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ECONOMIA INTERNACIONAL (Um texto introdutório) I. A Economia dos Países Individuais no Contexto Mundial (Juan A. Plá) 1. A Divisão Internacional do Trabalho Ao longo da História, os diversos continentes foram retalhados em territórios autônomos, muito diferentes entre si, com relação ao tamanho e aos recursos produtivos disponíveis. Assim, através de processos políticos complexos foram-se conformando os atuais países. As nações independentes descobriram, muito cedo, as vantagens de trocar mercadorias, originando os fluxos do comércio internacional. Na medida em que os meios de comunicação e de transporte iam-se aperfeiçoando, o sistema mundial foi ficando mais interdependente e os países foram abandonando progressivamente as estratégias orientadas para a auto-suficiência. O desenvolvimento do comércio possibilitou que cada nação se especializasse naquelas produções em que apresentava maiores aptidões, complementando, através do comércio, o leque de mercadorias que seus cidadãos necessitavam. A especialização produtiva dos países obedeceu, pelo menos inicialmente, às respectivas disponibilidades de fatores de produção, que determinaram a conformação de vocações nacionais, especialmente no caso dos produtos agrícolas e minerais. Assim, por exemplo, o Brasil dedicou seus recursos a produzir café, em função da disponibilidade de recursos naturais (terra, clima, etc), especialmente apropriados para essa finalidade. Em geral, os países se especializaram nas produções em que eram mais eficientes, conseguindo produzir os respectivos produtos a um custo menor. O comércio entre países pode ser analisado a partir de dois pontos de vista. Em primeiro lugar, ele permite que cada país tenha accesso a um leque muito amplo de bens e serviços, satisfazendo as necessidades diversificadas de seus cidadãos, sem perder as vantagens da especialização produtiva. Em segundo lugar, a possibilidade de vender seus produtos em outros mercados, permite que os volumes de bens produzidos em cada país sejam muito maiores do que seriam no caso de ficarem restritos aos mercados internos, exclusivamente, sendo assim possível aproveitar os ganhos de eficiência conhecidos como economias de escala. A possibilidade de vender mercadorias no estrangeiro é, assim, tão importante quanto a de comprar. Muitos países conseguem viabilizar suas economias em função da demanda externa, produzindo para a exportação, assim gerando as oportunidades de emprego que, em definitivo, sustentam a geração da renda nacional. O país que permite, que as mercadorias de outros países sejam vendidas no seu mercado interno, está em condições de exigir "reciprocidade" dos seus parceiros comerciais. economia internacional 2 2. A Lei das Vantagens Comparativas A lei das "vantagens comparativas" foi enunciada por David Ricardo a inícios do século XIX, com a finalidade de dar sustentação teórica à argumentação em favor da liberdade de comércio. Nessa época, a política comercial inglesa estava muito influenciada por diversos grupos que defendiam seus interesses particulares. Assim, o protecionismo estatal, de corte mercantilista, constituia o princípio mais freqüentemente aplicado. Em particular, os donos de terras, que lutavam para obter a proibição legal das importações de trigo, de modo a evitar que o preço desse produto caísse no mercado inglês, constituiram os oponentes mais dinâmicos dos argumentos do Ricardo. Os defensores do livre comércio explicavam que a maior eficiência produtiva, derivada da especialização, contribuiria para a elevação do bem-estar social global, ao colocar à disposição dos consumidores maiores volumes de bens e serviços, a preços mais convenientes. Os bens seriam produzidos a um custo menor e a concorrência se encarregaria de reduzir os preços de venda. Em termos de políticas, o aproveitamento das vantagens comparativas exigiria a liberalização completa do comércio internacional, de forma que os preços dos bens, estabelecidos pelo confronto da oferta e da demanda, pudessem orientar o volume e a estrutura dos diversos fluxos de comércio. As mercadorias fluiriam entre os países, seguindo o estímulo dos preços mais elevados. Por sua vez, os compradores escolheriam as mercadorias que, possuindo a mesma qualidade, apresentassem preços menores. Nesse contexto, os preços se aproximariam do custo de produção, garantindo a eficiência produtiva e alocativa, de forma que qualquer distorsão introduzida artificialmente nos preços das mercadorias, contribuiria para a perda de bem-estar. Dentre os fatores com efeitos potencialmente distorsivos, mencionam-se os impostos, as quotas de importação e exportação e as taxas de câmbio administradas. Em síntese, os fluxos de comércio, orientados pelas vantagens comparativas, gerariam uma especialização produtiva dos países, que permitiria obtenção de um equilíbrio eficeiente. Com a finalidade de ilustrar o funcionamento da "lei das vantagens comparativas", apresentamos um breve exemplo numérico: suponhamos que a produção de uma unidade de alimentos viesse a requerer 8 horas de trabalho nos Estados Unidos e 10 horas de trabalho na Inglaterra, sendo que a produção de tecidos requeresse 4 horas de trabalho nos Estados Unidos e apenas 2 horas de trabalho na Inglaterra. Essa informação pode ser sumarizada na seguinte tabela: Tabela I economia internacional 3 Utilização do fator trabalho na produção de bens (horas por unidade) ---------------------------------------------------------------------------------- País Estados Unidos Inglaterra ---------------------------------------------------------------------------------- Alimentos 8 10 Tecidos 4 2 ---------------------------------------------------------------------------------- Utilização hipotética de mão de obra nas atividades produtivas. A relação dos custos unitários de produção de alimentos para tecidos, expressos em horas de trabalho, é, no nosso exemplo, para os Estados Unidos de 8/4, e para a Inglaterra de 10/2. O