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Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 971.853 - RS (2007/0175889-3) RELATOR : MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO RECORRENTE : LOSANGO PROMOTORA DE VENDAS LTDA E OUTRO ADVOGADO : CAROLINA BACELLAR DA SILVA E OUTRO(S) RECORRIDO : MARIA DE FÁTIMA DUTRA ADVOGADO : MARCELO DE FREITAS E CASTRO EMENTA Ação revisional de contrato bancário. Juros remuneratórios. Verificação da abusividade da taxa prevista no contrato pelas instâncias ordinárias. Taxa acima do triplo ao patamar médio praticado pelo mercado. Adequação. I - Verificada a flagrante abusividade dos juros remuneratórios pelas instâncias ordinárias deve sua taxa ser adequada ao patamar médio praticado pelo mercado para a respectiva modalidade contratual. II - Recurso especial parcialmente provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Hélio Quaglia Barbosa e Massami Uyeda votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Fernando Gonçalves. Brasília, 06 de setembro de 2007(Data do Julgamento) Ministro Antônio de Pádua Ribeiro Relator Documento: 719426 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/09/2007 Página 1 de 6 Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 971.853 - RS (2007/0175889-3) RELATOR : MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO RECORRENTE : LOSANGO PROMOTORA DE VENDAS LTDA E OUTRO ADVOGADO : CAROLINA BACELLAR DA SILVA E OUTRO(S) RECORRIDO : MARIA DE FÁTIMA DUTRA ADVOGADO : MARCELO DE FREITAS E CASTRO RELATÓRIO EXMO. SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: Trata-se de ação revisional de contrato de financiamento ajuizada por Maria de Fátima Dutra contra Losango Promotora de Vendas Ltda e HSBC Bank Brasil S.A. - Banco Múltiplo. A autora financiou a quantia de R$ 1.000,00 (um mil reais) junto às empresas rés, obrigando-se a restituí-los em 10 prestações mensais de R$ 240,77 (duzentos e quarenta reais, setenta e sete centavos). A r. sentença determinou a revisão dos juros remuneratórios para a taxa de mercado no mês da contratação divulgada pelo Banco Central do Brasil, isto é, 67,81% ao ano, uma vez que a taxa prevista contratualmente de 380,78% ao ano discrepava substancialmente daquela e, portanto, caracterizada a sua abusividade (fls. 84/87-v). Quanto aos juros, a Primeira Câmara Especial Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul reconheceu sua abusividade e reduziu a taxa ao patamar de 12% ao ano, por considerá-la mais adequada. Inconformadas, as instituições financeiras interpõem o presente recurso especial, fundado nas alíneas a e c do permissivo constitucional, apontando ofensa ao artigo 4º, IX, da Lei nº 4.595/64, bem Documento: 719426 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/09/2007 Página 2 de 6 Superior Tribunal de Justiça como dissenso pretoriano. Alegam as recorrentes que a legislação específica não impõe limitação para as taxas de juros firmadas por instituições financeiras e que deve prevalecer o que foi pactuado, pois "não se visualiza, no presente caso, qualquer abusividade que possa ensejar a revisão do contrato" (fl. 153). Contra-razões às fls. 171-181, pugnando pela manutenção do aresto recorrido. O recurso foi admitido pelo 3º Vice-Presidente do Tribunal de origem e, assim, ascenderam os autos à esta Corte. É o relatório. Documento: 719426 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/09/2007 Página 3 de 6 Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 971.853 - RS (2007/0175889-3) EMENTA Ação revisional de contrato bancário. Juros remuneratórios. Verificação da abusividade da taxa prevista no contrato pelas instâncias ordinárias. Taxa acima do triplo ao patamar médio praticado pelo mercado. Adequação. I - Verificada a flagrante abusividade dos juros remuneratórios pelas instâncias ordinárias deve sua taxa ser adequada ao patamar médio praticado pelo mercado para a respectiva modalidade contratual. II - Recurso especial parcialmente provido. VOTO EXMO. SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: O tema é bem conhecido deste Tribunal, que, inclusive, já firmou jurisprudência a respeito. Como cediço, esta Corte entende que não se pode presumir abusivas as taxas de juros remuneratórios que excederem o limite de 12% ao ano. Todavia, orienta que a abusividade da cláusula contratual que a prevê pode ser declarada nas instâncias ordinárias, com amparo nas disposições do Código de Defesa do Consumidor, quando ficar provado que a instituição financeira está cobrando taxa excessiva, se comparada com a média do mercado para a mesma operação financeira. É do que se trata no presente caso. A r. sentença apurou que a taxa de juros remuneratórios cobrada pelas instituições financeiras recorridas encontra-se acima do triplo da taxa média do mercado para a modalidade do negócio jurídico bancário efetivado. Enquanto, a taxa média do mercado para empréstimos Documento: 719426 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/09/2007 Página 4 de 6 Superior Tribunal de Justiça pessoais divulgada pelo Banco Central do Brasil para o mês da contratação é no patamar de 67,81% ao ano, a taxa cobrada foi no importe de 380,78% ao ano, que mensalmente reflete o percentual de 13,98%. Assim, flagrante a abusividade na estipulação contratual. Aliás, diante de tal discrepância, chega a impressionar a afirmação contida no peça recursal das instituições financeiras de que "não se visualiza, no presente caso, qualquer abusividade que possa ensejar a revisão do contrato" (fl. 153). De outro lado, creio que têm razão as recorrentes quando se insurgem contra a limitação de 12% ao ano imposta pelo acórdão recorrido aos juros remuneratórios. A uma, porque ausente fundamentação a respeito dos parâmetros que resultaram na fixação em tal patamar. A duas, em virtude da orientação jurisprudencial desta Corte, a qual deve se adequar. Assim, verificada a flagrante abusividade dos juros remuneratórios pelas instâncias ordinárias deve sua taxa ser adequada ao patamar médio praticado pelo mercado para a respectiva modalidade contratual, isto é, 67,81% ao ano, como determinam os precedentes deste Tribunal a respeito do tema. Posto isso, dou parcial provimento ao recurso especial para afastar a limitação de 12% ao ano imposta à taxa de juros remuneratórios, para fixá-la de acordo com a média praticada pelo mercado, como acima explicitado. Os ônus sucumbenciais fixados no acórdão recorrido devem ser distribuídos e compensados para cada litigante na proporção do seu decaimento (CPC, art. 21), atentando-se para o benefício da gratuidade judiciária deferido à autora (fl. 37). Documento: 719426 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/09/2007 Página 5 de 6 Superior Tribunal de Justiça CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUARTA TURMA Número Registro: 2007/0175889-3 REsp 971853 / RS Números Origem: 10601344352 70018454371 70019731314 PAUTA: 06/09/2007 JULGADO: 06/09/2007 Relator Exmo. Sr. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. DURVAL TADEU GUIMARÃES Secretária Bela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK AUTUAÇÃO RECORRENTE : LOSANGO PROMOTORA DE VENDAS LTDA E OUTRO ADVOGADO : CAROLINA BACELLAR DA SILVA E OUTRO(S) RECORRIDO : MARIA DE FÁTIMA DUTRA ADVOGADO : MARCELO DE FREITAS E CASTRO ASSUNTO: Civil - Contrato - Bancário - Abertura de Crédito CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso e deu-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Hélio Quaglia Barbosa e Massami Uyeda votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Fernando Gonçalves. Brasília, 06 de setembro de 2007 CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK Secretária Documento: 719426 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/09/2007 Página 6 de 6