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GESTÃO FINANCEIRA E CUSTOS Prof. Adrian Dambrowski Prof. Carlo Enrico Bressiani U n i v e r s i d a d e R e g i o n a l d e B l u m e n a u Reitor Prof. Dr. Eduardo Deschamps Vice-Reitor Prof. Dr. Romero Fenili Pró-Reitora de Ensino de Graduação Profa. Ms. Sônia Regina de Andrade Pró-Reitor de Administração Prof. Dr. Edesio Luiz Simionatto Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Prof. Dr. Clodoaldo Machado Divisão de Modalidades de Ensino Coordenação Geral Prof. Ms. Alexander Roberto Valdameri Equipe Multidisciplinar Técnica Airton Zancanaro Alexandre Adaime da Silva Gerson Luís de Souza Léo Fath Equipe Multidisciplinar Pedagógica Profa. Ms. Daniela Karine Ramos Diego Fernando Negherbon Profa. Ms. Henriette Damm Profa. Ms. Iris Weiduschat Administrativo Viviane Alexandra Machado Saragoça Odair José Albino Centro de Formação Profissional SAPIENCE Ltda Dirigente Prof. Ms. Kiliano Gesser Equipe Administrativa Prof. Carlos Alberto Alves de Oliveira Prof. Dr. Carlo Enrico Bressiani Prof. Ms. Kiliano Gesser Coordenação Pedagógica Profª Olga Sansão Gesser Diagramação Alvin Noriler 2008 FURB – Universidade Regional de Blumenau Divisão de Modalidades de Ensino Rua Antônio da Veiga, 140 Bairro: Victor Konder Blumenau – SC - 89012-900 Fone: (47) 3321-0577 E-mail: dme@furb.br Site: www.furb.br/ead SAPIENCE Educacional Rua Belarmino João da Silva, 52 Bairro: Santa Terezinha Gaspar – SC – 89110-000 Fone: (47) 3330-5100 E-mail: secretaria@centrosapience.com.br Site: www.centrosapience.com.br Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme decreto nº 1825, de 20 de dezembro de 1907. “Impresso no Brasil / Printed in Brazil” Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da FURB Dambrowski, Adrian D156g Gestão financeira e custos / Adrian Dambrowski, Carlo Enrico Bressiani. - Blumenau : Edifurb ; Gaspar : SAPIENCE Educacional, 2008. 102 p. : il. - (Pós-Graduação.Modalidade a distância) Bibliografia: p. 101-102. ISBN: 978-85-7114-212-1 1. Ensino a distância. 2. Administração financeira. 3. Custos. I. Bressiani, Carlo Enrico. II. Título. CDD 378.03 Professor Adrian Dambrowski Graduado em Administração (Gestão Empresarial) pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), mestre em Administração (Gestão de Organizações) pela mesma instituição e especialista em Gestão Financeira e Custos pelo Instituto Catarinense de Pós Graduação (ICPG). Atualmente é funcionário do Banco do Brasil, docente na Sociedade Blumenauense de Ensino Superior (IBES) e atua no programa de pós-graduação a distância do convênio FURB/ Sapience. Professor Carlo Enrico Bressiani Engenheiro Civil pela Universidade Regional de Blumenau, MBA em Gestão de Empresas Industriais pelo Institut Quimic de Sarrià e Dr. em Administração e Direção de Empresas pela Universitat Ramon Llull de Barcelona. Professor de graduação e pós-graduação em disciplinas da área financeira e gestão de projetos, gerente financeiro da Unidade Design de Eventos, Diretor Administrativo-Financeiro da Sapience e consultor na área financeira. Também atua como parecerista em projetos de pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie e referee em revistas da área de administração de empresas. SUMÁRIO 1 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA ...................................................... 11 1.1 IMPORTÂNCIA DA GESTÃO FINANCEIRA .........................................................12 1.1.1 Conceito de Finanças .......................................................................................12 1.1.2 Objetivo do Administrador Financeiro ................................................................13 1.1.3 Diferença Entre Gestão Financeira e Gestão Contábil ......................................13 1.1.4 Regime de Caixa x Regime de Competência ....................................................14 1.2 QUADROS FINANCEIROS ..................................................................................15 1.2.1 Investimentos ....................................................................................................15 1.2.2 Amortizações e Depreciações ..........................................................................16 1.2.3 Métodos de Depreciação..................................................................................22 1.2.4 Receitas............................................................................................................23 1.2.5 Receita Bruta ....................................................................................................23 1.2.6 Impostos ...........................................................................................................24 1.2.7 Custos ..............................................................................................................25 1.2.8 Estoques ...........................................................................................................25 