fato dessas relações serem diferentes para os dois países, indica que haveria possibilidades de obter ganhos com a abertura do comércio internacional. Caso os Estados Unidos decidissem exportar uma unidade de alimentos para a Inglaterra, este país poderia retirar 10 horas de trabalho da produção de alimentos, sem que a disponibilidade global resultasse afetada negativamente. Por sua vez, essas 10 horas de trabalho poderiam ser aproveitadas na produção de tecidos, originando 10/2 = 5 unidades adicionais de tecido. Algumas dessas unidades de tecido poderiam ser transferidas para os Estados Unidos em pagamento dos alimentos recebidos. Supondo que 2 unidades de tecido fossem transferidas, os Estados Unidos poderiam retirar 2 x 4 = 8 horas de sua produção doméstica de tecidos, sem reduzir a oferta global. Essas 8 horas poderiam ser alocadas para a expandir a produção de alimentos, compensando pela redução da oferta interna que significa a exportação para a Inglaterra. O saldo líquido de toda essa operação são as 3 unidades de tecido que restam da produção adicional inglesa depois de exportar 2 unidades para os Estados Unidos. O destino final dessas 3 unidades pode ser tanto o consumidor inglés como o americano, ou uma distribuição que eles venham eventualmente a combinar. O importante é que agora existem 3 unidades adicionais que antes da abertura comercial não estavam disponíveis. No nosso exemplo, a abertura do comércio internacional veio a permitir a exploração mais eficientemente dos recursos produtivos disponíveis, já que, a partir dos mesmos recursos, foi possível obter um volume maior de bens de consumo. Nesse sentido, o comércio internacional apresenta efeitos parecidos com os do avanço tecnológico. Os cidadãos dos dois países podem consumir mais, ou alternativamente, consumir os mesmos volumes anteriores com menor esforço e disfrutar de maior tempo de ócio. Poderia acontecer que, considerando dois países, um deles tivesse custos de produção mais elevados que o outro para todas as mercadorias consideradas. No entanto, ainda assim exisiria espaço para um comércio mutuamente favorável, já que, o que vai determinar se eles devem engajar-se em processos de troca, é a comparação dos custos relativos de produção das duas mercadorias em cada país. Nesse sentido, quanto mais livre o comércio, mais fortes serão os estímulos para a especialização nas produções eficientes. economia internacional 4 No entanto, a maioria dos países utiliza, na prática, tarifas e barreiras comerciais de diversos tipos, perdendo parcialmente as supostas benesses do livre comércio. As justificativas comumente mais utilizadas para as atitudes protecionistas, se referem à necessidade de garantir condições de desenvolvimento da capacidade produtiva de um país atrasado em relação aos seus parceiros comerciais. Argumenta-se que no início do processo de desenvolvimento, os custos de produção são elevados em função da existência de muitas ineficiências que só é possível superar através da experiência produtiva. Os mercados internacionais de manufaturas resultam muito competitivos, de forma que o desenvolvimento da base industrial exigiria, pelo menos nos momentos iniciais, medidas extraordinárias de proteção (argumentação da indústria nascente). Na prática, os participantes do comércio internacional apresentam diversos graus de poder monopólico, que eles costumam utilizar em benefício próprio, exercendo o seu poder de barganha. O comércio internacional se processa em um contexto de jogos de força, em que cada parceiro utiliza todos os recursos disponíveis a seu favor. Os próprios governos nacionais agem sob pressão dos seus empresários, e também dos seus operários, para adotar políticas protecionistas que estimulem o nível de atividade econômica e a geração de renda interna no país. Paralelamente, as medidas protecionistas, aplicadas inclussive em favor dos produtos agrícolas, tém sido justificadas com base em argumentos de tipo político ou de natureza estratégico-militar, como a necessidade de garantir o suprimento de bens esenciais em qualquer tempo, especialmente em períodos de guerra, de catástrofes climáticas ou de recessão econômica. 3. A Deterioração dos Termos de Troca Vários autores indicaram a existência de tendências seculares para a deterioração relativa dos preços dos bens primários frente aos produtos manufaturados. Dentre eles, os mais conhecidos são Prebsich e Singer, que traballhando independentemente no estudo de séries históricas de preços para as mercadorias primárias e as industrializadas, ao longo de extensos períodos, conseguiram identificar o referido declínio relativo no preço dos bens primários. De acordo com esses autores, a conseqüência dessa deterioração é que os países que exportam bens primários e importam bens manufaturados, perdem capacidade de compra, devendo reduzir o volume de mercadorias importadas. Essa restrição nas compras externas significa que o ritmo da atividade econômica do país deva ser reduzido, gerando conjunturas recessivas. A explicação oferecida para essa deterioração dos preços relativos foi formulada em termos da diferente elasticidade renda da procura dos bens primários e dos manufaturados. A elevação eventual na renda dos consumidores provocaria aumentos na demanda por bens manufaturados, principalmente, apresentando efeito menor sobre a procura por bens primários. Como resultado, a melhora na renda da população provocaria, a longo prazo, elevações relativas nos preços das manufaturas. economia internacional 5 Outra explicação oferecida, para a evolução observada dos termos de troca, foi que o progresso técnico na fabricação dos bens permite elevações na eficiência produtiva, que se refletiria na utilização de quantidades cada vez menores de matérias primas. Por outra parte, o progresso técnico tem conduzido ao aparecimento de novos materiais, especialmente de substitutivos para as matérias primas naturais. Assim, os produtos primários encontrariam cada vez menor demanda industrial, o