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DIFERENÇA ENTRE MANGUE E MANGUEZAL O termo " Mangue " origina-se do vocábulo Malaio, "Manggimanggi" e do inglês mangrove, servindo para descrever as espécies vegetais que vivem no manguezal, ou seja, a árvore. O termo "Manguezal" é utilizado para descrever uma variedade de comunidades costeiras tropicais dominadas por espécies vegetais, arbóreas ou arbustivas que conseguem crescer em solos com alto teor de sal, ou seja, um terreno cheio de mangue (o ecossistema). O QUE É O MANGUEZAL São regiões próximas ao mar, que recebem tanto água salgada, pela ação das marés, como água doce dos rios que ali desembocam. É um ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestres e marinhos, característicos de regiões costeiras tropicais e subtropicais estabelecendo-se nas zonas entre marés e sujeito ao regime das marés. Faixa de transição entre a terra e o mar, quase sempre, abrigados por rios e estuários. É constituído por uma vegetação lenhosa e arbórea, que coloniza solos lodosos, adaptados às condições específicas deste ambiente. No solo do lodo salgado e pouco arejado é rico em matéria orgânica e com baixo teor de oxigênio, desenvolvem-se plantas com adaptações muito especiais. Algumas árvores, pôr exemplo, têm raízes que permitem a fixação nesse tipo de solo ou que se protejam para fora da água, absorvendo assim o oxigênio do ar. Apresentam uma grande variedade de espécies de microorganismos, macro-algas, crustáceos e moluscos, adaptados ás constantes variações de salinidades e fluxo das marés. É o local favorável, à proteção, alimentação, reprodução e desova de muitos animais. No que diz respeito à energia e à matéria, são sistemas abertos, recebendo, em geral, um importante fluxo de água doce, sedimentos e nutrientes do ambiente terrestre e exportando água e matéria orgânica para o mar ou águas estuarinas. É um importante transformador de nutrientes em matérias orgânicas e gerador de bens de serviços. Os manguezais são ecossistemas que devem ser preservados, pois além de contribuir para a produtividade das regiões costeiras, permitem a reprodução e a criação de espécies comercialmente importantes, como peixes, camarões e ostras. ORIGEM Pesquisas indicam que as várias espécies de árvores de mangue originaram-se nas regiões do Indo-Pacífico, uma vez que nestas regiões há uma maior diversidade de espécies. Teorias sugerem que a sua migração para outras regiões do mundo, inclusive para a costa do Brasil, ocorreu há alguns milhares de anos atrás, através do transporte de propágulos de mangue (sementes germinadas) pelas correntes marítimas, quando os continentes encontravam-se mais próximos uns dos outros VEGETAÇÃO DO MANGUEZAL O Manguezal é composto por plantas lenhosas, mas também existem espécies herbáceas epífitas e aquáticas. A maioria das angiospermas, típicas do manguezal apresentam reprodução por viviparidade (as sementes permanecem na árvore mãe até se transformarem em embriões), conhecidas como propágulos. Existem cerca de cinqüenta espécies de árvores de mangue. Na região do Indo-Pacífico, concentra-se a grande maioria. Nas Américas e costa brasileira, são encontradas sete espécies pertencentes a quatro gêneros: Rhizophora, Avicennia, Lagunculária e Conocarpus. Rhizophora mangle (Mangue-Vermelho) É a espécie mais conhecida ao longo do Litoral Brasileiro, por apresentar características exóticas bem aparentes. É uma árvore de casca lisa e clara, que ao ser raspada mostra cor vermelha. Suas raízes escoras são visíveis a longas distâncias e crescem rapidamente para atingir o solo lamoso e dar estabilidade à planta. O sistema radicular é formado por raízes chamadas rizóforos e possui membranas permeáveis que filtram a água, não permitindo a passagem do sal para o interior da planta. É uma espécie tolerante ao alagamento por longos períodos. A sua estrutura reprodutiva (vivíparo) se dá através de propágulos que ao amadurecer se desprendem da árvore mãe e caem como lanças, apontadas para baixo, vindo a enterrar-se na lama na baixa mar. Sua casca é bastante rica em tanino, substância de cor vermelha e impermeabilizante. No início da colonização do Brasil foi muito explorada pelos curtumes para tingir couro e hoje tem sua exploração restrita e regulamentada, apesar da grande utilização pelas ceramistas artesãos do Espírito Santo, para tingimento e impermeabilização das panelas de barro e utensílios domésticos. Na Malásia, está sendo utilizada para a produção de álcool, repelentes naturais e remédios. Na Flórida e Equador, é utilizada para a proteção de hidrovias e projetos de desenvolvimento e urbanização litorâneas. Lagunculária racemosa (Mangue-Branco, mangue verdadeiro) É uma árvore pequena cujas folhas têm pecíolo vermelho com duas glândulas em sua parte superior, junto à lâmina da folha. Apresenta pneumatóforos menores do que os da Avicennia em média 10 cm de altura. Sua reprodução a exemplo dos outros gêneros, se dá através de propágulos e sementes. Seu poder germinativo pode durar aproximadamente 30 dias. É a espécie mais utilizada pelo caranguejo-uçá, para o cultivo de fungos e microorganismos, depois do apodrecimento das folhas no interior das tocas . Avicennia schaueriana (Conhecida também como Siriba, siriúba ou mangue preto) É uma árvore de casca lisa castanho-claro, que quando raspada mostra cor amarelada e apresenta folhas esbranquiçadas por baixo devido a presença de pequenas escamas. Localiza-se geralmente na parte protegida do manguezal, próxima a interface entre a água e a terra. Esse gênero é mais tolerante ás altas salinidades, elimina o sal do interior da planta através de estômatos localizados na superfície das folhas. O sistema radicular desenvolve-se horizontalmente, a poucos centímetros da superfície da lama e dessas raízes axiais saem ramificações que crescem eretas (aéreas), conhecidas como pneumatóforos, com a função de fazer a troca gasosa entre a planta e o meio ambiente. De reprodução vivípara através de sementes, que podem manter o seu potencial germinativo por até 100 dias, flutuando na água até encontrar local apropriado para o seu desenvolvimento. Avicennia germinas (Mangue Preto) São manguezais que desenvolvem-se melhor em ambientes de baixa salinidade. Possuem folhas com forma lanceolada e brilho bastante intenso. Conocarpus erectus (Mangue-de-Botão, Bolota) É uma árvore cuja as folhas apresentam pecíolos ligeiramente alagados além das duas glândulas, semelhantes às da Lagunculária. Esta planta não apresenta grande tolerância a salinidade típica dos manguezais. Gênero menos comum e geralmente