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7 O fenômeno da autonomização do capital sobre o mundo dos homens, cuja realização como finalidade em si atinge hoje conseqüências destrutivas nos seus limites absolutos7, impõe sobre o trabalho a estranha necessidade de produção de valor. Em que consiste, pois, a contradição que pretendemos desvelar? Veja: o trabalho, cerne onto-genético da investigação marxiana, aparece sempre historicamente determinado, constituindo uma formação social determinada. Ainda assim, é-nos possível apreendê-lo em seus elementos “simples”, ou como diz Marx o processo de trabalho, como o apresentamos em seus elementos simples e abstratos, é atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação do natural para satisfazer a necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o homem e a Natureza, condição natural eterna da vida humana e, portanto, independente de qualquer forma dessa vida, sendo antes igualmente comum a todas as suas formas sociais. (1983, p.149-50, grifos meus). Daí que, ao responder à “condição natural eterna da vida humana”, produzindo valores de uso, numa determinada formação social o trabalho produz também valor – uma medida de equivalência do trabalho socialmente necessário que aparece nos atos de troca. Essa dupla natureza do trabalho – produtor de valor de uso e de valor (de troca) – constitui, como dissemos, a contradição de fundo da sociabilidade mercantil- capitalista. Essa contradição, porém, tende ao antagonismo e, com tal, deve encontrar uma forma na qual seja possível, não se suprimir a si mesma, mas apenas se desenvolver, deslocando sua contradição imanente no tempo e no espaço – e isso se dá sob a forma-mercadoria. Na sociabilidade mercantil, o trabalho social total está dividido entre produtores individuais, e a socialização (bem como a igualação e distribuição) destes trabalhos só é possível mediante a troca, efetuada a partir da equivalência do quantum de trabalho socialmente necessário materializado nos produtos desta atividade. Este quantum constitui o valor da mercadoria, que em seu corpo traz, além disso, um valor de uso. Tendo na troca dos produtos o médium de socialização dos trabalhos privados, as relações sociais na sociabilidade mercantil “aparecem (...) como o que são, isto é, não como relações diretamente sociais entre pessoas e seus próprios trabalhos, senão como relações reificadas entre pessoas e relações sociais entre as coisas.” (Marx, 1985, p. 71). A essa inversão, em que os produtos do trabalho parecem adquirir uma naturalidade 7 A obsolescência progressiva (ou programada) do valor de uso das mercadorias atua em nossos dias como eficiente mecanismo indutor de demanda artificial. Este artifício corresponde, não sem efeitos graves, à natureza ilimitada da expansão do capital, e lhe permite transpor os limites estreitos da circulação endereçada ao atendimento das necessidades propriamente humanas. Este padrão de acumulação, fundado na progressão destrutiva, tem diversamente na indústria do consumo descartável e no complexo militar-industrial suas formas mais desenvolvidas. Cf. Mészáros (2002).