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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE CIÊNCIAS DA VIDA FACULDADE DE PSICOLOGIA ANA CAROLINA CRUZ GOMES DÉBORA BISON DOMICIANO FERNANDO PERRI SATORRES GEANINI CAROLINE A. BAPTISTA ISADORA ANDRADE DELLA COLLETA DE SOUZA GRITOS E COCHICHOS PUC CAMPINAS 2013 1 ANA CAROLINA CRUZ GOMES DÉBORA BISON DOMICIANO FERNANDO PERRI SATORRES GEANINI CAROLINE A. BAPTISTA ISADORA ANDRADE DELLA COLLETA DE SOUZA GRITOS E COCHICHOS PUC CAMPINAS 2013 Relatório apresentado à disciplina de História da Psicologia, da Faculdade de Psicologia, do Centro de Ciências da Vida, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, como requisito parcial para avaliação da disciplina. Responsável pela disciplina: Prof. Dirceu Antonio Scali Junior. 2 1. INTRODUÇÃO História da vida privada traz um panorama do século XIX, que aborda o avanço acelerado da industrialização, a mobilização dos trabalhadores, a redefinição dos papéis sociais de mulheres e crianças, e outras transformações profundas desencadeadas pela Revolução Francesa. No início do século XIX, é dentro do espaço privado que o indivíduo se prepara para afrontar o olhar dos outros; ali configura a apresentação em função das imagens sociais do corpo. É imposto nessa época, a elaboração de uma estratégia de aparência, um sistema de comunhões e ritos que visam somente a esfera privada. Ressaltando que nesse relatório foi abordado o livro História da Vida Privada. Da Revolução Francesa á Primeira Guerra. São Paulo: Cia das Letras, 1991, pp. 563-611. Páginas que contém os seguintes tópicos: 1- A DROGA DOS CAMPOS. 2- O AFLORAR DE UMA NOVA ESPÉCIE. 3 O ESTIGMA SOCIAL. 4- A LESBICA, SINTOMA DO HOMEM. 5- AUMENTO DOS SUICÍDIOS. 6- ELES SE ENFORCAM, ELAS SE AFOGAM. 7- AS MULHERES E O MÉDICO. 8- O MÉDICO COM OS POBRES. 9- AS FALSAS APARÊNCIAS DA TRADIÇÃO. 10- HIGIENE FAMILIAR E CONTÁGIO. 11- O NECESSÁRIO AJUSTE DO MICRÓBIO. 12- O ALIENISTA E A VIDA PRIVADA. 13- A NOVA DEMANDA “PSI”. 14-GESTOS TRADICIONAIS E MODELAEM DO CORPO. 14- CORRIGIR AS POSTURAS E ENCURRALAR A INDOLÊNCIA. 15- RUMO AO DESABROCHAR DO CORPO LIBERADO. Serão apresentadas análises da vida cotidiana, mostradas de forma que se possa compreender melhor as transformações da sociedade européia, a partir da revolução francesa. 2. DESDOBRAMENTOS 2.1 A droga dos campos 3 A Revolução Industrial na passagem do capitalismo comercial para o industrial assinalou a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. Com as modificações estruturais por ela provocadas na sociedade, o relacionamento das pessoas com o álcool passou por mudanças profundas. A partir da revolução industrial inglesa alguns fatores contribuíram para mudança desta situação. Em primeiro lugar passou-se a produzir álcool não mais de forma artesanal, mas industrialmente em grandes quantidades. Além disto, modificou-se também o tipo de bebida produzida, pois criou-se tecnologia para produzir, por exemplo, destilados na forma de gin, com um conteúdo alcoólico muito maior. Em segundo lugar o preço do álcool diminuiu bastante, pois foi possível produzi-lo em grandes quantidades e, portanto o acesso das pessoas a ele ampliou bastante. O terceiro fator que também contribuiu foi que as pessoas passaram a viver mais em grandes concentrações urbanas o que mudou consideravelmente o perfil das relações sociais (LARANJEIRA RONALDO). Portanto esses fatores mudaram muito o caráter do uso do álcool pela sociedade. O álcool deixou de ser uma bebida que era consumida com a comida e que por muitos séculos era a fonte de água menos contaminada possível de se beber e passou a ser uma bebida forte que podia ser consumida a preços muito baratos e buscando essencialmente a intoxicação. Todas essas mudanças permitiram que um número muito maior de pessoas passassem a consumir álcool constantemente e a partir daí os médicos começaram a observar uma série de complicações físicas e mentais decorrentes desse consumo excessivo, inclusive as primeiras descrições daquilo que hoje nós chamamos de alcoolismo. Mas esse fenômeno social em torno do álcool não ocorreu de modo uniforme em todos os locais, a conquista das zonas rurais foi mais tardia. Fazendo um problema ser apresentado: a presença do álcool na vida privada. O isolamento do individuo rural, a voz que mal se escuta nas profundezas do campo. A embriaguez que atiça as discórdias domésticas exacerba os 4 ciúmes do marido enganado, estimula a violência nascida de uma simples suspeita, provoca a brutalidade do esposo e a recriminação da mulher por ter sido agredida. Hoje sabemos que o consumo de bebidas alcoólicas depende de uma complexa interação de fatores biológicos, culturais e ambientais, e que em resumo, geralmente, não é somente a dependência um fator preocupante. Os bebedores, por exemplo, com problemas constituem um subgrupo de usuários de álcool que não têm a doença alcoolismo, porém devem ser objeto de preocupação das autoridades de saúde, visto que são causadores de agressões físicas e de acidentes de trânsito e de trabalho, além de apresentarem uma série de problemas de saúde (JR. M. SEBASTIÃO). 