ocorre em local pedregoso ou com a presença de areia de praia e a maré ocorre ocasionalmente. São poucas as ocorrências dessa espécie no litoral brasileiro. Nas faixas de transição entre o manguezal e o sistema de terra firme, ou em manguezais alterados, podem ocorrer outras espécies vegetais, tais como : O algodoeiro da praia ou embirra do mangue gênero Hybiscus, é um arbustos ramificado, com folhas em forma de coração, flores grandes e vistosas de cor amarelada. É uma planta muito usada na arborização de ruas nas cidades litorâneas. O algodoeiro de praia ocorre nos limites interiores do manguezal, em substratos mais firme e sob menor influência da água do mar. A Samambaia do mangue ou avenca, gênero Acrostichum, é uma terrestre cujas frondes (ou folhas) podem chegar a 2 m de comprimento. Quando a maré está baixa pode-se ver o praturá, gramínea do gênero Spartina, muito comum associada aos manguezais; assim como algumas ciperáceas (Scirpus, Eleocharis, Grenea). Geralmente forma uma franja frontal, entre o rio e o manguezal propriamente dito. Crescendo sobre a vegetação a cima citada podemos encontrar diversas epífitas, erroneamente denominadas parasitas pela população. São as diferentes espécies de liquens, musgos, samambaia, gravatás, filodentros, orquídeas e cactos, como também as algas que ocorrem na parte inferior dos troncos e nas raízes do mangue. Sobre troncos e ramos das árvores observa-se, com certa freqüência, uma semi parasita, a erva-de-passarinho, gêneros Struthanths e Phoradendro, cujo os frutos são apreciados pelos pássaros. Não podemos nos esquecer das bactérias e dos fungos como componentes importantes do manguezal onde exercem destacado papel, atuando como agente decompositores da matéria orgânica produzida por todo esse conjunto de produtores primário-vegetais. CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS DO MANGUEZAL Clima Embora seja um ecossistema tropical, também pode ocorrer climas temperados, sendo normalmente substituído por outros ecossistemas mais adequados as altas latitudes, como as marismas. Quanto à temperatura e a precipitação pluvial, as condições ideais para desenvolvimento dos manguezais estão próximas às seguintes: Temperaturas médias acima de 20o C; Média das temperaturas mínimas não inferior a 15o C; Amplitude térmica anual menor que 5o C; Precipitação pluvial acima de 1500mm/ano, sem prolongados períodos de seca. Salinidade A Salinidade intersticial é um parâmetro de grande importância uma vez que pode interferir no desenvolvimento de plantas, altura das árvores e distribuição de folhas. As espécies vegetais dos manguezais são plantas halófitas, próprias de ambientes salinos. Embora essas plantas possam se desenvolver em ambientes livres da presença do sal, em tais condições não ocorre formação de bosques, pois perdem espaço na competição com plantas de crescimento rápido, melhor adaptadas a presença de água doce. Marés As marés são os principais mecanismos de penetração das águas salinas nos manguezais. Essas inundações periódicas tornam o substrato favorável a colonização pela vegetação de mangue, isto porque excluem plantas que não possuem mecanismos de adaptação para suportar a presença do sal. A distância máxima de penetração de água salgada determina o limite do manguezal em direção à terra que pode atingir dezenas de quilômetros em direção às montanhas dos grandes rios. A amplitude de maré determina a renovação das águas superficiais e intersticiais, levando consigo certa quantidade de oxigênio. Essa renovação tem papel importante, seleção e fixação de propágulos, bem como no transporte e distribuição de matéria orgânica particulada e/ou dissolvida (folhas, galhos, restos de animais), para as regiões adjacentes. Substratos Os sedimentos do manguezal possuem características variáveis devido às suas diferentes origens. Esses substratos podem ser originados no próprio ambiente, pela decomposição de folhas, galhos, restos de animais (solos conhecidos como turfas). Podem ainda ser formados a partir de produtos de rochas de diferentes naturezas, associados a materiais vulcânicos, graníticos, gnaíssicos ou sedimentares, associados a restos de plantas e de animais, trazidos de fora do ambiente por ondas, ventos, correntes litorâneas ou fluxo de rios. Os substratos dos manguezais, de modo geral, têm muita matéria orgânica, alto conteúdo de sal, são poucos consistentes e possuem cor cinza escuro, com exceção dos embasamentos de recifes de coral e ambientes denominados por areias. A própria cobertura vegetal pode modificar as características do substrato devido à maior ou menor contribuição em matéria orgânica. As condições ambientais, como precipitação, marés, correntes, ondas, aporte de rios, tormentas, ventos fortes, podem alterar suas características. Embora os manguezais também possam se desenvolver em diferentes substratos, como os constituídos por partículas mais grosseiras (recife de coral, areias), eles se desenvolvem melhor em locais onde o substrato se apresenta menos consistente, com baixa declividade e granulométria fina. ZONAÇÃO E MARÉS A ação das marés varia ao longo das áreas de mangue, isto é, algumas zonas são inundadas diariamente em quanto outras serão atingidas apenas algumas vezes, em determinadas épocas, pelas grandes preamares de sizígia. Isso se dá pelo fato do terreno possuir variações na sua topografia propiciando assim a existência de locais mais baixos (inundados mais vezes pelas marés) e outros mais elevados (alagados com menor freqüência). A variação na freqüência de inundação do manguezal pelas marés, pode acarreta diferenças nas concentrações de sal no sedimento, tanto em relação a distância do mar, como em relação as de água doce. De um modo geral, as maiores salinidades são encontradas nos manguezais próximo ao mar e as menores, nos bosques de mangue próximo às margens dos rios. No entanto, em alguns locais onde a maré chega poucas vezes ou onde há menor influência de água doce (rios e/ou chuvas), as salinidades podem ser tão elevadas que as plantas de mangue não conseguem crescer. Isto ocorre quando as marés, ao atingirem estes locais, levam água e sal. Com a evaporação, aumenta a concentração de sais, agravada por um reduzido aporte de água doce. As diferentes espécies vegetais de mangue estão distribuídas no manguezal em zonas, em relação a linha d’água. Esse tipo de distribuição é chamado de zonação. Entende-se por zonação a distribuição dos organismos em áreas, camadas ou zonas distintas, caracterizando estratos horizontais e verticais. Cabe lembrar aqui que, devido a diversidade dos ambientes de