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Petróleo Natureza e Origem Margaretha van Weerelt Biologia Sanitária e Ambiental • O Petróleo é formado pelo processo decomposição de matéria orgânica, restos vegetais, algas, alguns tipos de plâncton e restos de animais marinhos - ocorrido durante centenas de milhões de anos da história geológica da Terra. Inicialmente deve haver a matéria orgânica adequada à geração do Petróleo. Este material orgânico deve ser preservado da ação de bactérias aeróbias; O material orgânico depositado não deve ser movimentado por longos períodos; A matéria orgânica em decomposição por bactérias anaeróbias deve sofrer a ação de temperatura e pressão por períodos longos. O início do processo de formação do Petróleo está relacionado com o início da decomposição dos primeiros vegetais que surgiram na Terra. O Petróleo é uma substância viscosa, mais leve que a água, composta por grandes quantidades de Carbono e Hidrogênio (hidrocarboneto) e quantidades bem menores de Oxigênio, Nitrogênio e Enxofre. O Petróleo é resultado de mais de 1200 combinações diferentes de hidrocarbonetos (substância complexa). A composição do petróleo inclui cerca de 200 a 300 compostos diferentes distribuídos assim: 50% a 98% de hidrocarbonetos: alcanos ou parafinas 5 a 7 C (líquidos) >60 C (sólidos) Não são tóxicos e são biodegradáveis Isoalcanos alcanos ramificados cicloacanos (naftenos) 5 a 6 C em anel, bicíclicos ou policíclico Podem representar de 30% a 60% da composição do óleo cru. compostos aromáticos benzeno, tolueno Podem representar de 2% a 4% da composição do óleo cru Biodegradáveis Outros 10% : compostos sulfúricos, ac. graxos, compostos nitrogenados, vanádio, níquel. Derivados do Petróleo • Todos derivados do petróleo passam por processos básicos de refinação (= destilação atmosférica e a vácuo = destilação fracionada). • Produtos derivados de petróleo são divididos em diversos categorias: Lubrificantes betuminosos, os óleos: minerais, graxas e sintéticos; Combustíveis: gasolina, óleo diesel, óleo combustível, querosene de aviação, Gases Naturais. Insumos para petroquímica: Nafta, Gasóleo. Outros: Solventes, Asfalto, Coque, Parafinas. A produção de petróleo e gás natural da Petrobras no Brasil e no exterior atingiu a média diária de 2.216.596 barris em 2005. O resultado representa um crescimento de 10% em relação ao ano anterior. No Brasil, a produção média de petróleo e gás atingiu 1.957.860 barris de óleo equivalente/dia, um aumento de 200 mil barris/dia em relação a 2004, ou de 11,38%. CONTAMINAÇÃO DO AMBIENTE POR ÓLEO CRÚ E SEUS DERIVADOS Descargas acidentais e derramamentos de óleo são frequentes em todo o mundo Entrada de petróleo nos oceanos: Processos naturais Extração de petróleo Transporte de petróleo Consumo de petróleo Anualmente os oceanos recebem mais de 1,3 milhões de toneladas métricas de petróleo e derivados No Brasil esses eventos estão relacionados principalmente com a ruptura de dutos e derrames de tanques EFEITOS AMBIENTAIS ORGANISMOS The persistence and character of stranded oil on coarse sediments beaches Owens, E. H. Taylor, E. ; Humphrey, B. • Resíduos de petróleo podem persistir por décadas nas linhas de costa, embora em quantidades muito inferiores às derramadas. • Nos derramamentos a maior parte removida em meses ou poucos anos, por processos naturais ou processos de intemperismo. • Condições especificas podem atrasar ou adiantar esses processos. • Focaram o trabalho em estudos com bastante detalhes sobre o mecanismo e processos, em que o petróleo resiste. • Observações e estudos dos derramamentos ARROW, METULA, AMOCO CADIZ, FLORIDA e do BIOS experiment, ajudaram a entender o processo de intemperismo e de atenuação do petróleo nas linhas de costa. Para definir os fatores que contribuem para a persistência do petróleo a longo