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DEPARTAMENTO DE ECONOMIA / PUC-Rio MICROECONOMIA II Prof. Eduardo P.S. Fiuza Nota de Aula 25: Externalidades De nition 1 (Def. clássica) Externalidade, ou efeito externo, ou (des)economia externa, é qualquer efeito indireto que uma ativi- dade produtiva ou de consumo exerce sobre uma função utilidade, um conjunto de consumo ou um conjunto de produção De nition 2 Efeito indireto é todo e qualquer efeito, criado por um agente econômico e que não o afeta, e que não é transmitido através de preços. 1 Tipos de externalidades: 1. Produção ! Conjunto de consumo Example 3 fábrica polui um rio ou lagoa e as pessoas não podem mais nadar nele(a). 2. Consumo ! Conjunto de consumo Example 4 Um(a) amigo(a) entra para uma rede social (Orkut, Face- book, Twitter, Skype, MSN) e eu passo a conseguir entrar em contato com ele(a). É um exemplo da chamada externalidade de rede. 3. Consumo ! Função utilidade Example 5 Fumaça do cigarro ou charuto do vizinho (external- idade negativa) Example 6 Vizinho que toca música alta às 3h da madrugada 4. Produção ! Conjunto de produção Example 7 Poluição do rio, mar ou lagoa prejudica pescadores Example 8 Pesca predatória prejudica outros pescadores Example 9 Criação de abelhas favorece polinização dos pomares do vizinho. 1 Remark 10 Note que essas atividades só criam problemas quando estão afetando os outros e estes efeitos não são transacionados no mercado. Se, por exemplo, o apicultor e o fruticultor se unem, o ganho proporcionado pela polinização das abelhas é internalizado. Isso contraria o pressuposto tradicional de que as interações entre os produtores se dão nos mercados. Vamos, então, relaxar esses pressupostos e examinar as conse- quências econômicas. Veja na Figura 25.1. Note que a interpretação da caixa de Edge- worth é diferente em caso de externalidade. � Já a dotação inicial de fumaça depende dos direitos de pro- priedade. Quem tem o direito sobre a quantidade de fumaça no ar, A ou B? � Se for A, este tem o direito a produzir fumaça até 100% (i.e., 1). A condição de equilíbrio parte então do teto da caixa de Edgeworth. � Se for B, a dotação inicial estará no assoalho da caixa de Edge- worth. � No 1o. caso, B tem que pagar para A fumar menos. � No 2o caso, A tem que pagar a B para poder fumar alguma coisa. As curvas de indiferença mostram que A pode abrir mão de fumar por mais $ e B pode abrir mão de respirar ar puro por $. � Veja Figura 25.2. � Havendo, portanto, um mercado para os direitos de poluir e o mecanismo walrasiano (mercado, preços, leiloeiro), chega-se a equilíbrio e Pareto-e ciência, desde que haja direitos de pro- priedade bem de nidos com relação ao bem que gera a exter- nalidade. � Os problemas práticos com externalidades geralmente surgem devido à má de nição dos direitos de propriedade, da incapaci- dade de executá-los e/ou de negociá-los. 2 Teorema de Coase Proposition 11 Se os direitos de propriedade são bem-de nidos e os custos de transação são zero, as partes afetadas por uma external- idade atingirão uma solução e ciente por via de negociação, não importando como esses direitos de propriedade são alocados. 2 Remark 12 Note que, no Varian, a quantidade e ciente do bem en- volvido na externalidade independe da distribuição dos direitos de propriedade. Remark 13 Mas, sendo assim, quando é que a de nição do Varian se aplica? Resposta: PREFERÊNCIAS QUASE-LINEARES (ver Figura 25.3). Elas implicam que as demandas pelo bem causante da ex- ternalidade não dependem da distribuição da renda. Assim, a realo- cação de dotações não afeta a quantia e ciente de externalidades. Ou seja, ausência de efeito renda. Neste caso, à medida que a quantidade de $ sobe, a preferência por F permanece a mesma. 