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mente, de que ficavam ricos com a venda de tecidos por menos dinheiro do que custa o fio nominalmente contido neles”.215 Os operários, porém, não tiveram de sofrer apenas com as expe- rimentações dos fabricantes nas fábricas e das municipalidades fora das fábricas, não só com reduções salariais e desemprego, com penúrias e esmolas, com discursos laudatórios dos lordes e dos membros da Câmara dos Comuns. “Infortunadas mulheres, desempregadas devido à crise algo- doeira, tornaram-se párias da sociedade e assim continuaram. (...) O número de jovens prostituídas cresceu mais do que durante os últimos 25 anos.”216 Portanto, nos primeiros 45 anos da indústria algodoeira britânica, de 1770 a 1815, só se encontram 5 anos de crise e estagnação; esse foi, porém, o período de seu monopólio mundial. O segundo período, de 48 anos, de 1815 a 1863, conta apenas 20 anos de recuperação e prosperidade para 28 de depressão e estagnação. De 1815 a 1830, co- meça a concorrência com a Europa continental e os Estados Unidos. A partir de 1833, a expansão dos mercados asiáticos é forçada por meio da “destruição da race humana”.217 Desde a revogação das leis do trigo, de 1846 a 1863, para 8 anos de vitalidade e prosperidade médias 9 anos de depressão e estagnação. A situação dos trabalhado- res adultos masculinos do algodão, mesmo durante a época de pros- peridade, pode ser julgada pela nota abaixo.218 MARX 89 215 Reports etc. 30th April 1864. p. 27. 216 De uma carta do Chief Constable Harris de Bolton. In: Reports of Insp. of Fact. 31st Oct. 1856. p. 61-62. 217 Marx refere-se à intensidade com que os comerciantes particulares ingleses conquistaram o mercado chinês depois da supressão do monopólio da Companhia das Índias Orientais no comércio com a China (1833). Para tanto, qualquer meio lhes servia. A primeira guerra do ópio (1839/42), que foi uma guerra de agressão da Inglaterra contra a China, deveria abrir o mercado chinês ao comércio inglês. Com ela, iniciou-se a transformação da China num país semicolonial. Desde o início do século passado, a Inglaterra procurava, por meio do contrabando para a China de ópio produzido na Índia, equilibrar o passivo de sua balança comercial com a China; chocou-se, porém, com a oposição das autoridades chinesas que, em 1839, confiscaram carregamentos de ópio a bordo de navios estrangeiros em Cantão e os mandaram queimar. Esse foi o pretexto para a guerra em que a China foi derrotada. Os ingleses se aproveitaram dessa derrota da China feudal e retrógrada e ditaram-lhe o espoliador tratado de paz de Nanquim (agosto de 1842). O Tratado de Nanquim assegura a abertura de cinco portos chineses (Cantão, Hanói, Futchu, Ningpo e Xangai) ao comércio inglês, a entrega de Hong Kong “por toda a eternidade” à Inglaterra e o pagamento de elevados tributos a esse país. Depois de protocolo complementar do Tratado de Nanquim, a China também teve de reconhecer aos estrangeiros o direito da extraterritorialidade. (N. da Ed. Alemã.) 218 Num manifesto dos trabalhadores do algodão, na primavera de 1863, para a constituição de uma sociedade de emigração, entre outras coisas, é dito: “Que uma grande emigração de trabalhadores de fábrica é, agora, absolutamente necessária poucos hão de negar. Mas que uma corrente contínua de emigração é necessária em todos os tempos e sem a qual é impossível manter nossa posição em circunstâncias normais, mostram os seguintes fatos: — No ano de 1814, o valor oficial (que é apenas índice da quantidade) dos artigos de