que contribuiria para o declínio do seu preço. No entanto, a evidência estatística apresentada foi contestada, justamente em função da incorporação de melhoras técnicas aos bens manufaturados, ao longo de períodos de vários anos. Diversos autores atacaram a teoria da deterioração dos termos de troca, com base no fato de que a majoração dos preços das manufaturas seria devida à crescente sofisticação dos bens de consumo. Por outra parte, muitos bens, que nas fases iniciais do comércio teriam participado nos fluxos de troca, teriam desaparecido pela mudança nos hábitos de consumo ou nos processos de manufatura, dificultando a identificação de tendências de longo prazo. Por outra parte, argumenta-se que a relação declinante observada entre os preços das mercadorias primárias e o das manufaturadas, só seria evidente quando o ano inicial da série considerada, apresenta valores altos para essa relação, e o ano final, valores baixos. Assim, a comprovação da própria existência da deterioração dos termos de troca dependeria do período escolhido. Uma reformulação dessa teoria indica que os bens primários apresentam preços mais intensamente variáveis ao longo dos ciclos econômicos de recessão e auge. Nas épocas de crise econômica cíclica (recessão), os termos de troca sofreriam uma deterioração em relação com as épocas de plena atividade e os países exportadores de matérias primas e importadores de manufaturas sofreriam pesados prejuizos. O declínio relativo dos preços dos bens primários constituiria uma transferência parcial do peso da crise, dos países mais desenvolvidos, para os menos desenvolvidos. A deterioração dos termos de troca oferece importantes implicações políticas para os países com economias de base agrícola ou calcadas na exploração mineral: a industrialização da economia seria a única forma de fugir da deterioração dos termos de troca. A proposta de planos de desenvolvimento industrial para os países atrasados foi justificada em base à necessidade de superar a desvantajosa correlação de forças vigente. A proposta da Comissão Econômica Para América Latina (CEPAL), das Nações Unidas, incluia a participação do estado no estímulo e no planejamento dos investimentos necessários para o desenvolvimento industrial, assim como a adoção de barreiras protecionistas que impedissem a inundação dos mercados nacionais com mercadorias importadas. II. A Evolução do Comércio Internacional economia internacional 6 1. Sistemas de Câmbio: do Padrão Ouro aos Sistemas Modernos O sistema monetário preponderante na segunda metade do século XIX, e nos anos iniciais do século XX, era o chamado "Padrão Ouro". Nesse contexto, o comércio entre os países devia ser equilibrado, sendo que qualquer desajuste nos fluxos anuais devia ser compensado com volumes de ouro. Assim, a equivalência em ouro determinava o poder aquisitivo das moedas. No entanto, a limitação dos estoques de ouro prejudicava a expansão do comércio, o que resultava cada vez mais inconveniente à medida que o comércio mundial se expandia. O padrão ouro foi-se tornando mais e mais restritivo, impedindo novos avanços no nível de produção dos países, de forma que se fazia necessário encontrar outros meios de estabelecer a equivalência entre as moedas, sem que fosse possível chegar a um acordo sobre um sistema alternativo. A conversibilidade das moedas em ouro teve que ser suspensa durante a I Guerra Mundial, devido aos gastos excessivos dos países beligerantes, sem que posteriormente fosse possível reimplantar o sistema em forma duradoura. A tentativa da Inglaterra de restabelecer a conversibilidade da libra em ouro (1925 a 1931) foi um fracasso tão estrondoso, que ameaçou com a quebra do Tesouro inglês, considerando-se como uma das causas da Grande Depressão da década de 30. A taxa de conversão fixa impõs a esse governo, uma grande rigidez na definição de suas políticas internas, resultando incompatível com as exigências da sociedade moderna, especialmente com respeito à necessidade de utilizar políticas anticíclicas, que permitissem suavizar os efeitos das crises econômicas. No período entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, observamos a ascensão dos Estados Unidos como potência mundial. O dólar passou a ser aceito como moeda de circulação internacional, em função da capacidade de produção industrial desse país. As grandes mudanças que tiveram lugar nesse período se processaram no contexto de uma grave crise econômica que se desenvolveu ao longo da década de 30. A maioria dos países industrializados aplicou fortes desvalorizações às suas moedas com a finalidade de melhorar a competitividade de suas exportações, ao mesmo tempo que elevou suas tarifas de importação. 2. Livre Comércio: o Sistema de Bretton Woods A partir do fim da II Guerra Mundial foi definitivamente abandonado o "metalismo", adotando-se no seu lugar um sistema de taxas de câmbio fixas, porém ajustáveis, entre as moedas. Essas inovações foram adotadas numa reunião internacional convocada com essa finalidade, que ficou conhecida como Conferência de Bretton Woods (1944). As taxas de câmbio entre as moedas, em princípio deviam permanecer fixas, mas elas poderiam ser modificadas, segundo a conveniência, mediante autorização dos organismos internacionais competentes, em particular o Fundo Monetário Internacional, criado nessa mesma Conferência. A única moeda que deveria manter uma equivalência fixa com o ouro seria o dólar americano, (US$ 35 por onça-troy), enquanto que as demais moedas deveriam manter taxas de equivalência, fixadas provisoriamente, com a moeda americana. Nos casos de desequilíbrios comerciais persistentes, as taxas de equivalência poderiam ser alteradas. Sempre que um país apresentasse saldos negativos persistentes no comércio internacional, ele estaria obrigado a desvalorizar sua moeda. economia internacional 7 O sistema emanado da Conferência de Bretton Woods buscava estimular ao máximo a expansão do comércio internacional, implantando com essa finalidade, uma