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41561M - Direito Econômico Brasileiro - Uma visão didática - janeiro - 2007

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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse artigo 
 SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
1 – DIREITO ECONÔMICO BRASILEIRO. 
1.1 – Conceito. 
1.2 – O Objeto. 
1.3 – Autonomia. 
1.3.1 – A autonomia legislativa. 
1.3.2 – A autonomia científica. 
1.3.3 – A autonomia didática. 
1.3.4 – A autonomia jurisdicional. 
1.4 – Relação com Outras Ciências. 
1.4.1 – Com outras ciências jurídicas. 
1.4.1.1 – A estreita relação com o Direito 
Constitucional. 
1.4.2 – Com as ciências não jurídicas. 
1.4.2.1 – A relação umbilical com a Ciência 
Econômica. 
1.5 – Um Breve Histórico do Direito Econômico. 
1.5.1 – No mundo. 
1.5.2 – No Brasil. 
 
2 – A ORDEM ECONÔMICA BRASILEIRA. 
 2.1 – Conceito. 
 2.2 – Os Princípios da Ordem Econômica. 
2.2.1 – A soberania nacional. 
2.2.2 – A propriedade privada. 
2.2.3 – A função social da propriedade. 
2.2.4 – A livre concorrência. 
2.2.5 – A defesa do consumidor. 
2.2.6 – A defesa do meio ambiente. 
2.2.7 – A redução das desigualdades regionais e sociais. 
2.2.8 – A busca pelo pleno emprego. 
2.2.9 – Tratamento favorecido para as empresas brasileiras 
de capital nacional de pequeno porte. 
2.2.10 – O parágrafo único do artigo 170. 
 2.3 – A Política Econômica. 
 2.4 – A Relação entre Política Econômica e a Norma 
Constitucional. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
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2 
 2.5 – A Intervenção Estatal na Economia. 
2.6 – O Desenvolvimento Face à Finalidade da Ordem 
Econômica. 
 2.7 – A Atividade Econômica – Conceito. 
 2.8 – Os Serviços Públicos. 
 2.9 – O Monopólio e os Regimes Especiais. 
 2.10 – A Propriedade Privada e o Interesse Público. 
 2.11 – O Planejamento: Planos, Orçamentos e Diretrizes. 
 2.11.1 – O plano plurianual. 
2.11.2 – A lei orçamentária anual. 
 2.11.3 – A lei de diretrizes orçamentária. 
 2.12 – O Sistema Financeiro Brasileiro. 
 
3 – O DIREITO ECONÔMICO E A LIVRE CONCORRÊNCIA. 
 3.1 - O Mercado e a Livre Concorrência. 
 3.2 - A Concorrência Face aos Princípios da Ordem Econômica. 
 3.3 – A Lei n° 8.884/94 e a Proteção da Ordem Econ ômica. 
 3.4 – As Infrações Contra a Ordem Econômica. 
3.4.1 – As penas por infrações contra a ordem econômica. 
 3.5 – Os Crimes Contra a Ordem Econômica. 
 3.6 – A Proteção da Ordem Econômica Face às Leis 8.884/94 e 
8.078/90. 
 
4 – OS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA. 
 4.1 – Secretaria de Direito Econômico – SDE. 
4.1.1 – SDE – A sua competência. 
 4.2 – O Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE. 
4.2.1 – CADE – A sua competência. 
 4.3 – Os Procons. 
 
5 – A PROCESSUALÍSTICA DA LEI 8.884/94. 
5.1 – O Processo na Secretaria de Direito Econômico – SDE. 
5.2 – O Processo no Conselho Administrativo de Defesa 
Econômica – CADE. 
 
 
BIBLIOGRAFIA. 
 
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1 – DIREITO ECONÔMICO. 
 
 
 
 O Direito Econômico no Brasil tem uma existência muito 
curta, pois esse é um ramo do Direito relativamente novo. 
Explico. O Direito Econômico tem uma linha tênue entre os 
conceitos da Ciências Econômicas, entre os quais o de mercado 
livre ou aberto ou o que podemos, vulgarmente, intitular de 
neoliberalismo. Assim, quanto mais aberto o mercado maiores 
são as necessidades de regulamentar, normatizar ou discipliná-
lo. Sabidamente, o Brasil não se primou, ao longo de sua história 
(ou estória, como queira o leitor), por uma economia de 
mercado. Senão vejamos, no período colonial estávamos 
obrigados a consumir somente produtos que vinham da 
metrópole, Portugal, e vendíamos somente para ela. Desse 
modo não conhecíamos a liberdade de mercado. Seguimos no 
império com igual situação comercial, quer pelo domínio 
econômico da Inglaterra, quer pelos acordos celebrados pelo 
Imperador D. Pedro I. O mundo foi se transformando, 
economicamente ao longo dos últimos séculos, mas foi somente 
nas últimas décadas que o Brasil começou a mudar a sua pauta 
de exportação e em assim sendo, mudar o panorama interno. 
 
 
 Há poucas décadas começamos a produzir nossos 
primeiros automóveis, mais precisamente na década de 50. Nos 
Estados Unidos, em 1954, surgiam as primeiras televisões 
coloridas e a primeira capota automobilística elétrica, tais 
adventos só chegariam na década de 70 no Brasil. Durante 
vários séculos fomos meramente exportadores de matéria-prima 
não elaborada, como: o látex, o café, o açúcar, o ouro e tantos 
outros identificados por um ciclo econômico ou não. 
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4 
 Enquanto nos Estados Unidos a economia era 
extremamente concorrida, nas décadas de 60 e 70, 
principalmente, vivíamos no Brasil um regime de exceção, 
ditatorial. Como tal a economia seguia esse veio, só que ao final 
não era possível encontrar ouro, a não ser o de tolo. Vivemos 
àquela época uma expectativa de progresso, só que era por 
decreto. O tempo passou e foi possível observar que o mundo 
inteiro estava caminhando para o neoliberalismo, isto é, uma 
menor intervenção do Estado na economia. Isso não quer dizer 
que não houve Direito Econômico durante este período. Não é 
isso. Mas certamente as suas regras eram impostas e por isso 
mesmo sem toda a presença criativa do mercado livre. 
 
 
 Quando se observa um mercado gessado, rígido, quer 
pelas regras jurídicas que o rege, quer pelas possibilidades 
econômicas que o define, observamos um Direito Econômico 
raquítico e sem expressão. O Brasil por ter vivido longos 
períodos regidos pela estagnação econômica, levada pelo baixo 
grau de industrialização e pouco investimento interno, ou por ter 
sido governado com regimes colonialistas, imperialistas ou 
ditatoriais, implementou ao Direito Econômico um aparecimento 
tardio. 
 
 
Desde que o homem resolveu se organizar socialmente em 
grupos, atividades que eram de competência social apareceram. 
Delas nasceu uma necessidade não muito boa, fazendo com que 
cada um pensasse como se o mundo fosse acabar amanhã. 
Segue uma luta pela sobrevivência e o hobby de acumular 
riquezas. Junto com essa ação que induz perder os limites, a 
sociedade de uma forma sábia implementou regras para que 
isso não acontecesse. Assim, elaborou normas para estabelecer 
limites ao capital e disciplinar sua convivência com a 
humanidade objetivando a sua perpetuação. 
 
 
Por esses motivos e não somente por esses, o Direito 
Econômico se apresenta como ramo novo do direito positivo 
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5 
brasileiro, um bebê, com apenas algumas décadas, em face de 
um agrário ou civil que são centenários. 
 
 
 
 1.1 – Conceito. 
 
 
 
Conceituar qualquer tema requer uma profunda discussão 
e estabelecimento de referenciais. Deste modo, façamos antes 
uma reflexão a respeito da
classificação do Direito Econômico. 
 
 
A parte introdutória do estudo do direito nos traz alguns 
pontos a serem considerados, a respeito do Direito Econômico: 
a) é positivo – implica que as suas regras são 
determinadas pela sociedade que o criou. Varia 
em consideração ao tempo e local de sua criação. 
Assim, o Direito Econômico Brasileiro presente na 
constituição de 69 não é o mesmo da atualidade, 
ou, o Direito Econômico Brasileiro não é o mesmo 
do Direito Econômico Inglês; 
b) é nacional – isto significa que as suas regras são 
aplicadas apenas nos limites territoriais brasileiros. 
Incluído aí o espaço aéreo, as embaixadas, os 
consulados, o mar territorial, os 8,5 milhões de 
quilômetros quadrados, a plataforma marítima, as 
embarcações e as aeronaves com bandeiras 
brasileiras. 
c) é público – quer dizer, as suas normas 
representam a vontade de uma maioria e no nosso 
atual sistema de governo implica em dizer que a 
norma legal, isto é, a lei é o fruto que expressa 
essa vontade. O povo, através do voto, elege seus 
representantes para que façam leis que represente 
sua vontade. Em todo ramo público a aplicação 
das normas são inegociáveis, vez que para a 
mudança da regra, proposta em lei, se faz 
necessária a consulta de todos, mesmo que 
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6 
através de seus representantes, o que torna 
impraticável tal ato. 
 
 
Assim, dessa reflexão já podemos balizar algo para o 
Direito Econômico. Primeiro: o nosso estudo está sujeito a 
mudanças, pois é fruto de um consenso nacional e pode mudar, 
com conseqüente mudança da lei; depois, é regra aplicada 
somente nos limites territoriais do Brasil e por isso nacional, 
assim é Direito Econômico Brasileiro (cabe uma observação de 
que em capítulo posterior realizarei um estudo comparado a 
respeito de alguns países abordando o tema desse trabalho); e 
finalmente, representa o interesse de todos, toda a sociedade 
está sendo protegida quando falamos de Direito Econômico, 
normatizar o sistema econômico é protegê-lo e desse modo 
perpetuar o status quo e os interesses de toda a coletividade. 
 
 
Alguns doutrinadores já pensaram e expressaram a 
respeito do conceito de Direito Econômico, vejamos como nos 
ensina o saudoso Professor Celso Ribeiro Bastos: 
 
Pode-se conceituar o Direito Econômico como sendo o 
ramo autônomo do Direito que se destina a normatizar as 
medidas adotadas pela Política Econômica através de uma 
ordenação jurídica, é dizer, a normatizar as regras 
econômicas, bem como a intervenção do Estado na 
economia.1 
 
 
Do conceito do Professor Celso Ribeiro Bastos é fácil a 
identificação de alguns núcleos: a) ramo autônomo do Direito; b) 
se destina a normatizar a Política Econômica através de uma 
ordenação jurídica; e c) normatização da intervenção do Estado 
na economia. Nos parágrafos seguintes procurarei refletir a 
respeito desses três núcleos destacados do conceito de Direito 
Econômico. 
 
1
 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito econômico. São Paulo: Celso bastos, 2004, p. 51. 
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7 
A autonomia do Direito Econômico em face de todo o 
Direito é relativa, vez que não nos é possível conceber um só 
ramo da ciência que consiga existir em si mesmo. Todas as 
ciências necessitam de outras para a sua sobrevivência. Assim, 
quando detectamos que o Direito Econômico é um ramo 
autônomo do Direito, o conceito de autonomia não deve ser 
confundido com o conceito pleno de independência, isto é, 
autonomia é uma independência relativisada, emoldurada, é uma 
liberdade dentro de limites pré-estabelecidos. Para um maior 
entendimento da autonomia enfoco quatro limites distintos, os 
quais serão desenvolvidos em oportunidade futura, a saber, as 
autonomias: legislativa, científica, didática e jurisdicional. 
 
 
Normatizar a política econômica através de uma ordenação 
jurídica é a idéia presente no segundo núcleo. Para o seu 
entendimento, antes se faz necessária a compreensão do 
conceito de política econômica. Assim, Maria Helena Diniz nos 
ensina: 
 
Política econômica. Teoria e prática da direção econômica 
de uma nação, que procura, oficialmente, efetivar algumas 
mudanças na economia, relativas à produção, circulação e 
distribuição de riquezas, para a consecução de certos fins 
e obter o seu saneamento.2 
 
 
Então, se política econômica é a teoria e a prática exercida 
por um país com o objetivo de suprir suas necessidades de 
riquezas, em diversos pontos geográficos, esse núcleo do 
conceito é exatamente a normatização, isto é, o mundo jurídico 
que envolve esses assuntos. Assim, a distribuição, a circulação e 
a produção de riquezas de uma nação é normatizada (aspecto 
jurídico) pelo Direito Econômico. 
 
 
O último núcleo é a “normatização da intervenção do 
Estado na Economia”. Uma reclamação geral é comum quando o 
 
2
 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. V. III. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 626. 
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Estado, nos seus diversos níveis de Poder, implementa alguma 
ação que reflete uma concorrência com o privado. Por exemplo, 
quando da implantação da Farmácia do Cidadão, um programa 
do Governo Federal que consiste em uma farmácia que vende 
produtos farmacêuticos com preço abaixo de custo. Essa 
intervenção deve ser monitorada pelo Direito Econômico e reflete 
uma intervenção do Estado na economia. Embora recente, esse 
exemplo é de pequena relevância o que não acontece no setor 
petrolífero em que a União tem o monopólio. A União controla a 
distribuição, a produção, o transporte e até o preço. Aqui temos 
um dos maiores exemplos de intervenção do Estado na 
economia, pois os derivados de petróleo é uma das importantes 
fontes energéticas e base da economia brasileira e mundial. No 
Brasil, essa fonte é controlada diretamente pelo Estado, no caso, 
a União, por esse fato se torna um símbolo de uma grande 
intervenção estatal na economia, o que é certamente regulada 
por normas jurídicas que vislumbram em última instância a 
proteção da sociedade. 
 
 
A reflexão do Ministro Eros Roberto Grau é com certeza 
um pensamento que deve ser estendido para vários outros 
estudos, pois concebe uma ciência fazendo o seu link com o que 
é o mundo para o qual existe. 
 
Pensar o Direito Econômico é pensar o Direito como um 
nível do todo social – nível da realidade, pois – como 
mediação específica e necessária das relações econômicas. 
Pensar Direito Econômico é optar pela adoção de um 
modelo de interpretação essencialmente teleológica, 
funcional, que instrumentará toda a interpretação jurídica, 
no sentido de que conforma a interpretação de todo o 
Direito. É compreender que a realidade jurídica não se 
resume ao Direito formal.3 
 
 
O pensamento do Ministro Eros Roberto Grau estabelece 
uma ligação do Direito com a realidade a qual está imerso. Não
3
 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na constituição de 1988 (interpretação de crítica). São Paulo: 
Malheiros, 2003, p. 137. 
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desvencilha a sua teoria da sua prática social, o que todos os 
ramos e juristas jamais deveriam deixar de ter como orientação 
nos seus estudos. 
 
 
 
 1.2 – Objeto. 
 
 
 
Visto o conceito, acredito que estamos preparados para a 
reflexão a respeito de qual é o objeto do Direito Econômico. 
Após o levantamento de alguns doutrinadores, todos 
devidamente relacionados na bibliografia, certamente o saudoso 
Professor Celso Ribeiro Bastos é o mais incisivo no assunto: 
 
O objetivo do Direito Econômico não é outro senão o 
estudo das normas que dispõem sobre a organização 
econômica de um País, é dizer, as leis que regem a 
produção, a distribuição, a circulação e o consumo de 
riquezas, tanto no plano nacional como no internacional. 
Trata-se do estudo das leis econômicas que regem os 
preços, a moeda, o crédito e o câmbio. É, portanto, o 
direito da economia. 4 
 
 
 Uma observação é mister ser feita: quando o Professor 
Celso Ribeiro Bastos menciona o vocábulo “leis econômicas” 
está falando das leis jurídicas a respeito da economia e não as 
leis econômicas, enquanto preceitos das Ciências Econômicas, 
como por exemplo: a lei (da economia) da procura e oferta que 
diz, mais ou menos assim: quanto maior a procura e menor a 
oferta, maior será o preço e o inverso também, quanto menor a 
procura e maior a oferta, menor será o preço. 
 
 
O Direito Econômico tem como objeto o estudo da 
normatização da economia. O exemplo, se a indústria brasileira 
 
4
 BASTOS, Celso Ribeiro. Op. Cit. p. 52. 
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está em uma situação econômica não muito boa, em face de 
concorrência estrangeira, pode a União utilizar-se de dispositivos 
legais para a proteção do nosso mercado e consequentemente 
dos postos de trabalhos a ele vinculado. Quando impede a 
entrada dos produtos estrangeiros utilizando-se de aumento do 
Imposto de Importação. Para isso a Constituição Federal 
excepcionalizou a sua ação dizendo que poderá fazê-lo por ato 
administrativo e não por lei, o que é comumente exigido por 
preceito constitucional, e que sua cobrança poderá se dar a 
partir da data da publicação do ato, conforme artigo 153, §1° e 
150, §1°, da Constituição Federal de 1988, respecti vamente. 
Outro exemplo é a instituição do Empréstimo Compulsório para 
obter recursos financeiros para fazer frente a despesas de 
caracter urgente, em conformidade com o artigo 148 da 
Constituição Federal de 1988. Os exemplos são inúmeros. Aqui 
fica o registro de alguns, tributários, fundados na veia tributária 
que tem o escritor. 
 
 
 
 1.3 – Autonomia. 
 
 
 
A autonomia de uma ciência delimita um estudo profundo e 
vasto a respeito do que é fundamental para qualquer uma. 
Fazendo assim, proporciona uma maior discussão a respeito do 
tema - Direito Econômico, é o aqui expresso como título. Afinal 
fica interrogação para a resposta a seguir: o Direito Econômico é 
ou não é autônomo? 
 
 
É no sentido de responder a esse questionamento que 
desenvolvemos este item e em conformidade com o já 
mencionado anteriormente e para o melhor estudo, divido os 
campos de análises em quatro: o legislativo, o científico, o 
didático e o jurisdicional. 
 
Muitos autores consideram a autonomia como sinônimo de 
independência, e esse com um significado muito amplo, ou 
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melhor, com um significado de independência plena, o que a 
meu ver é impossível a existência de tal situação, nos dias de 
hoje, senão vejamos: como podemos admitir a Física sem a 
Matemática, ou a Enfermagem sem a Matemática nos seus 
cálculos dosimétricos? Só para falarmos da importância da 
matemática para com outras ciências, mas a matemática declina 
para outras ciências, como fazer cálculos sem utilizarmos o 
português? Esse é apenas um dos aspectos que considero na 
análise da independência de uma ciência, no qual se encaixa 
perfeitamente o nosso estudo. Se considerarmos que autonomia 
seja sinônimo de independência plena, com certeza chegaremos 
à conclusão de que o Direito Econômico não é autônomo. Por 
isso devemos nos desprender de tal conceito antes de iniciarmos 
a nossa análise e observarmos a inter e a transdisciplinariedade, 
ou seja, o conhecimento com uma visão neo-iluminista, 
generalizada, no tocante a dependência de outras ciências para 
a formação dos dogmas jus-econômicos, tanto dentro da grade 
curricular do curso de Ciências Jurídicas como com outras. 
 
 
Alguns autores não admitem a autonomia do Direito 
Econômico, não reconhecendo de forma alguma a sua 
autonomia. Mas para reconhecermos uma ciência alguns pontos 
hão de ser observados, um deles é o princípio de que a 
independência se faz com normas próprias e especiais, 
conhecidos pela expressão latina "jus proprium" e "jus specialis", 
e isso o Direito Econômico tem. 
 
 
Para qualquer ramo da ciência do Direito ser considerado 
como independente, hão de ser observados os pontos 
anteriormente mencionados, pois ficam as indagações relativas a 
essa inteligência, cujas respostas nos conduzem a solução 
dessa dúvida: - Tem legislação especial? - Tem princípios 
próprios para ser considerada como ciência? - É disciplina 
implementada no currículo de formação do cientista jurídico? - 
Para a sua aplicação, tem assegurada a sua especialização na 
jurisdição, em face de sua formação ideológica jus-econômica? 
Com essas indagações podemos partir para o estudo de cada 
um dos pontos levantados, quer seja, a autonomia legislativa, a 
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autonomia científica, a autonomia didática e a autonomia 
jurisdicional. 
 
 
 
1.3.1 – A autonomia legislativa. 
 
 
 
A autonomia legislativa pode ser analisada de vários 
ângulos, escolhemos o que assenta a corrente dominante, quer 
seja, o da quantidade e da qualidade dos dispositivos legais que 
criam esse ramo. 
 
 
A presença do Direito Econômico na Constituição Federal 
de 1988 é muito forte, pois o legislador constitucional de 1988 
dedicou um tratamento especial a esse ramo do direito. Fica o 
registro que são vários os artigos constitucionais que tratam do 
assunto Direito Econômico, direta ou indiretamente, os quais, 
alguns, serão tratados no tópico 2.4 – A Relação entre Política 
Econômica e a Norma Constitucional. 
 
 
Data Vênia, O Professor Celso Ribeiro Bastos afirma: 
 
A Constituição Federal de 1988 consagrou a autonomia 
do Direito Econômico em seu art. 24, inc. I, que reza: 
“Compete à União,
aos Estados e ao Distrito federal 
legislar concorrentemente sobre: I – direito tributário, 
financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico.” 5 
 
 
A autonomia não deve ser considerada apenas uma 
limitação de competência legislativa presente na Constituição 
Federal. A presença do referido dispositivo traz uma certeza de 
importância do tema para a nação, mas a autonomia é 
certamente a quantidade e a qualidade dos dispositivos legais 
 
5
 BASTOS, Celso Ribeiro. Op. Cit. p. 55. 
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que tratam do assunto, no caso, o Direito Econômico. Esse se 
carateriza por ser um ramo extremamente emaranhado nos 
outros. Melhor. A sua presença nos outros ramos do Direito é 
feita de forma contundente. Assim, temos dispositivos legais no 
Direito Tributário que expressam normas do Direito Econômico, 
mas temos também no: Direito Civil, no Direito Penal, no Direito 
Financeiro, no Direito Agrário, só para citarmos alguns. 
 
 
Quando falamos de uma autonomia do Direito Tributário, 
no aspecto legislativo, não pairam dúvidas a respeito, pois só 
códigos tributários municipais, os quais são leis, são mais de 
5.580; estaduais ou distritais 27 e outros tantos de leis 
complementares instituindo espécies tributárias. Diferentemente 
no Direito Econômico, ele se quer tem um código para disciplinar 
a área. Os normativos do Direito Econômico se apresentam de 
forma esparsa e por vezes, encrustados em dispositivos legais 
eminentemente representantes de outros ramos autônomos do 
Direito. 
 
 
A dificuldade de entendimento da autonomia legislativa do 
Direito Econômico se funda na realidade apresentada. Ela se 
apresenta de maneira dispersa, não concentrado, fragmentada, 
o que é responsável por essa inexpressão legislativa e 
conseqüente invisibilidade do extenso arcabouço de leis que 
regem o Direito Econômico. 
 
 
A autonomia legislativa é certa para o Direito Econômico. A 
sua dependência de dispositivos que são conhecidos como de 
outras disciplinas, não invalida a sua autonomia. Nenhum ramo 
do direito, ou de qualquer outra ciência, é absoluto. Todos só 
existem diante de uma longa e vasta dependência de outras 
ciências. Assim, transportando o assunto para o Direito 
Econômico, a dependência de dispositivos tradicionalmente 
conhecidos como de outro ramo, não descaracteriza sua 
autonomia, pelo contrário, revela a sua influência além dos seus 
limites e marca sua interferência em outros ramos das ciências 
Jurídicas. 
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A quantidade e a qualidade das normas que tratam do 
Direito Econômico são de grandes volumes e importâncias. Por 
exemplo: ele é um dos poucos que tem seus princípios escritos 
na Constituição, é o único que tem uma secretaria exclusiva 
dentro do Ministério da Justiça para monitorar assunto de sua 
competência é o único que tem um conselho, que funciona como 
autarquia para avaliação dos temas de seu interesse. Não 
obstante a sua presença na Constituição está presente, 
obrigatoriamente, nas legislações: ambientais, de defesa do 
consumidor, tributária, penal, trabalhista, só para citar algumas. 
Por estas e por outras é que, inequivocamente, possível afirmar 
que, diante destes padrões estabelecidos, o Direito Econômico é 
autônomo legislativamente falando. 
 
 
 
1.3.2 – A autonomia científica. 
 
 
 
Para o estudo desse tema fomos inicialmente ao Novo 
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa para buscarmos o que é 
ciência e com esse conceito formamos o nosso posicionamento 
a respeito da autonomia científica do Direito Econômico. Ele traz 
na sua página 404, in fine: "3. Conjunto organizado de 
conhecimentos relativos a um determinado objeto, 
especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência 
dos fatos e um método próprio: ciências históricas, ciências 
físicas.” 6. Aqui temos um bom início para delimitarmos a 
matéria. Então, ciência é um estudo sistematizado, com 
princípios próprios, com normas específicas, objeto específico e 
dentro das ciências jurídicas, no caso estudado. 
 
 
Para falar a respeito da autonomia científica vou buscar no 
Professor João Bosco Medeiros de Sousa, um relato a respeito 
da autonomia científica no Direito Agrário, o que de uma forma 
 
6
 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa . 2. ed. Rio de Janeiro: 
Nova Fronteira, 1986. P. 404. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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bem adequada se enquadra completamente no nosso. Assim, no 
seu livro Direito Agrário - Lições Básicas, página 05: 
 
"dispõem de princípios gerais que lhe são próprios, 
diferenciado dos demais ramos da ciência jurídica, 
apresentando um objeto devidamente particularizado”. 7 
 
 
Adequando os seus ensinamentos ao Direito Econômico, 
não podemos discordar do seu posicionamento, pois toda ciência 
tem vários princípios, muito são os pontos convergentes, 
embora, em algumas delas, os doutrinadores não tenham 
chegado à unanimidade sobre quais e quantos são. A 
consideração de que este ramo do direito tem princípios que são 
próprios traduz-se em uma especificidade científica, pois 
somente a corrente jus-economista, poderá, com maior 
eficiência, elencá-los e traduzi-los com o fito de torná-los esteios 
para o estudo da ciência ora estudada, o Direito Econômico. 
 
 
Esses princípios são a coluna vertebral do Direito 
Econômico e a partir daí seguem os demais estudos. É o 
balizamento deles. A exemplo: quando fica determinada a 
aplicação da função social da propriedade, é fácil verificar a 
intenção do legislador em proteger a sociedade de tal modo a 
dar ao bem o verdadeiro uso para o qual foi criado. Esse é um 
princípio e sua aplicação revela um pensamento dos cientistas 
jus-economistas e, por conseguinte, o da ciência. Pois é a partir 
de longos estudos, nascidos de seminários, convenções, 
congressos, a experiência mal sucedida e outros, que se servem 
para a revelação de descobertas e discussões da área, é que 
podemos dizer que um assunto, naquele momento, está 
exaurida a sua discussão e, por conseqüência, figura como uma 
verdade, ainda que temporária, a respeito de algum assunto. 
 
Esses princípios lhe traduzem uma padronização, a qual é 
um dos requisitos para o reconhecimento de um ramo como 
ciência. Os princípios próprios que incorrerão em normas 
 
7
 SOUSA, João Bosco Medeiros de. Direito Agrário - Lições básicas. São Paulo: Saraiva, 1987, p. 05. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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16
próprias é o segundo requisito. Portanto, o Direito Econômico 
goza de uma autonomia
científica, facilmente identificável. Os 
princípios serão objetos de nosso estudo no ítem 2.2. 
 
 
Voltemos às primeiras linhas deste item para finalizá-lo. Lá 
está dito que ciência é sistematizada e tem princípios, objeto e 
métodos próprios; o que acreditamos se adaptar perfeitamente 
ao estudo do Direito Econômico. Por isso mesmo concluo que 
diante de alguns princípios aqui apresentados, que seguem uma 
sistematização, quer seja na sua formulação quer na pesquisa 
que os fundamenta, sem dúvida, que o Direito Econômico tem a 
sua autonomia, no ponto de vista científico, até mesmo pelos 
objetos e métodos inerentes apenas a Ele. 
 
 
 
1.3.3 – A autonomia didática. 
 
 
 
Valho-me mais uma vez de um agrarista para refletir a 
respeito do tema autonomia didática. O Professor Igor Tenório 
muito pouco traz a respeito do tema proposto, mas o faz bem. A 
respeito da autonomia didática diz em seu livro, Manual de 
Direito Agrário Brasileiro, objetivando a conceituação de 
autonomia didática: “é o ensino independente desta disciplina 
nos cursos superiores, de forma sistemática, para os fins de 
graduação ou de especialização profissional” 8. Com muita 
clareza, o professor resume em poucas palavras o que é o 
objeto de estudo neste item. 
 
 
O ramo do direito aqui trabalhado, o Direito Econômico, é 
muito importante para a sociedade, sobretudo com a sua 
complexidade econômica. O Brasil ainda é um país que não 
sabe viver na livre concorrência, por isso o desenvolvimento do 
Direito Econômico também não alcançou, ainda, nível 
 
8
 TENÓRIO, Igor. Manual de Direito Agrário Brasileiro. São Paulo: Resenha Universitária. 1.975, p. 23. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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17
substancial. No mundo, observamos que quanto mais 
competitivo o mercado mais consistente é o Direito Econômico. 
A razão é simples, quando o Estado intervém de forma mais 
forte na economia, as relações econômicas tende a se estreitar, 
pois de igual forma estreitam as relações sociais. Quanto mais 
livre a economia, mais distante o Estado está dela, mais regras 
são necessárias para o seu controle. 
 
