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 Plano de Aula: 2 - Introdução ao Estudo do Direito INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO TÃtulo 2 - Introdução ao Estudo do Direito Número de Aulas por Semana 2 Número de Semana de Aula 2 Tema Direito e Sociedade Objetivos ·  Distinguir a relação de dependência entre o direito e a sociedade; ·  Perceber que o Direito tem como finalidade prevenir o surgimento de conflitos sociais, e solucionar tais conflitos quando ocorrerem; ·  Compreender que uma das finalidades do Direito é o bem comum, que significa o conjunto de condições sociais que permitam aos cidadãos o desenvolvimento ativo e pleno de si próprios; ·  Compreender o Direito como uma ciência social aplicada, identificado seu objeto e seus métodos próprios; ·  Identificar as distinções entre direito e moral; ·  Compreender as semelhanças, distinções e influências recÃprocas entre Direito e Moral; ·  Reconhecer e distinguir as diversas concepções a respeito da relação Direito e Moral configuradas nas Teorias dos CÃrculos; ·  Conhecer os métodos utilizados pela Ciência do Direito. Estrutura do Conteúdo 1.  A Sociedade e o Direito – Relação De Dependência 1.1. O Direito e sua função social; 1.2. A relação entre a Sociedade e o Direito; 1.3. A interação social e a ordem social.  2. O Direito e o Controle Social 2.1. Ordem social e o Direito; 2.2. Controle social e segurança jurÃdica.  3. Relação entre o Direito e a Moral 3.1. Semelhanças, distinções e influências recÃprocas.  4. As teorias dos cÃrculos e o “mÃnimo éticoâ€� 4.1. Teoria dos CÃrculos Concêntricos, Secantes e Independentes; 4.2. O “MÃnimo Éticoâ€�, de Jellineck.  5. A metodologia da ciência do direito.  Referências bibliográficas: NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 30. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2008. ISBN 9788530926373 Nome do capÃtulo: CapÃtulo IV – Sociedade e Direito N. de páginas do capÃtulo: 8 Este conteúdo deverá ser trabalhado ao longo das duas aulas da semana, cabendo ao professor a dosagem do conteúdo, de acordo com as condições objetivas e subjetivas de cada turma.  O Direito como Ciência Para haver ciência, é preciso: ·  Conhecimentos adquiridos metodicamente; ·  Conhecimentos que tenham sido objeto de observação sistemática; ·  Conhecimentos que contenham validez universal, pela certeza de seus dados e resultados.  Os autores que negam a cientificidade do Direito apoiam-se na ausência do terceiro requisito: não é como fogo que arde do mesmo modo na Pérsia e na Grécia. – Aristóteles. Os que o afirmam defendem a ideia de que “no lugar onde ele atua, tem validade universalâ€� - Hans Kelsen O Direito e sua Função Social. Finalidades do Direito.  Nesta aula, seria importante o professor trabalhar, a partir dos casos concretos, com os conceitos de sociabilidade humana e ordem social, tendo como referencial a organização e disciplinamento da sociedade realizados por intermédio do Direito, ou seja, concretizados através de normas exclusivamente jurÃdicas.  Sugere-se que o docente trabalhe no sentido de que o aluno conclua que a finalidade do Estado de Direito é manter pacÃfica a convivência social, através de “regras de condutaâ€� capazes e eficazes de sustentar e manter a solidez social. E, quando vamos além, e falamos em Estado Democrático de Direito, estamos nos referindo a um Estado de participação ampla, a ponto de fornecer ao indivÃduo mecanismos de defesa, de preservação de direitos, de respeito à s garantias e liberdades, passÃveis de serem invocados até mesmo contra o próprio Estado. E, de tal forma, a sociedade é, pois, um sistema único que integraliza as relações humanas, dirigido à satisfação de suas necessidades.  Ao docente caberá iniciar estabelecendo uma relação entre o Direito a e Moral, na medida em que ambos são instrumentos de controle social. Pode-se  iniciar a apresentação do conteúdo programático a partir da afirmação segundo a qual dever moral não é exigÃvel por ninguém, reduzindo-se a dever de consciência, ao “tu devesâ€�, enquanto o dever jurÃdico deve ser observado sob pena de sofrer o devedor os efeitos da sanção organizada, aplicável pelos órgãos especializados da sociedade. Assim, no direito, o dever é exigÃvel, enquanto na moral, não.  