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GODINHO (1944) - A Expansão Quatrocentista Portuguesa

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Enviado por Cristiano Martins em

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Godinho – A Expansão Quatrocentista Portuguesa
Às comunidades marítimas interessa se apoderarem de centros e vias de comércios ou pontos estratégicos para empresas que virão.
D. João I – opunha-se à tomada de Castela. Motivo religioso: guerra contra cristãos não é serviço de Deus. Mas a Portugal não interessava expandir-se por aquele local. Propusera auxílio aos castelhanos para a continuação da Reconquista, expulsando os mouros definitivamente. A proposta fracassara devido a questões de sucessão da coroa aragonesa (Reino de Aragón), e a não conveniência do auxílio para Castela, pois implicava compensações territoriais.
João Afonso aconselhava a conquista de Ceuta (localização: fronteira com o Marrocos, bem na ponta da África. Lugar estratégico por conta do Estreito de Gibraltar), e foi inteiramente sua iniciativa que levou ao feito. Apoiado pelo rei representou os interesses econômicos, financeiros das pessoas das cidades. Não há papel de relevância dos Infantes. 
Atribuição a D. João I: a) Zurara: fala do rei no Conselho da Ponta do Carneiro, o monarca pensava na tomada de Ceuta desde 1409. b) em 1413 o confessor da rainha é nomeado bispo de Ceuta.
Se já em 1413 é criado o bispado de Ceuta, é porque não só já estava resolvida uma expedição ultramarina como também já estava decidido que aquela cidade marroquina seria seu alvo. A idéia foi dada ao rei em 1409, ou ele concordou de imediato, ou refletiu e discutiu o plano até 1413.
D, João I – representante dos interesses da burguesia. Em outras ocasiões pretendeu restringir o domínio dos nobres.
No projeto da empresa, se atendeu tanto os interesses da burguesia com à crise monetária-social que afetava a nobreza (Ceuta não interessava à burguesia porque a) não era empório comercial, b) não era chave dos cereais marroquinos).
Somente o acordo do rei com os mercadores permitiu a expedição, parte do frete foi paga com sal. A conquista territorial e a guerra forneceriam à nobreza a função social-política que ia perdendo, bem como o aumento do senhorio e respectivas rendas.
Havia comércio com Marrocos e Granada.
No Esmeraldo (Duarte Pacheco) a costa africana é descrita como rica em vários produtos como trigo, mel, pão, outros. Ceuta é apresentada como uma das principais cidades do tempo dos mouros tanto em edifícios quanto em riquezas, nobrezas e mercadorias. Em tempos muçulmanos foi mais próspera, tanto em nobreza de cavaleiros quanto de mercadores.
Valentim Fernandes indica ainda várias cidades e povoações que decaíram durante o século XV, sobretudo devido à ação portuguesa.
Alcácer Ceguer – Cidade com “gente do mar”, mercadores e outros que viviam de tecer. Dominava a passagem da África para Granada.
Cadamosto – Gaba a grandíssima e extraordinária abundância de pescaria na costa africana; traça as rotas do ouro sudanês, indicando que vêm a aportar a Tunes, Oram, Fez, Arzila, Safim e Messa; acrescenta que os italianos e outros cristãos adquirem ouro na Barbaria.
A Crônica de D Pedro de Menezes documenta a realidade de exportação de cereais marroquinos e a existência de tráfego muito intenso ao longo da costa da Barbaria e entre a Barbaria e o reino de Granada. Há relações comerciais entre o reino de Granada e Portugal e até Portugal com o Maghrebe (também atestada por Zurara).
Dos textos citados, Godinho infere os seguintes elementos de geografia econômica relativos à região norte-africana que de Ceuta corre até o cabo Não:
Marrocos é zona de produção de cereais, sobretudo intensa nas planícies para o sul de Arzilla, ou melhor, de Laranche.
Os cereais marroquinos são regularmente exportados.
Abundante criação de gado (região de Tetuão e Ceuta a Arzila importante)
Costas marroquinas fornecem pródigas pescarias.
Na península fronteira à Hispânia, em algumas cidades da orla como Safim e para o interior, por exemplo, em Fez, situam-se focos de indústria têxtil.
Panos marroquinos são exportados quer para Europa, quer para o Sudão.
O ouro sudanês dissemina-se por caravanas a toda orla marítima do capo Não a Tunes (incluindo Ceuta)
Na área de Ceuta e Suz produz-se açúcar.
Outros importantes artigos de produção marroquina e do seu comércio de exportação constituem-nos a coirama (dicionário: =courama; =lotes ou vestuário de couro), cera, mel.
