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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE UNI-BH 
 
 
 
SILAS DO CARMO DELFINO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O ESTUDO DA RELIGIÃO NAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2010 
 
 
 
SILAS DO CARMO DELFINO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O ESTUDO DA RELIGIÃO NAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Centro Universitário de 
Belo Horizonte, curso de Relações Internacionais, 
como parte dos requisitos para obtenção do título 
de Bacharel em Relações Internacionais. 
 
 
Orientador: Prof. Leonardo César Souza Ramos 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho é dedicado a quem tanto amo: meus pais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Minha gratidão ao Prof. Leonardo César Souza Ramos, sem 
seu apoio este trabalho não seria possível. A meus familiares e 
amigos, pela confiança, apoio, e incentivo durante a elaboração 
deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Louvai ao Senhor! 
 
 
 
RESUMO 
 
 
A religião possui uma dimensão na afirmação dos valores e crenças capaz de 
mobilizar e legitimar a ação por parte daqueles que a praticam. No mundo 
contemporâneo a religião transnacional apresenta alguns desafios que começam a 
ser percebidos nas relações internacionais pelas características que possui. A 
globalização é um dos facilitadores da religião transnacional que através de sua 
ideologia reflexiona regras e valores da sociedade internacional. O fundamentalismo 
religioso é um exemplo da não aceitação destas regras e valores de um modo 
extremo. Assim a analise de temas do estudo da religião nas relações internacionais 
é fundamental para compreensão do modo como a ideologia religiosa é capaz de 
influenciar as relações internacionais. 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
Religion has a dimension in the statement of values and beliefs can mobilize and 
legitimize action by those who practice it. In today's world transnational religion has 
some challenges that are beginning to be felt in international relations by the 
characteristics it possesses. Globalization is one of the facilitators of transnational 
religion through its ideology reflexionates rules and values of international society. 
Religious fundamentalism is an example of non-acceptance of these rules and 
values of an extreme way. Religious fundamentalism is an extreme example of these 
rules on thinking and values. Thus the analysis of issues of the study of religion in 
international relations is fundamental to understand how religious ideology can 
influence international relations. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
Durante a história da humanidade a religião sempre foi compreendida como uma 
forma complexa de organização social ao redor de ritos, símbolos, e crenças, e que 
tem por interesse a construção da experiência graças ao efeito de consagração, 
assumindo uma “[...] função ideológica, função prática e política de absolutização do 
relativo e de legitimação do arbitrário, que só poderá cumprir na medida em que 
possa suprir uma função lógica e gnosiológica [...]”. (Bourdieu, 1998, p.46). Consiste 
no aumento de força material ou simbólica, a garantia de um estilo de vida próprio 
de um grupo ou classe na estrutura social, por meio da “produção, reprodução, 
difusão, e consumo de um tipo determinado de bens de salvação”. (Bourdieu, 1998, 
p. 48). 
 
Com a globalização a religião não perdeu seu sentido, entretanto incorporou a sua 
organização elementos novos, provenientes do estágio em que a historia se 
encontra. Observa-se a presença de formas sofisticadas nas tradições religiosas, o 
que constitui na utilização dos meios disponíveis para a propagação da mensagem 
religiosa. Na contemporaneidade a religião incorporou-se ao desenvolvimento 
tirando proveito do mesmo para consecução de seu interesse maior no tocante a 
sociologia que consiste no reforço do poder de “legitimação do arbitrário”, da 
“legitimação da força material e simbólica capaz de ser mobilizada por uma classe 
ou grupo”. (Bourdieu, 1998, p. 48). 
 
Deste modo, a religião é capaz de estabelecer redes de comunicação e atuar de 
forma territorial irrestrita. Segundo Scott Thomas, “A globalização [...] tem 
contribuído para a consolidação e formação de grupos religiosos transnacionais 
[...]1”. (Thomas, 2000, p. 6). Os lugares territoriais sagrados para cada tradição 
continuam os mesmos, contudo a religião locomove-se através das fronteiras 
levando consigo sua ideologia capaz de reafirmar ou reflexionar determinados 
padrões de valores, normas, e discursos institucionalizados anteriormente. 
 
 
1 “Globalization [...] has contributed to the formation and consolidation of transnational religious groups [...]”. (Tradução nossa). 
 
 
2
 
A religião transnacional apresenta alguns desafios que começaram a ser percebidos 
nas relações internacionais pelas características que possui: Primeiro, a inexistência 
de barreiras à expansão da religião transnacional. Segundo, a influência sobre os 
ideais e valores que determina as escolhas dos indivíduos. Terceiro, a interferência 
nas decisões políticas. 
 
Pensar alguns temas da religião que tenham alguma relação com as relações 
internacionais pós-guerra fria é fundamentalmente necessário, mesmo diante da 
compreensão que as relações internacionais possuem objeto de estudo próprio e 
obedece à determinada epistemologia dentro das ciências sociais. Ainda que o 
objetivo maior não consista em esgotar tais temas, mas compreender a importância 
dos mesmos nas relações internacionais. 
 
Dentre os muitos temas do estudo da religião nas relações internacionais, o 
fundamentalismo religioso nas relações internacionais consiste em um dos temas de 
muita importância para os estudos em questão, principalmente, neste inicio de 
século, pois a religião como força capaz de instituir ideais de compreensão do 
mundo na sua totalidade é instrumentalizada para a organização da ação material 
sem a possibilidade do dialogo entre as partes envolvidas. O principio da diplomacia 
e da negociação não são reconhecidos, e a visão de mundo instituída através do 
texto considerado sagrado pela tradição religiosa é que prevalece. 
 
2. RELIGIÃO E GLOBALIZAÇÃO 
 
 
O processo de globalização como fenômeno da ordem mundial pós-guerra fria está 
atrelado a diversos aspectos cujas dimensões podem ser as mais variadas. A 
financeira, o volume e a velocidade com que os recursos transitam, e interagem com 
as economias nacionais. A comercial, com o aumento da demanda por bens e 
serviços em todos os países. A de produção, que consiste na convergência das 
características do processo de produção. A institucional, a semelhança crescente 
dos sistemas nacionais e de suas regulações. A da política econômica, que carrega 
consigo a redução dos atributos de soberania diante do crescente condicionamento 
 
 
3
externo. (Baumann, 1996). É verdade que a não muito tempo atrás era impossível 
pensar que tal dinâmica poderia
afetar as mais diversas áreas da sociedade. Em 
especial a de sua relação com a divindade. 
 
Esse processo globalização que objetivava ocasionar mudanças estruturais sobre 
tudo nas áreas econômica e política alcançou as demais áreas das relações 
humanas, e conseqüentemente a cultura, ocorreram resistências, como no caso 
francês em relação à preservação de seu idioma. 
 
Mesmo que as observações de resistência sejam pontuais, não generalizáveis, e de 
caráter especifico em cada manifestação, o que se observou foi que amplamente e 
principalmente na sociedade ocidental o fenômeno da globalização prevaleceu. 
 
O século passado foi marcado por grandes mudanças e transformações nas mais 
diversas áreas de conhecimento. Nunca havia se experimentado tamanho volume 
de descobertas capazes de possibilitar a solução de problemas nas diversas 
instâncias da vida humana. A superação dos desafios se fez evidente através dos 
avanços na medicina, nos processos produtivos, e nas telecomunicações. 
 
