energia a grandes consumidores, com tensões da ordem de dezenas a centenas de kV; Sistema de distribuição secundária, que leva a energia elétrica aos pequenos consumidores com tensões da ordem de centenas de volts (V). Como já notamos, a maioria dos sistemas opera em trifásico. Como exceções, temos as grandes linhas de transmissão em corrente contínua e as “pontas” do sistema de distribuição secundária, que operam em monofásico a dois fios ou monofásico a três fios. Os três tipos de subsistemas, operando em níveis diferentes de tensão, devem ser conectados por interfaces, constituídas por: Subestações transformadoras, que operam em corrente alternada (CA) e mudam o nível de tensão entre dois subsistemas, elevando-o (subestações elevadoras) ou abaixando-o (subestações abaixadoras); Subestações retificadoras ou conversoras, que transformam corrente alternada (CA) em corrente contínua (CC) ou vice-versa. Subestações desses tipos, por exemplo, são instaladas nas duas pontas de uma linha de transmissão em tensão contínua. Nas subestações realizam-se também as medições do sistema e efetua- se o controle de sua operação. Os sistemas elétricos de potência, por suas grandes dimensões, pela sua complexidade e pela sua grande importância em nossa civilização, constituem um vasto campo de estudos, e a eles são dedicadas muitas disciplinas dos cursos de Engenharia Elétrica, abrangendo disciplinas em outras áreas da Engenharia. 4 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. A geração, transmissão e utilização de potências elevadas de energia elétrica CA envolve quase invariavelmente um tipo de sistema ou circuito chamado sistema ou circuito polifásico. Nesse sistema, cada fonte consiste em um grupo de tensões que têm magnitudes e ângulos de fase relacionados entre si. Assim, um sistema de n fases emprega fontes de tensão que constituem tipicamente em n tensões substancialmente iguais em módulo e deslocadas entre si por um ângulo de fase de no360 . Um sistema trifásico emprega fontes de tensão que constituem tipicamente em três tensões substancialmente iguais em módulo e deslocadas entre si por ângulos de fase de 120º. Como possui importantes vantagens econômicas e operacionais, o sistema trifásico é de longe o mais comum e, conseqüentemente, neste estudo, a ênfase será dada aos circuitos trifásicos. As três tensões individuais de uma fonte trifásica podem ser ligadas cada uma ao seu próprio circuito independente. Teríamos, então, três sistemas monofásicos separados. Alternativamente, ligações elétricas simétricas podem ser feitas entre as três tensões e circuitos associados para formar um sistema trifásico. É com essa última alternativa que estaremos preocupados nesse estudo. Por se referir a uma porção de um sistema ou circuito polifásico, ou, como na teoria familiar de circuitos de regime permanente (senoidais), pode ser usada em relação ao deslocamento angular entre fasores de tensão ou corrente. Há pouca possibilidade de se confundir os dois significados. Portanto, como já mencionado os circuitos trifásicos são importantes porque quase toda a potência elétrica é gerada e distribuída em três fases. Um circuito trifásico tem um gerador de tensão CA, também chamado de alternador, que produz três tensões senoidais que são idênticas, exceto por uma diferença de fase de 120º. A energia elétrica é transmitida por três dos quatro condutores, mais comumente chamados de linhas. Os circuitos trifásicos apresentados neste estudo são, em sua maioria, equilibrados. Neles, três das quatro correntes de linha são idênticas, exceto por uma diferença de fase de 120º. 5 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. 1.3. GERAÇÃO DE TENSÃO TRIFÁSICA A Figura 1(a) mostra uma seção reta de um alternador trifásico que tem um estator fixo e um rotor girante no sentido anti-horário. Fisicamente distribuídos a cada 120º da periferia interna do estator estão os três conjuntos de enrolamentos da armadura com terminais A e A , B e B , e C e C . É nesses enrolamentos que as três tensões senoidais são geradas. O rotor tem um enrolamento de campo no qual a circulação de uma corrente CC produz um campo magnético. Figura 1 – Geração de Tensão Trifásica. Como o rotor gira no sentido anti-horário a 3600 r/min (rotações por minuto), seu campo magnético corta os enrolamentos da armadura, induzindo neles as tensões senoidais mostradas na Figura 1(b). Essas tensões têm um valor de pico separados de um terço do período, ou separados de 120º, em virtude da disposição espacial de 120º dos enrolamentos de armadura. Como resultado, o alternador produz três tensões de mesmo valor rms, que podem ser tão grandes quanto 30 kV, e de mesma freqüência (60 Hz), mas deslocadas de um ângulo de fase de 120º. Essas tensões podem ser, por exemplo: 6 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Vtsenv ouVtsenv Vtsenv Vtsenv o CC o CC o BB AA )240377(000.25 )120377(000.25 )120377(000.25 377000.25 Se as tensões mostradas na Figura 1(b) são determinadas em qualquer instante de tempo, pode-se observar que a soma das tensões é zero. Esse zero como resultado pode também ser verificado pela adição vetorial gráfica dos fasores correspondentes a tais tensões. A Figura 2(a) é o diagrama dos fasores AAV ˆ , BBV ˆ e CCV ˆ , correspondentes às tensões geradas. Esses três fasores são somados na Figura 2(b) conectando o início de BBV ˆ , à ponta de AAV ˆ , e o início de CCV ˆ , à ponta de BBV ˆ . Sendo que a soma de CCV ˆ , toca o início de AAV ˆ , a soma é zero. E, como a soma dos fasores de tensão é zero, a soma dos valores instantâneos de tensão correspondentes é zero para qualquer instante. De uma forma geral, três senóides têm uma soma zero se elas têm a mesma freqüência e mesmo valor de pico, mas são defasadas de 120º. Em particular, isto é verdadeiro para correntes. Figura 2 – Diagrama Fasorial dos fasores AAV , BBV e CCV das tensões senoidais da Figura 1. 7 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. 1.4. DEFINIÇÕES GERAIS Definimos como “sistema de tensões polifásico e simétrico” (a n fases) um sistema de tensões do tipo: n n tEe n tEe n tEe tEe Mn M M M 1 2cos 2 2cos 1 2cos cos 3 2 1 (1) sendo que n é um número inteiro qualquer não menor que três. Em particular, quando 3n , dizemos que o sistema é trifásico. “ e ” representa o valor instantâneo da tensão e “ ME ” o valor máximo da tensão. Da definição de sistema polifásico, observamos que tais sistemas são constituídos por um conjunto de n cossenóides de mesmo valor máximo, ME , e com uma defasagem de rad n 2 entre duas tensões sucessivas quaisquer. As tensões e correntes nos sistemas trifásicos são representadas por fasores. Isto é, podemos representar o sistema trifásico: tjj MMM tj j MM tj MM eeEetEtEe eeEetEe eEetEe 3 2 3 3 2 2 1 3 2cos 3 4cos 3 2cos cos (2) 8 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Pelos fasores: 0|0ˆ1 EjEE 120| 2 3 2 1 3 2 3 2cosˆ2 EjEsenjEE 120| 2 3 2 1 3 2 3 2cosˆ3 EjEsenjEE (3) em que 2MEE representa o valor eficaz da tensão. Ao longo deste texto iremos apresentar métodos para a solução de circuitos trifásicos em diversas condições, envolvendo as tensões no início do sistema (nos terminais dos geradores), as linhas utilizadas para a transmissão da energia até a carga, e a carga conectada no final da linha. Para tanto, definimos: (1-a) - Sistema de tensões trifásico simétrico: sistema trifásico em que as tensões nos terminais dos geradores são senoidais, de mesmo valor máximo, e defasadas entre si de rad 3 2 ou 120 elétricos; (1-b) - Sistema de tensões trifásico assimétrico: sistema trifásico em que as tensões nos terminais dos geradores não atendem a pelo menos uma das condições apresentadas em (1-a); (2-a) – Carga trifásica equilibrada: carga trifásica constituída por 3 impedâncias complexas iguais, ligadas em estrela ou em triângulo; (2-b) – Carga trifásica desequilibrada: carga trifásica na qual não se verifica a condição descrita em (2-a). 9 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. 1.5. OBTENÇÃO DE SISTEMAS POLIFÁSICOS – SEQÜÊNCIA DE FASE Nos terminais de uma bobina que gira com velocidade angular constante, no interior de um campo magnético uniforme, surge uma tensão senoidal cuja expressão é tEe M cos , (4) em que representa o ângulo inicial da bobina. Ou melhor, adotando-se a origem dos tempos coincidente com a direção do vetor indução, representa o ângulo formado pela direção da bobina com a origem dos tempos no instante 0t . Assim, é óbvio que, se dispusermos sobre o mesmo eixo três bobinas deslocadas entre si de rad 3 2 e girarmos o conjunto com velocidade angular constante, no interior de um campo magnético uniforme, obteremos nos seus terminais um sistema de tensões de mesmo valor máximo e defasadas entre si de rad 3 2 , conforme Figura 3. (a) - Bobinas do gerador (b) - Valores instantâneos das tensões Figura 3 - Obtenção de um sistema trifásico de tensões. 10 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. A Figura 4 ilustra o diagrama fasorial das tensões geradas na Figura 3(b). Figura 4 – Diagrama fasorial das tensões geradas na Figura 3(b). Definimos, para um sistema polifásico simétrico, “seqüência de fase” como sendo a ordem pela qual as tensões das fases passam pelo seu valor máximo. Por exemplo, no sistema trifásico da Figura 3, a seqüência de fase é A-B-C, uma vez que as tensões passam consecutivamente pelo valor máximo na ordem A-B-C. Evidentemente, uma alteração cíclica não altera a seqüência de fase, isto é, a seqüência A-B-C é a mesma que B-C-A e que C-A-B. À seqüência A-B-C é dado o nome “seqüência direta” ou “seqüência positiva”, e à seqüência A-C-B, que coincide com C-B-A e B-A-C, dá-se o nome de “seqüência inversa” ou “seqüência negativa”. EXEMPLO 1 Um sistema trifásico simétrico tem seqüência de fase B-A-C e VCV 40|220 ˆ . Determinar as tensões AVˆ e BVˆ . SOLUÇÃO: Sendo a seqüência de fase B-A-C, a primeira tensão a passar pelo valor máximo será Bv , a qual será seguida, na ordem, por Av e Cv . Portanto, deverá ser: 11 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. 