As cidades marroquinas são, muitas delas, centros industriais e núcleos mercantis consideráveis, com população de mercadorias mesteirais (Uma categoria social bastante heterogênea aparece-nos constituída pelos mesteirais, os quais respondem a um conjunto diversificado de profissões que vão desde os oficiais mecânicos até os almocreves e os pescadores), e nos portos, gente do mar.
 Intenso tráfego costeiro e terrestre circula no mundo norte-africano, e são constantes as relações marítimas com o reino de Granada e outros mercados.
Os portugueses deviam há muito freqüentar Ceuta, caso contrário seria inexplicável a naturalidade com que foram recebidos suas embarcações.
Compreender razões que levaram João Afonso e D. João I à expedição a Ceuta. A cidade valia em si própria, sobretudo porque abria à penetração portuguesa dois mundos: o marroquino-mediterrâneo e o marroquino-atlântico. Um conduziria ao campo onde a concorrencial comercial era áspera, ao mercado mediterrâneo e ao Levante onde se degladiavam os estados comerciais da Catalunha, Veneza e Gênova; o outro, ao mercado sudanês do metal amarelo e dos escravos. 
Ceuta era porta para as regiões do ouro, dos cereais, dos panos, das pescarias. Centro principal das transações com o interior africano. Não se escolheu Granada devido ao fundado receio de insanável conflito com Castela e porque não rasgava horizontes econômicos como rasgavam as cidades maghrebianas.
A maior parte dos moradores de Ceuta eram mercadores, homens de ofício (officiaes) e mareantes, e por isso os nobres não podiam residir nela; tinham que se alojar em Aljazira, nos arredores, a fim de não molestar a população burguesa: fenômeno idêntico ao do Porto medieval, a cidade dos navegadores e negociantes em Portugal. Ceuta era povoada de mercadores e gente mecânica, especializando-se em fabrico têxtil e a cidade era escoadouro de mercadorias africanas.
A região deveria ser densamente povoada, Zurara aponta aldeias populosas e quintas (pequenas propriedades agrícolas) nos vales revestidos de hortas e pomares, abundantes de gados.
Documenta-se a produção cerealífera na zona de Ceuta; Godinho ignora, porém, se essa produção comportava um excedente exportável, por isso se limita a dizer que Ceuta era uma das portas do campo de pão, logo que sua conquista pode ter sido causada pela necessidade de cereais.
Ceuta domina o estreito, e por isso é a segurança da navegação e do comércio entre o Mediterrâneo e o Atlântico, base de combate à pirataria serracena (povo nômade pré-islâmico, que habitava os desertos situados entre a Síria e a Arábia).
A tomada de Ceuta dificultaria o envio de reforços mouros à Hispânia, e por isso facilitava a conquista cristã do reino de Granada (o que explicaria uma expedição de Castela a Ceuta). Uma explicação plausível seria que a tomada de Ceuta, auxiliando o reino vizinho (Castela), seria a serviço de Deus, mas por outro lado, ergueria uma barragem à expansão castelhana para o Norte da África, como de fato ergueu. 
Deve ainda atender-se que no século XV a divergência política entre os reinos de Granada, Fez e Tunes, e a existência de cidades-senhorios como Ceuta, não davam oportunidade a qualquer ameaça muçulmana sobre a Península Ibérica: e tanto assim é que Ceuta pôde ser mantida e só uma vez foi cercada pelos mouros a ponto de necessitar socorro.
Amplitude do tráfego marítimo no Norte da áfrica e com o reino granadino. Cada passo os feitos dos portugueses no mar consistem quase só de ações de pirataria contra a florescente navegação comercial dos mouros, imediatamente ressalta-se a idéia de que a Ceuta cristã era sim base naval da guerra de corso dos portugueses e não de defesa contra a pirataria berbere.
Para Godinho, a atividade do corsário nãose opunha ao comércio. Quando era possível apresar, saltear, roubar, não se vendia. Vários capítulos da Crônica se referem aos honrados roubos praticados por cavaleiros. 
A pirataria era uma atividade econômica normal, regular, lícita e até orientada pelos monarcas. Conclui-se que ela não interrompia o comércio. Logo, os portugueses não foram a Ceuta para garantir segurança da Península nem para destruir a pirataria muçulmana, pelo menos como objetivos principais.
A discussão do primeiro grande passo na expansão portuguesa sintetiza-se:
A iniciativa pertence a João Afonso, desde logo apoiado por D. João I, ou seja, ao ministro e ao rei burgueses.
A conquista de Ceuta integra-se num plano de expansão portuguesa no Norte da África.
Ceuta abria caminho para dois mundos comerciais: mediterrâneo-levantino e o mediterrâneo-sudanês.
Ceuta era porta do mercado do ouro, dos cereais, do açúcar de Bulhões; e talvez acesso menos indireto às especiarias.