2.2 O aflorar de uma nova espécie O século XIX vinculou o homossexualismo à patologia. Pois se considerava a pederastia algo contrário às leis da natureza. O termo “homossexualismo” esteve vinculado à perversão, não somente física, mas também moral. Que então se encontrava vinculado a preconceitos de toda ordem: socioculturais, jurídico e psiquiátrico. A questão sociocultural é latente, o sistema jurídico, por achar que o homossexualismo caracteriza o antijurídico e o sistema psiquiátrico por classificá-lo como uma doença mental. Ao longo da história, os aspectos individuais da homossexualidade foram condenados, de acordo com as normas sexuais vigentes na cultura da época. Esses aspectos eram considerados pecado ou algum tipo de doença, sendo alguns casos, proibidos por lei. Do final do século XVIII, um olhar preconceituoso crescia ao emergir uma nova espécie. Um tipo humano despertava curiosidade e aversão. Acreditava que estes vinham da libertinagem, perversão ou eram produtos de uma determinação biológica. Foucault definiu a irregularidade sexual à doença 5 mental; da infância à velhice foi definida uma norma do desenvolvimento sexual e foram cuidadosamente caracterizados todos os desvios possíveis; foram organizados controles pedagógicos e tratamentos médicos, em torno das mínimas fantasias (MAGNAVITA D. A.). O século XIX atribui ao homossexual todas as infâmias, até a morfologia da palavra pederasta, do grego, paiderastês - aquele que ama meninos virou causa das injúrias. Ambroise Tardieu é um bom exemplo de um homem de ciência que cumpriu seu papel no quadro de formação do saber médico-legal. Seu objetivo era o de oferecer aos médicos e juristas não uma explicação das causas da pederastia, mas de apontar um caminho sólido em direção a definição das marcas físicas da inversão. Assim, os pederastas poderiam ser reconhecidos pelos homens de ciência e de lei (MACHADO. N. C. D. L.). Tardieu se propôs a definir a pederastia, deu uma noção geral sobre as condições nas quais este vício se exercia e finalmente traçar com a maior exatidão possível os seus sinais físicos ( MACHADO. N. C. D. L.). O “vício” acabou por contaminar a vida dos artistas e da burguesia. Então no último terço do século a proto-sexologia que se desenvolvia, definiu o sodomita em uma comum marca da patologia, vítimas da loucura moral ou da neuroge genital (que se dá durante a adolescência. Nessa fase as pulsões sexuais, depois da longa fase de latência e acompanhando as mudanças corporais, despertam-se novamente, mas desta vez se dirigem a uma pessoa do sexo oposto. Além disso, continuam agindo durante toda a vida do indivíduo). Então o homossexual vira um história individual. O desenvolvimento de sua infância e até sua vida intra-uterina contribui para justificar seu destino. Torna-se além de pecador, um doente. É imposta sobre ele a cura, com hipnose, castidade ou uso de prostitutas. 2.3 O Estigma Social 6 Os documentos mais antigos do Ocidente sobre as relações de mesmo sexo são derivados da Grécia antiga. A pederastia na Grécia Antiga era largamente utilizada como meio pedagógico; sabe-se que Platão, em seus primeiros escritos, elogiou os seus benefícios. Já foi exemplificado a repressão que atingiu os homossexuais no século XVIII. Então surgiram as leis. Em 1810 o código penal ignora a especificidade do delito de pederastia. E a lei de 28 de abril de 1832 que institui o crime da pedofilia, contra menor de 11 anos. Só em 13 de março de 1863 a idade vai para menor de 16 anos. Entre 1850 e 1880 a repressão é igual às das mulheres da vida. Foi se instituindo um modelo de vida privada para o homossexual. Reprimido, mantido as escuras, escondido. Criando assim um estigma para os antifísicos na sociedade. Muitos não suportam não poderem assumir seu desejo por homens, e enlouquecera. O final do século XIX vai aproximando o homossexual da sociedade. Que vão abandonando a clandestinidade, começam então a quererem ser vistos como normais. 2.4 A lesbica, sintoma do homem. É impossível determinar o momento na História em que surgiu a primeira relação lésbica. O homossexualismo feminino era realizado nos bordeis e prisões e instigava a imaginação dos homens da época. Os médicos do final século XVIII identificaram o homossexualismo feminino como uma pratica mundana, eles se intrigam com este prazer feminino onde nenhum homem é capaz de satisfazer. Porém identificam que uma das parceiras assume o papel masculino. Dizia-se que os clitóris das lésbicas eram enormes e suas vulvas deformadas. 