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Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 1 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. SEMIOLOGIA ANATOMIA APLICADA E FISIOLOGIA DO OLHO E EXAME OFTALMOLÓGICO (Professora Isabella Queiroga) A oftalmologia é uma especialidade da Medicina que investiga e trata as doenças relacionadas com a visão, com os olhos e seus anexos, além dos erros de refração apresentados pelo olho. Assim como várias outras especialidades da medicina, tem várias sub-especialidades, entre elas a oftalmo-pediatria, a plástica ocular, doenças orbitárias, doenças das vias lacrimais, o estrabismo, o glaucoma, a cirurgia refrativa, retina, etc. Antes de iniciar o estudo das principais doenças envolvidas com a visão, devemos entender a anatomia descritiva das estruturas envolvidas e o seu funcionamento fisiológico. Além disso, é necessário conhecer as bases do exame oftalmológico, para que o nosso estudo e exame clínico seja cada vez mais específico, objetivo e efetivo. ANATOMIA APLICADA DO OLHO ÓRBITAS As órbitas são cavidades ósseas no esqueleto da face que se assemelham a pirâmides quadrangulares ocas com suas bases voltadas ântero-lateralmente e seus ápices, póstero-medialmente, se abrindo para dentro do crânio. As paredes mediais das duas órbitas, separadas pelos seios etmoidais e pelas partes superiores da cavidade nasal, são paralelas, enquanto suas paredes laterais formam um plano que se toca em ângulo quase que reto (90º). Consequentemente, os eixos das órbitas divergem em aproximadamente 45º. Entretanto, os eixos ópticos (eixos do olhar, a direção ou linha da visão) para os dois bulbos dos olhos são paralelos. As órbitas contêm e protegem os bulbos oculares (globos oculares) e estruturas visuais das vias acessórias, que incluem: Pálpebras, que limitam as órbitas anteriormente, controlando a exposição da região anterior do bulbo do olho. Músculos extrínsecos do bulbo do olho, que posicionam os bulbos dos olhos e levantam as pálpebras superiores. Fáscia orbital circundando os bulbos dos olhos e os músculos. Mucosa (conjuntiva) que reveste as pálpebras e a face anterior dos bulbos os olhos e a maior parte do aparelho lacrimal, que a lubrifica. Todo espaço dentro das órbitas não ocupado pelas estruturas anteriores é preenchido por gordura orbital, assim formando uma matriz na qual estão incrustadas as estruturas da órbita. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 2 BULBO OU GLOBO OCULAR O bulbo ocular contm o aparelho ptico do sistema visual e ocupa a maior parte da poro anterior da rbita. o bulbo ocular e o seu sistema de lentes e clulas fotorreceptoras os principais respons veis pela etapa óptica da visão: os raios luminosos que refletiram de um determinado objeto devem passar por todo o sistema de lentes do bulbo ocular para que seja projetado exatamente sobre a retina. Alm desta etapa, no olho que ocorre a etapa fotoquímica da visão, quando o estmulo luminoso convertido em impulso eletro-qumico para que, desta forma, seja interpret vel pelo sistema nervoso central (etapa neurossensorial). Portanto, todo o globo ocular projetado para que estas etapas fundamentais da viso sejam efetivas, de modo que a imagem seja interpretada de forma adequada e na localizao precisa. Para isso, o globo ocular dispe de um conjunto de lentes e de meios refringentes internos necess rios para uma adequada projeo da imagem. Tais estruturas sero bem detalhadas nesta seo. Todas as estruturas anatmicas no bulbo do olho tm uma disposio circular ou esfrica. O bulbo do olho tem trs tnicas; entretanto, h outra camada de tecido conjuntivo frouxo que circunda o bulbo do olho (a bainha do bulbo ou capsula de Tenon), permitindo seu movimento dentro da rbita. As trs tnicas do olho, que compem o arcabouo dos meios refringentes do olho, so: Túnica fibrosa (camada externa): formada por esclera e crnea. Histologicamente, rica em col geno, tendo a sustentao e proteo como suas funes principais. Túnica vascular (camada média) ou trato uveal: formada pela coride, pelo corpo ciliar e pela ris. a camada mais vascularizada do olho. sede das uveítes, doenas muito relacionadas com transtornos reum ticos. Túnica interna (camada interna): formada pela retina, que possui partes ptica (visual) e uma parte cega (no- visual). Seus principais elementos histolgicos so as clulas nervosas fotossensveis (fotorreceptores): os cones e bastonetes. Túnica fibrosa do bulbo ocular. A esclera a parte opaca e resistente da tnica fibrosa (camada externa) do bulbo do olho que cobre os cinco sextos posteriores do bulbo do olho. o esqueleto fibroso do bulbo do olho, que confere seu formato e a resistncia, bem como fixao para os msculos extrnsecos (extra- oculares) e intrnsecos do bulbo do olho. A parte anterior da esclera visvel atravs da conjuntiva bulbar transparente como “a parte branca do olho”. Na parte naso-posterior da esclera, existe uma trama irregular de fibras da esclera que forma uma passagem porosa (chamada de lâmina crivosa) para que as fibras das clulas ganglionares saiam do globo ocular e formem o N. ptico. A córnea constitui a calota transparente de curvatura convexa que cobre a sexta parte anterior do bulbo do olho. Ela se difere da esclera principalmente em termos da regularidade da organizao das fibras col genas que as compem e do grau de hidratao de cada uma. Esta diferena faz com que a crnea seja transparente e nos possibilite a viso ou mesmo reconhecer a cor da ris de um indivduo (e assim, atribuir a “cor do olho” de algum). A regio limtrofe entre a crnea e a esclera conhecida como limbo da córnea. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 3 OBS1: Revestindo todo o globo ocular e a esclera, existe um tecido conjuntivo denominado de cápsula de Tenon; superficialmente a esta c psula – principalmente, na regio anterior do bulbo ocular – existe um tecido bastante fino e vascularizado chamado de conjuntiva. O epitlio conjuntival se inicia desde as margens do epitlio da crnea, recobrindo a superfcie escleral do olho (na forma de conjuntiva bulbar ou ocular) at a regio onde se rebate na forma de um ngulo (conhecido como fórnix conjuntival) para se continuar como conjuntiva palpebral, recobrindo a face interna das p lpebras. Este fundo de saco formado pelos dois folhetos da conjuntiva desmistifica o medo que alguns pacientes referem em usar lentes de contato, garantindo que elas podem se perder em regies mais profundas da rbita. Túnica vascular do bulbo ocular. A tnica vascular do bulbo do olho (tambm denominada de úvea ou trato uveal) formada pela coride, pelo corpo ciliar e pela ris. A coróide, uma camada marrom-avermelhada escura situada entre a esclera e a retina, forma a maior parte da tnica vascular do bulbo do olho. Dentro deste leito vascular