1.2.9 Despesas .........................................................................................................31 1.3 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS ...................................................................31 1.3.1 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) ..............................................32 1.3.2 Balanço Patrimonial ..........................................................................................33 1.3.4 Fluxo de Caixa ..................................................................................................38 1.4 CAPITAL DE GIRO...............................................................................................40 1.4.1 Necessidade de Capital de Giro .......................................................................41 1.4.2 Saldo de Tesouraria ..........................................................................................42 1.4.3 Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro ................................................................43 2 DECISÕES DE FINANCIAMENTOS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS .............47 2.1 DECISÕES DE FINANCIAMENTOS ....................................................................47 2.1.1 Custo de Capital ...............................................................................................48 2.1.2 Efeitos dos Impostos sobre a Renda .................................................................48 2.1.3 Custo de Capital Próprio ...................................................................................49 2.1.4 Custo do Capital de Terceiros ...........................................................................49 2.2 ALAVANCAGEM..................................................................................................49 2.2.1 Alavancagem Operacional ................................................................................50 2.2.2 Alavancagem Financeira ...................................................................................53 2.2.3 Alavancagem Combinada .................................................................................54 2.3 ANÁLISE DE INVESTIMENTOS ..........................................................................55 2.3.1 Pay Back Simples .............................................................................................57 2.3.2 Pay Back Descontado.......................................................................................59 2.3.3 Valor Presente Líquido (VPL) ............................................................................60 2.3.4 Taxa Interna de Retorno .....................................................................................62 3 CUSTOS ................................................................................................................67 3.1 FUNDAMENTOS DE CUSTOS ...........................................................................68 3.1.1 Separação de Custos, Despesas, Investimentos e Perdas ...............................68 3.1.2 Avaliação de Estoques ......................................................................................70 3.1.3 Custo das Compras ..........................................................................................71 3.2 MÉTODOS DE CUSTEIO ....................................................................................74 3.2.1 Custeio Direto e Indireto ....................................................................................74 3.2.2 Custeio por Absorção .......................................................................................77 3.2.3 Custeio Variável ................................................................................................81 3.2.4 Custeio ABC .....................................................................................................86 3.3 ANÁLISES DE CUSTOS .....................................................................................95 3.3.1 Análise das Relações Custo, Volume e Lucro....................................................95 3.3.2 Ponto de Equilíbrio ............................................................................................97 3.4 FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA ................................................................98 3.4.1 Impostos ...........................................................................................................98 3.4.2 Markup ..............................................................................................................99 REFERÊNCIAS ......................................................................................................103 APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a), Bem vindo(a) à disciplina Gestão Financeira e Custos. Este é o nosso Caderno de Estudos, material elaborado com o objetivo de contribuir para a realização de seus estudos e para a ampliação de seus conhecimentos sobre o assunto. A carga horária desta disciplina é de 45 horas e cabe a você administrar sua aprendizagem e determinar o tempo para seus estudos e o aprofundamento dos temas tratados. Lembre-se, porém, de que há um prazo limite para a conclusão dos estudos. Você deverá realizar as avaliações presenciais nas datas previstas no cronograma do curso. Os capítulos foram organizados de forma didática e complementar. Eles apresentam os textos básicos, com questões para reflexão e indicam outras referências a serem consultadas. Desejamos a você um bom trabalho e que aproveite ao máximo o estudo dos temas abordados nesta disciplina! 