prazo, analisaram locais onde os resíduos persistem por mais de uma década. Concentraram em estudos de derramamentos em que o petróleo resistentes, a longo prazo. Evento Ano Documentos de origem ARROW 1970 Vandermeulen e Gordon (1976) (5); Thomas (1978) (6); Vandermeulen (1982) (6); Humphrey e Vandermeulen (1986) (15); Vandermeulen e Singh (1994) (20); (Owens et al., 1994a) e (Owens et al., 1994b) (22); Wang et al. (1994) (22); Prince et al. (1998) (27); Lee et al. (2003) (30); Owens et al. (2006) (35) METULA 1974 Owens et al. (1987a) (12); Gundlach (1997) (21); Owens et al. (1999) (23); Wang et al. (2000) (23); Owens e Sergy (2005) (30) BIOS Experiment 1981 Owens et al. (1994b) (12); Owens et al. (2002) (20); Prince et al. (2002) (20) EXXON VALDEZ 1989 Hayes e Michel (1.999) (8); Michel e Hayes (1999) (8); Gillfillan et al. (2001) (10); [Irvine et al. 1999] e [Irvine et al. 2006] (10); Short et al. (2004) (12); Taylor e Reimer (2005) (13) Para definir os fatores que contribuem para a persistência do petróleo a longo prazo, analisaram locais onde os resíduos persistem por mais de uma década. Não consideram resíduo de petróleo em diferentes substratos. Focaram em locais em médias e altas latitudes. Por que praias de sedimento grosso?? • Grande potencial de persistência a longo prazo. • Maior complexidade da interação petróleo/sedimento, quando comparados com sedimentos finos e substratos impermeáveis. Sedimento grosso • Possue alta taxa de percolação (fluxo de água através do solo) e alta velocidade de sedimentação. • Tempestades e altas marés, levam a formação de um acumulo de pedras na parte superior. • São mais estáveis e sofrem menos efeito das mares e ação das ondas. Praias de sedimento grosso • Diâmetro dos grãos maiores que 2mm. • Médias e altas latitudes • Mistura de tamanhos de sedimentos (cascalho??) Fonte: Google imagens • Praia de sedimento grosso –Incluem pequenos grãos, cristais, pedras e pedregulhos (de acordo com a classificação de Wentworth) • Praia de sedimento grosso misturado –Incluem a areia, assim como os sedimentos grossos. Fonte: Google imagens • Praias apenas com pedras, pedregulhos cristais são raras. • Costa definidas como “sedimento grosso” possuem tipicamente areia ou grânulos de areia Fonte: Artigo • Ventos, ondas, mares são considerados em escala espacial e temporal, os principais modos de movimentar as partículas. • Movimento do sedimento varia em função do tamanho e formato das partículas, da intensidade da energia física. • Praias de pedregulho ficam semanas, meses ou anos sem modificações, ate que haja um evento com energia suficiente para movimentá-las. Comportamento do petróleo encalhado a curto prazo • CURTO PRAZO: um ou dois meses. (2 ou 4 ciclos de marés) • Período de alta redução no volume do petróleo –60% na primeiras 24 horas –7,5% nos próximos 27 dias (após esse período óleo fica estável, perda de componentes voláteis) • Processos a curto prazo vão degradação micro bacteriana a grandes tempestades • O comportamento do petróleo encalhado varia com a dinâmica costeira e processos de intemperismo. – Petróleos de um mesmo derramamento se transformam em diferentes tipos de óleos. • Textura do sedimento e aderência da partícula no sedimento, afetam a quantidade de óleo retido. • Modos de retenção do óleo: – Móvel na superfície ou subsolo da praia – Aderidos à superfície do sedimento • Penetração e retenção do óleo são sensíveis ao tamanho do grão, área disponível de sedimento e contato grão-com-grão. • A profundidade da penetração é relativa a viscosidade do óleo e característica do sedimento. (Escudo rochoso ou lençol freático limitam a penetração) Característica de sedimento e retenção de óleo PROCESSO DE ATENUAÇÃO • Intemperismo: processos físicos, químicos e biológicos que alteram a composição química e física do óleo. – Processo