Entretanto, as catástrofes naturais, e as proporcionadas pela ação do homem não 
desapareceram. As duas guerras mundiais, o conflito ideológico leste versus oeste, 
e os diversos conflitos políticos, étnicos, e religiosos que eclodiram nas mais 
variadas partes do mundo são o esboço da fragilidade humana. Uma vez que, essa 
mesma abertura a possibilidades distintas carrega consigo fragilidades advindas da 
ausência de controle total sobre os fenômenos da natureza. Deveras, o século XX 
está caracterizado por aquilo que o historiador Eric Hobsbawm chamou de “A era 
dos extremos”. (Hobsbawm, 2001). 
 
A partir do inicio da década de 90 com o término da guerra fria, proporcionada pelo 
conflito ideológico capitalismo versus socialismo, entre as potências EUA e URSS, e 
seus respectivos aliados, foi estabelecida uma nova ordem internacional com o 
reordenamento do sistema internacional de Estados através da ampliação de 
acordos e alianças políticas, militares, e econômicas, com o objetivo de uma 
redefinição quanto às respectivas áreas de influencia dos principais atores do 
 
 
4
sistema internacional. A reestruturação das instituições e mecanismos de regulação 
e de manutenção da economia política internacional como o Banco Mundial e o 
Fundo Monetário Internacional. 
 
Sobre o reordenamento da ordem mundial Samuel Huntington destaca: 
 
[...] a possibilidade eminente de conflitos gerados pelo fim da guerra fria, e 
prevê um mundo de divergências mais profundas do que aquelas baseadas 
em conflitos Ideológicos, que seriam substituídos pelas disputas 
civilizacionais, orientadas segundo linhas culturais, étnicas e religiosas. 
(Huntington, 1997). 
 
Assim, as duas últimas décadas do século anterior destacaram-se pelo crescente 
processo de globalização: “o fenômeno correspondente à soma de fluxos 
transnacional presentes na vida, e no cotidiano das pessoas que levam à crise do 
Estado-nação, cujo universalismo e soberania são questionados”. (Amado, 2001). E 
que segundo Gilles Breton a globalização é entendida como: “a redefinição dos 
parâmetros que organizam no espaço e no tempo a vida social, política, econômica 
e cultural”. (Breton,1994). 
 
Deste modo, a globalização consiste na perfeita inflexão do tempo e do espaço, as 
fronteiras nacionais tornam-se permeáveis, as identidades são cobertas em 
detrimento da edificação da pirâmide faraônica da aldeia global. Os cidadãos são 
cidadãos do mundo, e por perceberem-se deste modo revogam direitos sobre todas 
as democracias. Os atores religiosos organizados reivindicam mudanças na conduta 
intra e extra-estatal sobre a problemática pós modernidade. O elemento 
transnacional é evidenciado na formação de redes e fluxos de ordem financeira, de 
informação, de pessoas, culturais, e religiosa. 
 
Percebe-se que em meio a esse processo de globalização, a religião apresenta 
grande vigor, ela está atrelada a um modo globalizante, não se restringe aos limites 
étnicos geográficos, ou de aspecto apenas cultural. Constitui-se um elemento que 
transcende a fronteira dos Estados. É dinâmica e está presente na velocidade dos 
fluxos de comunicação. 
 
3. RELIGIÃO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
 
 
5
 
 
A principal importância do estudo da religião nas relações internacionais é relevante 
pelo fato de a religião ser o fenômeno social mais antigo do mundo, e 
conseqüentemente pelo fato de que a religião não se desvencilha do poder político 
ao cumprir funções sociais. (Bourdieu, 1998, p. 47). 
 
Se a religião cumpre funções sociais, tornando-se, portanto passível de 
analise sociológica, tal se deve ao fato de que os leigos não esperam da 
religião apenas justificações de existir capazes de livrá-los da angústia 
existencial da contingência e da solidão, da miséria biológica, da doença, 
do sofrimento ou da morte. Contam com ela para que lhes forneça 
justificações de existir em uma posição social determinada , em suma, de 
existir como de fato existem, ou seja, com todas as propriedades que lhes 
são socialmente inerentes. (Bourdieu, 1998, p. 48). 
 
O estudo da religião nas relações internacionais é propício na medida em que esta 
cumpre funções externas, pois as funções internas estariam ligadas às questões 
pessoais, ou seja, privadas. Aquilo que o conjunto de acordos que instituíram o 
sistema internacional moderno inaugurou por meio da separação entre o Estado e a 
Ordem Religiosa, separação entre o poder dos homens e o poder da divindade. As 
funções internas as quais a religião cumpre são de ordem moral do indivíduo e do 
grupo, na sua relação com a divindade impalpável. Já as funções externas 
relacionadas à materialidade, e as condições sociais que o individuo ou grupo estão 
inseridos. Assim como nas funções internas existe a necessidade do preenchimento 
das condições psicológicas, morais e éticas, nas funções externas existe a 
necessidade do preenchimento das condições sociais, portanto materiais. Isso 
ocorre devido à impossibilidade do pleno cumprimento das funções internas, na 
indisponibilidade de um modelo exemplar, ou de qualidade de condições materiais 
de existência. (Bourdieu, 1998, p. 49). Daí a importância do estudo da religião nas 
relações internacionais no mundo contemporâneo. 
 
A religião por meio da manutenção da ordem simbólica contribui para o reforço 
simbólico das divisões da ordem política, por meio da naturalização um processo em 
que através da permanente inculcação de pensamento e da eficácia simbólica dos 
símbolos religiosos legitimam de maneira suprema tais estruturas políticas. 
 
 
 
6
A estrutura das relações entre o campo religioso e o campo do poder 
comanda, em cada conjuntura, a configuração da estrutura das relações 
constitutivas do campo religioso que cumpre uma função externa de 
legitimação da ordem estabelecida na medida em que a manutenção da 
ordem simbólica contribui diretamente para a manutenção da ordem 
política, ao passo que subversão simbólica da ordem simbólica só 
consegue afetar a ordem política quando se faz acompanhar por uma 
subversão política desta ordem. (Bourdieu, 1998, p. 69). 
 
A manutenção desta ordem simbólica hierarquizada tende a refletir a ordem cósmica 
estabelecida por Deus, e deste modo reconhece a existência de privilégios no 
cósmico e no político, assim naturaliza (legitima) todas as relações de ordem. 
Entretanto, a homologia existente entre a religião e o poder político não esta privada 
de tensões e conflitos como observou Bourdieu, pois na medida em que ocorrem os 
desvios, as corrupções, e a administração do poder político se torna contraria ao que 
é considerado natural, o poder religioso reivindica a volta ao que é considerado 
natural. 
 
A relação de homologia que se estabelece entre a posição da Igreja na 
estrutura do campo religioso e a posição das frações dominantes
das 
classes dominantes no campo do poder e na estrutura das relações de 
classes, fazendo com que a Igreja contribua para a conservação da ordem 
política ao contribuir para a conservação da ordem religiosa, não elimina as 
tensões e conflitos entre poder político e poder religioso. (Bourdieu, 1998, 
p. 72). 
 
 
E ainda o fato de que a “revolução política não basta por si mesma para produzir a 
revolução simbólica que é necessária para dar-lhe uma linguagem adequada, 
condição de uma plena realização”. (Bourdieu, 1998, p.77). 
 