11 C A P ÍT U LO 1 1 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Objetivos de Aprendizagem 1. Relacionar o significado do termo "finanças", o papel do administrador financeiro e as diferenças entre gestão financeira e gestão contábil. 2. Demonstrar o que são investimentos, amortizações e depreciações, bem como sistemas de amortizações existentes e os mais usados no Brasil; as formas de se determinar a depreciação de bens; a relação de investimentos com a incidência de impostos e a discriminação dos impostos existentes no Brasil; a gestão de despesas e custos, além de formas de custeio e a administração dos estoques, gerindo a ordem de saída destes para, desta forma, apurar o custo da mercadoria armazenada por meios matemáticos. 3. Explicar a demonstração contábil denominada DRE (Demonstração do Resultado do Exercício) bem como a sua estrutura; interpretar o conceito de Balanço Patrimonial e a disposição dos elementos que constituem essa demonstração contábil e demonstrar o conceito e aplicação do fluxo de caixa. 4. Levantar o conceito de Capital de Giro bem como apurar a sua necessidade; a determinação do saldo de tesouraria, do ciclo operacional e financeiro - e como estes se relacionam. INTRODUÇÃO Podemos conceituar finanças como a arte de gerir recursos que, para o caso de uma organização empresarial, se concentra no estudo do planejamento financeiro, administrando os ativos e captando fundos para a mesma. Ou seja, estamos tratando do estudo e da gerência dos ativos empresariais, analisando projetos de investimentos. Você vai perceber que gestão financeira está intimamente relacionada com a contabilidade e com a economia, podendo ser vista como uma forma de economia aplicada, fundamentada em conceitos econômicos e fazendo uso de informações contábeis. Nesse primeiro capítulo de nossa jornada será abordada a relação triangular entre a administração financeira, a contabilidade e a economia. A relevância do fator econômico para o desenvolvimento do meio financeiro vai nos levar à necessidade de se situar no ambiente operacional no qual estão Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 12 inseridas as organizações. Estamos falando de dois conceitos econômicos tratados por macroeconomia (ambiente global em que a organização opera) e da microeconomia (ambiente interno onde se contemplam as estratégias operacionais). Assim, vamos dar início ao nosso estudo conhecendo a importância da gestão financeira onde, além de lhe explicarmos o conceito de finanças e o objetivo do administrador financeiro, também trataremos da distinção entre gestão financeira e gestão contábil, onde a primeira fará uso do regime de caixa, ao passo que a segunda trabalha com o regime de competência, que serão definidos e explicados no decorrer do estudo. Teremos ainda a oportunidade de lhe demonstrar os quadros financeiros, que nos levarão a interpretar o que ocorre quando tratamos de investimentos, levando em consideração diversos fatores tais como: amortizações, depreciações, custos, despesas e estoques, considerando ainda a incidência do fator tributário (impostos). Ainda nesse primeiro capítulo, explicaremos também algo sobre as demonstrações financeiras comumente usadas no dia-a-dia dos setores financeiros das organizações; conhecendo ferramentas como a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), o balanço patrimonial e o fluxo de caixa; o que nos permitirá a compreensão dos ciclos: operacional e financeiro, levando-nos a situações nas quais vamos explicar do que se trata, na administração do capital de giro. 1.1 IMPORTÂNCIA DA GESTÃO FINANCEIRA A gestão financeira representa o conjunto de ações e procedimentos administrativos que tem por tarefa o planejamento, a análise e o controle das atividades financeiras da organização. Trata-se de tarefa administrativa que permita visualizar a atual situação da empresa. Para melhor entendimento da importância da gestão financeira, primeiramente vamos entender do que tratam as finanças. 