que mais “retira” petróleo encalhado. • Horas e dias – pequenas quantidades • Semanas e meses – quantidades maiores Curto prazo (Horas a dias – dias a semanas/meses) • Permeabilidade do substrato • Caráter do sedimento • Penetração inicial e subseqüente retenção do petróleo • Propriedades de adesão do petróleo • Potencial de remobilização • Energia das ondas, marés, correntes: retirando o óleo grosso • Cuidados: remoção e limpeza PERSISTÊNCIA A LONGO PRAZO DO PETRÓLEO ENCALHADO • LONGO PRAZO: tempo de meses a anos • Óleos que entram nessa fase, se permanecem até que hajam mudanças nas condições ambientais e persistem por vários anos ou décadas. • Arrow possui as estimativas mais razoáveis. • BIOS é um local com pouca circulação. Processos de remoção: • Biodegradação • Foto-oxidação • OMA (agregação de óleos minerais) (processos de ação lenta) Aceleradores do processo: • Mudança na linha de costa • Terremotos ou tempestades Na maioria dos derramamentos, após período de meses ou anos, não apresentam resíduos de óleos na superfície. Mas, em um grande número de casos, o óleo permanece na sub- superfície, porém não foram/são observadas ou documentadas por falta de levantamento de dados. Principais formas em que o petróleo persistente aparece na superfície: • PAVIMENTO ASFÁLTICO: – Petróleo misturado com sedimento (com ou sem areia) – Ocorrem na faixa superior da região entre marés – Formam uma crosta dura •DEPOSIÇÃO NA ZONA SUPRATIDAL: – Óleo se deposita na região superior da zona de maré. Principais formas em que o petróleo persistente aparece abaixo da superfície: • “SEPULTAMENTO”: – Transporte de sedimento grosso para zonas superiores. • “SEQUESTRO” PELO SEDIMENTO GROSSO – Óleo penetra no sedimento pelos poros. – Depois se adere a superfície. – Formam uma crosta. ARROW - 1970 • Derramamento do “bunker” C. • Afetou praias de sedimento grosso e linhas de costa de pedras. • 305 km afetados, 48 km limpados (1992 – 13.3km com resíduo). • Maior parte do óleo foi retirada em 3 anos, mesmo em praias protegidas. • Penetrações de um metro foram identificadas já em 1970. Estudo de caso: Chedabucto Bay Nova Scotia, Canadá F o n te : w w w .p a is e s -a m e ric a .c o m /m a p a s /c a n a d a .h tm F o n te : fa c u lty.m s v u .c a /s rs f/G C IF A /A rro w S p ill.h tm l – Pontos ao norte da baía mostraram um decaimento logarítmico entre 70 e 75. – Óleos em praias protegidas incorporaram no sedimento profundamente, com uma degradação baixa. – Meio de 1972 – ação do intemperismo já havia reduzido. – Regiões de baixa energia o óleo permanece inalterado por anos. – Óleos que não reduziram até 1975 possuem potencial pra permanecer por muito tempo (170 anos). – Maior persistência na Black Duck Cove. Fonte: authenticseacoastresort.com/play/chedabuctobay Fonte: faculty.msvu.ca/srsf/GCIFA/ArrowSpill.html METULA - 1974 • 5000m² de pavimento asfáltico formado no Puerto Espora, 2,5anos após um derramamento (Arabian) • O óleo estava sendo lentamente reduzido mesmo em uma baía protegida. • Óleo se depositou na lama, Punta Espora, na regiões superiores da praia. • Este óleo não foi retrabalhado pelas ondas e se mantém móvel em alguns lugares. • Óleos na região supratidal são afetados apenas por intemperismos terrestres. F o n te : G o o g le im a g e n s BIOS - 1981 • Baffing Island Oil Spill - BIOS • “Medium crude oil” foi usado para lavar uma praia de sedimento grosso, de baixa energia. • A concentração inicial de petróleo encalhado excedeu a capacidade suporte do sedimento. • A maioria do óleo (60%) encalhado permaneceu boiando e foi retirado em 24horas. • Depois de 40 anos de exposição algumas superfícies e sub-superfícies, continham óleo inalterado. • Alguns aparentaram biodegradação suave, outras apresentaram intensas biodegradações (perda de 87% de hidrocarbonetos e 92% de ácidos graxos