manguezal, este esquema de zonação, apesar de bastante comum, não é obrigatoriamente encontrado em todos os manguezais. A distribuição da espécie de um dado local pode ser totalmente diferente daquela encontrada para as mesmas espécies em uma região adjacente. Dessa forma a zonação das espécies de mangue é variável de um manguezal para o outro, devido as peculiaridades ambientais de outro local. A zonação do manguezal depende da salinidade, das marés, do tipo de substrato e do grau de energia do local, ou seja, se o local é ou não protegido da ação das ondas, marés e rios. Partindo da franja dos bosques de mangue – zona limítrofe entre o estuário ou o rio e o manguezal -, em direção à terra firme, observamos mudanças nas características estruturais e diferenças na distribuição e nas densidades das espécies vegetais. Dessa forma tem geralmente o mangue vermelho (Rizophora) ocupando locais próximos ao mar na margem de rios e locais lagosos pois seus rizophoros esse tipo de mangue resista mais que os outros a alta energia e ao sedimento lamoso, sem ser arrancado. Já os mangues tinteira (Lagunculária) e siriúba (Avcennia) ocupam lugar mais afastado dos rios e das marés locais estes de topografia geralmente mais elevada com sedimento mais seco e mais arenoso. Esses locais são mais protegidos das ondas e da força dos rios (menor energia). Além de todos esses fatores, podemos citar ainda o tamanho e o peso dos propágulos como importante na zonação dos vegetais dentro do manguezal. Dessa forma, explica-se também a ocupação das áreas próximas ao mar por Rizophoras pelo fato desta planta possuir propágulos maiores e mais pesados que alcançam o substrato mesmo com a maré cheia. Já no caso da Avcennia e Lagunculária, pelo fato dessas possuírem propágulos pequenos e leves, estes só conseguem se fixar e se desenvolver em locais onde o substrato fique um período prolongado sem ser atingido pelas marés, pois caso contrário, esses propágulos por possuírem uma alta flutuabilidade, seria arrancados e carregados. Essas condições são encontradas nos locais mais afastados dos rios e do mar e mais elevado, justamente onde encontramos na maioria das vezes os bosques de Avcennia e Lagunculária. O mangue de botão (Conocarpus) algumas vezes é considerado como espécie verdadeira de mangue. Quando encontrado associados aos manguezais ocupa a zona posterior do mesmo, na transição para terra firme, em substratos mais elevados e arenosos com salinidades baixas. No brasil podemos dividir didaticamente o ecossistema manguezal em zonação horizontal, formada por quatro zonas distintas – externa, interna, apicum e de transição -, e zonação vertical. A largura das zonas varia de região para região, devido, principalmente, ao desenvolvimento e à distribuição das espécies no ecossistema. ZONAÇÃO HORIZONTAL I – Zona externa Localização: faixa mais ou menos estreita, em contato com o mar, o estuário ou o rio, sujeita a inundações periódicas as marés. Tipo e sedimento: areno-lodoso, rico em matéria orgânica. Fauna: bastante variada, destacando-se o sururu e algumas espécies de caranguejo. Durante a maré baixa animais como maguaris, saracuras, socós-boi, garças e mãos-peladas procuram alimento. Flora: comumente encontramos o mangue-vermelho. Observações: serve como área de descanso e de nidificação (fazer ninho) para algumas espécies de aves, como garças, biguás e fragatas. II – Zona interna Localização: Logo após a faixa externa. Tipo de sedimento: na porção anterior, areno-lodoso, rico em matéria orgânica e, na porção mais interna, tendendo a arenoso. Fauna: Caranguejos-marinheiros, caranguejo-aratu, caranguejo-uçá, caramujos-do-mangue. Durante a maré baixa é possível encontrar mãos-peladas, cutias, socós-boi e saracuras, entre outros animais, à procura de alimento. Flora: macroalgas fixas aos troncos e ás raízes-escora ou rizóforos e pneumatóforos. Bosque formado por mangue-branco e mangue-preto, podendo ainda formar bosques mistos com mangue-vermelho. Na parte mais arenosa predomina o mangue branco. Observações: Em alguns manguezais o norte do país, em áreas cujo sedimento é lodoso e menos consolidado, é possível encontrar cinco tocas de caranguejo-uçá por metro quadrado. O caranguejo-marinheiro habita troncos e galhos de árvores de mangue e o caranguejo-aratu sobe em árvores, mas faz toca no sedimento. III – Zona de apicum Localização: zona característica de manguezais localizados em regiões onde ocorrem secas prolongadas, como algumas áreas do litoral carioca, capixaba e nordestino. As marés atingem essa faixa com menor freqüência. Sedimento: arenoso e hipersalino, podendo conter matéria orgânica e nutrientes nas camadas inferiores. Fauna: caranguejo-chama-maré e caranguejo-uçá, durante o período chuvoso. Flora: faixa desprovida de vegetação, devido a hipersalinidade. Observações: as marés atingem essa zona com menor freqüência porque a topografia do terreno é mais elevada. IV – Zona de transição Localização: transição entre o ecossistema manguezal e o terrestre. Sedimento: Predominantemente arenoso, com salinidade muito baixa, próximo a zero. Fauna: algumas espécies de insetos, pássaros e lagartos associados ao ecossistema terrestre. Flora: mangue-de-botão, algodoeiro-do-mangue e avencão, entre outras de porte arbustivo, e algumas espécies de porte herbáceo. Observações: essa faixa bastante típica é facilmente reconhecida por apresentar características diferentes do ecossistema manguezal e do ecossistema terrestre. ZONAÇÃO VERTICAL Organismos – ostras, cracas, esponjas, caramujos-do-mangue e macroalgas – distribuem-se em faixas verticais, fixados em raízes-escora, pneumatóforos e troncos. Essa distribuição das espécies varia de acordo com a freqüência de inundação, amplitude de maré e disponibilidade de substrato. Durante as marés baixas, as raízes-escora de mangue-vermelho, da zona externa, ficam expostas mostrando claramente a zonação vertical. Também nas marés baixas, as ostras são mais facilmente capturadas por pescadores para o consumo. FAUNA Como é típico dos manguezais, é muito difícil identificar uma fauna exclusiva desse ecossistema. A maior parte das espécies de animais que ocorrem em manguezais também ocorrem em outros sistemas costeiros, como lagunas e estuários. Entretanto alguns desses animais têm suas maiores população em áreas de manguezal, sendo portanto típico, mais não exclusivo desses ecossistemas. Os manguezais abrigam uma grande variedade de animais provenientes dos ambientes terrestre, marinho de água doce podendo variar desde alguns mm, até dezenas de cm, destacando-se : Os moluscos: Muitos