3 Externalidades de produção � Sejam a empresa S uma siderúrgica. � Sejam a empresa F uma rma de pesca. � Firma S produz quantidade de aço s e quantidade de poluição x, que é jogada num rio. � Firma F situa-se rio abaixo (jusante) e é prejudicada pela poluição de S. � O custo da empresa S é dado por Cs (s; x) � O custo da empresa F é dado por Cf (f; x), onde f é a produção de pescado. � Suponhamos agora que @Cf@x > 0 e @Cs@x < 0 (para reduzir poluição, deve-se investir em ltros, treinamento de funcionários, etc.). � Firma S: max s;x ps�s� Cs (s; x) (1) CPO: ps= @Cs @s (preço do aço = custo marginal do aço) (2) @Cs @x = 0 (aqui o preço da poluição é zero (3) externalidade porque poluição está fora do mercado) 3 � Firma F (não pode controlar x): max f pf �f � Cf (f; x) (4) CPO: pf= @Cf @f (preço do pescado = custo marginal do pescado) (5) Conclusion 14 A siderúrgica olha apenas para o custo de produzir aço, não considera o custo imposto à empresa de pesca. Conclusion 15 O aumento do custo do pescado associado à poluição é parte do custo social da produção de aço e é ignorado pela siderúr- gica. Como a siderúrgica não internalizou esse custo, ela produz poluição demais do ponto de vista social. � Uma solução para tornar o plano de produção para pescado e aço e ciente de Pareto é fundir as 2 rmas. Aí os efeitos externos da poluição sobre a pesca são internalizados pela rma de aço: ela passa a levar em conta os custos adicionais da pesca. � O problema de maximização de lucro passa a ser: max s;f;x ps�s+ pf �f � Cs (s; x)�Cf (f; x) (6) CPO: ps= @Cs @s (como era antes) (7) pf= @Cf @f (também como era antes) (8) �@Cs @x � @Cf @x = 0 (internalização do custo de poluição) (9) A CPO (9) pode ser reescrita como: �@Cs @x = @Cf @x > 0 (10) � Seja x� a solução anterior e bx a nova. Pelo grá co 25.4, podemos ver que x� > bx (um pressuposto implícito que o Varian não ressaltou é que @ 2Cs @x2 > 0 e que @2Cf @x2 > 0, você vê isso?), isto é, por internalizar o custo da poluição sobre a outra atividade, a siderúrgica passa a poluir menos, passa a poluir o socialmente ótimo. � Como não havia mercado de poluição, houve um ganho social na fusão das duas rmas. 4 3.1 Abordagem para criar um mercado para as external- idades � Naturalmente não é nada trivial para um planejador social e sua agência ambiental (IBAMA, Cetesb, Feema, etc.) impor uma quantidade de poluição por "comando e controle" (C&C). Uma vez consensuado um nível praticável, seria necessário determi- nar, por C&C, que cada rma rebaixasse os níveis de produção em x% ou em x ppm. � Sejam duas empresas, 1 e 2. � O custo de cumprir a cota de emissão é c1 (x1) para a rma 1 e c2 (x2) para a rma 2. � Seja X a quantidade total de emissão da economia, que o gov- erno quer fazer cumprir: min x1;x2 c1 (x1)+c2 (x2) s:a: x1+x2= X $ = c1 (x1)+c2 (x2)�� (X � x1 + x2) (11) � Derivando com relação a cada uma das variáveis de escolha: @c1 @x1 = � (12) @c2 @x2 = � (13) + CMg1= CMg2 (14) � Assim, iguala-se o custo marginal de redução de emissões. Ora, para funções de custo diferentes, isso implica que x1 6= x2. � Mas como o governo vai saber qual é o custo? (assimetria de informação entre o regulador e o regulado). � Na teoria é fácil, na prática é outra história. � Solução de mercado: cada um ganha uma cota de poluição. Quem exceder, pode comprar de quem economizou. 5 3.2 Interpretação das condições 3.2.1 Siderúrgica defronta-se com o preço errado da poluição Situação pode ser corrigida se for assegurado que o poluidor en- frentará o custo social correto de suas ações. Solução: criar um imposto sobre a poluição. Agora a siderúrgica depara-se com o seguinte programa de max- imização: max s;x ps�s� Cs (s; x)�t � x (15) CPO: ps= @Cs @s (tal como antes) (16) �@Cs @x = t (17) � O programa da rma F continua o mesmo, e com ele sua CPO: CPO: pf= @Cf @f (18) � Ora, se eu igualar (17) àCPO da rma conjunta (9), obtemos que: t�otimo= @Cf @x ���� x=bx > 0 (19) é o nível de taxação que leva a poluição ao nível e ciente de Pareto (IMPOSTO DE PIGOU). Problema: não sabemos o nível ótimo de poluição para calibrar o imposto. Se soubéssemos, poderíamos impor direto essa meta de poluição, sem nos metermos com impostos. 