saturados). • Mudanças nas características físicas divididas em 4 estágios: – Desencalhe inicial rápido, primeiras 24-48 horas – Formação de um pavimento asfáltico na zona entre - marés, em 4 meses, – Degradação do pavimento nos 10 meses seguintes, – Desintegração do pavimento de fina camada de superfície, evidente após 40 meses. Fonte: www.dfdickins.com/oilspills.html EXXON VALDEZ - 1989 • Derramamento em março de 1989. • 785 km de costa impactados. • Prince William Sound, Alaska. • A encosta norte do Alaska foi afetada por óleos em diferentes “tempos” de intemperismo (fresco bruto, muito intemperisado, “mousse”). Prince Willian Sound, Alaska Área atingida pelo derramamento F O N T E : b lo g la d o c .c o m .b r/ c a te g o ry /t o p -1 0 -d e s a s tr e s -a m b ie n ta is / • Ventos de primavera na hora do derramamento ajudaram na deposição do petróleo diretamente na camada superior da zona entre - marés nas grandes pedras (72%) e no sedimento grosso misturado (24%). • Nas tempestades do inverno e com trabalhos de remoção, as 20.000 toneladas reduziram a 800 toneladas (2%), no inicio do terceiro ano. • Estimativas propunham que após 12 anos o volume original reduziria a 0,14%-0,28% (55,6 toneladas) Fatores que atenuam Fatores q favorecem Caráter de óleo Leve ou de óleos não- persistente. Pesados ou intemperisados Quantidade de óleo Pequenas quantidades ou concentrações em qualquer localização Grandes quantidades ou concentrações em qualquer localização Tipo da linha de costa Sedimentos de rocha impermeável ou sedimentos finos Sedimentos grossos, com areia fina ou rocha grande abaixo. Localização em relação aos níveis de maré Deposição na zona de marés e da zona de ação da onda. Deposição acima da zona de marés e da zona de ação da onda. Fatores que afetam a persistência do petróleo encalhado Fatores que atenuam Fatores q favorecem Localização em relação aos sedimentos móveis Deposição na zona de “reworking” e redistribuição de sedimento. Penetração ou enterro a uma profundidade abaixo da camada de sedimento móvel e reciclagem sedimentar Interferência do homem Tratamento ou limpeza por ações federais. Obras que resultam no recuo do litoral; mineração da praia Nenhuma atividade de tratamento. Obras que resultem na estabilização da linha de costa Interferência natural Dinâmica ou erosão da costa. Movimentos da Terra/alterações do nível de água, reduzindo seu nível. Linha de costa estável movimentos da Terra/alterações do nível de água, elevando seu nível. • A persistência do óleo retido pode ser esperada por longos períodos. O óleo pode: 1. Ser enterrado por sedimento em deposição. 2. Penetrar e ser “seqüestrado” pelo sedimento grosso. 3. Formar um pavimento asfáltico resistente 4. Ser depositado acima do nível das forças marinhas (ondas, marés, correntes) • Uma camada que limita a penetração é necessária para o óleo ficar retido abaixo do sedimento grosseiro. (Arrow – Black Duck Cove e alguns pontos do Exxon Valdez). • Na ausência da camada limitante, a maioria do óleo é lavado, deixando apenas manchas ou resquícios no sedimento seco.Atenuação destes resíduos que persistem em praias de sedimento grosso, pode ser um processo lento. (Black Duck Cove) (Arrow e Exxon Valdez) FILME EXXON VALDEZ Em organismos aquáticos...... Morte direta por recobrimento e asfixia Óleos pesados e viscosos recobrem os animais e vegetais impedindo que façam as trocas necessárias com o ambiente, como respiração, excreção, alimentação, fotossíntese, etc. Podem prejudicar a locomoção bem como alterar a temperatura do corpo (stress térmico), podendo levar os organismos à morte. Morte direta por intoxicação As frações do petróleo compostas pelos aromáticos são os principais causadores de morte por toxicidade. Entre os mais tóxicos estão o benzeno, tolueno e xileno. Os efeitos tóxicos do óleo, também