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sição sistemática, porém aplicando-a em tudo e por tudo, Marx desen- volveu a metodologia do materialismo dialético e se situou, a justo título, a par com aqueles criadores de idéias que marcaram época no pensamento sobre o pensamento — de Aristóteles a Descartes, Bacon, Locke, Leibniz, Kant e Hegel. Para este último, com o qual Marx teve relação direta de se- qüência e superação, a lógica por si mesma se identifica à ontologia, a Idéia Absoluta é o próprio Ser. Assim, a ontologia só podia ter caráter idealista e especulativo, obrigando a dialética — máxima conquista da filosofia hegeliana — a abrir caminho em meio a esquemas pré-cons- truídos. Com semelhante configuração, a dialética era imprestável ao trabalho científico e, por isso mesmo, foi sepultada no olvido pelos cientistas, que a preteriram em favor do positivismo. Quando deu à dialética a configuração materialista necessária, Marx expurgou-a das propensões especulativas e adequou-a ao trabalho científico. Ao invés de subsumir a ontologia na lógica, são as categorias econômicas e sua história concreta que põem à prova as categorias lógicas e lhes impri- mem movimento. A lógica não se identifica à ontologia, o pensamento não se identifica ao ser. A consciência é consciência do ser prático-ma- terial que é o homem. A dialética do pensamento se torna a reprodução teórica da dialética originária inerente ao ser, reprodução isenta de esquemas pré-construídos e impostos de cima pela ontologia idealista. Mas, ao contrário de reprodução passiva, de reflexo especular do ser, o pensamento se manifesta através da ativa intervenção espiritual que realiza o trabalho infindável do conhecimento. Trabalho criador de hi- póteses, categorias, teoremas, modelos, teorias e sistemas teóricos. Método e estrutura de “O Capital” A esta altura, chegamos a uma questão crucial nas discussões marxistas e marxológicas: a da influência de Hegel sobre Marx. Quando estudava a Ciência da Lógica, surpreendeu-se Lênin com o máximo de materialismo ao longo da mais idealista das obras de Hegel. Com ênfase peculiar, afirmou que não poderia compreender O Capital quem não fizesse o prévio estudo da Lógica hegeliana. Oposta foi a posição de Stálin. Considerou a filosofia hegeliana representativa da aristocracia reacionária e minimizou sua influência na formação do marxismo. A desfiguração stalinista da dialética se consumou num esquema petrificado para aplicação sem mediações a qualquer nível da realidade. Enquanto Rosdolsky ressaltou, por meio de análise minuciosa dos Grundrisse, a relação entre Hegel e Marx, quase ao mesmo tempo, Althusser, que nunca deu importância aos Grundrisse, enfatizou a su- posta ausência do hegelianismo na formação de Marx e a inexistência de traços hegelianos na obra marxiana, acima de tudo em O Capital. Dentro de semelhante orientação, Althusser não se furtaria de louvar MARX 23