pigmentado e denso, vasos maiores da lâmina vascular esto localizados externamente (perto da esclera). Os vasos mais finos (presentes na lâmina corióideo-capilar) so mais internos, adjacentes camada fotossensvel avascular da retina, que supre com oxignio e nutrientes. Ingurgitada com sangue durante a vida, essa camada respons vel pelo reflexo do “olho vermelho” que ocorre na fotografia com flash que alcance a retina. O corpo ciliar uma estrutura muscular vascularizada que une a coride circunferncia da ris. O corpo ciliar fornece fixao para o cristalino por meio dos ligamentos suspensores; a contrao e o relaxamento do msculo liso do corpo ciliar controlam a espessura do cristalino (e, portanto, o seu poder refrativo de focalizao). As pregas na superfcie interna do corpo ciliar – os processo ciliares – secretam humor aquoso, que preenche as cmaras anterior e posterior do segmento anterior do olho. Este humor aquoso ser drenado, ento, na cmara anterior do olho, em nvel do epitlio trabecular e do canal de Schlemm (seio venoso da esclera). A câmara anterior do olho o espao entre a crnea anteriormente e a ris/pupila posteriormente; a câmara posterior do olho est situada entre a ris/pupila anteriormente e a face anterior do cristalino e corpo ciliar posteriormente. A íris, que literalmente est sobre a superfcie anterior do cristalino, considerada um diafragma contr til fino com uma abertura central, a pupila, para dar passagem luz. A ris constitui a parte mais visvel e colorida do olho dos vertebrados. OBS2: Quando um indivduo est acordado, o tamanho da pupila varia continuamente para controlar a quantidade de luz que entra no olho. Dois msculos involunt rios controlam o tamanho da pupila: o músculo esfíncter da pupila (que, estimulado pelo sistema nervoso parassimp tico, fecha a pupila) e o músculo dilatador da pupila ou radial da íris (que, estimulado pelo sistema nervoso simp tico, abre a pupila). OBS3: O ngulo ou seio camerular (ngulo da cmara anterior), formado pela ris e pela regio da juno crneo-escleral (tambm conhecida como limbo da córnea), apresenta uma importante correlao anatmica com a predisposio estrutural que alguns indivduos apresentam a desenvolver glaucoma de ângulo fechado. Na face interna da juno crneo-escleral, existe uma malha trabecular (ou espao de Fontana) por onde escoa o humor aquoso at o seio venoso da esclera (ou canal de Schlemm), de onde ele ser , finalmente, drenado para veias episclerais. Contudo, em alguns indivduos, a ris, ao se contrair, pode se projetar sobre este ngulo e cobrir o trabeculado – quando isso acontece, se estabelece um quadro de crise glaucomatosa (ou glaucoma agudo de ângulo fechado). OBS4: Alm dos movimentos realizados pelos msculos da ris (contribuindo para a variao do dimetro da pupila), existe uma outra funo muscular bastante importante no olho que promove o processo de acomodação do cristalino. Este nada mais que um recurso de focalizao, em que o poder positivo do olho aumentado graas ao aumento da convexidade do cristalino em decorrncia de uma contrao do músculo ciliar (um constituinte do corpo ciliar): no momento em que este msculo se contrai, ocorre a diminuio do espao entre os processos ciliares e o cristalino, fazendo com que os ligamentos suspensores do cristalino relaxem a aumentem o dimetro ntero-posterior desta lente. Com isso, possvel fazer com que o foco de nossa viso se ajuste s diferentes Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 4 posições de objetos com relação ao olho. O músculo ciliar também é inervado pelo N. oculomotor (III par craniano), que inerva o músculo esfíncter da pupila. Contudo, a acomodação do cristalino não só depende da integridade do sistema nervoso parassimpático, como também depende da elasticidade da cápsula do cristalino. Por esta razão, a partir dos 40 anos, a capacidade de acomodação cai gradativamente (processo conhecido como presbiopia), uma vez que a cápsula perde a sua elasticidade e o músculo ciliar perde a sua força contrátil, fazendo com que a focalização para perto esteja prejudicada. Por esta razão, indivíduos mais velhos tendem a afastar seus instrumentos de leitura para conseguir focalizar, uma vez que a aproximação não provoca mais uma boa acomodação do cristalino. Túnica interna do bulbo ocular. A túnica interna do bulbo ocular é praticamente composta pela retina. A retina é composta por 10 camadas distintas, mas que podem ser resumidas a 3, a depender da presença das células envolvidas com a via óptica: a camada mais externa das células fotorreceptoras; a camada intermediária das células bipolares; e a camada mais profunda, em contato com o humor vítreo, das células ganglionares, cujos axônios compõem o N. óptico. Macroscopicamente, a retina é formada por duas partes funcionais com locais distintos: uma parte óptica (visual) e uma parte cega (não-visual). A parte óptica da retina é sensível aos raios luminosos visuais e possui dois estratos: um estrato nervoso e um estrato pigmentoso. O chamado descolamento da retina consiste na separação destas duas camadas devido à presença de líquidos entre elas. A parte cega da retina é uma continuação anterior do estrato pigmentoso e uma camada de células de sustentação sobre o corpo ciliar (parte ciliar da retina) e a superfície posterior da íris (parte irídica da retina), respectivamente. OBS5: A retina deve ser entendida como um prolongamento do sistema nervoso central dentro do globo ocular. As demais partes do olho apresentam origem embrionária diferente. É por esta razão que as doenças da retina são consideradas graves. O fundo do olho é a parte posterior do bulbo do olho, onde podemos encontrar a mácula lútea (bem no pólo posterior do olho) e o disco óptico (mais medial/nasal e superior, com relação à mácula lútea). A área deprimida e circular é denominada de disco do nervo óptico (papila óptica ou, simplesmente, disco óptico), onde os axônios das células ganglionares se unem para constituir o N. óptico e deixar o globo ocular através da lâmina crivosa (que atravessa o forame escleral posterior ou canal escleral), conduzindo, além das fibras sensitivas relacionadas com a visão, os vasos que entram no bulbo do olho (como a artéria central da retina, um ramo da artéria oftálmica). É importante ressaltar que, como o disco óptico não contém fotorreceptores, ele é insensível à luz. Consequentemente, esta parte da retina costuma ser denominada de ponto cego. Como as fibras nervosas tendem a ocupar espaços mais periféricos dentro de bainhas, indivíduos normais podem apresentar escavações do disco óptico como variação anatômica. Contudo, no glaucoma, na medida em que as fibras mais centrais vão sendo destruídas, a escavação aumenta. Lateralmente ao disco óptico, ocupando o pólo posterior do globo ocular, encontramos a mácula lútea (do latim, ponto amarelo). A cor amarela da mácula só é visível quando a retina é examinada com luz sem vermelho. A mácula lútea é uma pequena área oval da retina, com cones fotorreceptores especiais e em maior número, sendo assim, uma área especializada para acuidade visual. No centro da mácula lútea, há uma pequena depressão denominada de fóvea central (do latim, depressão central), a área de visão mais aguda e apurada. Os motivos que fazem com que a mácula lútea seja a área de melhor acuidade visual são: Presença de um maior número de cones fotorreceptores especiais. Proporção de um cone para cada célula ganglionar. Nas demais regiões da retina, existem vários bastonetes convergindo para uma única célula bipolar. Presença da fóvea, que nada mais é que o afastamento centrífugo das demais camadas retinianas, fazendo com que a luz incida diretamente na camada de células fotorreceptoras. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 5 Meios de refração do bulbo ocular. No seu trajeto até a retina, as ondas luminosas atravessam os seguintes maios refrativos do bulbo do olho: córnea, humor aquoso, lente ou cristalino e humo vítreo. A córnea, como vimos anteriormente, é a área circular da parte anterior da túnica fibrosa externa do bulbo ocular, sendo responsável principalmente pela refração da luz que entra no olho. É transparente, devido à organização extremamente regular de suas fibras colágenas e ao seu estado desidratado. A córnea é sensível ao toque; sua inervação é derivada do nervo oftálmico (V1 do trigêmeo). É avascular, e sua nutrição é derivada dos leitos capilares em sua periferia, o humor aquoso e o líquido lacrimal. O humor aquoso nas câmaras anterior e posterior do olho é produzido na câmara posterior pelos processos ciliares do corpo ciliar (graças à ação da anidrase carbônica). Logo depois de formado, o humor aquoso passa para a câmara anterior do olho por meio da abertura pupilar para ser drenado em nível do epitélio trabecular e do seio venoso da esclera (canal de Schlemm). Esta solução aquosa e transparente fornece nutrientes para a córnea avascular e a lente. A lente ou cristalino situa-se posteriormente à Iris e anteriormente ao humor vítreo do corpo vítreo. É uma estrutura biconvexa e transparente encerrada por uma cápsula. É responsável por dividir os dois segmentos principais do bulbo ocular: o segmento anterior (preenchido por humor aquoso e dividido, por meio da íris, em câmara anterior e posterior) e segmento posterior (preenchido por humor vítreo). O humor vítreo é um líquido gelatinoso e transparente localizado posteriormente à lente (na câmara posterior do bulbo ocular). Além de transmitir a luz, o humor vítreo mantém a retina no lugar e sustenta a lente. OBS6: O ceratocone consiste em uma distrofia da córnea não- inflamatória que cursa com uma deformidade desta estrutura, a qual passa a apresentar não mais um formato de uma calota convexa externamente, mas sim, adquire a forma de um cone, com uma convexidade bem mais acentuada. Esta deformidade altera a nitidez da visão, na forma de um astigmatismo irregular. A correção temporária pode ser feita por meio do uso de uma lente de contato rígida; contudo, para casos mais avançados, a correção mais adequada é o transplante de córnea. OBS7: O uso de lentes de contato não é considerado um evento fisiológico, no que diz respeito à homeostase da córnea. Como sabemos, um dos motivos pelos quais a córnea é transparente é fato de ela ser avascular e, portanto, sua nutrição depende do humor aquoso (banhando a sua face interna), dos vasos do limbo (região de transição entre a esclera e a córnea) e do oxigênio do próprio meio ambiente. Durante a noite, a oxigenação da córnea é garantida pelos vasos da face interna da pálpebra. Quando se aplica uma lente de contato por sobre a córnea, cria-se uma interface que diminui a oxigenação da mesma, seja durante o dia ou durante a noite. Portanto, é absolutamente contra-indicado dormir portando lentes de contato. OBS8: A catarata consiste em um processo de opacificação do cristalino, que pode ocorrer de forma natural, acompanhando o envelhecimento. A opacificação diminui a capacidade refratária do cristalino, comprometendo a visão. Este processo pode ser acelerado em algumas condições, as quais devem ser tratadas. ANATOMIA DAS VIAS ÓPTICAS O nervo óptico (II par craniano), assim que formado a partir dos prolongamentos das células ganglionares da retina, deixa o globo ocular através da lâmina crivosa, localizada medialmente à mácula lútea. O nervo percorre um curto trajeto dentro da órbita para alcançar o canal óptico, espaço em forma de forame formado pelas asas menores do osso esfenóide. Já dentro do crânio, os dois nervos ópticos se unem no chamado quiasma óptico, onde ocorre o cruzamento das fibras oriundas da retina nasal (que capta a luz oriunda do campo visual temporal); as fibras oriundas da retina temporal (que captam, por sua vez, a luz oriunda do campo de visão nasal) não cruzam no quiasma. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 6 As fibras originadas a partir do quiasma ptico formam, ento, o chamado tracto óptico (contendo, portanto, fibras da retina temporal do olho ipsilateral e da retina nasal do olho contralateral), que se dirige at o corpo geniculado lateral, em nvel do diencfalo. Da, partem axnios que formam a radiação óptica, por onde o estmulo visual alcana as reas prim rias visuais do lobo occipital. Diante da complexidade anatmica da via ptica, nota-se que leses em diferentes nveis da mesma causaro distrbios visuais especficos, mas que podem facilmente indicar o ponto acometido. Tais leses sero mais bem detalhadas em prximos captulos. Contudo, em resumo, temos: Leso de um nervo ptico (A, na figura ao lado): cegueira total do olho acometido. Leso da parte mediana ou central do quiasma ptico (B): hemianopsia heternima bitemporal por leso das fibras da retina nasal (como ocorre no tumor de hipfise com grandes dimenses). Leso da parte lateral do quiasma ptico (C): hemianopsia nasal do olho do mesmo lado da leso (por prejuzo das fibras da retina temporal, que no cruzam no quiasma). Leso do tracto ptico (D): hemianopsia homnima contra-lateral leso (esquerda, se a leso for no tracto ptico direito, como mostra o exemplo), mas com ausncia do reflexo fotomotor (pois a leso acontece antes que as fibras do tracto ptico se destaquem para alcanar a rea pr-tectal, respons vel por integrar tal reflexo, como veremos adiante). Leso da radiao ptica ou do crtex visual prim rio (D e F): hemianopsia homnima contra-lateral leso com manuteno do reflexo fotomotor. FISIOLOGIA DA VISO Para entendermos o mecanismo fisiolgico, devemos tomar conhecimento que a viso dividida em trs etapas: (1) a etapa óptica, que depende basicamente dos