são responsáveis pela mortalidade aguda, especialmente nos primeiros dias após o derrame. Morte de larvas e recrutas As larvas são muito mais sensíveis aos efeitos do petróleo do que os adultos. Por exemplo, larvas de cracas (Balanus) são 100 vezes mais sensíveis ao óleo do que os adultos; larvas de lagostas em água com concentração de 0,1 ml de óleo por litro tem 100 % de mortalidade. Redução na taxa de fertilização O petróleo pode reduzir a quantidade de ovos com sucesso de fertilização, o que causa conseqüente redução na quantidade da prole. Isto pode gerar efeitos a médio prazo na reposição de indivíduos das populações. Este efeito já foi observado em diversas espécies, entre elas, o mexilhão Mytilus e a ostra Crassostrea. Perturbação nos recursos alimentares dos grupos tróficos superiores Com a morte de espécies pertencentes aos grupos vegetais e herbívoros, os predadores têm seus recursos alimentares (presas) reduzidos, o que pode causar alteração na estrutura de toda a comunidade. Considerando a estrutura das comunidades costeiras, efeitos esperados são a redução na riqueza (número de espécies) e alteração na composição das espécies com aumento nas densidades populacionais de espécies resistentes (oportunistas). Consequentemente, com o desaparecimento das espécies mais sensíveis, a teia trófica é alterada e freqüentemente simplificada, uma vez que as espécies raras e menos abundantes são normalmente a maioria nestes ambientes. • Bioacumulação • Muitos compostos podem ser absorvidos pelas mucosas e membranas biológicas. A continuidade deste processo é denominada de bioacumulação ou biomagnificação, e pode fazer com que a concentração deles seja muito maior nos organismos do que na própria água do mar. A própria ingestão dos compostos do petróleo pode aumentar a bioacumulação. Por exemplo, Mytilus, pode ter uma taxa de bioacumulação de 1000 vezes. Outros aspectos da bioacumulação referem-se à redução da resistência a outros estresses e infecções. Incorporação de substâncias carcinogênicas Muitas das substâncias do grupo dos aromáticos com comprovado efeito carcinogênico, como o benzopireno e benzantreno , os quais causam tumores em diversos organismos como moluscos , briozoários e algas. • Efeitos indiretos subletais (morte ecológica) O petróleo pode ainda causar uma série de efeitos que não representem a morte imediata dos organismos mas que representam perturbações importantes, consideradas morte ecológica, as quais impedem que o organismo realize suas funções no ecossistema, inclusive podendo progredir para a morte. Entre estes efeitos estão a dificuldade na localização de presas, problemas na percepção química e motora, inibição da desova, aborto, deformação de órgãos reprodutores, perda de membros, alterações respiratórias, alterações na taxa de fotossíntese, desenvolvimento de carcinomas etc. Muitos efeitos indiretos e sub-letais podem ocorrer a médio ou a longo prazo, em diferentes intensidades, podendo causar a redução das populações das espécies atingidas. Efeitos deletérios de frações solúveis em água de petróleo, diesel e gasolina no Peixe-Rei marinho Odontesthes argentinensis Ricardo Vieira Rodrigues, Kleber Campos Miranda-Filho, Emeline Pereira Gusmão, Cauê Bonucci Moreira, Luis Alberto Romano, Luís André Sampaio • Hidrocarbonetos derivados de petróleo são considerados um dos principais poluentes do ecossistema aquático • Apenas uma pequena fração é dissolvida e se torna biodisponível : Fração Sóluvel em Água – FSA (water- soluble fraction - WSF) • Pesquisas relacionadas com a toxicidade da FSA do petróleo na biota aquática são escassas Composição da Fração solúvel em água (water-soluble fraction – WSF) 1. Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos – HAPs 2. Hidrocarbonetos Monoaromáticos - BTEX (Benzeno, Tolueno, Etilbenzeno e Xilenos) 3. Fenóis 4. Compostos heterocíclicos contendo nitrogênio e enxofre 5. Metais pesados Principais grupos trabalhados 1. Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos - HAPs: • provenientes da combustão incompleta da matéria orgânica • altamente lipofílicos • podem reagir com o DNA • efeitos deletérios conhecidos: inflamação, câncer, alteração do desenvolvimento fetal, apoptose de leucócitos, bronquite, etc. • benzo[a]antraceno • benzo[b]fluoranteno • benzo[j]fluoranteno • benzo[k]fluoranteno • benzo[g,h,i]perileno • benzo[a]pireno • criseno • ciclopenta[c,d]pireno • dibenzo[a,h]antraceno • dibenzo[a,e]pireno • dibenzo[a,e]pireno • dibenzo[a,i]pireno • dibenzo[a,l]pireno • indeno[1,2,3-cd]pireno • 5-metilcriseno • benzo[c]fluroeno Principais grupos trabalhados 2. Hidrocarbonetos Monoaromáticos - BTEX (Benzeno, Tolueno, Etilbenzeno e Xilenos) • Estas substâncias apresentam considerável solubilidade em água (especialmente o benzeno) • Os hidrocarbonetos de baixo peso molecular apresentam intenso efeito tóxico agudo, principalmente devido a sua elevada solubilidade e conseqüente biodisponibilidade. • Benzeno é líquido, inflamável, incolor, cujos vapores, se inalados, causam tontura, dores de cabeça e até mesmo inconsciência. • Tolueno ou metil benzeno é a matéria-prima a partir da qual se obtêm derivados do benzeno, medicamentos, corantes, perfumes, TNT, e detergentes. pode afetar o sistema nervoso, produzir cansaço, confusão mental, debilidade, perda da memória, náusea, perda do apetite e perda da visão e audição. Por que tudo isso é tóxico? Acumulação em compartimentos lipídicos como a membrana celular prejudicando as propriedades físico-químicas e fisiológicas da membrana Por que escolheram larvas de peixe rei? • A acumulação de hidrocarbonetos solúveis derivados de petróleo em peixes é extremamente rápida • São bons bioindicadores porque esses poluentes tendem a se acumular mais nos organismos do que no ambiente • Suas larvas são muito usadas para medir o efeitos dos poluentes na biota aquática • Primeiros estágios da vida de um peixe são ainda mais sensíveis: órgãos em desenvolvimento e área de superfície relativamente grande facilita a entrada desses poluentes • Efeitos deletérios: lesão nos tecidos e inibição enzimática Peixe-Rei marinho Odontesthes argentinensis • Peixe rei marinho: aquacultura e investigações de ecotoxicidade • Distribuição: da Argentina ao sul do Brasil • Muitas refinarias de petróleo nessa região • Nenhuma informação sobre os efeitos do petróleo brasileiro em larvas de peixes nativos Objetivos da pesquisa • Analisar os efeitos deletérios da FSA do petróleo brasileiro nas larvas do peixe rei marinho Odontesthes argentinensis • Estimar a Concentração letal mediana em 4 dias (LC50 – 96h) • Testes de toxicidade e exames histopatológicos descrevendo as anormalidades histológicas Material e Métodos • Amostragem - Ovos fertilizados de peixe rei foram coletados na Praia do Cassino, Rio Grande – RS • Encubação - Tanques de 1000L - Temperatura: 23ºC - Salinidade: 30% - Concentração de Oxigênio dissolvido: > ou = 6.2 mg/L - Luz contínua • Preparação das FSAs - Petróleo doado pela Agência Nacional do Petróleo - Combustíveis comprados de postos de gasolina - Mistura de 4 partes de água do mar com 1 parte de poluente por 22h Material e Métodos • Testes de Toxicidade Aguda - Larvas foram expostas por 96h a diferentes concentrações de FSA de petróleo, diesel, gasolina e um controle sem adição de poluentes. - Petróleo: 10, 25, 50, 75 e 100% - Diesel: 4, 8, 16, 32 e 64% - Gasolina: 1, 2.5, 5, 10 e 20% - Oxigênio dissolvido e pH medidos diariamente - Primeiros testes: determinar as concentrações letais viáveis para cada poluente - 30 larvas por cada tratamento - Mortalidade verificada a cada 24h Material e Métodos • Análise dos hidrocarbonetos - HPAs e BTEX