moluscos vivem enterrados na lama, como é o caso dos sururus, enquanto que outros se fixam às raízes do mangue, como as ostras, e outros ainda se encontram em galerias cavadas em pedaços de madeira, os turus. Podemos citar também como moluscos residentes no ambiente de manguezal, as lambretas, búzios, mexilhão, cracas; Os crustáceos: Dentre os crustáceos, o mais conhecido é o caranguejo (Ucides cordatus), e também os siris, tanto o azul quanto o vermelho. Os camarões, pitus, também são importantes no manguezal; As aves: O manguezal é um verdadeiro santuário de aves que vivem parte de sua vida nos manguezais, principalmente as migratórias (aquelas que estão sempre migrando de um lugar para outro) encontram nos mangues proteção para descansar e se reproduzir, tais como, as garças, os guarás, os falcões, biguás, etc; Os anfíbios: No manguezal os anfíbios encontram refúgio e alimento, dentre outros citamos os sapos, rãs e jias; Os Répteis: Os Répteis que podem ser encontrados nos manguezais são os cágados e os jacarés ; Os Insetos: Existem uma infinidade de insetos nos manguezais, os mais importantes são as mutucas, os maruins, mosquitos e as abelhas, que inclusive estão sendo muito aproveitadas para a apicultura nos bosques e Avicennia. Os Peixes: Os peixes podem passar toda a sua vida no manguezal, apenas uma fase ou apenas fazer migrações diárias de acordo com as mares, ou até mesmo fazer migrações semanárias, mensais ou anuais para a reprodução. Dentre as espécies, temos a sardinha, bagre, robalos, tainhas, baiacus, anchovas e outros; Os mamíferos: Os mamíferos representam uma fauna diversificada dentro dos manguezais. Muitos visitam a noite, à procura de alimento. Morcegos, macacos, guaxinins, capivaras e outros. A fauna no manguezal pode ser dividida em dois grupos, de acordo com o tempo que passa neste ecossistema: O primeiro é formado por animais residentes, ou seja, aqueles que passam toda sua vida no mangue, principalmente os crustáceos e moluscos, como os caranguejos que vivem em tocas na lama, se alimentando de restos de folhas e pequenas algas presentes nas raízes das árvores e sobre o sedimento. O segundo é constituído por animais semi-residentes, aqueles que vivem no mangue durante uma fase de sua vida. Um dos representantes desse grupo é o camarão, qual nasce no mar e vem para o mangue, ainda pequeno, em busca de proteção e alimento, retornando ao ambiente marinho depois de atingir o estágio juvenil. Já o pitu, deixa a água doce para desovar no manguezal. Seus "filhotes" passam os primeiros estágios de vida ali, retornando mais tarde para os rios. Na categoria de semi-residentes, incluem-se ainda muitos peixes que visitam os manguezais durante a maré cheia. Outros animais que freqüentam esses ecossistemas são as aves e os mamíferos. Entre os habitantes do manguezal, os mais conhecidos são: Aratu - Nome científico: Goniopsis cruentata. Tem como hábito subir nas árvores de mangue. Possui carapaça quadrada, pernas vermelhas com manchas púrpuras, pretas, brancas e pêlos pretos. As puãs são vermelhas, porém amarelo-darás nas extremidades. Alimenta-se de folhas. É bastante ativo sobre raízes, nos troncos e sobre a lama molhada. A época de acasalamento é entre janeiro e fevereiro. Caranguejo-Uçá – Nome científico: Ucides cordatus. Entre os habitantes do manguezal é um dos mais conhecido. Importante alimento para moradores de diversas regiões brasileiras e principal fonte de renda de inúmeras famílias. No litoral do nordeste é muito apreciado e consumido nas barracas de praia, bares e restaurantes. Possui carapaça verde-azulada e pernas cobertas por pêlos. Alimenta-se de restos de folhas e algas, assim como de micro-vegetais (fungos). Vive em tocas de lama, geralmente sobre a sombra, em locais alagados pelas marés cheias. Acasala-se entre dezembro e março e reproduz-se entre março e junho, variando de acordo com as condições climáticas da região. É durante as "andadas", ocasião em que deixa suas tocas para o acasalamento. Atualmente, a expressiva redução na população desses crustáceo, resultante da caça predatória, do desrespeito à legislação ambiental e da precariedade da fiscalização dos manguezais, provoca até mesmo o temor extinção da espécie. Siri - Nome Científico: Callinectes danae, C. sapidus. Os siris habitam desde as margens lodosas até as áreas mais profundas do estuários. Seu alimento pode ser tanto de origem animal quanto vegetal, sendo que sua preferência é de animais em processo inicial de decomposição . Suportam grande variações de salinidades e de temperatura. Sua reprodução geralmente ocorre em maio. As fêmeas podem carregar 150.000 a 200.000 ovos. Guaiamu - Pata choca (fêmea ovada). Nome científico: Cardisoma guaiamuni. Possui coloração azul, sendo que as extremidade de suas patas e puãs são esbranquiçadas. O macho geralmente apresenta a puã esquerda maior do que a direita. Se alimenta de forma variada e composta por vegetais e animais. Também muito consumido, muitas vezes criado em cativeiro, em regime de engorda. Possui hábitos semi noturnos. Vive em locais mais secos, fora do alcance regular das margens. Escava suas tocas. A época de acasalamento é entre março e abril. Teredo, turu ou buzano, é um molusco perfurador de madeiras, de corpo alongado e vermiforme, revestido por um tubo calcário. Além da madeira alimenta-se também de plâncton. Sua importância diz respeito à contribuição na r eciclagem da matéria orgânica e como fonte de alimento para populações ribeirinhas. No entanto causa grandes prejuízos às embarcações de madeira. Os manguezais estão entre os principais responsáveis pela manutenção de boa parte das atividades pesqueiras das regiões tropicais. Servem de refúgio natural para reprodução e desenvolvimento (berçário), assim como local para alimentação e proteção para crustáceos, moluscos e peixes de interesse comercial. Além dessas funções, os manguezais ainda contribuem para sobrevivência de aves, répteis e mamíferos, muitos deles integrados às listas de espécies ameaçadas de extinção. A Fauna e a Flora dos manguezais são altamente especializadas, sobrevivendo em equilíbrio com o ambiente. Entretanto, distúrbios induzidos, principalmente por ações humanas podem desequilibrar essas relações levando á perca de populações inteiras de fauna e flora. A IMPORTÂNCIA DO MANGUEZAL Os manguezais são ecossistemas de grande importância no equilíbrio ecológico, sendo um berçário favorável para o desenvolvimento de muitas espécies de animais e plantas. É muito valioso o estudo do manguezal, principalmente para a preservação desse meio. O primeiro contato