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METEOROLOGIA E CLIMATOLOGIA Mário Adelmo Varejão-Silva Versão digital 2 – Recife, 2006 360 13. A média temporal de totais pluviométricos. Uma das técnicas mais comuns para se visualizar a distribuição espacial da chuva ob- servada em um dado intervalo de tempo é a construção de linhas que unam pontos de igual valor médio dos totais pluviométricos. Tais linhas são chamadas isoietas médias. Em geral, são traçadas diferentes cartas, contendo isoietas médias mensais (para janeiro, fevereiro,... e de- zembro) e anuais, relativas a um período de 30 anos ou mais de registros contínuos. A cons- trução dessas linhas sobre uma carta geográfica leva em conta a influência da orografia sobre a precipitação, não sendo possível adotar apenas interpolações simples. Estatisticamente, a média constitui um bom estimador do valor mais freqüente do total de chuva apenas nos casos em que os elementos da amostra disponível se ajustem bem a um modelo simétrico de distribuição. De fato, se a distribuição dos dados seguir o modelo gaussia- no (distribuição normal), a média, a moda e a mediana da amostra coincidem. Nesse caso, a média representa o valor mais provável (moda) e, ainda, divide simetricamente a amostra (me- diana). Assim, 50% dos valores esperados encontram-se abaixo da média e 50% acima dela. O emprego de isoietas médias (mensais ou anuais) conduz o leitor a assumir, implicitamente, que o total de precipitação esperado em um dado mês ou ano não deve se afastar muito do corres- pondente valor médio. Em outras palavras, o leitor menos avisado é conduzido a aceitar que as isoietas médias representam uma configuração não muito afastada do campo pluviométrico real. Quando se analisa a distribuição temporal de totais mensais de precipitação, especial- mente numa região semi-árida, evidencia-se uma flutuação muito acentuada. Nessas áreas, é comum ao desvio-padrão representar 25%, 30% ou mais do correspondente valor médio. Tal circunstância torna a média aritmética de totais (mensais ou anuais) uma estatística muito po- bre para fins de planejamento ou de execução de qualquer atividade que dependa de estimati- vas da chuva esperada. Em um ano, pode chover bastante em um dado mês e, noutro ano, praticamente nada, naquele mesmo mês. Uma análise estatística mais profunda permite verificar, ainda, que a distribuição dos totais pluviométricos é assimétrica, ou seja: que a média, a moda e a mediana não são coinci- dentes, sendo, em geral, a moda menor que a média. Exemplos desse comportamento cons- tam da TABELA VIII.6, para o total pluviométrico acumulado nos três meses consecutivos mais chuvosos, em diferentes postos do Estado de Pernambuco. A despeito desses fatos (elevada variância e uma distribuição não simétrica), as médias dos totais pluviométricos continuam sendo largamente usadas nessas regiões, como se fossem representativas. Quando os totais pluviométricos se distribuem assimetricamente, como acontece em zonas semi-áridas, então a média pode se afastar bastante da moda e, portanto, deixa de constituir um bom estimador do valor mais provável. Seja, por exemplo, a seguinte série hipo- tética de totais pluviométricos para o mês k, em um dado local: 0, 0, 0, 30, 0, 0, 0, 0, 30 e 0 mm. A média será, obviamente, 6 mm mas a moda é virtualmente nula. Ao se adotar a média como referência, para fins de cômputo do total de chuva esperado com maior freqüência (moda), nesse local, assume-se uma hipótese demasiadamente otimista. Nas áreas semi-áridas em geral e no Nordeste do Brasil em particular, evidencia-se a conveniência de abandonar, em caráter definitivo, a utilização tão comum da média como valor representativo do total (mensal ou anual) de chuva "normal". Sugere-se adotar a moda ou totais pluviométricos associados a níveis selecionados de probabilidade, segundo um modelo de dis