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 DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA
 DA PRESCRIÇÃO 
	O fator TEMPO tem enorme importância nas relações jurídicas, sendo o elemento principal do instituto da prescrição. Isso acontece por-que a sociedade tem interesse em atribuir juridicidade e consolidar as si-tuações que se prolongam no tempo.
	Há em Direito vários institutos em que o fator tempo é relevante. Um deles é a prescrição. Existem, em verdade, dois tipos de prescrição: a extintiva e a aquisitiva ( usucapião ). Nessas duas formas de prescrição, verifica-se a presença de duas forças: na prescrição extintiva predomina a força extintora observando-se que alguém tem um direito e, em razão da passagem do tempo, não mais pode exercê-lo. Tal força como que ma-ta o direito. ( ex. – o credor que não cobra sua dívida no tempo previsto perde o direito de cobrá-la. ). Na prescrição aquisitiva, mais conhecida por usucapião, predomina a força criadora: aquele que possuir uma coi- sa alheia pelo tempo previsto na lei, fica dono dela. Tal força cria o direi -to de propriedade. ( ex.- alguém se apossa de terreno alheio e após 15 anos fica dono dele ).	
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	Vejamos primeiramente a prescrição extintiva, normalmente cha- mada simplesmente prescrição. A usucapião será estudada no 4º ano.
	O principal fundamento da prescrição é criar uma tranquilidade na ordem jurídica, mantendo as situações consolidadas pelo tempo.Tem ela, porém, outra finalidade: motivar as pessoas a cuidar de seus direitos.
	Seus fundamento assim são três: o interesse público, a estabiliza-ção do direito e o castigo à negligência.
	A decadência, também chamada caducidade, é parecida com a prescrição mas com ela não se confunde, como veremos mais tarde.
			CONCEITO DE PRESCRIÇÃO 
	Várias tem sido as definições de prescrição. 
	Clóvis Bevilacqua a definiu como a “perda da ação atribuída a um direito, e de toda a sua capacidade defensiva, em consequência do não-uso dela, durante determinado espaço de tempo”. Caio Mário S. Pereira afirmou que a “prescrição é o modo pelo qual se extingue um direito (não apenas a ação ) pela inércia do titular durante certo lapso de tempo”. 
	O Código Civil procurou definir a prescrição como instituto de di –reito material, usando, no art. 189, o termo “pretensão”. 
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	Quando alguém viola um direito subjetivo de outrem, cria para es-se titular o poder de exigir de quem o atacou uma ação ou uma omissão, para reparação do dano verificado. Esse poder de exigir é chamado de pretensão. É o que dispõe o art. 189 do Código Civil:
	Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.
	Portanto, a prescrição tem três requisitos: a) a violação do direi -to, com o nascimento da pretensão; b) a inércia do titular; c) O decurso do tempo previsto na lei.
			PRETENSÕES IMPRESCRITÍVEIS 
	Apesar do que afirma o art. 205 do Código Civil, há algumas pre –tensões que não prescrevem nunca. Mas se trata de casos excepcionais.
	Não prescrevem nunca as seguintes pretensões:
	a) As que protegem os direitos da personalidade, como o direito à vida, à honra, à liberdade, ao nome, à imagem, ao direito autoral, etc. 
 
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	b) As que se prendem ao estado das pessoas, como as ações de separação judicial, de interdição, de anulação de casamento, de investiga ção de paternidade, etc.
	c) As referentes a bens públicos de qualquer natureza.
	d) As que protegem o direito de propriedade, que é perpétuo.
	e) As pretensões de reaver bens confiados à guarda de outrem, a 
título de depósito, mandato ou penhor.
	 A PRESCRIÇÃO E OS INSTITUTOS AFINS 
	