liberdade de comércio tão ampla quanto possível. De fato, a única medida de controle do comércio aceita de forma explícita, foi a tarifa aduaneira, ou seja os impostos de importação "ad valorem". Ficavam assim formalmente banidas as quotas e outras formas de controle direto dos fluxos de comércio. As regras que deviam reger o comércio mundial foram explicitadas no Acordo Geral de Tarifas e de Comércio (GATT). A aplicação desses princípios possibilitou uma expansão muito vigorosa do comércio internacional, acompanhando a recuperação das economias destruídas pela II Guerra Mundial. No entanto, a inícios da década de 70, os Estados Unidos tiveram que desvalorizar o dólar, em função dos seus próprios saldos negativos no comércio internacional, aumentando a relação de troca com o ouro. A desvalorização do dólar significou o fim da época de Bretton Woods (1944 a 1971) e provocou fortes turbulências na economia mundial. Nos anos seguintes houve fortes flutuações das relações de troca das moedas, registrando-se graves instabilidades nos fluxos de comércio e nos preços das mercadorias. A liberdade de comércio permanceceu apenas como um ideal, já que as nações mais influintes continuaram a impor barreiras de diversos tipos ao seu comércio de importação (neo protecionismo). Tal conduta prejudicou especialmente aos países atrasados, através da manutenção de níveis baixos de preços para as mercadorias que eles exportam, gerando dificuldades crescentes para o prosseguimento dos planos de desenvolvimento econômico e social. Uma conseqüência relevante do fim do Sistema de Bretton Woods, em 1971, foi a forte expansão apresentada pelos fluxos internacionais de capitais financeiros. O volume desses fluxos chegou a ultrapassar amplamente o volume dos fluxos de mercadorias. Alguns países que mantinham saldos comerciais negativos em forma persistente, conseguiram equilibrar suas contas externas pela entrada de capitais financeiros, o que sem dúvida contribuiu para uma elevação muito forte do seu endividamento externo. III. Políticas de Comércio (Alyr Maya) 1. Paridade de Câmbio As transações econômicas internacionais, caracterizadas por fluxos de capital financeiro, mercadorias, serviços e renda entre as economias, é todo expresso em moeda, gerando pagamentos internacionais, embora as moedas sejam nacionais, pois, ainda não existe moeda internacional, de aceitação generalizada entre economias. Exportadores e importadores têm que trocar sua moeda por alguma outra que possibilite a realização das transações econômicas, surgindo a taxa de câmbio. A taxa de câmbio é o preço pelo qual se compra em moeda nacional uma unidade monetária de moeda estrangeira. Vimos que já foram praticadas no mundo algumas formas de expressar uma moeda nacional em outra, como o padrão-ouro, sempre buscando a relação que permitisse a transação economia internacional 8 econômica. Algumas considerações, entretanto, devem ser feitas, antes de explicar os procedimentos mais usuais à paridade do câmbio na atualidade. Cada economia é uma individualidade, desde os recursos naturais até as tecnologias empregadas no processo produtivo, passando por uma cultura própria e uma organização administrativa peculiar, com normas legais que regem todas as atividades. Assim, a adoção da moeda nacional é conseqüência de uma política econômica que leva em consideração todo um contexto. Mas, ao longo do tempo, o contexto passa por alterações, trazendo reflexos sobre a moeda e afetando, também, a taxa de câmbio. Admitida uma moeda nacional, através da qual se expressam os preços dos produtos, a comparação destes preços com os de outras economias em suas moedas é que dá início à relação de valores. Se, para adquirir uma quantidade de produtos na economia A, é preciso dispender 500 unidades monetárias de A e, para adquirir na economia B igual quantidade de mesmos produtos, são necessárias 100 unidades monetárias de B, então, como ponto de partida, cada unidade monetária de B compra 5 unidades monetárias de A, estabelecendo a taxa de câmbio. Reconhecida oficialmente a taxa de câmbio, mister se faz um permanente acompanhamento por parte da autoridade monetária, porque nada é imutável. Nas últimas décadas, os valores das taxas de câmbio vêm sendo conseqüência do desempenho das economias, avaliado a partir da teoria da paridade do poder de compra entre duas moedas, de Gustavo Cassel. Fixada a taxa de câmbio, como no exemplo acima, é imprescindível que a política cambial leve em consideração o desempenho da economia, através de índices nacionais de preços que reflitam o comportamento do sistema econômico, isto é, a estrutura de produção, preços, estabilidade, inflação, níveis de renda, entre outros aspectos, a fim de que se façam os ajustamentos sempre que necessários. Se a taxa de câmbio num certo momento é 5, indicando que é preciso a quantidade de 5 unidades monetárias da economia A para comprar 1 unidade monetária da economia B e, se desde este momento até um momento seguinte os preços de A tiverem um aumento de 20% e os de B um aumento de 5%, então a nova taxa de câmbio passa a ser igual a 5,71. Assim: Nova taxa de A = Taxa atual de A . (IPA/IPB) 5,71 = 5 (120/105) É de se observar que os percentuais de inflação foram apresentados através de índices, considerados 100 para a taxa anterior. Este procedimento se repete cada vez que a autoridade monetária julga necessário atualizar a taxa de câmbio e se faz separadamente para cada economia. Quando existe inflação numa economia, a desvalorização da moeda em relação à moeda de uma economia mais estável é um impositivo técnico. Praticar desvalorizações com mais ou menos freqüência é uma decisão de natureza econômica, é política econômica, não existindo regra fixa. Adotar taxas flutuantes, cujos valores são fixados pela oferta e pela procura de determinada moeda, ou taxas administradas pela autoridade monetária, também são decisões econômicas, com a finalidade de ajustar as trocas internacionais, a paridade do câmbio e até mesmo o uso