Ceuta protegeria os pescadores portugueses no alargamento de sua atividade a uma zona de pescaria particularmente rica.
Ceuta era base naval para o corso português interceptar o tráfego marítimo dos mouros.
Ceuta era o ponto de partida para talhar domínios fundiários para a nobreza e dava aos cavaleiros e escudeiros uma base de operações de saque e de feitos militares, graças aos quais dispunham de fonte de receitas e ascendiam socialmente; os serviços lá prestados justificavam a honra na metrópole.
Ceuta tapava a expansão castelhana para o Norte da África.
A escala do empreendimento (tomada de Ceuta) ultrapassava as dimensões dos feitos comuns, e exigiu toda uma orquestrada campanha de desinformação – rumores contraditórios quanto ao alvo, notícias diversas... Essa atmosfera inquietou os reinos vizinhos. Para mobilização das tropas e recursos, o Rei dividiu o país em três zonas, cada qual sobre a chefia de um de seus filhos.
Balanço da conquista marroquina: Ocupação de Ceuta acarretou onerosos encargos. Judeus da metrópole pagavam ferreiros que trabalhavam em Ceuta, parte das receitas de almoxarifados destinava-se para pagar despesas da praça africana, fabrico de louça em Lisboa para levar mantimentos para a cidade marroquina... Havia quem defendia o abandono do local, porque a praça viveria de rendas da metrópole por não ser lugar de lavoura. Essa afirmação não era correta, os portugueses procuraram povoar e cultivar os arredores.
No entanto as tentativas de povoamento e cultura não surtiram pleno resultado, por duas razões: 1- Ceuta permaneceu dezenas de anos conquista isolada, de modo que não era possível dominar uma área considerável e os mercadores mouros não perdiam a esperança de a recuperarem; 2- os nobres que iam a Ceuta pretendiam enriquecer rapidamente e regressar ao reino, de modo que, em vez de protegerem a colonização portuguesa e as aldeias dos mouros, preferiam, em freqüentes cavalgadas, saquear povoações e apresar cativos que pagavam bons resgates.
Se Ceuta acarretou prejuízo ao Estado, beneficiou particulares: nobres e escudeiros lá enriqueciam com suas depredações e os mercadores também lucraram.
O ouro continuava a afluir na cidade e nela ainda existiam fortunas provenientes do comércio marítimo.
A partir da quinta década do século, Ceuta deixou de interessar como rota do ouro porque se tinham alcançado mercados mais próximos da origem.
De Ceuta, também ia o cobre para Portugal. Após a conquista, o intenso comércio luso-marroquino continuou. Por mar os portugueses também mantinham relações com o resto do Norte da África, quer sob a forma de pirataria quer sob a forma de transações pacíficas.
Só a persistência do comércio marítimo e terrestre parece explicar (na opinião de Godinho) que Ceuta seja tão freqüentada por barcos portugueses e estrangeiros, e a freqüente ida de embarcações para a pesca.
É fundamental, para a compreensão do desenvolvimento posterior da expansão portuguesa, a existência deste ativo tráfego marítimo quase totalmente exercido por particulares.
A expansão em Marrocos apresentava também evidente interesse para a nobreza. Os senhorios ultramarinos a constituir importavam essencialmente aos médios e pequenos senhores e aos cavaleiros sem casa própria.
As conquistas marroquinas não interessavam só pela constituição dos senhorios além-Estreito, mas também pelas doações de senhorios na metrópole, pelas tenças, dotes e outras mercês a que o Rei era obrigado em retribuição de serviços de monta dos nobres. Que estes tenham continuado a sair do reino depois da tomada de Ceuta só mostra mais uma vez, além da mobilidade de classe dos cavaleiros quatrocentista, pouco adaptada ainda aos quadros nacionais, que a posse de um posto marroquino não resolvia por si só o problema.
Difícil situação da nobreza será uma das causas da expedição a Tânger. Ceuta dava oportunidade aos nobres e cavaleiros de enriquecerem rapidamente.
O roubo era uma das formas honradas de acrescentamento de seu estado por parte dos cavaleiros.
As dificuldades na manutenção de Ceuta obrigavam as opções entre as diretrizes políticas. A Reconquista castelhana restringia as possibilidades da expansão portuguesa na própria Península. O Rei traçara uma política que incluía as conquistas em Marrocos, a colonização da Madeira e Açores, o senhorio sobre as Canárias, e a devassa do mar ao longo da costa africana; mas também encarava a conquista do último reino mouro aquém do Estreito.
Mudança de reinado: Mas ainda havia urgência de tomada de decisão. Há quem aconselhasse a tomada de Granada. D. Duarte se comprometera com o pai de continuar com a sua política.
David Lopes afirma que essas fontes são contrárias a D. Henrique e teriam inventado essa posição de D. João I para justificar os planos do filho.