com o ecossistema manguezal pode deixar muitas pessoas desapontadas, porém com o conhecimento deste local tão cheio de vida pode-se ter uma visão completamente diferente . Só quem vivência diariamente das riquezas de um manguezal sabe o quanto é importante a sua preservação . Pelo menos 2/3 das espécies de peixes explorada economicamente dependem desse ecossistema para a sua existência. O manguezal é um dos ecossistemas mais importantes do planeta, sendo responsável pela manutenção de muitos dos recursos naturais da zona costeira. A grande quantidade de detrito vegetal, como folhas, galhos e frutos das árvores, produzida por esse ecossistema constitui-se de alimento energético rico em proteínas para diversos componentes da fauna estuarina e marinha, vez que, durante o processo de decomposição são colonizados por microorganismos. Assim, formam a base para diversas cadeias alimentares. Parte dessa produção é levada pela maré às águas costeiras adjacentes, representando também no meio marinho recurso para manutenção de várias espécies de crustáceos de grande valor comercial, como siri, peixes e camarões. Este último, representa uma atividade de grande importância econômica em todo litoral brasileiro, tanto para a pesca artesanal quanto para o industrial. Muitos outros animais são explorados comercialmente, como a lambreta, o sururu, a ostra, caranguejo-uçá e o guaiamu. Além da produção da matéria orgânica, a estrutura das raízes de mangue, formando emaranhados, oferece proteção para espécies da fauna marinha, durante os primeiros estágios de vida, contra seus predadores, formando um refúgio para diversas espécies animais ameaçadas de extinção, principalmente aves marinhas que neles encontram uma das poucas áreas costeiras em que a atividade humana é reduzida. Estudos mostram que a uma relação entre a produtividade da pesca das regiões litorâneas e a conservação desses ecossistemas. Em algumas regiões tropicais a diminuição do pescado esteve diretamente associada à destruição dos manguezais . Além dos recursos naturais de utilização direta, como a fauna e flora, os manguezais produzem vários serviços indiretos, muitas vezes não percebidos pelas pessoas. Os manguezais protegem a linha de costa e as margens dos estuários contra erosão, nesse sentido são utilizados, em alguns países, para proteção de hidrovias e zonas urbanas litorâneas. Ao longo dos rios os manguezais protegem as áreas ribeirinhas contra as enchentes, diminuindo a força das águas. São importantes retentores de metais pesados e grande seqüestrador de carbono. Vários produtos podem ser obtidos dos manguezais como remédios, álcool, adoçantes, óleos, tanino, etc... Sua área pode ser utilizada para turismo ecológico, educação ambiental, apicultura, piscicultura e criação de outras espécies marinhas, além de sua principal função que é de ser berçário de várias espécies animais e vegetais. As áreas de manguezais são, portanto, de extrema importância para as populações, uma vez que delas provém boa parte das proteínas (mariscos e peixes), tão essenciais para subsistência. Curandeiras empregam diferentes produtos vegetais fazendo uso de suas propriedades bactericidas e adstringentes na cura de várias moléstias comuns ao ambiente. O tanino, produto obtido da casca das árvores, serve para proteger as redes e as velas das embarcações. Como se pode notar o manguezal tem muito a oferecer, porém, o seu potencial deve ser utilizado de maneira racional, de forma sustentada, atendendo às suas necessidades de recomposição como períodos de desovas, perfloração das espécies vegetais, entre outras... Em todo litoral brasileiro a pesca do camarão é uma das importantes atividades econômicas, tanto no campo da pesca artesanal como no da industrial. Os manguezais são importantes do ponto de vista geomorfológico, ecológico, sócio-econômico e turístico. Porém o conhecimento de ecossistemas tão especial mostra que a realidade é bem diferente. Algumas comunidades ribeirinhas mantêm a relação de grande dependência como os recursos oferecidos pelos manguezais. Utilizando a madeira para a construção das casas e dos barcos. Boa parte das proteínas da dieta alimentar dessas populações provém dos manguezais. Para que os recursos dos manguezais sejam utilizados racionalmente, de forma sustentada, é preciso que o homem entenda melhor o funcionamento desse ecossistema e utilize sua área seja para recreação, turismo, educação ambiental, apicultura ou criação de peixes e crustáceos. No entanto o importante não é somente conhecer o que os manguezais têm a nos oferecer, mas também entender que deles dependem milhares de vidas de animais aquáticos e terrestres. PRODUTIVIDADE DOS MANGUEZAIS Diversos autores consideram os detritos originados das árvores de mangue como a mais importante fonte de energia nas águas costeiras. Folhas, frutos, flores e galhos, produzidos em diversos ecossistemas de zonas temperadas tropicais, incluindo os manguezais. Esse material produzido pelos diferentes bosques é conhecido pelo nome de Serapilheira. SERAPILHEIRA Entre os diversos destinos da Serapilheira produzida pelos manguezais, existam dois devem ser destacados: Ficar sobre o próprio piso do bosque, sendo consumida por detritivos, ao mesmo tempo que vai se decompondo; Ser transportada pelas águas que lavam os manguezais durante as preamares, sofrendo processo de decomposição nas águas costeiras adjacentes. Os processos de decomposição da serapilheira tornam a matéria orgânica produzida nos manguezais disponível aos organismos consumidores. Nos manguezais, e nas águas costeiras vizinhas, a matéria orgânica originada dos detritos é muito importante para as cadeias alimentares sendo que em algumas regiões costeiras a produção das espécies de mangue possui significado muito maior que o das algas (fitoplâncton e fitobentos). CADEIA ALIMENTAR As cadeias alimentares começam com os produtores primários, sintetizando matéria orgânica a partir da energia solar. Esse material é necessário aos herbívoros que, por sua vez servem de alimento aos carnívoros dos vários níveis tróficos. Por ocasião da decomposição dos tecidos vegetais do mangue, tende a haver um enriquecimento em proteínas totais, enquanto a serapilheira é transformada em detrito. Durante os diferentes processos que integram a chamada decomposição ocorre decréscimo das proteínas vegetais e aumentos daquelas de origem animal e bacteriana, com o aumento da superfície disponível a colonização das partículas de origem vegetal. O material foliar proveniente de bosques de mangue denominados pela siriúba (Avicennia), tende a se decompor