 
Assim, a necessidade do estudo do Direito Econômico é 
indiscutível, fundado na necessidade que temos, enquanto país, 
de regras que nos preparem para receber uma economia de 
mercado cada vez mais crescente. Se estamos caminhando para 
uma globalização, se faz necessário o estudo das regras 
jurídicas que disciplinam a economia no país e isso é objeto de 
estudo do Direito Econômico. Estudá-lo é fundamental para 
receber um desenvolvimento que está apenas no seu início. A 
sua presença nos currículos de graduação do Bacharel em 
Ciências Jurídicas é ponto que autentica a afirmação de que a 
sua maturação didática foi alcançada, isto é, o Direito Econômico 
é autônomo, didaticamente falando fundado na necessidade do 
seu estudo pela sociedade. Quanto a exigência por norma legal 
ou infra-legal, o Direito Econômico não é disciplina integrante do 
conhecido “currículo mínimo” do Curso de Ciências Jurídicas. 
Este situação reflete uma não autonomia didática no aspecto 
normativo e como vivemos em um sistema jurídico onde a mais 
importante fonte do Direito é a lei, não nos resta outra conclusão 
a não ser a de que o Direito Econômico não é autônomo 
didaticamente falando, pois raramente teremos faculdades de 
Ciências Jurídicas incluindo no seu currículo obrigatório a 
disciplina Direito Econômico, uma vez que não temos um 
dispositivo normativo obrigando. Quanto a possibilidade da 
sociedade assumir este papel, discutindo e reproduzindo este 
conhecimento é utópico (ironizo), estamos muito ocupados com 
“outras coisas”. 
 
 
 
 
 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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18
1.3.4 – A autonomia jurisdicional. 
 
 
 
Muito já se buscou no sentido de se conseguir a autonomia 
jurisdicional em várias áreas, mas por enquanto os esforços não 
melhoraram muito a situação da justiça brasileira. De tal sorte 
que apenas alguns poucos ramos do direito a tem, como 
exemplo: o trabalhista, o eleitoral e o militar. A respeito do 
assunto, no Brasil se quer temos Varas especializadas da 
Justiça Federal e Comum, para tratar do Direito Econômico, 
mesmo que o tratamento fosse meramente burocrático ou, 
meramente, de expediente ou ainda, estatístico, onde apenas 
seriam agrupados processos semelhantes em uma determinada 
vara. 
 
 
A conclusão é clara: o Direito Econômico Brasileiro não é 
autônomo no aspecto jurisdicional, pois lhe falta uma “justiça 
especializada”, formada por membros que tenham uma formação 
jus-economista. 
 
 
A semente está plantada e faço fé que em um futuro 
próximo possamos vislumbrar um judiciário que contemple de 
forma especial os assuntos do Direito Econômico, para que a 
nossa cidade, o nosso Estado ou o nosso País, não figure em 
manchetes jornalísticas como o da reintegração de posse no 
caso da ocupação do Parque Oeste Industrial, em Goiânia, ou o 
caso Avestruz Master. Tal aspecto é observado na 
Administração Pública com a criação da legislação a respeito do 
assunto e, conseqüente, o aparecimento do Conselho 
Administrativo de Defesa Econômica – CADE para os 
“julgamentos administrativos”. 
 
 
A presença do Poder Executivo Federal na gestão de uma 
“justiça administrativa” não caracteriza a presença de uma 
“justiça especializada”, ou seja, não traz autonomia para o Direito 
Econômico. Tal autonomia só é possível diante da presença de 
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19
um órgão judiciário, isto é, uma parte do Poder Judiciário o que 
não é o caso. 
 
 
 
1.4 – Relação com Outras Ciências. 
 
 
 
Quando falo em outras ciências incluo também outros 
ramos do direito, em concordância com o já exposto em 
capítulos anteriores. A interdisciplinaridade e a 
transdiciplinaridade, ou seja, a relação estabelecida entre o 
Direito Econômico e os outros ramos do direito e do Direito 
Econômico com outras ciências não jurídicas. 
 
 
Tenho debatido com muitos a respeito do costume de 
desenvolver um ensino meramente informativo que tem sido 
levado aos cursos de Ciências Jurídicas. Dessa forma, os 
Acadêmicos são transformados em meramente depositários de 
informações por reprodutores de artigos e dispositivos legais, 
muita informação e, às vezes, reflexão. Não estou abominando 
os dispositivos legais dos nossos estudos, mas é mais 
importante a formação do profissional com uma visão científica. 
A formação universitária deve ser produtora de recursos 
tecnológicos para a sociedade e ela só é assim porque tem 
aquelas características que discutimos anteriormente, definindo-
a como ciência, portanto, a formação não é em Direito, mas em 
Ciências Jurídicas. 
 
 
A partir deste ponto, podemos concluir com facilidade que 
o Direito Econômico tem relação com outras disciplinas do Curso 
de Ciências Jurídicas e com outras alienígenas. 
 
 
O interfaceamento do Direito Econômico com
outras 
ciências não revela uma fragilidade. O entendimento deve ser o 
inverso. Tão grande é sua importância que ele interfere em 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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muitas outras áreas determinando como eles devem ser, o que 
por si só revela o poder que ele tem em modificar ou regular 
outros ramos das Ciências Jurídicas. 
 
 
 
1.4.1 – Com outras ciências jurídicas. 
 
 
 
O Direito Econômico tem seu maior relacionamento jurídico 
com o Direito Constitucional, certamente. Por esse motivo, 
dediquei a essa relação um título exclusivo de estudo, 1.4.1.1 – 
A estreita relação com o Direito Constitucional, o qual está posto 
nos próximos parágrafos. Como o interfaceamento com outras 
disciplinas jurídicas é plurifacetado me limitarei a falar a respeito 
de algumas dessas facetas: 
 
a) com o Direito Tributário – a relação com o Direito 
Tributário é certamente uma dos mais importantes, pois, 
por exemplo, para proteger a economia interna, como as 
montadoras de veículos, o Estado - a União, no caso 
em questão – aumenta do Imposto de Importação para 
dificultar a entrada de produtos que irão concorrer 
diretamente com os nossos. A função social da 
propriedade que é principio do Direito Econômico, 
instituída no artigo 170 da nossa Constituição, é 
aplicada no ITR – Imposto sobre a Propriedade 
Territorial Rural de forma embutida nas alícotas que 
crescem à medida que não utilizo a minha propriedade. 
Podemos elencar outras relações, como o caso do IPTU 
– Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial 
Urbano progressivo no tempo ou em razão do valor do 
imóvel, a progressividade do Imposto sobre a Renda e 
provento de qualquer natureza – IR, entre outros. 
 
b) com o Direito Civil – a sua contribuição é enorme. O 
direito civil, apesar de ser o braço mais importante do 
direito privado, todos os ramos das ciências jurídicas 
dependem de vários institutos só definidos nele, e no 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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21
Direito Econômico não é diferente. A respeito, a 
exemplo: a definição dos sujeitos de direito; a 
capacidade; a função social presente nos contratos; 
todos são institutos do direito civil, porém são objetos de 
estudo do Direito Econômico. 
 
c) com o Direito Ambiental – a definição elaborada pelo 
ambiental de limitações ao uso da terra, estabelecendo 
reserva legais que chegam a 80% (oitenta por cento) da 
área total do imóvel, traduz muito bem no seu reflexo 
econômico e por isso mesmo, sendo uma norma jurídica 
que disciplina o uso econômico de um bem, é 
considerado como objeto do Direito Econômico. Outro 
ponto muito debatido é a propriedade da União sobre 
todas as águas do país. Sendo ela proprietária exclusiva 
de toda a água o seu uso se torna regulamentado e em 
alguns lugares já se paga uma taxa para a sua 
utilização, outro ponto econômico que com certeza já 
alterou os preços de produtos como os refrigerantes e 
cervejas, como é o caso do Rio Paraíba do Sul que 
corta São Paulo e o Rio de Janeiro, no qual o Conselho 
Nacional de Recursos Hídricos – CNRH optou por 
cobrar taxa de utilização de recurso hídrico em um 
projeto pioneiro. 
 
d) com o Direito Financeiro – a conceituação de atividade 
financeira do Estado é um bom referencial para 
delimitarmos a sua importância para o estudo do Direito 
Econômico. A receita pública é peça importante na 
economia e, consequentemente, para o nosso estudo. A 
contribuição do Direito Financeiro é como ciência irmã, 
pois ambas tratam de assuntos inerentes a parte 
econômica e para o Direito Econômico não importa se a 
economia que estamos falando é pública ou privada, 
cada uma com suas particularidades, será devidamente 
normatizada pelo Direito Econômico. 
 
e) finalmente, apenas uma rápida citação: do Direito 
Administrativo com os poderes conferidos aos 
administradores públicos como é o caso do poder de 
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polícia e do direito penal com a tipificação de vários 
delitos envolvendo o Direito Econômico. 
 
 
 
1.4.1.1 – A estreita relação com o Direito Constitucional. 
 
 
 
O Direito Constitucional é, certamente, o ramo do direito 
mais importante para o estudo do Direito Econômico. Não só 
pelo motivo das regras constitucionais estarem no ápice da 
pirâmide a qual estabelece uma ordem decrescente de 
importância, desta forma, o estudo do Direito Constitucional, 
sempre ocupa lugar de destaque. É dele que parte todas as 
regras para o funcionamento do Estado e, sobretudo, da sua 
parte financeira, a qual engloba o Direito Econômico, mas é mais 
importante pela razão de ser ele quem estuda e traz nos seus 
normativos assuntos de fundamental importância para o Direito 
Econômico como: os seus princípios; o monopólio – sua 
conceituação e limites; o serviço público; a defesa da relação de 
consumo, só para citar alguns. 
 
 
A Constituição Federal de 1988 congrega o que de mais 
importante deve a sociedade seguir, sobretudo, no tocante a 
princípios. A formação teleológica de um povo está presente na 
sua Constituição. Por exemplo, a pena de morte no Brasil não é 
uma constante e esta verdade está expressa na Constituição 
brasileira onde no artigo 5° temos a única possibil idade de 
aplicação da pena de morte, sabidamente, em caso de guerra. 
Esse é o jeito cultural do povo brasileiro e está impresso na sua 
Constituição. Dizemos sempre sim a vida e não a morte, é a 
nossa formação cristã. 
 
 
De forma semelhante, o Direito Econômico está espelhado 
na Constituição e por se apresentar ainda sem codificação e com 
pouca legislação específica a respeito do assunto, a Constituição 
é o grande norte desse novo ramo. A constituição como guardiã 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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dos nossos princípios mais sublimes, guarda também os 
princípios econômicos, ou seja, as normas regulamentadoras, no 
sentido de dar orientação, da economia que é por excelência, 
objeto do Direito Econômico. 
 
 
 
1.4.2 – Com outras ciências não jurídicas. 
 
 
 
A certeza de que outros interfaceamentos existem e que 
este autor não tem a intenção de exaurí-las, passo a falar sobre 
a sua ocorrência com outras ciências alienígenas ou não 
jurídicas. 
 
 
A relação estabelecida com outras ciências alienígenas 
não é diferente da já exposta. Nenhuma ciência pode existir 
isolada, por isso o Direito Econômico vai se socorrer em outras 
ciências para tornar possível o seu estudo. Para uma melhor 
ilustração do tema veja algumas destas ajudas: 
 
a) com a ciência das Finanças Públicas – saber a posição 
das finanças públicas é de fundamental importância 
para o funcionamento do Direito Econômico, pois é ela 
quem trata, elabora e agrupa os números das finanças 
públicas. Saber
quanto é o recurso público que está 
sendo injetado na economia e a partir daí limitá-lo ou 
expandí-lo, através de regras legais, é objeto de estudo 
do Direito Econômico. 
 
b) com a Matemática – a álgebra e a aritmética são partes 
da matemática muito utilizada no Direito Econômico. 
Tudo na economia tem fundamento matemático, como o 
balanço comercial internacional obtido pela diferença 
entre os valores importados e os exportados pelo nosso 
País. Não é possível a existência dele sem a economia, 
de igual relação vive a economia com a matemática. A 
conclusão é óbvia: não podemos admitir a sua 
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existência sem a matemática, pois o mundo dos 
números habita o mundo do Direito Econômico. É 
fundado nos números apurados pela economia que o 
ele estuda, normatiza e propõem soluções jurídicas para 
os problemas que envolvem a área. 
 
c) com a Contabilidade – responsável pelo registro dos 
fatos contábeis, ou seja, os fatos que mudam na 
qualidade ou na quantidade o patrimônio de uma 
entidade, pública ou privada; é comum a expressão em 
textos legais referido a Contabilidade apurando os 
valores financeiros movimentados pelos entes públicos 
ou privados, que é certamente objeto de estudo da 
economia e necessita de normatização jurídica para o 
seu perfeito funcionamento. A escrita fiscal é obtida 
através do lançamento contábil o qual é instituto 
pertencente às Ciências Contábeis e é através dela que 
é possível conhecer os números da economia pública 
ou privada e a possibilidade de sua normatização passa 
exatamente pelo conhecimento e estudo desses 
números registrados pela Contabilidade. 
 
 
d) com a Sociologia - a visão do sociólogo jamais deve ser 
esquecida por nenhum estudioso do Direito econômico. 
Esse é um ramo público por excelência e como tal deve 
atender aos anseios da sociedade. Como detectar essa 
vontade é um grande questionamento que poder ser 
levantado pelos sociólogos e carreado a sua aplicação 
para uma arrecadação mais justa, socialmente falando. 
Normatizar a economia, objeto do Direito Econômico, 
sem conhecer a sociedade é uma situação inimaginável. 
 
 
A relação do Direito Econômico com outras ciências é tão 
grande como o conhecimento humano. Por vezes, não 
percebemos o uso delas. É comum usarmos de várias ciências 
sem a percepção de que elas estão sendo usadas, agora mesmo 
estou usando de um vernáculo que é essencial a qualquer 
publicação. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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1.4.2.1 – A relação umbilical com a Ciência Econômica. 
 
 
 
A Ciência Econômica é uma ciência de fundamental 
importância para a sobrevivência do Direito Econômico, no 
âmbito não jurídico. Se o Direito Econômico tem como objeto de 
estudo a normatização da relação econômica em um país, se faz 
necessário que a existência da economia seja anterior ao Direito 
Econômico, pois é sobre o objeto da Economia que está 
assentado o estudo desse Direito. 
 
 
Para uma melhor reflexão a respeito da interação da 
Ciência Econômica com o Direito Econômico, vou transcrever 
um conceito do economista e escritor Marco Antonio Sandoval 
Vasconcellos: 
 
Etimologiamente, a palavra economia vem do grego oikos 
(casa) e nomos (norma,lei). Seria a “administração da 
casa”, que pode ser generalizada como “administração da 
coisa pública”. 
Economia pode ser definida como a ciência social que 
estuda como o indivíduo e a sociedade decidem utilizar 
recursos produtivos escassos, na produção de bens e 
serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e 
grupos da sociedade, com a finalidade de satisfazer às 
necessidades humanas. 
Assim, trata-se de uma ciência social, já que objetiva 
atender às necessidades humanas. Contudo, depende de 
restrições físicas, provocadas pela escassez de recursos 
produtivos ou fatores de produção (mão-de-obra, capital, 
terra, matérias-primas). 9 
 
 
Quando estudamos a livre concorrência, princípio do 
Direito Econômico expresso no artigo 170, IV, da Constituição 
Federal de 1988, existe uma necessidade imperiosa da definição 
 
9
 VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Economia: micro e macro: teoria e exercícios, 
glossário com os 260 principais conceitos econômicos. São Paulo: Atlas, 2000, p. 21. 
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26
desse vocábulo pela economia que nada mais é do que, 
segundo a Professora Maria Helena Diniz10, “liberdade dada aos 
comerciantes para exercerem suas atividades segundo seus 
interesses, limitadas tão-somente pelas leis econômicas”; 
situação essa impossível de existir na sociedade moderna, por 
mais socialista ou liberalista que seja a forma de governo do 
país, pois o Estado está sempre intervindo na economia. 
 
 
Assim, a economia produz um bom ambiente para a 
proliferação do Direito Econômico. É ela responsável pela 
produção do mundo onde terá atuação o Direito Econômico. É 
da observação do mundo econômico que nasce a necessidade 
de normatizá-lo, estabelecer regras jurídicas para preservar a 
sociedade sob uma visão econômica. Dessa forma, quando se 
estabelece um Código de Defesa do Consumidor, Lei número 
8.078, de 11 de setembro de 1990, não é um “11 de setembro” – 
alusão ao ocorrido nos Estados Unidos na mesma data – para o 
comerciante, o industrial e o importador, enfim, o Código quer 
preservar a relação de consumo e com isso proteger a 
economia, através de normatização de um assunto que é 
eminentemente econômico, quer seja, a compra e venda que 
envolve o consumo final. 
 
 
Por esse e outros tantos, a economia se envolve de forma 
umbilical com o Direito Econômico, como a mãe e seu filho, em 
uma interatividade muito estreita, assim, configura a Ciência 
Econômica como a mais importante ciência não jurídica que 
mantém relação com o Direito Econômico. É a mãe quem 
fornece todos os nutrientes para o filho, sem ela o filho morre. É 
baseado nesta relação que o Direito Econômico sobrevive em 
relação as Ciências Econômicas. É esta que nutri o 
aparecimento daquela, sem ela, ele não sobrevive. Antes do 
aparecimento do Direito Econômico se faz necessário o 
aparecimento das Ciências Econômicas. 
 
 
 
10
 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. V. III. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 153. 
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27
 1.5 – Um Breve Histórico do Direito Econômico. 
 
 
 
 Como o assunto é econômico normativo, quer seja, as 
normas que regem a economia, vamos navegar no tempo e no 
espaço - no ítem 1.5.1 – No mundo - verificando alguns 
dispositivos legais nos seguintes normativos jurídicos, o Código 
de Manu, A Lei das
XII Tábuas, o Código de Hamurabi, o 
Digesto de Justiniano, a Constituição da Espanha, da França, da 
Nicarágua, de Cuba, do Japão, da Grã-Bretanha, dos Estados 
Unidos da América, da China e da extinta União das Repúblicas 
Socialistas Soviéticas. As Encíclicas Papais – desde a “Rerum 
Novarum” do Papa Leão XIII até a “Pacem in Terris” do Papa 
João Paulo II - terão uma abordagem a parte face à importância 
histórica da Igreja Católica na construção da história ocidental. 
 
 
Já, no item 1.1.2 – No Brasil, verificaremos alguns 
dispositivos constitucionais dedicando especial atenção aos que 
tratam de assuntos econômicos. 
 
 
A pretensão nesse capítulo não é só o de um breve relato 
a respeito da história, nas também de fazer um estudo 
comparado com alguns países. Observando a norma de cada 
país e vinculando a isto a sua cultura é possível entender o 
nosso sistema normativo. Observar como ao longo do tempo os 
normativos que cuidam do assunto evoluíram e as diferenças 
com os diversos lugares é enriquecedor. 
 
 
 
 1.5.1 – No mundo. 
 
 
 
 A propriedade tão estudada pelo Direito Civil e que é 
também tópico de estudo do Direito Econômico, pois o seu uso 
afeta diretamente a economia de qualquer país (e com o nosso 
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não é diferente, e por isso, a necessidade do seu estudo), é 
mencionada pelo Digesto de Justiniano, o qual é uma espécie de 
código de conduta integral, normatizada, que foi formulado a 
partir dos pretórios na antiga Roma, quer seja, as falas dos 
tribunais romanos antigos, dentre outras fontes. 
 
 
 Pinço um pequeno texto para reflexão, trazendo primeiro a 
versão original, em latim, e logo em seguida a sua tradução. 
 
Riparum usus publicus est iure gentium sicut ipsius 
fluminis. Itaque navem ad eas appellere, funes ex 
arboribus ibi natis religare, retia siccare et ex mare 
reducere, onus aliquid in his reponere cuilibet liberum est, 
sicuti per ipsum flumen navigare. Sed proprietas illorum 
est, quorum praediis haerent: qua de causa arbores quoque 
in his natae eorundem sunt. 
 
O uso público das margens é do direito das gentes como o 
uso do próprio rio. Assim, é livre a quem quer que seja 
dirigir sua nave até elas, atar suas amarras nas árvores ali 
nascidas, secar as redes e trazê-las do mar, nelas depositar 
alguma carga, assim como navegar pelo próprio rio. Mas 
a propriedade é daqueles a cujo prédios os rios se aderem; 
por esta razão, as árvores neles nascidas são precisamente 
deles também. 11 
 
 
 Esse dispositivo é um exemplo inconteste de que desde 
aqueles tempos, da Roma antiga, a propriedade já era limitada 
pelo poder de polícia do Estado para servir a toda sociedade, o 
que claramente se traduz, hoje, no princípio do Direito 
Econômico, conhecido como “função social da propriedade”. 
Quando o texto de Justiniano abre a possibilidade de quem, por 
exemplo, exercita a pesca como profissão poder utilizar-se das 
margens ou mesmo dos cursos de água (ou no mar) para dali 
tirar o seu sustento e promover o desenvolvimento da economia, 
 
11
 MADEIRA, Hélcio Maciel França. Digesto de Justiniano – Livro 1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2000, p. 89. 
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desembarcando na margem com toda liberdade é uma regra, 
ainda que primária, do Direito Econômico na história romana. 
 
 
 O texto citado a seguir não se sabe precisamente a data de 
seu aparecimento, porém, estimam os historiadores que seja, 
aproximadamente, de 1300 a 800 a.C., por isso considerado 
como um das mais antigas legislações do mundo. Estou falando 
do Código de Manu. O que é certo é que esse código orientou o 
povo indiano, teocentrista, por muitos séculos. A consideração é 
limitada por um conhecimento mais antigo, o Código de 
Hamurabi, que por sua pequena abrangência não seria 
tecnicamente considerado um código por alguns doutrinadores, o 
qual será objeto de citação mais a frente. 
 
 
 O texto do artigo 150 do Código de Manu, apesar de tantos 
séculos e da distância cultural entre a Índia e o Brasil, é 
verossímil que o seu conteúdo é semelhante ao que busca a 
nossa sociedade, vejamos: 
 
Art. 150. Um juro que ultrapassa a taxa legal e que se 
afasta da regra precedente, não é válido; os sábios o 
chamam processo usurário; o mutuante não deve receber 
no máximo senão cinco por cento. 12 
 
 
 A limitação dos juros é uma proteção à economia e feita 
através de norma legal é Direito Econômico. No Código de Manu 
é muito incisiva a participação do Estado na economia no sentido 
de ordená-la e, desta feita, por norma jurídica. Esse artigo 150 é 
a verdadeira expressão da vontade do Estado em equilibrar a 
demanda por recursos financeiros através dos juros, entendendo 
que quem ganha muito leva alguém a estar em situação não 
privilegiada ou até mesmo de penúria, dado o peso dos altos 
juros cobrados. Situação similar observa-se no Brasil, nas 
últimas décadas, tanto é que as empresas mais lucrativas no 
País são empresas de créditos, sobretudo os bancos. 
 
12
 VIEIRA, Jair Lot. Código de Hamurabi, Código de Manu, Lei das XII Tábuas. Bauru: Edipro, 1994, p. 67. 
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30
 Hamurabi, Kamu-Rabi (do árabe), rei do amorritas, povo 
que se fixou na Média Mesopotâmia, unificou-os e fundou o 
Primeiro Império Babilônico e viveu de 2067 a 2025 a.C., período 
no qual instituiu a legislação conhecida como Código de 
Hamurabi. Para o nosso estudo destaco o seguinte: 
 
Art. 48. Se um homem tem sobre si uma dívida e o seu 
campo foi inundado, ou a torrente carregou ou por falta de 
água não cresceu grão no campo; naquele ano ele não dará 
grão a seu credor, ele anulará o seu contrato e não pagará 
os juros daquele ano. 13 
 
 
 O dispositivo legal citado é inteligente e utilizado até os 
dias de hoje. O agricultor que vive pela vontade da natureza, se 
chove na hora certa ele colhe bem, se não, a colheita é pífia e 
ele não tem como pagar suas dívidas. Economicamente, não 
pode o Estado permitir que esse agricultor seja espoliado, pois 
se não tem colheita e se cobra dele o que não tem como pagar 
isso pode significar que estamos tirando um agricultor do 
mercado, o que não interessa ao mercado, nem a sociedade. 
Existe um motivo teleológico para a existência dessa norma, 
naquele tempo e hoje. Manter a economia funcionando, 
principalmente com a participação dos produtores do campo era 
importante na época de Hamurabi e ainda é hoje, quer para 
economia, quer para segurança alimentar, ou seja, a 
manutenção de estoques de alimentos para suprir a falta nas 
antre-safras. Assim, a norma do Código de Hamurabi se 
consubstancia em uma norma de Direito Econômico, ou seja, é 
uma regra jurídica que normatiza um elemento da economia. 
 
 
 A conhecida Lei das XII Tábuas começou com dez e 
posteriormente lhe foi adicionada
mais duas, um ano depois. Foi 
em 451 a.C. a publicação do resultado dos estudos proposto 
pelo tribuno Tarentílo Arsa em 462 a.C. e que resultou em dez 
tábuas. Como um dos marcos históricos da legislação ocidental, 
a Lei da XII Tábuas era a época uma fonte de direito público e 
 
13
 VIEIRA, Jair Lot. Op.cit., p. 19. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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31
privado relatada pelo historiador Tito Lívio como sendo a fons 
omnis publici privatique juris, ou seja, a fonte de todo direito 
público e privado. 
 
 
 As doze tábuas foram destruídas em 390 a.C. quando da 
guerra entre os romanos e os gauleses, mas como sua 
divulgação foi muito grande, os vestígios deixados possibilitaram 
a sua reconstrução quase que total. O princípio esboçado no 
artigo 170, inciso VI, da nossa atual Constituição que reza a 
respeito da proteção ao meio ambiente já estava presente 
naquele dispositivo legal, assim, na Tábua Oitava temos: 
 
1. A distância entre as construções vizinhas deve ser de 
dois pés e meio; 
2. omissis ... 
3. A área de cinco pés, deixada livre entre os campos 
limítrofes, não pode ser adquirida por usucapião; 14 
 
 
 Era comum a construção geminada na antigüidade, o que 
tornava as habitações insalubres, pois não recebiam a luz solar 
nem a ventilação necessárias. Com esse dispositivo o Governo 
Romano limitava a propriedade e regulava a construção, 
atividade eminentemente econômica, não só naqueles tempos 
como também nos de hoje. 
 
 
 Ainda tratando de assunto eminentemente econômico cita 
mais a frente, na Tábua Nona: 
 
2. Aqueles que foram presos por dívidas e as pagaram, 
gozam dos mesmos direitos como se não tivessem sido 
presos; os povos que foram sempre fiéis e aqueles cuja 
defecção foi apenas momentânea gozarão de igual direito; 
15
 
 
 
 
14
 VIEIRA, Jair Lot. Op.cit., p. 143. 
15
 VIEIRA, Jair Lot. Op.cit., p. 144. 
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32
 A proteção ao crédito já era objeto de normatização 
naqueles tempos. Lá, a pena chegava até a prisão. A norma 
jurídica presente nesse dispositivo dá tratamento ao devedor que 
se torna adimplente, lhe dando a possibilidade de recuperar seu 
crédito, podendo voltar a negociar sem nenhum empecilho. O 
crédito é um dispositivo econômico muito importante na 
atualidade, é um elemento de desenvolvimento para os países, 
para as empresas e para as pessoas físicas. Funciona com um 
fomentador de desenvolvimento e as normas jurídicas que 
regem esse ponto é Direito Econômico. 
 
 
 A China, esse gigante que se avoluma cada vez mais, 
trata, também, na sua Constituição de assuntos que são de 
competência do Direito Econômico, como por exemplo: a 
propriedade e os meios de produção. No seu artigo sexto 
registra o pensamento deste povo a respeito desses dois temas, 
a propriedade e os meios de produção, da seguinte forma: 
 
Artigo 6.° A base do sistema econômico socialista da 
República Popular da China é a propriedade pública 
socialista dos meios de produção, designadamente a 
propriedade de todo o povo e a propriedade coletiva do 
povo trabalhador. 
O Sistema de propriedade pública socialista substitui o 
sistema de exploração do homem pelo homem e aplica o 
princípio “de cada um conforme as suas capacidades, a 
cada um segundo o seu trabalho”. 16 
 
 
 A leitura pura e simples do artigo sexto da Constituição de 
República Popular da China nos revela as suas regras 
econômicas. Pelo perfil das normas jurídicas que tratam de 
assuntos eminentemente econômicos é possível traçar o perfil 
do funcionamento da economia de um país. Aqui no exemplo da 
China temos o traço do seu Direito Econômico translúcido 
quanto à propriedade e os meios de produção, que são muito 
diferentes do que observamos no Brasil. 
 