Durante o novo reinado: Povoamento das ilhas, esforços para que o Concílio e o Pontífice aprovem pretensões sobre as Canárias e segunda empresa no reino de Fez. D. Duarte conseguiu uma bula que entendia dever prosseguir guerra contra os mouros.
D. Pedro e D. João pronunciam-se categoricamente contra qualquer tentativa em Marrocos. Nos documentos em que se pronunciam, é o sentido da humanidade que vem sobrepor-se ao de Cristandade, é a guerra que é condenada como meio de conversão, apresenta-se uma concepção política que antepõe o siso à cavalaria e sabe calcular a relação entre meios e fins.
 Razões que moveram D. Duarte: 1- Obediência às injunções do Santo Padre, apoiadas nos direitos e escrituras que outorgou. 2- Continuar o bom propósito e vontade de D. João I expressas até o fim de seus dias e nas suas últimas palavras (o que refuta David Lopes). 3- manter o bom nome e exercício de armas. 4- Realizando 3, tira-se a gente de vida ociosa fora de virtudes. 5- Os nobres pedindo para saírem do reino por nele não terem sustentação,
Outra razão: as divergências entre os mouros, num de cujos partidos Portugal se pode apoiar.
Conquista de outra praça garantiria a segurança de Ceuta e traria rendas de forma a remediar as grandes despesas com aquela praça. D. Duarte tomou todas as precauções: por regimento entregue ao irmão (D. Henrique), que comandava a expedição, traçou toda a estratégia e tática que deviam ser seguidas, e acompanhou-o de um Conselho especial minucioso e imperativo. Armada dividida em três partes, cada uma iria postar-se diante de uma cidade diferente: Alcácer, Tânger, Arzilla.
Nenhuma das disposições do Regimento foi cumprida. Desastre: Não vieram navios da Inglaterra e Flanders com que se contava, e também muitos de Castela. Falta de navios e falta de dinheiro. Impopularidade da expedição.
Restituir ou não Ceuta, libertar o Infante D. Fernando deixado como refém, são as questões que põem em causa os rumos da expansão. Quanto à ocupação das cidades marroquinas:
Os particulares beneficiaram com essa ocupação – mercadores e cavaleiros.
Ignora-se se o Estado beneficiou ou perdeu porque não se pode fixar com segurança o estado das finanças públicas.
Causas da decadência marroquina na segunda metade do século XV e século XVI foram:Ausência de política seguida de colonização e de fomento agrícola e industrial, apenas esboçada intermitentemente devido a II;
Depredações e conseqüente despovoamento provocado pela cobiça desenfreada dos cavaleiros – mesmo fenômeno que mais tarde no Império Oriental;
Desorganização das finanças públicas mouras;
Desvio do comércio sudanês de Marrocos para a costa do Saara e Guiné, iniciado entre 1442 e 1448 e depois acelerado;
Estado de guerra provocado pela intervenção do imperialismo português.
Parte 2 
Depois da invasão de Ceuta, as navegações e conquistas poderiam seguir três rumos: metódica ocupação do Marrocos, ou progressão ao longo da costa atlântica para o Sul do Cabo Não, ou intervenção na concorrência político-econômica no Mediterrâneo.
Prosseguir a conquista do Marrocos ou iniciar a do reino de Granada: última opção preferida pelo Infante D. Duarte e os condes de Barcelos, Araiolos e Ourém. O Rei prefere a primeira, e o Infante D. Henrique tinha as duas intenções em um só plano.
O empreendimento contra Granada era um meio de forçar Castela a ceder o seu direito às Canárias e a possibilidade de controlar a política externa e interna castelhana. Mas Granada interessava por si só: quer pela oportunidade de concessão de senhorios a cavaleiros portugueses, quer por se tratar de uma economia florescente caracterizada pelo fabrico de seda e do açúcar, pela produção do vinho e da fruta, pelas indústrias do biscoito e da louça.
Málaga (cidade granadina) comanda em grande parte o tráfico marítimo com os portos granadinos (cercada em 1465 pelos portugueses, que devido aos temporais foram obrigados a retornarem).
Fechando o caminho do Levante pelo Norte da África, restava unicamente a política de extensão territorial em Marrocos e a política de progressão para o Sul. São antagônicas.
Eram enormes os recursos financeiros e militares que uma empresa como a de Ceuta exigia, implicando, para mais, todos os gastos de uma ocupação. Por conseqüência parece natural que surgisse a idéia de alcançar diretamente as regiões produtoras de ouro, evitando a prolongada guerra para senhorear o reino de Fez e substituindo as atividades guerreiras pelas relações comerciais pacíficas. Idéia bem menos ligada aos interesses de expansão da nobreza e interessando essencialmente as classes urbanas.