3 4cos , 3 2cos ,)(cos tVv tVv tVv MC MA MB (4) em que representa o ângulo inicial ou a rotação de fase em relação à origem. No instante 0t , teremos: 3 4cos , 3 2cos ,cos MC MA MB Vv Vv Vv (5) Sendo 2 MVV , fasorialmente teremos: 3 4|ˆ , 3 2|ˆ ,|ˆ VV VV VV C A B (6) Por outro lado, sendo dado VVC 40|220 ˆ , resulta: 8040120;220 ou VV , e portanto: VVVVVV CAB 40|220 ˆ,200|220ˆ,80|220ˆ 12 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Chegaríamos ao mesmo resultado raciocinando com o diagrama fasorial. De fato, lembramos que o valor instantâneo de uma grandeza cossenoidal é dado pela projeção do fasor que a representa (utilizando como módulo o valor máximo) sobre o eixo real, fazendo com que os fasores girem no sentido anti-horário com velocidade angular (vetores girantes). Evidentemente, poderemos imaginar os vetores girantes fixos e o eixo real girando com velocidade angular no sentido horário. Em tais condições, a origem deverá sobrepor-se consecutivamente a AB VV ˆ,ˆ e CVˆ (Figura 5), ou seja, BVˆ está adiantado de 120 sobre AVˆ , e este está adiantado de 120 sobre CVˆ . Portanto deverá ser: VVA 200|220160|22040120|220 ˆ VVB 80|220120200|220 ˆ Figura 5 - Diagrama de fasores para o Exemplo 1. 13 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. 2. SISTEMAS TRIFÁSICOS SIMÉTRICOS E EQUILIBRADOS COM CARGA EQUILIBRADA - LIGAÇÕES 2.1. INTRODUÇÃO Nos sistemas trifásicos são utilizadas linhas a três ou quatro fios para a alimentação das cargas a partir dos geradores. Ora, do eletromagnetismo sabemos que haverá um acoplamento magnético entre estes fios quando um ou mais forem percorridos por corrente. Assim, a passagem de corrente senoidal em qualquer um destes fios irá induzir tensões também senoidais nos demais. Para a resolução de circuitos, em sistemas de potência, este efeito é representado através da definição de indutâncias mútuas entre os fios. No caso geral, a resolução de circuitos trifásicos com indutâncias mútuas é relativamente complexa, pois o sistema pode tornar-se desequilibrado. Para facilitar o entendimento dos métodos de cálculo, neste texto vamos desconsiderar a existência de indutâncias mútuas, ressaltando que no caso particular em que tais indutâncias sejam iguais tudo o que se apresentará continua válido, pois o sistema mantém-se equilibrado. Os sistemas trifásicos de tensões que alimentam os circuitos trifásicos são obtidos de geradores trifásicos (ou alternadores trifásicos). Esses geradores são máquinas elétricas que contêm três enrolamentos, dispostos de modo que três tensões alternativas (alternadas), de mesmo valor eficaz e sucessivamente defasadas de o120 , são neles induzidas. Os enrolamentos são chamados fases do gerador. Essencialmente, portanto, um gerador trifásico contém três geradores de tensão, sincronizados e com seis terminais disponíveis para ligações externas. Admitamos que os fasores das três tensões do gerador sejam, respectivamente: 14 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. 120|240|ˆ 120|ˆ 0|ˆ 3 2 1 EEE EE EE (7) Normalmente, a carga do nosso sistema trifásico, constituída por três bipolos iguais, ou por alguma máquina trifásica com três fases iguais (carga equilibrada ou balanceada), será ligada ao gerador por meio de uma linha trifásica. As fases da carga poderão também ser ligadas em estrela ou em triângulo, possibilitando assim as seguintes combinações: )(arg )(arg )(arg )(arg triânguloemac estrelaemac emGerador estrelaemac triânguloemac emGerador Antes de examinarmos as relações entre correntes e tensões de linha e de fase nessas, iremos quebrar o texto para introduzirmos os conceitos fundamentais da transformação e . Transformação e Numa rede de bipolos, dizemos que três bipolos estão ligados em estrela quando três terminais dos bipolos estão reunidos num único nó. Os 15 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. bipolos estão ligados em triângulo quando os terminais estão reunidos dois a dois de modo que os bipolos constituam uma malha com três lados. Em muitos casos de resolução de circuitos é útil podermos transformar uma estrela de bipolos passivos (resistores) num triângulo equivalente, ou vice- versa (vide Figura 5). Figura 5 - Transformação Estrela-Triângulo Os circuitos correspondentes são equivalentes apenas para tensões e correntes externas aos circuitos e . Internamente, as tensões e correntes são diferentes. Fórmulas para a transformação podem ser encontradas a partir da comparação de resistências entre duas linhas de um circuito e outro , quando a terceira linha, em cada um deles, está aberta. Essa comparação é feita três vezes, com uma linha diferente aberta de