Os estudos relacionados à maneira como a religião tem impactado as relações 
internacionais são freqüentes, e as publicações sobre este tema despertado o 
interesse de estudantes, pesquisadores, e profissionais das relações internacionais. 
O livro “Religion in International Relations: The Return from Exile”, “Religião em 
Relações Internacionais: O Retorno do Exílio”, editado por Fabio Petito and Pavlos 
Hatzopoulos em 2003, destaca que a maioria dos pensamentos sobre as relações 
internacionais não considera a religião como relevante dentro do núcleo principal da 
disciplina. Mas, na verdade, as influências religiosas têm sido mais importantes do 
que a maioria das pessoas percebem. Esta coleção de ensaios fornece um exame 
útil de como a religião, particularmente o cristianismo e o islamismo têm afetado a 
 
 
7
política internacional moderna. Alguns autores contestam o argumento que a 
politização da religião consiste em uma ameaça à segurança internacional, e Scott 
Thomas contesta o argumento de que o pluralismo cultural e a religião não podem 
ser conciliados na sociedade internacional moderna. (Petito; Hatzopoulos, 2003). 
 
Em 2005 Scott Thomas publicou o livro, “The Global Resurgence of Religion and the 
Transformation of International Relations: The Struggle for the Soul of the Twenty-
First Century”, “O Ressurgimento Global de Religião e a Transformação de Relações 
Internacionais: O empenho pela Alma do Século XXI”. O livro oferece uma reflexão 
ponderada sobre a religião e as idéias ocidentais relacionadas à modernidade e as 
relações internacionais. E considera que a visão convencional sobre o 
fundamentalismo considera o mesmo como o efeito da transição para a 
modernidade, cujas semelhanças são singulares aos movimentos anteriores 
antiliberais e antimodernistas. Scott Thomas afirma que o renascimento da religião é 
um fenômeno mais amplo e global, consiste propriamente na crise da modernidade. 
O progresso ocidental consiste para ele no desafio das comunidades de fiéis que 
buscam conciliar os valores morais e religiosos com a vida política. Mas o desafio 
central que Scott Thomas apresenta é a necessidade dos formuladores de políticas 
ocidentais repensarem a forma como a mistura entre religião, nacionalismo e 
globalização estão causando nas tradições da diplomacia e na hegemonia e 
desenvolvimento da sociedade ocidental. (Thomas, 2005). 
 
Jonathan Fox and Shmuel Sandler publicaram em 2006 o livro “Bringing Religion into 
International Relations”, “Reconciliando Religião nas Relações Internacionais”. O 
livro examina o papel desempenhado pela religião nas relações internacionais, bem 
como por que este papel tem sido ignorado até agora pelos teóricos de relações 
internacionais. A argumentação de Fox e Sandler consiste no fato de que, embora a 
religião não seja a força motriz na política mundial, as relações internacionais não 
podem ser entendidas sem levar em conta a religião. Dentre os temas tratados pelos 
autores estão às legitimidades religiosas como influência sobre as decisões dos 
políticos; local os fenômenos religiosos locais conflituosos, as questões 
transnacionais ligadas aos direitos humanos e controle da população. Os autores 
 
 
8
discutem questões ligadas as formulações de Huntington “Clash of Civilizations” e 
sobre o conflito entre Israel e os Palestinos. (Fox; Sandler, 2006) 
 
No livro “Religion and International Relations” publicado em 2000, por K.R Dark, o 
editor salienta que o objetivo do livro é mostrar como a religião se tornou um 
importante objeto das Relações Internacionais. “So, the studies presented here 
attempt to build on important work already undertaken within the mainstream of the 
discipline”2. (Dark, 2000). O livro é uma coleção com nove textos escritos por 
Internacionalistas, Cientistas Sociais, e Teólogos. 
 
O livro editado por K.R Dark tem um capítulo escrito por Scott Thomas com o título 
“Religion and International Conflict”, que é muito singular quanto a estas 
interpretações, pois descreve as formas como a religião é frequentemente 
interpretada nas suas relações com os conflitos internacionais. Embora o texto seja 
de fundamental importância sobre a questão dos conflitos e da política internacional, 
o mesmo apresenta também considerações importantes sobre a questão da religião 
nas relações internacionais de uma maneira mais ampla. E este é o motivo da 
escolha deste texto para argumentação sobre alguns dos temas de religião nas 
relações internacionais pretendida nesta monografia. (Dark, 2000). 
 
No texto Scott Thomas cita sete formas de interpretação da religião nas relações 
internacionais, a saber, a religião como forma de ideologia, como forma de 
identidade, transnacional, como poder flexível, movimentos religiosos como atores 
transnacionais, como civilização ou área cultural, como comunidade ideacional 
transnacional, e como comunidades interpretativas. 
 
O autor diz que estudiosos das relações internacionais observam o potencial da 
religião como fonte de representação de idéias, ou forma de ideologia nas relações 
internacionais, capaz de definir preferências e interpretações sobre o que é certo ou 
errado, devido ao sistema de crenças e do sistema de valores contidos na religião. 
Por envolver valores centrais a religião tem o potencial de gerar conflitos mais 
 
 
2 “Assim, os estudos apresentados aqui tentam construir um trabalho importante já empreendido dentro da corrente principal da disciplina”. (Tradução 
nossa). 
 
 
9
intratáveis, ao evocar valores universais e verdades absolutas. Como sistemas 
ideológicos de crenças fechados as religiões tenderiam a interpretar outras crenças 
religiosas que não as suas como ameaçadoras, o que propiciaria competição, e 
hostilidade nas relações internacionais. Diferente de outros tipos de conflitos, os 
conflitos religiosos são uma espécie de conflito ideológico, em que o compromisso, a 
coexistência, e a resolução das controvérsias são menos prováveis. 
 
Religious conflicts are a type of ideological conflict, and another reason why 
they are more intractable is because they exclude – almost by the way the 
conflict is definided – the possibility of compromise, coexistence, or the 
finding of common ground to resolve disputes. Ideas, unlike territorial 
disputes, and economic conflicts over trade, money, and natural resources, 
cannot be divided.3 (Thomas, 2000, p. 2). 
 
 
Outra questão que o autor aborda é que os conflitos religiosos são também em 
muitos casos os resultados de uma divergência histórica entre os envolvidos. A 
probabilidade de resolução dos conflitos religiosos através de compromissos é 
sempre menos provável, pois cada envolvido considera o outro além de oponente 
também um infiel. Alguns analistas que observam a religião como um aparelho de 
idéias consideram a possibilidade da ideologia de religiões específicas tornarem 
essas religiões mais propensas à violência, o exemplo citado é de religiões 
monoteístas. 
 
A crença em uma única e toda poderosa divindade, como se crê o judaísmo, o 
cristianismo, e o islamismo aumenta o autoritarismo dessas religiões e as faz mais 
dispostas a praticarem a violência, diferente de outras religiões não monoteístas. A 
idéia de uma pessoa
escolhida estaria ligada aos conflitos religiosamente baseados 
em Israel, África do Sul, e Irlanda do Norte. 
 
O autor reconhece a existência de religiões das pequenas sociedades, aquelas 
tribais, que consequentemente não representam valores universais, mas estão 
assim como no mundo clássico ligadas a um templo local associado com uma 
 
 
3 “Conflitos religiosos são um tipo de conflito ideológico, e uma outra razão por eles serem mais intratáveis é por excluírem – quase pelo modo que o conflito 
é definido – a possibilidade de compromisso, coexistência, ou o encontro de um campo comum para resolver disputas. Idéias, diferentemente de disputas 
territoriais, e conflitos econômicos acima de negociação, dinheiro, e recursos naturais, não podem ser divididas”. (Tradução nossa). 
 
 
 
10
divindade adorada localmente. Entretanto, Budismo, Cristianismo, Islamismo, e 
Judaísmo possuem valores universais, sendo que as três primeiras religiões 
possuem um fundador e mestre conhecido que a seu modo exige a expansão destes 
valores universais através de discípulos, por ter ele próprio recebido uma revelação 
de significância universal. Neste sentido, considera que Cristianismo e Islamismo 
ainda proclamam suas mensagens de modo universal para fazer prosélitos, o que 
consequentemente gera conflito entre eles. 
 