determinados para 100% de FSA do petróleo, diesel e gasolina - Cromatografia de gás com um Espectrômetro de Massa ou Detector de Ionização em chamas • Análise histológica - 3 larvas de cada unidade experimental foram submetidas a estudos histopatológicos - Produção de lâminas - Análise no microscópio óptico • Análise estatística - Software Trimmed Spearman Karber para estimar LC50 – 96h - Software Statistica 6.0 Resultados • HPAs e BTEX presentes na FSA - diesel e gasolina: BTEX HPAs - petróleo: BTEX HPAs Resultados • Oxigênio dissolvido - Controle: 6.3 mg/L - Diesel: 3.71 mg/L em 64% de FSA - Gasolina: 3.36 mg/L em 5% de FSA - Petróleo: 5.2 mg/L em 100% de FSA • pH - Controle: 8.12 - Diesel: 7.71 - Gasolina: 7.65 - Petróleo: não houve alterações Mortalidade • Petróleo - 24h com até 75% de FSA: não houve mortes - 24h com 100% de FSA: 76,7% mortos - 96h com 50% de FSA: 53,3% mortos • Diesel - 24h com 32% de FSA: 90% mortos - 24h com 16% de FSA: 3,3% mortos - 24h com concentrações de FSA menores que 16%: não houve mortes - 48h com 64% de FSA: 100% mortos - 96h com 16% de FSA: 6,7% mortos - 96h com concentrações de FSA menores que 16%: não houve mortes Mortalidade • Gasolina - 24h com 10% de FSA: 90% mortos - 24h com concentrações de FSA menores que 10% : não houve mortes - 48h com 2,5% de FSA: 3,3% mortos - 96h com 1% de FSA: não houve mortes - 96h com 2,5% de FSA: 6,7% mortos - 96h com 10% de FSA: 100% mortos LC50 – 96h • LC50 – 96h do diesel e da gasolina foi significativamente menor do que a do petróleo • Não há diferença de toxicidade aguda entre diesel e gasolina Pseudobrânquias - Hiperplasia do epitélio - Células mitóticas - Ruptura de células pilares Histologia Histologia • Esôfago - Hiperplasia das células epiteliais - Células mitóticas Histologia • Fígado - Dilatação dos sinusóides hepáticos - Hepatocitomegalia - Hepatócitos binucleados - Núcleo picnótico (indica necrose de tecido) Discussão • O descarte de petróleo e combustíveis refinados tem impactos negativos, não só através de efeitos físicos mas também como uma consequência da toxicidade da FSA na biota • A qualidade da água foi prejudicada pela FSA • A toxicidade da FSA do óleo cru parece ser maior em água doce do que em água salgada • A toxicidade aguda do diesel e da gasolina é pelo menos cinco vezes maior do que a do petróleo brasileiro • BTEX são os maiores responsáveis pela toxicidade da FSA na água do mar, logo a gasolina e o diesel são mais tóxicos do que o petróleo • As lesões encontradas nas larvas são classificadas como moderadas Discussão • As lesões nas pseudobrânquias afetam artéria que oxigena os olhos do peixe, podendo prejudicar a visão: nunca antes relatada na literatura • Dilatação nos sinusóides hepáticos é devida ao aumento do fluxo sanguíneo no fígado a fim de desintoxicar o organismo • O caráter moderado das lesões pode ser devido a alta taxa de crescimento das larvas e o curto período de exposição • Todos os agentes tóxicos induziram a anormalidades histopatológicas nas larvas de peixe rei. • A FSA do petróleo e seus derivados deve receber maior atenção porque ela pode gerar efeitos deletérios em regiões que não foram diretamente afetadas pelo derramamento de óleo • Para um mapeamento de sensibilidade ao derramamento de óleo são considerados o tipo de ecossistema (costeiro, estuarino ou fluvial), as espécies sensíveis e recursos socioeconômicos a serem afetados • Quanto à sensibilidade ambiental: é classificada de 1 a 10 • Ex sensibilidade 1: costões rochosos, superfície fácil de limpar, difícil de penetrar o óleo • Ex sensibilidade 10: manguezais, áreas vegetadas protegidas de ondas e marés • Mapeamento, percorrer a região via terrestre/aquática, índice de sensibilidade ambiental (determinando armadilhas onde o óleo pode estagnar) • Situações de vulnerabilidade biológica: Muitos indivíduos