16
 Constituição da República Popular da China, aprovada em 4 de dezembro de 1982. Rio de Janeiro: Edições 
trabalhistas, 1987, p.7-8. 
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33
 A extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - 
URSS trazia em seu artigo 39, no Capítulo 7 – Direito, liberdades 
e deveres fundamentais dos cidadãos da URSS, as normas 
gerais quanto a vários pontos, inclusive o econômico, nosso 
objeto de estudo. Assim reza: 
 
Artigo 39. Os cidadãos da URSS gozam plenamente das 
liberdades e dos direitos sociais, econômicos, políticos e 
pessoais proclamados e garantidos pela Constituição da 
URSS e pelas leis soviéticas. O regime socialista assegura 
a ampliação dos direito e das liberdades e o constante 
melhoramento das condições de vida dos cidadãos à 
medida que se cumprem os programas de 
desenvolvimento social, econômico e cultural. 17 
 
 
 Apesar de ter como característica principal a rigidez na 
economia, o regime socialista da extinta URSS traz uma 
liberdade que não foi conhecida no sistema econômico, 
figurando apenas como uma letra morta, pois jamais foi aplicada. 
Não é um relato contra o socialismo, mas sim um relato contra a 
mentira expressa na sua Constituição, o que certamente é muito 
presente na nossa Carta Magna atual. As regras do Direito 
Econômico, presentes na Constituição de um país ou em outro 
dispositivo legal qualquer, refletem a sua forma de funcionar a 
economia. Esse artigo não reflete em nada o que o povo 
soviético viveu durante a existência da URSS, o que, por isso, 
não deixa de ser objeto do nosso estudo. 
 
 
 A Espanha reserva um título da sua Constituição para o 
tema economia e finanças. Nele é possível observar a 
importância da limitação da economia pelo direito. Aqui as regras 
fundamentam a utilização da economia e por ser a constituição 
do país, é uma regra suprema. No seu Título VII – Economia e 
finanças, artigo 128, diz: 
 
 
17
 Constituição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, aprovada em 7 de outubro de 1977. Rio de 
Janeiro: Edições trabalhistas, 1987, p.15. 
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Artigo 128. – 1 – Toda a riqueza dos paises, nas suas 
diversas formas e seja qual for a sua titularidade, está 
subordinada ao interesse geral. 
 2 – É reconhecida a iniciativa pública na atividade 
econômica. A lei poderá reservar ao setor público recursos 
ou serviços essenciais, especialmente em caso de 
monopólios, e admitir a intervenção em empresas quando 
assim o exigir o interesse geral. 18 
 
 
 Aqui, na Constituição espanhola, um país que fez opção 
pelo Estado Democrático de Direito, a intervenção do Estado na 
economia é clara e determinada pela sua Carta Magna.
Tem o 
interesse geral colocado acima do interesse econômico, talhando 
sulcos profundos que revelam o traço cultural desse povo quanto 
ao assunto econômico. Admitir a intervenção nas empresas, via 
preceito constitucional, é muito salutar no tocante à economia 
privada. É a Constituição dizendo o que é mais importante para o 
seu povo. O monopólio é outro caso a ser pensado por toda 
grande economia e aqui não foi diferente, a Constituição 
Espanhola dedicou uma atenção para com ele, sabedora que é 
dos benefícios ou malefícios que podem originar-se da boa ou 
má prática do exercício dos monopólios em qualquer economia. 
Na Espanha, as normas a respeito da economia marcam 
profundamente a presença do Direito Econômico na vida dos 
espanhóis. 
 
 
 O Japão, um país dominado pelo império e de economia 
livre, dedica alguns artigos de sua Constituição para proteger os 
elementos da sua economia de modo a perpetuar a sua 
existência e equilibrar os mercados, por menor que sejam, com o 
objetivo de manter funcionando o seu desenvolvimento socio-
econômico. 
 
 
O povo japonês tem uma visão coletiva de povo que o 
ocidente não compreende. A sua Constituição reflete exatamente 
 
18
 Constituição da Espanha, publicada em 29 de dezembro de 1978. Rio de Janeiro: Edições trabalhistas, 
1987, p.37. 
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isso. Apesar dessa visão individualista no Brasil, existem pontos 
em comum, por exemplo, eles respeitam a propriedade privada, 
mas não obsta que o particular seja desapropriado, com justa 
indenização, em função de um objetivo que seja público. 
Vejamos o artigo 29 da sua constituição: 
 
Artigo 29. O direito de propriedade é inviolável. 
Os direitos de propriedade serão definidos por lei, de 
conformidade com o bem estar público. 
A propriedade privada pode ser desapropriada por uso 
público desde que seja paga compensação justa. 19 
 
 
 A intervenção na propriedade privada em função de uma 
proteção dos interesses coletivos é característica de todas as 
constituições e aqui, na do Japão, não é diferente. Representa a 
presença do Estado na economia, intervindo na sua forma de ser 
e em assim sendo, objeto do Direito Econômico. 
 
 
 Na Grã-Bretanha, apesar de ser um país onde impera o 
direito consuetudinário, ou seja, o costume, a sua Constituição20 
permite a observação de muita proteção à economia e, em 
sendo assim, ganha realce no nosso estudo. Vejamos o seu 
artigo 41: 
 
41. Os mercadores terão plena liberdade para sair e entrar 
na Inglaterra, e para nela residir e percorrer tanto por terra 
como por mar, comprando e vendendo quaisquer coisas, 
de acordo com os costumes antigos e consagrados, e sem 
terem de pagar tributos injustos, excepto em tempo de 
guerra ou quando pertencerem a alguma nação em guerra 
contra nós. E, se no começo da guerra houver mercadores 
no nosso país, eles ficarão presos, embora sem dano para 
os seus corpos e os seus bens, até ser conhecida por nós 
 
19
 Constituição do Japão, promulgada em 3 de novembro de 1946. Rio de Janeiro: Edições trabalhistas, 1987, 
p. 09. 
20
 A Constituição da Grã-Bretanha foi outorgada pelo João sem Terra em 15 de junho de 1215 e confirmada: 
seis vezes por Henrique II; três vezes por Eduardo I, catorze vezes por Eduardo III; seis vezes por Ricardo 
II; seis vezes por Henrique IV; uma vez pro Henrique V; e uma vez por Henrique VI. 
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ou pelas nossas autoridades judiciais como são tratados os 
nossos mercadores na nação em guerra conosco; e se os 
nossos não correm perigo também os outros não correrão 
perigo. 21 
 
 
 Como país de nascimento de John Locke, o pai do 
liberalismo, a liberdade de mercado está presente há vários 
séculos. A liberdade de movimentação das pessoas, juntos com 
seus bens, é muito presente no artigo transcrito anteriormente e 
a Grã-Bretanha vem, ao longo dos séculos, mantendo uma linha 
liberalista economicamente falando. É mais uma presença de 
uma norma jurídica regulando assunto da economia, no caso em 
questão, na Inglaterra. 
 
 
 Os Estados Unidos da América seguem uma linha de 
pensamento parecida como a da Inglaterra. A sua Constituição, 
redigida em 1787, teve pouco menos de 30 emendas e sua 
característica de ser consuetudinária é muito forte. Ela 
representa o pensamento, o princípio, sob o qual vive aquela 
nação. Por serem fundados na liberdade econômica o seu 
Direito Econômico é muito presente e na sua Constituição não é 
diferente. Para uma melhor observação, veja um trecho da 
Seção 8: 
 
1. Será da competência do Congresso: lançar e arrecadar 
taxas, direitos, impostos e tributos, pagar dívidas e prover 
à defesa comum e ao bem-estar geral dos Estados Unidos; 
mas todos os direitos, impostos e tributos serão uniformes 
em todos os Estados Unidos; 
2. omissis ... 
3. Regular o comércio com as nações estrangeiras, entre 
os diversos estados, e com as tribos indígenas; 
4. omissis ... 
5. Cunhar moeda e regular o seu valor, bem como o das 
moedas estrangeiras, e estabelecer o padrão de pesos e 
medida; 
 
21
 Constituição da Grã-Bretanha (Magna Charta Libertatum), outorgada 15 de junho de 1215. Rio de Janeiro: 
Edições trabalhistas, 1987, p.25. 
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6. Tomar providências para a punição dos falsificadores 
de títulos públicos e da moeda corrente dos Estados 
Unidos; 22 
 
 
 Quando a Constituição se preocupa com assuntos 
eminentemente econômicos está traçando o seu Direito 
Econômico. A preocupação com a circulação de moeda, a 
falsificação de títulos públicos ou o comércio estrangeiro está 
tratando de normatizar juridicamente assuntos da economia e 
assim fazendo, faz Direito Econômico. 
 
 
 O povo francês, na sua Constituição entende que o 
assunto econômico e social é tão importante que criou um 
conselho para falar a respeito de assuntos econômicos e sociais, 
no tocante a projetos de leis que tratam do assunto. No artigo 70 
está uma das suas atribuições no âmbito econômico que é 
normatizado pela constituição. Assim reza: 
 
Artigo 70. O Conselho Econômico e Social também 
poderá ser consultado pelo governo sobre qualquer 
problema de caráter econômico ou social de interesse para 
a República ou a Comunidade. Todo Plano ou projeto de 
lei de planejamento econômico ou social será submetido 
ao Conselho para que opine. 23 
 
 
 A França, com isso, enfatiza a importância dos assuntos 
econômicos para um país e por esse motivo devem estar 
regulados por lei para que a sociedade não seja impactada de 
surpresa nos assuntos econômicos. Oportunidade, como a que 
teve o ex-presidente Fernando Collor de Melo, de bloquear a 
economia no conhecido Plano Collor, na França não seria 
possível, pois deveria ter o referendo do Conselho Econômico e
22
 Constituição dos Estados Unidos da América, redigida pela Convenção Federal de 1787. Rio de Janeiro: 
Edições Javoli, 1987, p.24. 
23
 Constituição da França, promulgada em 04 de outubro 1958 (atualizada em 23 de novembro de 1983). Rio 
de Janeiro: Edições Trabalhista, 1987, p.36. 
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38
Social. É mais segurança para a economia e, 
conseqüentemente, para a população. 
 
 
 A República de Cuba por ter um sistema econômico mais 
fechado reflete em um Direito Econômico mais pífio, embora a 
atuação do Estado na economia simbolize uma intervenção 
avassaladora e muito distante de uma economia livre. Certo é 
que a economia se dirige para atender ao regime sob o qual está 
toda a sociedade cubana. Isso é realçado no artigo 16 da sua 
constituição o qual vai transcrito: 
 
Art. 16 – O Estado dirige e controla a atividade 
econômica nacional de acordo com o Plano Único de 
Desenvolvimento Econômico-Social, em cuja elaboração 
e execução participam, ativa e conscientemente, os 
trabalhadores de todos os setores da economia e das 
demais esferas da vida social. 
O desenvolvimento da economia serve aos fins de 
fortalecer o sistema socialista, satisfazer cada vez melhor 
as necessidades materiais e culturais da sociedade e dos 
cidadãos, promover a evolução da personalidade humana 
e de sua dignidade, o avanço e a segurança do País e a 
capacidade nacional para cumprir os deveres 
internacionalistas de nosso povo. 24 
 
 
 Certamente mais um grande exemplo de norma que regula 
a economia e, portanto, objeto de estudo do Direito Econômico, 
no caso, cubano. 
 
 
 Na República da Nicarágua a sua Constituição no artigo 
98, dentro do Título VI – Economia nacional, reforma agrária e 
finanças públicas, no capítulo I – Economia nacional, orienta 
toda a economia do país, mostrando qual é o “norte” a ser 
seguido. Vejamos: 
 
 
24
 Constituição da República de Cuba, proclamada em 24 de fevereiro 1976. Rio de Janeiro: Edições 
Trabalhista, 1987, p.10. 
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39
Art. 98 – La función principal del Estado em la economía 
es desarrollar materialmente el país, suprimir el atraso y la 
dependencia heredados; mejorar las condiciones de vida 
del pueblo y realizar una distribuición cada vez mais justa 
de la riqueza. 25 
 
 
 Quanto à tradução do artigo 98 da Constituição 
Nicaragüense não existe uma oficial, mas para suprimir essa 
deficiência preparei uma que segue: 
 
Art. 98 – A função principal do Estado na economia é 
desenvolver materialmente o país, suprimir o atraso e a 
dependência herdados; melhorar as condições de vida do 
povo e realizar uma distribuição cada vez mais justa da 
riqueza. 
 
 
 A importância da economia é realçada mais uma vez. O 
legislador constitucional Nicaragüense dedicou uma atenção 
especial em orientar a direção do Estado na economia. Como 
não define se na sua atuação é como agente econômico, por 
exemplo: através das empresas estatais, ou através da 
regulação da atuação dos agentes privados na economia, 
entende-se que são ambos. Tal artigo regula a participação do 
Estado, seja como agente privado, seja como interventor, 
objetivando se libertar do atraso do passado e construir um 
futuro melhor, através de uma distribuição mais justa das 
riquezas. Aqui temos elementos extremamente econômicos 
presentes em normas constitucionais que traduzem em Direito 
Econômico, mais uma vez. 
 
 
 Quanto aos textos Papais, as mencionadas encíclicas, 
estão dispostas em mais de 100 anos, desde 15 de maio de 
1891, com a Rerum Novarum – Carta Encíclica de sua santidade 
o Papa Leão XIII sobre a condição dos operários, até 1° de maio 
de 1991 com a Pacem in Terris – Carta encíclica no centenário 
 
25
 Constituição da República da Nicarágua, de 19 de novembro de 1986. Rio de Janeiro: Edições Trabalhista, 
1987, p.27. 
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40
da “Rerum Novarum” do Papa João Paulo II. Por ser um texto 
religioso e não tendo cunho coercitivo para a sociedade, sua 
presença vale como reflexão a respeito do assunto, assim 
transcrevo como sinal do final desse subtítulo: 
 
A moderna economia de empresa comporta aspectos 
positivos, cuja raiz é a liberdade da pessoa, que se 
exprime no campo econômico e em muitos outros 
campos. A economia, de fato, é apenas um sector da 
multiforme atividade humana, e nela, como em qualquer 
outro campo, vale o direito à liberdade, da mesma forma 
que o dever de usar responsavelmente. Mas é importante 
notar a existência de diferenças específicas entre essas 
tendências da sociedade atual, e as do passado, mesmo se 
recente. Se outrora o fator decisivo da produção era a 
terra e mais tarde o capital, visto como o conjunto de 
maquinarias e de bens instrumentais, hoje o fator decisivo 
é cada vez mais o próprio homem, isto é, a sua capacidade 
de conhecimento que se revela no saber científico, a sua 
capacidade de organização solidária, a sua capacidade de 
intuir e satisfazer a necessidade do outro. 26 
 
 
 
 1.5.2 – No Brasil. 
 
 
 
No Brasil, um país de característica de norma escrita, as 
nossas Constituições têm sido responsáveis pelo registro da 
presença do Direito Econômico no mundo jurídico. Assim 
faremos uma retrospectiva apenas constitucional, iniciando pela 
Constituição outorgada de 1824 até a de 1988. 
 
 
Desse modo, a Constituição de 25 de março de 1824 
pouco trouxe ou quase nada trouxe a respeito do assunto 
econômico, normatizando-o. Como na constituição atual, o artigo 
 
26
 Encíclicas e documentos sociais / coletânea organizada por Frei Constantino Bombo. São Paulo: Ltr, 1993, 
p.605-6. 
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41
170 da Constituição de 1824 reza a respeito de assunto de 
interesse do Direito Econômico, mas não temos um capítulo 
dedicado ao assunto, pois como já foi objeto de nosso estudo 
esse assunto, naqueles tempos, era incipiente e a forma de 
funcionar a economia brasileira não era favorável ao 
aparecimento de um estudo mais profundo a respeito do 
assunto. 
 
 
Vejamos o artigo 170: 
 
Art. 170. A Receita, e despeza da Fazenda Nacional será 
encarregada a um Tribunal, debaixo do nome “Thesouro 
Nacional” aonde em diversas Estações, devidamente 
estabelecidas por Lei, se regulará a sua administração, 
arrecadação e contabilidade, em reciproca 
correspondencia com as Thesourarias, e Autoridades da 
Provincias do Imperio. 27 28 
 
 
Outro merece destaque: 
 
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e
Politicos 
do Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a 
segurança individual, e a propriedade, é garantida pela 
Constituição do Imperio, pela maneira seguinte: 
I – omissis ... 
omissis ... 
XV. Ninguém será exempto de contribuir para as despezas 
do Estado em proporção dos seus haveres. 29 30 
 
 
Quando a Constituição de 1824 estabelece essa proporção 
de contribuição para com as despesas públicas, estabelece o 
 
27
 CAMPANHOLE, Adriano e CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Constituições do Brasil. 10. Ed. São Paulo: 
Atlas, 1989, p 767. 
28
 É importante ressaltar que o texto é fiel ao que foi escrito naquele tempo, portanto diferente do vernáculo 
atual. 
29
 CAMPANHOLE, Adriano e CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Op. cit. p 768-9. 
30
 É importante ressaltar que o texto é fiel ao que foi escrito naquele tempo, portanto diferente do vernáculo 
atual. 
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42
que hoje é conhecido como o princípio tributário da capacidade 
contributiva, onde cada um contribui com o que potencialmente 
pode. É certamente uma regra econômica presente naquela 
Constituição. 
 
 
Não diferente é a observação ao artigo 170, pois ali temos 
o início de uma organização do que mais tarde seria o 
orçamento público, atualmente regulado pela Lei 4.320 de 17 de 
março de 1964, a qual estabelece normas de elaboração e 
execução da gestão das finanças públicas. Assunto meramente 
econômico, mas com reflexo na vida social da população e por 
isso a necessidade de normatizá-lo, transformando-se assim em 
objeto de estudo do Direito Econômico. 
 
 
O tempo avança e estamos em 24 de fevereiro de 1891, a 
primeira Constituição Republicana, nesta, além do registro de 
pela primeira vez da mudança da capital para o interior presente 
no seu artigo terceiro, o artigo 72 é o maior representante do 
Direito Econômico. Do qual destaco um parágrafo, a seguir: 
 
Art. 72. A Constituição assegura a brazileiros e 
estrangeiros residentes no paíz a inviolabilidade dos 
direitos concernentes á liberdade, á segurança individual e 
á propriedade nos termos seguintes: 
Omissis ... 
§ 17. O direito de propriedade mantem-se em toda a 
plenitude, salva a desapropriação por necessidade ou 
utilidade pública, mediante indenização prévia. 
As minas pertencem aos proprietarios do solo, salvas as 
limitações que forem estabelecidas por lei a bem da 
exploração deste ramo de indústria. 31 32 
 
 
O direito de propriedade é muito relatado desde a época 
romana. Por ser ela muito importante para a cultura ocidental, as 
 
31
 CAMPANHOLE, Adriano e CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Op. cit. p 704-5. 
32
 É importante ressaltar que o texto é fiel ao que foi escrito naquele tempo, portanto diferente do vernáculo 
atual. 
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normas jurídicas expressam essa importância lhe dando 
destaque em todos os normativos, inclusive nas Constituições. O 
artigo 72 reflete bem esse posicionamento do povo brasileiro do 
final do século XIX, porém, quanto às riquezas do subsolo o 
posicionamento é diferente do atual. No final do parágrafo 17 é 
possível a observação da presença do proprietário de uma mina, 
ou de minas, riquezas, na sua grande maioria, incrustada pelo 
solo. Hoje, quem é dono do solo não o é do subsolo, pois esse 
pertence à União, enquanto que aquele pode pertencer ao 
particular. Esse assunto reveste a economia de uma situação 
diferente e como tal, as normas do Direito Econômico vão juntas. 
 
 
Passamos pela primeira guerra mundial, mudanças no 
cenário mundial. Aparecimento de um socialismo mais forte no 
leste europeu. Quebra da Bolsa de Nova York. Enfim, assuntos 
diversos influenciaram e tivemos mais uma Constituição em 16 
de julho de 1934 e pela primeira vez a Constituição Brasileira 
dedicou um Título ao assunto – Da ordem econômica e social. 
Para um registro no que coloco como um grande avanço 
legislativo, destaco os artigos115 e 117, em seguida: 
 
Art. 115. A ordem econômica deve ser organizada 
conforme os princípios da justiça e as necessidades da 
vida nacional, de modo que possibilite a todos existencia 
digna. Dentro desses limites, é garantida a liberdade 
econômica. 
Parágrapho único. Os poderes publicos verificarão, 
periodicamente, o padrão de vida nas varias regiões do 
paiz. 
Art. 116. Omissis ... 
Art. 117. A lei promoverá o fomento da economia 
popular, o desenvolvimento do credito e a nacionalização 
progressiva dos bancos de deposito. Igualmente 
providenciará sobre a nacionalização das empresas de 
seguros em todas as suas modalidades, devendo 
constituir-se em sociedade brasileira as estrangeiras que 
actualmente operam no paiz. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
44
Parágrafo único. É prohibida a usura, que será punida na 
forma da lei. 33 34 
 
 
Os artigos de 115 a 143, da Constituição de 16 de julho de 
1934 são dedicados a normatizarem a ordem econômica e 
social, de tal modo que, em face de esse novo cenário mundial 
vivido naquele tempo, o aparecimento de uma nova Constituição 
estaria marcada de muitas mudanças, como esteve. Aparece 
pela primeira vez, na Constituição, a usura atrelada ao tema 
Ordem Econômica, pois o tema foi de muita importância nos 
anos anteriores com a falta de recursos financeiros que assolou 
o mundo com a crise do início da década de 30. 
 
 
A Constituição de 1934 reflete uma maior interferência na 
economia por parte do Estado. Um bom exemplo é a 
federalização das jazidas presente no artigo 119, portanto 
contrário à Constituição de 1891, o qual transcrevo: 
 
 
Art. 119. O aproveitamento industrial das minas e das 
jazidas mineraes, bem como das aguas e da energia 
hydraulica, ainda que de propriedade privada, depende de 
autorização ou concessão federal, na forma da lei. 
§ 1° As autorizações ou concessões serão conferidas 
exclusivamente a brasileiros ou a empresas organizadas 
no Brasil, resalvada ao proprietario preferencia na 
exploração ou coparticipação no lucros. 
Omissis ... 
§ 4° A lei regulará a nacionalização progressiva das 
minas, jazidas mineraes e quedas dagua ou outras fontes 
de energia hydraulica, julgadas basicas ou essenciaes á 
defesa econômica ou militar do paiz. 35 36 
 
 
33
 CAMPANHOLE, Adriano e CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Op. cit. p 654-5. 
34
 É importante ressaltar que o texto é fiel ao que foi escrito naquele tempo, portanto diferente do vernáculo 
atual. 
35
 CAMPANHOLE, Adriano e CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Op. cit. p 655. 
36
 É importante ressaltar que o texto é fiel ao que foi escrito naquele tempo, portanto diferente do vernáculo 
atual. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
_____________________________________________________________________________________45
Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
45
Essa Constituição registrou um grande avanço na ordem 
econômica, mas, sobretudo, expressou uma tendência ao 
socialismo e por isso mesmo, poucos anos depois tivemos outra, 
certamente, pela influência econômica mundial e, lógico, com 
outras regras para normatizar a economia e, consequentemente, 
força o aparecimento de um novo Direito Econômico. 
 
 
A reação a uma Constituição com traços socialistas foi 
imediata e em 10 de novembro de 1937 tivemos mais uma 
Constituição. A ordem econômica tem agora um Conselho 
Nacional que foi feito nos moldes do que tem a França. Essa 
Constituição dedicou os artigos de 57 a 63 para falar a respeito 
do Conselho. Assim, aí temos a sua composição, a sua 
competência e atribuições nestes sete artigos, do qual destaco o 
principal, não por ser o primeiro, mas por se o que fala a respeito 
da sua composição, a saber: 
 
Art. 57. O Conselho da Economia Nacional compõe-se de 
representantes dos vários ramos da produção nacional 
designados, dentre pessôas qualificadas pela sua 
competência especial, pelas associações profissionais ou 
sindicatos reconhecidos em lei, garantida a igualdade de 
representação entre empregadores e empregados. 
Parágrafo único. O conselho da Economia Nacional se 
dividirá em cinco secções: 
a) secção de indústria e do artesanato; 
b) secção da agricultura; 
c) secção do comércio; 
d) secção dos transportes; 
e) secção do crédito. 37 38 
 
 
Essa Constituição já revela uma preocupação maior com 
os rumos da economia e para tanto institui um Conselho para 
cuidar dos seus destinos. É a preocupação da população com a 
 
37
 CAMPANHOLE, Adriano e CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Op. cit. p 543. 
38
 É importante ressaltar que o texto é fiel ao que foi escrito naquele tempo, portanto diferente do vernáculo 
atual. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
46
normatização da economia, estabelecer regra para ela é também 
função deste Conselho. 
 
 
De novo a história fundamenta uma mudança 
constitucional e em 18 de setembro de 1946 temos outra 
Constituição. O motivo da mudança? A II Guerra Mundial, em 
1945. Mudanças profundas foram provocadas pela existência de 
uma guerra que utilizou pela primeira vez a bomba atômica. A 
austeridade aumenta. O motivo é a instabilidade vivida durante o 
período de guerra, assim o Direito Econômico ganha um reforço 
objetivando maior proteção. O trabalho é apresentado como 
obrigação, objetivando a maior produção e consequentemente o 
fim dos efeitos econômicos da guerra. Essa Constituição dedicou 
do artigo 145 ao 162 para a ordem econômica e social, dos quais 
transcrevo o 145 e o 148: 
 
Art. 145. A ordem econômica deve ser organizada 
conforme os princípios da justiça social, conciliando a 
liberdade de iniciativa com a valorização do trabalho 
humano. 
Parágrafo único. A todos é assegurado trabalho que 
possibilite existência digna. O trabalho é obrigação social. 
 
Art. 148. A lei reprimirá tôda e qualquer forma de abuso 
do poder econômico, inclusive as uniões ou agrupamentos 
de emprêsas individuais ou sociais, seja qual fôr a sua 
natureza que tenham por fim dominar os mercados 
nacionais, eliminar a concorrência e aumentar 
arbitràriamente os lucros. 39 40 
 
 
A proteção de mercado contra os trustes e cartéis que 
vislumbram dominar economicamente uma parcela do mercado 
está presente nesta Constituição. Esse tema é objeto de estudo 
mais a frente. 
 
 
39
 CAMPANHOLE, Adriano e CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Op. cit. p 449. 
40
 É importante ressaltar que o texto é fiel ao que foi escrito naquele tempo, portanto diferente do vernáculo 
atual. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
47
No Brasil, em 31 de março de 1964 ocorreu o golpe militar 
e por isso mais uma profunda mudança na sociedade brasileira e 
também na Constituição. Depois de três anos de um regime de 
exceção, a partir de 24 de janeiro de 1967 surgiu uma nova 
Constituição. Os artigos de 157 a 166 foram reservados para o 
Título III – Da ordem econômica e social. Pela primeira vez, 
foram inseridos os princípios da ordem econômica na 
Constituição, o que reflete em uma evolução legislativa. Para sua 
observação trancrevo o caput do artigo 157, com seus incisos: 
 
Art. 157. A ordem econômica tem por fim realizar a 
justiça social, com base nos seguintes princípios: 
I – liberdade de iniciativa; 
II – valorização do trabalho como condição da dignidade 
humana; 
III – função social da propriedade; 
IV – harmonia e solidariedade entre os fatôres de 
produção; 
V – desenvolvimento econômico; 
VI – repressão ao abuso do poder econômico, 
caracterizado pelo domínio dos mercados, a eliminação da 
concorrência e o aumento arbitrário dos lucros. 41 42 
 
 
A preocupação com as grandes empresas, as grandes 
fusões de empresas e grandes negócios que caracterizavam a 
economia naqueles tempos, provocaram uma reação contrária 
através de uma normatização do assunto. O inciso VI é uma 
transcrição do final, do artigo 148 da Constituição de 1946. Uma 
mostra de que essa preocupação permaneceu desde 1946. 
Veremos que permanece até nossos tempos. 
 
 
A Constituição de 1969, fruto de muitos atos institucionais, 
os conhecidos “Ais”, também dedicou um título a ordem 
econômica e social, instituindo os artigos de 160 até o 174 para 
tratar do assunto. No artigo 160, dedica-se a elencar os 
 
41
 CAMPANHOLE, Adriano e CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Op. cit. p 370. 
42
 É importante ressaltar que o texto é fiel ao que foi escrito naquele tempo, portanto diferente do vernáculo 
atual. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
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princípios que espelham cópia do artigo 157 da constituição de 
64, porém suprimindo o inciso que tratava do desenvolvimento 
econômico por outro, a saber: 
 
Art. 160. A ordem econômica e social tem por fim realizar 
o desenvolvimento nacional e a justiça social, com base 
nos seguintes princípios: 
I – liberdade de iniciativa; 
II – valorização do trabalho como condição da dignidade 
humana; 
III – função social da propriedade; 
IV – harmonia e solidariedade entre as categorias sociais 
de produção; 
V – repressão ao abuso do poder econômico, 
caracterizado pelo domínio dos mercados, a eliminação da 
concorrência e o aumento arbitrário dos lucros; e 
VI – expansão das oportunidades de emprego produtivo. 
43
 
 
 
Finalmente, estamos diante da Constituição que foi 
promulgada em 05 de outubro de 1988 e a presença do Direito 
Econômico é pontual. Essa Constituição dedicou os artigos de 
170 a 181 para o Título VII – Da ordem econômica e financeira, 
Capítulo I – Dos princípios gerais da atividade econômica. Aqui 
temos vários assuntos de competência do Direito Econômico 
sendo tratado e sobre os quais explanaremos mais tarde, 
deixando para
agora a citação apenas dos princípios presentes 
no artigo 170, a saber: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
I - soberania nacional; 
II - propriedade privada; 
III - função social da propriedade; 
IV - livre concorrência; 
 
43
 CAMPANHOLE, Adriano e CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Op. cit. p 256. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
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V - defesa do consumidor; 
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante 
tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental 
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração 
e prestação; 
VII - redução das desigualdades regionais e sociais; 
VIII - busca do pleno emprego; 
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno 
porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua 
sede e administração no País. 
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de 
qualquer atividade econômica, independentemente de 
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos 
em lei. 44 
 
 
As preocupações na década de 80 eram outras e como tal 
o pensamento da sociedade a respeito da economia. Os 
princípios presentes no artigo 170 da Constituição de 1988 
refletem uma outra preocupação. O meio ambiente passou a ser 
prioridade no desenvolvimento econômico, preservar e conservar 
os recursos naturais é fundamental para qualquer 
empreendimento. Mais, o consumidor conquista destaque com o 
objetivo de fortalecer a relação de consumo e com isso fortalecer 
a economia. As pequenas empresas ganham destaque como 
princípio, tratá-las de forma diferente agora é princípio da ordem 
econômica e está presente na Constituição. Portanto, a evolução 
do Direito Econômico atinge esse ponto, que certamente, face ao 
já vivido no passado, se resume no ápice de sua história. 
 