O direito, apesar de acolher alguns preceitos morais fundamentais, garantidos com sanções eficazes, aplicáveis por órgãos institucionais, tem campo mais vasto que a moral, pois disciplina também matéria técnica e econômica indiferente à moral, muitas vezes com ela incompatÃveis, como, por exemplo, alguns princÃpios orientadores do direito contratual, fundados no individualismo e no liberalismo, inconciliáveis com a moral cristã e, portanto, com a moral ocidental. Mas, apesar disso, o jurÃdico não está excluÃdo de julgamentos éticos.  O conflito gera litÃgio e este, por sua vez, quebra o equilÃbrio e a paz social. A sociedade não tolera o estado litigioso porque necessita de ordem, tranquilidade, equilÃbrio em suas relações. Por isso, tudo faz para evitar e prevenir o conflito, e aà está uma das principais finalidades sociais do Direito – evitar tanto quanto possÃvel a colisão de interesses. O Direito existe muito mais para prevenir do que para corrigir, muito mais para evitar que os conflitos ocorram, do que para compô-los. Pode-se considerar, objetivamente, as seguintes funções e finalidades que competem ao direito: controle social, prevenção e composição de conflitos de interesses, promoção de ordem, segurança e justiça. Trata-se de resolver os conflitos de interesse, reprimindo e penalizando os comportamentos socialmente inadequados, organizar a produção e uma justa distribuição de bens e serviços, e institucionalizar os Poderes do Estado e da Administração Pública; tendo sempre como meta final e superior, a realização da justiça e o respeito aos direitos humanos.  Relação entre o Direito e a Moral (Teorias dos CÃrculos). O Direito e a Moral: semelhanças e distinções.  Ponto de partida: Direito e Moral = instrumentos de controle social Distinções entre a moral e o direito: Várias tentativas teóricas têm sido feitas no sentido de estabelecer critérios formais de distinção entre a Moral e o Direito. As distinções podem ser enfocadas sob dois aspectos distintos: quanto à forma e quanto ao conteúdo do Direito e da Moral. a- Distinção quanto à forma – enquanto o Direito se apresenta revestido de heteronomia, coercibilidade e bilateralidade-atributiva, a Moral é autônoma, incoercÃvel e bilateral-não atributiva. - Determinação do Direito e a Forma não concreta da Moral - Enquanto o Direito se manifesta mediante um conjunto de regras que definem a dimensão da conduta exigida, que especificam a fórmula do agir; a Moral estabelece uma diretiva mais geral, sem particularizações. - A Bilateralidade do direito e a Unilateralidade da Moral - As normas jurÃdicas possuem uma estrutura imperativo-atributiva, isto é, ao mesmo tempo em que impõem um dever jurÃdico a alguém, atribuem um poder ou direito subjetivo a outrem. Daà se dizer que a cada direito corresponde um dever. Se o trabalhador possui direitos, o empregador possui deveres. A moral possui uma estrutura mais simples, pois impõe deveres apenas. Perante ela, ninguém tem o poder de exigir uma conduta de outrem. Fica-se apenas na expectativa de o próximo aderir à s normas. Assim, enquanto o Direito é bilateral, a Moral é unilateral. Chamamos a atenção para o fato de que este critério diferenciador não se baseia na existência ou não de vÃnculo social. Se assim o fosse, seria um critério ineficaz, pois tanto a Moral quanto o Direito dispõem sobre a convivência. A esta qualidade vinculativa, que ambos possuem, utilizamos a denominação alteridade, de alter, outro. Miguel Reale[1] denomina esta caracterÃstica do Direito de bilateralidade atributiva, sendo que o autor apresenta a bilateralidade (simples, no caso), como atributo da Moral. - Exterioridade do Direito e Interioridade da Moral - O direito se caracteriza pela exterioridade, enquanto que a Moral, pela interioridade. Com isto se quer dizer, modernamente, que os dois campos seguem linhas diferentes. Enquanto a Moral se preocupa com a vida interior das pessoas, como a consciência, julgando os atos exteriores apenas como meio de aferir a intencionalidade, o Direito cuida das ações humanas em primeiro plano e, em função destas, quando necessário, investiga o animus do agente. - Coercibilidade do Direito e incoercibilidade da Moral - Uma das notas fundamentais do Direito é a coercibilidade. Entre os processos que regem a conduta social, apenas o Direito é coercÃvel, ou seja, capaz de acionar a força organizada do Estado, para garantir o respeito aos seus preceitos. A via normal de