1.1.1 Conceito de Finanças Finanças podem ser definidas como uma técnica ou ciência de administrar fundos. Praticamente todas as pessoas, sejam físicas ou jurídicas, obtêm receitas ou levantam fundos, gastam ou investem. A gestão financeira detém a tarefa de gerir o relacionamento de instituições, mercados e instrumentos envolvidos na transferência de fundos entre pessoas, empresas e governos (GITMAN, 2002). Antes de adentrarmos no assunto em questão, é importante que você compreenda o significado de finanças, que corresponde a um conjunto de recursos disponíveis circulantes em espécie, que podem ser usados em transações e negócios com transferência e circulação de dinheiro. A importância de se distinguir esse conceito é justificada pela necessidade de se analisar essas questões para prover o conhecimento da real situação econômica dos fundos da empresa, a qual está sendo administrada, com relação aos seus bens e direitos garantidos (FREZATTI, 2000). Se você observar o cotidiano de uma organização, vai perceber que as finanças fazem parte do dia-a-dia dela. Isso fica claro no controle de recursos para compras e aquisições, tal como no gerenciamento e na própria existência da empresa em suas respectivas áreas: marketing, produção, contabilidade e, principalmente, na administração geral de nível tático, gerencial e estratégico, por usar dados e informações financeiras para orientar a tomada de decisão na gestão da empresa (FREZATTI, 2000). Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 13 A gestão financeira é uma ferramenta ou técnica utilizada para controlar da forma mais eficaz e eficiente possível uma série de tarefas do dia-a-dia de uma organização, tais como a liberação de crédito e a determinação de prazos para clientes e a análise de investimentos, buscando meios viáveis para a obtenção de recursos que são destinados a financiar as operações e atividades da empresa, objetivando sempre o desenvolvimento da mesma, evitando desperdícios e gastos desnecessários, e procurando sempre os melhores meios para uma segura condução financeira da empresa (GITMAN, 2002). Agora que vimos o que são finanças e o conceito mais apurado da gestão financeira, vamos situar o gestor financeiro e seus objetivos nesse contexto empresarial. 1.1.2 Objetivo do Administrador Financeiro Os administradores financeiros administram ativamente as finanças de todos os tipos de empresas, sejam elas financeiras ou não, grandes ou pequenas, privadas ou públicas. Esses profissionais desempenham uma série de tarefas, tais como orçamentos, previsões financeiras, administração do caixa, administração do crédito, análise de investimentos. Necessita ser um membro alocado na alta administração, pois o bom ou mau desempenho deste pode ocasionar êxito ou insucesso para a empresa, caso não consiga cumprir a sua tarefa principal: minimizar riscos e maximizar lucros (FREZATTI, 2000). Gestores financeiros e contabilistas trabalham lado a lado, utilizando muitas vezes as mesmas ferramentas ou informações. Porém, o tratamento que é dado para essas informações diverge nas suas atividades. Portanto, é importante diferenciarmos a gestão financeira da gestão contábil. 1.1.3 Diferença Entre Gestão Financeira e Gestão Contábil A gestão financeira é um conjunto de ações e procedimentos administrativos que englobam o planejamento, a análise e o controle das atividades financeiras de uma organização, objetivando maximizar os resultados econômicos e financeiros oriundos de suas atividades operacionais (GITMAN, 2002). No decorrer desse estudo, você vai perceber que, em função dos benefícios e informações que a contabilidade proporciona para a gestão financeira e pelo relacionamento próximo que se tem de interdependência, é que muitas vezes se confunde a compreensão e a distinção dessas duas áreas, já que as mesmas se relacionam estreitamente e geralmente se sobrepõem. É preciso esclarecer que a principal função do contador é desenvolver e fornecer dados para mensurar a performance da empresa, avaliando sua posição financeira em presença dos impostos, contabilizando todo seu patrimônio, elaborando suas demonstrações, reconhecendo as receitas no momento em que são incorridos os gastos (denominado regime de competência). Porém, o que diferencia as atividades financeiras das contábeis é que a administração financeira enfatiza o fluxo de caixa, que nada mais é do que a entrada e saída de dinheiro na linha do tempo, que demonstrará realmente a situação e capacidade financeira Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 14 para satisfazer suas obrigações e adquirir novos ativos (bens ou direitos de curto ou longo prazo) ,a fim de atingir as metas da empresa (SANTOS, 2007). Atenção A gestão financeira não substitui a gestão contábil, assim como a gestão contábil não substitui a gestão financeira. Elas caminham juntas. Trabalham com as mesmas informações. Apenas dão tratamento diferenciado para essas informações. Todavia, os contadores admitem a importância do fluxo de caixa, tal como o administrador financeiro se utiliza do regime de competência, mas cada um com suas especificidades e maneiras de transpassar ou descrever a situação da empresa, sem desapreciar a importância de cada atividade, já que uma depende da outra, no que diz respeito à circulação de dados e informações necessárias para o exercício de cada uma. Diante do que vimos, julgo importante a diferenciação detalhada e exemplificada que encontraremos a seguir, ao diferenciar o regime de caixa do regime de competência. 