44
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170. 
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2 – A ORDEM ECONÔMICA BRASILEIRA. 
 
 
 
 A ordem econômica é um assunto tratado por vários 
doutrinadores, inclusive de áreas não jurídicas e a dúvida é 
sempre a mesma: de que a ordem econômica segue por uma 
linha normativa jurídica, do dever ser, ou do normatizar, no 
sentido de dar ordem, de sistematizar a economia, referindo-se a 
uma situação atual ou uma situação futura. 
 
 
 
 2.1 – Conceito. 
 
 
 
 Para o início do estudo da ordem econômica brasileira 
primeiro pensemos a respeito da palavra “ordem” para depois 
pensarmos no vocábulo “ordem econômica” e posteriormente, a 
localização territorial dessa ordem econômica, quer seja, no 
Brasil e finalmente formarmos o conceito final para a expressão 
ordem econômica brasileira. Assim prescreve De Plácido e Silva 
a respeito de ordem: 
 
Ordem. Do latim ordo, ordinis (classe, disposição), é o 
vocábulo empregado na terminologia jurídica em três 
significações técnicas: 
I . Ordem é a classe, ou seja, a colocação ou a disposição, 
em que se põem ou se mostram as coisas, para que assim 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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dispostas, colocadas, classificadas ou graduadas, sejam 
vistas ou anotadas. (...) 
II. Ordem é a prescrição, é o sistema de regras ou a soma 
de princípios criados para estabelecer o modo ou a 
maneira por que se deve proceder ou agir, dentro da 
sociedade, em que se vive, ou das instituições, de que se 
possa participar. 
É afinal, o conjunto de regras que determinam e regem as 
atividades dos homens. (...) 
III. Ordem. Propriamente derivada de ordenar, de 
ordenare (regular, dar princípio, dispor), é tida na 
significação de mando, autorização, outorga. (...) 45 
 
 
A reflexão acima proporcionada pelo professor De Plácido 
e Silva é válida no momento em que levanta três aspectos 
plenamente aplicáveis na conceituação do vocábulo ordem 
econômica brasileira. Assim devemos incorporar na formação do 
conceito do vocábulo três núcleos: colocação ou disposição em 
ordem; sistema de regras prescritas e autorização para regular. 
 
 
O vocábulo “econômica” quer dizer: referente à economia e 
por ser um adjetivo, qualifica um substantivo, no caso em estudo, 
a ordem. Aqui a junção do significado do vocábulo ordem 
acrescido do significado do vocábulo econômica, ficamos com 
uma nova escrita dos núcleos mencionados anteriormente: 
colocação ou disposição da economia; sistema de regras 
prescritas da economia e autorização para regular a economia. 
 
 
O vocábulo “brasileira” refere-se ao Brasil, ou melhor, do 
Brasil, de origem brasileira. De tal modo que a junção do núcleos 
pesquisados nos leva a conceituação da expressão ordem 
econômica brasileira, que nada mais é do que: regras 
prescritas que dispõem a respeito da disposição dos 
elementos da economia brasileira, de modo a autorizar e 
regular o seu funcionamento. 
 
45
 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987. v.3. p. 289. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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2.2 – Os princípios da Ordem Econômica. 
 
 
 
Uma divergência sempre é comum entre os doutrinadores 
de vários ramos das Ciências Jurídicas: a quantidade e a 
nomenclatura atribuída a cada princípio que rege a ação de cada 
ramo desta incomensurável ciência. Assim, há discussão a 
respeito do princípio da isonomia ou da igualdade, cada um com 
sua razão, uns defendem e adotam a primeira forma, são 
simpatizantes da origem grega da palavra, outros adotam a 
segunda, são simpatizantes da origem latina da palavra. Ao final, 
todos se encontram no sentido de que o princípio existe e tem 
significado igual, quer seja usando uma ou outra nomenclatura. 
 
 
No Direito Econômico não é diferente. As discussões são 
muitas em torno da quantidade e quais são os princípios. A 
certeza é uma só: os princípios são os esteios que sustentam 
uma ciência, é a estrutura sobre a qual é erigida toda a 
conjuntura. Deste modo, o princípios devem estar contidos em 
normativos legais de alto poder, de tal modo a estarem 
sobrepostos aos demais, como em um patamar mais alto se 
traduzindo em uma hierarquia normativa legal superior. 
 
 
Uma conclusão surge dessa reflexão: o melhor lugar para 
todos os princípios, de todos os ramos das Ciências Jurídicas, 
estarem é, sem dúvida, na Constituição. Então, os princípios, 
não só do Direito
Econômico, mas de todo o funcionamento de 
um país, com as características de Estado Democrático de 
Direito, devem estar na sua Constituição. 
 
 
Para iniciarmos o assunto princípios do Direito Econômico 
citarei o artigo 170 da atual Constituição e depois, 
comentaremos o caput e cada um dos seus incisos. O presente 
trabalho não pretende ser exaustivo no que tange ao comentário 
dos princípios e nem tem a pretensão de aprofundar, o objetivo é 
atender ao Acadêmico de Ciências Jurídicas que se inicia no 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
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estudo do Direito Econômico. Assim reza o artigo 170 da 
Constituição de 1988: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
I - soberania nacional; 
II - propriedade privada; 
III - função social da propriedade; 
IV - livre concorrência; 
V - defesa do consumidor; 
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante 
tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental 
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração 
e prestação; 
VII - redução das desigualdades regionais e sociais; 
VIII - busca do pleno emprego; 
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno 
porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua 
sede e administração no País. 
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de 
qualquer atividade econômica, independentemente de 
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos 
em lei. 46 
 
 
A completa exploração do artigo anteriormente transcrito 
nos levará a um total entendimento através de um dissecamento 
de todo o texto. 
 
 
O vocábulo ordem econômica já foi conceituado 
anteriormente, portanto não há necessidade de uma repetição. A 
valorização do trabalho humano e a livre iniciativa é nada mais 
do que entender que o trabalho realizado ou produzido por um 
ser humano é o centro da riqueza das nações, é a valorização do 
ser humano sobre as máquinas, por exemplo. A livre iniciativa é 
 
46
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
54
deixar que cada um entenda, ao seu modo, o que é aplicar, 
desenvolver, empreender ou realizar uma atividade econômica, 
rentável, ou seja, economicamente definida. Com essa base, a 
ordem econômica objetiva produzir uma existência dentro dos 
padrões de dignidade humana em conformidade com as regras 
da justiça social. 
 
 
 
2.2.1 – A soberania nacional. 
 
 
 
A soberania nacional tem hoje um conceito relativo, vez 
que com a economia cada vez mais globalizada a soberania 
nacional é definida de uma forma global, pois as mudanças da 
economia globalizada determinam também dentro do nosso país 
comportamentos que por vezes podem se interpretados como 
um desrespeito a nossa soberania. Se o Brasil negocia com a 
China, por exemplo, vende e compra produtos daquele país, há 
de se observar o respeito dos valores desse ou daquele país, por 
um e por outro. Se o comércio implica em entrelaçamentos dos 
mais diversos, às vezes poderá implicar em uma interpretação 
de um fato que revele, para alguns, em desrespeito da 
soberania. 
 
 
Assim, por exemplo, quando tomamos um empréstimo em 
um banco, ele nos pede para que façamos um cadastro onde 
nós revelamos, voluntariamente, várias informações sigilosas 
sobre nossa vida econômica, inclusive abrindo mão do sigilo 
fiscal oferecendo cópia da declaração do Imposto de Renda - IR. 
Com a relação do Brasil e o Fundo Monetário Internacional – FMI 
não é diferente. Ele quer saber qual o superávit primário, 
estabelecer metas, com o objetivo de ter recursos financeiros 
suficientes para o pagamento do respectivo empréstimo. Para 
alguns está atingida a soberania nacional. 
 
 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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55
A soberania nacional tem conceito relativo e significa dizer 
que é a livre determinação de um povo para designar os seus 
caminhos, nas mais diversas áreas, inclusive na econômica, 
como por exemplo, designando pagar ou não as suas dívidas 
externas, como fez a Argentina, e aí arcar com as 
conseqüências de um ou outro ato. Não somos obrigados a 
recorrermos ao FMI, mas assinados os contratos é de 
fundamental importância o cumprimento das suas cláusulas. 
 
 
Então, este é um princípio constitucional-econômico e está 
presente no artigo 170, inciso I da Constituição Federal de 1988: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
I - soberania nacional; 47 
 
 
Mais do que princípio constitucional-econômico, ele é 
princípio fundamental da República Federativa do Brasil e está 
no artigo primeiro da atual Constituição: 
 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela 
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito 
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e 
tem como fundamentos: 
I - a soberania; 48 (grifo meu) 
 
 
Finalmente, vislumbrando manter a soberania e a 
independência da economia nacional face ao capital estrangeiro, 
a Constituição Federal de 1988 dedicou o artigo, o qual está 
transcrito a seguir: 
 
 
47
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, inciso I. 
48
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título I – Dos Princípios Fundamentais, artigo 1º, inciso I. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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56
Art. 172. A lei disciplinará, com base no interesse 
nacional, os investimentos de capital estrangeiro, 
incentivará os reinvestimentos e regulará a remessa de 
lucros. 49 
 
 
 
2.2.2 – A propriedade privada. 
 
 
 
A propriedade privada é fundamento constitucional de 
funcionamento do nosso País. Optamos por um sistema 
capitalista e se assim escolhemos, a propriedade privada e não a 
coletiva é definidora de um traço econômico do sistema que 
adotamos. A propriedade pertencendo a uma pessoa ou a um 
grupo de pessoas e não coletivamente ao Estado, como 
estudamos em capítulos anteriores onde citamos as 
constituições de países socialistas, é princípio da ordem 
econômica. Veja o artigo: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
(...) omissis; 
II - propriedade privada; 50 
 
 
Deve ser enfatizado que no nosso sistema não se proíbe a 
propriedade pública ou do Estado, mas a preferência é da 
propriedade privada. Por exemplo: quando a União desapropria 
deve ter o objetivo de distribuir as terras para atender uma 
determinação de assentamento e desenvolvimento do plano 
nacional de reforma agrária, devendo manter estoque de terras 
somente para os fins de, por exemplo, exploração de pesquisas 
 
49
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 172. 
50
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, inciso II. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
57
agropecuárias, sendo proibida a especulação imobiliária. Para 
maior elucidação veja o artigo da Constituição: 
 
Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será 
compatibilizada com a política agrícola e com o plano 
nacional de reforma agrária. 51 
 
 
Embora presente aqui, a propriedade privada é tópico de 
outros títulos constitucionais, a exemplo no artigo 5º, cujo texto 
segue: 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
(...); 
XXII - é garantido o direito de propriedade; 52 (grifo 
meu) 
 
 
Um questionamento é presente quanto ao texto 
constitucional referindo-se à propriedade e não a propriedade 
privada. A resposta é clara e basta lembrar que este capítulo é o 
que trata dos direitos e deveres individuais e coletivos, então a 
propriedade aqui tratada é a privada, individual ou coletiva, e não 
a do Estado, com, por exemplo, as elencadas nos artigos 20 e 
26 da Constituição Federal de 1988. 
 
 
A propriedade privada é prioridade da sociedade brasileira, 
mas não sobrepõe ao interesse público. Quando o interesse 
público estiver presente a propriedade privada poderá ser 
expropriada, na modalidade de desapropriação, isto é, mediante 
justa indenização. O único caso de confisco, ou melhor, de perda 
 
51
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo 
III – Da política agrícola e fundiária e da reforma agrária, artigo 188, caput. 
52
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, 
Capítulo I – Dos direitos e deveres individuais e coletivos, artigo 5º, inciso XXII. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
58
da propriedade sem justa indenização é o caso do artigo 243 da 
Constituição Federal de 1988, que se refere às propriedades 
territoriais rurais utilizadas para plantação de plantas 
psicotrópicas ilegais. 
 
 
 A propriedade foi ao longo dos séculos, e ainda é, objeto 
de discussão entre os seres humanos, no ocidente e no oriente. 
A propriedade utilizada para o simples adorno, como no caso do 
ouro, ou para a produção de sustento, como é o caso da terra, é 
sempre motivo de guerras, até os monges tibetanos brigam por 
ela. Alguns matam em nome de Deus para preservá-la. Outros, 
declaradamente, para colecioná-la. 
 
 
 Maria Helena Diniz, no seu Dicionário Jurídico, trata o tema 
como propriedade individual. Assim para ela, os termos 
propriedade individual e propriedade privada se equivalem. E 
traz o seguinte a respeito: 
 
PROPRIEDADE INDIVIDUAL. Direito civil. É a 
pertencente a determinada pessoa, em relação a um bem, 
podendo usá-lo, gozá-lo, fruí-lo e dele dispor. É a 
propriedade privada ou particular de uma pessoa. 53 
 
 
 A propriedade está definida no Código Civil Brasileiro, a Lei 
nº. 10.406 de 10 de janeiro de 2002, e é para lá que vamos 
agora. 
 
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e 
dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem 
quer que injustamente a possua ou detenha. 
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em 
consonância com as suas finalidades econômicas e 
sociais e de modo que sejam preservados, de 
conformidade com o estabelecido em lei especial, a 
flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio 
 
53
 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. V. III. São Paulo: Saraiva, 1988.p. 823. 
 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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59
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem 
como evitada a poluição do ar e das águas. 
§ 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário 
qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela 
intenção de prejudicar outrem. 
§ 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de 
desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou 
interesse social, bem como no de requisição, em caso de 
perigo público iminente. 
§ 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o 
imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse 
ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de 
considerável número de pessoas, e estas nela houverem 
realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços 
considerados pelo juiz de interesse social e econômico 
relevante. 
§ 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a 
justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, 
valerá a sentença como título para o registro do imóvel em 
nome dos possuidores. 
 
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço 
aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade 
úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se 
a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma 
altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse 
legítimo em impedi-las. 
 
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, 
minas e demais recursos minerais, os potenciais de 
energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros 
bens referidos por leis especiais. 
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de 
explorar os recursos minerais de emprego imediato na 
construção civil, desde que não submetidos a 
transformação industrial, obedecido o disposto em lei 
especial. 
 
Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, 
até prova em contrário. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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60
 
Art. 1.232. Os
frutos e mais produtos da coisa pertencem, 
ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por 
preceito jurídico especial, couberem a outrem. 54 (grifo 
meu) 
 
 
 
2.2.3 – A função social da propriedade. 
 
 
 
A função social da propriedade é um dos mais conhecidos 
e também o mais incompreendido dos princípios, pelo fato de 
que quando se fala em social o pensamento número um é que é 
para atender a classe menos favorecida, economicamente 
falando. Não é. Pensar em uma função social da propriedade é 
pensar em que benefício traz para toda a sociedade aquela 
propriedade ou seu uso. 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
(...) omissis; 
III - função social da propriedade; 55 
 
 
Por exemplo: quanto à propriedade sobre imóvel rural deve 
se observar a “exploração que favoreça o bem-estar dos 
proprietários e dos trabalhadores”, dispositivo presente no artigo 
186, IV, da Constituição Federal de 1988. Veja que o dispositivo 
não se refere apenas aos trabalhadores, a parte mais frágil da 
relação, mas refere-se também aos proprietários. Então, a 
função social é atender a todos e aí atender a sociedade. No 
exemplo, atender a função social é observar vários quesitos, 
 
54
 Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, Livro III – Do direto das coisas, Título III – Da propriedade, 
Capítulo I – Da propriedade em geral, Seção I – Disposições preliminares. 
55
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, inciso III. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
61
inclusive conservar e preservar o meio ambiente. Aqui a 
intersecção de dois princípios, os dois, função social da 
propriedade e a preservação do meio ambiente. A função 
objetivada é a social, a preservação da sociedade. Veja o artigo: 
 
Art. 186. A função social é cumprida quando a 
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo 
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos 
seguintes requisitos: 
I - aproveitamento racional e adequado; 
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis 
e preservação do meio ambiente; 
III - observância das disposições que regulam as relações 
de trabalho; 
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos 
proprietários e dos trabalhadores. 56 
 
 
Mas não é só na propriedade sobre o imóvel rural. A 
Constituição atenta em vários artigos para a utilização da 
propriedade com uma visão social, ou seja, com um ângulo que 
proporcione bem-estar a coletividade. Assim, a propriedade 
imobiliária urbana também é tratada pela Constituição Federal de 
1988. Veja o artigo: 
 
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, 
executada pelo Poder Público municipal, conforme 
diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo 
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais 
da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. 
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, 
obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, 
é o instrumento básico da política de desenvolvimento e 
de expansão urbana. 
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social 
quando atende às exigências fundamentais de 
ordenação da cidade expressas no plano diretor. 
 
56
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo 
III – Da política agrícola e fundiária e da reforma agrária, artigo 186. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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62
§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas 
com prévia e justa indenização em dinheiro. 
§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante 
lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, 
nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano 
não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova 
seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, 
de: 
I - parcelamento ou edificação compulsórios; 
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial 
urbana progressivo no tempo; 
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da 
dívida pública de emissão previamente aprovada pelo 
Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em 
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor 
real da indenização e os juros legais. 57 (grifos meus) 
 
 
 
2.2.4 – A livre concorrência. 
 
 
 
A livre concorrência é outro princípio que ajuda na 
formatação desse ramo do direito. Livre concorrência não deve 
ser confundida com livre iniciativa, esse um princípio é um 
princípio constitucional e presente no art. 1° da n ossa atual 
constituição e aquele, embora esteja incluso também no texto 
constitucional, está no Título VII – Da ordem econômica e 
financeira, no Capítulo I – Dos princípios gerais da atividade 
econômica, isto é, enquanto a livre iniciativa é de abrangência 
geral, a livre concorrência é de abrangência especial, isto é, seu 
alcance é restrito a atividade econômica. Veja o artigo: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
 
57
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo 
III – Da política urbana, artigo 182. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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63
(...) omissis 
IV - livre concorrência; 58 
 
 
A livre concorrência é princípio de funcionamento de um 
capitalismo utópico, onde observamos todos os agentes atuando 
na economia sem intervenção do Estado, coisa que não é a 
realidade brasileira atual. A atuação desimpedida de cada 
agente da economia é o que podemos chamar de livre 
concorrência. Enquanto princípio, ele pretende criar uma 
situação de concorrência de forma que os preços sejam 
formados pelo mercado e não ao sabor dos fornecedores. 
 
 
O exemplo dos combustíveis, nos postos, e somente nos 
postos de gasolina, é o que podemos observar em livre 
concorrência. Enquanto alguns praticam um preço menor outros 
praticam outros preços maiores. A concorrência estabelecida 
entre eles implica em uma concorrência que é feita de maneira 
livre, sem interferência governamental, ou pelo menos é o que 
dispõe a teoria jurídica a respeito do assunto, pois a atuação do 
Ministério Público é também uma intervenção estatal que deve 
ser avaliada até que ponto é boa. Por exemplo, em 09 de maio 
de 2005, estava em vigor um ajuste de conduta estabelecido, em 
Goiânia, entre Sindiposto – Sindicato dos Postos de Gasolina do 
Estado de Goiás, o Estado de Goiás e o Ministério Público do
Estado de Goiás, onde foi fixado o preço da gasolina para o 
período, em R$2,37 (dois reais e trinta e sete centavos); mas o 
que se observou naqueles dias foi que os preços chegavam a 
até R$1,99 (um real e noventa e nove centavos). Certamente a 
participação do Estado na economia é por vezes desastrosa, 
quando não produz exatamente um resultado oposto ao 
pretendido. 
 
 
No sistema projetado por John Locke, a economia funciona 
sem interferência e é o sistema mencionado no início do estudo 
deste item. Neste âmbito, a livre concorrência é a regra que 
 
58
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, inciso IV. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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64
normatiza o sistema, estabelecendo a prática da “lei da 
economia” da oferta e procura. A concorrência funcionando de 
forma livre, o preço se estabilizará em um patamar que o próprio 
mercado estabelece, sem intervenção do Estado e dos grandes 
conglomerados econômicos. Se o Estado ou os grandes 
conglomerados agirem de forma diferente estarão atuando no 
mercado de forma inconstitucional. 
 
 
Este assunto foi objeto de apreciação em Ação Direta de 
Inconstitucionalidade – nº. 3.710 proposta pela Confederação 
Nacional dos Estabelecimentos de Ensino - CONFENE tendo 
como objeto a Lei do Estado de Goiás nº. 15.223/05, promulgada 
pela Assembléia Legislativa de Goiás a qual foi julgada no dia 09 
do mês de fevereiro de 2007, cuja decisão foi erga omnes – 
alcança a todos, autorizando os vários estabelecimentos a 
cobrarem pelo uso de seus estacionamentos59. Assim poderão 
cobrar pelo estacionamento, em Goiás: shoppings, aeroportos, 
hipermercados, escolas e cemitérios, só para citar alguns 
estabelecimentos. Como a lei proibia a cobrança, entendeu o 
Supremo Tribunal Federal – STF que seu conteúdo era 
inconstitucional, pois seria uma intervenção na economia e uma 
ausência de livre concorrência. Alguns entendem que os 
estabelecimentos que cobrarem pelo estacionamento terão os 
custos de seus clientes majorados e isto diminuirá a freqüência 
deles com conseqüente redução nas vendas, outros não, 
somente o tempo pode dizer. 
 
 
 
2.2.5 – A defesa do consumidor. 
 
 
 
A Constituição Federal de 1988 evidenciou a defesa do 
consumidor em vários artigos e aqui, na ordem econômica, 
estabeleceu este assunto dentre os seus princípios. Veja o artigo 
e respectivo inciso: 
 
59
 Jornal Diário da manhã, circulado dia 10 de fevereiro de 2007, caderno Cidades, matéria editada pelo 
jornalista Wellinton Carlos, p. 05. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
(...) omissis; 
V - defesa do consumidor; 60 
 
 
A defesa do consumidor é por certo o calcanhar de Aquilis 
dos fornecedores. É essa visão que muitos têm a respeito da 
defesa do consumidor. Defender o consumidor é preservá-lo e 
dessa forma preserva-se, também, o sistema. Esse princípio é 
certamente o mais conservacionista de todos, pretende manter o 
status quo ante, isto é, preservar a situação como está. A 
manutenção da situação como está entre comprador e vendedor 
levará o sistema ao colapso. Somente é possível a perpetuação 
do sistema protegendo o consumidor de ser espoliado 
totalmente, pois isso significa não ter para quem vender. A 
defesa do consumidor é algo novo no nosso sistema jurídico 
brasileiro, o conhecido Código de Defesa do Consumidor – CDC 
– a Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, revelou um grande 
avanço no assunto. Com ele, o consumidor ganhou uma 
proteção jurídica que antes não estava presente no nosso 
ordenamento jurídico, como a inversão do ônus da prova, que 
privilegiou o consumidor e colocou a margem os que praticam o 
comércio de forma desleal, para consumidores e concorrentes. 
 
 
O “apagão aéreo”, como ficou conhecida a crise deflagrada 
pela colisão do avião da Companhia aérea Gol, vôo 1793, e o 
jato americano fabricado pela Embraer, modelo Legace, em 
setembro de 2006, revelou a iniqüidade das ações estatais, 
federais ou estaduais, para resolver os problemas que foram 
criados por culpa do Estado ou das companhias aéreas. Para o 
consumidor, de um lado, e contribuinte, de outro, a certeza que 
muitos “apagões” ainda iremos enfrentar. 
 
 
60
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, inciso V. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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66
Apesar do sistema de proteção de defesa do consumidor 
comemorar mais de 16 anos, vivemos a mercê da vontade do 
capital, nacional ou estrangeiro. Quanto a isso, os nossos 
sistemas parecem não ter preconceito, qualquer um pode 
mandar, basta ter muito, muito dinheiro. Decidimos 
coletivamente contrário aos atores mais fracos da relação, 
mesmo sabendo da importância que a presença deles tem para 
a manutenção do status quo. 
 
 
Outro dispositivo Constitucional que revela a preocupação 
com a relação de consumo é o artigo 150, pois estabelece o 
esclarecimento a respeito do impostos incidentes sobre o que o 
consumidor adquire, produtos ou serviços, veja: 
 
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao 
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito 
Federal e aos Municípios: 
(...) omissis ; 
§ 5º - A lei determinará medidas para que os 
consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que 
incidam sobre mercadorias e serviços. 61 
 
 
As franquias tornaram ao longo do tempo um excelente 
negócio para o franqueador e o franqueado. Para o consumidor 
não poderia ser mais selvagem. Por isso, o Código de Defesa do 
Consumidor, a Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, 
estabelece equiparação ao fornecedor, todos envolvidos na 
cadeia de consumo. A responsabilização de todos envolvidos, 
vinculando-os aos prejuízos e obrigações, garante a 
sobrevivência do sistema. É comum entre os franqueados de 
empresas locadoras de veículos não honrarem: as reservas, os 
prazos e preços de suas centrais, o que é uma pena! Este é um 
exemplo a não ser seguido, pois denigre a imagem do sistema. É 
como um calote dado por um cerimonialista em uma turma de 
formandos, todas as próximas comissões de formaturas estarão 
inseguras quanto à lisura das ações do seu cerimonialista 
 
61
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VI – Da Tributação e do Orçamento, Capítulo I – 
Do Sistema Tributário Nacional, seção II – Das limitações do poder de tributar, artigo 150, § 5º. 
Direito
Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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67
contratado. Esta é outra área onde são comuns os crimes contra 
os consumidores. 
 
 
 
2.2.6 – A defesa do meio ambiente. 
 
 
 
A defesa do meio ambiente tem um questionamento que 
aqui coloco como uma pergunta: de que vale ganhar todo o 
dinheiro do mundo e deteriorar todo o meio ambiente? O meio 
ambiente é nossa casa no universo, se o deteriorarmos onde 
vamos morar? Na lua? Em marte? A importância da preservação 
do nosso sistema ambiental ultrapassa os limites das nossas 
fronteiras secas, marítimas ou fluviais. A responsabilidade de 
manter o equilíbrio ecológico é de toda nação e não deve ser 
diferente aqui, no Brasil. Esse princípio é referente à 
preservação da nossa casa no universo, a terra, e aí todos 
somos responsáveis. Nos Estados Unidos da América, 
sabidamente um país com grande presença de lagos, tem 84% 
deles contaminados ou impróprios para o uso humano. Fica a 
pergunta: onde buscar água potável? E a vida lacustre existente 
nestes lagos e que atuam no equilíbrio ecológico? Certamente, 
quando a nossa Constituição determina que as empresas, cujas 
atividades tenham impactos no meio ambiente, recebam 
tratamento diferente, inferindo uma diferenciação privilegiada 
para as menos poluidoras, está agindo de forma correta e em 
conformidade com a preservação e conservação do meio 
ambiente. 
 
 
Vários acidentes com vazamentos de petróleo já foram 
vistos por nós, o mais divulgado talvez tenha sido o que 
contaminou a Lagoa Rodrigues de Freitas, no Rio de Janeiro, 
mas as ocorrências continuam. No início do ano 2007, o Rio 
Muriaé, em Minas-Gerais foi inundado por lama contaminada de 
rejeitos de lavagem da bauxita, matéria-prima do alumínio, a qual 
contaminou vários Municípios por mais de 1.000 quilômetros na 
sua trajetória rumo ao mar e dois Estados-membros, antes de 
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chegar ao Oceano Atlântico, com conseqüências incalculáveis 
para o meio-ambiente fluvial e marinho. De que valem as multas 
de R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais) diante dos 
desastres? Quanto custa um novo leito de rio? E um novo 
oceano? A prevenção é mais valiosa. Conservar o que temos é 
fundamental. 
 
 
Por este motivo é que a defesa do meio ambiente está 
presente no artigo 170 da Constituição Federal de 1988: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
(...) omissis; 
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante 
tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental 
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração 
e prestação; 62 
 
 
As presenças do Rima – Relatório de Impacto no Meio 
Ambiente e o Eima – Estudo de Impacto no Meio ambiente nas 
obras de grande porte tem trazidos mais segurança nas 
execuções de grandes projetos cujos impactos ambientais, 
também, poderão ter grandes repercussões. O condicionamento 
da aprovação dos projetos as indicações do Rima e do Eima, 
envolve um número maior de profissionais, uma vez que estes 
são produzidos por ambientalistas, como: engenheiros 
agrônomos e biólogos. 
 
 
 
2.2.7 – A redução das desigualdades regionais e sociais. 
 