cada vez. Com algumas manipulações algébricas são obtidas as seguintes fórmulas para transformação e : 321 21 RRR RR RA 321 32 RRR RR RB 321 31 RRR RR RC (8) 16 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Da mesma forma, são obtidas as equações para a transformação para : B CBCABA R RRRRRR R 1 C CBCABA R RRRRRR R 2 A CBCABA R RRRRRR R 3 (9) Observe que, nas fórmulas de transformação para , os denominadores são os mesmos: 321 RRR , a soma das resistências . Nas fórmulas de transformação para , os numeradores são os mesmos: CBCABA RRRRRR , a soma dos produtos das resistências tomando duas a duas. Desenhando o circuito dentro do , como na Figura 6, temos uma maneira de saber os numeradores das duas fórmulas de transformação. Para cada resistor das fórmulas de transformação , as duas resistências do produto de cada numerador são as duas resistências adjacentes do resistor que está sendo encontrado. Nas fórmulas de transformação , a resistências em cada denominador é o resistor oposto ao resistor que está sendo encontrado. Se cada resistor tiver o mesmo valor R , então cada resistência correspondente será R3 , como dado nas fórmulas. E se cada resistência for R , então cada resistência correspondente será 3 R . Assim, nesse caso especial, mas bastante comum, RR 3 e, é claro, 3 R R . 17 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Figura 6 – Representação do circuito dentro do . 2.2. CIRCUITO EQUILIBRADO A Figura 7 mostra um circuito equilibrado que tem uma carga equilibrada (uma carga de impedâncias idênticas) alimentada por um gerador com os enrolamentos conectados em . Em vez dos enrolamentos de um gerador, os enrolamentos podem ser o secundário de um transformador trifásico. A linha de neutro conecta os dois nós neutros. Um circuito trifásico equilibrado e fácil de ser analisado porque ele consiste, na verdade, em três circuitos distintos interconectados, onde a única diferença na resposta são os ângulos de defasagem de 120º. Um procedimento geral na análise é encontrar a tensão ou corrente desejada de uma fase e usar o resultado com a seqüência de fase para a obtenção das correspondentes tensões ou correntes das outras duas fases. Por exemplo, no circuito mostrado na Figura 7, a corrente de linha AIˆ pode ser encontrada a partir de: Y AN A Z V I ˆ ˆ (10) Então BIˆ e CIˆ podem ser encontradas a partir de AIˆ seqüência de fase: elas têm o mesmo módulo de AIˆ , mas adiantadas e atrasadas de AIˆ de 120º, conforme determinado pela seqüência de fase. Sendo que as correntes AIˆ , BIˆ e CIˆ têm o mesmo módulo e uma 18 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. diferença de fase de 120º, suma soma é zero: 0ˆˆˆ CBA III . E a partir da LKC (Lei de Kirchhoff das Correntes), 0ˆˆˆˆ CBAN IIII . Pelo fato de o condutor do neutro não conduzir corrente, ele pode ser eliminado para transformar o circuito de quatro condutores em um circuito de três condutores. A mais importante conseqüência da corrente zero no neutro é que dois nós neutros estão em mesmo potencial, mesmo na ausência do condutor neutro. Na prática, entretanto, é conveniente a presença de um condutor de neutro para assegurar o equilíbrio das tensões nas fases no caso de as impedâncias de carga não serem exatamente iguais. Figura 7 – Circuito equilibrado. Os conjuntos de tensões de fase e de tensões de linha para uma carga equilibrada têm determinadas relações que são independentes da impedância de carga. Essas relações podem ser obtidas por um triângulo . O maior ângulo é 120º , deixando 180º - 120º = 60º para os outros dois ângulos. Sendo que esses dois ângulos são opostos a lados de igual comprimento, eles devem ser iguais e, portanto, de 30º, como está ilustrado na Figura 8(a). Isto mostra que existe um ângulo de 30º entre a tensão de linha BCVˆ e a tensão de 19 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. fase BNVˆ (Figura 8(b)). Como podemos ver a partir da Figura 8(a), existe também uma diferença de 30º entre ABVˆ e ANVˆ e entre CAVˆ e CNVˆ . Em geral, no diagrama fasorial de tensões para uma carga equilibrada, existe ângulo de 30º entre cada tensão de fase e a mais próxima tensão de linha. Esses 30º podem ser um adiantamento ou um atraso, dependendo do conjunto de tensões específico e da seqüência de fase. Figura 8 – Diagrama fasorial do circuito equilibrado. Existe também uma relação entre os módulos das tensões de linha e de fase. A partir da Figura 8(a) e a lei dos senos: 3 2 1 2 3 30 120 ˆ ˆ o o BN BC sen sen V V ou BNBC VV ˆ3ˆ . Em geral, para uma carga equilibrada, o módulo da tensão de linha LV é 3 vezes fV , o módulo da tensão de fase: fL VV 3 . Na descrição de um circuito trifásico, a tensão especificada pode ser assumida como a tensão rms de linha para linha. 20 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. 