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7_ A TEORIA DA CRISE E A PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO EM DAVID HARVEY

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Enviado por Mauricio Aquilante Policarpo em

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O fenômeno da autonomização do capital sobre o mundo dos homens, cuja 
realização como finalidade em si atinge hoje conseqüências destrutivas nos seus limites 
absolutos7, impõe sobre o trabalho a estranha necessidade de produção de valor. 
Em que consiste, pois, a contradição que pretendemos desvelar? Veja: o 
trabalho, cerne onto-genético da investigação marxiana, aparece sempre historicamente 
determinado, constituindo uma formação social determinada. Ainda assim, é-nos 
possível apreendê-lo em seus elementos “simples”, ou como diz Marx 
o processo de trabalho, como o apresentamos em seus elementos simples e 
abstratos, é atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, 
apropriação do natural para satisfazer a necessidades humanas, condição 
universal do metabolismo entre o homem e a Natureza, condição natural 
eterna da vida humana e, portanto, independente de qualquer forma dessa 
vida, sendo antes igualmente comum a todas as suas formas sociais. (1983, 
p.149-50, grifos meus). 
 Daí que, ao responder à “condição natural eterna da vida humana”, produzindo 
valores de uso, numa determinada formação social o trabalho produz também valor – 
uma medida de equivalência do trabalho socialmente necessário que aparece nos atos 
de troca. Essa dupla natureza do trabalho – produtor de valor de uso e de valor (de 
troca) – constitui, como dissemos, a contradição de fundo da sociabilidade mercantil-
capitalista. Essa contradição, porém, tende ao antagonismo e, com tal, deve encontrar 
uma forma na qual seja possível, não se suprimir a si mesma, mas apenas se 
desenvolver, deslocando sua contradição imanente no tempo e no espaço – e isso se dá 
sob a forma-mercadoria. 
 Na sociabilidade mercantil, o trabalho social total está dividido entre produtores 
individuais, e a socialização (bem como a igualação e distribuição) destes trabalhos só 
é possível mediante a troca, efetuada a partir da equivalência do quantum de trabalho 
socialmente necessário materializado nos produtos desta atividade. Este quantum 
constitui o valor da mercadoria, que em seu corpo traz, além disso, um valor de uso. 
Tendo na troca dos produtos o médium de socialização dos trabalhos privados, as 
relações sociais na sociabilidade mercantil “aparecem (...) como o que são, isto é, não 
como relações diretamente sociais entre pessoas e seus próprios trabalhos, senão como 
relações reificadas entre pessoas e relações sociais entre as coisas.” (Marx, 1985, p. 71). 
A essa inversão, em que os produtos do trabalho parecem adquirir uma naturalidade 
 
7 A obsolescência progressiva (ou programada) do valor de uso das mercadorias atua em nossos dias 
como eficiente mecanismo indutor de demanda artificial. Este artifício corresponde, não sem efeitos 
graves, à natureza ilimitada da expansão do capital, e lhe permite transpor os limites estreitos da 
circulação endereçada ao atendimento das necessidades propriamente humanas. Este padrão de 
acumulação, fundado na progressão destrutiva, tem diversamente na indústria do consumo descartável e 
no complexo militar-industrial suas formas mais desenvolvidas. Cf. Mészáros (2002).

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