 
 
 
62
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, inciso VI. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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69
O princípio mais altruístico de todos é a redução das 
desigualdades regionais e sociais. Luiz Gonzaga, o tocador de 
forró, certamente morreu triste de ver seu sertão não andar nada 
no que se refere à desigualdade regional. Ele cantou por mais de 
cinqüenta anos o sertão do nordeste e durante estes anos nada 
mudou. Continua ao Deus dará, mesmo depois de mais de uma 
década de sua morte. Os Estados mais ricos e poderosos têm 
uma tradição por carrear mais recursos financeiros nacionais do 
que os mais pobres. A Constituição tentou estabelecer uma 
desigualdade na hora da distribuição dos recursos tentando 
privilegiar algumas regiões, no caso em questão o nordeste. Mas 
todo esse esforço não se efetiva na prática o sertão nordestino 
continua pobre. 
 
 
O mesmo se repete nas desigualdades sociais. Atuar de 
forma a não manter as desigualdades sociais é atuar de forma a 
levar para toda à sociedade oportunidades iguais. Na prática, a 
observação desta verdade é pífia, não temos ações verdadeiras 
no sentido de buscar a igualdade social, no máximo, uma 
atividade assistencial, o que difere, em muito, de uma atividade 
que vislumbre fomentar desenvolvimento com equilíbrio, de 
forma a gerar igualdade social. 
 
 
O inciso traz a certeza da exigência quer seja: a redução 
das desigualdades regionais e sociais: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
(...) omissis; 
VII - redução das desigualdades regionais e sociais; 63 
 
 
Quando relata a respeito da repartição das receitas 
tributárias, a Constituição estabelece que 3% das receitas 
 
63
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, inciso VII. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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70
obtidas com o Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI e 
com o Imposto sobre Rendas e Proventos de Qualquer Natureza 
– IR serão destinados a incentivarem desenvolvimento nas 
regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste. Este recursos, no início 
de 2007, ainda tem sua operacionalização incumbida ao Banco 
do Brasil, através de projetos estudados pelo Sebrae. 
Infelizmente, mais uma vez o micro e pequeno empresário fica a 
“ver navios” e não tem acesso ao recurso que deveria incentivar 
sua atividade econômica. Em um futuro bem próximo os 
recursos poderão ser administrados de forma diferente e mais 
eficiente, principalmente, com o ressurgimento da: Sudam – 
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Amazônia 
Legal composta de 10 Estados acima do paralelo 13); da Sudene 
– Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste e da 
Sudeco – Superintendência do Desenvolvimento do Centro-
Oeste. Veja o artigo constitucional: 
 
Art. 159. A União entregará: 
I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e 
proventos de qualquer natureza e sobre produtos 
industrializados,
quarenta e sete por cento na seguinte 
forma: 
a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo 
de Participação dos Estados e do Distrito Federal; 
b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao 
Fundo de Participação dos Municípios; 
c) três por cento, para aplicação em programas de 
financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, 
Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições 
financeiras de caráter regional, de acordo com os 
planos regionais de desenvolvimento, ficando 
assegurada ao semi-árido do Nordeste a metade dos 
recursos destinados à Região, na forma que a lei 
estabelecer; 64 (grifo meu) 
 
 
 
64
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VI – Da Tributação e do Orçamento, Capítulo I – 
Do Sistema Tributário nacional, seção VI – Das repartições das receitas tributárias, artigo 159, inciso I, 
alínea “c”. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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71
Outro artigo constitucional, o 43, trata do assunto genérico, 
ou seja, a redução das desigualdades regionais e sociais. Este 
artigo cuida da: formação dos organismos que executam a 
política estabelecida para o objetivo proposto e os incentivos 
fiscais para áreas estabelecidas pela Constituição como 
prioritárias nas ações determinadas para Ela, além da 
determinação dos assuntos a serem tratados por lei 
complementar, só para citar três. Veja o artigo: 
 
Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá 
articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico 
e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das 
desigualdades regionais. 
§ 1º - Lei complementar disporá sobre: 
I - as condições para integração de regiões em 
desenvolvimento; 
II - a composição dos organismos regionais que 
executarão, na forma da lei, os planos regionais, 
integrantes dos planos nacionais de desenvolvimento 
econômico e social, aprovados juntamente com estes. 
§ 2º - Os incentivos regionais compreenderão, além de 
outros, na forma da lei: 
I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens de 
custos e preços de responsabilidade do Poder Público; 
II - juros favorecidos para financiamento de atividades 
prioritárias; 
III - isenções, reduções ou diferimento temporário de 
tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas; 
IV - prioridade para o aproveitamento econômico e social 
dos rios e das massas de água represadas ou represáveis 
nas regiões de baixa renda, sujeitas a secas periódicas. 
§ 3º - Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a União 
incentivará a recuperação de terras áridas e cooperará com 
os pequenos e médios proprietários rurais para o 
estabelecimento, em suas glebas, de fontes de água e de 
pequena irrigação. 65 (grifo meu) 
 
 
 
65
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título III – Da Organização do Estado, Capítulo VII – Da 
administração pública, seção IV – Das regiões, artigo 43. 
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72
Quando ficaram estabelecidos alguns incentivos fiscais 
para a tão conhecida Zona Franca de Manaus – ZFM e mantida 
na atual Constituição o objetivo era o de fixar a população 
naquela região, através do seu desenvolvimento. Além de 
estratégico é um atendimento a este princípio, pois aquela região 
é uma região considerada pobre e com um vazio demográfico 
imenso. A área de incentivo mais conhecida é esta, mas existem 
outras, como no Amapá e em Roraima. 
 
 
 
2.2.8 – A busca pelo pleno emprego. 
 
 
 
A busca pelo pleno emprego nos conduz a um mito, pois 
pensamos que essa busca leva, necessariamente, ao pleno 
emprego. Aqui o jogo de palavras nos leva a uma falsa visão do 
futuro, o de que todos terão emprego. A mecanização e 
ultimamente a chamada mecatrônica, tem substituído o trabalho 
humano pelo da robótica. O ser humano disputava mercado com 
seus semelhantes e passou a disputar com a máquina. Assim, a 
modernidade tem ocupado mais as máquinas do que o ser 
humano. Aliado a isso, as reengenharias, ou seja, o repensar 
como fazer de forma mais econômica tem levado a redução dos 
postos de trabalho. No Brasil, o Ente Público ainda é um grande 
empregador. Isso implica em um alto custo e, 
conseqüentemente, em altas despesas que necessitam de altas 
receitas para custeá-las e é claro que, na sua maioria das vezes, 
são receitas tributárias. A política econômica não tem conduzido 
a economia para a busca do pleno emprego. Há décadas, o 
governo federal tem orientado sua política econômica para altos 
juros que por sua vez induz a uma recessão no mercado. Altos 
juros implicam em poucos investimentos. Desta forma, o pleno 
emprego fica cada vez mais só no sonho. 
 
 
Eis o inciso que trata do assunto: 
 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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73
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
(...) omissis; 
VIII - busca do pleno emprego; 66 
 
 
 
2.2.9 – Tratamento favorecido para as empresas brasileiras 
de capital nacional e de pequeno porte. 
 
 
 
A citação do inciso que trata do assunto será o primeiro 
enfoque que darei a este item, veja-o: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
(...) omissis; 
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno 
porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua 
sede e administração no País. 67 
 
 
Para atendimento a este inciso, não basta ser empresa de 
pequeno porte definida na lei. Há de ser constituída sob as leis 
brasileiras e isto implica em dizer que devem obedecer as regras 
legais vigentes no Brasil. Mais, a sua sede e a administração 
devem estar no nosso país, ou seja, a unidade conhecida como 
matriz deve estar instalada aqui. Isto por que não podemos 
incentivar as empresas que destinarão seus lucros para o 
exterior. O favorecimento deve ser aplicado para o crescimento 
do mercado interno. Não podemos admitir que os recursos da 
 
66
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, inciso VIII. 
67
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, inciso II. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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74
sociedade
brasileira sejam utilizados para favorecer empresas 
estrangeiras, ainda que sejam de pequeno porte. 
 
 
O pensamento Keinisianista de investir na base é 
explorado no último inciso do artigo 170 da Constituição Federal, 
pois esboça um tratamento diferenciado de modo a favorecer as 
empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte. 
Apesar de imenso esforço de toda sociedade, aí eu excluo o 
governo, em todos os níveis, em tentar dar sobrevida às 
pequenas e médias empresas, nos últimos anos tem sido em 
vão. No Brasil, boa parte das pequenas e médias empresas 
fecham suas portas mesmo antes de completarem 01 ano de 
vida. A estatística revela o absurdo de que em quatro abertas, 
três fecham suas portas antes de um ano. O esforço está na 
sociedade. Organismos, governamentais ou não, inclusive o 
Sebrae, se constitui por vezes em uma entidade inócua e que 
serve, na maioria das vezes, apenas para onerar o “custo Brasil” 
e de “cabide de emprego” para políticos sem expressão. Assim 
tem sido no Brasil, por onde observo, gastando milhões com 
publicidade a título de tornar público as práticas bem sucedidas 
de empresários de pequenas e médias empresas. Só altos 
gastos e fechamentos de empresas são os resultados, suas 
ações são inócuas. 
 
 
Os administradores públicos, mormente os que deveriam 
ter como missão trabalhar para o fortalecimento das pequenas e 
micro-empresas, conhecem o artigo da Constituição Federal de 
1988 que requer tratamento diferenciado para elas. 
 
Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os 
Municípios dispensarão às microempresas e às empresas 
de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento 
jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela 
simplificação de suas obrigações administrativas, 
tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela 
eliminação ou redução destas por meio de lei. 68 
 
68
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos Princípios Gerais da Atividade Econômica, artigo 179. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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75
 
 
As pequenas empresas precisam de uma burocracia 
menor para funcionar. O Sebrae é uma espécie de laboratório do 
Estado, onde os microempresários, os próprios ou seus 
empregados, são submetidos a um método de aprendizado de 
como aprender e fazer o que o Estado quer. Sabemos de 
alguma luta do Sebrae para a redução da carga tributária? 
Algum desses órgãos paraestatais tem atuação assim? Algum 
deles encampou uma luta para inclusão da impostos estaduais e 
municipais no sistema conhecido como “simples” de pagamento 
de tributos, agora presente no chamado “super simples”? Os 
incentivos fiscais para as grandes empresas são muitos. 
 
 
Para estudarmos somente o caso do Governo de Goiás 
que recepcionou as grandes como: a Mitishubishi, a Perdigão, a 
Hunday, a Schincariol dando-lhe grandes benesses em nome do 
povo. Entretanto, não concede incentivos fiscais aos pequenos. 
Pelo contrário, estabelece uma verdadeira “guerra” contra eles. 
Será que os pequenos também têm que ter “padrinhos 
políticos”? O Estado não cria emprego e nem dá tratamento 
diferenciado aos pequenos. O tratamento é certamente 
diferenciado, mas a favor dos grandes. Se estiver errado, solicito 
ao leitor que me envie exemplos para ilustrar esse ponto nas 
próximas edições. 
 
 
Quanto ao Sebrae-GO, um caso pelo menos esdrúxulo 
merece destaque. Trata-se do Edital Pregão nº. 018/2006, onde 
o objeto de contratação era a locação de alguns produtos de 
som e iluminação, incluindo transporte, locação e operação dos 
mesmos. 
 
 
O Sebrae-GO estabeleceu tantos requisitos que apesar de 
ter remetido o edital para 13 empresas, apenas 04 
compareceram, entre elas a Lady Mil – Profissionais de Som & 
Luz Ltda. Apresentadas as propostas iniciais e preparado o 
pregão, três empresas não se sentiram seguras diante da 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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proposta até então vencedora e não ofertaram lances e 
protocolizaram um recurso administrativo. A empresa vencedora 
apresentava planilha, como todas, nos quinze itens com três 
diferentes preços: a) para Goiânia e até 30 km, b) para distância 
de 31 a 200 km e c) para distâncias superiores a 201 km. 
Acontece que a empresa, até então vencedora, apresentava 
preços que diminuíam na medida em que a distância aumentava. 
Uma total e inequívoca falta de habilidade para tratar de custos. 
Esta empresa foi adjudicada pelo Sebrae-GO sob a justificativa 
de ter o menor preço. A verdade certamente não é esta, pois 
apesar de parecer contrário da Comissão Permanente de 
Licitação – CPL e de dois economistas contratados pelo Sebrae-
GO, o superintendente adjudicou a empresa como vencedora. 
Está clara a inaptidão da empresa, administrativamente falando, 
especialmente em custos. A decisão do superintendente, 
certamente, não foi pela capacidade administrativa em prestar 
serviços de som e luz. São coisas do Brasil e de Goiás, o eterno 
atraso e o constante clientelismo, o que quero acreditar, não é o 
caso. 
 
 
Uma ressalva merece registro. O Banco Nacional de 
Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES que ao longo 
das últimas décadas só favoreceu aos grandes empresários, 
criou nos últimos anos um produto que incentiva a participação 
do pequeno, através de financiamentos, ainda que através do 
sistema bancário privado, no financiamento de bens de capital. 
Integram o chamado Cartão BNDES as instituições bancárias: 
Caixa Econômica Federal – CEF, o Banco do Brasil e o Banco 
Brasileiro de Descontos – BRADESCO. Certamente, o produto 
bancário conhecido por “Finame”, de outros Bancos, também 
recebem dinheiro do BNDES. Finalmente, uma pequena parcela 
destes recursos foi para os pequenos. Ressalto que a sua 
composição é integrada por recursos do Tesouro Federal e aí a 
presença de tributos financiando esta atividade. No passado, 
estes recursos foram destinados até para emprestar para quem 
quisesse comprar empresas que estavam sendo privatizadas. 
Um absurdo! E depois a gente faz piada de português. 
 
 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Finalmente, e não menos importante, a observação de que 
não basta ser de pequeno porte, o capital da empresa deve ser 
nacional. O privilégio é dado para que o capital brasileiro 
empreendido em pequenas empresas se multiplique. Tal 
privilégio não deve ser aplicado ao capital internacional, ainda 
que em empresa de pequeno porte. 
 
 
 
2.2.10 – O parágrafo único do artigo 170. 
 
 
 
Para iniciar o estudo se faz necessária a transcrição do 
texto constitucional, veja: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
(...) omissis 
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de 
qualquer atividade econômica, independentemente
de 
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos 
em lei. 69 
 
 
O parágrafo único do artigo 170 é outro vazio jurídico. Ao 
mesmo tempo em que determina ações no sentido de deixar livre 
o exercício de qualquer atividade econômica, excepcionaliza 
uma prévia autorização aos ditames da lei. Pergunto: existe 
alguma atividade que possa ser exercida sem prévia autorização 
legal? Se existe não conheço. O que é tido como exceção a 
regra é regra geral. Não é possível o funcionamento de qualquer 
atividade econômica sem prévia autorização do ente público. 
Dessa feita, o parágrafo único se torna letra morta para o nosso 
estudo. 
 
 
69
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, parágrafo único. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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78
 
De um “carrinho de pipoca” até uma grande empresa, 
todos devem ter licença para funcionar, neste caso, expedida 
pelo município. De outro lado pergunto: e se a pipoca intoxicar 
os consumidores? É assunto de quem? É muito relativo, intervir 
ou liberar. 
 
 
 
 2.3 – A Política Econômica. 
 
 
 
 A respeito do conceito de política econômica vou iniciar 
reescrevendo o conceito da Professora Maria Helena Diniz, que 
reza assim: 
 
Política econômica. Teoria e prática da direção econômica 
de uma nação, que procura, oficialmente, efetivar algumas 
mudanças na economia, relativas à produção, circulação e 
distribuição de riquezas, para a consecução de certos fins 
e obter o seu saneamento. 70 
 
 
 Quando no Vocabulário Jurídico do autor De Plácido e 
Silva buscamos a conceituação do vocábulo política econômica 
encontramos a expressão política que nos leva a uma maior 
reflexão a respeito do assunto, uma vez que a junção da palavra 
política mais a palavra econômica nos levam a locução que 
trabalhamos. É a junção das duas expressões que nos revela o 
verdadeiro significado, observado que em forma de locução e 
não uma justaposição dos dois conceitos. Vejamos o que nos 
revela a respeito de política, o professor De Pláclido e Silva: 
 
Política. Derivado do latim politice, procedente do grego 
politikê, forma feminina de politikos, possui, na acepção 
jurídica, o mesmo sentido filosófico, em que é tido: 
 
70
 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. V. III. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 626. 
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designa a ciência de bem governar um povo, constituído 
em Estado. 
Assim, é seu objetivo estabelecer os princípios, que se 
mostrem indispensáveis à realização de um governo, tanto 
mais perfeitos, quanto seja o desejo de conduzir o Estado, 
ao cumprimento de suas precípuas finalidades, em melhor 
proveito dos governantes e governados. 
Nesta razão, a política mostra o corpo de doutrinas, 
indispensável ao bom governo de um povo, dentro das 
quais devem ser estabelecidas as normas jurídicas 
necessárias ao bom funcionamento das instituições 
administrativas do Estado, para que assegure a realização 
de seus fundamentais objetivos, e para que traga a 
tranqüilidade e o bem-estar a todos quantos nele se 
interagem. 71 
 
 
 Vejam que da fala transcrita anteriormente quatro pontos 
se tornam relevantes e podemos registrar: a) ciências de bem 
governar um povo; b) corpo de doutrinas; c) normas jurídicas e 
d) bem estar de todos. Com esses quatro núcleos do significado 
da palavra política podemos pensar, e muito, a respeito da 
locução política econômica. 
 
 
 Waldir Vitral na edição do quinto volume da célebre obra 
Vocabulário Jurídico conceitua o vocábulo, dessa forma: 
 
Política econômica. (econ.) Diz-se do conjunto de atos 
governamentais adotados em relação à produção, 
circulação ou distribuição de riquezas. 72 
 
 
 Assim, a política econômica é reflexo do ordenamento da 
economia dada pelas autoridades que comandam um Estado. 
Os governantes determinam um caminho a ser seguido pela 
economia e editam regras ou normas com o objetivo de 
conseguirem os seus objetivos na economia. É essa a política 
 
71
 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987. v.3. p. 389. 
72
 VITRAL, Waldir. Vocabulário jurídico. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1986. v. 5. p. 460. 
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econômica que nem sempre se verifica na realidade, pois a ela 
pode ter resultados diferentes dos projetados pelas autoridades 
e por isso, nem sempre se verificam na prática os resultados 
pretendidos pelos seus condutores. Temos vários exemplos, 
como: o plano Bresser, plano verão, plano cruzado, plano Collor 
e tantos outros que revelavam uma política econômica 
equivocada e teve como projeto inicial levar a economia a uma 
estabilização econômica, isto é, o fim da inflação, mas acabou 
por prejudicar a vida de muitos brasileiros e quase nos leva a 
hiperinflação, com números mensais perto dos 100% (cem por 
cento). Um absurdo! 
 
 
 A política econômica é, então, o estabelecimento de regras 
legais que visam estabelecer um caminho que deve a economia 
seguir para consumar o objetivo de proteger o mercado e a 
economia como um todo e em assim sendo, proteger os 
interesses econômicos de toda a sociedade. 
 
 
 
 2.4 – A Relação entre Política Econômica e a Norma 
Constitucional. 
 
 
 
 Como já foi discorrido a respeito em outros tópicos 
anteriores, a norma constitucional é de estrema importância para 
o nosso estudo. No Brasil, a prática da diretriz implementada 
pelo Governo Federal a respeito da polícia econômica, vale dizer 
da macro-economia, está esboçada na Constituição e regulada 
por legislação infraconstitucional. Assim, os grandes assuntos 
econômicos devem ser tratados por lei e essa determinação é 
constitucional. 
 
 
 A Constituição, sabidamente, institui o Governo Federal 
como responsável pela elaboração e execução das políticas 
econômicas. Não podia ser outro ente federado, pois somente a 
União tem a abrangência mundial no tocante a relação. Assim, 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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poderá atuar de modo mais preciso. Por exemplo: imaginemos 
os 26 Estados-Membros cuidando de tratados internacionais 
referentes à importação e exportação. Ou pior. Imaginem os 
mais de 5.000 municípios fazendo o mesmo. Impossível. 
 
 
 A União é quem detém a competência para elaborar a 
política econômica, isto é ponto pacífico. Agora, qual é o melhor 
dispositivo legal para conter as normas que tratam de tão 
relevante
assunto? A resposta não pode ser outra, a 
Constituição da República Federativa. Por quê? E eu elenco 
alguns motivos, não exaustivamente, mas como exemplos: a) é 
ela que atribui a competência de cada ente federado; b) é ela a 
norma de maior importância; c) dado a forma do seu processo 
legislativo, da sua criação ou alteração, a legitimação das 
normas é maior; e d) a maior segurança jurídica para a 
sociedade. 
 
 
 A relação entre a política econômica e a Constituição 
Federal é a maior possível. Todo o seu sistema, as 
competências, a sua organização e a representação de cada 
função estão descritas e sustentadas nela. No sistema capitalista 
a manutenção do equilíbrio econômico é fundamental e assim, 
as regras que delimitam a política econômica estão na 
Constituição Federal, pois é o instrumento jurídico mais 
poderoso e legítimo. 
 
 
 
 2.5 – A Intervenção Estatal na Economia. 
 
 
 
 Para se entender intervencionismo ou a intervenção estatal 
na economia, é necessário entender o liberalismo, o processo 
inverso. 
 
 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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O mundo, não só o ocidental, pois a China é um grande 
exemplo de avanço em direção ao capitalismo, está caminhando 
para um processo intitulado pelos estudiosos como neoliberal. 
Neo de novo e liberal referindo-se a teoria levantada por John 
Locke há cerca de 300 anos. 
 
 
 A idéia liberalista de John Locke era a da retirada do 
Estado da economia. Elas fomentaram movimentos como: o 
iluminismo, a abolição da escravatura e a independência de 
vários países. Foi intelectualmente responsável pela saída do 
absolutismo e a entrada no capitalismo e o, conseqüente, 
aparecimento da classe chamada de burguesia. 
 
 
 Quando ouvimos falar em privatizações estamos falando 
de implantação de um neoliberalismo. O Estado vende alguma 
empresa ou delega algum serviço público para a área privada, 
deixando escapar de sua gerência direta aquela área. Em 
Goiânia-Goiás, um dos terminais rodoviários foi privatizado, isto 
é, sua gerência foi transferida para uma empresa que participou 
de uma licitação. Este é um exemplo de desestatização ou da 
chamada saída do Estado da economia, deixando as atividades 
menos relevantes por conta da iniciativa privada. 
 
 
 Obviamente, o Estado continua a exercer seu controle para 
que os serviços públicos ali desenvolvidos não fujam da 
qualidade pretendida pelo Estado. O que antes era execução e 
fiscalização passa a ser apenas fiscalização. Apesar de ser 
assim hoje, os idosos com mais de 60 anos e que tem renda 
mensal de até 02 salários mínimos não conseguem embarcar 
nas viagens interestaduais de graça, nos moldes previstos no 
Estatuto do Idoso, a Lei nº. 10.741, de 1º de outubro de 2003, 
sinal de que a fiscalização não consegue atingir seus objetivos, 
quer seja, o de proteger toda uma sociedade. Nem mesmo a 
ação da ANTT – Agência Nacional de Transporte Terrestre, em 
nível federal, e da AGR – Agência Goiana de Regulação, em 
nível estadual, conseguem reverter o caso. Este é um exemplo 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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da ineficácia da ação estatal face ao poder econômico dos 
grandes conglomerados econômicos. 
 
 
 O Estado exerce e deve exercer intervenção na economia, 
pois é Ele o agente executor da soberania, ou seja, é Ele o 
agente que pratica os atos que determinam a soberania. O 
Estado é o representante do povo e as práticas de conservação 
dos mercados e da economia nacional é dever Dele preservá-la, 
quer por uma legitimação constitucional, pois assim ela 
determina, quer por uma determinação política, pois o povo 
assim o quer e necessita. 
 
 
 A cada momento da história, o Estado, sobretudo o 
brasileiro, tem se posicionado de forma diferente. Por exemplo: a 
Companhia Elétrica do Rio de Janeiro, a Light, já foi privatizada e 
estatizada por cinco vezes. Qual o motivo? A concepção de 
economia muda a cada momento e se em uma época é bom 
privatizar em outra o bom é estatizar. Por vezes, para atender 
aos ditames da norma, a exemplo, a Constituição de 1934, no 
seu artigo 119, § 4º, como já visto no Capítulo 1, que determinou 
a nacionalização de todo potencial hidráulico. A experiência 
apurada, neste exemplo, revela um prejuízo muito grande. A 
cada operação o Estado perdia mais. O Estado vendia barato, 
comprava caro, saneava a empresa e depois, a vendia, em um 
constante círculo, por cinco vezes. 
 
 
 O Estado-membro ou em outros Entes Federados ou 
órgãos deles, pois o exemplo anterior referiu-se a gestão de um 
estado, podem e devem atuar interferindo na economia de modo 
a preservá-la. Então a intervenção poderá ser, a exemplo, na 
forma que o Banco Central do Brasil – Bacen, uma Autarquia 
Federal, intervém na economia estabelecendo uma taxa Selic de 
remuneração ou juros mais altos ou mais baixos, aumentando a 
demanda ou restringindo-a e aqui temos uma intervenção do 
Estado. Ou, quando o Estado utiliza sua força econômica para 
formar um parque petroquímico objetivando suprir uma 
necessidade da economia. A intervenção do Estado Brasileiro na 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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economia já chegou a um ponto extremo, como foi o caso do 
conhecido “Plano Cruzado”, onde houve um tabelamento 
combinado com um “congelamento” de preços, estas são 
algumas dentre as várias modalidades de intervenção que o 
Estado pode fazer na economia. 
 
 
 Como exemplo, o artigo 174 da Constituição Federal de 
1988 expressa bem o que relatamos aqui: 
 
Art. 174. Como agente normativo e regulador da 
atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da 
lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, 
sendo este determinante para o setor público e indicativo 
para o setor privado. 
§ 1º - A lei estabelecerá as diretrizes e bases do 
planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o 
qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e 
regionais de desenvolvimento. 
§ 2º - A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras 
formas de associativismo. 
§ 3º - O Estado favorecerá a organização da atividade 
garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção 
do meio ambiente e a promoção econômico-social dos 
garimpeiros. 
§ 4º - As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior 
terão prioridade na autorização ou concessão para 
pesquisa e lavra dos recursos e jazidas de minerais 
garimpáveis, nas áreas onde estejam atuando, e naquelas 
fixadas de acordo com o art. 21, XXV, na forma da lei. 73 
(grifo meu) 
 
 
 Segue no artigo 175 relatando o que expressa intervenção 
do Estado na economia: 
 
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, 
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, 
 
73
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 174. 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
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sempre através de licitação, a prestação de serviços 
públicos. 
Parágrafo único. A lei disporá sobre: 
I - o regime das empresas concessionárias e 
permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de 
seu contrato e de sua prorrogação, bem como as 
condições de caducidade, fiscalização e rescisão da 
concessão ou permissão; 
II - os direitos dos usuários; 
III - política tarifária; 
IV - a obrigação de manter serviço adequado. 74 (grifo 
meu) 
 
 
 
 2.6 – O Desenvolvimento em Face da Finalidade da Ordem 
Econômica. 
 
 
 
 Primeiramente, o objetivo final da ordem econômica é 
preservar o sistema na integridade, isto é, vislumbra o bem-estar 
social. Atendendo aos bens enumerados no artigo 170 da 
Constituição Federal de 1988 estará próximo do ideal de 
preservação. 
 
 
O que os colegas doutrinadores do mundo inteiro e filiados 
à União Mundial dos Agraristas Universitários – UMAU têm 
sustentado é que o desenvolvimento produz desajustes no 
ambiente e na economia, só para citar dois, mas a crescente 
necessidade por alimentos, principalmente, tem levado a uma 
expressão muito usual: o crescimento sustentado. Então, 
desenvolver é certo, e o ferimento de alguns preceitos, também. 
Por isso, vigilantes devem estar atentos para as ocorrências e a 
punição dos abusos ocorridos. 
 
 
 
74
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 175. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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 O desenvolvimento a todo e qualquer custo leva o mundo 
ao apocalipse. Os princípios estabelecidos no artigo 170 da 
Constituição Federal de 1988 não são suficientes para atender o 
que seria o ideal em controle de desenvolvimento, vislumbrando 
a preservação da sociedade como um todo. 
 
 Neste sistema capitalista, a manutenção da ordem 
econômica implica em manutenção do desenvolvimento e, por 
conseguinte, no desenvolvimento da economia. É fácil concluir 
que o desenvolvimento do sistema econômico está atrelado a 
alguns pontos, dos quais vários estão contemplados no artigo 
170 e seus incisos, já discorrido anteriormente a respeito. 
 
 
 Então, a ordem econômica objetiva nada mais, nada 
menos, do que promover o desenvolvimento da economia e com 
isso preservar o sistema e seus atores, a classe proprietária dos 
meios de produção, como: dinheiro, terra e “vagas de 
empregos”, só para citar alguns. Assim, a finalidade da ordem 
econômica é em um primeiro plano proporcionar 
desenvolvimento e em um segundo momento, manter o sistema. 
 
 
 
 2.7 – A Atividade Econômica. 
 
 
 
 A atividade econômica é tema trabalhado pelo Direito 
Administrativo, lugar onde o Direito Econômico vai buscar o seu 
conceito para estabelecer o elo com os assuntos aqui 
trabalhados. 
 