2.3. CARGA EQUILIBRADA A Figura 9 mostra uma carga equilibrada conectada por três condutores a uma fonte trifásica. Para um método prático, essa fonte é um alternador conectado em , ou, mais provavelmente, o secundário de um transformador trifásico conectado em ou . Não existe, é claro, um condutor de neutro, porque uma carga tem apenas três terminais. Figura 9 – Carga equilibrada. O procedimento geral para encontrar as correntes de fases é primeiro encontrar uma das correntes de fase e então usá-la com a seqüência de fase para encontrar as outras duas. Por exemplo, a corrente de fase ABIˆ pode ser encontrada por Z V I ABAB ˆ ˆ ˆ e então BCIˆ e CAIˆ podem ser encontradas a partir de ABIˆ e da seqüência de fase: elas têm o mesmo módulo de ABIˆ , mas são atrasadas ou adiantadas de ABIˆ de 120º, conforme determinado pela seqüência de fase. 21 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Figura 10 – Diagrama fasorial do circuito equilibrado. O conjunto de correntes de linha e de correntes de fase para uma carga equilibrada tem algumas relações de módulos e ângulos que são independentes da impedância da carga. Essas relações podem ser encontradas aplicando a LKC (Lei de Kirchhoff das Correntes) a qualquer terminal do circuito mostrado na Figura 9. Feito isso para o terminal A , o resultado é CAABA III ˆˆˆ . A Figura 10(a) é uma representação gráfica dessa subtração para uma seqüência de fase ABC. Sendo que esta é a mesma forma do triângulo para tensões de linha e de fase para uma carga equilibrada, os resultados são similares: em um diagrama fasorial existe a diferença de 30º entre cada corrente de fase e a corrente e a corrente de linha mais próxima, como mostrado na Figura 10(b). 2.4. CARGAS EM PARALELO Se um circuito trifásico tem várias cargas conectadas em paralelo, uma boa forma de se começar uma análise é combinar as cargas até um simples ou . Então, o método de análise para cargas ou pode ser usado. Essa combinação talvez seja mais óbvia para duas cargas em , como mostrado na Figura 11(a). Estando em paralelo, as impedâncias de fases correspondentes dos dois s podem ser combinadas para produzir um simples equivalente. 22 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Figura 11 – Cargas Trifásicas em Paralelo. Se existem duas cargas , como mostrado na Figura 11(b), e se elas têm um terminal neutro (não mostrado) conectando os dois neutros, as impedâncias de fases correspondentes dos dois s estão em paralelo e podem ser combinadas para produzir um simples equivalente. Mesmo que não exista conexão de neutro, as impedâncias de fases correspondentes estão em paralelo, partindo do princípio de que ambas as cargas são equilibradas e que então os nós de neutro estão no mesmo potencial. Se as cargas são desequilibradas e não existe conexão de neutro,as impedâncias dos dois s não estão em paralelo. Então, os dois s podem ser transformados em e então os dois s combinados para resultar em m único equivalente. Algumas vezes um circuito trifásico possui em carga em e uma em , com mostrado na Figura 11(c). Se as cargas forem equilibradas, o pode ser transformado em e então os dois s são combinados. Se as cargas forem desequilibradas, o pode ser transformado em um e então os dois s reduzidos a um único equivalente. 23 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. 3. TENSÕES E CORRENTES EM SISTEMAS TRIFÁSICOS A geração e transmissão de energia elétrica são mais eficientes em sistemas polifásicos que usam combinações de duas, tr6es ou mais tensões senoidais. Além disso, os circuitos e máquinas senoidais apresentam certas vantagens. Assim, por exemplo, a potência transmitida em um circuito trifásico é constante e independente do tempo e não-pulsante, como em circuito monofásico. Além disso, os motores trifásicos funcionam muito melhor que os motores monofásicos, tanto na partida quanto no regime estacionário (os circuitos lineares com entradas senoidais que se encontram no estado estacionário são chamados de circuitos de corrente alternada ou circuitos de CA). A forma mais comum de sistema polifásico utiliza três tensões equilibradas, de mesma amplitude e fases diferindo de 360º/3 = 120º, conforme foi mostrado na Figura 3(b). Os circuitos trifásicos são usados para gerar, distribuir e utilizar energia na forma de três tensões de mesma amplitude, defasadas de 120º. Conforme ilustrado na Figura 3(b), as três partes semelhantes de um sistema trifásico são chamadas de fases. Como a tensão da fase AA’ chega primeiro ao valor máximo, seguida pela fase BB’ e depois pela fase CC’, dizemos que a rotação de fase á ABC. Trata-se de uma convenção arbitrária, em qualquer gerador, a rotação de fase pode ser invertida invertendo o sentido da rotação. Dizemos que as três tensões são tensões equilibradas porque têm a mesma amplitude, a mesma freqüência e estão defasadas de exatamente 120º. A seqüência de fases positiva é ABC, como mostra a Figura 12. A seqüência ACB, representada na Figura 13, é chamada de fases negativa. 