	Também sofrem a influência do decurso do fatos tempo os institu tos da preclusão, perempção e decadência. Os dois primeiros têm natu- reza processual.
	Preclusão é a perda de uma faculdade processual por não ter sido exercida no tempo previsto. Só funcionam dentro do processo em que o-
correm ( ex. – se a parte não recorrer no prazo legal, perde tal direito. )
	Perempção é a perda do direito de ação pelo autor que deu causa a três arquivamentos sucessivos (art. 268, § único, do Cód.de Proc. Civil.)
	Decadência, instituto de direito civil, é a perda do direito potestati-vo pela inércia de seu titular durante o tempo previsto em lei. Ela mata o direito e, por via oblíqua, a ação que o protege.
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 DISPOSIÇÕES LEGAIS SOBRE PRESCRIÇÃO 
	1) Vejamos, inicialmente, a questão da renúncia da prescrição, prevista no artigo 191 do Código Civil:
	Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interes- sado, incompatíveis com a prescrição.
	Renúncia da prescrição é a situação em que a parte abre mão do direito de alegar a prescrição. ( ex. – o devedor, cuja dívida já prescreveu,
abre mão do seu direito de alegar a prescrição ). A lei só permite a renún-cia depois que a prescrição se consumou – nunca por antecipação. Tal re
núncia pode ser expressa ( quando declarada ) ou tácita ( quando resulta da conduta do devedor ). Exemplo de renúncia tácita: o devedor, depois de ocorrida a prescrição, reconhece que deve ao credor. Além disso, a re núncia não pode prejudicar terceiros.
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	2) Outro assunto é o de poderem ou não as partes aumentarem ou diminuirem os prazos prescricionais previstos nos arts. 205 e 206 do CC. Antigamente, alguns entendiam que tais prazos poderiam ser reduzi -dos. Hoje, o art. 192 do Código Civil proibe expressamente tal situação:
 
	Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por a -cordo das partes.
	3) Uma questão que sempre se discutiu tratava da possibilidade de o juiz reconhecer a prescrição de ofício, isto é, sem ninguém pedir. O art. 194 do Código Civil dizia que o juiz não podia agir de ofício, salvo se favorecesse pessoa absolutamente incapaz: art. 194. O juiz não pode su- prir, de ofício, a alegação de prescrição, salvo se favorecer a absoluta -mente incapaz.
	Entretanto, a Lei nº 11.280, de 16/02/2.006, revogou expressamen- te esse artigo. E ainda introduziu o §5º ao art. 219 do Cód. de Proc. Civil, que tornou obrigatório o pronunciamento de ofício: “ art. 219, §5º - O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.” Assim, atualmente, em qualquer ca so, o juiz deverá decretar a prescrição sempre que a encontrar comprova-da, “ex officio”, isto é, mesmo que ninguém isso requeira. 	
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	Merecem ainda ser rapidamente comentados os seguintes artigos do Código Civil:
	Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a preten -são.
	Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de juris dição, pela parte a quem aproveita.
 	
	Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm a- ção contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem cau -sa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente.
  	Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a cor -rer contra o seu sucessor.
 
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 DAS CAUSAS QUE IMPEDEM OU SUSPENDEM A PRESCRIÇÃO
	Com esse título comprido, nosso Código Civil trata de certas situa
ções que, quando ocorrem, não permitem que o prazo da prescrição co -mece a correr ( causas que impedem ), ou, se o prazo já tinha se iniciado, paralisam seu curso ( causas que suspendem ). Essas causas são as mes mas para as duas situações ( para impedir ou para suspender ), apenas produzindo efeitos diversos, conforme o momento em que atuam.
	Assim, se o prazo ainda não tinha começado, as causas impedem que ele se inicie. O prazo fica travado e só começa quando a causa cessa.
Se, no entanto, o prazo já estava correndo, as causas o paralisam; quan - do elas cessam, o prazo continua a correr
donde parou, somando-se o 
tempo já decorrido antes.
	Exemplo de suspensão – o prazo total é de dez anos; correram se te anos e verifica-se uma causa que suspende a prescrição; o prazo pára e fica suspenso por cinco anos; quando cessar o motivo da suspensão, o prazo volta a correr por mais três anos, completando os dez anos. Se considerarmos todo o tempo, teremos quinze anos, a partir do início.
	Tais causas estão arroladas nos arts. 197 a 200 do Código Civil:
	
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	Nos três primeiros casos do artigo 197 do Código Civil, o motivo é a confiança e a amizade que existem entre as partes.
	Art. 197. Não corre a prescrição:
	I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; 
	II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; 
	III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.
	Já nos casos do artigo 198 do Código, a razão é a necessidade de se proteger pessoas que se encontram em situações especiais que as impedem de bem cuidar de seus interesses.
	Art. 198. Também não corre a prescrição:
 	I - contra os incapazes de que trata o art. 3º; 
	II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios; 
	III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
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	O artigo 199 do Código Civil trata de situações especiais. Nas duas primeiras hipóteses, o direito ainda não se tornou exigível. Não se podendo falar em prescrição. No caso de ação de evicção, a prescrição fica suspensa até seu desfecho final:
	Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
 	I - pendendo condição suspensiva; 
	II - não estando vencido o prazo; 
	III - pendendo ação de evicção.
	Finalmente, o artigo 200 do Código Civil dispõe que, quando a questão civil depender de fato que deva ser apurado no juízo criminal, a prescrição civil ficará suspensa até o julgamento final da questão crimi - nal. Se, por exemplo, o juiz criminal está julgando um crime de morte no trânsito, não corre a prescrição quanto à pretensão dos herdeiros do morto de receberem uma indenização:
	Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. 
 