7 O termo “lésbica”, passa a ser usado no século XIX, descrita como uma doce figura cheia de finura e limpeza, cujo simples nome é uma carícia para a língua. A policia vigiava as mulheres para não se vestirem como homens e exigiam que estas solicitassem uma autorização para assim o fazer como 1Rosa Bonheur. Porem as vestimentas não provavam o lesbianismo e nenhum sintoma clinico diferenciavam as mesmas das heterossexuais. A imagem da perversão sexual feminina permanecia duvidosa para os homens, eles oscilavam entre a atração pela fartura feminina, ao temor do prazer manifestado sem a presença do homem. No texto “Algumas conseqüências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos” (1923 [1976], p. 273-288 passim), Freud observa que a menina tem um problema a mais que o menino na passagem pelo 2Édipo, pois em ambos os casos a mãe é o objeto riginal. Isso quer dizer que a primeira relação de prazer de uma menina é homossexual. (Mariano, L.R.P.G.; 2008) 2.5 Aumento dos suicídios. O suicídio vem de um grito desesperado de sofrimento do individuo pela falta de comunicação. É um fenômeno humano complexo, universal e representa um grande problema de saúde pública em todo o mundo. A morte por suicídio ocupa a terceira posição entre as causas mais frequentes de óbito 1 Pintora considerada a mulher mais famosa artista de sua época ia visitar matadouros e desempenho dissecção para estudar anatomia animal, preparando esboços e estudos detalhados para ela pinturas e esculturas. Hoje, ela é talvez famosa por causa de suas roupas masculinas sendo vista como uma feminista precoce, ela dizia na altura que esta prática era simplesmente, uma vez que o seu trabalho facilitado com animais. (CATÁLOGO DAS ARTES.; 2008) 2 Segundo Sigmund Freud, o Complexo de Édipo verifica-se quando a criança atinge o período sexual fálico na segunda infância e dá-se então conta da diferença de sexos, tendendo a fixar a sua atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto no ambiente familiar. É um conceito fundamental para a psicanálise, entendido por esta como sendo universal e, portanto, característico de todos os seres humanos. (WIKIPÉDIA.; 2013) 8 de pessoas de ambos os sexos com idades entre 15 e 34 anos. O grupo de maior risco é o idoso do sexo masculino, mas os índices de suicídio têm aumentado entre pessoas jovens. (VIDAL, C.E.L.; GONTIJO, E.C.D.M.; LIMA, L.A.; 2013) Desde o século XVIII o suicídio vinha sendo estudado como um problema moral, para o século XIX. Era visto como um "crescente problema social a exigir explicação", nas palavras de Lukes (1977), que retoma as análises feitas por Douglas (1970). Segundo este autor, o estudo estatístico do suicídio foi entendido pelos pesquisadores e teóricos como um estudo da moralidade, incluindo-o na categoria geral das estatísticas morais, junto com outros eventos como assassinato e outros crimes. "Assumia-se", segundo Douglas (1970:8), "que o suicídio era um problema moral e implicitamente que qualquer teoria sobre o suicídio deveria incluir os aspectos morais do suicídio como um dos fatores básicos". O acúmulo de informações estatísticas proporcionou, de outro lado, que se estabelecessem inúmeras correlações, juntamente com o levantamento de hipóteses. Estas irão relacionar taxas diferenciais de suicídio a fatores sociais, tais como: ocupação, urbanização, religião, mudança social, como também a fatores não sociais: hereditariedade, raça, clima e a questão não resolvida se o suicídio era ou não relacionado à desordem mental. No mais, nas palavras de Lukes (1977:192): "Havia também uma concordância geral que aceitava que a escalada das taxas globais de suicídios eram devidas à passagem da ordem tradicional a uma nova ordem e ao crescimento do industrialismo". (NUNES, E.D.; 1998) Durante o século XIX os suicídios aumentam em toda a Europa e França, fascinando médicos e sociólogos de primeiro escalão da época que se empenham em entender o fenômeno. As famílias parisienses visitam rotineiramente os necrotérios suicidas para se saciarem com os corpos nas mesas de mármore. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), houve um incremento de 60% entre as mortes por suicídio nas últimas cinco décadas. A taxa mundial de suicídio situa-se em torno de 16 por 100 mil habitantes, e estima-se que cerca de um milhão de pessoas se suicidaram no ano 2000, o que 9 representaria uma morte a cada quarenta segundos. A projeção para o ano de 2020 é que mais de um milhão e meio de pessoas cometam suicídio e que o número de tentativas seja até vinte vezes maiores que o número de mortes. (VIDAL, C.E.L.; GONTIJO, E.C.D.M.; LIMA, L.A.; 2013) Estima-se que para cada pessoa que consegue se suicidar, 20 ou mais tentam sem sucesso e que a maioria dos mais de 1,1 milhão de suicídios a cada ano poderia ser prevista e evitada. (GALVÃO, A.L.; ABUCHAIM, C.M.;2010) Gráfico 1. Comparação das taxas de suicídio nos estados brasileiros, entre homens e mulheres e no mundo. (BIDERMAN, I.; 2013) 10 O gráfico 1. Quando comparada com as taxas de suicídio de diferentes países, a taxa de mortalidade por suicídio no Brasil é uma das mais baixas. Em números absolutos, porém, o Brasil está entre os dez países com o maior número de mortes por essa causa. Durkheim (2003) descreveu vários tipos de suicídio, tendo em conta que, para haver tipos de suicídio diferentes, teriam também que existir causas diferentes. Assim, o autor classifica os suicídios de acordo com as causas sociais, tornando-se desta forma "[...] tipos sociais do suicídio [...]". Entre esses, estão o suicídio altruísta, quando o indivíduo encontra-se demasiadamente integrado na sociedade, levado por lealdade a uma causa. (GONÇALVES, L.R.G.; GONÇALVES, E.; JÚNIOR, L.B.O.; 2011) A