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APOSTILA - AULA 5: CICLONES EXTRATROPICAIS Prof. Henri Rossi Pinheiro CPTEC/INPE - Cachoeira Paulista henri.pinheiro@cptec.inpe.br Laboratório Virtual – DSA/CPTEC - INPE INTRODUÇÃO À IMAGENS DE SATÉLITE • SISTEMAS CONVECTIVOS DE MESO ESCALA • ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL – ZCAS • FRENTES • CICLONES EXTRATOPICAIS • BAIXAS DESPRENDIDAS ONDAS DE LESTE • LINHAS DE INSTABILIDADE • APLICAÇÕES DE SATÉLITES METEOROLÓGICOS • ALTA DA BOLÍVIA • VÓRTICES CICLÔNICOS DE ALTOS NÍVEIS NE BRASIL Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais - DSA 2 SUMÁRIO 1. Introdução .............................................................................................................................. 4 2. Características ....................................................................................................................... 4 3. Considerações Finais ........................................................................................................... 14 4. Leituras Complementares ................................................................................................... 14 3 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Etapas de desenvolvimento de uma típica onda frontal. ............................................. 6 Figura 2 - Distribuição anual da frequência de ciclogênese. ....................................................... 7 Figura 3 - Evolução de um ciclone extratropical. Cartas sinóticas de 500 hPa (superior esquerda), superfície (superior direita) e imagens de satélite no canal infravermelho do tipo realçada (inferior centralizada), para às 00 UTC dos dias (a) 01, (b) 02 e (c) 03/03/2013. ...... 10 Figura 4 - Imagem de satélite no canal infravermelho e análise do modelo GFS para as seguintes variáveis: pressão ao nível médio do mar (linha amarela), temperatura potencial equivalente (linha verde) e espessura 1000/500 hPa (linha tracejada), para 00 UTC do dia 03/03/2013. ................................................................................................................................ 11 Figura 5 - Imagem de satélite no canal infravermelho sobreposta à análise do modelo GFS para as seguintes variáveis: (a) pressão ao nível médio do mar (linha amarela) e espessura 1000/500 hPa (linha tracejada vermelha); (b) altura geopotencial (linha contínua), isotacas e temperatura (linha azul tracejada) em 500 hPa. Todas as informações são referente à 00 UTC do dia 03/03/2013. ..................................................................................................................... 13 4 1. Introdução Ciclones são um dos sistemas atmosféricos de grande interesse na meteorologia, devido ao seu relevante papel para o transporte de calor e umidade, além das mudanças provocadas no tempo, como a ocorrência de chuvas intensas, ventos fortes, granizo, entres outros fenômenos, sendo, portanto, uma incontestável ameaça à vida humana. As características destes sistemas têm sido amplamente investigadas nas últimas décadas, entretanto, a previsão da sua intensidade e de seu deslocamento ainda representa um desafio para a previsão numérica de tempo e aos meteorologistas previsores. Neste capítulo serão apresentadas as principais características associadas aos ciclones extratropicais, seus modelos conceituais para a América do Sul e também a análise de eventos ciclogenéticos através de campos meteorológicos e imagens de satélite. A análise destes eventos terá como objetivo promover um conhecimento maior das noções básicas de identificação destes sistemas através da interpretação visual de imagens de satélite. 2. Características Os ciclones conceitualmente são definidos como centros de baixa pressão em escala sinótica, formados por bandas de nuvens em rotação no sentido horário no Hemisfério Sul e anti-horário no Hemisfério Norte. Os ciclones extratropicais costumam apresentar uma forma elíptica, com diâmetros que variam aproximadamente entre 300 e 1000 km, sendo menores em comparação aos ciclones tropicais. A convergência de massa associada à presença de um ciclone é responsável por determinar o movimento do ar na direção do centro de baixa pressão, promovendo consequentemente o levantamento de massa no seu interior. Este é um dos mecanismos responsáveis pela formação de nebulosidade e chuva. Denomina-se ciclogênese o processo de formação de um ciclone extratropical (ou onda frontal), que tem associado um centro de baixa pressão, um ramo frio e um ramo quente. Eventos ciclogenéticos são bastante frequentes entre o nordeste da Argentina, Uruguai e parte do Sul do Brasil, ocorrendo principalmente entre o inverno e a primavera (GAN e RAO, 1990). O principal mecanismo responsável pela formação dos ciclones extratropicais é a instabilidade baroclínica (CHARNEY, 1947), que existe devido ao gradiente horizontal de temperatura em superfície. 