3.2.2 Falta um mercado o de poluição O poluidor depara-se com o preço zero de um bem que ele produz, emboras as pessoas estejam dispostas a pagar para reduzir a pro- dução desse bem. Como poluição é um mal, do ponto de vista social o preço deveria ser negativo. Dois casos: 6 Direito de propriedade é da rma de pesca Suponha que a rma de pesca pode vender esse direito ao preço q/unidade. Então S tem que pagar a F o montante q �x para gerar a poluição x. Função de lucro da siderúrgica: max s;x ps�s� Cs (s; x)�q � x (20) CPO: ps= @Cs @s (tal como antes) (21) �@Cs @x = q (22) e da rma de pesca: max s;x pf �f � Cf (f; x)+q � x (23) CPO: pf= @Cf @f (tal como antes) (24) @Cf @x = q (25) Assim, igualando (22) a (25), obtemos a mesma condição que a rma conjunta, e portanto o mesmo nível de produção. Direito de propriedade é da siderúrgica Firma S: max s;x ps�s� Cs (s; x)+q� (x� x) (26) onde x é a cota-teto de poluição que cabe à rma S. Note o sinal positivo agora: a rma S ganha para não poluir. CPO: ps= @Cs @s (27) q = �@Cs @x (28) e da rma de pesca: max s;x pf �f � Cf (f; x)�q� (x� x) (29) CPO: 7 pf= @Cf @f (30) @Cf @x = q (31) Notem que a quantidade de poluição é a mesma, só que com uma distribuição de lucros diferente. 3.2.3 Sinais de mercado Quando as rmas deveriam se juntar? Resposta: quando o lucro conjunto for maior que os lucros auferi- dos em separado (em valor presente). Exemplo de coordenação sem passar pela fusão: acordo entre o apicultor e o fruticultor. 3.3 Tragédia do uso comum Problema: uso de um insumo de uso comum por todos (poderia ser também um bem de consumo). Example 16 Pasto comunitário (A) Existe propriedade privada versus (B) Propriedade é comunal (acesso livre e irrestrito) � O custo de uma vaca = a: � Produção de leite da vaca quando existem c vacas no pasto: f (c). � Produtividade média: f(c)c (A) Se quiséssemos maximizar a riqueza total, resolveríamos: max x1;x2 f (c)�a � c CPO: f 0 (c)= a Colocaremos vacas no pasto até o ponto em que o que ela vai pro- duzir só o su ciente para pagar seu custo (assumimos produtividade marginal decrescente). Isso aconteceria na prática apenas se houvesse alguém que de- tivesse a propriedade do pasto e controlasse o acesso a ele. 8 (B) Quando o pasto fosse de uso comum, sem restrições de acesso: A entrada das vacas se daria até o ponto em que: f (c) c = a Veja na Figura 25.5 que, como a PMg é decrescente, PMe > PMg. Ora, diferenciando a PMe, obtemos que: �(f (c) =c) �c = f 0 (c) � c� f (c) c2 < 0 s.s.s. f (c) c > f 0 (c) Não necessariamente a solução passa pela propriedade privada. O importante é que haja mecanismos para regular o uso do bem comum. O problema é que tais sistemas são débeis: a lei é ambígua ou inexistente. Ex: pesca predatória. 3.4 Poluição de automóveis Califórnia impõe limites estritos sobre a poluição por carro. Isso implica em custos: 1. Aquisição de equipamento: 600; 00; 2. Despesas extras de manutenção do equipamento: 180; 00; 3. Gasto maior com gasolina sem chumbo e perdas de e ciência por rodar menos:670; 00 4. Total: 1:450; 00: Problemas: 1. Impostos sobre poluição são diferentes em áreas diferentes. No Brasil, por exemplo, o custo da poluição é muito maior na Grande São Paulo. 2. Custo recai sobre fabricante once for all, a não ser que o mo- torista seja constantemente monitorado (com vistorias). O ideal seria cobrar taxas sobre poluentes. T �=Poluiçãokm �kml onde Poluiçãokm denota as emissões aferidas em vistorias regulares, e km l é a e ciência de consumo dos automóveis. 9