Mas o autor distingue a ideologia da religião das ideologias políticas seculares. E 
cita alguns exemplos. Primeiro quando o Presidente Ronald Reagan se referiu a 
União Soviética como um império do demônio, e ainda desejava negociar com eles. 
Segundo, a opinião do Iran com relação aos Estados Unidos como o grande mal 
dificultava a normalização das relações entre esses países. Terceiro, a interpretação 
religiosa dos EUA de destino manifesto que muito contribuiu para a violenta 
expansão para o oeste, e para o colonialismo Americano no pacífico as Filipinas e 
Porto Rico. 
 
O autor observa que a utilização da religião e das crenças religiosas na política faz 
com que os comprometimentos morais e as instituições sejam associados com o 
último e absoluto. Deste modo os valores e crenças religiosas podem ser utilizados 
pelo Estado para potencializar o controle sobre indivíduos ou grupos, e também de 
potencializarem indivíduos e grupos para ação independente se opondo ao Estado. 
E cita alguns exemplos. Primeiro, a igreja ortodoxa grega ou a igreja ortodoxa russa 
na Rússia pós-soviética, um caso de política estatal menos compromissada. 
Segundo, da igreja ortodoxa Sérvia, um caso de política estatal legitimadora do 
abuso dos direitos humanos e da limpeza étnica. Terceiro, a igreja confessionaria 
na Alemanha nazista ou na República Democrática Alemã, a igreja católica na 
comunista Polônia, ou na luta anti-apartheid das igrejas cristas na África do Sul. 
 
Certamente a ideologia é uma das formas que a religião assume nas relações 
internacionais, e que a sua importância é inquestionável para os teóricos e analistas 
da disciplina. Isso pelo fato da ideologia estar diretamente ligada ao discurso de 
legitimação das práticas. A natureza das grandes tradições religiosas mundiais é 
universalizante. E compreende cada uma a seu modo no sentido intra e extra estatal 
 
 
11
um modelo ideal de estrutura social, que está fundado nos valores e crenças desta 
tradição, e é difundido através da ideologia da mesma com o objetivo de 
perpetuação deste mesmo sistema de valores e crenças nesta estrutura social. 
 
Em outros termos, a religião permite a legitimação de todas as 
propriedades características de um estilo de vida singular, propriedades 
arbitrarias que se encontram objetivamente associadas a este grupo ou 
classe na medida em que ele ocupa uma posição determinada na estrutura 
social (efeito de consagração como sacralização pela “naturalização” e pela 
eternização) [...] (Bourdieu, 1998, p.). 
 
Segundo o autor a religião também é entendida em Relações Internacionais como 
fonte principal de identidade social e individual. (Thomas, 2000, p. 4) 
 
A system of religious beliefs provides followers with the main source of their 
identity. There is a basic essentialism and determinism about the nature of 
religion because religious differences are fundamental and immutable, and 
they are more important sources of difference than ethnicity, class or 
gender.4 (Thomas, 2000, p. 4) 
 
A religião como formadora das identidades sociais dos indivíduos e grupos define o 
caráter, a percepção sobre quem são. Portanto, capaz de gerar afinidades entre os 
semelhantes, e divergência entre os que se distinguem. O autor observa a 
globalização como fenômeno capaz de contribuir para a construção e consolidação 
da religiosidade baseada em identidades sociais. “Industrialization, capitalism, and 
urbanization transformed religions and fragmented historic religious comunities em 
the west, and now through globalization similar process are transforming the Third 
World”5. (Thomas, 2000, p.5). A globalização auxilia na reafirmação das crenças e 
valores, na identidade social baseada na religião tanto na política domestica quanto 
nas relações internacionais. 
 
Certamente a religião cumpre a função de conscientizar o indivíduo, grupos, gêneros 
e classes, sobre o que eles acreditam e dizem que são. O Estado mais propriamente 
define a identidade jurídica de seus nacionais e estrangeiros enquanto a religião é 
 
 
4 “Um sistema de convicções religiosas proporciona para os seguidores a fonte principal da identidade deles. Há um essencialismo básico e determinismo 
sobre a natureza da religião porque diferenças religiosas são fundamentais e imutáveis, e elas são fontes mais importantes de diferença que etnicidade, 
classe ou gênero”. (Tradução nossa). 
5 "Industrialização, capitalismo, e urbanização transformaram religiões e fragmentaram comunidades religiosas históricas fragmentadas no oeste, e agora 
através da globalização processo semelhante está transformando o Terceiro Mundo". (Tradução nossa). 
 
 
12
capaz de definir o ethos de um povo. O Estado fornece aos indivíduos as noções 
política de cidadania e de responsabilidade cívica, para que estes vivam em 
sociedade. Utilizando suas instituições estatais, e as instituições não estatais 
existentes em sua sociedade com o objetivo de criar nos individuas estas noções. 
Como soberano institui através da submissão e do cumprimento de seus elementos 
constitutivos jurisdicionais, a garantia de que as identidades jurídicas de seus 
nacionais serão estabelecidas. 
 
 A religião é uma “fonte de identidade poderosa vinculada ao ethos cultural de um 
povo”, e consequentemente, possui capacidade intrínseca de influenciar nas 
percepções, e na tomada de decisão tanto individual quanto coletiva. (Geertz, 1989) 
 
O Ethos de um povo é o tom, o caráter e a qualidade de sua vida, seu 
estilo moral e estético, e sua disposição é a atitude subjacente em relação 
a ele mesmo e ao seu mundo que a vida reflete. A visão de mundo que 
esse povo tem é o quadro que elabora das coisas como elas são na 
simples realidade, seu conceito da natureza, de si mesmo, da sociedade. 
Esse quadro contém suas idéias mais abrangentes sobre a ordem. (Geertz, 
1989, p. 93) 
 
Certamente a religião como fonte formadora da identidade social de indivíduos e 
grupos no estudo das relações internacionais é considerada devida às dimensões e 
especificidades que ela alcança na esfera valorativa e, portanto legitimada quanto às 
preferências e escolhas intra e extra estatal. Está fundamentada no que se diz, e no 
que se acredita que é, ou seja, na auto-compreensão e na auto-definição. 
 
Religião definida como idéia transnacional é outra forma como o autor observa a 
religião no estudo das relações internacionais.
O autor afirma que a globalização 
também tem contribuído para a consolidação e formação de grupos religiosos 
transnacionais, através do sistema interligado de comunicação, e tecnologia. Ela 
possibilita ligações mais próximas entre pessoas de religiões similares em países 
diferentes. 
 
Observa-se nas manifestações religiosas, e principalmente nas grandes tradições, a 
disposição de recuperar o status perdido durante a manutenção da ideologia do 
capital versus o comunismo proporcionado pela guerra-fria. A religião em um 
ambiente globalizado contribui significativamente para que o caráter transnacional 
 
 
13
da religião seja acentuado, as condições são favoráveis. (Thomas, 2000, p.5) define 
a idéia de transnacional atrelado à religião do seguinte modo: “Ideas are said to be 
‘transnational’ when people in many different countries hold to a similar belief 
system, conception of morality, or believe in particular international laws or 
international norms”6. 
 
E as características das idéias transnacionais como definidas por este mesmo autor 
revelam a especificidade do conceito de transnacional, a existência de símbolos e 
textos, e de pessoas compromissadas com o estabelecimento e propagação de 
determinada mensagem. 
 