 
 Entende a Professora Maria Helena Diniz que: 
 
ATIVIDADE ECONÔMICA. 1. Direito Administrativo. 
Diz-se o serviço estatal de natureza industrial ou 
comercial exercido por empresa pública ou sociedade 
de economia mista. 2. Direito comercial. Soma de ações 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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dirigidas à produção, circulação e consumo de riquezas. 75 
(grifo meu) 
 
 
 O nosso objeto de estudo tem como foco o Direito 
Econômico, então, entendo como suficiente e clara a definição 
da professora Maria Helena Diniz a respeito de atividade 
econômica. O conceito reúne os ingredientes integrantes da 
política econômica e por isto é objeto de apreciação neste item, 
presente no 1.2 - Objeto. 
 
 
 Uma vez que o Estado é o maior empregador da nossa 
economia e que é impossível ignorar os quase 70 mil 
funcionários da Caixa Econômica Federal, os quase 100 mil do 
Banco do Brasil e os quase 200 mil da Petrobrás, além dos seus 
bilhões de dólares de receita anual, de lucro anual, de despesa 
anual e de capital social. A dedicação de um item para este 
estudo é razoável. A citação é pequena, foram somente três 
empresas, dentre as centenas de empresas públicas ou de 
economia mista, cujo controle acionário é da União. Se 
considerarmos as estaduais, distritais e municipais, outro “mar” 
econômico aparecerá. 
 
 
 Sendo um assunto tão importante para a sociedade e para 
o Direito Econômico, a sua presença na Constituição é 
obrigatória, pois temas imprescindíveis para a sociedade devem 
ser tratados por normas de “grosso calibre”. Estando na 
Constituição a legitimidade do assunto é maior e sua mudança 
se vê dificultada, pois o processo legislativo é mais complicado e 
não facilita a sua mudança. 
 
 
 Acredito que a simples leitura dos artigos constitucionais 
será elucidante para o tema, caso contrário, voltaremos a tratar 
dele em outros capítulos, veja: 
 
 
75
 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. V. I. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 307. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta 
Constituição, a exploração direta de atividade 
econômica pelo Estado só será permitida quando 
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a 
relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. 
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa 
pública, da sociedade de economia mista e de suas 
subsidiárias que explorem atividade econômica de 
produção ou comercialização de bens ou de prestação de 
serviços, dispondo sobre: 
I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado 
e pela sociedade; 
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas 
privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, 
comerciais, trabalhistas e tributários; 
III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e 
alienações, observados os princípios da administração 
pública; 
IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de 
administração e fiscal, com a participação de acionistas 
minoritários; 
V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a 
responsabilidade dos administradores. 
§ 2º - As empresas públicas e as sociedades de 
economia mista não poderão gozar de privilégios 
fiscais não extensivos às do setor privado. 
§ 3º - A lei regulamentará as relações da empresa pública 
com o Estado e a sociedade. 
§ 4º - A lei reprimirá o abuso do poder econômico que 
vise à dominação dos mercados, à eliminação da 
concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. 
§ 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual 
dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a 
responsabilidade desta, sujeitando-a as punições 
compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra 
a ordem econômica e financeira e contra a economia 
popular. 
 
Art. 174. Como agente normativo e regulador
da atividade 
econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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89
de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este 
determinante para o setor público e indicativo para o setor 
privado. 
§ 1º - A lei estabelecerá as diretrizes e bases do 
planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o 
qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e 
regionais de desenvolvimento. 
§ 2º - A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras 
formas de associativismo. 
§ 3º - O Estado favorecerá a organização da atividade 
garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção 
do meio ambiente e a promoção econômico-social dos 
garimpeiros. 
§ 4º - As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior 
terão prioridade na autorização ou concessão para 
pesquisa e lavra dos recursos e jazidas de minerais 
garimpáveis, nas áreas onde estejam atuando, e naquelas 
fixadas de acordo com o art. 21, XXV, na forma da lei. 76 
(grifo meu) 
 
 
 
 2.8 – Os Serviços Públicos. 
 
 
 
 Os serviços públicos serão desenvolvidos, diretamente ou 
não, pelos Entes Federados, os quais nada mais são do que a 
personificação do Estado. 
 
 
 Um questionamento poderá fruir ao final do estudo deste 
item: o que serviço público tem haver com Ordem Econômica e, 
conseqüentemente, com Direito Econômico? Para a resposta 
recomendo uma leitura atenta, principalmente no tocante aos 
serviços públicos prestados e continuo com um exemplo, 
questionando: será que os preços dos serviços de transporte 
 
76
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigos 173-4. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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coletivo não têm reflexo na Ordem Econômica? E o caso das 
tarifas de água, energia ou gás? 
 
 
 A citação constitucional enumera outros tantos serviços 
públicos prestados, direta ou indiretamente, pelos Entes 
Federados o que recomendo uma atenta leitura, de novo, e o 
exercício de estabelecer um elo entre eles e a Ordem 
Econômica, a qual será enriquecedora. 
 
 
 No caso da União, o artigo 21 da Constituição Federal de 
1988 delimita o que é entendido como serviço público. Na 
citação do dito artigo inclui-se outros tópicos como é o caso do 
monopólio, que não é objeto de estudo deste item, mas que não 
deixa de ser serviço público. Veja o artigo e seus incisos 
aplicáveis ao assunto, transcritos a seguir com a relação dos 
serviços públicos federais: 
 
Art. 21. Compete à União: 
(...) 
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de 
material bélico; 
VII - emitir moeda; 
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar 
as operações de natureza financeira, especialmente as de 
crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e 
de previdência privada; 
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de 
ordenação do território e de desenvolvimento econômico e 
social; 
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; 
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, 
concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, 
nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos 
serviços, a criação de um órgão regulador e outros 
aspectos institucionais; 
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, 
concessão ou permissão: 
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a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e 
imagens; 
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o 
aproveitamento energético dos cursos de água, em 
articulação com os Estados onde se situam os potenciais 
hidroenergéticos; 
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura 
aeroportuária; 
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre 
portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que 
transponham os limites de Estado ou Território; 
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e 
internacional de passageiros; 
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; 
(...) 
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, 
geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional; 
(...) 
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de 
recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos 
de seu uso; 
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, 
inclusive habitação, saneamento básico e transportes 
urbanos; 
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema 
nacional de viação; 
XXII - executar os serviços de polícia marítima, 
aeroportuária e de fronteiras; 
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de 
qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a 
pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a 
industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus 
derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: 
a) toda atividade nuclear em território nacional somente 
será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do 
Congresso Nacional; 
b) sob regime de permissão, são autorizadas a 
comercialização e a utilização de radioisótopos para a 
pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais; 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, 
comercialização e utilização de radioisótopos de meia-
vida igual ou inferior a duas horas; 
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe 
da existência de culpa; 
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do 
trabalho; 
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o 
exercício da atividade de garimpagem, em forma 
associativa. 77 
 
 
 Quanto aos municípios, a Constituição Federal de 1988 
reza enumerando os serviços públicos municipais, veja: 
 
Art. 30. Compete aos Municípios: 
(...) 
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, 
bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da 
obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes 
nos prazos fixados em lei; 
(...) 
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de 
concessão ou permissão, os serviços públicos de 
interesse local, incluído o de transporte coletivo, que 
tem caráter essencial; 
(...) 
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da 
União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da 
população; 
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento 
territorial, mediante planejamento e controle do uso, do 
parcelamento e da ocupação do solo urbano; 
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural 
local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal 
e estadual. 78 (grifo meu) 
 
77
 Constituição
da República Federativa do Brasil, Título III - Da Organização do Estado, Capítulo II – Da 
União, artigo 21. 
78
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título III - Da Organização do Estado, Capítulo IV – Dos 
Municípios, artigo 30. 
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 Outro tópico muito importante é a remuneração pela sua 
prestação. Em alguns casos temos a cobrança de taxa, onde o 
Ente Federado exerce diretamente o serviço público e por isso 
cobra um valor para remunerá-lo, como nos casos de: taxa de 
inscrição em concursos públicos, taxa de matrícula e taxas de 
expediente. Em outros, a prestação de serviço público é feita por 
entes não públicos que exercem essa atividade de forma 
concedida ou autorizada, como por exemplo: preço cobrado no 
transporte coletivo, na entrega de energia elétrica e de água 
tratada. E muitos, não são remunerados diretamente, pois já 
estão inclusos na cobrança de tributos, como os serviços de: 
segurança pública, confecção da legislação e serviço de 
atendimento médico emergencial. 
 
 
 O serviço público por certo tem uma definição muito 
confusa. Como o nosso objeto não é o Direito Administrativo, 
relato o que Celso Antônio Bandeira de Mello registra a respeito 
deste assunto: 
 
Serviço público é toda atividade de oferecimento de 
utilidade ou comodidade material fruível diretamente 
pelos administrados, prestados pelo Estado ou por quem 
lhe faças as vezes, sob um regime de Direito Público – 
portanto, consagrador de prerrogativas de supremacia e de 
restrições especiais –. Instituído pelo Estado em favor dos 
interesses que houver definido como próprios no sistema 
normativo. 79 
 
 
 A concessão e a permissão são concedidas pelos entes 
públicos e consiste em uma delegação da incumbência de 
prestar serviço público. O artigo 175 da Constituição Federal de 
1988 traduz bem o tema e estabelece as regras gerais, 
sobretudo quanto à obrigatoriedade de licitação nestas duas 
modalidades de delegação, a concessão ou permissão: 
 
79
 MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 
433. 
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Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, 
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, 
sempre através de licitação, a prestação de serviços 
públicos. 
Parágrafo único. A lei disporá sobre: 
I - o regime das empresas concessionárias e 
permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de 
seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições 
de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou 
permissão; 
II - os direitos dos usuários; 
III - política tarifária; 
IV - a obrigação de manter serviço adequado. 80 (grifo 
meu) 
 
 
 
 2.9 – O Monopólio e os Regimes Especiais. 
 
 
 
 O monopólio é uma modalidade de atuação no mercado. 
Ele existe quando alguém ou alguma empresa é exclusiva 
naquela área, a única a produzir aquele bem ou a oferecer 
aquele serviço. Quando esta situação ocorre na economia de 
mercado, modalidade esta que rege o sistema brasileiro, as 
atenções devem ser redobradas, pois poderá significar um 
estrangulamento do sistema e prejuízo para a sociedade como 
um todo. 
 
 
 A Constituição Federal de 1988 determina quais os 
monopólios são permitidos. Todos têm o fito de estabelecer o 
controle do Ente Federado direto sobre a atuação do monopólio. 
 
 
 
80
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 175. 
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 Ele poderá ser exercido direta ou indiretamente, neste 
caso, através de empresas públicas ou de economia mista. Para 
exercitar este monopólio a legislação infraconstitucional cria 
regimes especiais a serem aplicados na sua gerência. 
 
 
 Para cada monopólio estabelecido a legislação 
infraconstitucional estabelece norma a serem aplicadas 
estabelecendo: definições das expressões, a forma de 
constituição das empresas, a forma de gerenciamento, o controle 
acionário e seu posicionamento em face da Ordem Econômica, 
só para citarmos alguns pontos relevantes. 
 
 
Alguns exemplos destas leis que tratam de regimes 
especiais: a Lei nº. 9.478, de 06 de agosto de 1997 que trata do 
assunto petróleo; a Lei nº. 2004, de 03 de outubro de 1953 que 
criou a Petrobrás e a Lei nº. 9.611, de 19 de fevereiro de 1998 
que trata do transporte multimodal de cargas. 
 
 
Para um maior esclarecimento a respeito de quais 
assuntos são tratados como monopólio, recomendo a leitura do 
artigo 177 da Constituição Federal de 1988 transcrito a seguir: 
 
Art. 177. Constituem monopólio da União: 
I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás 
natural e outros hidrocarbonetos fluidos; 
II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro; 
III - a importação e exportação dos produtos e derivados 
básicos resultantes das atividades previstas nos incisos 
anteriores; 
IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de origem 
nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos 
no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de 
petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer 
origem; 
V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o 
reprocessamento, a industrialização e o comércio de 
minérios e minerais nucleares e seus derivados, com 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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exceção dos radioisótopos cuja produção, comercialização 
e utilização poderão ser autorizadas sob regime de 
permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do 
caput do art. 21 desta Constituição Federal. 
§ 1º A União poderá contratar com empresas estatais ou 
privadas a realização das atividades previstas nos incisos I 
a IV deste artigo observadas as condições estabelecidas 
em lei. 
§ 2º A lei a que se refere o § 1º disporá sobre: 
I - a garantia do fornecimento dos derivados de petróleo 
em todo o território nacional; 
II - as condições de contratação; 
III - a estrutura e atribuições do órgão regulador do 
monopólio da União; 
§ 3º A lei disporá sobre o transporte e a utilização de 
materiais radioativos no território nacional. 
§ 4º A lei que instituir contribuição de intervenção no 
domínio econômico relativa às atividades de importação 
ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás 
natural e seus derivados e álcool combustível deverá 
atender aos seguintes requisitos: 
I - a alíquota da contribuição poderá ser: 
a) diferenciada por produto ou uso; 
b) reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo,
não se lhe aplicando o disposto no art. 150, III, b; 
II - os recursos arrecadados serão destinados: 
a) ao pagamento de subsídios a preços ou transporte de 
álcool combustível, gás natural e seus derivados e 
derivados de petróleo; 
b) ao financiamento de projetos ambientais relacionados 
com a indústria do petróleo e do gás; 
c) ao financiamento de programas de infra-estrutura de 
transportes. 
 
Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes 
aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à ordenação 
do transporte internacional, observar os acordos firmados 
pela União, atendido o princípio da reciprocidade. 
Parágrafo único. Na ordenação do transporte aquático, a 
lei estabelecerá as condições em que o transporte de 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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mercadorias na cabotagem e a navegação interior poderão 
ser feitos por embarcações estrangeiras. 81 (grifo meu) 
 
 
 O grande exemplo deste artigo, o 178, é o transporte 
marítimo sendo feito pela Marinha Mercante ou a parte “privada” 
da Marinha. A Marinha Mercante é responsável pelo transporte 
marítimo e é um braço da Marinha que, por sua vez, é um braço 
do Ministério da Defesa, por sua vez, integrante do Poder 
Executivo Federal, mais um monopólio dotado de regime 
especial de funcionamento. 
 
 
 
 2.10 – A Propriedade Privada e o Interesse Público. 
 
 
 
 A propriedade privada é garantida pela Constituição 
Federal de 1988, porém deve ser observado o interesse público, 
ou seja, onde existir um conflito entre o interesse privado e o 
público diante de uma propriedade deverá prevalecer o segundo. 
 
 
 Por exemplo: uma avenida deve ser duplicada e ao longo 
do leito da ampliação dela se encontram alguns imóveis. Os 
proprietários não querem “vender” seus imóveis e se negam a 
desocupá-los. A pergunta deve ser: qual é o interesse maior, o 
privado ou público? A resposta é óbvia e a desapropriação será 
implementada. Os proprietários serão expropriados diante de 
uma justa indenização. 
 
 
 Talvez aqui esteja presente a função social da propriedade 
em oposição à propriedade privada. A sobreposição do interesse 
público sobre o privado reflete a importância que tem a função 
social da propriedade, ou seja, a propriedade tem que atender a 
 
81
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 177-8. 
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98
um objetivo coletivo, primeiramente, depois aos interesses 
particulares ou privados. 
 
 
 Outro exemplo desta sobreposição é o atendimento dos 
ditames constitucionais presente no capítulo da política agrícola 
e fundiária e da reforma agrária, veja o artigo: 
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse 
social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural 
que não esteja cumprindo sua função social, mediante 
prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, 
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no 
prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua 
emissão, e cuja utilização será definida em lei. 
§ 1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão 
indenizadas em dinheiro. 
§ 2º - O decreto que declarar o imóvel como de interesse 
social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a 
propor a ação de desapropriação. 
§ 3º - Cabe à lei complementar estabelecer procedimento 
contraditório especial, de rito sumário, para o processo 
judicial de desapropriação. 
§ 4º - O orçamento fixará anualmente o volume total de 
títulos da dívida agrária, assim como o montante de 
recursos para atender ao programa de reforma agrária no 
exercício. 
§ 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e 
municipais as operações de transferência de imóveis 
desapropriados para fins de reforma agrária. 82 (grifo meu) 
 
 
 
 2.11 – O Planejamento: Planos, Orçamentos e Diretrizes. 
 
 
 
 
82
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo 
III – Da política agrícola e fundiária e da reforma agrária, artigo 175. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direitos reservados – proibido a reprodução parcial ou total desse trabalho. 
99
 A presença deste ponto, o planejamento, nos parece, em 
um primeiro momento, inócuo no estudo, mas é um engano. O 
Estado é o maior empregador, o maior comprador e o maior 
tomador de empréstimos na economia brasileira, não podemos 
deixá-lo de fora dos estudos do Direito Econômico. Como o 
assunto é normatizar a economia, ou seja, estudar as leis que 
interferem na economia, sobretudo, no enfoque da política 
econômica, então o planejamento é fundamental. A Lei 
Orçamentária Anual - LOA – Federal estabelece gastos na 
ordem de centenas de bilhões de reais, só o Ministério da 
Saúde, o maior orçamento ministerial, ultrapassa 30 bilhões de 
reais. No Estado de Goiás é na ordem de dezenas de bilhões de 
reais e no Município de Goiânia, na ordem de bilhões de reais, 
precisamente 1,7 bilhões de reais no ano de 2006. 
 
 
Estes três temas estão agrupados por força constitucional. 
O planejamento público se fará por três instrumentos: o Plano 
Plurianual – P.P.A., a Lei Orçamentária Anual – L.O.A. e a Lei de 
Diretrizes Orçamentária – L.D.O., todos expressos na 
Constituição Federal de 1988, veja o seu texto: 
 
Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo 
estabelecerão: 
I - o plano plurianual; 
II - as diretrizes orçamentárias; 
III - os orçamentos anuais. 83 
 
 
 As citações a seguir em alguns trechos serão repetitivas, 
pois o texto constitucional é por vez comum a todas as 
modalidades aqui apresentadas, o que no estudo impele uma 
repetição do texto referenciado. 
 
 
 
 2.11.1 – O plano plurianual – P.P.A. 
 
83
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VI – Da Tributação e do Orçamento, Capítulo II – 
Das Finanças Públicas, Seção II – Dos orçamentos, artigo 165. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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100
 
 
 
 O plano plurianual deve ser elaborado envolvendo todos os 
gastos que deverão, na sua execução, ultrapassar a um ano. Se 
o programa ou obra, na sua execução ultrapassar a um ano deve 
constar no plano plurianual. Por exemplo o programa de 
combate à dengue que não se extingue em um ano, pois é um 
programa contínuo, assim, deve constar no plano plurianual. 
Outro, a construção da Ferrovia Norte-Sul não se inicia e acaba 
em um ano, para sua finalização são necessários vários anos, 
então, deve estar presente no plano plurianual. 
 
 
 O plano plurianual é uma lei de iniciativa exclusiva
do chefe 
do Poder Executivo e que tem abrangência mínima de 03 anos 
ou como quer a lei, mais de dois anos. Tem parâmetros 
constitucionais que seguem abaixo: 
 
Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo 
estabelecerão: 
I - o plano plurianual; 
(...) omissis 
§ 1º - A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, 
de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da 
administração pública federal para as despesas de capital e 
outras delas decorrentes e para as relativas aos programas 
de duração continuada. 
(...) omissis 
§ 4º - Os planos e programas nacionais, regionais e 
setoriais previstos nesta Constituição serão elaborados em 
consonância com o plano plurianual e apreciados pelo 
Congresso Nacional. 
(...) omissis 
§ 9º - Cabe à lei complementar: 
I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os 
prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, 
da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária 
anual; 
 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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101
Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, 
às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos 
créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do 
Congresso Nacional, na forma do regimento comum. 
§ 1º - Caberá a uma Comissão mista permanente de 
Senadores e Deputados: 
I - examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos 
neste artigo e sobre as contas apresentadas anualmente 
pelo Presidente da República; 
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas 
nacionais, regionais e setoriais previstos nesta 
Constituição e exercer o acompanhamento e a fiscalização 
orçamentária, sem prejuízo da atuação das demais 
comissões do Congresso Nacional e de suas Casas, 
criadas de acordo com o art. 58. 
§ 2º - As emendas serão apresentadas na Comissão mista, 
que sobre elas emitirá parecer, e apreciadas, na forma 
regimental, pelo Plenário das duas Casas do Congresso 
Nacional. 
§ 3º - As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou 
aos projetos que o modifiquem somente podem ser 
aprovadas caso: 
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei 
de diretrizes orçamentárias; 
(...) omissis 
§ 4º - As emendas ao projeto de lei de diretrizes 
orçamentárias não poderão ser aprovadas quando 
incompatíveis com o plano plurianual. 
§ 5º - O Presidente da República poderá enviar mensagem 
ao Congresso Nacional para propor modificação nos 
projetos a que se refere este artigo enquanto não iniciada a 
votação, na Comissão mista, da parte cuja alteração é 
proposta. 
§ 6º - Os projetos de lei do plano plurianual, das diretrizes 
orçamentárias e do orçamento anual serão enviados pelo 
Presidente da República ao Congresso Nacional, nos 
termos da lei complementar a que se refere o art. 165, § 
9º. 
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102
§ 7º - Aplicam-se aos projetos mencionados neste artigo, 
no que não contrariar o disposto nesta seção, as demais 
normas relativas ao processo legislativo. 
§ 8º - Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou 
rejeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem 
despesas correspondentes poderão ser utilizados, 
conforme o caso, mediante créditos especiais ou 
suplementares, com prévia e específica autorização 
legislativa. 
 
Art. 167. São vedados: 
(...) omissis 
§ 1º - Nenhum investimento cuja execução ultrapasse 
um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia 
inclusão no plano plurianual, ou sem lei que autorize a 
inclusão, sob pena de crime de responsabilidade. 84 
(grifo meu) 
 
 
 
 2.11.2 – A lei de diretrizes orçamentária – L.D.O. 
 
 
 
Esta lei também é obrigatória a cada ano civil ou exercício 
financeiro. Seu feitio deve ser anterior ao aparecimento da lei 
orçamentária. O motivo é simples, a lei de diretrizes 
orçamentária indica o caminho genérico a ser seguido pelo 
orçamento. Assim, se a lei de diretrizes orçamentária é quem 
indica o caminho a ser trilhado, então, deve anteceder. 
 
 
Ela é mais narrativa do que numérica, diferente do caso da 
lei orçamentária. Trará as preferências daquela gestão pública 
para o gasto público e a arrecadação de receitas, tributárias ou 
não. Respeitará as determinações constitucionais federais, 
estaduais e distritais, conforme cada caso, além de respeitar os 
 
84
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VI – Da Tributação e do Orçamento, Capítulo II – 
Das Finanças Públicas, Seção II – Dos orçamentos, artigo 165, 166 e 167. 
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dispositivos legais ordinários e complementares que regem o 
assunto em nível federal. 
 
 
Para um maior e melhor entendimento, veja os dispositivos 
constitucionais a respeito: 
 
Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo 
estabelecerão: 
(...) omissis 
II - as diretrizes orçamentárias; 
§ 2º - A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as 
metas e prioridades da administração pública federal, 
incluindo as despesas de capital para o exercício 
financeiro subseqüente, orientará a elaboração da lei 
orçamentária anual, disporá sobre as alterações na 
legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação 
das agências financeiras oficiais de fomento. 
(...) omissis 
§ 9º - Cabe à lei complementar: 
I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os 
prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, 
da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária 
anual; 
II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial 
da administração direta e indireta bem como condições 
para a instituição e funcionamento de fundos. 
 
Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, 
às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos 
créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do 
Congresso Nacional, na forma do regimento comum. 
§ 1º - Caberá a uma Comissão mista permanente de 
Senadores e Deputados: 
I - examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos 
neste artigo e sobre as contas apresentadas anualmente 
pelo Presidente da República; 
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas 
nacionais, regionais e setoriais previstos nesta 
Constituição e exercer o acompanhamento e a fiscalização 
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104
orçamentária, sem prejuízo da atuação das demais 
comissões do Congresso Nacional e de suas Casas, 
criadas de acordo com o art. 58. 
§ 2º - As emendas serão apresentadas na Comissão mista, 
que sobre elas emitirá parecer, e apreciadas, na forma 
regimental, pelo Plenário das duas Casas do Congresso 
Nacional. 
(...) omissis 
§ 4º - As emendas ao projeto de lei de diretrizes 
orçamentárias não poderão ser aprovadas quando 
incompatíveis com o
plano plurianual. 
§ 5º - O Presidente da República poderá enviar mensagem 
ao Congresso Nacional para propor modificação nos 
projetos a que se refere este artigo enquanto não iniciada a 
votação, na Comissão mista, da parte cuja alteração é 
proposta. 
§ 6º - Os projetos de lei do plano plurianual, das diretrizes 
orçamentárias e do orçamento anual serão enviados pelo 
Presidente da República ao Congresso Nacional, nos 
termos da lei complementar a que se refere o art. 165, § 
9º. 
§ 7º - Aplicam-se aos projetos mencionados neste artigo, 
no que não contrariar o disposto nesta seção, as demais 
normas relativas ao processo legislativo. 85 
 
 
 
2.11.3 – A lei orçamentária anual – L.O.A. 
 
 
 
 Esta lei também pertence ao mundo jurídico de todos os 
entes federados. Todos devem elaborar seus orçamentos 
anualmente, através de uma lei aprovada nas suas respectivas 
casas de lei. É o Poder Legislativo que discute a lei orçamentária 
anual, mas é o Chefe do Poder Executivo quem tem 
privativamente, a iniciativa no processo legislativo e o poder de 
veto. 
 
85
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VI – Da Tributação e do Orçamento, Capítulo II – 
Das Finanças Públicas, Seção II – Dos orçamentos, artigo 165 e 166. 
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 É obrigatória a sua presença na administração pública e é 
realizada anualmente. Todo o exercício financeiro de um ente 
federado deve estar aqui colocado. A cada ano temos um novo 
orçamento e uma nova lei orçamentária anual aprovada. Embora 
não incomum as desavenças entre o Poder Legislativo e o Poder 
Executivo e, consequentemente, a não aprovação da LOA dentro 
do ano anterior, no início de cada ano nova lei orçamentária 
deve entrar em vigor. 
 
 
 A lei orçamentária anual é numérica, ou seja, nesta lei 
estão relacionadas todas as receitas e todas as despesas de um 
ente federado. Todas, uma a uma, serão relacionadas nesta lei. 
A ordem destas contas e seus respectivos valores estão 
presentes na Lei nº. 4.320, de 17 de março de 1964. Lá estão as 
contas com respectivos grupos, quer das receitas, quer das 
despesas. Então, por exemplo, se quisermos saber quanto o 
Parque Municipal de Diversão Mutirama, uma autarquia 
municipal, irá gastar em 2007 com o pagamento de pessoal da 
ativa, basta olhar na lei orçamentária do Município de Goiânia e 
lá estará o gasto autorizado pela população através de seus 
representantes na Câmara de Vereadores de Goiânia. 
 
 
 É através desta lei que podemos conhecer exatamente, até 
os centavos, quanto o ente federado pretende arrecadar e 
gastar. A movimentação financeira dele estará relatada nesta lei 
e só poderá executar o que constar ali e nada mais. Gastar 
diferente do autorizado implica em responsabilização fiscal com 
implicações: penais, administrativas, civis e eleitorais. 
 
 
 A mencionada Lei, a de nº. 4.320, de 17 de março de 1964, 
traz a operacionalização da aplicação, mas é a Constituição 
Federal de 1988 que traça a direção. Assim, veja os artigos 
constitucionais: 
 
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Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo 
estabelecerão: 
(...) omissis 
III - os orçamentos anuais. 
§ 5º - A lei orçamentária anual compreenderá: 
I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus 
fundos, órgãos e entidades da administração direta e 
indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo 
Poder Público; 
II - o orçamento de investimento das empresas em que a 
União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do 
capital social com direito a voto; 
III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas 
as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração 
direta ou indireta, bem como os fundos e fundações 
instituídos e mantidos pelo Poder Público. 
§ 6º - O projeto de lei orçamentária será acompanhado de 
demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e 
despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, 
subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e 
creditícia. 
§ 7º - Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste artigo, 
compatibilizados com o plano plurianual, terão entre suas 
funções a de reduzir desigualdades inter-regionais, 
segundo critério populacional. 
§ 8º - A lei orçamentária anual não conterá dispositivo 
estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não 
se incluindo na proibição a autorização para abertura de 
créditos suplementares e contratação de operações de 
crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos 
da lei. 
§ 9º - Cabe à lei complementar: 
I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os 
prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, 
da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária 
anual; 
II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial 
da administração direta e indireta bem como condições 
para a instituição e funcionamento de fundos. 
 
