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Li��o do Nazismo.doc
IV
			Lição do nazismo
Muitos historiadores, após a guerra, afirmaram que a tomada do poder pelo nazismo era um fato único de retorno à barbárie na História da Humanidade. Certamente discípulos destes mesmos historiadores afirmaram isto também, a respeito do stalinismo, quando a URSS se decompôs. Mas a atualidade, com tristes exemplos como o genocídio bósnio, nos ensina que estes casos de retrocesso são muito freqüentes. Mesmo se não quisermos acreditar ou lembrar estes repetidos retornos à barbárie fazem parte de nosso progresso. 
Theodor Wiesengrund Adorno, filósofo alemão, nascido no início do século XX, começa seu texto Educação após Auschwitz escrevendo que “a exigência de que Auschwitz não se repita é primordial em educação”. Este conceito de educação vai além da simples alfabetização escolar que desenvolve a lógica e a razão. O homem tem que aprender a ser autônomo e ele só o consegue com o conhecimento filosófico. A filosofia permite desenvolver a consciência moral e, assim, saber diferenciar, universalmente, o certo do errado. Esta Razão Universal, baseada na moral, é fundamental para a criação de uma democracia absoluta: na qual realmente haja justiça e liberdade. Na nossa época, ainda não existe uma verdadeira democracia. Nossa sociedade é fundada na autoridade não justificada. E é ela que faz com que aconteçam abusos. Os que têm poder fazem de tudo para que a ordem social não mude. Usam os outros homens como animais sem consciência proibindo-os de pensar. O exemplo mais evidente disto é o que está acontecendo nos países muçulmanos nos quais as escolas são destruídas, nos quais existem leis contra as pessoas que ousam criticar o sagrado Corã... A intolerância e o fanatismo baseiam-se na ignorância do povo. O homem está sendo cada vez mais facilmente utilizado por uma ideologia, como no fascismo. Para deixar de ser um mero objeto da ordem social o homem precisa tomar consciência de seu estado e ter vontade de mudar. A consciência humana só poderá desenvolver-se quando o homem se liberar de todas as suas angústias passadas. A memória aparece assim como instrumento primordial para a liberdade. 
A memória permite que entendamos o presente num contexto, num processo histórico. Marx criou o materialismo histórico baseando-se no estudo do desenvolvimento da civilização: a necessidade do conflito para que haja progresso. Por existir um processo histórico evidente Auschwitz não pode ser analisado como um fato único e fora de um contexto. Se Hitler veio ao poder foi porque estava empurrado por uma massa descontente e uma elite reacionária. Como o mostra Cohen em seu filme A arquitetura da destruição, Hitler não é a personificação do nazismo. Ele é a personificação da angústia do povo. A maior parte do povo alemão já era anti-semita e, de certa forma, fascista antes do nacional-socialismo. O nazismo só foi a concretização de seus desejos mais profundos. A interrogação que poucos fazem mas que é essencial para entender esta época é: foi Hitler quem manipulou a História ou foi Ela quem o usou como marionete ? Este ódio que tinham os alemães do resto do mundo não é, como muitos o pensam, só fruto da crise de 1929, nem do DIKTAT de Versalhes, nem do pangermanismo de Bismarck. Nenhum evento preciso marca a origem desta ideologia. Ela provém de uma degeneração progressiva do capitalismo que culminou na aparição de regimes capitalistas monopolistas autoritários: mais simplesmente, regimes fascistas. Como já o tinha entendido Lênine, em Imperialismo, o estado supremo do capitalismo, o mundo capitalista não conseguia, e ainda não consegue, mais suportar seus excedentes humanos e materiais. Adorno mesmo, no texto que já citamos, com ironia para esconder o horror de sua observação, diz que para limitar a explosão demográfica há “contra-explosões” que são “a matança de populações inteiras”. Mas, de certa forma, é o que realmente aconteceu e acontece. A Alemanha dos anos 1930 passava por uma grande crise: desemprego, fome, miséria... Havia um excedente demográfico que piorava a situação pois era muita mão-de-obra para pouco emprego. Assim o extermínio dos judeus, mesmo se não tenha sido econômica a razão do genocídio, permitiu que a balança demográfica se estabilizasse. Este mecanismo de “contra-explosões” e explosões não é passado. Com a grande popularidade dos partidos de extrema direita na Europa, discursos anti-semitas nos quais os estrangeiros são tidos como culpados pela falta de empregos tornam-se cada vez mais freqüentes.