24 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Figura 12 – Representação fasorial da seqüência de fases positiva das tensões de um sistema trifásico equilibrado. Figura 13 – Seqüência de fases negativa em uma ligação em . 25 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. As três fases dos enrolamentos da Figura 1(a) podem ser interligadas de duas maneiras possíveis, conforme mostrado na Figura 14 e Figura 15. Os terminais A , B e C podem ser ligados para formar o neutro “N”, conforme Figura 14, resultando uma conexão em , ou os terminais A e B , B e C , e C e A podem ser ligados individualmente, resultando em uma conexão em . Na conexão em , um condutor neutro, mostrado na linha tracejada da Figura 14, pode ou não ser trazido de fora. Se existir um condutor neutro, o sistema é trifásico a quatro fios; se não, é um sistema trifásico a três fios. Figura 14 – Conexão Trifásica – Conexão em . 26 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Figura 15 – Conexão Trifásica – Conexão em . Na conexão em , conforme a Figura 15, não há neutro e apenas um sistema trifásico a três fios pode ser formado. O sistema trifásico com neutro, ou a quatro fios, é largamente utilizado em distribuição por permitir a obtenção de um trifásico e de monofásico a três fios, como indicado na Figura 16. Figura 16 – Utilização de trifásico a quatro fios, para distribuição em duas tensões diferentes. 27 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Nessa situação, existe a possibilidade de alimentar cargas monofásicos de 220 V e de 3 220 = 127 V. Como sempre o fio neutro vai ligado em terra, e as cargas monofásicas são distribuídas pelas três fases do circuito, de modo a mantê-lo equilibrado (ao menos estatisticamente). As três tensões de fase da Figura 3(a) e Figura (4), são iguais e defasadas de 120º graus, o que é uma característica geral de um sistema trifásico equilibrado. Além disso, em um sistema trifásico equilibrado, a impedância de qualquer uma das fases é igual a de qualquer outra das duas outras fases, de modo que as correntes de fase resultantes são iguais e defasadas entre si de 120 graus. Do mesmo modo, potências ativas iguais e potências reativas iguais circulam em cada fase. Um sistema trifásico desequilibrado, no entanto, pode estar desequilibrado de uma ou mais formas. As tensões de fonte podem estar desequilibradas em magnitude ou em fase ou as impedâncias de fase podem não ser iguais. Apenas sistemas equilibrados serão tratados neste estudo, e nenhum dos métodos desenvolvidos ou as conclusões obtidas aplicam-se a sistemas desequilibrados. A maioria das análises são conduzidas supondo que o sistema esteja equilibrado. Muitas cargas industriais são trifásicas e, portanto, inerentemente equilibradas. Quando cargas monofásicas são alimentadas a partir de uma fonte trifásica, esforços bem definidos são realizados para manter o sistema trifásico em equilíbrio, atribuindo cargas monofásicas aproximadamente iguais a cada uma das três fases. Considerando-se a Figura 14, temos: AVˆ , BVˆ e CVˆ : Tensões de fase. ABVˆ , BCVˆ e CAVˆ : Tensões de linha. Tensão de Fase: Tensão medida entre o centro-estrela e qualquer um dos terminais do gerador ou da carga. Tensão de Linha: Tensão medida entre dois terminais (nenhum deles sendo o “centro-estrela”) do gerador ou da carga. Evidentemente, podemos definir a tensão de linha como sendo a tensão medida entre os condutores que ligam o gerador à carga. 28 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Corrente de Fase: Corrente que percorre cada uma das bobinas do gerador ou que é o mesmo, corrente que percorre cada uma das impedâncias da carga. Corrente de Linha: Corrente que percorre os condutores que interligam o gerador à carga (exclusive o neutro). Por exemplo, como calcular analisando a Figura 14, a tensão ABVˆ ? Temos que: oEE 0|ˆ1 oEE 120|ˆ2 oEE 120|ˆ3 Pela Lei de Kirchhoff, temos: BAAB VVV ˆˆˆ (11) o A EV 0| ˆ e o BV 120| ˆ Então: oo AB EEV 120|0|ˆ )87,05,0(ˆ jEEEV AB 87,05,1ˆ EjEV AB 87,05,1ˆ jEV AB o AB EV 30|3ˆ 29 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Logo: rmsVV oAAB 30| ˆ3ˆ (12) rmsVV oABC 30| ˆ3ˆ (13) rmsVV oCCB 30| ˆ3ˆ (14) Conclusão: As três tensões de linha constituem um sistema trifásico simétrico; seu valor eficaz é 3 vezes o valor eficaz da tensão de fase. E cada uma delas está adiantada 30º em relação à correspondente tensão de fase. Logo, podemos reescrever as tensões de linha, como: fL VV 3 ˆ (15) Em geral, para uma carga equilibrada, o módulo da tensão de linha LVˆ é 3 vezes fV , o módulo da tensão de fase: fL VV 3 ˆ . Na descrição de um circuito trifásico, a tensão especificada pode ser assumida como a tensão rms de linha para linha. Portanto: oo AB EV 30|0|3 ˆ o AB EV 30|3 ˆ (16) oo BC EV 30|120|3 ˆ o BC EV 90|3 ˆ (17) oo CA EV 30|120|3 ˆ o CA EV 150|3 ˆ (18) 30 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Quando