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Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, 
às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos 
créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do 
Congresso Nacional, na forma do regimento comum. 
§ 1º - Caberá a uma Comissão mista permanente de 
Senadores e Deputados: 
I - examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos 
neste artigo e sobre as contas apresentadas anualmente 
pelo Presidente da República; 
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas 
nacionais, regionais e setoriais previstos nesta 
Constituição e exercer o acompanhamento e a fiscalização 
orçamentária, sem prejuízo da atuação das demais 
comissões do Congresso Nacional e de suas Casas, 
criadas de acordo com o art. 58. 
§ 2º - As emendas serão apresentadas na Comissão mista, 
que sobre elas emitirá parecer, e apreciadas, na forma 
regimental, pelo Plenário das duas Casas do Congresso 
Nacional. 
§ 3º - As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou 
aos projetos que o modifiquem somente podem ser 
aprovadas caso: 
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei 
de diretrizes orçamentárias; 
II - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os 
provenientes de anulação de despesa, excluídas as que 
incidam sobre: 
a) dotações para pessoal e seus encargos; 
b) serviço da dívida; 
c) transferências tributárias constitucionais para Estados, 
Municípios e Distrito Federal; ou 
III - sejam relacionadas: 
a) com a correção de erros ou omissões; ou 
b) com os dispositivos do texto do projeto de lei. 
(...) omissis 
§ 5º - O Presidente da República poderá enviar mensagem 
ao Congresso Nacional para propor modificação nos 
projetos a que se refere este artigo enquanto não iniciada a 
votação, na Comissão mista, da parte cuja alteração é 
proposta. 
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§ 6º - Os projetos de lei do plano plurianual, das diretrizes 
orçamentárias e do orçamento anual serão enviados pelo 
Presidente da República ao Congresso Nacional, nos 
termos da lei complementar a que se refere o art. 165, § 
9º. 
§ 7º - Aplicam-se aos projetos mencionados neste artigo, 
no que não contrariar o disposto nesta seção, as demais 
normas relativas ao processo legislativo. 
§ 8º - Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou 
rejeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem 
despesas correspondentes poderão ser utilizados, 
conforme o caso, mediante créditos especiais ou 
suplementares, com prévia e específica autorização 
legislativa. 
 
Art. 167. São vedados: 
I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei 
orçamentária anual; 
II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações 
diretas que excedam os créditos orçamentários ou 
adicionais; 
III - a realização de operações de créditos que excedam o 
montante das despesas de capital, ressalvadas as 
autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais 
com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo 
por maioria absoluta; 
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou 
despesa, ressalvadas a repartição do produto da 
arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 
159, a destinação de recursos para as ações e serviços 
públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do 
ensino e para realização de atividades da administração 
tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 
198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às 
operações de crédito por antecipação de receita, previstas 
no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste 
artigo; 
V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem 
prévia autorização legislativa e sem indicação dos 
recursos correspondentes; 
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VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência 
de recursos de uma categoria de programação para outra 
ou de um órgão para outro, sem prévia autorização 
legislativa; 
VII - a concessão ou utilização de créditos ilimitados; 
VIII - a utilização, sem autorização legislativa específica, 
de recursos dos orçamentos fiscais e da seguridade social 
para suprir necessidade ou cobrir déficit de empresas, 
fundações e fundos, inclusive dos mencionados no art. 
165, § 5º; 
IX - a instituição de fundos de qualquer natureza, sem 
prévia autorização legislativa. 
X - a transferência voluntária de recursos e a concessão de 
empréstimos, inclusive por antecipação de receita, pelos 
Governos Federal e Estaduais e suas instituições 
financeiras, para pagamento de despesas com pessoal 
ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios. 
XI - a utilização dos recursos provenientes das 
contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, e II, para 
a realização de despesas distintas do pagamento de 
benefícios do regime geral de previdência social de que 
trata o art. 201. 
(...) omissis 
§ 2º - Os créditos especiais e extraordinários terão 
vigência no exercício financeiro em que forem 
autorizados, salvo se o ato de autorização for promulgado 
nos últimos quatro meses daquele exercício, caso em que, 
reabertos nos limites de seus saldos, serão incorporados 
ao orçamento do exercício financeiro subseqüente. 
§ 3º - A abertura de crédito extraordinário somente será 
admitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, 
como as decorrentes de guerra, comoção interna ou 
calamidade pública, observado o disposto no art. 62. 
§ 4.º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas 
pelos impostos a que se referem os arts. 155 e 156, e dos 
recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e 
II, para a prestação de garantia ou contragarantia à União 
e para pagamento de débitos para com esta. 
 
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Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações 
orçamentárias, compreendidos os créditos suplementares e 
especiais, destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e 
Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, 
ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em 
duodécimos, na forma da lei complementar a que se refere 
o art. 165, § 9º. 
 
Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, 
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não 
poderá exceder os limites estabelecidos em lei 
complementar. 
§ 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de 
remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou 
alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão 
ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos 
e entidades da administração direta ou indireta, inclusive 
fundações instituídas e mantidas pelo poder público, só 
poderão ser feitas: 
I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para 
atender às projeções de despesa de pessoal e aos 
acréscimos dela decorrentes; 
II - se houver autorização específica na lei de diretrizes 
orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as 
sociedades de economia mista. 
§ 2º Decorrido o prazo estabelecido na lei complementar 
referida neste artigo para a adaptação aos parâmetros ali 
previstos, serão imediatamente suspensos todos os 
repasses de verbas federais ou estaduais aos Estados, ao 
Distrito Federal e aos Municípios que não observarem os 
referidos limites. 
§ 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com 
base neste artigo, durante o prazo fixado na lei 
complementar referida no caput, a União, os Estados, o 
Distrito Federal e os Municípios adotarão as seguintes 
providências: 
I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas 
com cargos em comissão e funções de confiança; 
II - exoneração dos servidores não estáveis. 
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§ 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo 
anterior não forem suficientes para assegurar o 
cumprimento da determinação da lei complementar 
referida neste artigo, o servidor estável poderá perder o 
cargo, desde que ato normativo motivado de cada um dos 
Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou 
unidade administrativa objeto da redução de pessoal. 
(...) omissis 
§ 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem 
obedecidas na efetivação do disposto no § 4º. 86 
 
 
 
 2.12 – O Sistema Financeiro Brasileiro. 
 
 
 
 Chegamos a um tema totalmente desgarrado da realidade 
brasileira. O sistema financeiro brasileiro é o mais selvagem do 
mundo. A pressão dos capitalistas banqueiros realizou até a 
revogação dos dispositivos constitucionais que tratavam da 
matéria. 
 
 
 Para entendermos o que vem a ser o sistema financeiro 
brasileiro se faz necessário a execução de uma outra obra. 
Como não é este o objetivo deste trabalho, faremos uma 
abordagem superficial com o objetivo de entendermos o que o 
tema tem de relação com o Direito Econômico. 
 
 
 Este é um tema muito
mais econômico do que jurídico, ou 
pelo menos deveria ser, então é lá que vou buscar os 
fundamentos para depois aqui, no jurídico, correlacionar a uma 
norma que estabelece aquela regra econômica. Talvez pelo que 
temos hoje seja mais um caso de polícia do que econômico, mas 
vamos lá. 
 
 
86
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VI – Da Tributação e do Orçamento, Capítulo II – 
Das Finanças Públicas, Seção II – Dos orçamentos, artigo 165, 166, 167, 168 e 169. 
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112
 
 Saber um pouco da estrutura do Sistema Financeiro 
Brasileiro é primordial. Ele é composto por todos os atores 
financeiros que atuam neste mercado. Assim, o integram: todos 
os bancos, múltiplos ou não e, em especial, a Caixa Econômica 
Federal, o Banco do Brasil e o Banco de Desenvolvimento Social 
e Econômico - BNDS, as administradoras de consórcios, as 
corretoras de valores, as distribuidoras de títulos, as financeiras, 
as seguradoras, as entidades custodiadoras de títulos públicos 
ou privados, setip e selic, as bolsas de valores, inclusive a de 
comodities futuras, o Banco Central do Brasil, a Casa da Moeda 
e o Copom – Conselho de Política Monetária, só para citarmos 
alguns. 
 
 
 A cada um destes atores incumbe uma tarefa. Digo melhor, 
a cada um é determinada uma tarefa, todas através de norma 
legal. Por exemplo, o Copom tem, além de outras atividades, a 
obrigação de fixar os juros anuais pagos pela União nas 
operações que envolvam a emissão de títulos. Sendo ele um 
órgão colegiado, paira sempre uma incerteza do posicionamento 
dos juros a cada reunião do Copom. Sua composição integra, 
entre outros: os presidentes do Banco Central, da Caixa 
Econômica Federal, do Banco do Brasil, do Banco de 
Desenvolvimento Social e Econômico – BNDS e um 
representante do Ministério da Fazenda. 
 
 
 Algumas ações determinadas pelo Banco Central do Brasil 
– Bacen interferem sobremaneira na Ordem Econômica. Por 
exemplo, quando determinou que 100% dos saldos bancários de 
deposito à vista fossem recolhidos a Ele. O deposito bancário à 
vista é o dinheiro que deixamos na conta corrente, que não 
rende juros e que faz parte do conhecido saldo médio. É dinheiro 
dos correntistas que fica parado e como todos sacam aos 
poucos este saldo, sempre tem dinheiro de correntista parado 
nos bancos e eles nos emprestam este dinheiro. Quando o 
Bacen determinou que 100% destes recursos fossem 
depositados junto a Ele, “enxugou” o mercado financeiro e 
diminuiu a oferta de crédito. 
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 Para finalizarmos o tópico veja o artigo 164 da atual 
constituição, o qual trata do assunto: 
 
Art. 164. A competência da União para emitir moeda será 
exercida exclusivamente pelo banco central. 
§ 1º - É vedado ao banco central conceder, direta ou 
indiretamente, empréstimos ao Tesouro Nacional e a 
qualquer órgão ou entidade que não seja instituição 
financeira. 
§ 2º - O banco central poderá comprar e vender títulos de 
emissão do Tesouro Nacional, com o objetivo de regular a 
oferta de moeda ou a taxa de juros. 
§ 3º - As disponibilidades de caixa da União serão 
depositadas no banco central; as dos Estados, do Distrito 
Federal, dos Municípios e dos órgãos ou entidades do 
Poder Público e das empresas por ele controladas, em 
instituições financeiras oficiais, ressalvados os casos 
previstos em lei. 87 
 
 
 
 
 
 
87
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VI – Da Tributação e do Orçamento, Capítulo II – 
Das Finanças Públicas, Seção I – Normas gerais, artigo 164. 
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3 – O DIREITO ECONÔMICO E A LIVRE 
CONCORRÊNCIA. 
 
 
 
 
 A livre concorrência é fundamento do capitalismo e do 
liberalismo, ou do neoliberalismo. A não intervenção do Estado 
na economia possibilita que a economia encontre de forma 
natural o seu ponto de equilíbrio entre a demanda e a oferta de 
um produto ou serviço. Assim, a formação dos preços se faz de 
forma natural e equilibrada, chegando a um patamar de 
acomodação de forma natural, sem ser de forma forçada ou 
provocada pelo Estado. 
 
 
 O Direito Econômico tem como objeto, nada mais, nada 
menos, que tornar jurídicas as regras da economia que garantem 
esse equilíbrio, ou seja, a aplicação de regras econômicas e 
filosóficas, sobretudo. 
 
 
 
3.1 – O Mercado e a Livre Concorrência. 
 
 
 
A livre concorrência é uma idéia utópica da economia e do 
sistema filosófico capitalista e liberalista. A utopia está expressa 
no objetivo que pretende, ou seja, que os fornecedores e 
consumidores se encontrem nos mercados para adquirirem 
produtos e serviços e de acordo com a oferta e a procura os 
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115
preço se equilibram. Esta situação por muitas vezes é utópica, 
pois, por exemplo, no caso da produção do cimento brasileiro, o 
Grupo Votorantim é responsável por 85% da produção nacional. 
Não é um monopólio, mas um oligopólio, designação esta 
utilizada para definir a participação majoritária de um empresa no 
mercado. 
 
 
O mercado só pode existir diante da livre concorrência, 
pois a chamada economia de mercado é aquela que se submete 
à lei econômica da oferta e procura. A relação é direta entre os 
dois. Somente com a presença da livre concorrência é que é 
possível observar o aparecimento do preço fundado na procura e 
oferta. Maior oferta implica em menor preço, menor oferta implica 
em maior preço, isto é o preço formado pela oferta e procura. 
Neste caso, o preço não é tabelado ou determinado pelo Estado. 
A economia é quem dita o preço. 
 
 
Fica um registro de causar estranheza. O Presidente Luiz 
Inácio da Silva Lula, no ano de 2005 reconheceu a economia da 
República da China como sendo uma economia de mercado. No 
mínimo estranho! Na China a censura invade até a internet 
quanto mais a economia. Para a fixação do preço pelo mercado 
a liberdade é fundamental. 
 
 
O mercado, até mesmo nos países de maior liberdade, 
sofre intervenções, o que não descaracteriza o seu mercado 
livre. O tamanho desta intervenção é que determinará ser o 
mercado livre ou não, ou seja, sujeito a livre concorrência ou 
não. 
 
 
Economicamente falando, mercado é um local onde os 
produtos e serviços são oferecidos e comprados, diante desta 
exposição, os compradores escolhem e compram. Negociando 
ou pagando o primeiro preço o consumidor ajuda a formá-lo. Um 
exemplo corriqueiro e comum é o caso do aumento do preço das 
hortaliças e verduras durante o período de chuvas, pois esta traz 
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consigo o aumento das pragas e perdas na produção diminuindo 
a oferta. Como a presença das chuvas não refletem em uma 
redução de consumo, então, a conseqüência é o aumento do 
preço. 
 
 
A utopia reside no conceito de que a liberdade é relativa, 
pois até os Estados Unidos da América, o grande exemplo de 
economia de mercado, tem a intervenção do Estado na 
economia o que, teoricamente, se distancia do conceito de 
mercado por interferir na livre concorrência. 
 
 
 
3.2 – A Concorrência Face aos Princípios da Ordem 
Econômica. 
 
 
 
 A ordem econômica está estabelecida, principalmente, 
através dos princípios estabelecidos no artigo 170, da 
Constituição Federal de 1988. Assim, a ordem econômica se 
disciplina e coloca ordem, sistematizando o mercado. 
 
 
 A sistematização do mercado estabelece padrões de 
atuação, determinando o que devemos observar, fazer ou não 
fazer, com o objetivo de preservar o mercado. Desta 
sistematização nasce, entre outros, a normatização da 
concorrência. Ela é responsável pelo equilíbrio mencionado no 
item anteriormente desenvolvido. Para o mercado sobreviver se 
faz necessário que regras sejam criadas a fim de protegê-lo. 
 
 
 O ponto fundamental na conservação dos mercados, neste 
sistema, é a concorrência. É ela que estabelece o preço que é 
fixado a partir da oferta maior ou menor no mercado. Produtos 
ou serviço que em grande oferta em relação a uma pequena 
procura, tem pouco preço. O inverso é observado quando temos 
pouca oferta diante de grande procura. Exemplifico. A areia tem 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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preço baixo, com, mais ou menos, duas centenas de reais 
compramos várias toneladas deste produto. Entretanto, com o 
mesmo valor compramos apenas algumas gramas do precioso 
ouro. Com os serviços não é diferente. Para uma viagem de 
ônibus de Goiânia a São Paulo se paga pouco mais de uma 
centena de reais, mas para uma viagem de “ônibus espacial” 
entorno da Terra o pagamento é de várias dezenas de milhões 
de reais, um prêmio de loteria. 
 
 A observação dos princípios da ordem econômica objetiva 
a preservação do mercado, preservando a concorrência. Vejam 
por exemplo o principio expresso no inciso do IX, do artigo 170: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
(...) omissis; 
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno 
porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua 
sede e administração no País. 88 
 
 
 O favorecimento dado às empresas de pequeno porte 
objetiva a sua preservação. A grande empresa tem mais força no 
mercado, realiza maiores compras e por isso paga um preço 
unitário menor, tem prazos de pagamentos maiores, custos 
financeiros menores e isto propiciam uma maior facilidade para o 
seu agigantamento. Se não houver proteção a estas pequenas 
empresas elas irão falir e sair do mercado deixando as grandes 
livres para estipularem o preço que quiserem. 
 
 
 Aparentemente, os princípios do Direito Econômico não 
têm relação com a concorrência, mas tem. Veja a defesa do 
consumidor expressa no inciso V, do artigo 170: 
 
 
88
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, inciso II. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
(...) omissis; 
V - defesa do consumidor; 89 
 
 
Se não temos proteção ao consumidor, o fornecedor irá 
explorá-lo até a sua completa destruição. Sem consumidor não 
temos fornecedor, sem consumidor e sem fornecedor não temos 
mercado, sem mercado não temos concorrência. 
 
 
Finalizo este item não discorrendo sobre a importância de 
todos os princípios para a existência da concorrência, pois não é 
este o objetivo deste trabalho. Alertar a respeito da importância 
dos princípios da ordem econômica para preservação do 
mercado, preservando a concorrência é o foco maior deste item, 
o qual considero finalizado após os dois exemplos discorridos 
anteriormente. 
 
 
 
 3.3 – A Lei nº. 8.884/94 e a Proteção da Ordem 
Econômica. 
 
 
 
 Como já dito anteriormente, a ordem econômica não é do 
Governo, ou de um grupo de pessoas. A ordem econômica é da 
sociedade. Uma pequena mudança no vocábulo estudado já nos 
dá a importância do tema, vejamos: se ao invés de termos ordem 
econômica imaginemos que fosse desordem econômica? Olhem 
só o caos que foi imaginar “desordem econômica”. Vivê-la seria 
pior. 
 
 
 
89
 Constituição da República Federativa do Brasil, Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo I 
– Dos princípios gerais da atividade econômica, artigo 170, inciso V. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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 A proteção a essa ordem econômica é fundamental. 
Somente no último século, pelo seu meado, é que normatizamos 
o assunto. Nós, brasileiros, somos neófitos em economia de 
mercado. Não sabemos viver imersos nela. Ainda estamos 
aperfeiçoando-o. 
 
 
 A Lei nº. 8.884/94 é o terceiro dispositivo legal a tratar 
exclusivamente do assunto. Representa os avanços ocorridos ao 
longo de décadas e espelha o nosso posicionamento na 
economia mundial. As relações estabelecidas com outros países 
provocam mudanças na nossa sociedade mercantilista e, 
consequentemente, na legislação a respeito do assunto. 
 
 
 Esta lei tem como foco materializar as proteções 
determinadas na Constituição Federal de 1988, especialmente 
as contidas no seu artigo 170, como exemplo tendo presente os 
seguintes temas: cartel, truste, infrações, fusões e incorporações 
de empresas. 
 
 
Quando estabelece comportamentos que pretende 
desenvolver, através da proibição de outros, por exemplo, 
vislumbra proteger, conservar, estabilizar, a ordem econômica. 
Assim, ela institui penas pecuniárias e administrativas para 
comportamentos que entende contrário a ordem econômica. 
Deste modo exerce a proteção ao sistema econômico atual, 
protegendo a ordem econômica. 
 
 
 
 3.4 – As Infrações Contra a Ordem Econômica. 
 
 
 
 Como todo sistema normatizado por lei, este estabelece 
comportamentos padrões e respectivas penas, objetivando 
ações para facilitar a fiscalização e o exercício do poder de 
polícia, exercido pelo Estado. As infrações
estão colocadas em 
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nível administrativo e não judiciário. Deste modo, este sistema 
funciona com penas administrativas, as quais serão estudadas 
no item seguinte. Porém, os títulos extrajudiciais produzidos 
como pena por infrações contra a ordem econômica são 
executáveis e não tem efeito suspensivo. 
 
 
 Aqui neste normativo legal um padrão diferente do 
estabelecido, normalmente, nos sistemas normativos penais é 
colocado, ou seja, existe uma separação entre a conduta 
descrita como infração em um artigo e a cominação da pena 
retratada em outro. Certamente uma não normalidade, o que 
requer uma maior atenção para o pesquisador. Apesar de ser 
esta a regra nesta lei, também estabelece exceções, as quais 
estão colocadas em parágrafos seguintes. 
 
 
 Quanto aos artigos 20 e 21 que tratam exclusivamente das 
infrações as quais têm cominações de penas em outros artigos, 
veja a sua transcrição: 
 
Art. 20. Constituem infração da ordem econômica, 
independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma 
manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir 
os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: 
I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre 
concorrência ou a livre iniciativa; 
II - dominar mercado relevante de bens ou serviços; 
III - aumentar arbitrariamente os lucros; 
IV - exercer de forma abusiva posição dominante. 
§ 1º A conquista de mercado resultante de processo 
natural fundado na maior eficiência de agente econômico 
em relação a seus competidores não caracteriza o ilícito 
previsto no inciso II. 
§ 2º Ocorre posição dominante quando uma empresa ou 
grupo de empresas controla parcela substancial de 
mercado relevante, como fornecedor, intermediário, 
adquirente ou financiador de um produto, serviço ou 
tecnologia a ele relativa. 
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§ 3º A posição dominante a que se refere o parágrafo 
anterior é presumida quando a empresa ou grupo de 
empresas controla 20% (vinte por cento) de mercado 
relevante, podendo este percentual ser alterado pelo Cade 
para setores específicos da economia. 
 
Art. 21. As seguintes condutas, além de outras, na medida 
em que configurem hipótese prevista no art. 20 e seus 
incisos, caracterizam infração da ordem econômica; 
I - fixar ou praticar, em acordo com concorrente, sob 
qualquer forma, preços e condições de venda de bens ou 
de prestação de serviços; 
II - obter ou influenciar a adoção de conduta comercial 
uniforme ou concertada entre concorrentes; 
III - dividir os mercados de serviços ou produtos, 
acabados ou semi-acabados, ou as fontes de 
abastecimento de matérias-primas ou produtos 
intermediários; 
IV - limitar ou impedir o acesso de novas empresas ao 
mercado; 
V - criar dificuldades à constituição, ao funcionamento ou 
ao desenvolvimento de empresa concorrente ou de 
fornecedor, adquirente ou financiador de bens ou serviços; 
VI - impedir o acesso de concorrente às fontes de insumo, 
matérias-primas, equipamentos ou tecnologia, bem como 
aos canais de distribuição; 
VII - exigir ou conceder exclusividade para divulgação de 
publicidade nos meios de comunicação de massa; 
VIII - combinar previamente preços ou ajustar vantagens 
na concorrência pública ou administrativa; 
IX - utilizar meios enganosos para provocar a oscilação de 
preços de terceiros; 
X - regular mercados de bens ou serviços, estabelecendo 
acordos para limitar ou controlar a pesquisa e o 
desenvolvimento tecnológico, a produção de bens ou 
prestação de serviços, ou para dificultar investimentos 
destinados à produção de bens ou serviços ou à sua 
distribuição; 
XI - impor, no comércio de bens ou serviços, a 
distribuidores, varejistas e representantes, preços de 
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revenda, descontos, condições de pagamento, quantidades 
mínimas ou máximas, margem de lucro ou quaisquer 
outras condições de comercialização relativos a negócios 
destes com terceiros; 
XII - discriminar adquirentes ou fornecedores de bens ou 
serviços por meio da fixação diferenciada de preços, ou de 
condições operacionais de venda ou prestação de serviços; 
XIII - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, 
dentro das condições de pagamento normais aos usos e 
costumes comerciais; 
XIV - dificultar ou romper a continuidade ou 
desenvolvimento de relações comerciais de prazo 
indeterminado em razão de recusa da outra parte em 
submeter-se a cláusulas e condições comerciais 
injustificáveis ou anticoncorrenciais; 
XV - destruir, inutilizar ou açambarcar matérias-primas, 
produtos intermediários ou acabados, assim como 
destruir, inutilizar ou dificultar a operação de 
equipamentos destinados a produzi-los, distribuí-los ou 
transportá-los; 
XVI - açambarcar ou impedir a exploração de direitos de 
propriedade industrial ou intelectual ou de tecnologia; 
XVII - abandonar, fazer abandonar ou destruir lavouras ou 
plantações, sem justa causa comprovada; 
XVIII - vender injustificadamente mercadoria abaixo do 
preço de custo; 
XIX - importar quaisquer bens abaixo do custo no país 
exportador, que não seja signatário dos códigos 
Antidumping e de subsídios do Gatt; 
XX - interromper ou reduzir em grande escala a produção, 
sem justa causa comprovada; 
XXI - cessar parcial ou totalmente as atividades da 
empresa sem justa causa comprovada; 
XXII - reter bens de produção ou de consumo, exceto para 
garantir a cobertura dos custos de produção; 
XXIII - subordinar a venda de um bem à aquisição de 
outro ou à utilização de um serviço, ou subordinar a 
prestação de um serviço à utilização de outro ou à 
aquisição de um bem; 
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XXIV - impor preços excessivos, ou aumentar sem justa 
causa o preço de bem ou serviço. 
Parágrafo único. Na caracterização da imposição de 
preços excessivos ou do aumento injustificado de preços, 
além de outras circunstâncias econômicas e 
mercadológicas relevantes, considerar-se-á: 
I - o preço do produto ou serviço, ou sua elevação, não 
justificados pelo comportamento do custo dos respectivos 
insumos, ou pela introdução de melhorias de qualidade; 
II - o preço de produto anteriormente produzido, quando 
se tratar de sucedâneo resultante de alterações não 
substanciais; 
III - o preço de produtos e serviços similares, ou sua 
evolução, em mercados competitivos comparáveis; 
IV - a existência de ajuste ou acordo, sob qualquer forma, 
que resulte em majoração do preço de bem ou serviço ou 
dos respectivos custos. 90 
 
 É importante ressaltar que tanto as infrações quanto as 
suas respectivas penas, foram estudadas tendo como referencial 
apenas a Lei nº. 8.884, de 11 de junho de 1994. 
 
 
 
 3.4.1 – As penas por infrações contra
a ordem econômica. 
 
 
 
 De nada serve estabelecer infrações sem estabelecer as 
respectivas penas. Assim, a Lei nº. 8.884, de 11 de junho de 
1994, se preocupou em estabelecer penas e suas aplicações, 
mormente as pecuniárias e as administrativas, vez que a 
criminalização está em outras normas legais. 
 
 
 Como o assunto aqui é econômico, as penalidades 
impostas em “processo administrativo”, em oposição ao 
judiciário, elencadas na lei, na sua totalidade são financeiras e 
 
90
 Lei nº. 8.884, de 11 de junho de 1994, Título V – Das Infrações da Ordem Econômica, Capítulo II – Das 
infrações, artigos 20 e 21. 
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administrativas, no sentido de não judiciais, isto é, são aplicadas 
por autoridades administrativas com reflexos neste ambiente. 
Assim, a exemplo, poderá ser uma multa de um valor vultoso, 
penalidade financeira, ou a inclusão no Cadastro Nacional de 
Defesa do Consumidor como infrator, penalidade administrativa. 
As penalidades são aplicadas às entidades públicas ou privadas. 
Para uma melhor elucidação veja os artigos 23 e 24: 
 
Art. 23. A prática de infração da ordem econômica sujeita 
os responsáveis às seguintes penas: 
I - no caso de empresa, multa de um a trinta por cento do 
valor do faturamento bruto no seu último exercício, 
excluídos os impostos, a qual nunca será inferior à 
vantagem auferida, quando quantificável; 
II - no caso de administrador, direta ou indiretamente 
responsável pela infração cometida por empresa, multa de 
dez a cinqüenta por cento do valor daquela aplicável à 
empresa, de responsabilidade pessoal e exclusiva ao 
administrador. 
III - No caso das demais pessoas físicas ou jurídicas de 
direito público ou privado, bem como quaisquer 
associações de entidades ou pessoas constituídas de fato 
ou de direito, ainda que temporariamente, com ou sem 
personalidade jurídica, que não exerçam atividade 
empresarial, não sendo possível utilizar-se o critério do 
valor do faturamento bruto, a multa será de 6.000 (seis 
mil) a 6.000.000 (seis milhões) de Unidades Fiscais de 
Referência (Ufir), ou padrão superveniente. 
Parágrafo único. Em caso de reincidência, as multas 
cominadas serão aplicadas em dobro. 
 
Art. 24. Sem prejuízo das penas cominadas no artigo 
anterior, quando assim o exigir a gravidade dos fatos ou o 
interesse público geral, poderão ser impostas as seguintes 
penas, isolada ou cumulativamente: 
I - a publicação, em meia página e às expensas do infrator, 
em jornal indicado na decisão, de extrato da decisão 
condenatória, por dois dias seguidos, de uma a três 
semanas consecutivas; 
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II - a proibição de contratar com instituições financeiras 
oficiais e participar de licitação tendo por objeto 
aquisições, alienações, realização de obras e serviços, 
concessão de serviços públicos, junto à Administração 
Pública Federal, Estadual, Municipal e do Distrito 
Federal, bem como entidades da administração indireta, 
por prazo não inferior a cinco anos; 
III - a inscrição do infrator no Cadastro Nacional de 
Defesa do Consumidor; 
IV - a recomendação aos órgãos públicos competentes 
para que: 
a) seja concedida licença compulsória de patentes de 
titularidade do infrator; 
b) não seja concedido ao infrator parcelamento de tributos 
federais por ele devidos ou para que sejam cancelados, no 
todo ou em parte, incentivos fiscais ou subsídios públicos; 
V - a cisão de sociedade, transferência de controle 
societário, venda de ativos, cessação parcial de atividade, 
ou qualquer outro ato ou providência necessários para a 
eliminação dos efeitos nocivos à ordem econômica. 91 
 
 
 Apesar deste capítulo III da Lei estabelecer o título de 
“Penas”, também descreve comportamentos e estabelece penas 
ao mesmo tempo, diferentemente do que parece ser a intenção 
do legislador ao estabelecer capítulos diferentes para as 
infrações e as penas. É o caso dos artigos 25, 26 e 26-A, veja: 
 
Art. 25. Pela continuidade de atos ou situações que 
configurem infração da ordem econômica, após decisão 
do Plenário do Cade determinando sua cessação, ou pelo 
descumprimento de medida preventiva ou compromisso 
de cessação previstos nesta lei, o responsável fica sujeito a 
multa diária de valor não inferior a 5.000 (cinco mil) 
Unidades Fiscais de Referência (Ufir), ou padrão 
superveniente, podendo ser aumentada em até vinte vezes 
se assim o recomendar sua situação econômica e a 
gravidade da infração. 
 