cumprimento da norma jurÃdica é a voluntariedade do destinatário, a adesão espontânea. Quando o sujeito passivo de uma relação jurÃdica, portador do dever jurÃdico, opõe resistência ao mandamento legal, a coação se faz necessária, essencial à efetividade. A coação, portanto, somente se manifesta na hipótese de não observância dos preceitos legais. A Moral, por seu lado, carece do elemento coativo. É incoercÃvel. Nem por isso as normas da Moral social deixam de exercer uma certa intimidação. Consistindo em uma ordem valiosa para a sociedade, é natural que a inobservância de seus princÃpios provoque uma reação por parte dos membros que integram o corpo social. Esta reação, que se manifesta de forma variada e com intensidade relativa, assume caráter não apenas punitivo, mas exerce também uma função intimidativa, desestimulante da violação das normas morais. b- Distinção quanto ao conteúdo – de plano, percebemos que a matéria do Direito e da Moral é comum: a ação humana. Contudo, o assunto foi colocado das mais diversas maneiras pelo jurista através da história. Ao dispor sobre o convÃvio social, o Direito elege valores de convivência. O seu objetivo limita-se a estabelecer e a garantir um ambiente de ordem, a partir do qual possam atuar as forças sociais. A função primordial do Direito é de caráter estrutural: o sistema de legalidade oferece consistência ao edifÃcio social. A realização individual; o progresso cientÃfico e tecnológico; o avanço da Humanidade passam a depender do trabalho e discernimento do homem. A Moral visa ao aperfeiçoamento do ser humano e por isso é absorvente, estabelecendo deveres do homem em relação ao próximo, a si mesmo e, segundo a Ética superior, para com Deus. O bem deve ser vivido em todas as direções.  Distinção entre Direito e Moral (Washington de Barros Monteiro): ·   O campo da moral é mais amplo; ·  O Direito tem coação, a moral é incoercÃvel; ·  A moral visa à abstenção do mal e à prática do bem. O Direito visa evitar que se lese ou prejudique a outrem; ·  A moral dirige-se ao momento interno, psÃquico; o Direito, ao momento externo, fÃsico (ato exteriorizado); ·  A moral é unilateral, o Direito bilateral; ·  A moral impõe deveres. Direito impõe deveres e confere direitos.  Analisados estes pontos, temos, então, um novo conceito de Direito: Direito - É a ordenação heterônoma, coercÃvel e bilateral atributiva das relações de convivência, segundo uma integração normativa de fatos conforme valores. – (REALE, Miguel)  A Teoria dos CÃrculos: 1.  A teoria dos cÃrculos concêntricos - Jeremy Bentham (1748 – 1832), jurisconsulto e filósofo inglês, concebeu a relação entre o Direito e a Moral, recorrendo à figura geométrica dos cÃrculos. A ordem jurÃdica estaria incluÃda totalmente no campo da moral. Os dois cÃrculos seriam concêntricos, com o maior pertencendo à Moral. Desta teoria infere-se: a) o campo da Moral é mais amplo do que o do Direito; b) o Direito se subordina à Moral. As correntes tomistas e neotomistas, que condicionam a validade das leis à sua adaptação aos valores morais, seguem esta linha de pensamento.  2.  A teoria dos cÃrculos secantes - Para Du Pasquier, a representação geométrica da relação entre os dois sistemas não seria a dos cÃrculos concêntricos, mas a dos cÃrculos secantes. Assim, Direito e Moral possuiriam uma faixa de competência comum e, ao mesmo tempo, uma área particular independente. De fato, há um grande número de questões sociais que se incluem, ao mesmo tempo, nos dois setores. A assistência material que os filhos devem prestar aos pais necessitados é matéria regulada pelo Direito e com assento na Moral. Há assuntos da alçada exclusiva da Moral, como a atitude de gratidão a um benfeitor. De igual modo, há problemas jurÃdicos estranhos à ordem moral, como, por exemplo, as regras de trânsito, prazos processuais, divisões de competência na Justiça.  3.  Teoria dos cÃrculos independentes. Ao desvincular o Direito da Moral, Hans Kelsen concebeu os dois sistemas como esferas independentes. Para o famoso cientista do Direito, a norma é o único elemento essencial ao Direito, cuja validade não depende de conteúdos morais. Segundo Kelsen, o direito é o que está na lei, é o direito positivado.  4.  