Importância que tinha para a burguesia a expansão marítima: se poderiam para esses reinos trazer muitas mercadorias que se haveriam de bom mercado, cujo tráfego traria aos portugueses bom proveito. O autor Jerônimo Münzer supõe que os portugueses pretendiam desviar o ouro que sabiam ir para Fez.
Mais do que comércio de ouro, é comum ligar a expansão portuguesa, desde o início, ao comércio de especiarias, e alguns historiadores baseiam-se nessa conexão para a hipótese de que o Infante D. Henrique teria como um de seus objetivos atingir a Índia. Mas, se há muitas referências documentais sobre o desejo de alcançar regiões auríferas e obter escravos, escasseiam-se os mesmos sobre as zonas produtoras de especiarias, na primeira metade do séc. XV.
Cadamosto (autor da época) refere-se à esperança de D. Henrique de encontrar especiarias africanas e não as orientais.
O primeiro contato direto dos portugueses com vendedores africanos de especiarias da Guiné foi estbelecido em 1456 na região do rio Grande (atual Guiné-Bissau).
Os manuais de comércio italiano permitem precisar a geografia da circulação da malagueta (especiaria africana). As caravanas transaarianas traziam-na aos portos maghrebinos. Dali encaminhava-se para Alexandria e Damasco, por um lado, Barcelona e Maiorca, Florença, Gênova e Veneza por outro, escoava-se para as deiras de Montpellier e Nimes. Dos mercados mediterrâneos, não era enviada para Europa setentrional. O seu comércio interessava, sobretudo a venezianos e genoveses, que só a obtinham porém em pequenas quantidades e por isso a apreciavam tanto.
A consideração dos fatos indica que a busca portuguesa das especiarias africanas teria sido conexa a uma solicitação econômica de Veneza e Gênova, interessadas em obter maior porção de tão preciosos grãos. Nada prova, no entanto, que a iniciativa não tenha partido antes dos meios mercantis portugueses e que não fossem estes a atrair os estrangeiros com mira a utilizar a sua maior experiência desses produtos.
Um dos problemas básicos que se apresentavam a Portugal era, em suma, atingir a região do ouro, da malagueta e dos escravos, por conseguinte, um objetivo nitidamente comercial, relevando do grupo dos mercadores e armadores
Atribui-se a iniciativa das navegações propriamente de descobrimento ao infante D. Henrique (regedor e governador da Ordem de Cristo). Mas não se tem as razões para isto.
A argumentação de Zurara, de que não podiam ser os mercadores a empreender os descobrimentos, está viciada pela inexatidão da premissa: que se ignorava o proveito a tirar das regiões a descobrir. Para que a iniciativa se encetasse e prosseguisse era indispensável uma prévia acumulação de capitais em escala não reduzida, de maneira a manter uma despesa que não se sabia quando seria compensada por futuros proventos. Tanto assim que o primeiro ato da expansão portuguesa só pôde ser financiado pelo Estado.
Na época da expansão, as Ordens já não eram as mesmas. Quando destruída, a Ordem dos Templários era a mais influente organização financeira da época. As ordens militares dos séc. XIV e XV não correspondem já à mesma necessidade político-religiosa que as gerou, e constituem, em grande parte, poderosas concentrações de propriedades fundiárias e de riqueza mobiliária. A Ordem de Cristo herdou bens de ordens anteriores. Werner Sombat revelou a quota das expedições militares e do espírito guerreiro conexo nas Ordens, para as origens das empresas e do espírito de empreendimento.
Godinho não julga as motivações do Infante D. Henrique e dos seus cavaleiros, limita-se a integrar sua ordem no sistema das forças econômico-sociais da época a explicar por aí porque a iniciativa partiu de uma organização como esta, independentemente dos fins que se propunha. Acrescenta que as grandes casas nobres se aproximam do que foi dito às ordens militares.
A possível iniciativa da Ordem de Cristo e da Casa Senhorial de D. Henrique só pode ser compreendida sobre a larga base do tráfego marítimo português particular ao longo das costas da Barbaria. São várias iniciativas privadas no prosseguimento da exploração da costa africana. 
A iniciativa de empreendimentos não foi sempre de D. Henrique. Muitos grupos particulares pedia ao Infante autorização para navegar para a Guiné ou concessão de alguma Ilha para colonizar, e, ou o cronista que relata a viagem a atribui a D. Henrique, ou a carta de doação, para manter a majestade dos direitos senhoriais, atribui ao doador a idéia de colonização.
Rejeição da concepção de que todas as navegações de 1415 a 1460 se devem a D. Henrique. Godinho atribui a ele um terço das navegações, e ao Estado, dois terços.