concentrados em região pequena, áreas reprodutivas, alimentação e descanso, áreas de propagação, áreas com espécie em extinção, porcentagem de exposição dos organismos ao óleo • Segundo mapa de sensibilidade ambiental a derrames de óleo, a Ilha do Fundão possui regiões de grau 4, 7, 8 e 10 • Em 1962 aconteceu a Convenção para a Prevenção da Poluição do Mar por Petróleo: limitou o despejo de rejeitos contaminados por óleo por navios, um pequeno percentual de sua carga e a 80km da costa • MARPOL em 1973: prevenir a poluição por causas operacionais ou acidentais provocadas por navios. Continuamente atualizada. E em seres humanos....... Anualmente, mais de 25.000 crianças com menos de 5 anos apresentam intoxicação devido à ingestão de derivados do petróleo como, por exemplo •gasolina, •querosene, •solventes de tintas, •hidrocarbonetos halogenados, como o tetracloreto de carbono (componente de produtos líquidos para limpeza a seco e solventes) e, • o dicloreto de etileno (encontrado em removedores de tinta). No entanto, a maioria das mortes por intoxicação por hidrocarbonetos ocorre em adolescentes que, deliberadamente, cheiram substâncias voláteis. Pequenas quantidades dessas substâncias, especialmente os líquidos que fluem facilmente, podem atingir aos pulmões, lesando-os diretamente. Dentre os líquidos mais viscosos, o óleo mineral selante, utilizado em produtos como lustra- móveis, é o mais perigoso de todos por ser extremamente irritante e porque pode causar uma grave pneumonia por aspiração. • No início, há apenas tosse e engasgo, mesmo quando o indivíduo apenas provou o produto. • A respiração torna-se rápida. • A pele pode ficar azulada em virtude da redução da concentração de oxigênio. • Dificuldade de respiração, vômito e tosse persistente. • Os sintomas neurológicos incluem a sonolência, o estupor ou coma e as convulsões. • Esses efeitos habitualmente são piores quanto maior for a quantidade consumida como nos casos de ingestão de fluido para isqueiro, lustra-móveis ou hidrocarbonetos halogenados (p.ex., tetracloreto de carbono). Os rins e a medula óssea podem ser lesados. • Nos casos graves, o coração pode dilatar; podem ocorrer arritmias cardíacas (p.ex., fibrilação atrial) e inclusive parada cardíaca. • A inflamação pulmonar que é suficientemente grave para levar à morte e freqüentemente o faz em menos de 24 horas. • Tipicamente, a recuperação da pneumonia leva cerca de 1 semana. Uma exceção é a pneumonia causada pela ingestão de óleo mineral selante que, na maioria dos casos, requer 5 a 6 semanas para a recuperação. Golfo do México Em 20 de abril deste ano, uma explosão ocorrida na plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México matou 11 funcionários. Foto: Imagem captada pelo satélite de sensoriamento remoto Aqua da Nasa revela a extensa mancha de óleo que se espalhou pelo Golfo do México e avança em direção a costa do Estado da Louisiana. Crédito: Nasa. Direitos Reservados Ao utilizar este artigo, cite a fonte usando este link: Fonte: Apolo11 - ttp://www.apolo11.com/meio_ambiente.php?posic=dat_20100430-074949.inc Uma imagem captada pelo satélite de sensoriamento remoto Aqua, da Nasa, no dia 25 de abril, revelou a extensão da mancha localizada à direita do Delta do Rio Mississipi e a cerca de 80 quilômetros da costa da Louisiana. Dimensão do vazamento, caso ocorresse sobre o eixo Rio - São Paulo A mancha tem aproximadamente 170 km de comprimento por 72 km de largura, uma área quase duas vezes maior que a Região Metropolitana de São Paulo, que reune 39 municípios. Estima-se que o vazamento foi de 600 milhões de litros de petróleo. Vazamento foi tampado provisoriamente em 15 de julho e definitivamente em setembro A BP afirmou que seus gastos com o combate ao vazamento de óleo no Golfo do México já chegam a US$ 8 bilhões (cerca de R$ 14 bilhões).