A teoria do “mÃnimo éticoâ€� - Desenvolvida por Jellinek, a teoria do mÃnimo ético consiste na ideia de que o Direito representa o mÃnimo de preceitos morais necessários ao bem-estar da coletividade. Para o jurista alemão, toda sociedade converte em Direito os axiomas (verdade intuitiva, máxima) morais estritamente essenciais à garantia e preservação de suas instituições. A prevalecer essa concepção, o Direito estaria implantado, por inteiro, nos domÃnios da Moral, configurando, assim, a hipótese dos cÃrculos concêntricos.  Paulo Nader[2] emprega a expressão mÃnimo ético para indicar que o Direito deve conter apenas o mÃnimo de conteúdo moral, indispensável ao equilÃbrio das forças sociais.  Para Paulo Dourado de Gusmão[3], a bilateralidade e a coercibilidade são, de modo geral, notas especÃficas ao direito. É incompatÃvel com a moral o constrangimento; o dever moral deve ser observado voluntariamente, enquanto constrangimento é essencial ao direito. A consciência, a vontade e a intenção em si são incontroláveis juridicamente. A sanção jurÃdica é bem diferente da sanção moral.  Mas nem todas as prescrições morais são tuteladas pelo direito, pois se o fossem, o direito seria a imposição, pelo poder social, da moral de uma época, civilização ou sociedade. Muitas das prescrições morais, que não são essenciais à paz, à segurança e ao convÃvio sociais, não se encontram no direito.  O autor conclui: “o direito é heterônomo, bilateral e coercÃvel, enquanto a moral é autônoma, unilateral e incoercÃvel.â€�  Washington de Barros Monteiro[4] também coloca que a principal diferença entre a moral e o direito repousa efetivamente na sanção. A moral, tendo em vista o fim a que se destina, só comporta sanções internas (remorso, arrependimento, desgosto Ãntimo, sentimento de reprovação geral). Do ponto de vista social, tal sanção é ineficaz, pois a ela não se submetem indivÃduos sem consciência e sem religião. O direito, ao inverso, conta com a sanção para coagir os homens. Se não existisse esse elemento coercitivo, não haveria segurança nem justiça para a humanidade. O campo da moral é mais amplo, abrangendo os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com seus semelhantes, enquanto o Direito é mais restrito, compreendendo apenas os deveres do homem para com os semelhantes. A moral visa à abstenção do mal e à prática do bem, enquanto o objetivo do direito é evitar que se lese ou prejudique a outrem. A moral dirige-se ao momento interno, psÃquico, volitivo, à intenção que determina o ato, ao passo que o direito se dirige ao momento externo, fÃsico, isto é, ao ato exterior. A norma que estabelecesse a escravidão seria uma norma imoral. A norma que aceitasse a segregação racial também seria uma norma imoral. Supondo-se que um abastado credor cobrasse uma dÃvida, mesmo sabendo que isto faria com que o devedor fosse à miséria, ocorreria uma postura imoral, porém o direito fecharia os olhos para suas consequências. A Teoria do MÃnimo é equivocada, o mais correto seria a figura dos cÃrculos secantes (teoria de Du Pasquier). Pela força do ordenamento jurÃdico, em última instância considera-se jurÃdica a norma que seja ao mesmo tempo jurÃdica e moral. Ex.: O contribuinte deve comunicar à Receita Federal a mudança de endereço - norma jurÃdica somente “Deves praticar a caridadeâ€�- norma moral somente “Deves falar a verdadeâ€�- norma moral somente “Deves ser grato ao benfeitorâ€�- norma moral somente “Deves respeitar os mais velhosâ€�- norma moral somente.  Norma que proÃbe matar - norma moral e jurÃdica (além de religiosa e de trato social). É no Direito Penal e no Direito de FamÃlia que a moral faz-se representar mais fortemente. A influência da moral é muito grande. Mesmo aqui há normas imorais. Definir um mÃnimo ético, nestes casos, “não seria um absurdoâ€�.  Há, pois, que distinguir um campo de Direito que, se não é imoral, é pelo menos amoral, o que induz a representar o Direito e a Moral como dois cÃrculos secantes. Podemos dizer que dessas duas representações - de dois cÃrculos concêntricos e de dois cÃrculos secantes, - a primeira corresponde à concepção ideal, e a segunda, à concepção real, ou pragmática, das relações entre o Direito e a Moral.  