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4_ A TEORIA DA CRISE E A PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO EM DAVID HARVEY

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Enviado por Mauricio Aquilante Policarpo em

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Para Marx, o homem é, primeiramente, um ser vivo. Como tal, precisa retirar da 
natureza os elementos necessários à sua existência, o que faz interagindo com ela. Tanto 
quanto os animais, o homem padece dessa limitação, tendo que buscar fora dele os 
objetos de satisfação de suas carências, e isso continuamente! Com efeito, todos os seres 
vivos desenvolvem alguma forma de interação com o meio, sob pena de fenecerem. 
Temos aí, pois, na atividade vital, um critério de diferenciação entre as várias espécies 
vivas, o que leva Marx a afirmar seguramente que no “tipo de atividade vital reside todo 
o caráter de uma espécie”. (1987, p. 164). 
Essa atividade vital o homem a resolve de maneira específica em relação aos 
outros animais. Isso se dá na medida em que a natureza, o meio inorgânico do qual 
extrai continuamente as substâncias necessárias para sua permanência, afronta-lhe como 
uma objetividade. Ele mesmo, o homem, existindo naturalmente, é também um ser 
objetivo. Como diz Marx: 
O animal é imediatamente um com a sua atividade. Não se distingue dela. É ela. 
O homem faz da sua atividade vital mesma o objeto da sua vontade e da sua 
consciência. Ele tem atividade vital consciente. (...) A atividade vital consciente 
distingue o homem imediatamente da atividade vital animal. Justamente, [e] só 
por isso, ele é um ser genérico. (...) Eis porque a sua atividade é atividade livre. 
(2004, p. 84). 
 Esta “atividade vital consciente”, sabemos, é o trabalho. Este, por sua vez, 
constitui-se como um complexo mediador entre o sujeito que põe uma teleologia, um 
dever ser a se realizar5, e a natureza, a causalidade dada sobre cuja objetividade recai 
este pôr consciente, subjetivo, transformando-a numa causalidade posta. Esta 
transformação da natureza operada pelo homem é, ao mesmo tempo, a sua própria 
transformação, sua humanização. 
“O primeiro pressuposto de toda história humana”, diz Marx (1987, p. 27), “é 
naturalmente a existência de indivíduos humanos vivos”. Assim sendo, “o primeiro ato 
histórico é, portanto, [...] a produção da própria vida material”. Por certo, a 
processualidade histórica que marca a autoconstrução do homem (indivíduo/sociedade) 
tem no trabalho uma centralidade dinâmica, visto que o mesmo se lança continuamente 
para além de si mesmo, no sentido de que sua objetivação se materializa em objetos e 
práticas que se difundem e se generalizam, criando, além disso, necessidades outras, ad 
infinitum. Por assim dizer, no trabalho “estão gravadas in nuce todas as determinações 
que [...] constituem a essência de tudo que é novo no ser social. Deste modo, o trabalho 
 
5 Em Lukács, aquilo que não se realiza tem uma objetividade, mas não uma objetividade realizada. A 
realização é a exteriorização dos atos teleológicos, a materialização daquilo que foi pensando, antecipado 
idealmente na consciência; planejar, pois, não é o mesmo que realizar o plano. Cf. Lukács (1981, p. 46).

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