falta de desejo de viver acompanhada do crescimento da insegurança é o que o individuo desencantado da vida sente, acontece quando o nível de integração social é baixo, levado pelo isolamento e depressão levando-o ao “Suicídio Egoísta” definido por 3Durkheim em 1897. O desencadear dos desejos (surgimento de homossexualismo) que está relacionado a paixões propriamente individuais, e o crescimento excessivo das diferenças sociais, aumenta cada vez mais as decepções do individuo sendo cada vez mais intensa dando origem ao “Suicídio Anônimo”. As estatísticas da época apontam o isolamento individual de toda sociedade cultural, dos indivíduos suicidas. No século XIX aparece também com destaque o predomínio de suicidas solteiros, viúvos e divorciados tendo em contrapartida o casamento, ou ao menos a presença de filhos que protege contra a tentação de autodestruir-se. A séculos á debates que o suicídio é derivado antes de mais nada de fatores individuais, de ordem psíquica ou genética. 3 Émile Durkheim é considerado um dos pais da Sociologia tendo sido o fundador da escola francesa, posterior a Marx, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. (WIKIPÉDIA.; 2013) 11 As causas alegadas pelas próprias vitimas e pelas testemunhas não são nada convincentes. As famílias ou as autoridades tendem a amenizar os fatos, manipulam os testemunhos, escondem fontes. Na hierarquia dos motivos aos quais se atribui a morte aos indivíduos que se suicidam entre 1860 e 1865 depois da considerada “Enfermidade Mental” as causas denominadas “amor, ciúmes, mau comportamento” antecedem a miséria e os problemas familiares. 2.6 Eles se enforcam, elas se afogam. No Século XIX o predomínio do suicídio masculino é evidente a França, na época os homens se que se matam é de três a quatro vezes a mais que as mulheres. 4Quételet observou que a autodestruição e a vulnerabilidade crescem com a idade, já a divisão social gera controvérsias. Os intelectuais, profissionais liberais, os quadros do exército colonial se matam com mais facilidade que os demais indivíduos, assim pode-se associar o fato de que estes indivíduos tem maiores chances de suicídio conforme o aumento intelectual, cultural e o grau de consciência individual. No final do século os domésticos a partir do momento que tomam consciência do seu estado de servidão, os desempregados e os presos aparecem com igual nitidez ao predomínio da tendência suicida. Na Paris da Monarquia de Julho, os “miseráveis” suicidam-se em legião, como se fossem incapazes de superar as novas condições de vida impostas pela cidade grande. Por outro lado contrapondo os dias atuais à taxa de mortalidade por suicídio é extremamente baixa entre os agricultores do século XXI. 4 Lambert Adolphe Jacques Quételet foi um matemático, astrônomo, estatístico e sociólogo belga, precursor do estudo da demografia e criador do índice de massa corporal. (WIKIPÉDIA.; 2013) 12 Mais da metade dos suicidas masculinos se enforcam, um quarto escolhe o afogamento, de 15% a 20% preferem dar um tiro na cabeça ou no peito, solução nobre preferencialmente das elites. A metade dos suicidas femininos escolhe o afogamento, de 20% a 30%, conforme a época, o enforcamento e com o tempo cresce a opção/recurso a asfixia e ao envenenamento. Os suicídios do século XIX ocorrem mais pela manhã ou à tarde, raramente à noite, seu número diminui de sexta a domingo, aumenta de janeiro e Julho e diminui de Julho a Dezembro. Em suma parece que o prolongamento do dia, a presença do sol, o espetáculo da vida desperta mais o suicídio que a angustia da noite ou o friu do inverno. Hoje dentre os 807 indivíduos que tentaram o suicídio ocorreram 52 (6,4%) óbitos, sendo 58% de homens. A idade mediana foi de 38 anos e 59,7% dos óbitos ocorreram na faixa dos 30 aos 49 anos, com o predomínio de indivíduos de cor branca, casados, com escolaridade menor que 8 anos e aqueles que trabalhavam em ocupações de baixa qualificação. (VIDAL, C.E.L.; GONTIJO, E.C.D.M.; LIMA, L.A.; 2013) No grupo que faleceu, a maioria (64,1%) havia tentado suicídio por ingestão de medicamentos. Não houve associação significativa entre óbito e número de tentativas prévias. Doze indivíduos (23%) morreram por suicídio, dez (19%) por causas externas e trinta (58%) por outras causas. Entre as mortes por suicídio, seis (50%) foram consequentes à ingestão de medicamentos, quatro (33%) por enforcamento e duas (17%) por exposição à fumaça ou fogo. (VIDAL, C.E.L.; GONTIJO, E.C.D.M.; LIMA, L.A.; 2013) Noventa por cento das mortes por suicídio ocorreram no período de 24 meses depois da tentativa. Verificou-se significativo aumento do risco de morrer entre os homens, nas pessoas casadas e naqueles com idade maior que 60 anos. O perfil revela o predomínio de indivíduos de cor branca, ocupação doméstica, solteiros, jovens na faixa etária dos 20 aos 29 anos e 13 com escolaridade inferior a oito anos de estudos. (VIDAL, C.E.L.; GONTIJO, E.C.D.M.; LIMA, L.A.; 2013) 2.7 As mulheres e o médico. Desde o início do século XIX, a visão humanística da medicina começou a dominar diversas gerações de médicos em todo o mundo. Durante essa época