de reservas à realidade econômica. economia internacional 9 2. Balanço de Pagamentos 2.1. Introdução Balanço de Pagamentos de um país é usualmente definido como um registro contábil sistemático de todas as transações econômicas realizadas durante um determinado tempo entre residentes no país e residentes em outras economias. São pessoas físicas e jurídicas, instituições, com ou sem fins lucrativos e entidades governamentais. As transações econômicas consideradas para registro no Balanço de Pagamentos estão em quatro grandes categorias: os fluxos comerciais de mercadorias e serviços, com as respectivas contrapartidas monetárias; os movimentos puramente monetários, resultados de empréstimos internacionais de curto e longo prazos, bem como de entradas e saidas de capitais para investimentos diretos; as transferências unilaterais, a título de donativos, auxílios ou remessas pessoais efetivadas independentemente de qualquer contraprestação; as alterações nos ativos e passivos estrangeiros do país que se tiverem originado de transações. O Balanço de Pagamentos se divide em dois grandes grupos de transações: transações correntes e transações de capital. Correntes são as transações que se referem aos movimentos de mercadorias e serviços, com suas remunerações, abrangendo a Balança Comercial, a Balança de Serviços e as Transferências Unilaterais. De capital são as transações que tratam de movimentos financeiros, isto é, moeda, crédito e títulos, englobando o Movimento de Capitais Autônomos e o Movimento de Capitais Compensatórios. Os registros contábeis do Balanço de Pagamentos obedecem ao princípio das partidas dobradas, em que o débito em uma conta corresponde a um crédito em outra conta. As contas do Balanço de Pagamentos podem ser classificadas em dois tipos: a) Contas operacionais: são as que resultam em recebimentos de recursos financeiros do exterior ou pagamentos efetuados ao Resto do Mundo. São as contas da Balança Comercial, Balança de Serviços, Transferências Unilaterais e Movimento de Capitais Autônomos. A entrada de um recurso financeiro no país gera um crédito na conta, sinal positivo; a saída gera um débito, sinal negativo. b) Contas de caixa: são as que registram movimentos de meios de pagamentos internacionais que estão disponíveis ao país. São: Haveres no Exterior, ouro monetário, Direitos Especiais de Saque (DES) e Posição de Reservas no FMI. Haveres no Exterior contabiliza as variações de estoque de moedas estrangeiras e de títulos de crédito externos de curto prazo em poder das Autoridades Monetárias. As demais estão relacionadas à liquidez internacional, disponíveis aos residentes, sob as formas já mencionadas. É preciso referir que o crédito junto ao FMI é contabilizado em Empréstimos de Regularização e implica em procedimentos mais formais do que buscar reservas e DES no FMI. Nas contas de caixa, lança-se a débito o aumento e a crédito a redução no saldo de cada uma delas. O Balanço de Pagamentos do Brasil se divide em grupos de contas, cuja soma algébrica dos saldos deve ser igual a zero, tendo em vista o critério das partidas dobradas. Em razão disto, economia internacional 10 existe uma igualdade de valores entre os saldos das Transações Correntes e do Movimento de Capitais, embora com o sinal contrário, assim: Transações Correntes + Movimento de Capitais = zero ou TC + MC = 0, donde TC = - MC 2.2. Estrutura Geral do Balanço de Pagamentos 2.2.1. Transações Correntes a. Balança Comercial - FOB (BC) Exportações Importações b. Balança de Serviços (BS) Viagens Internacionais Transportes Seguros Rendas de Capitais - Lucros e Dividendos - Lucros reinvestidos - Juros Serviços Governamentais Serviços Diversos c. Transferências Unilaterais (TU) Transações Correntes ou Saldo do Balanço de Pagamentos em Conta Corrente (TC = BC + BS + TU) economia internacional 11 2.2.2. Movimento de Capitais a. Movimento de Capitais Autônomos (MCA) Investimentos Diretos (líquido) Reinvestimentos (contrapartida dos lucros reinvestidos) Empréstimos e Financiamentos Amortizações Outros Capitais b. Erros e Omissões (EO) Saldo Total do Balanço de Pagamentos (SBP = TC + MCA + EO) (Com Superávit (+) ou déficit (-)) c. Movimento de Capitais Compensatório (MCC) (aumentos com sinal negativo) l) Contas de Caixa (Reservas) Haveres a Curto Prazo no Exterior Haveres ou Obrigações junto ao FMI Obrigações a Curto Prazo (outras) Ouro Monetário Direitos Especiais de Saque Posição de Reservas no Fundo ll) Empréstimos de Regularização lll) Atrasados As Transações Correntes registram os resultados consolidados da Balança Comercial, Balança de Serviços e Transferências Unilaterais. As Transações de Capital ou Movimento de Capitais registram o Movimento de Capitais Autônomos e o Movimento de Capitais Compensatórios, estes últimos com a finalidade precípua de financiar déficits do Balanço de Pagamentos, podendo proporcionar empréstimos normais. Observe-se que o Saldo do Balanço de Pagamentos leva em consideração as contas operacionais e não as contas de caixa. Em geral, quando se fala em saldo do Balanço de Pagamentos, se refere ao somatório TC + MCA + EO, o que é equivalente ao (-) MCC (Movimento de Capitais Compensatórios). Da maneira como o tema está sendo exposto, o Movimento de Capitais Autônomos representa entradas e saídas voluntárias de capitais e o Movimento de Capitais Compensatórios representa empréstimos de regularização e atrasados. economia internacional 12 Para conhecer se o Balanço de Pagamentos precisa de financiamento em caso de déficit, objetivamente o cálculo se faz assim: Movimento de Capitais (MC) = Movimento de Capitais Autônomos (MCA) + Movimento de Capitais Compensatórios (MCC) ou MC = MCA +MCC. Sabemos que TC = -MC; logo, TC = - (MCA + MCC) ou TC + MCA = - MCC. Assim, se o somatório TC + MCA apresenta um déficit ou saldo negativo de - US$ 4.679 milhões, como foi o caso do Brasil em 1991, os capitais compensatórios devem somar US$ 4.679 milhões, o que efetivamente aconteceu. 