5 Os primeiros modelos conceituais de ciclones extratropicais foram apresentados no início do século passado por Bjerknes e Solberg (1922) e Bjerknes e Holmboe (1944). Na América do Sul, o modelo conceitual clássico de circulação atmosférica associada ao desenvolvimento de ondas frontais consiste primeiramente no deslocamento de um cavado na troposfera média e alta, que ao cruzar a Cordilheira dos Andes interage com uma região baroclínica em superfície, promovendo a formação de uma onda frontal. Esta região baroclínica pode ser representada por um sistema frontal estacionário, como é demonstrado na Figura 1. No estágio inicial (Figura 1(1)), a frente estacionária separa a massa de ar frio localizada ao sul da massa de ar mais quente. A maioria dos eventos ciclogenéticos se inicia a partir da aproximação de uma perturbação ciclônica em altitude sobre uma região baroclínica na troposfera baixa, promovendo uma deformação no escoamento em superfície. Nesta etapa, formam-se o centro de baixa pressão e os ramos frio e quente (Figura1(2)), localizando-se o ar frio a oeste do ramo frio do sistema. A defasagem entre os campos de temperatura (ou espessura) e pressão determina o estágio de maior energia do sistema, apresentando zonas de forte advecção e contrastes de temperatura. Na etapa seguinte (Figura 1(3)) as características se mantém e a pressão central declina ainda mais, intensificando o gradiente de pressão e, consequentemente, a intensidade dos ventos. Neste estágio, o ciclone costuma apresentar um deslocamento rápido para sul/sudeste, acompanhando o sentido de deslocamento dos ventos em altitude. Na etapa 4 (Figura 1(4)), o ramo frio avança mais rapidamente do que o ramo quente, alcançando-o e dando origem a uma nova frente, denominada frente oclusa. O processo de oclusão promoverá a diminuição do gradiente de temperatura e a gradual dissipação do sistema de baixa pressão (Figura 1(5)). Os ventos mais intensos ocorrem entre as etapas 3 e 4 (maior gradiente de pressão). O período compreendido entre o processo de formação e a dissipação do sistema (etapas 1 a 5) costuma variar de 12 a 24 horas. 6 Figura 1 - Etapas de desenvolvimento de uma típica onda frontal. Fonte: Celemín (1980). De acordo com Gan e Rao (1991), existem duas regiões ciclogenéticas preferenciais sobre a América do Sul: uma aproximadamente sobre o Uruguai e outra próximo ao Golfo de San Matías, na Argentina (Figura 2). Estas regiões apresentam variações espaciais e sazonais marcantes, sendo o inverno o período de maior frequência de sistemas entre o Uruguai e a Bacia do Prata. 7 Figura 2 - Distribuição anual da frequência de ciclogênese. Fonte: Gan e Rao (1991). A seguir serão apresentadas cartas sinóticas e imagens de satélite para alguns casos associados ao modelo clássico de desenvolvimento de ciclones extratropicais na América do Sul (Figura 3). Observa-se na carta sinótica de 500 hPa a trajetória de um vórtice ciclônico entre o Pacífico Leste e o interior do continente sul-americano. Ao atravessar a Cordilheira dos Andes, este sistema interage com uma região fortemente baroclínica em superfície, promovendo rapidamente uma ciclogênese sobre a costa leste da Argentina. Percebe-se que a chegada do vórtice em nível médio é antecedida por uma forte advecção de ar quente a leste do centro de baixa pressão em superfície. As imagens de satélite mostram as áreas de instabilidade associadas ao desenvolvimento da onda frontal. 8 (a) 9 (b) 10 (c) Figura 3 - Evolução de um ciclone extratropical. Cartas sinóticas de 500 hPa (superior esquerda), superfície (superior direita) e imagens de satélite no canal infravermelho do tipo realçada (inferior centralizada), para às 00 UTC dos dias (a) 01, (b) 02 e (c) 03/03/2013. Fonte: CPTEC/INPE. 11 A Figura 4 mostra a imagem de satélite sobreposta ao campo de pressão em superfície. Nesta análise, o ciclone apresenta um núcleo de 986 hPa e um forte gradiente de pressão em seu entorno. Percebe-se ainda uma região apresentando forte gradiente de temperatura potencial equivalente na fronteira entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul. Esta região representa o ramo frio da onda frontal, sendo a zona de transição entre duas massas de ar com características distintas. Nota-se que a área mais convectiva atua na vanguarda do ramo frio do sistema, associada à instabilidade pré-frontal. Na borda leste do ciclone também se observa nebulosidade convectiva, enquanto que sobre o flanco oeste a nebulosidade é predominantemente estratiforme. Na costa uruguaia, as rajadas de vento chegaram a 70 kt (aproximadamente 130 km/h). Figura 4 - Imagem de satélite no canal infravermelho e análise do modelo GFS para as seguintes variáveis: pressão ao nível médio do mar (linha amarela), temperatura potencial