forjou-se a imagem romântica do médico sábio, conhecedor dos avanços científicos no campo da clínica, da patologia, da farmacologia, mas também amante da literatura, da filosofia, da história. Homem culto, o médico romântico aliava seus conhecimentos científicos com os humanísticos e utilizava a ambos na formulação dos seus diagnósticos e prognósticos. Conhecedor da alma humana e da cultura em que se inseria, a presença médica se acentua no seio da aristocracia e da burguesia. Como andava muito próximo de seus pacientes, o médico se tornava quase um íntimo – como médico de família que era – este respeitável doutor sabia que curar não era uma ação meramente técnica, mas fundamentalmente humano-científica; um trabalho que envolvia elementos de caráter cultural e psicológico. Por outro lado, essa inserção do médico em seu meio sociocultural, fazia com que seu papel não se restringisse ao de simplesmente curar ou não as enfermidades. Ele era também aquele que, sabia acompanhar o enfermo e seus familiares, ajudando-os no sofrimento, na preparação para a morte, além de intervir como orientador nos assuntos mais diversos, tais como o despertar da sexualidade nos adolescentes, os problemas de relacionamento do casal e inúmeras outras questões da vida familiar. Eles dispõem das mulheres como aliadas. Todo médico deve agradar essas damas, pois são elas que fazem suas reputações e gerenciam as coisas da saúde. Pouco a pouco o doutor faz da mulher sua mensageira. Ele, o médico do final do século XIX, reunia na mesma imagem o cientista, o homem culto e de princípios e o protetor da mulher. Cresce a convicção de que o médico conhece a mulher, não só sua anatomia e fisiologia, mas também sua 14 alma, principalmente quando atormentada pelas dúvidas da vida e pelos receios que tinha. 2.8 O médico com os pobres. Na vida privada das famílias pobres o aparecimento do médico mostra feição bem distinta. A intervenção médica é pontual, descontínua. Essa medicina desenvolve-se em um ambiente de caridade. Suas visitas são quase gratuitas. A clientela rural, do século XIX, não procurava explicação fisiológica para o mal. O camponês crê na medicina que reina entre as ordens cósmicas, vegetal e animal. Assim como a população operária, quando se tinha uma ameaça de doenças, eles tratavam de poupar suas forças, de estabelecer um repouso. 2.9 As falsas aparências da tradição. Durante a primeira metade do século XIX, assim como hoje em dia, muitos enfermos procuravam ajuda de terapeutas não oficializados, que se baseavam em conhecimentos adquiridos de outros mais velhos ou por experiência própria. Outros tantos doentes se automedicavam ou buscavam conselhos com parentes e vizinhos. O comportamento tradicional diante da doença funcionava uma medicina popular, feita de receitas mágicas e prática ancestral. O recurso aos feiticeiros e “benzedores”, as romarias até os “bons santos” e as “boas fontes” perduram ao longo de todo o século. Os curandeiros conhecem a arte de restabelecer os corpos, às vezes por meio de práticas cruéis e dramáticas. Entretanto, estes procedimentos não estão distantes da terapêutica acadêmica. Opera-se uma permanente circulação entre os diversos níveis de cultura. O médico não se recusa a tomar de empréstimo outros saberes. 15 Uma complexa rede medicinal paralela funciona no interior das classes dominantes. O padre e as religiosas-professoras distribuem remédios, dão conselhos. Uma farmácia funciona nos castelos, que é utilizada pelas aristocratas. São elas que curam os pobres do lugar. As mães de boa família não hesitam em recorrer aos velhos remédios das avós. Usa-se uma medicina domestica. O mesmo século XIX, que assistiu a consagração da moderna medicina humanística em sua versão romântica, marcou também o início da sua crise. Principalmente a partir da segunda metade desse século, as importantes descobertas em campos como o da microbiologia, desencadearam uma verdadeira revolução no terreno da patologia, gerando profundas transformações na ciência médica como um todo. O desenvolvimento das análises laboratoriais e outros métodos clínicos incrementaram consideravelmente a formulação dos diagnósticos, assim como o aparecimento de medicamentos como a penicilina, começaram a propiciar aos médicos uma eficácia na cura e um domínio sobre as doenças sem precedentes na história. Assistia-se a um verdadeiro “milagre” e, ao se iniciar o século XX, tudo dava a entender que a medicina estava prestes a atingir a sua idade de ouro, o seu estágio de “ciência exata”. Comparando com os dias atuais, século XXI, a medicina avançou bastante. Não existe mais uma relação íntima com as famílias, o médico já não dispõe de tempo e também não permanece horas nas casas dos pacientes. O clínico hoje é responsável apenas pela saúde dos clientes, quem se encarrega de ouvir os segredos da família, resolver os problemas pessoais e da mente é o Psicólogo. A relação do médico com os pobres, em tese, é a mesma com os ricos. Mas na pratica já não é bem assim. O pobre ainda tem desvantagens em consultas, leitos e tratamento. Mesmo agora ele tendo um atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde) continua sendo uma intervenção médica pontual, descontínua. 