mais rapidamente que aqueles gerados pelas folhas de rizophora (mais lento) ou pela Lagunculária, com taxa intermediária entre os dois gêneros anteriores. Essas taxas são também influenciadas pelas freqüências de inundação determinante, inclusive, das formas em que a matéria orgânica é exportada. EXPORTAÇÃO As partes externas dos manguezais tendem a exportar material particulado, enquanto que mais para o interior dos bosques, onde a circulação é menos intensa, a serapilheira sai sob forma de partículas, detritos e com material dissolvido. A matéria orgânica dissolvida pode ser utilizada diretamente, ou então após ser transformada em agregados orgânicos devidos a processos físicos, tais como floculação e coagulação. Matéria floculado precipita, convertendo em importante fonte de alimentos para peixes e camarões De maneira geral pode-se inferir que grande parte da produtividade dos manguezais se transformam em tecido de peixes e de outros organismos marinhos, capturados pelas frotas pesqueiras comerciais e artesanal. A pesca do camarão é uma das atividades econômicas mais importante no litoral brasileiro. Alguns pesquisadores encontram correlação significativa entre o rendimento comercial da pesca deste crustáceo, por hectare de manguezais e de bancos de gramíneas com a latitude. DISTRIBUIÇÃO NO BRASIL No Brasil as florestas de manguezais distribuem-se ao longo de 6800 Km de costa do Oiapoque (Amapá), extremo norte do país, à Praia do Sonho, no litoral de Santa Catarina. Na região norte do Brasil, devido a ocorrência de condições ambientais favoráveis, principalmente pela grande amplitude de maré e grande aporte de água doc e de nutrientes, as árvores de mangue pode atingir 30 metros de altura e o substrato lodoso com uma profundidade que chega a 15 metros. No litoral nordestino, as menores amplitudes de marés e a reduzida pluviosidade, associadas à configuração da costa, podem limitar o desenvolvimento dos manguezais. Eles são mais baixos e estruturalmente menos complexos que o do litoral norte. Rhizophora mangle é uma espécie mais conspícua e atinge tipicamente 10-20m de altura. As florestas desenvolvem-se geralmente como estreitas franjas ao longo de estuários, lagoas e deltas e raramente atingem mais de 15m. Entretanto, no interior de baías protegidas podem ocorrer extensas florestas particularmente no litoral da Bahia. No restante do litoral brasileiro, até à Praia do Sonho, em Santa Catarina, os manguezais podem formar extensas áreas em locais protegidos, alcançando bom desenvolvimento. IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE OS MANGUEZAIS Eventos como os fenômenos naturais e atividades humanas podem resultar na ação de fatores ou forças, causando alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente no qual também são incluídas as relações sócio-econômicas. Essas alterações ou efeitos ecológicos são chamados de impactos ambientais A intensidade dos tensores e suas formas de ação dependem do tipo da extensão da distribuição do espaço, bem como de suas intensidades e duração determinando o grau de impacto sobre o ambiente. Além disso é preciso lembrar que cada tipo de manguezal reflete uma adaptação diferente às condições ambientais que condicionam sua composição e aspectos, fazendo com que eles sejam mais ou menos sensíveis a tipos particulares de fatores causadores de impacto. No que se refere a duração, a atuação de tensores sobre o meio ambiente pode ser chamada de: Aguda, quando ocorre por um curto período de tempo e Crônica, quando ocorre por prazos de tempos mais longos. Da mesma maneira podem existir impactos agudos e crônicos atuando simultaneamente. A maioria dos fenômenos naturais, principalmente quando ocorre em baixa e média intensidade atuam como tensores agudos afetando os manguezais temporariamente tornando quase sempre possível o restabelecimento da qualidade ambiental anterior, entre eles: ventos fortes; inundações; fluxos das águas; represamento da área; marés extremas; frentes atmosféricas. Por outro lado, alguns eventos induzidos pelo homem como: extrativismo vegetal e animal; agricultura; portuária; industrial; mineração; oleodutos e gasodutos; rodovias e ferrovias; aterros sanitários; salinas; barragem; acidente de contaminação por vazamentos de petróleo ou de produtos tóxicos; desmatamentos e aterro de manguezais para dar lugar a portos; estradas; agricultura; carcinocultura estuarina; invasões urbanas e industriais; derramamento de petróleo; lançamento de esgoto; lixo; poluentes industriais; agrotóxicos; entre outros, atuam como tensores crônicos perpetuando sua ação e seus impactos a longo prazo, podendo inclusive provocar a morte do manguezal. Além dos impactos diretos, a necessidade de grandes volumes de água potável para as regiões urbanas costeiras e da geração de energia elétrica levou à construção de inúmeras barragens em rios que servem não só como depósito de água mas também como armadilha para os sedimentos transportados pelo rio, que seriam, de outra forma, transportados para os estuários e deltas dominados por manguezais. Como resultado, muitas áreas costeiras tornaram-se erosivas. A retirada de uma fonte geradora de poluição de um local não implica necessariamente na interrupção imediata de seus impactos. Um determinado impacto que esteja afetando o manguezal pode desencadear o surgimento de outros ao longo do tempo. O acúmulo de substâncias tóxicas do ambiente pode ter seus efeitos multiplicados a longo prazo, atingindo inclusive a saúde humana. Em várias regiões do país os manguezais encontram-se seriamente ameaçados, em processo adiantado de desaparecimento. A destruição desses ecossistemas gera grandes prejuízos, inclusive para economia, seja direta ou indiretamente, uma vez que são perdidas importantes funções ecológicas desempenhadas por esses ecossistemas. Outro problema grave observado é a pesca predatória, onde é muito comum a captura do caranguejo-úça durante a época da reprodução, ou seja, nas "andadas" , fora da época ideal não respeitando o seu defeso, quando torna-se presa fácil. É preciso conhecer e respeitar os ciclos naturais dos manguezais para que o uso sustentado de seus recursos sejam estabelecidos é principalmente a pesca com petrechos inadequados, bombas e demais artifícios usados pelos que não respeitam a verdadeira arte da pesca. PROTEÇÃO LEGAL A zona costeira é considerada como de interesse especial para o País, sendo definida como patrimônio nacional pela Constituição Federal. A Carta Magna a destaca como uma porção do território nacional que deve merecer atenção especial do poder público