Transnational ideas often also have a coherent set of symbols and texts. 
This is particularly the case for the main world religions, and exemples 
include the Crescent, the Bible, the star of David, and the Qur’na. But 
secular transnational ideas also have their texts and symbols, such as the 
red flag and the Communist Manifesto. Transnational ideas also have 
leading individuals, such as prophets or teachers – examples include 
Muhammad, Marx, or Theodore herzl 7. (Thomas, 2000, p. 6). 
 
Assim a globalização permite maior dinamicidade às idéias transnacionais, e 
principalmente no caso das grandes tradições religiosas, que se beneficiam ao 
difundirem sua mensagem em um ambiente amplamente favorável. 
 
Certamente como as transformações geradas pelo nascimento e desenvolvimento 
das cidades em oposição ao campo contribuíram para a aparição e desenvolvimento 
das grandes tradições religiosas, e para a necessária moralização e sistematização 
das crenças e práticas destas tradições. A globalização impulsiona as grandes 
tradições religiosas por meio de suas idéias transnacionais no objetivo de conciliar 
“[...] à constituição de instâncias especificamente organizadas com vistas à 
produção, à reprodução e à difusão dos bens religiosos, bem como a evolução do 
sistema destas instancias [...]” (Bourdieu, 1998, p. 37). 
 
 
 
6 “Uma idéia é transnacional quando pessoas em diferentes países acreditam no mesmo sistema, concepção de moralidade ou acreditam em determinadas 
leis e normas internacionais”. (Tradução nossa). 
7 “Idéias transnacionais têm também um conjunto coerente de símbolos e textos. Isto é particularmente o caso das principais religiões do mundo, exemplos 
incluem o Crescente, a Bíblia, a estrela de David, e o Qur'na. Mas idéias transnacionais seculares também têm os seus textos e símbolos como a bandeira 
vermelha e o Manifesto Comunista. idéias transnacionais também têm pessoas de liderança, como profetas ou professores - exemplos incluem Muhammad, 
Marx, ou Herzl Theodore. (Tradução nossa). 
 
 
14
O autor observa que nas relações internacionais a religião também é interpretada 
como forma de poder flexível, o que constitui um poder por meio das idéias, sejam 
estas atrativas ou repulsivas. 
 
In contrast to “hard power” (military or economic power”, “soft power” is the 
power of attractive ideas. When ideas are attractive (or even the opposite, 
repulsive, like racismo r anti-Semitism) they become attitudinal capabilities 
that make up intangible elements of “power” for actors in international 
relations.8 (Thomas, 2000, p. 7). 
 
E diz que, isto acontece pelo fato de que as idéias de determinada religião se tornam 
em elementos intangíveis de poder capazes de mobilizar pessoas que acreditam 
que estas idéias podem influenciar no comportamento dos Estados nas relações 
internacionais. O autor cita alguns exemplos. Primeiro, no caso do Islamismo como 
uma religião transnacional ligada aos Estados que se definem como Estados 
Islâmicos (Paquistão, Bangladesh, Arábia Saudista, Irã, o Sudão, Malásia e 
Indonésia). Existe uma diferença importante neste fato, pois estes Estados 
promovem e fundamentam suas políticas externas com interesse em objetivos 
políticos islâmicos nas relações internacionais. Segundo, a religião transnacional 
também cria bases para organização internacional cuja afiliação estatal está fundada 
em pressupostos religiosos, como a Organização da Conferência Islâmica e a Liga 
Mundial Mulçumana. 
 
Certamente religião como forma de poder flexível nas relações internacionais torna-
se de fundamental importância pelo fato de serem idéias capazes de conduzir 
indivíduos e grupos a determinado comportamento e ação. E também por que estas 
idéias estão fundamentadas a partir de um referencial lógico, e que 
consequentemente, através da necessidade lógica torna-se unificante analógico dos 
universos do poder político e do poder religioso. 
 
Este sistema simbólico – onde a cosmologia aristotélica integra-se sem 
dificuldades com seu “primeiro motor imóvel” que transmite seu movimento 
às esferas celestes mais altas, de onde desce, por graus sucessivos, até o 
mundo sublunar do devir e da corrupção – parece predisposto por alguma 
harmonia preestabelecida a exprimir a estrutura “emanacionista” do mundo 
 
 
8 “Em contraste com "poder inflexível" (exército ou poder econômico", "poder flexível" é o poder de idéias atraentes. Quando idéias são atraentes (ou até 
mesmo opositivas, repulsiva, como racismo e anti-semitismo) elas se tornam capacidades para a ação através de elementos intangíveis de poder por atores 
nas relações internacionais". (Tradução nossa). 
 
 
15
eclesiástico e do mundo político: destarte, cada uma das hierarquias – 
Papa, Cardeais, Arcebispos, Bispos, baixo clero, Imperador, Príncipes, 
Duques e outros vassalos -, por constituir uma imagem fiel de todas as 
demais, constitui, em última instância, um aspecto da ordem cósmica 
estabelecida por Deus, sendo portanto, eterna e imutável. (Bourdieu, 1998, 
p. 70). 
 
O autor também observa os movimentos religiosos como atores transnacionais 
importantes no estudo das relações internacionais na medida em que estes atores 
não estatais influenciam a dinâmica de poder nas relações internacionais pelo uso 
da força, ou através do poder das idéias. (Thomas, 2000, p. 8). Exemplificando que 
o uso da força por outros que não o Estado está freqüentemente ligado a 
movimentos de libertação nacional, e a grupos rebeldes e terroristas. E que por meio 
do poder das idéias estariam os atores não estatais religiosos como o Vaticano, 
capaz de influenciar na agenda política e nos debates políticos nas relações 
internacionais sobre os mais diversos assuntos. O Vaticano por seu caráter histórico 
possui status no direito internacional de estado soberano, e como participante das 
conferencias da Organização das Nações Unidas é defensor dos valores morais 
universais os quais promovam a dignidade e a liberdade humana. 
 
Transnational religion can also provide the basis for non-state actors as 
transnational actors, or as non-governmental organizations (NGOs), and 
this is the fifth way the impact of religion in international relations has been 
examined. Transnational actors can influence international relations through 
the use of force or through the “power of ideas”9. (Thomas, 2000, p. 8). 
 
O autor também menciona o chamado modelo missionário de assistência externa, 
realizado por alguns destes
atores transnacionais religiosos em países pobres. A 
realização de trabalhos de reconstrução moral e da dignidade de indivíduos e grupos 
em Estados caracterizados pela pobreza, e pela corrupção. As Organizações não 
Governamentais Religiosas que ultrapassam as fronteiras estatais no intuito de 
prover serviços sociais básicos. O autor menciona atores não estatais islâmicos, e a 
Igreja Ortodoxa, incluindo a grega e a russa. E menciona também uma classe 
distinta de indivíduos chave religiosos que realizaram trabalhos importantes: Gandhi 
para a independência da Índia, o Papa João Paulo II, Madre Teresa, o Arcebispo 
 
 
9 “Religião transnacional também pode prover a base para atores não estatais como atores transnacionais, ou como organizações não governamentais 
(ONGs), e este é o quinto modo como o impacto da religião nas relações internacionais tem sido examinado. Atores transnacionais podem influenciar 
relações internacionais pelo uso de força ou pelo ‘poder de idéias’ ". (Tradução nossa). 
 
 
16
Desmond Tutu que utilizaram a força moral, para promoção da dignidade e da 
liberdade humana. 
 
Certamente os movimentos religiosos que atuam como atores transnacionais são de 
fundamental importância para o estudo da religião nas relações internacionais. Pelo 
fato de também possuírem o status de Organizações não Governamentais 
Internacionais, participando na arena internacional através de trabalhos humanitários 
em meio a guerras, catástrofes, e tragédias. Participando como observadores nos 
principais fóruns de discussão. Realizando trabalhos sociais complementares no 
interior dos Estados. 
 