2.3. Explicações Complementares A Balança Comercial registra movimentos de exportações e importações de mercadorias ou bens, em valores FOB (Observação: FOB significa "free on board", e qualifica ao preço das mercadorias, indicando que este inclui todas as taxas e tarifas de exportação, assim como os custos portuários de carregamento do navio). A Balança de Serviços registra os efeitos econômicos das entradas e saídas de pessoas, os pagamentos e os recebimentos de fretes no comércio internacional, os valores dos contratos de seguros, os juros dos empréstimos e os lucros dos investimentos diretos, "royalties, assistência técnica, aluguéis de filmes etc. Transferências Unilaterais registra doações, reparações de guerra, heranças, remessas de imigrantes etc, atos dos quais não decorrem retribuições. O Saldo do Balanço de Pagamentos em Conta Corrente é o resultado dos três itens que o compõem, mencionados imediatamente acima, podendo ser superavitário ou positivo ou deficitário ou negativo. Se negativo, são buscados capitais autônomos, não obstante o ônus decorrente. Movimento de Capitais Autônomos registra a entrada e a saída de capitais voluntários, sob a forma de investimentos diretos, empréstimos novos e amortizações de empréstimos contraídos. Erros e Omissões é uma conta que abriga diferenças entre lançamentos de débito e crédito no Balanço de Transações Correntes e no Movimento de Capitais Autônomos. Estas diferenças devem ser esclarecidas como em qualquer contabilidade. Movimento de Capitais Compensatórios registra fluxos referentes a Haveres no Exterior, ouro monetário, Direitos Especiais de Saque e Posições de Reservas no FMI, bem como as contas destinadas a cobrir déficit no Balanço de Pagamentos, como os empréstimos de regularização do FMI e outras instituições, bem como os atrasados comerciais. economia internacional 13 2.4. Exercício de Fixação Com a finalidade de orientar e fixar os ensinamentos oferecidos sobre o Balanço de Pagamentos, segue um exercício numérico, trabalhando com fatos que ocorreram numa economia em determinado tempo e referentes a transações com o exterior. Consideremos as seguintes transações econômicas realizadas entre uma economia e o Resto do Mundo, num determinado tempo: a - O país exportou mercadorias no valor de 210 milhões de unidades monetárias, à vista; b - O país importou mercadorias no valor de 200 milhões de unidades monetárias, com pagamento à vista; c - O país importou equipamentos no valor de 50 milhões de unidades monetárias, financiados a longo prazo; d - Ingressaram no país, sob a forma de investimentos diretos, sem cobertura cambial, 30 milhões de unidades monetárias de equipamentos; e - O país pagou ao exterior 35 milhões de unidades monetárias de fretes; f - Foram remetidos para o exterior 15 milhões de unidades monetárias de lucros de empresas estrangeiras; g - Foram remetidos para o exterior 25 milhões de unidades monetárias de juros; h - Foram remetidos para o exterior 35 milhões de unidades monetárias de amortizações; i - O país recebeu 10 milhões de unidades monetárias de donativos sob a forma de mercadorias; j - O país recebeu um empréstimo compensatório do FMI no valor de 50 milhões de unidades monetárias, em moeda. A contabilização do Balanço de Pagamentos fica assim: economia internacional 14 Conta Operações a b c d e f/h i j Total Exportações +210 +210 Importações -200 -50 -30 -10 -290 Fretes -35 -35 Lucros -15 -15 Juros -25 -25 Donativos +10 +10 Investimentos +30 +30 Financiamentos +50 +50 Amortizações -35 -35 Emprést. FMI +50 +50 Haveres no Exterior -210 +200 +35 +75 -50 +50 Os registros acima aparecem no Balanço de Pagamentos como segue: Balança Comercial: - 80 Exportações: +210 Importações: -200 -50 -30 -10 = -290 Balança de Serviços: -75 Fretes: -35 Lucros: -15 Juros: -25 Transferências Unilaterais: +10 Saldo do Balanço de Pagamentos em Conta Corrente: -80 -75 +10 = -145 Movimento dos Capitais Autônomos: +45 Financiamentos: +50 Investimentos: +30 Amortizações: -35 Saldo Total do Balanço de Pagamentos: -145 + 45 = -100 Movimentos de Capitais Compensatórios: +100 Empréstimos do FMI: +50 Haveres no exterior: +50 -------------------------- economia internacional 15 IV. Evolução da Política de Comércio Exterior do Brasil (Juan A. Plá) a. Antecedentes Até inicios da década de 30, a economia brasileira apresentava uma base esencialmente agrícola, já que a industrialização ainda era incipiente. A exportação de café representava a principal fonte de divisas, seguida pelas exportações de açúcar, borracha, cacau, etc. A política comercial dessa época pode ser caracterizada como "modelo agroexportador", com abertura ao exterior e ausência de barreiras ao comércio. O nível de atividade econômica interna no Brasil acompanhava a evolução cíclica dos negócios do mundo industrializado. A crise mundial de 30 colocou em evidência as limitações desse modelo, já que os preços dos produtos exportados caíram fortemente, reduzindo a receita de divisas e provocando, internamente, falências de empresas e desemprego. Nesse contexto, o governo brasileiro decidiu acelerar a industrialização, visando a independizar a economia nacional das incertezas das crises internacionais. A acumulação de capital se acelerou a partir desses anos, apresentando forte estímulo na época da II Guerra Mundial. Já, no pós-guerra, o país conseguiu aprofundar o seu desenvolvimento, chegando a montar uma considerável base industrial. As manufaturas passaram a participar, cada vez mais, na geração do PIB, assim como da estrutura das exportações. A política de industrialização incluia o estabelecimento de fortes barreiras alfandegárias orientadas para a proteção da indústria nacional nascente. Assim, a industrialização do Brasil buscou substituir as manufaturas importadas, oferecendo aos potenciais investidores nacionais, facilidades e estímulos para abastecer o mercado interno, na política chamada de "substituição de importações". Outros países latino- americanos (especialmente Argentina, México, Chile, Colombia e Uruguai) seguiram