sistemas de lentes do bulbo ocular (crnea, humor aquoso, cristalino e humor vtreo); (2) a etapa fotoquímica, em que o estmulo luminoso convertido em impulso nervoso, em nvel das clulas fotorreceptoras; e, por fim, a (3) etapa neurossensorial, que representa o percurso que o estmulo nervoso atravessa ao longo do sistema nervoso, desde as fibras do nervo ptico at os l bios do sulco calcarino do lobo occipital. Etapa óptica: a luz que reflete dos objetos deve entrar no nosso olho e chegar retina com o mnimo de alteraes, disperses e reflexes possveis. Para tanto, deve passar pela crnea e seguir pelo humor aquoso, pupila, humor vtreo e, por fim, incidir na retina ptica – na m cula ltea, mais especificamente. A luz passa ento por todas as camadas da retina ate alcanar a camada das clulas fotorreceptoras. Caso a luz esteja sendo projetada antes da retina, temos um quadro de miopia; caso a luz esteja sendo projetada para depois da retina, temos um quadro de hipermetropia. Etapa fotoquímica: nesta etapa, ocorre a transdução do sinal: o estmulo luminoso transformado em estmulo eletro-qumico por meio das clulas fotorreceptoras: os cones e os bastonetes. No nosso organismo, o β- caroteno que ingerimos na dieta clivado dando origem a duas molculas chamadas de retinol (vitamina A). Este retinol, por ser lipossolvel, absorvido no intestino junto aos quilomicrons e transportado at o fgado. Este rgo capaz de produzir uma substancia capaz de transportar o retinol para todo o corpo. Nos demais tecidos, o retinol sofre oxidao, saindo da forma alcolica para uma forma aldedica (retinal), podendo ser transformado tambm em uma forma cida ( cido retinico). No olho, o retinol transforma-se em retinal, composto insaturado que pode se apresentar em uma configurao trans ou cis (sendo, mais comumente, classificado como retinal 11-cis, em que a dupla ligao est entre o carbono 11 e 12). Na membrana plasm tica das clulas receptoras existe uma protena chamada opsina, que tem uma afinidade pelo retinal 11-cis. Ao se ligar a este composto, forma a conhecida rodopsina, que uma protena de membrana que possui o retinal 11-cis em sua constituio. Quando a luz incide na retina, o retinal perde sua configurao cis e passa a apresentar uma conformao trans, perdendo a afinidade pela opsina. Com isso, a opsina sofre uma mudana conformacional, formando a metarrodopsina, que ativa uma protena G, ativando a subunidade alfa, que por sua vez, ativa a guanilato ciclase, controlando a concentrao de GMPc. Contudo, diferentemente das demais clulas excit veis, as fotorreceptoras se ativam quando esto hiperpolarizadas, obtendo este estado por meio do fechamento de canais de sdio e da excreo ativa destes ons, o que faz com que o interior da clula torne-se mais negativo que o comum. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 7 Etapa neurossensorial: consiste no percurso que o estmulo sin ptico viaja ao longo do sistema nervoso at alcanar o lobo occipital. Primeiramente, o estmulo passa por entre as clulas do epitlio neurossensorial da retina, passando pelos cones e bastonetes, clulas bipolares e clulas ganglionares. Estas formaro, por meio de seus prolongamentos, o N. ptico, que guiar o estmulo at o quiasma ptico. Deste, o estmulo visual prossegue pelo tracto ptico, corpo geniculado lateral e, enfim, radiaes pticas, que se encerram nos l bios do sulco calcarino do lobo occipital. No que diz respeito ao estudo da fisiologia da viso, devemos entender algumas propriedades b sicas que j foram mencionadas durante o estudo anatmico do aparelho ptico, mas que sero novamente listadas devido a sua importncia no mecanismo fisiolgico deste sentido. Tais propriedades so descritas logo a seguir. TRANSPARÊNCIA DA CÓRNEA Em resumo, podemos apontar os seguintes motivos que fazem com que a crnea seja transparente: Ser uma estrutura avascular; Apresentar lamelas de col geno distribudas de um modo regular (diferentemente da esclera); Apresentar, em seu endotlio, uma bomba que joga ons constantemente para dentro do humor aquoso, fazendo com que saia mais gua da crnea, a qual mantida em um estado de desidratao relativo. Por esta razo, se h edema na crnea, h prejuzo da viso. REFLEXO FOTOMOTOR Alm da transparncia do sistema de lentes do olho, necess rio um ajuste “automtico” da quantidade de luz que adentra o olho para que a viso seja adequadamente calibrada. Este ajuste acontece graas inervao autonmica da ris que, em resposta ao estmulo luminoso captado pelo N. ptico, a pupila se dilata ou se contrai. Quando a luz que incide na retina muito intensa, o nervo ptico conduz o estmulo at a rea pr-tectal do mesencfalo, de onde partem axnios que se comunicam com o ncleo autnomo do N. oculomotor, dos dois lados. Em resposta, ocorre contrao bilateral do msculo esfncter da pupila, o que causa o fechamento da pupila (miose). Quando a luminosidade pouco intensa – como ocorre no escuro – o N. ptico envia as informaes para a chamada rea tectal, de onde fibras se comunicam com o tracto retculo-espinhal e levam informaes at o tronco simp tico cervical que, por meio do gnglio simp tico cervical superior e do plexo carotdeo, promovem a abertura da pupila (midríase). SISTEMA DE LENTES DO OLHO Todas as lentes que compem o sistema de lentes do olho devem agir em conjunto e em harmonia para que o feixe luminoso seja projetado exatamente sobre na retina. Para esta funo, disponibilizamos de v rios meios refringentes, tais como: crnea, humor aquoso, cristalino e humor vtreo. Cada um impe uma unidade refrativa diferente. Para que a luz oriunda do infinito seja projetada exatamente na retina, necessitamos de um conjunto de lentes que, juntas, apresentem o poder de 59 dioptrias (ver OBS9). OBS9: Dioptrias a unidade de medida que afere o poder de refrao de um sistema ptico (m-1). Exprime a capacidade de um meio transparente de modificar o trajeto da luz. Na ptica, a unidade de medida da poteno de uma lente corretiva (popularmente conhecido como grau). Matematicamente, a dioptria o inverso da distncia focal, sendo este a metade do raio de curvatura da lente: D = 1/F = 2/R. Assim: Uma lente com distncia focal de 0,5 metros = 1/0,5 = 2 dioptrias. O olho humano tem um poder refrativo de 59 dioptrias. Um objeto, se suficientemente grande, pode ser visto sem acomodao a uma distncia de 6m. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 8 ACOMODAÇÃO DO CRISTALINO Quando os olhos so desviados de um objeto longnquo para objetos prximos, a contrao dos msculos retos mediais provoca a convergncia dos eixos oculares, os cristalinos se espessam para aumentar o seu poder refrativo pela contrao dos msculos ciliares, e as pupilas se contraem para restringir as ondas luminosas parte central, mais espessa, do cristalino. Os impulsos aferentes deste reflexo de acomodao do cristalino cursam pelo nervo ptico at o crtex visual no lobo occipital. O crtex visual, por sua vez, conectado ao campo ocular do lobo frontal ( rea 8 de Brodmann). Desse ponto, as fibras corticais descem at os ncleos oculomotores no mesencfalo. O nervo oculomotor, por sua vez, cursa fibras para os msculos retos mediais e os ativam. Algumas das fibras corticais descendentes fazem sinapses nos ncleos parassimp ticos (ncleos de Edinger-Westphal) do nervo oculomotor dos dois lados. As fibras pr- ganglionares parassimp ticas cursam, ento, pelo nervo oculomotor para fazer sinapse com o neurnio ps-ganglionar presente no gnglio ciliar na rbita. Por fim, as fibras parassimp ticas ps-ganglionares, por meio dos nervos ciliares curtos, chegam at o msculo ciliar (respons vel por acomodar o cristalino) e o msculo constritor da pupila da ris (respons vel por causar a miose). Esta acomodao do cristalino torna o olho capaz de modificar o foco da viso, tornando o poder refrativo do olho muito mais potente. EXAME OFTALMOLGICO O exame oftalmolgico inclui um histrico dos sintomas e sinais apresentados pelo paciente e testes para verificar a funo visual e exames fsicos dos olhos com o auxlio de equipamentos especiais. De fato, o exame oftalmolgico requer uma srie de equipamentos especiais e que, comumente, no so utilizados nas demais reas mdicas. Embora estes recursos pticos sejam necess rios e de alto custo, existem certos exames que podem ser feitos com o uso de equipamentos mais b sicos, de f cil acesso e manuseio. Dentre eles, podemos citar os demonstrados na figura ao lado: O oftalmoscpio direto (c) possibilita uma visualizao restrita – mas eficaz – do fundo do olho. Uma lanterna (b), que possibilita a realizao de testes como os reflexos pupilares, alm da melhor inspeo das p lpebras e da superfcie do olho, de forma mais grosseira. A tabela numrica (a), para testar a acuidade visual. O corante fluoresce na, de colorao alaranjada, pode ser utilizado na rotina oftalmolgica na forma de colrio pois apresenta afinidade por solues de continuidade do epitlio do globo ocular, depositando-se e facilitando a identificao de leses da esclera ou da crnea. Um col rio anestsico (como a proparacana – Anestalcon), til para pequenos procedimentos (como remoo de corpo estranho ou para a realizao da tonometria sem incmodo do paciente) ou mesmo para preceder a instilao de um outro colrio – um col rio midritico – facilitando a penetrao deste. O col rio midritico (como a Tropicamida - Mydriacyl) respons vel por promover a dilatao da pupila, que facilitada quando utilizado depois do anestsico, o qual promove a quebra da barreira da crnea. A tropicamida (colrio 0.5% e 1%) uma substncia qumica parassimpatoltica muito utilizada em tratamentos oftalmolgicos para ajudar na dilatao da pupila, com durao de 3 a 5 horas. Esta dilatao pupilar importante para facilitar a visualizao do fundo do olho por meio do oftalmoscpio direito. Alm da midrase, a tropicamida promove ainda o bloqueio do msculo ciliar (cicloplegia), importante durante a avaliao ocular da criana (ver OBS10). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 9 OBS10: A criana tem uma capacidade de acomodao do cristalino praticamente perfeita. Por meio deste mecanismo, o cristalino capaz de corrigir hipermetropia ou aumentar miopia, dificultando a medida do grau (dioptria) do pequeno paciente. Para saber o grau exato dos culos, necess rio anular a acomodao (bloqueando o msculo ciliar e, consequentemente, dilatando a pupila). Normalmente, a criana permanece com a pupila dilatada por 12 a 24 horas. OBS11: A atropina (colrio 0.5% e 1.0%) um parassimpatoltico que atua como um forte cicloplgico e de ao prolongada (at 10 dias). Por esta razo, contra-indicado na realizao de exames oftalmoscpicos. usado frequentemente nas inflamaes oculares. ANAMNESE Antes de mais nada, necess rio identificar o paciente pelo nome, garantindo, assim, o incio de uma boa relao mdico-paciente. Alm disso, necess rio questionar sobre a idade do paciente – parmetro importante para a avaliao oftalmolgica. Logo em seguida, necess rio definir a queixa principal e suas circunstncias: Modo de incio/Durao/Freqncia; Localizao/Lateralidade; Gravidade; Influncias/Circunstncias de aparecimento; Sintomas associados; Medidas teraputicas testadas; etc. Ainda durante a anamnese, preciso pesquisar fatores de risco, tais como: Histria ocular pregressa; Medicaes oculares; Histria clnica e cirrgica geral; Medicaes sistmicas Alergias e atopias em geral Histria social Histria familiar QUEIXAS MAIS COMUNS As queixas mais comuns durante o exame oftalmolgico so: Distrbios da viso Perda da viso central. Perda da viso perifrica localizada (escotomas) ou difusa (p.ex., hemianopsia). Alteraes qualitativas da imagem: micropsia (quando o paciente enxerga as coisas menores do que realmente so), macropsia (quando enxergam as coisas maiores), metamorfopsia (viso distorcida dos objetos). Diplopia (viso dupla): monocular (que acontece mesmo quando um dos olhos ocludo; est mais relacionada a causas refrativas: catarata e astigmatismo, por exemplo) ou binocular (relacionada a transtornos da motilidade ocular, como no estrabismo). Floaters ou “Moscas volantes”, que representam manchas mveis no campo de viso. Podem estar relacionadas a alteraes progressivas do vtreo, ou mesmo indicar distrbios mais srios, como uvetes posteriores. Fotopsias (“flashes” de luz), como relmpagos. Dor ou desconforto ocular Sensao de corpo estranho: queixa comum em distrbios que diminuem o filme lacrimal. Queimao: queixa comum em indivduos que passam bom tempo do dia fazendo uso de computadores, o que faz com que o indivduo pisque menos e lubrifique inadequadamente a superfcie do olho. Prurido. Dor ciliar. Cefalia. Astenopia (cansao visual): relacionada ao esforo acomodativo que geralmente acontece em pacientes com hipermetropia. Fotofobia: comum em uvetes, em que a ris encontra-se inflamada e dolorosa quando se contrai ou relaxa (que geralmente, acontece em resposta luz). Dor periocular: poucas vezes est relacionada com o globo ocular. As principais causas so: sinusopatias, transtornos da articulao temporo-mandibular, etc. Dor retrobulbar Secrees oculares anormais Lacrimejamento: produo excessiva de l grimas pela glndula lacrimal; Epfora: produo de l grimas que transbordam e chegam a escorrer na face, que pode no estar relacionada com um excesso na produo de l grimas, mas sim, a uma obstruo na drenagem da mesma; Secreo purulenta (comum na conjuntivite bacteriana), mucopurulenta, mucide (comum em processos inflamatrios alrgicos). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 10 Aparncias anormais Ptose; Proptose e exoftalmia; Enoftalmia (olho atrfico); Blefarite (processo inflamatrio da p lpebra); Desalinhamento dos olhos (estrabismo); Vermelhido; Anisocoria (assimetria nos dimetros pupilares). Outras queixas: hordolo (tersol), ptergeo (carnosidade no olho), hemorragia subconjuntival (tem resoluo espontnea). PRINCIPAIS ALTERAÇÕES OFTALMOLÓGICAS Emetropia: o olho normal, sem acomodao, capaz de focalizar raios paralelos sobre a retina. No olho emtrope, os raios luminosos so adequadamente projetados na regio da m cula ltea. Qualquer condio que se desvie deste estado normal do olho: ametropia. Miopia: Os raios so focalizados em um ponto anterior retina, devido ao aumento da distncia axial do globo ocular. Objetos prximos so bem visveis, enquanto os distantes so mal focalizados. A correo feita com lentes bicncavas. Hipermetropia: Os raios convergem para um foco situado atr s (posteriormente) da retina. O indivduo enxerga mal de perto e melhor objetos distantes. Sua correo feita com lentes biconvexas. o transtorno oftalmolgico mais comum. Astigmatismo: Quando a superfcie corneana no perfeitamente esfrica. Os raios luminosos no convergem para um foco nico. No astigmatismo acontece uma curvatura imperfeita da crnea, que origina uma imagem desfocalizada. Sua correo feita com lentes cilndricas. A imagem imperfeita tanto prximo quanto distante do indivduo. Presbiopia: fenmeno no qual o cristalino perde com o tempo seu poder de acomodao. Ocorre em cerca de 90% dos indivduos com mais de 50 anos e sua correo feita com lentes convergentes. Esta relacionada com uma dificuldade progressiva de enxergar de perto devido dificuldade de acomodao do cristalino. Glaucoma: distrbio originado a partir do aumento da presso do humor aquoso, podendo causar cegueira. Catarata: distrbio originado quando o cristalino torna-se opaco, no permitindo a passagem da luz. Sua correo feita por interveno cirrgica Conjuntivite: a inflamao da conjuntiva ocular devido, principalmente, a vrus. OBS11: Correção das refrações • No olho mope, a distncia axial maior do que no emtrope, pois o foco antes da retina. Deve-se, ento, aumentar a distncia do foco utilizando lentes bicncavas. Por conveno, as lentes biconcavas so numeradas com valores refrativos negativos de dioptrias Ex: – 2,5D • No olho hipermtrope, a distncia axial menor do que no emtrope, pois o foco atr s da retina. Deve-se diminuir a distncia do foco utilizando lentes convexas. Por conveno, as lentes convexas so numeradas com valores refrativos positivos de dioptrias. Ex: + 2,5D • No olho com astigmia utiliza-se lentes cilndricas ou esfricas de forma a equalizar a refrao de menor ou maior curvatura. MEDIDA DA ACUIDADE VISUAL Consiste na primeira etapa do exame fsico oftalmolgico. A medida da acuidade visual feita atravs de tabelas padronizadas para este fim. As tabelas apresentam letras em variados tamanhos; para pacientes que no sabem ler, pode-se optar por tabelas com desenhos ou com a letra “E” virada em v rias posies (tabela de Snellen; neste exame, solicita-se ao paciente que indique o sentido das pernas da letra E: para direita, para esquerda, para cima ou para baixo). O valor da acuidade visual do paciente dado atravs de uma relao com numerador e denominador: Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 11 Numerador: distncia do exame. Geralmente, indicado por 20 (pés) ou 6 (metros). Denominador: distncia em que pessoa com viso normal capaz de ler as mesmas letras. Considera-se a viso normal aquele indivduo que apresenta um ndice de acuidade visual de 20/20 (em ps), 6/6 (em metros) ou “1” (na razo). Se, por exemplo, um indivduo apresenta acuidade visual de 20/80, significa dizer que este v uma imagem a uma distncia de 20 ps o que um indivduo normal capaz de ver, o mesmo objeto, a uma distncia de 80 ps. Portanto, um paciente com ndice 20/20 significa dizer que ele capaz de ver um objeto a uma distncia de 20 ps, de forma que uma pessoa normal consiga ver o mesmo objeto nesta mesma distncia e, por isso, o paciente est dentro do parmetro considerado normal. Teste da acuidade visual para longe. A realizao do exame se baseia no seguinte protocolo: 1. Pea ao paciente para ficar em p ou sentar a uma determinada distncia do teste (a 6 metros de uma tabela de parede bem iluminado o ideal). Se uma tabela projetada utilizada, a distncia pode variar. O tamanho do opttipo projetado deve ser focalizado a ajustado para equivaler acuidade de Snellen corresponde distncia utilizada. A maior parte das clnicas equipada com tabelas projetadas aferidas para distncias predeterminadas. 2. Oclua o olho esquerdo. Pergunte ao paciente ou certifique-se pessoalmente para ter a certeza de que o material utilizado para a ocluso no esteja tocando ou pressionando o olho. Observe o paciente durante o teste para ter a certeza de que ele no esteja conscientemente ou inconscientemente fraudando o teste. 3. Pea ao paciente para falar em voz alta cada letra ou nmero, ou descrever a figura vista nas linhas de opttipos cada vez menores, da esquerda para a direita ou, alternativamente, conforme voc apontar para determinado caractere em qualquer ordem, at que o paciente identifique correlatamente somente a metade dos opttipos de uma linha. 4. Observe a medida de acuidade correspondente impressa naquela linha da tabela. Registre o valor da acuidade para cada olho separadamente, com e sem correo. Se o paciente no l metade ou menos da metade das letras da menor linha de leitura, registra quantas letras ele no leu; por exemplo, 20/40-2. Se a acuidade menor que 20/20, reavalie com um buraco estenopeico de 2,4 mm. Teste da acuidade visual com buraco estenopeico. Por vezes, difcil saber identificar em ambulatrios no-oftalmolgicos (que no disponibilizam dos aparelhos necess rios para uma avaliao adequada) o paciente que est apresentando dificuldade de realizar o teste por estar necessitando de um culos com lente corretora (isto : um indivduo mope ou hipermetrope). necess rio saber diferenciar esta situao de um indivduo com retinopatia diabtica, por exemplo – o tratamento diferente: para o primeiro, devemos encaminhar para um oftalmologista para que este indique as lentes corretas para resolver o caso; para o segundo, devemos tratar a sua glicemia de forma radical. Para diferenciar tais casos, podemos optar por utilizar um papel com um furo no meio, e solicitar ao paciente que tente enxergar a tabela de acuidade visual atravs do furo. Se, depois de feito isso, o paciente relatar melhora, significa dizer que o problema , realmente, a falta de culos. O furo no papel – conhecido como buraco estenopeico – faz com que os raios luminosos sejam direcionados pelo centro de todo o sistema ptico, o que faz com que o paciente enxergue melhor mesmo com desajustes do sistema de lentes pticas. O teste da acuidade visual com buraco estenopeico segue o seguinte protocolo: 1. Posicione o paciente e cubra o olho que no est sendo testado, da mesma forma utilizada no teste de acuidade para longe. 