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Examinemos agora a parte da maquinaria aplicada à construção de máquinas, que constitui a máquina-ferramenta propriamente dita, e veremos reaparecer o instrumento artesanal, mas em dimensão ci- clópica. A parte operante da perfuratriz, por exemplo, é uma broca monstruosa, movida por uma máquina a vapor e sem a qual, por sua vez, não poderiam ser produzidos os cilindros das grandes máquinas a vapor e das prensas hidráulicas. O torno mecânico é o renascimento ciclópico do torno comum de pedal; a máquina de aplainar, um car- pinteiro de ferro, que trabalha o ferro com as mesmas ferramentas com que o carpinteiro trabalha a madeira: a ferramenta que, nos es- taleiros londrinos, corta as chapas é uma gigantesca navalha de bar- bear; a ferramenta da tesoura mecânica, que corta ferro como corta pano a tesoura do alfaiate, uma monstruosa tesoura; e o martelo a vapor opera com uma cabeça comum de martelo, mas de peso tal que nem mesmo Thor conseguiria brandi-lo.30 Um desses martelos a vapor, por exemplo, que são uma invenção de Nasmyth, pesa mais de 6 to- neladas e cai perpendicularmente de uma altura de 7 pés sobre uma bigorna de 36 toneladas de peso. Ele pulveriza, brincando, um bloco de granito e não é menos capaz de enfiar um prego em madeira macia mediante uma seqüência de leves pancadas.31 Como maquinaria, o meio de trabalho adquire um modo de exis- tência material que pressupõe a substituição da força humana por forças naturais e da rotina empírica pela aplicação consciente das ciên- cias da Natureza. Na manufatura, a articulação do processo social de trabalho é puramente subjetiva, combinação de trabalhadores parciais; no sistema de máquinas, a grande indústria tem um organismo de produção inteiramente objetivo, que o operário já encontra pronto, como condição de produção material. Na cooperação simples e mesmo na especificada pela divisão do trabalho, a supressão do trabalhador in- dividual pelo socializado aparece ainda como sendo mais ou menos casual. A maquinaria, com algumas exceções a serem aventadas pos- teriormente, só funciona com base no trabalho imediatamente sociali- zado ou coletivo. O caráter cooperativo do processo de trabalho torna-se agora, portanto, uma necessidade técnica ditada pela natureza do pró- prio meio de trabalho. 2. Transferência de valor da maquinaria ao produto Viu-se que as forças produtivas decorrentes da cooperação e da divisão do trabalho nada custam ao capital. São forças naturais do OS ECONOMISTAS 20 30 Em Londres, uma dessas máquinas para forjar paddle-wheel shafts tem o nome de “Thor”. Ela forja um eixo de 16,5 toneladas de peso com a mesma facilidade com que um ferreiro forja uma ferradura. 31 As máquinas que trabalham com madeira e que também podem ser empregadas em pequena escala são, na maioria, de invenção americana.