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Política do fazer: participação e poder popular - procurando caminhos democráticos. 1 Adriana Marcelino As primeiras coisas que você pensa ao ouvir o termo política são algo do tipo: políticas de governo, políticos profissionais e partidos políticos? Você acha que não faz parte dessa política? Certamente essa é a forma mais comum de se pensar política, no entanto, mais que essa forma de organização política com seus cargos e instituições político-partidárias, a política está relacionada à pluralidade dos homens, à convivência dos diferentes. Isso quer dizer que diz respeito às atividades humanas de um modo geral, envolvendo pensamentos e ações que se relacionam em um campo de forças. Podemos dizer então que política diz respeito às formas de estar no mundo, de se relacionar com os elementos que o compõem e depende, portanto, das formas como nos organizamos em sociedade. Poder e Fazer Político: Dito isto, podemos facilmente deduzir que a política tem diversos sentidos e usos. Pode-se ter, por exemplo, a convicção política de que a participação popular é uma forma de controle social do poder público; pode-se participar da política partidária concorrendo a um cargo político de vereador, prefeito, presidente, etc; pode-se dizer que se tem poder político quando se exerce o poder de influenciar e formar opiniões ou pessoas; pode-se participar ativamente da vida política da família, da escola, do trabalho e da comunidade, participando das decisões domésticas, do planejamento das atividades escolares, dos sindicatos, das associações de moradores, de mães, de jovens, de idosos, de usuários do SUS, de membros do conselho de saúde, de educação etc; pode-se ter programas de governo ou programas de ações estruturados como políticas de saúde, de educação, de segurança, políticas sociais, políticas de atendimento ao cidadão ou a grupos específicos. Agora, fazendo uso desse olhar político ampliado, nos damos conta que o fazer político está presente em muitas de nossas atividades diárias e que também existem várias formas de se ter uma participação na política institucional. No caso dos conselhos de saúde a participação política pode ser sugerir, exigir, fiscalizar, tomar decisões e construir meios de tornar os serviços de atendimento à saúde eficazes com qualidade e ao alcance de todos. Se o homem é um ser social, está sempre, em algum momento, em contato com acontecimentos e pessoas diversas. As atividades humanas são socialmente políticas na medida em que se pode exercer poder sobre essas forças sociais e sobre outros homens. O poder de que falamos aqui não é apenas o poder político instituído, mas também as relações de poder, as ações sobre esse campo de forças. Historicamente, o poder político muitas vezes é exercido através do uso da força física e da violência, práticas que certamente carregaram as palavras e as ações políticas de preconceitos e desconfianças. A participação humana nesse jogo de forças presentes na construção e funcionamento da vida social, individual e coletiva é não apenas fundamental para o pleno desenvolvimento das capacidades humanas, é também essencial para o exercício do poder popular. Uma sociedade que se preocupa com o desenvolvimento humano deve, portanto, permitir e facilitar a participação de todos! 1 Texto produzido para as capapacitações dos Conselheiros Municipais de Saúde do Estado de Sergipe, realizado pela FUNESA em 2009. Nosso desafio: Como exercer o poder político e participar de aspectos importantes da vida social? Como fazer política na nossa vida cotidiana, nas nossas relações diárias, visando a oportunidade de desenvolvimento da plenitude humana para todos? Caminho democrático? Ouvimos que vivemos em um Estado Democrático de Direito, isto quer dizer que o nosso sistema de governo se organiza sobre bases democráticas. Mas o que queremos dizer de fato quando chamamos algo de democrático? A origem da palavra nos remete a um tipo de regime político em que o governo é do povo, ou seja, o povo tem poder de tomar decisões políticas. Isto pode ser feito de duas maneiras: democracia direta, com a participação direta do povo nos assuntos que lhe dizem respeito; democracia indireta ou representativa, na qual o povo exerce sua vontade através de representantes (especialmente comum em grandes cidades onde a complexidade das relações dificulta a participação direta de todos). Hoje em dia, devido aos inúmeros problemas no exercício do poder público e no sistema de governo representativo tem-se defendido uma democracia participativa. Com isso tem-se a pretensão de que haja maior participação popular, o que consequentemente aumenta o poder decisório do povo, diminui a divisão entre os que planejam e decidem e os que executam e sofrem as ações, gerando também uma maior responsabilização nas ações individuais e coletivas. Assim, com a participação, é possível controlar a administração pública, de modo que o papel democrático não fique restrito ao poder de votar em representantes através dos mecanismos eleitorais. Importante: democracia mais do que dizer respeito a uma forma de governo, refere-se a um estado de ampla participação popular, um estado de espírito, um modo de relacionamento entre as pessoas. É uma maneira de se conduzir politicamente nas relações com os outros. É um caminho a seguir, a construir, a inventar. Porque participar: - Porque pode ser um processo coletivo transformador, contestatório, através do qual marginalizados (aqueles que não fazem parte) se incorporam a vida social ativamente e com poder decisório em várias instâncias; - Porque assim se pode assumir coletivamente o controle do próprio destino e o de sua comunidade; - Porque através da participação ativa se pode obter eficácia e eficiência das ações dos serviços públicos prestados à população; - Porque é prazeroso e saudável fazer parte de ações coletivas, compartilhar experiências, problemas, soluções, sentimentos; - Porque desse modo se pode fazer parte, tomar parte e ser parte do mundo e de seus acontecimentos. A participação na vida social e política pode ocorrer de forma passiva ou ativa e tem motivações diversas, desde interesses individuais, interesses de alguns grupos até os interesses da população em geral. Os resultados mais comuns são: aumento da consciência política, controle dos representantes políticos ou ainda dar legitimidade às ações do poder público. Como objetivo final se pretende a relativa autonomia dos grupos populares em relação ao poder de Estado e, portanto, a efetivação de uma sociedade democrática. No entanto a participação, assim como a política, tem diversos usos e pode servir para a manutenção do controle do povo por uma minoria de pessoas. Por isso, ATENÇÃO para o uso manipulador da participação social, especialmente quando a participação é limitada e restrita à aceitabilidade de algum projeto ou programa e quando prevalecem interesses apenas individuais, em detrimento dos coletivos. A participação política pode equilibrar os diferentes interesses, ou fazer prevalecer uns sobres outros. Por isso é importante saber e se perguntar quais são mesmo os fins políticos de sua participação? níveis de participação: 1. Informação 2. consulta opcional 3. consulta obrigatória 4. elaboração 5. cogestão 6. delegação 7. autogestão Tipos de ações formulação de política institucional definir objetivos e estratégias planos, programas e projetos administração de recursos execução avaliação Princípios da participação social: é um direito! Justifica-se por si mesma e não por seus resultados; desenvolve consciência crítica e empoderamento; potencial transformador, redistribuidor e descentralizador do poder; apropriação do povo, não exclui fontes externas de participação; é uma aprendizagem prática; pode ser provocada e organizada em grupos não acostumados com participação; respeita diferenças individuais nas formas de participação; facilitada pela organização (distribuição de funções) e comunicação (meios de expressão e troca de informações, dialogo, discussões, etc) pode resolver ou gerar conflitos; não é indispensável sempre (necessariamente não dispensa mecanismos de representação nem precisa assembleia permanente. Leituras consultadas e sugeridas: O que é a política? Hannah Arendt O que é participação social? Juan e Díaz Bordenave A microfísica do poder. Michel Foucault Saber e participação popular: diálogo e Aprendizagem da cidadania em saúde. Miriam Rosa