Segundo as estatísticas da UIA, atualmente a maioria da OIGs atua na 
área de indústria e comércio, seguida pelas áreas de medicina e saúde, 
ciência, matemática e espaço, esporte, comunicações, finanças e turismo, 
bem-estar e direitos individuais, política mundial, religião [...] finalmente 
partidos e ideologias políticas. (Herz, 2004, p. 230). 
 
Religião como civilização ou área cultural é outro modo que o autor diz que a religião 
tem sido interpretada no estudo das relações internacionais. Segundo o autor a 
história das religiões mostra que o local de nascimento das principais tradições 
religiosas do mundo está próximo à localização central das civilizações antigas, e a 
partir disso a religião era interpretada nas relações internacionais antes da Segunda 
Guerra. O autor menciona dois teóricos. Samuel Huntington como o analista que 
reformulou a tendência da análise das civilizações baseadas nas religiões pós - 
Guerra fria. A tese de Samuel Huntington é que o conflito entre oriente e ocidente 
foi substituído por um Choque de Civilizações. Interpretando as diferenças culturais 
e os compromissos de fidelidade religiosa como fonte principal de conflito nas 
relações internacionais. 
 
E também Michael Vlahos, que utiliza o termo área cultural para revogar o conceito 
de aldeia global, ou seja, Vlahos divide o mundo como uma seqüência de áreas 
culturais capazes de instituir padrões de comportamento e de pensamento através 
da cultura. Sua tese interpreta o mundo dividido em áreas culturais, sendo as 
divisões geográficas e nacionais um aspecto secundário da realidade existente por 
meio de cada comunidade cultural. (Vlahos, 1991). 
 
 
 
17
A variation of Huntington’s thesis claims that culture has become the main 
source of division among humankind. This views cultural differences as the 
main source of international conflict, and is relevant here because the 
world’s major cultural groupings and the main world religions overlap to a 
considerable extent10. (Thomas, 2000, p. 11). 
 
 
Certamente civilização ou área cultural também são aspectos no estudo da 
religião nas relações internacionais que não devem ser esquecidos, pois “As 
pessoas [...] se identificam com grupos culturais: tribos, grupos étnicos, 
comunidades religiosas, nações e, em nível mais amplo, civilizações [...]”. 
(Huntington, 1996, p. 20). Além do mais Samuel Huntington e Michael Valhos não 
estão propondo através de suas obras uma nova teoria de relações 
internacionais, ou de ciências políticas, mas estão descrevendo como os aspectos 
da religião e da cultura não se separam da dinâmica de poder entre os Estados. 
 
[...] de todos os elementos objetivos que definem as civilizações, o mais 
importante geralmente é a religião, como enfatizam os atenienses. Em 
larga medida, as principais civilizações na História da Humanidade se 
identificaram intimamente com as grandes religiões do mundo, e povos que 
compartilham etnia e idioma podem, como no Líbano, na antiga Iugoslávia 
e no Subcontinente indiano, massacrar-se uns aos outros porque acreditam 
em deuses diferentes. (Huntington, 1996, p. 47). 
 
 
Religião como uma comunidade ideacional transnacional é também outro modo que 
o autor observa como a religião é interpretada nas relações internacionais. O teórico 
mencionado pelo autor é Seymon Brown, que apresenta a religião como uma idéia 
transnacional em política mundial associada às proposições de Samuel Huntington e 
Michael Vlahos. A consideração dos aspectos comunitários determinado por meio da 
cultura e do poder da ideologia de caráter transnacional existente na religião são 
singulares na construção de seu pensamento. 
 
O poder das idéias segundo Seymon Brown será capaz de definir os compromissos 
de fidelidade política, uma vez que as comunidades ideacionais transnacionais 
através de idéias atrativas. Para ele as idéias atrativas são capazes de estabelecer 
 
 
10 “Uma variação da tese de Huntington reivindica que cultura se tornou a fonte principal de divisão entre o tipo de humano. Isto vê diferenças culturais 
como a fonte principal de conflito internacional, e é pertinente aqui porque os agrupamentos culturais principais do mundo e as religiões mundiais principais 
sobrepõem a uma extensão considerável”. (Tradução nossa). 
 
 
18
redes entre as pessoas dispersas pelo mundo independente de limites estatais. E 
também de determinar o quanto um Estado é hábil para prevalecer em situação de 
conflito. 
 
Most of the ideational communities Brown examines are religious greoups: 
Islam, Roman Catholics, other Christians, Jews, and what he calls “eastern” 
religions (including Hinduism, Buddhism and Shintoism in Japan). He 
argues that the deep commitment people have to the wellbeing of their 
community is the only durable cement of states, and this cannot be coerced 
or purchased11. (Thomas, 2000, p. 11). 
 
O autor também observa a religião como comunidades interpretativas, e diz que: o 
modelo de interpretação da religião e da identidade social com enfoque modernista 
ou instrumental ser inconsistente. Segundo o autor o enfoque modernista observa a 
identidade étnica, e religiosa, como não mais importante que qualquer outra 
identidade, dando importância as condições materiais de utilização destas 
identidades para alcançar mais fins políticos e sociais. Deste modo o ressurgimento 
da religião é interpretado como uma situação contingente. E neste sentido a 
inconsistência fundamental da interpretação modernista estaria em não levar em 
consideração o componente identidade e a religião. 
 
O autor considera dois modos que conduzem a este modo de observação 
instrumentalista. Primeiro, a falha ao tentar explicar o que fazem os conflitos 
religiosos tão violentos, pois as idéias religiosas não disseminam mensagens de 
violência. Ou de estimulo ao que acontece nos conflitos religiosos. A instabilidade é 
resultado de um desdobramento que ocorreria no âmbito emocional. Segundo, os 
tratamentos dados à religião, que é considerada um componente estático da 
identidade social e da cultura política, considerado errado, pois
as interpretações 
religiosas não estão separadas das políticas. 
 
A religião não possui crenças fechadas no sentido de conduzir os grupos religiosos a 
uma condição de não dinamicidade social e política em meio a história. Os textos 
considerados sagrados pelas tradições religiosas são fixos,mas os grupos religiosos 
 
 
11 “A maioria das comunidades de ideacionais que Brown examina são grupos religiosos: Islã, católicos romanos, outros cristãos, judeus, e o que ele chama 
religiões "orientais" (inclusive Hinduísmo, Budismo e Xintoísmo no Japão). Ele discute que os compromisso profundos que as pessoas têm com o bem estar 
da comunidade deles é o único cimento durável de estados, e isto não pode ser coagido ou pode ser comprado”. (Tradução nossa) . 
 
 
19
dinâmicos e contextualizáveis política e socialmente. Neste sentido são as 
comunidades interpretativas grupos religiosos em diálogo com seus membros e com 
a sociedade dentro do significado e contexto contemporâneo para cada tradição. 
 
Religions are not made up of a bory of static, immutable beliefs, nor are 
religious groups made up of a body of believers “hermettically sealed” off 
from the fources of modernization or globalization. Religious interpretations 
cannot be separated from polítics12. (Thomas, 2000, p. 13). 
 
