Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
4 Para Marx, o homem é, primeiramente, um ser vivo. Como tal, precisa retirar da natureza os elementos necessários à sua existência, o que faz interagindo com ela. Tanto quanto os animais, o homem padece dessa limitação, tendo que buscar fora dele os objetos de satisfação de suas carências, e isso continuamente! Com efeito, todos os seres vivos desenvolvem alguma forma de interação com o meio, sob pena de fenecerem. Temos aí, pois, na atividade vital, um critério de diferenciação entre as várias espécies vivas, o que leva Marx a afirmar seguramente que no “tipo de atividade vital reside todo o caráter de uma espécie”. (1987, p. 164). Essa atividade vital o homem a resolve de maneira específica em relação aos outros animais. Isso se dá na medida em que a natureza, o meio inorgânico do qual extrai continuamente as substâncias necessárias para sua permanência, afronta-lhe como uma objetividade. Ele mesmo, o homem, existindo naturalmente, é também um ser objetivo. Como diz Marx: O animal é imediatamente um com a sua atividade. Não se distingue dela. É ela. O homem faz da sua atividade vital mesma o objeto da sua vontade e da sua consciência. Ele tem atividade vital consciente. (...) A atividade vital consciente distingue o homem imediatamente da atividade vital animal. Justamente, [e] só por isso, ele é um ser genérico. (...) Eis porque a sua atividade é atividade livre. (2004, p. 84). Esta “atividade vital consciente”, sabemos, é o trabalho. Este, por sua vez, constitui-se como um complexo mediador entre o sujeito que põe uma teleologia, um dever ser a se realizar5, e a natureza, a causalidade dada sobre cuja objetividade recai este pôr consciente, subjetivo, transformando-a numa causalidade posta. Esta transformação da natureza operada pelo homem é, ao mesmo tempo, a sua própria transformação, sua humanização. “O primeiro pressuposto de toda história humana”, diz Marx (1987, p. 27), “é naturalmente a existência de indivíduos humanos vivos”. Assim sendo, “o primeiro ato histórico é, portanto, [...] a produção da própria vida material”. Por certo, a processualidade histórica que marca a autoconstrução do homem (indivíduo/sociedade) tem no trabalho uma centralidade dinâmica, visto que o mesmo se lança continuamente para além de si mesmo, no sentido de que sua objetivação se materializa em objetos e práticas que se difundem e se generalizam, criando, além disso, necessidades outras, ad infinitum. Por assim dizer, no trabalho “estão gravadas in nuce todas as determinações que [...] constituem a essência de tudo que é novo no ser social. Deste modo, o trabalho 5 Em Lukács, aquilo que não se realiza tem uma objetividade, mas não uma objetividade realizada. A realização é a exteriorização dos atos teleológicos, a materialização daquilo que foi pensando, antecipado idealmente na consciência; planejar, pois, não é o mesmo que realizar o plano. Cf. Lukács (1981, p. 46).