políticas parecidas, sob a orientação da CEPAL. Tais políticas, conhecidas como "modelo nacional desenvolvimentista", se baseavam na proibição de importar certos bens, junto com a administração das taxas de câmbio, de forma a estimular a importação de bens de capital. Lógicamente, essa política necessitava de uma forte presença do Estado na orientação e estímulo das atividades produtivas, especialmente favorecendo a elevação da rentabilidade do investimento produtivo privado. No entanto, no período de pós-guerra, o comércio mundial passou a orientar-se progressivamente pela doutrina do livre comércio, preconizada pelas instituições criadas na conferência de Bretton Woods (1944), especialmente o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). As principais nações industrializadas tentaram sempre desestimular a utilização de políticas protecionistas por parte das restantes nações, já que sua principal preocupação foi sempre a de encontrar mercados compradores para suas manufaturas. Com essa finalidade, eles aplicaram pressões diplomáticas e comerciais, ameaçando sempre com retaliações em caso de não serem atendidos. A intensidade dessas pressões e os resultados delas decorrentes foram variados, em função das diferentes condições que caracterizaram as realidades nacionais e a conjuntura mundial. economia internacional 16 Depois da Guerra, os países industrializados deveram dedicar-se à reconstrução de sua infraestrutura produtiva (especialmente a Europa e o Japão), o que causou uma forte demanda de matérias primas e alimentos. Os países exportadores de tais mercadorias foram favorecidos por essa situação, já que encontraram mercados receptivos e preços estimulantes. Até meados da década de 50, os países industrializados não estiveram em condições de exercer grandes pressões nas diferentes instâncias de barganha diplomática. Porém, uma vez completado o período de reconstrução, os países industriais passaram a exercer fortes pressões para obter a eliminação das barreiras ao comércio internacional, ao mesmo tempo que passavam a produzir muitas das matérias primas e alimentos de origem agrícola que anteriormente eles importavam. Por outra parte, o desenvolvimento generalizado de novas tecnologias lhes permitiu produzir artigos manufaturados com uma utilização menor de matérias primas. Estes desenvolvimentos contribuiram para enfraquecer a demanda mundial pelos produtos primários, provocando um novo ciclo de deterioração dos termos de troca. Os países latino-americanos, que tinham iniciado o processo de industrialização, foram muito prejudicados pelas novas condições do comércio, já que eles toda sua estratégia de crescimento estava baseada na disponibilidade das divisas necessárias para importar os bens de capital e os insumos intermediários, assim como as tecnologias modernas, necessários para o desenvolvimento industrial. A inícios da década de 70 tiveram lugar mudanças dramáticas no contexto mundial. A ampliação dos desequilíbrios no comércio dos países de maior expressão econômica, conduzeram à crise do Sistema de Bretton Woods. A desvalorização do dólar (1971), provocou o surgimento da inflação a nível mundial. O resultado mais conhecido desse processo foi a elevação do preço do petróleo, seguido de um encarecimento conjuntural e de curta duração das matérias primas. Os países latino- americanos continuaram com seus programas de industrialização às custas do endividamento externo, gerando durante muitos anos, em forma sucessiva, fortes déficits comerciais. No final dessa década teve lugar nova alta dos preços dos combustíveis e uma forte alta nas taxas de juros dos empréstimos internacionais. Essas circunstâncias provocaram a queda do nível da atividade econômica nos países industrializados e uma grave instabilidade nas economias dos países subdesenvolvidos e de recente industrialização, mantendo-se, com poucas variações, ao longo da primeira metade da década de 80. A inflação se intensificou de forma muito notável nos países latino-americanos, assim como o déficit fiscal, colocando em evidência a correlação existente entre os desequilíbrios externos e internos dos países. De fato, os países latino-americanos enfrentavam uma inadequação do seu modelo de desenvolvimento em relação às condições do contexto mundial. Eles se viram obrigados a re- desenhar sua política econômica, deslocando o centro da atenção, da busca do desenvolvimento industrial para a obtenção do equilíbrio externo. Os investimentos caíram de forma dramática e o Estado teve que afastar-se de muitas atividades produtivas. A redução dos investimentos possibilitou, finalmente, a contenção das importações e a aceleração das exportações, de forma a gerar um superávit comercial que permitisse atender os compromissos internacionais com o serviço da dívida externa. economia internacional 17 Esta política, chamada "de ajustamento", possibilitou o melhor equacionamento das contas externas. A segunda metade da década de 80 se apresentou mais favorável, em função do declínio das taxas de juros internacionais e dos preço dos combustíveis. Paralelamente, os países centrais flexibilizaram sua posição e aceitaram renegociar a dívida externa em condições mais favoráveis para os países devedores (Plano Baker e Plano Brady). A fins dessa década, os países endividados continuavam apresentando baixas taxas de crescimento econômico e elevadas taxas de inflação. Ao mesmo tempo, as taxas de desemprego se mantinham excessivamente elevadas e a distribuição da renda, que já era desequilibrada, piorou considerávelmente. Porém, muitos países conseguiram equacionar suas contas externas e ainda gerar saldos positivos no balanço comercial, o que propiciou a acumulação de vultosas reservas de divisas. O desenvolvimento tecnológico das últimas décadas (transportes, comunicações, novos materiais, etc.) e a globalização da atividade econômica que ele possibilitou, vieram a exigir a abertura econômica, com a eliminação das barreiras alfandegárias, sob pena de