Reconhecimento do arquipélago da Madeira possivelmente não resultou de determinação de D. Henrique. No que diz respeito ao descerco de Ceuta, este Infante não desempenhou papel de relevo, limitou-se a cumprir ordens reais. Só a partir de 1425 se documenta com mais clareza sua atividade – início do povoamento de Madeira e D. Fernando é enviado à conquista das Canárias.
No entanto, o povoamento de Madeira não foi de sua iniciativa, antes cabe aos povoadores e D. João I (e João Afonso). A expedição às Canárias, que não implica atividade descobridora, mas só o prosseguimento do plano marroquino, deve ter sido organizada pela coroa.
A interrupção das navegações em 1436 explica-se, em parte, pela expedição à Tânger e pelas dissidências em torno da Regência. Em todo o curso, vê-se que a intervenção do Regedor e Governador da Ordem de Cristo não foi muito enérgica.
Por que a interrupção dos descobrimentos para a expedição à Tânger? Uma das explicações: mesma para a tomada de Ceuta: D. Fernando desejava ser armado cavaleiro e, pelo seu mérito pessoal,conquistar a honra e o prestígio social que lhe competiam. 
Outra explicação: Disputa diplomática entre Portugal e Castela sobre as conquistas de Canárias e Marrocos. Bula de 1436 do Papa restringe a validade anterior em que concedera ao rei português as Canárias, ao caso de verificar-se a condição da inexistência de anteriores direitos. Castela podia de um momento para o outro fazer valer pela ocupação efetiva o direito que lhe fora reconhecido, urgia segurar a expansão castelhana, conquistando em África uma praça que comandasse a ulterior dilatação territorial. Ceuta domina o estreito pelo Levante (leste), Tânger, pelo Poente (oeste). A tomada de Tânger não deixava que Ceuta ficasse separada da metrópole pelo estabelecimento dos castelhanos na parte ocidental da fronteira com a Hispânia e evitava o cerco militar de Portugal que resultaria ameaça às costas do Algarve. Estas razões político-estratégicas teriam decidido o Infante D. Henrique e o Rei.
Papa aplaude a idéia de Portugal de tomar terras dos infiéis, pede à Cristandade que o auxilie e concede que fiquem sujeitas à coroa portuguesa as terras conquistadas. Bula que vai contra as anteriores e desagradaria Castela. Geraria uma ação militar por parte dela, e impunha-se a coroa portuguesa uma decisão imediata se não queria abandonar a Castela a conquista da Tingitânia e das Canárias.
A tentativa contra Tânger só é justificável do ponto de vista de um plano de sistemática conquista de Marrocos e da idéia de um monopólio português dessa conquista. A expedição a Tânger foi fruto da concorrência de dois países em expansão e também fruto do desejo de remediar os inconvenientes resultantes do isolamento de Ceuta.
Conquista marroquina divergente das navegações do descobrimento, envolve grande esforço financeiro e concentração de força militar e naval incompatíveis com a continuidade da exploração marítima, mais gastos de despesas posteriores da ocupação.
Conquista de Tânger não agradava ao monarca D. Duarte, inclinado à conquista de Granada.
Há conexão entre a necessidade de novas terras e rendas para a classe nobre, e a idéia de dilatação territorial, o que explica o empenho de impedir que Castela se assenhoreasse do Norte da África. A depreciação monetária e a influência crescente da riqueza mobiliária embaraçavam as casas senhoriais. Burguesia queria englobar Marrocos nos seus mercados.
Infantes D. Pedro e D. João: oposição à conquista de Tânger. D. Pedro mostra o penoso sacrifício financeiro, e sublinha dificuldades de uma útil ocupação do Marrocos para uma nação de fraca densidade populacional (opõe-se à política de expansão territorial).
Fracasso da tentativa em Tânger: deve-se ou não restituir Ceuta aos Mouros? Uma corrente (D. Pedro e D. João) defendia o cumprimento do contrato (para não quebrar honra do Rei), devolvendo a praça marroquina. Outros (Lisboa, Porto e Algarve) julgavam lícita a quebra do contrato. Por outro lado, as cidades que são centros da economia mercantil divergem de D. Pedro. Este Infante, quando Regente, abandonará sua posição inicial, será contra a restituição seguindo Lisboa e Porto.
Não conseguiram libertar D. Fernando. Os Mouros pretendiam reaver Ceuta a todo transe e os Portugueses não queriam abandoná-la. Castela se opõe à entrega e estava disposta a auxiliar nas negociações (infrutíferas). Morre o Rei: D. Pedro torna-se regente a despeito da nobreza.
Sincronismo entre influência política de D. Pedro e a intensidade das viagens de descobrimento. Mas nenhuma tentativa em Marrocos. Regência dele foi decisiva para os descobrimentos, desviando o país do objetivo norte-africano.