2. Pea ao paciente que segure o oclusor do tipo buraco estenopeico na frente do olho a ser testado. A correo habitual do paciente deve ser utilizada durante o teste. 3. Instrua o paciente para olhar para a tabela para longe atravs do buraco estenoipeico nico ou atravs de qualquer um dos orifcios do buraco estenopeico mltiplo. 4. Pea ao paciente que utilize pequenos movimentos da mo ou dos olhos para alinhar o buraco estenoipeico e obter a mais ntida imagem da tabela de opttipos. 5. Pea ao paciente que comece a ler a linha com as menores letras que sejam legveis conforme o determinado nos testes de viso anteriores sem o uso do buraco estenopeico. 6. Registre a acuidade de Snellen obtida e coloque antes ou depois da anotao a abreviao BE. Teste da acuidade visual para perto. O teste de acuidade visual para perto testa, de modo indireto, o reflexo de acomodao do cristalino (e a sua eventual disfuno – a presbiopia, que ocorre em indivduos com mais de 40 anos). Contudo, o teste tambm se mostrar alterado em casos de hipermetropia acentuada, astigmatismo, etc. Para a realizao deste teste, seguiremos o seguinte protocolo: 1. Com o paciente utilizando as lentes corretoras habituais para perto e o carto de avaliao para perto iluminado de modo adequado, instrua o paciente a segurar o carto de teste na distncia especificada no carto. 2. Pea ao paciente que cubra o olho esquerdo. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 12 3. Peça que o paciente diga cada letra ou leia cada palavra da linha com os menores caracteres legíveis do cartão. 4. Registre o valor da acuidade separadamente para cada olho na ficha do paciente de acordo com o método de anotação aceito (veja exemplo abaixo). 5. Repita o procedimento com o olho direito coberto e o olho esquerdo vendo o cartão. 6. Repita o procedimento com ambos os olhos vendo o cartão de teste. 7. Registre a acuidade binocular avaliada (veja exemplo abaixo). Teste de confrontação dos campos. Os testes vistos anteriormente, servem para avaliar a visão central. Devemos, contudo, avaliar a visão periférica, que é comumente acometida pelo glaucoma, pelas doenças de quiasma e radiações ópticas. Para isso, devemos lançar mão do exame conhecido como confrontação de campos visuais. A realização do teste é feito por meio do seguinte protocolo: 1. Sente o paciente e tenha certeza que o olho não testado está coberto. 2. Sente-se de frente para o paciente a uma distância de 1 m. Feche seu olho que está diretamente oposto ao olho fechado do paciente. 3. Peça ao paciente que ele fixe a visão em seu nariz ou em seu olho aberto. 4. A checagem para escotomas se dá pela contagem dos dedos. Para isso, deve-se manter suas mãos estacionadas a meio caminho entre você e o paciente em quadrantes opostos a cerca de 30º a partir da fixação central (60 cm a partir de seus eixos mútuos). Rapidamente estenda e retraia um dedo ou dedos de uma das mãos em um quadrante do campo monocular, pedindo que o paciente fale quantos dedos vê. Para evitar confusão, limite o número de dedos a 1, 2 e 5, e mantenha os dedos testando lado a lado no plano frontal. Repita em todos os quadrantes, testando pelo menos duas vezes por quadrante. TESTES PARA DOENÇAS DO NERVO ÓPTICO Grosseiramente, o nervo óptico pode ser testado comparando-se cores de objetos entre cada olho: a mudança de tonalidade ou intensidade da cor de acordo com o olho avaliado sugere lesões como edemas de N. óptico, processo inflamatório de fundo de olho, neurite óptica, etc. Outros testes podem ser mais precisos, mesmo sendo simples. Teste de Amsler. A tela de Amsler consiste em uma tabela quadriculada com um ponto no centro. O teste serve para testar a mácula lútea e a visão central. Na vigência de qualquer afecção nesta região (edema de mácula, retinopatia diabética, etc.) o paciente irá referir a presença de manchas ou descontinuidades na tabela. A realização do teste da tela de Amsler segue o seguinte protocolo: 1. Preparação do teste: com o paciente utilizando seus óculos de leitura apropriados ou lentes de teste de correção para perto, peça que ele segure a tela de teste perpendicularmente à linha da visão, a aproximadamente 36 cm do olho. 2. Procura por escotomas: Peça ao paciente que fixe constantemente no ponto central da tela. Pergunte ao paciente se todas as linhas estão retas e se todas as interseções são perpendiculares e se existe qualquer área da grade que pareça destorcida ou que não seja visível. 3. Faça um diafragma do resultado do teste: peça ao paciente que trace a área da distorção ou perda visual no bloco com a grade de Amsler pré-impressa. Tenha a certeza de anotar o nome do paciente, o olho testado e a data do exame na tabela de registro. Teste ambos os olhos e registre todos os resultados, anormais ou não. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 13 TESTE DOS REFLEXOS PUPILARES Os reflexos pupilares nos fornecem informações sobre a integridade dos nervos ópticos e oculomotor, além das vias centrais que integram estes reflexos. Para a realização deste teste, faz-se necessário o uso de uma lanterna. Os reflexos pupilares são: fotomotor direto e consensual. Reflexo fotomotor direto: quando um olho é estimulado com um feixe de luz, a pupila deste olho contrai-se em virtude do seguinte mecanismo: o impulso nervoso originado na retina é conduzido pelo nervo óptico, quiasma óptico e tracto óptico, chegando ao corpo geniculado lateral. Entretanto, ao contrário das fibras relacionadas com a visão, as fibras ligadas ao reflexo fotomotor não fazem sinapse no corpo geniculado lateral, mas ganham o braço do colículo superior, terminando em neurônios da área pré-tectal. Daí, saem fibras que terminam fazendo sinapse com os neurônios do núcleo de Edinger-Westphal (dos dois lados). Deste núcleo saem fibras pré-ganglionares que pelo III par vão ao gânglio ciliar, de onde saem fibras pós-ganglionares que terminam no musculo esfíncter da pupila, determinando sua contração Reflexo consensual: pesquisa-se este reflexo estimulando-se a retina de um olho com um jato de luz e observando a contração da pupila do outro olho, verificando assim a integridade dos cruzamentos das fibras ópticas no quiasma e na comissura posterior. O impulso cruza o plano mediano por meio dessas estruturas, neste caso, da área pré-tectal de um lado, cruzando para o núcleo de Edinger-Westphal do lado oposto. A realização do reflexo fotomotor deve se basear no seguinte protocolo: 1. Sob iluminação fraca, peça ao paciente para manter a fixação em um alvo distante, como uma grande letra na tabela de acuidade de Snellen. 2. Ilumine com uma lanterna diretamente o olho direito, aproximando-se pelo lado e por baixo. Não se posicione na frente do paciente ou permita que ele olhe diretamente para luz, o que poderia estimular o reflexo para perto e não permitir um teste preciso do reflexo fotomotor. 