16 2.10 Higiene familiar e contágio 1880: Surge a HIGIENE FAMILIAR, que é um projeto de higiene mais definido e refinado, para as famílias burguesas. Esta abrange: higiene corporal e higiene alimentar. Tudo é regulamentado, desde exercícios corporais até paixões e devaneios. Tudo com o objetivo de controlar os excessos. Crescimento exacerbado das civilizações, incluindo na área industrial, leva a patologia urbana. Médicos tentam desviar a atenção do foco principal, que se trata de criação de técnicas de isolamento, visando esconder casos de TUBERCULOSE e ALIENADOS. O fato de que a doença funcionava por contágio, era ignorado pelas pessoas. Os figurões se negavam a assumir esse risco como algo real, por medo de que os enfermos fossem abandonados por suas famílias. A medicina se reafirma com as curas dos doentes, que é razoavelmente fácil, já que depende apenas da higiene pessoal. Inclusive os médicos passam a se cuidar melhor, por consequência. 2.11 O necessário ajuste do micróbio Cidade e áreas rurais tinham tratamentos diferentes: na cidade, o médico evitava infecções nos pobres causadas pela superpopulação na tentativa de deter epidemias; no campo, o médico tentava orientar na questão do saneamento das famílias camponesas. Teorias sobre a doença fizeram com que ocorresse uma ação sanitária e social que implica novas táticas de vizinhança sobre as famílias. A necessidade de cuidados e atitudes dramáticas a serem tomadas fez com que o limite entre os pobres e ricos se tornasse, de pouco em pouco, obsoleto. Enfermeiras e Assistentes sociais começam a aparecer, somente moças da alta burguesia. A luta contra a tuberculose faz com que as escolas passem a formar novo pessoal como ajuda. Esse surgimento de novos papéis confirma, por fim, o sucesso dos médicos na sociedade. 17 2.12 O alienista e a vida privada 1800 - 1914: Ocorre uma estimulação na área da medicina da alma, por que, na época, surge uma diferente crise relacionada com problemas psicológicos. Com isso, convicções, como a de que existe um vínculo forte entre o físico e o moral do homem, começaram a aparecer. Uma perturbação mental se acentua nas famílias. Isso leva tais famílias ao desespero, pois um parente com doença mental poderia arruinar suas reputações e afins. Quando se tratava de uma criança doente, eles simplesmente as escondiam por toda a vida, confinando-as. O desespero maior era quando se tratava de um adulto. O adulto alienado é totalmente afastado de sua família, sobretudo quando se tratava de uma mulher, pois era vista como menos útil que um homem doente. Surge então uma lei que facilita a internação desses parentes, dependendo somente de um certificado. Quando finalmente se livram do alienado, se esquecem totalmente do mesmo, abandonando-o. A diferença de tratamento entre alienados de famílias ricas e os de família pobres torna-se transparente. Os vindos de famílias ricas possuíam maiores benefícios e mais cuidados. O tratamento destes se mostrava mais efetivo do que os de famílias pobres. Asilos particulares possuíam maior eficácia relacionados aos públicos. 2.13 A nova demanda “PSI” A necessidade dos pacientes de serem ouvidos, reflete a experiência da crise das suas subjetividades privatizadas. Os homens do século XIX ficam perplexos ao perceberem que não tão livres e tão singulares quanto imaginavam. A psicologia científica encontra solo fértil quando esses homens começam a pensar acerca das causas e do significado de tudo que fazem, sentem e pensam sobre eles mesmos. Surge, para o Estado, a necessidade de disciplinar esse homem para colocá-lo a serviço da ordem social. A psicologia aplicada na educação e no trabalho, principalmente, surgiu dessa demanda governamental, para previsão e controle. 18 No final do século XIX, a figura do psicólogo surge como mais um recurso no tratamento dos sofrimentos íntimos engendrados pelo progresso da individualização. Os profissionais, até então, não se preocupavam, e nem tinham o interesse, em escutar seus pacientes. Sejam aqueles que seguiam os procedimentos de Charcot, hipnotizavam seus pacientes e usavam da sugestão para afastar algum comportamento indesejável, sejam os clínicos gerais que seguiam Pasteur - empolgados no combate de doenças contagiosas-, sejam os neurologistas com prestígio em alta pelas suas descobertas, nenhum deles se preocupava em ouvir seus pacientes. Daí a demanda de um profissional especializado nessa área, o psicólogo clínico. Nessa época a psicologia seguia por duas direções: a) A psicologia experimental, que preocupava-se com o construto inteligência e, na figura de Alfred Binet, desenvolve os primeiros testes para avaliar as diferenças individuas. Os processos de mensuração da inteligência irão interferir na vida pessoal de muitas crianças devido a instauração da escolaridade obrigatória. b) Análise psicológica de Pierre Janet que era um método baseado no exame cara a cara, na anotação precisa das palavras pronunciadas. Esse processo de investigação buscava vestígios de um inconsciente não totalmente separado do