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UFMG – Faculdade de Direito Sociologia Jurídica – Profa. Marcella Gomes Grupo: Turma: B Data: 12/11/2012 Capítulo 9: Raça, Etnicidade e Migração Compreendendo a raça e a etnicidade Raça Raça: conjunto de relações sociais que permitem situar os indivíduos e os grupos e determinar vários atributos ou competências com base em aspectos biologicamente fundamentados. Diferenças raciais são entendidas como variações físicas que os membros de uma sociedade definem como socialmente significativas (por exemplo, diferenças de pele são consideradas significativas, ao passo que diferenças na cor dos cabelos não o são). Racialização é o processo pelo qual as interpretações de raça são empregadas na classificação dos indivíduos. Dentro de um sistema racializado, os aspectos da vida cotidiana (emprego, habitação, serviços de saúde, educação) são moldados e constrangidos pelas posições racializadas nesse sistema (racialização das instituições sociais cotidianas). Etnicidade A etnicidade refere-se às práticas e visões culturais de determinada comunidade de pessoas que as distinguem de outras. As principais caracterísicas utilizadas pra distinguir um grupo étnico de outro são: a língua, a história ou linhagem (real ou imaginada), a religião e o modo de se vestir. A etnicidade é primordial para a identidade do indivíduo e do grupo, uma vez que fornece uma linha de continuidade com o passado, sendo mantida viva nas tradicões culturais. A etnicidade é variável e adptável às circunstâncias do ambiente social. Exemplo: os animados desfiles do St. Patrick’s Day, realizados nos Estados Unidos, evidenciam a manunteção dos costumes irlandeses, porém adaptados ao jeito norte-americano. Grupos minoritários Na sociologia, a noção grupos minoritários não é uma distinção meramente numérica, mas sim uma distinção com base na desvantagem desses grupos em relação a população majoritária. Além disso, esses grupos possuem um senso de solidariedade de grupo (reconhecem que juntos formam um grupo) e costumam concentrar-se em certos bairros, cidades ou regiões de um país. Exemplo: às vezes, as mulheres, apesar de constituírem uma maioria numérica, são consideradas como grupo minoritário por serem desfavorecidas em relação aos homens. Preconceito, discriminação e racismo Preconceito O preconceito refre-se a opiniões ou atitudes defendias por membros de um grupo em relação a outro grupo. Os pontos de vistas preconcebidos resistem a mudanças, mesmo diante de novas informações sobre os grupos. Os preconceitos estão, muitas vezes, embasados em estereótipos, em caracterizações fixas e imutáveis de certos grupos, sendo aplicados a grupos étnicos minoritários. Exemplo: a noção de que todos os homens negros possuem naturalmente um porte atlético e a de que todos os orientais são estudantes aplicados e esforçados. Discriminação A discriminação refere-se ao comportamento concreto em relação a um grupo ou indivíduo. Pode ser percebida em atividade que excluem membros de um grupo das oportunidades abertas a outras pessoas. Muitas vezes, a discriminação tem como base o preconceito, porém ela não deriva necessariamente dele. Racismo O conceito de racismo – preconceito baseado em distinções físicas socialmente significativas – está intimamente ligado à noção de “raça”. Ser racista significa acreditar que alguns indivíduos são superiores ou inferores a outros com base em diferenças racializadas. O chamado “racismo biológico” (aquele que se baseia em diferenças quanto a traços físicos, como evidenciado no regime de segregação legalizada nos EUA e no aprtheid na África do Sul ) foi superado por um “novo racismo” (o racismo cultural, que aproveita a ideia das diferenças culturais para excluir certos grupos). Exemplos: políticas restritivas de imigração, que visam a limitar o número de imigrantes não brancos; conflitos na França envolvendo meninas que desejavam usar lenços islâmicos para cobrir a cabeça na escola. A ideia de racismo institucional sugere que o racismo permeia, sistematicamente, todas as estruturas da sociedade. Por essa visão, acredita-se que instituições como a polícia, o serviço de saúde e o sistema educacional promovem políticas que favorecem certos crupos e descriminam outros. Exemplos: tratamento diferenciado (menos respeitoso) pela força policial e justiça criminal em relação aos negros; preconceito