Vale mencionar que, na visão Kelseniana, o Direito seria totalmente desvinculado da moral. Kelsen concebeu os dois sistemas de esferas independentes. Para o famoso cientista do Direito, a norma é o único elemento essencial ao Direito, cuja validade não depende de conteúdos morais. As representações gráficas têm vantagens e desvantagens. Entre as desvantagens está a de se simplificar excessivamente os problemas. Direito e Coação: Normas de controle social ou éticas podem ser cumpridas espontaneamente ou por cumprimento forçado. Visão moral kantiana: A moral é o mundo da conduta espontânea. Um ato moral decorrente da força descaracteriza-o, não sendo verdadeiramente moral. A norma moral não pode ser fruto da coação. A moral é incompatÃvel com a força, é incoercÃvel e só admite comportamento espontâneo.  Influência da Moral no Direito Os campos da moral e do Direito entrelaçam-se e interpenetram-se de diversas maneiras. As normas morais tendem a converter-se em normas jurÃdicas, como sucedeu, por exemplo, com o dever do pai de velar pelo filho e com a indenização por acidente de trabalho.  O Direito e a heteronomia. As normas de direito são postas pelo legislador, pelos juÃzes, pelos usos e costumes, sempre por terceiros, podendo coincidir ou não os seus mandamentos, com as convicções que temos sobre o assunto. Podemos criticar as leis, das quais dissentimos, mas devemos agir de conformidade com elas, mesmo sem lhes dar adesão de nosso espÃrito. Isso significa que elas valem objetivamente, independentemente, e a despeito da opinião e do querer dos obrigados. Essa validade objetiva e transpessoal das normas jurÃdicas, as quais se põem, por assim dizer, acima das pretensões dos sujeitos de uma relação, superando-as na estrutura de um querer irredutÃvel ao querer dos destinatários, é o que se denomina heteronomia. Na definição do Mestre Aurélio[5]: “Heteronomia é a condição de pessoa ou de grupo que receba de um elemento que lhe é exterior, ou de um princÃpio estranho à razão, a lei a que se deve submeterâ€�. Foi Kant o primeiro pensador a trazer à luz essa nota diferenciadora, afirmando ser a Moral autônoma, e o Direito heterônomo. Nem todos pagam imposto de boa vontade. No entanto, o Estado não pretende que, ao ser pago um tributo, se faça com um sorriso nos lábios; a ele, basta que o pagamento seja feito nas épocas previstas. Por outro lado, a adesão espontânea à s leis não descaracteriza a heteronomia do direito. Diz-se que o Direito é heterônomo, visto ser posto por terceiros aquilo que juridicamente somos obrigados a cumprir. Daà Miguel Reale afirma: “Direito é a ordenação heterônoma e coercÃvel da conduta humana.â€�[6]  Direito e Bilateralidade No entendimento de Paulo Nader e Paulo Dourado de Gusmão: O Direito é bilateral (havendo dois lados de uma mesma moeda): então haveria um Direito Subjetivo X Dever JurÃdico(este pode ser violado pelo não cumprimento do devedor, por exemplo) A moral é unilateral: então seria __(nada)__X Dever moral (a este não há a contraposição de um “direito moralâ€�) No entendimento de Miguel Reale, que usa terminologia diferente e rigor terminológico acentuado: O Direito (exigÃvel pelo titular do direito subjetivo) é bilateral atributivo (exigibilidade do dever)=>A bilateralidade do direito admite a exigibilidade do dever. “Há bilateralidade atributiva quando duas ou mais pessoas se relacionam segundo uma proporção objetiva que as autoriza a pretender ou a fazer garantidamente algoâ€�(REALE, 2000). Bilateralidade atributiva é, pois, uma proporção intersubjetiva, em função da qual os sujeitos de uma relação ficam autorizados a pretender, exigir, ou a fazer, garantidamente algo. A moral é bilateral (meramente/porém não atributiva). Para Reale, a palavra bilateral, nos dois parágrafos acima, tem o sentido de vÃnculo social. Mera bilateralidade = liame ou vÃnculo social (REALE,2000). OBS: As posições A e B postulam o mesmo significado, utilizando de terminologias diferentes, não de conteúdo. As relações jurÃdicas e as relações morais envolvem mais de uma pessoa obrigatoriamente, sendo o critério do número de pessoas envolvidas falho para a diferenciação. CrÃtica: Não é correto estabelecer uma “muralhaâ€� entre direito e moral, pois o Direito não se preocupa só com a exteriorização e a moral com os aspectos interiores. A moral também necessita da prática exterior da intenção. O Direito, por sua vez, em determinadas ocasiões, se questiona das intenções de quem comete certos crimes, notadamente os dolosos e culposos. De maneira idêntica, pode-se dizer que o Direito Civil não prescinde do elemento intencional. Há um dispositivo expresso do Código Civil que declara que os contratos devem ser interpretados segundo a intenção das partes contratantes. No mesmo Código Civil, verifica-se que os atos jurÃdicos podem ser anulados por dolo, erro, coação ou fraude. Foi a garantia da liberdade religiosa que levou pela primeira vez a diferenciar-se o direito da moral; embora a teoria da exterioridade fosse errônea, teve grande valor histórico.  