condenar os países ao atraso tecnológico e à perda da competitividade internacional. Na atualidade, quase todos os países iniciaram processos de liberalização de suas economias, suprimindo as barreiras não tarifárias de acordo com as orientações do GATT, que mais tarde seria substituído pela Organização Mundial de Comércio. O Brasil nào foi exceção nesse sentido, esperando-se que, no futuro, encontremos condições favoráveis na economia mundial, que permitam consolidar a estabilização econômica e retomar os antigos níveis de investimento, de forma a reduzir as taxas de desemprego e a melhorar o perfil de distribuição da renda. b. Instrumentos da Política Brasileira de Comércio Exterior Em geral, considera-se a política de comércio exterior como uma das mais bem sucedidas políticas econômicas brasileiras. A pesar das dificuldades antes relacionadas, o Brasil conseguiu elevar suas exportações com taxas reais de mais de 7% ao ano entre 1979 e 1989. Esse sucesso deve atribuir-se à melhora da qualidade da produção e à redução dos custos que elevaram a capacidade competitiva do país nos mercados mundiais. No entanto, não devemos esquecer o papel que coube, na obtenção desses resultados, à correta utilização de políticas de incentivo às exportações. Assim, a política de taxas de câmbio elevadas, contribuiu para estimular os exportadores a expandir suas operações. Em 1979 (novembro) e, novamente, em 1983 (fevereiro), houve desvalorizações surpressivas do Cruzeiro, atingindo o elevado nível de 30%, que possibilitaram o crescimento das exportações, junto com a redução das importações. No entanto, não foi apenas a política de câmbio, já que houve mais de trinta instrumentos de política que se utilizaram com a finalidade de estimular as exportações. A política de incentivos esteve focada desde o início no estímulo da exportação de bens manufaturados. Os principais incentivos utilizados foram: a. Isenções do Imposto à Produção Industrial (IPI) e do Imposto à Circulção de Mercadorias (ICM); b. Crédito prêmio do IPI; c. Draw-back; d. BEFIEX; e. redução do Imposto de Renda (IR); f. Incentivos financeiros pré- e pós-embarque. economia internacional 18 Tais incentivos começaram a ter uma aplicação mais importante a partir de meados da década de 60. O período entre 1964 e 1974 é considerado como um marco na história do comércio exterior brasileiro, pelo rápido crescimento das exportações. O governo militar atribuiu a falhas nas políticas industrial e de comércio exterior, a perda de ritmo do crescimento econômico do país, passando a implementar uma ampla reforma nessas políticas. O resultado foi que, não apenas as exportações auementaram considerávelmente, como mudaram na sua composição, já que as manufaturas passaram a constituir uma parcela crescente do total exportado. A seguir comentamos algumas das medidas adotadas com essa finalidade: - junho de 1964; implementa-se o draw-back, que consiste na isenção de impostos de importação aos insumos destinados a produzir manufaturas de exportação; - agosto de 1964; cria-se uma linha de crédito para capital de giro (FUNDECE); - junho de 1966; cria-se a linha de crédito "pré-embarque" à exportação (FINEX); - novembro de 1967; cria-se nova linha de crédito para empresas produtoras de manufaturas de exportação; - entre 1969 e 1970 se implanta o regime de crédito prêmio para ICM e IPI; em 1979 houve uma intensificação das pressões do GATT que obrigou a suspender o crédito prêmio do IPI, sendo que em abril de 1981, este crédito foi restabelecido; - em 1972 cria-se a Comissão para Programas Especiais de Exportação (BEFIEX), encarregada de estabelecer contratos de longo prazo com grandes empresas exportadoras de manufaturados, que se comprometem a exportar determinados volumes, em períodos de até 10 anos, e a manter saldos posititvos de divisas, recebendo em troca, isenções impositivas sobre os insumos e bens de capital importados; este programa chegou a atingir em fins da década de 70 a 16% do valor das manufaturas exportadas; - em 1990, o novo governo (Collor) decide pela abolição do BEFIEX, mantendo, no entanto, o drawback e a isenção do ICM e do IPI, nesse momento, aceitos pelo GATT; - em fins de 1990, cria-se linha de crédito especial do BNDES para exportadores (FINAMEX); d- em 1991, regulamenta-se novo programa de financiamento de exportações (PROEX); - em fevereiro de 1992 cria-se o Programa de Política Ativa de Comércio Exterior (PACE), incluindo várias medidas de estímulo e o "draw-back verde amarelo", que isenta de impostos aos insumos de origem nacional, destinados à produção de mercadorias de exportação. Atualmente vem sendo discutida a unificação das políticas, numa lei única de comércio exterior. economia internacional 19 O tema do comércio exterior não pode ser disssociado da política de integração regional que o país vem aplicando com grande sucesso desde meados da década de 80. A intensificação do comércio com a Argentina foi tão importante que esse país é, hoje em dia, o segundo país individual pelo volume transacionado com o Brasil. A criação do MERCOSUL, que foi definida pelo Tratado de Assunção (março de 1991), e que começou a vigorar a partir de janeiro de 1995, veio a abrir interessantes perspectivas para o comércio regional e melhorando a posição de barganha dos países membros perante os parceiros comerciais pertencentes aos restantes blocos mundiais. -------------------------- economia internacional 20 Bibliografia Consultada CHALCHOLIADES, Miltiades, Economía Internacional, 1990, McGraw-Hill, México HELLER, H., Comércio Internacional, Teoria e Evidência Empírica, 1978, Atlas, SP. MANTEGA, Guido, A Economia Política Brasileira, 1987, Poli/Vozes, Rio de Janeiro PINHEIRO, Armando C., BORGES, C., ZAGURY, S., MESQUITA M., Composição Setorial dos Incentivos às Exportações Brasileiras, Revista Brasileira de Economia, 47(4):473-501, Rio de Janeiro, out/dez 1993. SÖDERSTEN, Bo, Economia Internacional, 1979, Interciência, Rio de Janeiro. ------------------------------