contra as modelos não brancas na indústria da moda. Explicando o racismo e a discriminação étnica Interpretações psicológicas O preconceito funciona a partir de um pensamento estereotípico. De vez em quando, os indivíduos utilizam estereótipos e descarregam seus antagonismos em “bodes expiatórios”. Quando dois grupos étnicos carentes concorrem entre si, é comum transformar alguém em bode expiatório. A escolha das pessoas a serem acusadas (de coisas das quais não têm culpa) está normalmente voltada para grupos distintos e relativamente impotentes. Deve haver alguns tipos de pessoas mais propensas ao pensamento estereotípico e à atribuição inconsciente dos próprios desejos e ódios a outras pessoas (fenônomeno chamado de “projeção”). Pesquisas revelam certos padrões autoritários de pensamento nas pessoas que têm atitudes racistas. Interpretações sociológicas Os processos sociais envolvidos na discriminação estão relacionados com três ideias sociológicas: etnocentrismo, fechamendo de grupo e alocação re recursos. O etnocentrismo refere-se à uma desconfiança em relação às pessoas de fora (vistas como estranhos, bárbaros ou moral e mentalmente inferiores), combinada com uma tendência a avaliar a cultura dos outros relacionando-a à sua própria cultura. Normalmente aliado ao etnocentrismo, o fechamento de grupo remete ao processo pelo qual os grupos mantêm fronteiras que os separam dos outros (por exemplo, a proibição do casamento entre os grupos, as restrições ao comércio, as separações físicas – “guetos étnicos”). Quando um grupo étnico ocupa uma posição de poder em relação a outro grupo, há um fechamento de grupo que coincide com a alocação de recursos, que institui desigualdades na distribuição da riqueza e dos bens materiais. Integração étnica e conflito étnico Hoje muitos países tem populações multiétnicas, o que pode ser resultado de legados coloniais e imperiais, de um histórico de mudança de fronteiras, de ocupações por potências estrangeiras, de políticas de encorajamento à migração, entre outros fatores. Aliado a tudo isso, a maior integração da economia global tem acelerado o ritmo da migração internacional. Modelos de integração étnica Tendo em vista a acomodação da diversidade étnica dentro das sociedades, três modelos de integração étnicas foram adotados pelas sociedades multiétnicas. São eles: a assimilação, o melting pot, e o pluralismo. A assimilação trata de pressionar os imigrantes a mudarem suas características – idioma, modo de vestir, estilos de vida, visões culturais – ao ingressarem em uma nova ordem social, em favor das tradições dominantes. Nos EUA, por exemplo, gerações de imigrantes sujeitaram-se a esse modelo de integração étnica. O melting pot propõe que as tradições dos imigrantes sejam misturadas às outras da população preexistente, de modo a formar novos padrões culturais em expansão. São exemplos desse modelo, as formas híbridas de culinária, moda, música e arquitetura. Para o pluralismo cultural, é mais apropriado preservar o desenvolvimento de uma sociedade genuinamente plural, na qual se reconheça a igual validade de suas várias subculturas. Conflito étnico A diversidade étnica pode enriquecer muitos as sociedades, mas também pode ser a causa de antagonismos e hostilidades entre os grupos étnicos. Exemplos: tentativas de limpeza étnica na região dos Balcãs – expulsão de milhares de sérvios da Croácia e o extermínio da população muçulmana na Bósnia pelos sérvios; genocídios na Alemanha de Hitler – 6 milhões de judeus mortos– e em Ruanda – onde o conflito entre os Hutus e os Tutsis gerou mais de 800 mil mortos e 2 milhões de refugiados. Migração global O expansionismo europeu de séculos atrás deu início a um deslocamento das populações em larga escala, o qual formou a base de muitas das sociedades multiétnicas. Movimentos migratórios Aparenta estar num ritmo acelerado, junto com o processo de integração global. Imigração (entrada de pessoas em um país para fixar residência) e emigração (pessoas que deixam um país para residirem em outro). Principais deslocamentos globais pós-1945: modelo clássico: imigração estimulada com promessa de cidadania. Exemplos: EUA, Canadá e Austrália. modelo colonial: favorecer a entrada de imigrantes provenientes de antigas colônias. Exemplos: França e Inglaterra. modelo de trabalhadores visitantes: imigrantes temporários para suprir demandas no mercado de