Fim da Regência (Morte de D. Pedro): Relações pacíficas com os africanos. Em 1449 passa a orientar a corrente comercial pacífica, o que não se deve atribuir a D. Pedro (morto nesse ano). A mudança de orientação ocorreu pelo fraco rendimento que a partir de certa data, davam as entradas à mão armada e pela resistência feroz com que os portugueses se deparam.
Regência de D. Pedro foi um movimento essencialmente urbano. Dirigia-se contra a antiga nobreza e cerceava o desenvolvimento da nova nobreza. Na Regência, as navegações constituíram a preocupação suprema e a expansão em Marrocos foi postergada; no reinado que segue, a conquista marroquina será a suprema preocupação e a exploração marítima é relegada à iniciativa privada. Correlação entre o desenvolvimento social-político e as orientações da expansão. 
Na convergência de necessidades de expansão comercial para a burguesia e de expansão guerreira para a nobreza, reside plausivelmente a causa dos descobrimentos e conquistas. Mas as necessidades convergentes de dilatação das duas classes se separam, enquanto os mercadores pretendem chegar aos pontos cruciais para o tráfego, a novreza deseja o alargamento territorial pela conquista de Marrocos. 
Duas grandes diretrizes de expansão: a política de alargamento marítimo e comercial, e a política de dilatação territorial guerreira, aquela mais relacionada com os interesses econômicos da burguesia, esta com interesses político-financeiros da nobreza. O Infante D. Pedro encara a primeira, D. Henrique representa a segunda, aliada à parte anterior. Contraste entre irmãos:
D. Pedro manifestou-se contra a manutenção de Ceuta. D. Henrique defendeu a conservação dessa praça;
D. Pedro condenou e combateu a expansão territorial em Marrocos, D. Henrique a defendeu;
D. Pedro considerava que guerrear os infiéis só por não serem cristãos não é serviço de Deus; D. Henrique pensava que não se pode duvidar ser a guerra contra os mouros serviço de Deus, a maior honra do mundo e o maior prazer neste mundo e no outro;
Nos conflitos que se seguiram à morte de D. Duarte, D. Pedro foi o chefe do partido da burguesia, das cidades, e foi graças ao movimento popular que subiu o Regente, com viva resistência dos nobres; D. Henrique nunca agiu ao lado do irmão, procurou sempre favorecer a nobreza, em detrimento da burguesia;
Nos conflitos que terminaram com a Alfarrobeira, D. Henrique não interveio decisivamente a favor do irmão e ficou no campo do rei (aliás, dos nobres);
Enquanto por vezes os navios henriquinos ficam a saltear, os não henriquinos, em certos casos de D. Pedro. Prosseguem a rota para o Sul a descobrir;
Não há provas da vasta cultura de D. Henrique. Também não há para a de D. Pedro, mas este trouxe para Portugal o Marco-Polo, e com ele exploram-se a maior quantidade de léguas africanas.
Os itens 1,2,3 definem ânsia territorial-guerreira e outra que a condena. Os itens 4,5 demonstra atitudes políticas antagônicas.
No reinado de D. Duarte, a nobreza impôs uma conquista bélica de expansão. Fracasso de Tânger e a menoridade do novo rei permitiram à burguesia elevar à regência de D. Pedro, que de 1440 a 1448 conduziu uma política decidida de expansão pacífica: deve-se-lhe o incremento da colonização e exploração dos Açores, bem como o avanço mais considerado nos descobrimentos geográficos e o estabelecimento de relações comerciais no Saara e na Guiné. Em 1449, a Alfarrobeira, desforra (vingança, recuperação do que se perdeu) da grande nobreza, é o dobre de finados desta orientação. O esforço guerreiro de conquista retoma a primazia e se os descobrimentos prosseguem é graças à iniciativa privada.
A Barbaria importava também ao comércio da Guiné. O ouro e os escravos, e mais tarde a malagueta, obtinham-se a troco de panos e trigo.
Conclusão: Marrocos era centro cerealífero, de indústria têxtil e produção de cavalos que muito importavam ao comércio da África saariana e negra, e isto de 1445 em diante e mais acentuadamente a partir da década seguinte. Em 1455-1456 pensaou-se em Portugal tomar Safim: cidade que comanda a mais rica zona cerealífera de Marrozos, é um dos principais escoadouros do ouro do Sudão, e os alambéis e alquicés que saem dos seus teares é que servem para comprar aos negros esse ouro.