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 DAS CAUSAS QUE INTERROMPEM A PRESCRIÇÃO
	Diversamente da suspensão, a interrupção da prescrição depende de um comportamento ativo do credor, que assim demonstra que não es-tá inerte, não está negligente e, ao contrário, não deseja ver sua preten- são perecer. Em quase todos os casos previstos no art. 202, do Código Civil, menos no último, é o credor que, com sua conduta, faz com que a prescrição se interrompa.	
	Também, diferentemente da suspensão, o prazo prescricional, u-ma vez interrompido, recomeça a correr por inteiro, desde o começo. O tempo já decorrido não é considerado. Ele some, desaparece. É o que diz o artigo 202, parágrafo único, do Código Civil:
	Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a inter -romper.
	Por outro lado, enquanto a suspensão pode ocorrer mais de uma vez, a interrupção da prescrição só pode ser feita uma única vez, confor- me dispõe o art. 202, “caput” do Código Civil.
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	São seis as causas que interrompem a prescrição e estão previs- 
tas no artigo 202, do Código Civil:
 	Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
 
 	I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a cita- ção, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; 
	II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
	III - por protesto cambial;
	IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; 
	V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; 
	VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que im -porte reconhecimento do direito pelo devedor.
	O inciso I cuida da hipótese mais comum. Exigia dois fatos: 1) o despacho inicial do juiz no processo, determinando a citação do réu. 2)
que a citação fosse efetuada no prazo e na forma da lei processual.
 
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	Esse dispositivo, contudo, foi parcialmente modificado pelo Códi-go de Processo Civil, que afirma no seu artigo 219, § 1º, que a interrup –ção “ retroagirá à data da propositura da ação ” . Por outro lado, o artigo 263 do mesmo Código declara que a ação se considera proposta “ tan- to que a petição inicial seja despachada pelo juiz, ou simplesmente distri- buída, onde houver mais de uma vara ” 
	Portanto, atualmente, a prescrição ficará interrompida na data da propositura da ação, desde que o Réu seja realmente citado pelo oficial de Justiça no prazo de 10 dias, prorrogáveis até o máximo de 90 dias.
	Só o último caso, previsto no inciso VI do art. 202, do CC. depen- de de uma conduta do devedor, reconhecendo o direito do credor ( ex. – pedir um prazo maior para pagar; pedir para pagar em prestações, etc. )
	Os demais casos do art. 202 do Código Civil são todos processu- ais e serão estudados oportunamente.
	Merecem ainda ser estudados os arts. 203 e 204 do Código Civil, que também tratam de interrupção da prescrição.
		 DOS PRAZOS DA PRESCRIÇÃO
	Tais prazos estão previstos nos arts. 205 e 206 do Código Civil.
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	O artigo 206 estabelece diversos prazos prescricionais, de um ( 1 ) a cinco ( 5 ) anos, e se referem a vários tipos de pretensões. 
	Vejamos alguns casos, a título de exemplos:
	a) em um ano – a pretensão do segurado contra o segurador e vi- ce-versa;
	b) em dois anos – a pretensão para haver prestações alimentícias atrasadas;
	c) em três anos – a pretensão relativa a aluguéis de imóveis; e
			 a pretensão de reparação civil.
	d) em cinco anos – a pretensão dos profissionais liberais em ge- ral, contado o prazo da conclusão do serviço.
	Por outro lado, segundo o artigo 205 do Código Civil, quando a lei não fixar prazo menor, a prescrição ocorre em dez anos. Este, por- tanto, é o maior prazo prescricional de nosso direito atual. No Código an terior, de 1.916, esse prazo era de vinte anos, que ainda poderá ser apli- cado em razão da regra do art. 2.028 do Código Civil:
	Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver trans- corrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.

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