Direito é Exterior - Moral é Interior Sendo o Direito exterior, este é marcado pela coercibilidade(que não está sempre presente, mas pode ser utilizado), para garantir a efetividade do cumprimento da norma. Da Teoria errada houve uma conclusão correta, que foi a Teoria da coercibilidade (coação do direito é apenas virtual).  1.  REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2000. 2.  NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000. 3.  GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. 28. ed. Rio de Janeiro:  Forense, 2000. 4.  MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva,1967. V 1. 5.  HOLANDA-FERREIRA, A. B. de. Novo Dicionário da LÃngua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 6.  REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2000. Aplicação Prática Teórica Os conhecimentos apreendidos serão de fundamental importância para a reflexão teórica envolvendo a compreensão necessária de que o direito é fruto da sociedade, não a cria nem a domina, apenas a exprime e modela. Tais conhecimentos serão base para a compreensão futura da disciplina Sociologia JurÃdica e Judiciária. Para tal, serão utilizados os seguintes casos:  Caso Concreto Função social do Direito Quando Paulo Roberto chegou, a aula já estava acabando. Silenciosamente, encaminhou-se para o fundo da sala, sentou-se e ficou ali ouvindo o professor que concluÃa uma aula de Introdução ao Direito, afirmando que aquela disciplina tinha como principais objetivos abrir para os alunos as portas do Curso de Direito e despertá-los para o gosto e o entusiasmo pelo Direito e que um dos objetivos da Introdução ao Direito é estimular a reflexão do aluno sobre o que é o Direito e o papel que desempenha ou pode desempenhar dentro da estrutura social. Por fim, o professor deixou duas questões na lousa para os alunos responderem. Paulo Roberto pede, então, a você, seu colega de classe, que o ajude nesta tarefa. Vamos à s questões: 1.  O que é o Direito?  É possÃvel definir o termo “Direitoâ€� de maneira homogênea e definitiva?  2.  Seria o Direito mero instrumento de controle social e organização para manter a ordem?  Ou seria o Direito um instrumento de proteção e defesa da pessoa e de transformação social? 3.   Caso Concreto 2  Relação entre direito e moral (Teorias dos CÃrculos) e Teoria Tridimensional do Direito Prof.as ValquÃria Soares Cavalcanti e Andresa Aparecida Franco Câmara  Thiago Souza, menor de idade, recorre à Justiça, requerendo alimentos em face de seus avós. Na oportunidade, a justificativa para tal pedido foi a de que teriam eles (avós) melhores condições financeiras do que os pais. Porém, a Justiça negou o pedido de alimentos requerido contra os avós, porque, com base no art. 1.698, CC/02, não ficou demonstrada a impossibilidade de os pais prestarem assistência ao filho menor. Alegou o juiz que a responsabilidade pelos alimentos é, em primeiro lugar, dos pais e filhos, e, secundariamente, dos avós e ascendentes em grau ulterior, desde que o parente mais próximo não possa fazê-lo. Nesta mesma direção, a Revista JurÃdica CONSULEX – Ano VIII – n° 172, em 15/03/04, já informava que a responsabilidade de avós é complementar, valendo apenas nos casos em que os pais não estiverem em condições financeiras de prestar essa assistência alimentar ao filho.  Diversos autores formularam teorias que buscam enfrentar um dos problemas mais complexos da Ciência do Direito: as diferenças entre a Moral e o Direito, que caracterizam os sistemas da moral e o jurÃdico.  ·  A solidariedade sempre foi considerada uma das caracterÃsticas marcantes das relações familiares, seu verdadeiro alicerce. Qual das teorias dos cÃrculos se aplica ao caso em questão, fundamentalmente no que se refere à obrigação de prestação de alimentos pelos pais e pelos avós?  ·  É correto dizer que Direito e Moral são independentes? Justifique sua resposta, comentando, sucintamente, o caso concreto em exame, à luz das teorias que envolvem essa questão.