as três fases são ligadas em , conforme a Figura 15, as correntes , são: ABIˆ , BCIˆ e CAIˆ Pela Lei das Correntes de Kirchhoff, por exemplo, a corrente de linha AIˆ , é: CBABA III ˆˆˆ (19) o ABA II 30| ˆ3ˆ (20) De modo semelhante: o BCB II 30| ˆ3ˆ (21) o CAC II 30| ˆ3ˆ (22) Conclusão: O módulo da corrente de linha LI é 3 vezes o módulo da corrente de fase :fI fL II 3 . Evidentemente, as relações entre as correntes e as correntes de linha de uma conexão são similares àquelas entre as tensões de fase e de linha de uma conexão em . Tomando para a origem do tempo o ponto positivo máximo da onda de tensão de fase A , as tensões de fase instantâneas das 3 fases são: tVtv efA cos2)( (23) oefB tVtv 120cos2)( (24) )120(cos2)( oefC tVtv (25) efV é o valor eficaz da tensão de fase. Quando as correntes de fase estão deslocadas de um ângulo das respectivas tensões de fase, as correntes de fase instantâneas, são: 31 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. )(cos2)( tIti efA (26) )120(cos2)( oefB tIti (27) )120(cos2)( oefC tIti (28) efI é o valor eficaz da corrente de fase. SÍNTESE GERAL a) Ligação Estrela – Estrela (ou - ): A Figura 17 ilustra o esquema de ligação estrela – estrela. Figura 17 – Esquema de ligação estrela – estrela. Analisando a Figura 17, temos: 21 ˆˆˆ EEVAB (29) oEE 0|ˆ1 , oEE 120|ˆ2 , oEE 120|ˆ3 32 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. o CA o BC o AB EV EV EV 150|3ˆ 90|3ˆ 30|3ˆ (30) As três correntes de linha (Figura 17), das por: Z E I 11 ˆ ˆ , Z E I 22 ˆ ˆ , Z E I 33 ˆ ˆ (31) 0ˆˆˆˆ 321 IIIIn (32) Resumindo, numa ligação estrela – estrela, ou , de um circuito trifásico simétrico e equilibrado temos as seguintes relações entre os valores eficazes das grandezas de linha e de fase: 0 3 neutrodecorrente fasedecorrentelinhadecorrente fasedetensãolinhadetensão 33 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. b) Ligação Triângulo – Estrela (ou - ): A Figura 18 ilustra o esquema de ligação triângulo – estrela. Figura 18 – Esquema de ligação triângulo – estrela (ou - ). Analisando a Figura 18, temos: 1 ˆˆ EVAB , 1 ˆˆ EVAB , 3 ˆˆ EVCA (33) Do lado da carga, a aplicação da 2ª. Lei de Kirchhoff fornece: ANCNCA CNBNBC BNANAB VVV VVV VVV ˆˆˆ ˆˆˆ ˆˆˆ (34) Por simetria, as tensões de fase na carga BNAN VV ˆ,ˆ e CNVˆ constituem também um trifásico simétrico, sempre com a mesma seqüência de fase do gerador. As tensões de fase na carga são dadas por: 34 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. oj CACN oj BCBN oj ABAN eVV eVV eVV 30 30 30 ˆ 3 1ˆ ˆ 3 1ˆ ˆ 3 1ˆ (35) ou seja, as tensões de fase na carga têm módulos (ou valores eficazes) iguais aos das respectivas tensões de linha, divididos por raiz de três e estão respectivamente atrasadas de 30º em relação às tensões de linha. As correntes de linha são iguais, respectivamente, às correntes de fase na carga e, sendo o ângulo da impedância da fase, calculam-se por: jNCCN c jBNBN b jANAN a e Z V Z V I e Z V Z V I e Z V Z V I ˆˆ ˆ ˆˆ ˆ ˆˆ ˆ (36) e, obviamente, constituem um sistema trifásico simétrico de correntes. Resta determinar as três correntes 1Iˆ , 2Iˆ e 3Iˆ , nas fases do gerador. Essas correntes relacionam-se com as correntes de linha pelas relações: 23 12 31 ˆˆˆ ˆˆˆ ˆˆˆ III III III c b a (37) e conseqüentemente, constituem também um trifásico simétrico. As correntes nas fases do gerador têm valor eficaz igual a 3 1 dos valores eficazes das correntes de linha e estão adiantadas 30º em relação a estas. 35 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Mais uma vez, verificamos que basta fazer os cálculos para uma das grandezas de um trifásico equilibrado. As outras duas obtêm-se, simplesmente, por simetria. Notemos também, que neste caso, os cálculos foram feitos para a seqüência de fases positiva. Para passar à seqüência negativa, basta inverter a ordem dos fasores. c) Ligações Triângulo – Triângulo e Estrela – Estrela: As relações entre grandezas de fase e de linha nessas ligações obtêm- se sem dificuldade, de maneira análoga aos casos anteriores e sempre usando a simetria do trifásico. Na Figura 19, indicamos essas relações para os quatro tipos de ligações. Notemos que algumas vezes as cargas trifásicas são passadas da ligação em estrela para a ligação em triângulo, ou vice-versa, durante a operação do circuito. Essa modificação, feita por meio de uma chave estrela – triângulo, é usada, por exemplo, na partida de alguns motores trifásicos. Figura 19 – Relações entre grandezas de linha e de fase nos vários tipos de ligações trifásicas. 36 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. 