Mas a Safim substituiu-se Alcácer Ceguer como alvo da expedição de 1458, razões:
O rei encontrou-se com consideráveis preparativos bélicos completadosou adiantados, sem os poder utilizar no fim para que de início os propunha (a cruzada no Marrocos);
Os constantes cercos e ataques a Ceuta exigiam que se tomasse outra para aliviar a pressão que caía sobre aquela;
A conquista de nova praça concorreria para a segurança da Península;
A passagem do rei da África podia dar oportunidade a uma batalha decisiva contra o rei de Fez;
A guerra aos Mouros é da vocação de Afonso V;
A guerra aos Mouros é tradição da dinastia de Avis.
Damião de Góis aponta uma única razão para a expedição ao Marrocos: disponibilidade da armada e do exército preparados pra intervir na luta contra o Turco e que afinal ficavam sem emprego. Godinho refuta essa razão: estando prontas as forças militares, que o convite para a cruzada se tornasse viável financeiramente, de a justificar ideologicamente e de considerar seguro o plano de aventura longínqua.
Concessão do Papa em 1443 cede à Ordem de Cristo territórios infiéis quando tomados, um deles, alcácer Cegues (já se pensava na expedição em Portugal).
De maior peso: razões 2 e 3. A tomada de nova praça marroquina contribuiria para a segurança militar da Península e aliviaria a pressão que afligia Ceuta, que por si só não permitia dominar o campo nem as rotas comerciais, de modo que o Estado se via com pesados encargos financeiros e com a necessidade de abastecer a cidade com provisões e idas da metrópole.
Causas da empresa de 1458:
Remediar os inconvenientes militares, financeiros e econômicos do isolamento de Ceuta;
Assegurar o domínio sobre uma área que permitisse aproveitar os produtos agrícolas – quer para o abastecimento das próprias praças, quer para o abastecimento da metrópole em trigo, quer para dispor de cereais para o resgate da Guiné;
Dominar um centro de manufatura de tecidos para obter da Guiné ouro e escravos;
Dispor de nova base para a pirataria portuguesa contra a navegação marroquino-granadina;
Proteger melhor o litoral algarvio do ataque dos corsários mouros.
O comércio português estava interessado em:
Desde 1438, pelo menos, em importar de Marrocos cereais panificáveis a troco de sal e outras mercadorias; em 1452 e 1455 existiam já relações comerciais regulares com Anafé e Safim para a aquisição de trigo;
Desde 1434, em importar tintas de Marrocos para a indústria de tapetes;
Desde o reinado de D. Duarte, em importar do Marrocos almofadas de couro, albornozes, panos de linho pintados, cortinas de sirgo, colchas, etc.;
Desde 1452, em adquirir em Safim tecidos para o resgate da Guiné, esse tráfico continuava a existir em 1456.
Itens de 1, 2, 3 eram de consumo do prórpio reino. Os de 1, 4 para exportar para área saariana e dos negros. O estabelecimento do resgate de Arguim em 1448-1450 e o estabelecimento do tráfico com os indígenas do Gâmbia e do Geba devem ter se tornado premente a necessidade de intensificar a obtenção de cereais e panos do Maghrebe.
Lento aumento da população de Portugal, mas subia sua necessidade do abastecimento em pão.
Empresa oscilou entre três objetivos: Safim, Tânger e Alcácer Ceguer. O primeiro teria maior proveito imeditato, mas ficava muito distante de Ceuta e não aliviaria as pressões nela, além de ser mais difícil de socorrer em caso de cerco. Tânger sería preferível a Alcácer, porque determinaria a certa rendição desta e asseguraria, combinada com Ceuta, o domínio de uma área importante; ficava perto do Algarve (fácil de socorrer) e consentia mais rápida progressão para o Sul. Idéia abandonada pelo fracasso de 1437.
Escolha de Alcácer: era uma base de incomodativos ataques navais dos Mouros à costa algarvia. Centro de indústria têxtil (interesse português nos produtos). Praça mais próxima de Ceuta e que melhor, com exceção de Tânger, podia aliviar a pressão que esta suportava. Constituía boa base para interceptar navegação muçulmana no litoral marroquino atlântico para a Península Ibérica e para o Mediterrâneo. Com Ceuta, dominaria a entrada e saída do Mediterrâneo e podia garantir a segurança da navegação mercantil portuguesa nesse mar. Constituía novo tampão à possível expansão castelhana para a Barbaria e para o Atlântico. 
Com D. João II, o plano dos descobrimentos e conquistas ultramarinas ultrapassa decididamente os objetivos mediterrâneo e africano para visar o longínquo Oriente, o mundo das especiarias, das pedras preciosas, madeiras requintadas, tecidos de luxo.
Demonstrada a impossibilidade de derivar a expansão dos povos ocidentais do imperialismo islamita, e mostrada a impossibilidade de o plano das Índias derivar da ameaça turca, afigura-se a Godinho que a única via de compreensão a gênese desse plano é situá-lo no quadro da concorrência ao quase monopólio muçulmano-veneziano do comércio oriental.