consciente. A análise psicológica impõe um novo ideal terapêutico; abandona procedimentos autoritários, rejeita a hipnose, substitui o hospital pelo silêncio do consultório privado. O progresso da individualização, no entanto, pode ser verificado nas expressões artísticas. A música também testemunha o aprofundamento da experiência subjetiva privatizada. Pela análise das obras, podemos identificar com muita segurança seu autor e mesmo especular com alguma base sobre quem e como ele era. A música, originada do canto popular, sempre se retemperando na fonte popular, fora gradativamente se aristocratizando, se divorciando do espírito do povo. Chegara assim a se transformar em manifestação orgulhosamente aristocrática, com a música pura, dos clássicos. Após a revolução francesa, a música se voltou para o espírito popular, batizada com a palavra Romantismo. 19 2.14 A música sagrada - Canto gregoriano – Medievalismo Experiência de sentimento de comunhão, sentimento de ser parte de uma ordem superior que ampara e constrange. Representa a essência ideal e mais íntima da religião católica, ele provoca insensivelmente o estado de religiosidade. “E como cada indivíduo, antes de sentir como indivíduo, sente como homem duma fase histórica e duma raça, a expressão musical dos artistas principiou definindo caracteres coletivos, que não eram mais universais, mas raciais e nacionais.” (Mário de Andrade). 2.15 A polifonia protestante - Bach (1685-1750) – Barroco Bach resume em si todos os compositores de sua época. Considerado a síntese de seis séculos musicais. Sua música não se prende ao classicismo, pois é essencialmente religiosa, com emprego escessivo de ornamentos. A polifonia protestante encontra sua forma perfeita com a ‘Fuga’ tonal (tema é iniciado em diversas vozes -fuga de si mesmo?) que se fundamenta na técnica de imitação. Eminentemente popularesca, com linguagem vulgar (por isso repudiada pela Igreja Católica) a canção alemã é propensa à religiosidade mística. O pensamento barroco reage à idéia renascentista de que o homem pode atingir a verdade absoluta e indubitável. Esse tipo de conhecimento só pode ser conseguido pelo método, seja racional (Descartes) seja empírico (Bacon). Assim, modos de controle vão surgindo junto com a individualidade, novos dogmas para as ações humanas no âmbito das experiências subjetivas. “Os gênios são homens que nem nós mesmos. A diferença é que vão sempre além daquilo que pretendem fazer. Cumprem um destino de homem, ao passo que nós cumprimos o destino da humanidade.” (Mário de Andrade) 20 2.16 A música aristocratizada - Mozart (1756-1791) – Classicismo Mozart é um protótipo da musicalidade humana. O sec XVIII apresenta o mais refinado dos períodos musicais, sua música procurava reforçar a expressão dos estados de alma de modo decorativo, por um senso arquitetural da forma. A música setecentista não tem carácter popular. A sinfonia despontou como forma musical, e o concerto foi desenvolvido até se tornar um veículo para demonstrações de virtuosismo técnico dos instrumentistas. A música é caracterizada pela claridade, simetria e equilíbrio, seu período coincidiu com o Iluminismo, que enfatizava a razão e a lógica. A crença nesse período é que todos os homens são iguais, mas têm interesses próprios e cada um pode alcançar o conhecimento (virtuosismo) pelo método racional. 2.17 A música psicologizada – Beethoven (1770-1827) - Romantismo Um gênio ao acaso da arte, tinha preocupações intelectuais, de ordem literária e filosófica além da música. Manifesta o romantismo na sua forma mais pura, juntamente com Berlioz, Chopin, Schumann, Liszt e Richard Wagner. A música como “a arte de exprimir os sentimentos por meio de sons”. O romantismo queria dignificar e elevar o povo, e nesse reforçamento está a deformação que caracteriza o movimento. Evidencia-se as potências dos impulsos das forças da natureza. Na música, os compositores confiavam seus ideais, sentimentos, paixões, suas impressões de leitura ou viagem, etc. Sistematizou-se os processos construtivos e interpretativos de intenção expressiva sentimental. O que preocupa os românticos é o cume da comoção e o cultivo à dor, a expressão mais intensa e vigorosa de sua emoção, frequentemente revelando seus pensamentos e sentimentos mais profundos, inclusive suas dores. A música aparece violenta, expressiva e cheia de formas livres. Não havia regra que o artista não pudesse contrariar em benefício da expressão. O objeto da música não é a beleza formal mas a verdade da expressão. Dá-se grande valor à individualidade e à intimidade. Richard 21 Wagner (1813-1883) cria o drama lírico, um dos fenômenos mais extraordinários da história musical, tão admiravelmente lógica pela fusão teatral de poesia, música, dança, pintura, concebendo a música como fusão de todas as artes. Busca-se a liberdade de ser diferente. 