Certamente o estudo da religião nas relações internacionais como uma comunidade 
ideacional transnacional, e como comunidades interpretativas, tem muita relevância 
devido ao fato, de que assim como na política, não existe religião sem objetivos e 
interesse. A religião possui muito poder em unir pessoas através do 
compartilhamento da experiência comum, das crenças e valores. Os cristão, os 
muçulmanos, os judeus, em todo o mundo, são o exemplo de uma comunidade 
gigantesca de pessoas que se auto-determinam irmãos fundamentados em uma 
experiência comum de crença. As cruzadas, e a reforma protestante podem ser um 
excelente exemplo de definição de que a religião é um objeto definitivamente dotado 
de objetivos e interesses. 
 
O autor conclui o texto considerando O desafio religioso para sociedade 
internacional por meio de duas perspectivas, a primeira, a questão das Religiões 
fortes e Estados fracos, e a segunda, Crenças e valores religiosos. (Thomas, 2000, 
p. 14). O autor afirma que as formas por ele examinadas sobre como a religião e o 
conflito religioso é interpretado nas relações internacionais é um modo de analisar 
de uma maneira ampla, e que é também importante o exame sobre como 
estudantes as têm interpretado. 
 
Para a realização desta analise o autor menciona alguns dos requisitos 
fundamentais das relações internacionais, como soberania estatal, lealdade política 
das pessoas, conjunto comum de princípios, regras, e normas. E por meio do 
questionamento menciona o que é o desafio da religião para sociedade 
internacional. Primeiro, a quebra destas bases, ou requisitos fundamentais das 
 
 
20
relações internacionais. Segundo, o estabelecimento de novas crenças e valores por 
meio de uma nova ideologia transnacional. (Thomas, 2000, p.14). 
 
O autor diz que a identidade nacional nos Estados chamados fracos é insignificante 
devido ao grande período em que foram submetidos ao colonialismo, estes Estados 
permaneceram esquecidos, e a religião revigora, mobiliza, e organiza bases com 
alto nível de adesão pautada na ideologia religiosa transnacional. Intra e extra 
estatal acontece à instabilidade causada pela não adequação aos requisitos 
fundamentais do sistema internacional como conjunto de regras legitimas. 
 
O autor menciona que a única religião com objetivo universalizante com efetivo 
potencial de reflexionar a soberania estatal é o Islã. Movimentos fundamentalistas, o 
ideal de implantação de um império fundado na tradição islâmica, e movimentos 
islâmicos como instrumento para consecução do interesse particular de alguns 
Estados são as questões que o autor menciona como de fundamental importância 
na existência de religiões fortes e Estados fracos. 
 
The societies in the “new states” continued to see religion, clan, and 
ethnicity as the basis of social identity. This tendency was exacerbated by 
modernization. Contrary to the predictions of social scientists in the past, 
modernization has not caused religion to weaken and disappear, but 
instead to grow stronger in the public sphere13. (Thomas, 2000, p. 14). 
 
O autor menciona que as crenças e valores religiosos nas relações internacionais 
reflexionam regras da sociedade internacional como integridade territorial, 
soberania, e o principio de não intervenção, pelo fato destas normas terem sido 
consagradas mediante um padrão de cultura europeu pautado no colonialismo e no 
imperialismo. A religião passaria a ter um poder legal acima do poder dos Estados e 
dos acordos internacionais. Outra questão apontada por ele é que a religião 
transnacional mediante a existência de conflitos desconsidera a diplomacia e a 
barganha internacional. O foco nestas questões consiste em observar a religião não 
 
 
12 “Religiões não são compostas por um corpo estático de convicções imutáveis, nem grupos religiosos são compostos de um corpo de crenças 
"hermeticamente fechadas" fora das forças da modernização ou globalização. Interpretações religiosas não podem ser separadas de interpretações 
políticas”. (Tradução nossa). 
13 “As sociedades nos “estados novos” continuaram vendo religião, clã, e etnia como a base de identidade social. Esta tendência foi exacerbada através da 
modernização. Ao contrário das predições de cientistas sociais no passado, que a modernização faria a religião debilitar e desaparecer, mas ao invés 
crescer mais forte na esfera pública”. (Tradução nossa). 
 
 
21
como ameaçadora de um modo direto e implacável a estes fundamentos, mas como 
potencial desafiador de normas primordiais das relações internacionais, e 
exemplifica mencionando a questão dos direitos humanos. 
 
A religião nas relações internacionais para o autor também pode ser considerada 
através de uma perspectiva reducionista em que a mesma desafia a construção 
secular da sociedade internacional, mas não os princípios desta sociedade. 
 
The West has an interest in influencing the dialogue within religious 
communities in developing countries in ways that abroadly reflect its values 
of political participation and individual rights. This requires a long-term 
commitment to cultural diplomacy, and not just to foreign aid and 
“antiterrorism” campaigns14. (Thomas, 2000, p. 21). 
 
O autor termina a analise dizendo que mediante o declínio de crenças e valores que 
instituem a sociedade internacional moderna é necessário o investimento em 
diplomacia cultural por parte dos Estados ocidentais, as religiões não consistiriam 
em ameaças aos interesses políticos e econômicos dos Estados ocidentais, mas 
potenciais facilitadores de uma sociedade internacional multicultural. 
 
Os atentados de 11 de setembro de 2001, e os acontecimentos que sucederam esta 
ação durante os últimos anos indicam que é necessária a consideração de temas 
que estejam ligados a religião nas relações internacionais de modo a considerar sua 
força tendo em vista as ações materiais que esta é capaz de mobilizar mediante sua 
ideologia. 
 
4. FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
 
 
O fundamentalismo religioso nas relações internacionais constitui uma parte 
importante nos estudos da disciplina na contemporaneidade. Devido ao modo como 
estes fundamentalismos realizam ações materiais baseadas em suas ideologias 
 
 
14 “O
ocidente tem interesse em influenciar o diálogo entre comunidades religiosas em países em desenvolvimento. Que reflete, de maneira ampla, os 
valores de participação política e direitos individuais. Isso requer compromisso a longo prazo com a diplomacia cultural e não somente ajuda externa e 
campanhas antiterrorismo”. (Tradução nossa). 
 
 
 
22
religiosas. Compreender a origem, o propósito, e como o fundamentalismo religioso 
está articulado contribui para uma visão abrangente destas ações na sua relação 
com a política internacional dos Estados. 
 
O fundamentalismo religioso nas relações internacionais, além da radicalidade de 
interpretação do texto sagrado para cada tradição, também está presente através da 
ação terrorista, pois o terrorismo nas relações internacionais constitui um fenômeno 
cuja especificidade e elemento fundante podem ser causas variadas, e inclusive 
causas contidas e derivadas do fundamentalismo religioso. 
 
No mundo contemporâneo os principais acontecimentos relacionados à ação 
terrorista têm alguma relação com a religião, principalmente, com o fundamentalismo 
islâmico. Cabe ressaltar que todas as religiões dotadas de crenças e valores 
universalistas por natureza possuem alguma tendência a serem fundamentalistas. 
 
A utilização do termo fundamentalismo na religião tem sua origem na teologia cristã, 
pois teólogos protestantes conservadores do século XX, nos Estados Unidos, se 
opuseram a teologia liberal e ao método histórico critico de interpretação das 
escrituras sagradas, instituindo as bases do fundamentalismo de fé cristã através da 
publicação do livro “The Fundamentals: A Testemony to the Truth” (Os Princípios 
Fundamentais: Um Testemunho da Verdade), e posteriormente a instituição da 
“World Christian Fundamentals Association” (Associação Mundial Fundamentalista 
Cristã). 
 
O fundamentalismo no catolicismo tem o mesmo propósito de fundamentação da fé 
cristã, entretanto possui outro nome integrismo. A utilização do termo tem sua 
origem na Espanha no fim do século XIX, e faz menção a uma corrente políticaque 
tinha o objetivo de levar o catolicismo a toda a nação e não aceitava a separação 
entre o secular e sagrado, o laico e o confessional. Amplamente contrários a 
modernidade cultural e o liberalismo. 
 