91
 Lei nº. 8.884, de 11 de junho de 1994, Título V – Das Infrações da Ordem Econômica, Capítulo III – Das 
penas, artigos 23 e 24. 
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Art. 26. A recusa, omissão, enganosidade, ou 
retardamento injustificado de informação ou documentos 
solicitados pelo Cade, SDE, Seae, ou qualquer entidade 
pública atuando na aplicação desta lei, constitui infração 
punível com multa diária de 5.000 Ufirs, podendo ser 
aumentada em até vinte vezes se necessário para garantir 
sua eficácia em razão da situação econômica do infrator. 
§ 1o O montante fixado para a multa diária de que trata o 
caput deste artigo constará do documento que contiver a 
requisição da autoridade competente. 
§ 2o A multa prevista neste artigo será computada 
diariamente até o limite de noventa dias contados a partir 
da data fixada no documento a que se refere o parágrafo 
anterior. 
§ 3o Compete à autoridade requisitante a aplicação da 
multa prevista no caput deste artigo. 
§ 4o Responde solidariamente pelo pagamento da multa de 
que trata este artigo, a filial, sucursal, escritório ou 
estabelecimento, no País, de empresa estrangeira. 
§ 5o A falta injustificada do representado ou de terceiros, 
quando intimados para prestar esclarecimentos orais, no 
curso de procedimento, de averiguações preliminares ou 
de processo administrativo, sujeitará o faltante à multa de 
R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 10.700,00 (dez mil e 
setecentos reais), conforme sua situação econômica, que 
será aplicada mediante auto de infração pela autoridade 
requisitante. 
 
Art. 26-A. Impedir, obstruir ou de qualquer outra forma 
dificultar a realização de inspeção autorizada pela SDE ou 
SEAE no âmbito de averiguação preliminar, 
procedimento ou processo administrativo sujeitará o 
inspecionado ao pagamento de multa de R$ 21.200,00 
(vinte e um mil e duzentos reais) a R$ 425.700,00 
(quatrocentos e vinte e cinco mil e setecentos reais), 
conforme a situação econômica do infrator, mediante a 
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lavratura de auto de infração pela Secretaria competente. 
92
 
 
 
 Esta Lei
também estabelece além das penas aplicadas às 
infrações, as agravantes possíveis de aplicação na fixação das 
penas aplicáveis a cada caso. Veja o artigo: 
 
Art. 27. Na aplicação das penas estabelecidas nesta lei 
serão levados em consideração: 
I - a gravidade da infração; 
II - a boa-fé do infrator; 
III - a vantagem auferida ou pretendida pelo infrator; 
IV - a consumação ou não da infração; 
V - o grau de lesão, ou perigo de lesão, à livre 
concorrência, à economia nacional, aos consumidores, ou 
a terceiros; 
VI - os efeitos econômicos negativos produzidos no 
mercado; 
VII - a situação econômica do infrator; 
VIII - a reincidência. 93 
 
 
 
 3.5 – Os Crimes Contra a Ordem Econômica. 
 
 
 
 Os crimes e as contravenções contra a ordem econômica 
estão dispostos em vários dispositivos legais, bem como as suas 
atenuantes e agravantes, além de outras normas gerais de 
aplicação de penas. Relaciono-os abaixo e, posteriormente, 
transcreverei alguns artigos e discorrerei a respeito objetivando 
um efeito meramente exemplificativo. A relação abaixo, traz 19 
normativos legais a respeito do assunto: 
 
 
92
 Lei nº. 8.884, de 11 de junho de 1994, Título V – Das Infrações da Ordem Econômica, Capítulo III – Das 
penas, artigos 25, 26 e 26-A. 
93
 Lei nº. 8.884, de 11 de junho de 1994, Título V – Das Infrações da Ordem Econômica, Capítulo III – Das 
penas, artigo 27. 
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128
- Lei nº. 556, de 25 de junho de 1850, que trata do Código 
Comercial Brasileiro, nos artigos de 279 e 655; 
 - Decreto nº. 177-A, de 15 de setembro de 1893, que trata 
de regular a emissão de empréstimos em obrigações ao portador 
(debêntures) das companhias ou sociedades anônimas, no artigo 
3º; 
 - Decreto nº. 22.626, de 7 de abril de 1933, que trata de 
limites dos juros contratuais – “Lei de Usura”, nos artigos de 13 
até 15; 
- Lei nº. 492, de 30 de agosto de 1937, que trata de regular 
o penhor rural e a cédula pignoratícia, no artigo de 35; 
 - Lei nº. 1.521, de 26 de dezembro de 1951, que trata de 
crimes contra a economia popular, todos os seus artigos que 
ainda estiverem em vigor; 
- Lei nº. 4.591, de 16 de dezembro de 1964, que trata de 
condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias, nos 
artigos de 65 e 66; 
 - Lei nº. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, que trata 
sobre a política e as instituições monetárias, bancárias e 
creditícias e cria o Conselho Monetário Nacional, nos seus 
artigos 34, 38 e 44; 
- Lei nº. 4.728, de 14 de julho de 1965, que trata de 
disciplinar o mercado de capitais e estabelece medidas para o 
seu desenvolvimento, nos artigos de 73 e 74; 
- Decreto-Lei nº. 70, de 21 de novembro de 1966, que trata 
sobre autorização de funcionamento de associações de 
poupança e empréstimo e institui a cédula hipotecária, no artigo 
de 27; 
- Decreto nº. 73, de 21 de novembro de 1966, que trata 
sobre o sistema nacional de seguros privados, no artigo 110; 
- Decreto-Lei nº. 167, de 14 de fevereiro de 1967, que trata 
sobre títulos de crédito rural, no artigo de 21; 
- Lei nº. 5.741, de 1º de dezembro de 1969, que trata sobre 
a proteção do financiamento de bens imóveis vinculados ao 
sistema financeiro da habitação, no artigo de 9º; 
- Lei nº. 7.347, de 24 de julho de 1985, que trata de 
disciplinar a ação civil pública de responsabilidade por danos 
causados ao meio ambiente e ao consumidor, nos artigos de 10 
ao 15; 
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129
- Lei nº. 7.492, de 16 de junho de 1986, que trata de definir 
os crimes contra o sistema financeiro nacional, todos os artigos; 
- Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990, que trata da 
proteção do consumidor, nos artigos de 63 até 80; 
- Lei nº. 8.137, de 27 de dezembro de 1990, que trata de 
definir os crimes contra a ordem tributária, econômica e contra 
as relações de consumo, nos artigos de 4º ao 7º; 
- Lei nº. 8.176, de 8 de fevereiro de 1991, que trata de 
definir os crimes contra a ordem econômica e cria o sistema de 
estoques de combustíveis, nos artigos de 1º e 2º; 
- Lei nº. 8.245, de 18 de outubro de 1991, que trata das 
locações de imóveis urbanos, nos artigos de 43 e 44; 
- Lei nº. 9.613, de 3 de março de 1998, que trata sobre os 
crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores, no 
artigo de 1º. 
 
 
A escolha poderia recair sobre qualquer um, mas dada a 
sua proximidade, escolhi alguns crimes presentes na Lei nº. 
8.078/90, o Código de Defesa do Consumidor, por razão 
meramente didática. Assim, dois exemplos, artigos 67 e 71: 
 
Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou 
deveria saber ser enganosa ou abusiva: 
Pena – Detenção de três meses a um ano e multa. 
Parágrafo único. (vetado) 
 
Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, 
coação, constrangimento físico ou moral, afirmações 
falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer outro 
procedimento que exponha o consumidor, 
injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu 
trabalho, descanso ou lazer: 
Pena – detenção de três meses a um ano e multa. 
 
 
A criminalização de atos contrários à Ordem Econômica 
abrange os que são contra o consumidor. O artigo 67 ficou 
vulgarmente conhecido como “propaganda enganosa”. Quando o 
fornecedor pratica a “propaganda enganosa” atenta contra o 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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sistema e faz gerar dúvida na consciência do consumidor 
estabelecendo um preconceito ao sistema e inibindo o consumo. 
 
 
No artigo 71 a proteção pretendida é a forma com que 
devem ser cobradas as dívidas. Este comportamento já está 
previsto no Código Penal, mas a sua adequação ao tema, torna 
o artigo especial, visto que no seu tipo traz uma cobrança feita 
utilizando a ameaça e a coação. Este tipo penal é mais uma 
proteção ao consumidor e, conseqüentemente, à Ordem 
Econômica. 
 
 
 
 3.6 – A Proteção da Ordem Econômica Face às Leis nº. 
8.884/94 e nº. 8.078/90. 
 
 
 
 A combinação de penalização econômica e administrativa 
com penal traduz-se em um resultado que obstrui todos os 
caminhos imagináveis, no nosso sistema jurídico, para aquele 
que deseja desenvolver um comportamento contrário ao 
funcionamento da ordem econômica. 
 
 
 A Lei nº. 8.884/94 regula o sistema de levantamento de 
situações puníveis e de seu julgamento administrativo, 
imputando-lhes penalizações pecuniárias e administrativas. 
Atuando em um âmbito econômico e cobrando um valor 
monetário dos infratores, imprime no sistema um temor para a 
realização de atos que são contrários à ordem econômica. Por 
outro lado, e atrelado a penalização pecuniária, estabelece 
ações administrativas como a inclusão do nome do infrator em 
uma lista de infratores, o que certamente provoca um desgaste 
na sua boa imagem e, por conseqüência, redução no seu 
faturamento. 
 
 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática
Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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 Já, a Lei nº. 8.078/90 trata da proteção do consumidor. O 
consumidor, no aspecto meramente mercadológico, não 
considerando os outros aspectos abordados pelo artigo 170 da 
Constituição Federal de 1988, é o ator mais importante na 
Ordem Econômica, pois toda a riqueza produzida, distribuída e 
circulada tem como objetivo final chegar nas “mãos” de um 
consumidor. A sua proteção significa a perpetuação do 
fornecedor, pois não tem fornecedor sem consumidor. Proteger o 
consumidor é perpetuar o sistema. Estabelecendo crimes e 
infrações, bem como suas correspondentes penalidades 
pecuniárias, penais e administrativas, o Código de Defesa do 
Consumidor cria um arcabouço de proteção para o sistema de 
produção, distribuição e circulação de riquezas no País. 
 
 
 Quando as Leis nº. 8.884/94 e nº. 8.078/90 estabelecem 
normas para funcionamento da economia, protegem a Ordem 
Econômica, pois age diretamente nos elementos da política 
econômica e proporcionam a intervenção do Estado. 
 
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 4 – OS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO DA ORDEM 
ECONÔMICA. 
 
 
 
 A defesa da ordem econômica é e deve ser feita por toda a 
sociedade e não só por alguém, algum órgão ou ente federado. 
Quantas vezes, na história brasileira, foi possível observar que o 
Governo Federal, liderado pelo Presidente da República, direcionou a 
política econômica para um caminho e os Governos Estaduais ou 
Municipais escolheram outros, apenas por questões políticas. Um 
caso ficou patente na recente história quando no Governo Federal 
estava na Presidência da República Fernando Henrique Cardoso, e no 
Governo do Estado de Minas-Gerais o ex-presidente da República 
Itamar Franco, eleitos por partidos diferentes. Ocorreu um 
desentendimento entre eles e o Governador Itamar Franco 
simplesmente disse que não pagaria a dívida externa do Estado de 
Minas-Gerais. Imediatamente, houve uma queda nas bolsas de 
valores de todo o mundo, inclusive as do Brasil. Mais. O capital 
estrangeiro que estava no Brasil ameaçou migrar para outro país e, 
certamente, o que estava por vir, não veio. Este é um bom exemplo a 
respeito do que os outros atores deste processo podem fazer em prol 
do equilíbrio ou do desequilíbrio do sistema. 
 
 
 A idéia exposta neste primeiro parágrafo é só para uma 
reflexão maior a respeito do assunto. O enfoque do capítulo se resume 
em dizer quem é responsável, constitucional e/ou legalmente, por 
cuidar da ordem econômica. Vale dizer: quem é o guardião 
administrativo para vislumbrar, fiscalizar e atuar de forma a provocar a 
preservação da política econômica definida em nível nacional. 
 
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133
4.1 – A Secretaria de Direito Econômico – SDE. 
 
 
 
 A Secretaria de Direito Econômico é órgão vinculado ao 
Ministério da Justiça, portanto um órgão federal. Ela está 
presente na estrutura federal por intervir diretamente em 
assuntos que tratam da política econômica, um assunto a ser 
tratado pela União, em conformidade com a Constituição Federal 
de 1988. 
 
Art. 13. A Secretaria de Direito Econômico do Ministério 
da Justiça (SDE), com a estrutura que lhe confere a lei, 
será dirigida por um Secretário, indicado pelo Ministro de 
Estado de Justiça, dentre brasileiros de notório saber 
jurídico ou econômico e ilibada reputação, nomeado pelo 
Presidente da República. 94 
 
 
 
4.1.1 – SDE – A Sua competência. 
 
 
 
 A Secretaria de Direito Econômico funciona como um 
estágio anterior ao Conselho Administrativo de Defesa 
Econômica – CADE, pois é ela que executa, operacionaliza ou 
instrumenta as ações do Cade. Simploriamente e guardadas as 
devidas proporções, a SDE está para o CADE, assim como a 
Polícia Judiciária está para o Poder Judiciário. 
 
Art. 14. Compete à SDE: 
I - zelar pelo cumprimento desta lei, monitorando e 
acompanhando as práticas de mercado; 
II - acompanhar, permanentemente, as atividades e 
práticas comerciais de pessoas físicas ou jurídicas que 
detiverem posição dominante em mercado relevante de 
bens ou serviços, para prevenir infrações da ordem 
 
94
 Lei nº. 8.884, de 11 de junho de 1994, Título IV – Da Secretaria de Direito Econômico (SDE), artigo 13. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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econômica, podendo, para tanto, requisitar as informações 
e documentos necessários, mantendo o sigilo legal, 
quando for o caso; 
III - proceder, em face de indícios de infração da ordem 
econômica, a averiguações preliminares para instauração 
de processo administrativo; 
IV - decidir pela insubsistência dos indícios, arquivando 
os autos das averiguações preliminares; 
V - requisitar informações de quaisquer pessoas, órgãos, 
autoridades e entidades públicas ou privadas, mantendo o 
sigilo legal quando for o caso, bem como determinar as 
diligências que se fizerem necessárias ao exercício das 
suas funções; 
VI - instaurar processo administrativo para apuração e 
repressão de infrações da ordem econômica; 
VII - recorrer de ofício ao Cade, quando decidir pelo 
arquivamento das averiguações preliminares ou do 
processo administrativo; 
VIII - remeter ao Cade, para julgamento, os processos que 
instaurar, quando entender configurada infração da ordem 
econômica; 
IX - celebrar, nas condições que estabelecer, compromisso 
de cessação, submetendo-o ao Cade, e fiscalizar o seu 
cumprimento; 
X - sugerir ao Cade condições para a celebração de 
compromisso de desempenho, e fiscalizar o seu 
cumprimento; 
XI - adotar medidas preventivas que conduzam à cessação 
de prática que constitua infração da ordem econômica, 
fixando prazo para seu cumprimento e o valor da multa 
diária a ser aplicada, no caso de descumprimento; 
XII - receber e instruir os processos a serem julgados pelo 
Cade, inclusive consultas, e fiscalizar o cumprimento das 
decisões do Cade; 
XIII - orientar os órgãos da administração pública quanto 
à adoção de medidas necessárias ao cumprimento desta 
lei; 
XIV - desenvolver estudos e pesquisas objetivando 
orientar a política de prevenção de infrações da ordem 
econômica; 
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135
XV - instruir o público sobre as diversas formas de 
infração da ordem econômica, e os modos de sua 
prevenção e repressão; 
XVI - exercer outras atribuições previstas em lei. 95 
 
 
 Cabe ressaltar ainda, a Lei nº. 9.021, de 30 de março de 
1995 que dispõe sobre a implementação da autarquia Conselho 
Administrativo de Defesa Econômica (CADE), criada pela Lei nº. 
8.884, de 11 de junho de 1994, traça com detalhe o 
funcionamento da autarquia,
inclusive sobre o provimento dos 
cargos de conselheiro. 
 
 
 
4.2 – O Conselho Administrativo de Defesa Econômica – 
CADE. 
 
 
 
 O Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE 
é uma autarquia vinculada ao Ministério da Justiça e tem raio de 
ação fixado em todo o território nacional. É formada por um 
colegiado, isto é, através de seus conselheiros os “julgamentos” 
administrativos são realizados via voto aberto e direto, sendo 
vencedora a tese que tiver a maioria dos votos. A Lei nº. 8.884, 
de 11 de junho de 1994 é clara quanto ao Conselho, veja o artigo 
3º: 
 
Art. 3º O Conselho Administrativo de Defesa Econômica 
(Cade), órgão judicante com jurisdição em todo o 
território nacional, criado pela Lei nº 4.137, de 10 de 
setembro de 1962, passa a se constituir em autarquia 
federal, vinculada ao Ministério da Justiça, com sede e 
foro no Distrito Federal, e atribuições previstas nesta lei. 
96
 
 
 
95
 Lei nº. 8.884, de 11 de junho de 1994, Título IV – Da Secretaria de Direito Econômico (SDE), artigo 14. 
96
 Lei nº. 8.884, de 11 de junho de 1994, Título II – Do Conselho Administrativo de Defesa Econômica 
(Cade), Capítulo I – Da Autarquia, artigo 3º. 
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136
4.2.1 – CADE – a sua competência. 
 
 
 
 Sinteticamente, o Cade é uma autarquia que funciona 
como um órgão de julgamento administrativo de assuntos 
tratados pelo Direito Econômico. Apesar de ser “órgão 
administrativo”, suas decisões geram títulos extrajudiciais de 
execução imediata, inclusive não suspendendo a sua execução 
diante da utilização de nenhum recurso, ainda que judicial. 
 
 
 Para análise das atribuições do Cade se faz necessária a 
elaboração de um parâmetro. Explanar sobre todas as 
atribuições do Cade em um trabalho didático será desgastante, 
entretanto, a sua omissão pode levar ao não entendimento das 
finalidades de existência desta autarquia. Assim, a competência 
do plenário é descrita no artigo 7º, da lei 8.884/94, cuja citação 
segue: 
 
Art. 7º Compete ao Plenário do Cade: 
I - zelar pela observância desta lei e seu regulamento e do 
Regimento Interno do Conselho; 
II - decidir sobre a existência de infração à ordem 
econômica e aplicar as penalidades previstas em lei; 
III - decidir os processos instaurados pela Secretaria de 
Direito Econômico do Ministério da Justiça; 
IV - decidir os recursos de ofício do Secretário da SDE; 
V - ordenar providências que conduzam à cessação de 
infração à ordem econômica, dentro do prazo que 
determinar; 
VI - aprovar os termos do compromisso de cessação de 
prática e do compromisso de desempenho, bem como 
determinar à SDE que fiscalize seu cumprimento; 
VII - apreciar em grau de recurso as medidas preventivas 
adotadas pela SDE ou pelo Conselheiro-Relator; 
VIII - intimar os interessados de suas decisões; 
IX - requisitar informações de quaisquer pessoas, órgãos, 
autoridades e entidades públicas ou privadas, respeitando 
e mantendo o sigilo legal quando for o caso, bem como 
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determinar as diligências que se fizerem necessárias ao 
exercício das suas funções; 
X - requisitar dos órgãos do Poder Executivo Federal e 
solicitar das autoridades dos Estados, Municípios, Distrito 
Federal e Territórios as medidas necessárias ao 
cumprimento desta lei; 
XI - contratar a realização de exames, vistorias e estudos, 
aprovando, em cada caso, os respectivos honorários 
profissionais e demais despesas de processo, que deverão 
ser pagas pela empresa, se vier a ser punida nos termos 
desta lei; 
XII - apreciar os atos ou condutas, sob qualquer forma 
manifestados, sujeitos à aprovação nos termos do art. 54, 
fixando compromisso de desempenho, quando for o caso; 
XIII - requerer ao Poder Judiciário a execução de suas 
decisões, nos termos desta lei; 
XIV - requisitar serviços e pessoal de quaisquer órgãos e 
entidades do Poder Público Federal; 
XV - determinar à Procuradoria do Cade a adoção de 
providências administrativas e judiciais; 
XVI - firmar contratos e convênios com órgãos ou 
entidades nacionais e submeter, previamente, ao Ministro 
de Estado da Justiça os que devam ser celebrados com 
organismos estrangeiros ou internacionais; 
XVII - responder a consultas sobre matéria de sua 
competência; 
XVIII - instruir o público sobre as formas de infração da 
ordem econômica; 
XIX - elaborar e aprovar seu regimento interno dispondo 
sobre seu funcionamento, na forma das deliberações, 
normas de procedimento e organização de seus serviços 
internos, inclusive estabelecendo férias coletivas do 
Colegiado e do Procurador-Geral, durante o qual não 
correrão os prazos processuais nem aquele referido no § 
6º do art. 54 desta lei. 
XX - propor a estrutura do quadro de pessoal da 
autarquia, observado o disposto no inciso II do art. 37 da 
Constituição Federal; 
XXI - elaborar proposta orçamentária nos termos desta lei. 
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XXII - indicar o substituto eventual do Procurador-Geral 
nos casos de faltas, afastamento ou impedimento. 97 
 
 
 
4.3 – Os Procons. 
 
 
 
Os Estados-membros e os Municípios, em determinação 
dos normativos legais e constitucionais, organizaram estruturas 
para atuarem em defesa do consumidor. 
 
 
Toda a sua estrutura está relacionada a uma Secretaria de 
Estado. Na maioria dos Estados-membros está vinculada à 
Secretaria de Justiça. Nos Municípios, o vínculo é feito com as 
suas procuradorias. 
 
 
Os Procons têm um objetivo no âmbito dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios, semelhante ao proposto para a 
Secretaria de Direito Econômico – SDE e para o Conselho 
Administrativo de Defesa Econômica – CADE, isto é, receber as 
reclamações dos consumidores, patrocinar o acordo entre eles e 
não sendo possível, propor ação contra o fornecedor, nos casos 
cabíveis. 
 
 
Eles também atuam exercitando o poder de polícia e 
“julgando” administrativamente, aplicam respectivas penas 
pecuniárias e administrativas, as quais a normatização legal lhe 
imputa a competência de aplicador. 
 
97
 Lei nº. 8.884, de 11 de junho de 1994, Título II – Do Conselho Administrativo de Defesa Econômica 
(Cade), Capítulo III – Da Competência do Plenário do Cade, artigo 7º. 
 
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5 – A PROCESSUALÍSTICA DA LEI 8.884/94. 
 
 
 
 
A Lei nº. 8.884, de 11 de junho de 1994, nos artigos de 32 
até o 53 traz como é instaurado o “processo administrativo”, as 
ocorrências incidentes, a produção de prova, o julgamento e a 
execução. 
 
 
Procurando uma melhor didática, dividi o “processo” em 
duas partes: na Secretaria de Direito Econômico
– SDE e no 
Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE. 
 
 
A sistemática implantada tem um pequeno comentário, em 
cada item, e logo em seguida um fluxograma do processo, 
relevando que dado a alto detalhamento do “processo” 
recomendo a leitura do fluxograma combinada com o texto legal. 
 
 
 
5.1 – O Processo na Secretaria de Direito Econômico – 
SDE. 
 
 
 
Partindo dos artigos 32 ao 41, elaborei um fluxograma que 
retrata o caminho a ser seguido do início, na Secretaria de 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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Direito Econômico – SDE, até a remessa para o Conselho 
Administrativo de Defesa Econômica – CADE ou seu 
arquivamento. 
 
 
Veja o fluxograma: 
 
 
 
Conhecimento do fato, representação 
ou encerramento das averiguações 
Instauração do “processo” por 
despacho do Secretário da SDE 
até 08 
dias 
Intimação 
da 
SEAE 
Notificação inicial do Representado 
Primeiro por 
comunicação 
via correio 
com A.R. não 
surtindo 
efeito por 
edital 
Depois, por edital 
no D.O.U. ou em 
jornal de grande 
circulação no 
estado do 
Representado. 
Representado apresenta defesa em até 
15 dias, contados da juntada 
As demais 
intimações 
serão feitas 
via D.O.U. 
Não 
apresentando 
defesa, ocorre 
a revelia e 
não haverá 
mais 
intimações. 
Conhecimento do fato, representação 
ou encerramento das averiguações. 
SDE - instrução - produção de provas: 
- inquirição de testemunhas, 
- inspeção local, 
- diligências, 
Em 45 dias prorrogáveis por mais 45 
 
Se necessário, 
a Advocacia 
Geral da 
Possibilidade de leniência 
Ocorrência 
art. 35-B 
Não 
Ocorrência 
Acompanhamento 
pela SDE 
Total 
cumprimento 
do acordado 
 
Em caso de 
crime, impede a 
denúncia 
Fim com o 
arquivamento 
decretado 
pelo CADE 
Prazo de 45 dias da 
apresentação da 
defesa para juntada 
de documentos e 
requerimento para 
a oitiva de 
testemunhas 
União 
provocará o 
Judiciário 
 
Prazo 
Máximo 
para 
a juntada de 
novos 
documentos 
Fim da instrução 
Notificação do Representado 
para em 05 dias apresentar 
alegações finais 
Relatório conclusivo do 
Secretário da SDE e 
posterior remessa ao CADE 
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5.2 – O Processo no Conselho Administrativo de Defesa 
Econômica – CADE. 
 
 
 
Aqui não é diferente, sendo fundado nos artigos 42 ao 53. 
Abaixo elaborei um fluxograma que retrata o caminho a ser 
seguido do início, o recebimento pelo Presidente do CADE, até a 
sua execução ou seu arquivamento. 
 
 
Veja o fluxograma: 
 
Secretário da SDE remete os 
autos ao Presidente do CADE 
Recebimento pelo Presidente do 
CADE e distribuição por sorteio 
Conselheiro-relator recebe os 
autos e abre vista para a 
Procuradoria por 20 dias 
O conselheiro-relator 
necessitando requererá novas 
diligências e informações 
O conselheiro-relator 
necessitando autorizará ao 
Representado a produção de 
novas provas 
O Presidente, por solicitação do 
conselheiro-relator, convidará pessoa 
para prestar esclarecimentos 
Intimação das 
partes para o 
julgamento 
no plenário 
com no 
mínimo 05 
dias de 
antecedência 
Julgamento pelo plenário iniciará 
quando presentes 05 conselheiros 
Iniciado o julgamento, lido o relatório, o 
Procurador-geral e o Representado ou 
seu Advogado, farão sustentação oral 
por 15 minutos cada um 
As decisões do CADE serão por maioria 
absoluta e publicada em 05 dias no 
D.O.U. 
Absolvido o 
Represen-
tado, os 
autos serão 
arquivados 
Condenado o 
Representado não tem 
recurso no Executivo e o 
seu não cumprimento 
acarreta execução 
judicial 
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Tenório, Igor. Manual de Direito Agrário Brasileiro. São Paulo: 
resenha Universitária, 1975. 
 
TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 7. ed. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 1990. 
VITRAL, Waldir. Vocabulário Jurídico. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1986. 
 
 
PERIÓDICOS E PUBLICAÇÕES 
 
LEGISLAÇÃO 
 
CÓDIGO CIVIL / organização dos textos, notas remissivas e índices 
por Juarez de Oliveira, com a colaboração de Márcia Cristina Vaz 
dos Santos Windt. 48. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. 
 
CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL / organização dos textos, notas 
remissivas e índices por Juarez de Oliveira, com a colaboração de 
Antonio Luiz de Toledo Pinto e Luiz Roberto Curia. 26. ed. São 
Paulo: Saraiva, 1997. 
 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL: 
promulgada em 5 de outubro de 1988. São Paulo: Saraiva, 2007. 
 
CONSTITUIÇÕES DO BRASIL. (Compilação e atualização dos textos, 
notas, revisão e índices por Adriano Campanhole et Hilton Lobo 
Campanhole). São Paulo: Atlas, 1982. 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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146
 
 
DICIONÁRIOS E OBRAS METODOLÓGICAS 
 
 
AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa 
Caudas Aulete. Rio de Janeiro: Delta, 1980. 
 
CARLETTI, Amilcare. Dicionário de latim forense. 4. ed. São Paulo: 
Leud, 1992. 
 
CUNHA, Antônio Geraldo da et alii. Dicionário etimológico nova 
fronteira da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: NEOFRONT, 
1998. 
 
FARIA, Ernesto et alii. Dicionário escolar latino-português. 3. ed. Rio 
de Janeiro: Gomes e Souza, 1962. 
 
FERNANDES, Francisco. Dicionário de sinônimos e antônimos da 
língua portuguesa. 37. ed. São Paulo: Globo, 1998. 
 
FERNANDES, José. Técnicas de estudo e pesquisa. Goiânia : Kelps. 
1999. 
 
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da 
língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 
 
ECO, Humberto. Como se faz uma tese. 13. ed. São Paulo: 
Perspectiva, 1996. 
 
LAKATOS, Eva Maria e Marina de Andrade Marconi. Fundamentos de 
Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991. 
 
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 
São Paulo: Cortez, 1993. 
 
SOLOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. São Paulo: 
Martins Fontes, 1994. 
 
Direito Econômico Brasileiro – Uma visão didática Roberto Luiz Ribeiro 
 
 
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TUFANO, Douglas. Estudos de língua portuguesa: Gramática. São 
Paulo: Moderna, 1990.

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