quanto a sua ocupação e ao uso de seus recursos. O País conta razoável conjunto de dispositivos legais (leis, decretos, portarias, resoluções), sendo a legislação federal reafirmada, nos níveis estadual e municipal, por meio de órgãos/agências governamentais específicos, e de normas para proteção dos recursos naturais. A Constituição do Brasil, em 1988, no capítulo VI (do Meio Ambiente), Art. 225, diz que " Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade, o dever de defendê-lo e de preservá-lo para as presentes e futuras gerações". O manguezal dispõe de vários diplomas legais para a sua proteção tanto a nível federal como estadual e/ou municipal. Essas Leis e Decretos refletem uma grande preocupação em proteger-se os recursos costeiros do litoral brasileiro. Os Manguezais são Áreas protegidas ou de Preservação Permanente ou Reservas Ecológicas conforme o Código Florestal, Lei 4.771, Art. 2, de 15/09/1965, Art.18 da Lei 6.938, de 31/08/1981, Decreto 89336, de 31 de abril de 1984 e resolução 4 do CONAMA, de 18/09/1985, representado, por si só, um grande obstáculo contra a degradação desse ecossistema. No Estado da Bahia, o Conselho Estadual de Meio Ambiente – CEPRAM, criado pela Lei nº 3,163, de 4 de outubro de 1973, é o Órgão Superior do Sistema Estadual de Administração dos Recursos Ambientais. O Centro de Recursos Ambientais – CRA, autarquia criada pela Lei Delegada nº 31, de 3 de março de 1983, vinculado à secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia – SEPLANTEC, é responsável pela execução do Sistema Estadual de Administração e Recursos Ambientais. O CRA tem por finalidades coordenar e executar a política formulada pelo CEPRAM. A Constituição do Estado da Bahia, de 05/10/1989, Capítulo VII (do Meio Ambiente) no seu Art. 215, estabelece como áreas de preservação permanente, entre outros, os manguezais e as áreas estuarinas. A zona costeira é declarada, a exemplo da Constituição Federal, como patrimônio estadual. Na esfera municipal, vários municípios, ao longo do litoral brasileiro já dispõe de Leis específicas de proteção aos manguezais. O amparo de que dispõem os manguezais pode ser interpretado como um reflexo do reconhecimento de sua grande importância. Porém, na prática, a legislação tem mostrado pouca eficácia na salvaguarda dos recursos naturais desses ecossistemas. O desconhecimento das leis por parte da população, a carência de recursos e pessoal nos órgãos fiscalizadores e os interesses políticos e econômicos imediatos, são alguns dos fatores que contribuem para a crescente destruição dos manguezais. Só através de uma nova consciência e cumprimento absoluto das Leis, é que direitos e deveres serão resguardados, entre eles, o direito ao meio ambiente saudável e equilibrado. A legislação ambiental, a exemplo do que tem ocorrido em outras partes do País, tem mostrado, na prática, pouca eficácia na proteção do ecossistema manguezal. Faltam instrumentos que viabilizem a aplicação da lei, considerando-se que a população carente já está submetida às "penalidades" impostas por sua condição social. Pobreza e degradação ambiental estão intimamente relacionadas, se por um lado, o comprometimento dos recursos naturais agravam a situação de pobreza na medida em que restringem oportunidades de desenvolvimento (sustentável). A pobreza, por outro, resulta na utilização inadequada dos recursos naturais (aterro de manguezais para a moradia). Se faz necessário o desenvolvimento de políticas que contemplam as necessidades básicas das populações de baixa renda (habitação, saneamento básico, saúde), de maneira que a proteção ambiental seja socialmente justa. De outra forma, de pouco adiantará o conjunto de diplomas legais disponíveis. Só através de uma nova consciência e cumprimento absoluto das leis, é que direitos e deveres serão resguardados, entre eles, o direito ao meio ambiente saudável e equilibrado. FATOS HISTÓRICOS E FORMAS DE UTILIZAÇÃO DO MANGUEZAL Relatos sobre manguezal feitos por diversos naturalistas e entidades governamentais até a metade deste século apresentavam-nos como áreas de pouca salubridade, sem utilidade para a agricultura, e fonte potencial de doenças transmitidas pelos insetos que as habitam. Assim, a atitude frente a esse ecossistema foi sempre a de drenar e aterrar para posterior utilização. Os manguezais do litoral brasileiro têm chamado a atenção de estudiosos e naturalistas desde o período colonial, resultando em uma ampla literatura sobre esses ecossistemas. A primeira fase dos estudos sobre os manguezais brasileiros se estende da época colonial até meados da década de 1970, sendo caracterizada por estudos descritivos da fauna e da flora e dos usos tradicionais de seus recursos naturais pela população caiçara. Entre esses estudos, incluem-se relatos de expedições de naturalistas e viajantes que até hoje são fonte importante de dados sobre esses ecossistemas. Os manguezais brasileiros formam uma unidade faunística e florística de grande relevância, representada por um grupo típico de animais e plantas que, por sua singularidade, tem sido objeto de extensos levantamentos específicos da sua biodiversidade, resultando em uma extensa lista de contribuições, com cerca de mil títulos, incluindo estudos abrangentes sobre a fauna e flora, particularmente aqueles de importância econômica e de interesse para a saúde pública. Além disso, diversos manguezais brasileiros abrigam sítios arqueológicos, tendo contribuído para o estudo das populações pré-histórica litorâneas. A partir de 1980, programas de pesquisas interdisciplinares têm abordados os manguezais em nível de ecossistema, particularmente na modelagem de bacias deposicionais, em estudos sedimentológicos e geomorlógicos, hidroquímicos e sobre a biogeoquímica e contaminação ambiental. As populações dos países tropicais tenderam a se concentrar, ao longo da história, às margens de rios e pelo litoral, tanto para facilitar o acesso ao interior como para assegurar o escoamento e a exportação de seus produtos. A localização dos manguezais em áreas protegidas dos litorais, como estuários, baías e lagoas, coincide com as áreas de maior interesse para as comunidades humanas, uma vez que são as mais proveitosas para a instalação de complexos industriais-portuários e para a expansão turístico-imobiliária. Esta infeliz coincidência tem levado, ao longo do tempo, à erradicação dos manguezais em grande parte dos litorais dos trópicos em todo o mundo. Entretanto, os manguezais sempre geraram recursos naturais primários para as populações locais, principalmente as de baixa renda. As explorações de vários