3. Registre o reflexo fotomotor direito no olho direito em termos de intensidade (velocidade e efetividade da miose provocada) da resposta, graduada do 0, indicando ausência de resposta, até 4+, indicando uma resposta rápida e intensa. 4. Repita as etapas 1 a 3 no olho esquerdo. 5. Repita as etapas 1 e 2 no olho direito, observando o reflexo consensual avaliando a resposta à luz da pupila não iluminada (esquerda). A rapidez da resposta e da alteração do diâmetro normalmente deve ser equivalente a o observado no reflexo fotomotor direito e é graduada na mesma escala numérica. 6. Repita as etapas 1, 2 e 5 no olho esquerdo. A realização do reflexo consensual segue o seguinte protocolo: 1. Na penumbra, com o paciente mantendo a fixação em um alvo distante, ilumine diretamente o olho direito do paciente, de modo idêntico utilizado no teste do reflexo fotomotor (figura 1A). Observe a constrição pupilar em ambos os olhos. 2. Mova o feixe de luz imediatamente e rapidamente sobre a ponte do nariz do paciente para o olho esquerdo, observando a resposta deste olho. Normalmente, a pupila se contrai levemente ou permanece com seu tamanho anterior (figura 1B). Se, em vez disto, a pupila se dilata sob iluminação (i.e., o reflexo luminoso direito é mais fraco do que o reflexo consensual), um defeito pupilar aferente relativo está presente, o que geralmente indica distúrbio do nervo óptico ou uma severa patologia retiniana (figura 1C). 3. Rapidamente, mova a luz de volta ao olho direito e avalie a resposta. Uma resposta normal novamente é uma leve constrição ou nenhuma mudança de tamanho. Uma dilatação simultânea representa uma resposta anormal. 4. Repita as etapas 1 a 3 de modo rítmico, gastando intervalos de tempo iguais para iluminar cada pupila, até que esteja claro se as respostas pupilas são normais ou se uma pupila se dilata consistentemente. 5. Registre um defeito pupilar aferente relativo (DPAR) como 1+ a 4+, com 1+ indicando um defeito aferente leve e 4+ indicando uma pupila amaurótica, um defeito grave no qual o olho afetado não demonstra uma resposta direta à luz. Filtros de densidade neutra podem ser utilizados para uma quantificação mais precisa. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 14 Os achados e a interpretação do teste estão sintetizados na tabela a seguir: TESTES DE ALINHAMENTO OCULAR Os testes de alinhamento ocular servem para testar a integridade dos músculos extrínsecos do olho, inervados pelos seguintes nervos cranianos: Oculomotor (III par); Troclear (IV par); Abducente (VI par). O desvio de um olho com relação ao outro indica paralisia de algum deste nervo ou afecção muscular. Para a realização do teste, pode-se fazer uso de uma lanterna e pedir para o paciente que foque o olhar na mesma. Se houver um discreto desvio do olho, o reflexo do feixe luminoso na córnea do paciente estará localizado em uma região diferente entre os olhos (ver figura ao lado), quando normalmente, deveriam apresentar localização simétrica. Pedir ao paciente que siga, com os olhos, os movimentos do dedo do examinador (ao longo das seis posições cardinais) pode ser um bom exame para avaliar estrabismo. Deve-se observar ainda a presença de qualquer nistagmo, sendo necessário registrá-lo de acordo com sua presença, direção e amplitude em qualquer campo. INSPEÇÃO EXTERNA DO OLHO Por meio da inspeção externa do olho, incluindo a visualização das pálpebras internamente, podemos diagnosticar eventos como hordéolo, pterígeo, hemorragia subconjuntival, etc. O biomicroscopio (ou lâmpada de fenda) é um aparelho utilizado no ambulatório de oftalmologia utilizado para este fim: a inspeção mais detalhada da superfície ocular. Este aparelho consiste em um microscópio acoplado a uma fonte de luz, que permite ao examinador investigar patologias no segmento anterior e posterior do olho (para isto, deve- se utilizar uma lente acessória específica). Com este aparelho, pode-se testar inclusive os reflexos pupilares. Existem ainda lentes acessórias que facilitam o estudo do ângulo do segmento anterior do olho, importante para o estudo do glaucoma, do ceratocone, etc. É importante, durante a inspeção, utilizar a fluoresceína, corante que infiltra mesmo as pequenas soluções de continuidade no epitélio ocular. A tonometria consiste em um outro exame também realizado a propósito da clínica oftalmológica, sendo importante por medir a pressão intraocular. Depois de realizada a anestesia ocular, aplica-se sobre a córnea um aparelho com um cone em sua extremidade, no intuito de aplanar a córnea. Quando a córnea estiver plana, dois semi-círculos mostrados pelo aparelho (mira) entrarão em contato (ver figura ao lado). De acordo com a força que foi aplicada pelo examinador para planificar a córnea, infere-se a pressão intraocular. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Correia – OFTALMOLOGIA – MEDICINA P6 – 2010.1 15 OFTALMOSCOPIA DIRETA Embora seja um exame limitado, deve ser utilizado para triagem de pacientes. Diz-se que é limitado porque a visão fornecida pelo aparelho é restrita, mostrando apenas pequenas estruturas do pólo posterior do globo ocular, sem que possamos comparar uma com a outra em um mesmo campo de visão. Além disso, não há uma noção de profundidade, o que dificulta o diagnóstico de edema, de escavação aumentada de nervo óptico, etc. Para avaliação do fundo do olho com oftalmoscópio direto, devemos seguir o seguinte protocolo: 1. Ache o disco óptico seguindo um vaso sanguíneo da retina. As setas formadas pelas bifurcações vasculares apontam para o disco óptico. Dependendo da refração do paciente, todo o disco ou somente uma porção dele será visível em cada movimento de observação. 2. Examine a retina peripapilar. Use um filtro de absorção para examinar os defeitos na camada das fibras nervosas que ocorrem no glaucoma e outras neuropatias ópticas. 3. A partir do disco óptico, siga os vasos sanguíneos na direção da periferia de modo a examinar as áreas súpero- nasal, ínfero-nasal, ínfero-temporal e súpero-temporal ao redor do pólo posterior. Note a cor, calibre, bifurcações, cruzamentos e o tapete coriorretiniano ao redor da vasculatura. 4. Use a luz para destacar as alterações refrativas na parede vascular causadas por arteriosclerose, especialmente em pontos de compressão arteriovenular (cruzamentos). 5. Examine a mácula à procura de irregularidades. Use uma fenda para detectar distorções da superfície da retina. Diferenças de nível podem ser vistas como um borramento de uma porção da faixa de luz; com a ausência de esteropsia, a estimativa da convexidade ou concavidade de uma lesão do fundo com a lâmpada de fenda do oftalmoscópio monocular direto é difícil.