2.18 A música no sec. XX – Debussy (1862-1918) - Impressionismo O homem percebe a liberdade (exaltada no classicismo) e as diferenças (exaltadas no romantismo) como ilusões, pois há disciplinas disfarçadas em todas as esferas da vida. Pensando sobre si mesmo, o homem percebe que sua liberdade é muito limitada e, no crescimento das indústrias e do trabalho em série, não vê tanta singularidade entre seus semelhantes quanto imaginavam os românticos. Esse período retrata as condições que permitiram a elaboração dos projetos de psicologia como ciência. As músicas de Debussy expressam a crise pela qual o homem passa. O que havia experimentado como liberdade, igualdade, fraternidade, é agora contestado e assumido como ilusão. Prélude à l'Après-midi d'un faune de Debussy marca o estilo impressionista, termo emprestado da pintura, em que o artista em vez de fazer suas pinturas parecerem reais, ele procurava dar apenas uma impressão de vagos e nebulosos contornos. O músico lidava com harmonias e timbres instrumentais. Noite transfigurada de Schoenberg (1874-1951) marca o estilo expressionista em que o artista expressa o mundo tenebroso de seus terrores mais secretos e as fantásticas visões do inconsciente, muitas vezes sugerindo esquizofrenia. Num estilo de romantismo tardio, os compositores passaram a despejar na música toda a carga de suas emoções mais intensas e profundas. 2.19 Gestos tradicionais e linguagem do corpo - Corrigir as posturas e encurralar a indolência As novas necessidades socioeconômicas organizam a pedagogia que tenta amoldar-se aos comportamentos e impor-lhes gestos e posturas com intuito de ‘corrigir’ os movimentos. Paralelo a isso, um movimento de resistência surge em contraponto e defende a emancipação do corpo. 22 As disciplinas somáticas criam códigos gestuais de boas maneiras, impondo atitudes e gestos de alunos a presidiários dentro da sociedade. A partir de 1850 até 1920, opera-se uma brusca renovação dos gestos cotidianos que impregnam a vida privada. No meio rural, algumas técnicas de ‘correção’ ainda perduram. A crença na modelagem dos corpos está baseada em pensar o corpo como um sistema de forças. Após 1851, o corpo aparece como um motor e o intuito já não é moldá-lo, mas adestrá-lo. A ginástica, emprestada do serviço militar, visa conferir ao corpo sua máxima potência. A arte renovada preconiza a retidão da postura. Para o homem, trata-se de apertar a cintura, estufar o peito, suprimir a barriga. Para a mulher, o corpete feminino, causador da lordose coletiva. Assim, os aparelhos que serviam para modelar o corpo, tendem a ceder lugar às máquinas que canalizam o exercício e facilitam o treinamento. No final do século XIX, a ginástica converte-se em dever nacional que somando-se com atividades lúdicas, logo converge para o esporte como equitação, caça, jogos com bola. Essas atividades esboçam modelos de práticas que partem da classe alta da sociedade. O esporte age sobre os comportamentos e é dominado pela perseguição do resultado que exalta o campeão. 2.20 Rumo ao desabrochar do corpo liberado As atividades indicadas pela medicina natural, tais como: passeio pelo campo, banhos de mar, bicicleta, excursão à montanha, deixam de ser da esfera médica. O interesse agora não é tanto de corrigir, exercitar ou mesmo curar, mas de usufruir do bem estar, da expansão de um corpo em liberdade. Uma busca por experimentar o próprio corpo. 23 3. CONCLUSÃO A experiência da subjetividade privatizada é reconhecer-se como ser moralmente autônomo, capaz de iniciativas, dotado de sentimentos e desejos próprios; formas da pessoa pensar, tomar decisões e sentir sua própria existência; no sistema social-econômico, cada um deve ser capaz de identificar sua especialidade, aperfeiçoar-se nela e identificar-se com ela; ocorre em situações de crise social, graves conflitos, revoluções, pois obriga os homens a tomar decisões sem necessariamente com apoio da sociedade; ‘Foro íntimo’, sentimentos, juízos de valor. Referências internas construídas pelo homem que perde suas referências externas tais como a raça, o povo, a família ou lei confiável. Embora seja uma capacidade humana, a experiência da subjetividade privatizada não é universal. A crença na liberdade é um dos elementos básicos da democracia e da sociedade de consumo que em alguns aspectos essa crença é completamente ilusória. Uma das tarefas da psicologia será, talvez, a de revelar essa ilusão (crença no livre arbítrio). 4. REFERÊNCIAS CORBIN, Alain. "gritos e Cochichos" IN: "Bastidores" IN: PERROT, Michelle. (Org). História da Vida Privada. Da Revolução Francesa á Primeira Guerra. São Paulo: Cia das Letras, 1991, pp. 563-611. 24 LARANJEIRA RONALDO; PINSKY ILANA. Mitos e realidade sobre o alcoolismo. Disponível em: <http://www.uniad.org.br/desenvolvimento/images/stories/publicacoes/texto/Mit os%20e%20realidades%20sobre%20o%20Alcoolismo.pdf>. Acesso em 27 de set. 2013. JR. M. SEBASTIÃO. Regulação da publicidade das bebidas alcoólicas. Disponível em:<http://www.conamp.org.br/Estudos/Regula%C3%A7%C3%A3o%20da%20 publicidade%20das%20bebidas%20alco%C3%B3licas.pdf>. Acesso em 27 de set. 2013. MACHADO. N. C. D. L. Patologização do desejo: o homossexualismo masculino nos manuais de medicina legal do Brasil das décadas de 1940 e 1950. Disponível em: <http://www.generos.ufpr.br/files/eb90- monografia_leonardo.pdf>. 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