trabalho. Exemplos: Alemanha, Suíça e Bélgica. modelo ilegal: devido ao endurecimento das leis de imigração nos países industrializados, cada vez mais pessoas vivem fora do domínio da sociedade oficial. Exemplo: Latinos nos EUA. Teorias antigas sobre a migração Estão centradas nos fatores de expulsão (guerra, fome, opressão política e pressões da população nos países de origem) e de atração (mercados de trabalhos prósperos, condições de vida melhores e menor densidade populacional nos países de destino). Contudo, esses fatores têm sido bastante criticados, devidos à simplificação excessiva do assunto. Em seu lugar, têm ganhado lugar as interações entre processos de macro (questões essenciais, como situação política, leis e mudanças na economia internacional) e microníveis (recursos, conhecimento e interpretações que as próprias populações migrantes possuem). Stephen Castles e Mark Miller (1993) identificaram quatro tendências dos padrões de migração dos próximos anos: aceleração, diversificação, globalização e feminização. Diásporas globais Diásporas são as dispersões, em áreas estrangeiras, de uma população étnica que provém de uma terra natal, ocorrendo, geralmente, de uma maneira forçada ou sob circunstâncias traumáticas, mantendo entre si, uma história em comum, uma memória coletiva ou uma identidade étnica. Para Robin Cohen (1997), há cinco categorias de diásporas: de vítimas (africanos, judeus e armênios), imperial (britânicos), de mão de obra (indianos), de comércio (chineses) e cultural (caribenhos). A imigração para o Reino Unido Começou com as pessoas oriundas das áreas menos prósperas das Ilhas Britânicas no início do século XIX. Contudo, a industrialização alterou os padrões de migração interna e internacional, trazendo diversas hordas de imigrantes. 1930-1945: centenas de milhares de pessoas buscaram refúgio na Grã-Bretanha. Pós-1945: grande imigração de pessoas oriundas dos países da Commonwealth (Comunidade Britânica de Nações), para suprir a escassez de mão de obra e ajudar na reconstrução do país (British Nationality Act - 1948). Mudanças na política de imigração da Grã-Bretanha A partir de 1960, há uma mudança de pensamento quanto à entrada e permanência dos imigrantes e dos refugiados, sendo editadas diversas normas dificultadoras pelo Governo (Commonwealth Immigrants Act, de 1962, e Asylum and Immigrants Appeals Act, de 1993). Essa legislação dificultou sobremaneira a entrada de não-brancos na Grã-Bretanha. A diversidade étnica no Reino Unido Devido à atual e rígida legislação de imigração, houve uma mudança na estrutura etária dos grupos étnicos minoritários no Reino Unido, visto que a probabilidade que as crianças destes grupos tenham nascido no próprio Reino Unido aumentou sobremaneira. Tendências dos padrões ocupacionais de minorias étnicas desde 1960 Concentração de imigrantes (mesmo aqueles qualificados) em ocupações manuais dentro de um pequeno número de indústrias. Descobertas recentes Enquanto as minorias étnicas continuam a sofrer uma desvantagem em termos de salários, processos discriminatórios de contratação e altos índices de desemprego, a população britânica não-branca é heterogênea e alguns grupos étnicos encontram maior sucesso em suas ocupações (por exemplo, os indianos). Racismo policial Estudos sociológicos comprovam atitudes racistas entre os policiais, sendo relativamente hostis em relações a todos os grupos minoritários. As minorias étnicas são as que mais necessitam da proteção da polícia e do sistema de justiça criminal, já que a probabilidade de que venham a ser vítimas de crimes é maior do que a dos brancos; porém, há indícios de que as políticas de aplicação da lei parecem ter um cunho racial que elege não-brancos como alvos. A imigração e as relações étnicas no continente A migração de mão de obra para a Europa Ocidental diminui nas últimas duas décadas devido às crises econômicas. Contudo, desde a dissolução da União Soviética, a Europa foi marcada pela nova migração (abertura das fronteiras entre o Leste e o Oeste e a guerra e o conflito étnico na antiga Iugoslávia, que gerou cerca de 5 milhões de refugiados). Devido à livre circulação de mercadorias, capital e empregados, os países da União Europeia têm concentrado suas ações de fiscalização de movimentos migratórios nas fronteiras com países não pertencentes ao grupo. � PAGE \* MERGEFORMAT �1� � PAGE \* MERGEFORMAT �8