Nas relações internacionais contemporâneas estes fundamentalismos cristãos não 
são capazes de conduzir a análise sobre qual seria o potencial destes em reflexionar 
o modelo de ordem internacional e os fundamentos de instituição do sistema 
 
 
23
internacional moderno. Mas algumas observações importantes existem como, por 
exemplo, no caso do fundamentalismo cristão protestante, em sua forma 
contemporânea, que articula religião e política para promoção de valores cristãos no 
âmbito social através de sua concepção teológica. 
 
Na América Latina o crescimento do cristianismo possibilitou a criação de partidos 
políticos cristãos na maioria dos países, com representantes desta tradição em 
todas as instâncias do poder político. Pois o século passado foi caracterizado pelo 
crescimento significativo do cristianismo nas nações do sul do mundo. E na medida 
em que estes grupos ganham adesão nestas sociedades o caráter da política entre 
os Estados da região tende a ser influenciado por estes valores. 
 
Entretanto, o integrismo católico foi suplantado pelo Concilio Vaticano II, a igreja 
católica se abre para um modo de relação com a modernidade distinta das 
orientações anteriores que eram contrárias às doutrinas do liberalismo moderno. 
Mas a presença de elementos da teologia em algumas das correntes católicas, 
como a teologia da libertação na América Latina possui destaque na consideração 
sobre a religião no estudo das relações internacionais, pelo fato desta ideologia 
também admitir a articulação entre religião e política para promoção de valores 
cristãos no âmbito social nacional e internacional. 
 
O fundamentalismo islâmico, por sua vez, deve ser observado no estudo das 
relações internacionais dentro das peculiaridades históricas deste fenômeno. Uma 
espécie de renascimento instituído a partir do fim de uma crise política, cultural, e 
religiosa baseada na colonização européia. Consistem na tentativa de volta a 
identidade fundamental, renascimento, a intensa necessidade da origem e da 
identidade islâmica, e a reconstrução de uma Estado ético-religioso, ou de uma 
civilização guiada pelas crenças e valores do Islão. 
 
A formação de movimentos fundamentalistas islâmicos estaria alicerçada na 
teocracia islâmica com o objetivo de estender a todos os setores da sociedade os 
fundamentos do Islão de modo totalitário. Suas características consistiriam na 
chamada do fiel para o entendimento originário do Islão, sobre modo sua condição 
histórica, política e social, século (XVIII). Os de islamização da sociedade moderna 
 
 
24
através da modernização e adaptação de aspectos plausíveis no Islão, século (XIX). 
E os de contra cultura ocidental, de ação fundamentada no idealismo dos textos 
islâmicos existentes na tradição, século (XX). Os movimentos fundamentalistas 
islâmicos, embora não sejam na sua totalidade idênticos, e praticantes de ações de 
violência, necessitam ser considerados no estudo das relações internacionais devido 
ao modo como estes reflexionam o poder dos Estados, sobre modo os ocidentais. 
 
Outro fundamentalismo religioso na contemporaneidade que possui importância no 
estudo das relações internacionais consiste no fundamentalismo judaico. Como os 
demais, este fundamentalismo também está relacionado com a crença no idealismo 
dos textos desta religião, e na necessidade de instituição de um Estado sobre as 
bases das crenças desta tradição religiosa. No século XVIII, surgem os movimentos 
judeus integracionistas defensores da cidadania dos judeus nos países onde estes 
estivessem nascidos. E os segregacionistas considerados fundamentalistas pelo 
ortodoxismo, acreditam na observância dos textos desta tradição como o principio 
ordenador do Estado. E os do sionismo, acreditam no retorno dos judeus para uma 
pátria de judeus, amplamente exclusivistas em todas as questões ligadas a relação 
social, o judaísmo destes é o único aceitável, e a política é interpretada como o meio 
de instrumentalização de seus interesses. 
 
A consideração destes no estudo da religião nas relações internacionais consistiria 
de grande importância, pois este movimento sionista foi responsável pela volta dos 
judeus para a terra prometida, e o estabelecimento do Estado de Israel em 1948. 
 
A afirmação destes movimentos fundamentalistas religiosos na contemporaneidade 
é cada vez mais, a especificidade de suas ações revelam a importância do 
comprometimento por parte dos Estados com a chamada diplomacia cultural. As 
relações internacionais contemporâneas não renunciam a esta realidade, cada vez 
mais os Estados reconhecem esta necessidade de criação de mecanismos eficazes 
de promoção do reconhecimento das diferenças culturais, e religiosas, tendo por 
objetivo, o não consentimento de toda forma de discriminação étnica, e religiosa. 
Mas ainda falta muito a ser alcançado pela sociedade internacional no que se refere 
a esta questão. 
 
 
 
25
5. CONCLUSÃO 
 
 
Religião como sistema simbólico que cumpre a função ideológica de legitimação da 
ordem política e social consiste num instrumento significativamente eficaz para os 
Estados nas relações internacionais na contemporaneidade. A teoria social de 
política internacional (Wendt, 2004) fala sobre a importância das idéias na 
construção do poder e do interesse, para ele nas relações internacionais o poder é 
construído através dos interesses, entretanto a construção dos interesses está 
diretamente vinculada às idéias. As idéias estão diretamente associadas aos 
interesses e ao poder,
pois estes as pressupõe. Neste sentido, a religião por ser 
uma forma de ideologia capaz de legitimar certo modelo de ordem, ou de reflexionar 
este modelo, possui elementos consideráveis para interpretação do modo como 
algumas relações dentro do sistema internacional são estabelecidas. 
 
O objetivo não consistiria em verificarmos como cada teoria de relações 
internacionais entende a religião, ou como o autor faz a verificação da compreensão 
sobre as idéias por parte da teoria realista, liberal, e marxista, mas ao definir 
características especificas da religião como, forma de identidade, idéia 
transnacional, ou ideologia, verificarmos a importância desta no estudo das relações 
internacionais. 
 
Consiste na analise da importância da religião como um objeto que no estudo das 
relações internacionais está para antes, e depois daquilo que caracteriza as relações 
de poder. Ou seja, como idéia a religião é elemento fundante na construção dos 
interesses, e por isso está para antes. Enquanto, legitimadora do poder, a religião é 
elemento fundante na reafirmação ou revolução da ordem estabelecida, e neste 
caso está a posteriori. 
 
An argument that power and interest are just as important as before, but 
constituted more by ideas than material forces, inevitably raises the 
question, so what? If the balance of variables has not changed, what 
 
 
26
difference does this make to our understanding of international politics?15 
(Wendt, 2004, p. 135). 
 
 
A religião nas relações internacionais como força ideacional é capaz de estabelecer 
o vínculo necessário na promoção da paz, do dialogo, e da multiculturalidade. O 
dialogo inter religioso, a convergência dos ideais universais e comuns a todas as 
tradições é capaz de contribuir para a construção de um mundo mais justo e da 
equidade entre as nações. O investimento em diplomacia cultural consiste na 
resposta aos fundamentalismos e a rejeição das normas e valores da sociedade 
internacional contemporânea. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 "Um argumento que poder e interesse são da mesma maneira importante , mas constituídos mais através de idéias que forças materiais, inevitavelmente 
aumenta a pergunta, mas o que? Se o equilíbrio de variáveis não mudou, que diferença faz isto a nossa compreensão de políticas internacionais?" 
(Tradução nossa). 
 
 
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