desses recursos é, ainda hoje, a principal fonte de rendimentos para as populações pobres dos litorais dos trópicos. Tornaram-se também uma alternativa aceitável para os pescadores artesanais afastados de sua atividade tradicional pela rápida expansão das grandes companhias pesqueiras. O produto do mangue mais largamente utilizado é a madeira, empregada nas construção de habitações de famílias de baixa renda. O tanino, obtido das cascas das árvores, servem para proteger as redes de pesca e as velas das embarcações, cuja fibras naturais tornam-se mais resistentes aos microorganismo responsáveis pelo apodrecimento desse material. Devido à sua rigidez e ao alto conteúdo de tanino (o que a protege de decomposição), é também muito utilizada na construção de pontes, ancoradouros, postes e dormentes. O alto teor de tanino possibilita ainda seu emprego na indústria de curtição de couros. Outro uso importante da madeira do mangue é como fonte de combustível sob forma de lenha e carvão, e recentemente tem sido empregada na produção de álcool de madeira, com algum sucesso, em certos países da Ásia. O carvão obtido das madeiras de mangue possui características de combustão similares às do carvão mineral, o que aumenta sua procura, causando infelizmente o desmatamento de áreas extensas. Boa parte das proteínas da dieta alimentar dessas populações provém dos manguezais. Tudo de uma forma bem artesanal. As mulheres e as crianças saem durante a maré baixa a procura de mariscos, tanto aqueles que se enterram no lodo como das ostras, presas aos rizóforos das árvores do mangue vermelho e quanto isso, os homens pescam nas águas protegidas dos estuários. Esses agrupamentos populacionais são pobres e, de um modo geral não recebem apoio dos órgãos governamentais. Ainda existem as curandeiras que empregando diferentes produtos vegetais do mangue, fazem uso das propriedades bactericidas e adstringentes dos vegetais do mangue, na cura de várias moléstias comuns a esse ambiente. Afora os usos diretos evidentes da flora e da fauna dos manguezais outros usos não tão patentes, decorrentes das características ecológicas particulares desses ecossistemas, são até mais importantes do que a utilização direta. Devido à sua localização fronteiriça entre os ambientes marinhos, terrestre e dulcícola, e à estrutura arquitetônica de suas árvores, os manguezais funcionam como verdadeiros quebra-mares contra as intempéries oceânicas, protegendo tanto a região costeira quanto a bacia de drenagem adjacente contra a erosão. Esta característica é aproveitada em algumas regiões tropicais (como no Equador e na Flórida) para a proteção de hidrovias e de projetos de desenvolvimento e urbanização litorâneos. Da mesma forma ao longo dos rios, os manguezais fornecem proteção enchentes às áreas ribeirinhas, diminuindo a força da inundação e preservando os campos agricultáveis adjacentes. Os manguezais fornecem ainda refúgio natural para diversas espécies de animais marinhos, cujo indivíduos jovens têm sua sobrevivência bastante aumentada pela proteção que a estrutura radicular dos mangues fornece contra ação de predadores. De modo geral, a maior parte do pescado capturado nas áreas litorâneas tropicais (tainhas, camarões, siris e caranguejos) goza desta proteção durante sua fase jovem e em época de postura, dependendo intimamente da integridade desses ecossistemas. Entretanto, para que os recursos dos manguezais sejam utilizados racionalmente de forma sustentada, é preciso que o homem entenda melhor o funcionamento desse ambiente. Deve-se evitar fatos comuns hoje em dia, como por exemplo, a captura de caranguejos durante sua época de reprodução, pois é justamente nesta fase que ficam mais expostos, tornando-se presa fácil. Ainda falta muito para o conhecimento completo sobre o número total das espécies da fauna e da flora existentes nos manguezais, mas mesmo assim com base em levantamentos biográficos é possível quantificar os organismos a eles associados. Através da geração de bens de serviços diretos e indiretos, os manguezais adquirem grande importância para o homem. Quando o homem induz um pacto de qualquer espécie seja ele aterro, derramamento, desmatamento ou depósito de lixo entre outros, o bosque de mangue deixar de contribuir com muitos de seus benefícios, prestados gratuitamente. Para compensar os impactos induzidos pelo homem a sociedade acaba pagando não só pelos bens que deixou de receber, como por aqueles serviços que é obrigado a substituir, com exceção da pesca artesanal, é relativamente restrito. Lenha e carvão são utilizados somente em pequenas escalas em algumas padarias e olarias. A produção de madeira para a construção e a extração de taninos é praticamente inexistente, embora troncos e galhos de mangue sejam ainda muito utilizados na confecção de instrumentos de pesca, como currais para peixes, e de peças navais. Os principais usos dos manguezais do litoral brasileiro são indiretos. As florestas de manguezal são fundamentais na retenção de sedimentos continentais trazidos por rios e pelo escorrimento pluvial e contribuem significativamente para a melhoria da qualidade das águas. Outros usos dos manguezais, como produção de madeiras, utilização de áreas de manguezal para a agricultura ou pecuária, são de pouca importância econômicas e social no Brasil, o que resultou na manutenção de grandes áreas de manguezais ainda em estado natural. Na verdade, os impactos antropogênicos diretos sobre manguezais, como a extração de madeira, sal, aqüicultura etc., são pouco importantes no país. Entretanto, têm crescido de forma acelerada os impactos indiretos sobre esse ecossistemas, particularmente devido à urbanização e industrialização do litoral. CURIOSIDADE 1 hectare de manguezal preservado contem appr.: 46.000 caranguejos adultos (maior que 5,5cm) 830.000 caranguejos jovens em vários estágios 35.000 siris de mangue 18.000 guaiamuns 850.000 ostras 850.000 sururus 1.000.000 de maçunins 900.000 lambretas 850.000 unhas-de-velho Produção de biomassa por hectare/ano: 20 ton. BIBLIOGRAFIA CANDISANI, L. Criação de camarões muda cara de manguezais e afeta ser equilíbrio ecológico. In: Galileu. Ano 10, n. 115. 2001. CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. Rio de Janeiro: Bloch Editores, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 jun. 2002. CRA - Centro de Recursos Ambientais. Legislação Ambiental: Constituição Estadual (Bahia). Capítulo VIII do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.cra.ba.gov.br/legi/legicoes.htm>. Acesso em: 07 jul. 2002. 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