3. POTÊNCIA EM SISTEMAS TRIFÁSICOS: Sabemos que a potência instantânea, absorvida por uma carga, é dada pelo produto dos valores instantâneos da tensão pela corrente; isto é, sendo: ,cos tVv M valor instantâneo da tensão, em que é o ângulo inicial da tensão; ,cos tIi M valor instantâneo da corrente, em que é o ângulo inicial da corrente, Será: ttIVivp MM coscos (38) Por outro lado, temos que: coscos2coscos (39) Fazendo tt e , será: ttttIVp MM coscos 2 (40) Lembrando que os valores eficazes estão relacionados com os máximos por 2 : 2 MVV (valor eficaz da tensão), 2 MII (valor eficaz da corrente), e adotando-se: : defasagem entre a tensão e a corrente na carga, 37 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. resulta: tIVIVp 2coscos (41) A Equação (41) mostra que a potência fornecida à carga é constituída por duas parcelas, uma V I cos , constante no tempo, e a outra, V I tcos 2 , variável no tempo com uma freqüência igual a duas vezes a freqüência da rede. A primeira parcela dada pelo produto dos valores eficazes da tensão e corrente pelo cosseno do ângulo de rotação de fase entre ambas (designado por fator de potência da carga) representa a potência que é absorvida pela carga sendo transformada em calor ou em trabalho, isto é, a potência ativa. A segunda parcela, variando cossenoidalmente no tempo, representa uma potência que ora é absorvida pela carga, ora é fornecida pela carga; seu valor médio nulo representa uma energia que, durante um quarto de período, é absorvida pela carga e armazenada no campo magnético ou elétrico ligado ao circuito e, no quarto de período seguinte, é devolvida à rede. É designada por potência flutuante. Carga Equilibrada como Potência Média absorvida: cos..3 ff IVP (38) A fórmula de potência é normalmente expressa em termos rms de linha LV e de corrente rms de linha LI . Para uma carga : 3 L f V V (39) Lf II (40) 38 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. Para uma carga : Lf VV 3 L f I I Para as duas subsituições o resultado é o mesmo, obtendo a potência média consumida tanto para uma carga como por uma carga equilibrada. cos3 LL IVP (watts) (41) É importante lembrar que é a defasagem é o ângulo da impedância de carga e não o ângulo entre a corrente de linha e a tensão de linha. Fórmulas para potências complexas S (aparente) e potências reativas Q podem ser deduzidas, usando-se as relações com a potência média apresentada na apostila de Circuitos de Corrente Alternada (CA). A potência reativa na carga trifásica equilibrada é: senIVQ ff 3 (VAr) (42) ou, em termos de grandezas de linhas, senIVQ LL 3 (VAr) (43) A potência reativa fornecida a uma carga pode ser positiva )0( ou negativa )0( . Pela convenção adotada, ou seja, sendo a rotação de fase entre a tensão e a corrente , resulta: - potência reativa absorvida por uma carga indutiva: positiva 0 ; - potência reativa absorvida por uma carga capacitiva: negativa 0 , que está de acordo com a convenção geralmente adotada em sistemas elétricos de potência. Em termos das grandezas de linha, a potência aparente complexa resulta então: 39 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. j LL eIVS 3 (VA) (44) com o módulo: 22 QPS (VA) (45) LL IVS 3 (VA) (46) Portanto, podemos definir a potência complexa por: |ˆ SjQPS (47) senIjVIVS cosˆ (48) Evidentemente o ângulo será positivo quando a carga for indutiva, e negativo quando a carga for capacitiva. Logo, essa relação está concorde com a convenção adotada para a potência reativa. Por outro lado, conhecendo-se os fasores representativos da tensão e da corrente numa dada carga, a potência complexa pode ser calculada pelo produto do fasor Vˆ pelo complexo conjugado da corrente )ˆ( *I , ou seja: *ˆˆˆ IVS (49) De fato, sendo: VVˆ , IIˆ Resulta: SjQPIsenjVIV senIjVIVIVIVIV ˆcos )(cosˆˆ * Evidentemente o ângulo será positivo quando a carga for indutiva, e negativo quando a carga for capacitiva. Logo, essa relação está concorde com a convenção adotada para a potência reativa. O fator de potência do trifásico simétrico e equilibrado é igual ao fator de potência da carga. Pode ser calculado por: 40 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. S P FP cos (50) Outra maneira de se obter o fator de potência, é: p p R X arctg (51) sendo que: ppp jXRZ . pZ : É a impedância da carga trifásica equilibrada. :pR É a resistência por fase. :pX É a reatância por fase. O fator de potência de um sistema trifásico equilibrado é, portanto igual ao de qualquer sistema monofásico. 41 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – CAMPUS DIADEMA DISCIPLINA: ELETROTÉCNICA GERAL / CURSO: ENG. QUÍMICA Profa. Rosimeire Aparecida Jerônimo. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Máquinas Elétricas. Umans, Stephen D.; Fitzgerald, A.E.; Kingsley Jr., Charles. Editora Bookman Companhia Ed., 6a Edição, 2006, ISBN: 8560031049. 2. Análise de Circuitos. O’Maley, John. Coleção: Schaum, Editora Makron Books, 2ª. Edição, 1994, ISBN: 8534601194. 3. Introdução aos Circuitos Elétricos. Dorf, Richard C.; Svoboda, James A. Editora LTC, 7ª. Edição, 2008, ISBN: 8521615825. 4. Curso de Circuitos Elétricos. Orsini, L. Q.; Consonni, Denise. Editora Edgard Blücher Ltda, 2ª. Edição, Vol. 2, 2004, ISBN: 8521203322.