equivalente (linha verde) e espessura 1000/500 hPa (linha tracejada), para 00 UTC do dia 03/03/2013. Fonte: Imagens geradas no software GEMPAK pelo Grupo de Previsão de Tempo do CPTEC/INPE. 12 Entre os meses de outubro e abril, é comum observar a formação de centros de baixa pressão próximo a costa da região Sudeste do Brasil (HOSKINS e HODGES, 2005). Estes sistemas costumam ser mais fracos (menor baroclinia) em comparação aos eventos que se formam em latitudes médias, no entanto, a sua presença muitas vezes é responsável pelo aumento da convergência de umidade sobre o continente, provocando ocasionalmente episódios de chuva intensa. A Figura 5 mostra um caso típico de um ciclone formado sobre o Atlântico, próximo à costa da região Sudeste do Brasil. A análise mostra o período em que o ciclone já se encontra configurado, percorrendo sua trajetória clássica para sudeste. Percebe-se que a nebulosidade associada ao sistema encontra-se alinhada com a instabilidade sobre o interior do Brasil, estendendo-se do Sudeste ao Norte do país. Nota-se que este ciclone teve como mecanismo precursor um cavado em nível médio, que provocou uma queda da pressão em superfície ao avançar em direção ao oceano. 13 Figura 5 - Imagem de satélite no canal infravermelho sobreposta à análise do modelo GFS para as seguintes variáveis: (a) pressão ao nível médio do mar (linha amarela) e espessura 1000/500 hPa (linha tracejada vermelha); (b) altura geopotencial (linha contínua), isotacas e temperatura (linha azul tracejada) em 500 hPa. Todas as informações são referente à 00 UTC do dia 03/03/2013. Fonte: Imagens geradas no software GEMPAK pelo Grupo de Previsão de Tempo do CPTEC/INPE. 14 3. Considerações Finais Neste capítulo foram apresentados alguns aspectos associados ao desenvolvimento dos ciclones extratropicais, bem como suas características observadas em campos meteorológicos e em imagens de satélite. É importante deixar claro que estes sistemas diferenciam-se dos ciclones tropicais e híbridos em relação a sua estrutura dinâmica, uma vez que o primeiro desenvolve-se a partir da instabilidade baroclínica, promovendo a formação de bandas frontais durante os estágios de desenvolvimento e maturidade, tal como foi mostrado. Na América do Sul, a maioria dos ciclones apresentam tais características, entretanto, uma exceção foi o ciclone tropical Catarina, que ocorreu em março de 2004, próximo a costa entre os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. A atividade ciclogenética observada com frequência entre as regiões costeiras da Argentina, Uruguai e Sul do Brasil tem uma significativa contribuição da Cordilheira dos Andes, que ao perturbar o escoamento de oeste em altitude, gera a formação e/ou amplificação de cavados a sotavento da montanha. 4. Leituras Complementares BJERKNES, J.; SOLBERG, H. Life cycle of cyclones and the polar front theory of atmospheric circulation. Geofysiske Publikasjoner, 3, 1-18, 1922. BJERKNES, J.; HOLMBOE, J. On the theory of cyclones. J. Meteorol., 1, 1-22, 1944. BLUESTEIN, H. B. Synoptic-Dynamic Meteorology in Midlatitudes, Vol I & II. Oxford University Press, New York, 431-594, 1992. CELEMÍN, A. H. Meteorología práctica. Edición del Autor, Mar del Plata, Argentina, 1984. CHARNEY, J. G. The dynamics of long waves in a baroclinic westerly current. J. Meteorol., 4, 135-162, 1947. EADY, E. T. Long waves and cyclone waves. Tellus, 1, 33-52, 1949. 15 Escobar, G. C. J. Meteorologia Sinótica Prática: Sistemas frontais clássicos, cavados baroclínicos e frentes subtropicais sobre América do Sul. (Desenvolvimento de material didático ou instrucional - Projeto: Educação e difusão do conhecimento em clima e meio ambiente - ECOMAC - apoiado pelo CNPq), 2010. ESCOBAR, G. C. J. Meteorologia Sinótica Prática: Ciclogêneses na América do Sul. (Desenvolvimento de material didático ou instrucional - Projeto: Educação e difusão do conhecimento em clima e meio ambiente - ECOMAC - apoiado pelo CNPq), 2010. Gan, M. A.; Rao, V. B. Surface cyclogenesis over South America. Monthly Weather Review, 119, 5, 1293-1302, 1991. HOLTON, J. R. An introduction to dynamic meteorology, Academic Press, 4a. Ed., 535, 2004. HOSKINS, B. J.; HODGES, K. I. A new perspective on the southern hemisphere storm tracks. J. Climate, 18, 4108-4129, 2005. KOUSKY, V. E.; GAN, M. A. Upper tropospheric cyclonic vértices in the tropical South Atlantic. Tellus, 33, 538-551, 1981. SATYAMURTY, P. Ciclones Extratropicais. In: Laboratório de Meteorologia - Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) - São José dos Campos, SP. (Org.). V Curso de Interpretação de Imagens e Análise Meteorológica, 2001. Alguns sites interessantes: http://www.cptec.inpe.br/tempo http://www.master.iag.usp.br/ http://www.inmet.gov.br http://www.dhn.mar.mil.br/ http://meted.ucar.edu/ http://www.photolib.noaa.gov/collections.html