Esta grande popularidade dos partidos de extrema direita deveria ser considerada uma aberração histórica após a Segunda Guerra Mundial. Diferentemente do que pensava Hegel, o retrocesso não leva ao desenvolvimento da consciência humana, pela percepção do caminho do razão. Um processo histórico pode acontecer e reacontecer sem transformações até o homem ter coragem de enfrentar seus medos. Não adianta tentar mudar a sociedade se o homem não fizer um esforço para desenvolver sua consciência. Ele tem que lutar, desde a infância, contra os traumas das gerações passadas. Mas num mundo no qual é cada um por si por que os homens iriam preocupar-se em ser solidários ? No fundo, o problema de nossa civilização somos nós mesmos. Guardamos todas as nossas fraquezas no nosso inconsciente, como o demonstra Freud. Independentemente dos avanços tecnológicos e culturais, se o homem não se liberar de suas pulsões sempre haverá o retorno à Auschwitz. Toda nossa História será, inexoravelmente, uma fatalidade se o homem não conseguir vencer seu inconsciente. Pois ele é o refúgio de todos os nossos medos e traumas. E é justamente neles que se funda o nazismo. A propaganda nazista manipulava as angústias e os desesperos dos alemães tornando-os ainda mais agressivos contra os judeus, aceitando leis absurdas sem reclamações: proibição do casamento entre judeus e alemães. 
O nazismo, mas também todas as outras ideologias ou crenças racistas e anti-semitas, fez com percebêssemos como ainda estamos próximos do animal. A xenofobia em geral defende a tese que a lei do mais forte prevalece, colocando assim nossa civilização na etapa mais primitiva do desenvolvimento humano. O progresso tecnológico é apenas um véu muito fino que nem consegue esconder o fato do homem não ter evoluído moralmente. A ciência não escapou da perversão: os médicos foram os primeiros a defender a superioridade ariana. O objetivo megalomaníaco do nazismo de criar uma raça superior teve que não só produzir humanos clinicamente perfeitos como também destruir os debilitados. Este culto da perfeição é responsável pela importância da escultura nesta época e pela valorização artística do harmonioso e do poder. No fundo, o que melhor mostra o que foi o nazismo é o título do filme de Cohen, A arquitetura da destruição. Esta contradição absurda e perigosa entre o que se planeja construir com o ato da destruição é a definição do nazismo. Pode se dizer que Hess, diretor do campo de Auschwitz, foi um gênio das técnicas da morte criando ótimos métodos para matar. Mas, o que é mais grave, isto ainda acontece: na Argélia ocorrem horríveis torturas. E, o mais irônico, é que algumas pessoas como Hess, mas existem muitos outros, se dão de corpo e alma para elaborar planos, para encontrar formas eficientes e econômicas de matar. Aragon não estava tão errado quando dizia que “preferia lutar contra um urso do que contra um homem”. 
No entanto a maior dificuldade na hora de criticar uma ideologia como o nazismo é que não podemos afirmar que não pensavam racionalmente. Sim, eram lógicos e racionais. Mas, não se baseavam na realidade. Eles eram racionais mas perversos. Os nazistas desviaram a razão de seu principal objetivo: a passagem da ignorância ao conhecimento, por isso não podemos dizer que eram ignorantes. Os nazistas apenas eram monstros que usavam dos meios mais perversos para atingir suas metas. Manipulavam o homem como um objeto, é muito correta a expressão de Adorno quando define a consciência humana como uma
“consciência coisificada”. O que há de mais perverso no nazismo é que ele ainda não virou passado pois os homens não tem coragem de colocar o ponto final nesta aberração histórica. O nazismo ainda existe no nosso cotidiano, em pequenos grupos ou grandes partidos. Devemos sempre nos informar para evitar que haja um movimento nazista. Já pensaram se um dia eles ganharem ? Como disse Primo Lévi, historiador francês: “mesmo se compreender o nazismo é impossível, conhecê-lo é necessário pois o que aconteceu pode recomeçar”.
Trabalho de João Alexandre Peschanski
Aluno de Jornalismo na PUC-SP
e-mail: naircf@uol.com.br
Documento gentilmente cedido pelo próprio autor.
www.sti.com.br

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