1.1.4 Regime de Caixa x Regime de Competência Em finanças, o fluxo de caixa (designado em inglês por cash flow - Cf), refere-se ao montante de caixa recebido e gasto por uma empresa no decorrer de um período de tempo determinado, algumas vezes ligado a um projeto específico. Na Contabilidade, uma projeção de fluxo de caixa (que será discutido com mais profundidade no item 1.3.3) apresenta todos os pagamentos e recebimentos esperados em um determinado período de tempo. O gestor do fluxo de caixa precisa de uma visão holística de todas as funções da empresa, como: pagamentos, recebimentos, compra de matéria-prima, compra de materiais secundários, salários e outros, porque é necessário prever o que se poderá gastar no futuro dependendo do que se consome no presente. Regime de competência é o que apropria receitas e despesas ao período de sua realização, independentemente da ocorrência ou não dos recebimentos das receitas ou dos pagamentos das despesas (SANTOS, 2007). Exemplo: Aquisição de mercadorias para pagamento a prazo. Se a compra ocorreu no mês de janeiro com pagamento em fevereiro, a despesa deverá constar nos registros de janeiro, embora o pagamento seja feito em fevereiro. Para a contabilidade, em janeiro é computada a despesa, criando-se uma obrigação em contas a pagar, e em fevereiro, em função do pagamento, deduz-se o valor pago de contas a pagar, reduzindo o valor do caixa. Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 15 Tal fato ocorre porque a contabilidade utiliza o regime de competência, regime este em que são contabilizados como receita ou despesa os valores dentro do mês de competência, na data onde ocorreu o fato gerador (data de compra do material, venda do bem ou artigo, prestação de serviço, etc.), não importando quando será pago ou recebido, mas sim quando ocorreu o fato. Dica A diferença entre o regime de caixa e o regime de competência está exatamente na disposição da ocorrência na linha do tempo. Como observamos, no regime de competência o registro do documento se dá na data do fato gerador, não importando quando será pago ou recebido; ao passo que no regime de caixa o registro do valor ocorre efetivamente na data do pagamento, pois este, pelo seu conceito, somente considera o registro de um documento quando o mesmo for pago, liquidado ou recebido, assim como você pode observar no extrato de sua conta bancária. Para a mensuração dos resultados de uma empresa é recomendada a utilização do regime de competência, pois considera também a depreciação, algo que no regime de caixa não é contemplado. A depreciação de um bem será discutida com mais profundidade no 1.2.2. Trata-se de um item importante para a gestão financeira de uma organização, pois no futuro a empresa precisará repor o bem que esta depreciando, levantando assim a necessidade de averiguar se o lucro obtido nas operações empresariais contempla a cobertura da depreciação do maquinário e/ou demais bens (SANTOS, 2007). Até o momento, foi abordado o significado do termo finanças, o papel do administrador financeiro e as diferenças entre gestão financeira e gestão contábil. Fizemos isto para que você possa situar-se no cenário do gestor financeiro das organizações, permitindo a análise dos quadros financeiros com os olhos desses profissionais. 1.2 QUADROS FINANCEIROS 1.2.1 Investimentos Investimento é o que você faz quando aplica seus recursos em algum negócio (empresarial ou bancário) com a esperança de receber algum retorno no futuro e que este seja superior ao aplicado, compensando até mesmo a perda de uso desse recurso durante o período de aplicação. Num sentido mais abrangente, o termo aplica-se tanto à aquisição de máquinas, equipamentos e imóveis para a instalação de unidades produtivas como à compra de títulos financeiros (letras de câmbio, ações). Ou seja, investimento é toda aplicação de dinheiro com expectativa de lucro. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 16 Em economia, investimento significa exatamente a aplicação de capital em meios que levam ao crescimento da capacidade produtiva (instalações, máquinas, meios de transporte), ou seja, em bens de capital, podendo ser dividido em dois tipos: Investimento bruto e Investimento líquido (GITMAN, 2002). O investimento bruto corresponde a todos os gastos realizados com bens de capital (máquinas e equipamentos) e formação de estoques, ao passo que investimento líquido não leva em consideração as despesas com manutenção e reposição de peças, equipamentos e instalações desgastadas pelo uso. Como está diretamente ligado à compra de bens de capital e, portanto, à ampliação da capacidade produtiva, o investimento líquido mede com mais exatidão o crescimento da economia. São exemplos de Investimentos: Investimento Liquidez Rentabilidade Segurança Poupança Ações Imóveis Veículos Máquinas e Equipamentos Alta Alta Baixa Alta Baixa Baixa Alta Alta Alta Baixa Baixa Baixa Alta Alta Média QUADRO 1 - Exemplos de investimentos e fatores de decisão. FONTE: Os autores Como você deve ter observado, ao exemplificar os tipos de investimentos mais comuns apresentados acima, estes foram classificados quanto a três importantes indicadores utilizados na tomada de decisão ao se optar por uma linha de investimento para seu dinheiro. Estamos tratando da liquidez, da rentabilidade e da segurança: um investimento líquido é aquele que é de venda rápida (fácil solvência), isto é; que possa ser trocado por moeda rapidamente. A rentabilidade é o que mede o retorno sobre o capital investido e a segurança é o item que avalia o potencial de perda o capital investido. Todos os investimentos passam por um processo natural de depreciação, que deve ser computado financeiramente. Em alguns casos, como no de investimentos financeiros, os mesmos são passíveis de amortizações, como veremos a seguir. 1.2.2 Amortizações e Depreciações Amortização é um procedimento de eliminação de uma dívida por meio de pagamentos periódicos, realizados através de um planejamento, de modo que cada prestação corresponde à soma do pagamento do capital ou com o pagamento dos juros do saldo devedor, podendo ser o reembolso de ambos, com os juros sempre calculados sobre o saldo devedor (NOGUEIRA, 2002). Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 17 No Brasil, encontramos a amortização contábil, que em seu conceito, além da diminuição de dívidas, contempla também direitos intangíveis classificados no ativo, provenientes da teoria de dimensão econômica dos fundos contábeis. Assim, associamos a expressão amortização contábil à depreciação contábil, que trata da redução de bens tangíveis, e à exaustão contábil, tratando de recursos naturais (SÁ, 1990). Para Figueiredo (2004), existe uma série de tipos de sistemas de amortização, a seguir: z Sistema Francês de Amortização (Tabela price) z Sistema de Amortização Constante (SAC) z Sistema de Amortização Misto (SAM) z Sistema Americano de Amortização z Sistema Americano com Sinking Fund z Sistema de Amortização Variável z Sistema Alemão de Amortização z Arrendamento Mercantil (Leasing) Saiba Mais No Brasil, os sistemas comumente utilizados são: o sistema francês de amortização, seguido pelo arrendamento mercantil; e em outras situações o sistema de amortização constante. Confira o artigo de Daiani Furtado acessando o site abaixo: http: / /www.microepequenasempresas.com.br/sistema-de- amortizacao/ O sistema francês de amortização faz uso da Tabela Price. Trata-se de um método usado em amortização de empréstimo, construído por juros compostos, caracterizado por prestações iguais. O método de amortização baseado nas tabelas de Richard Price, na realidade foi idealizado pelo seu autor para pensões e aposentadorias. Porém, somente depois da 2ª revolução industrial que sua metodologia de cálculo foi aproveitada para cálculos de amortização de empréstimo (NOGUEIRA, 2002). O processo de cálculo da tabela price é iterativo. Tomando como exemplo um empréstimo de R$10.000,00 para ser pago em 10 parcelas mensais, com juros de 1% ao mês. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 18 TABELA 1 – Sistema Francês de Amortização. FONTE: Os autores Primeiramente você precisa determinar o valor de cada parcela pela seguinte fórmula: PMT = (PV x i) / 1 – (1 + i ) - n Onde: PV = Valor Presente (valor a ser financiado) i = Taxa (sempre em %) n = Período (número de parcelas) PMT= Parcela (o valor de cada parcela a ser paga) Assim, PMT = R$ 1.055,82 z O valor do juro será sempre o valor do saldo devedor do período anterior, multiplicado pela taxa (Nesse caso: 1% ou 0,01). z O valor da amortização será resultado da diferença entre o valor da parcela e o valor do juro. Ou seja, em cada mês, apura-se o juro para identificar quanto da parcela paga corresponde à quitação do valor que se está devendo. z O saldo devedor em cada momento será o resultado do saldo devedor anterior, subtraindo a amortização que ocorreu no período. Atenção: Juros - Valor devido pelo prazo de pagamento, acrescentado ao saldo devedor na transição do mês anterior para o atual; Amortização - O quanto da dívida foi paga, levando-se em consideração os juros; Saldo Devedor - O quanto da dívida está pendente para ser paga. Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 19 Abaixo, alguns termos usados no meio econômico/financeiro em relação à amortização, que julgamos interessante lhe explicar: Devedor ou mutuário Taxa de juros Prazo de carência Prazo de utilização Prazo de amortização Parcelas de amortização Prestação Pessoa que recebe algo pelo empréstimo. Taxa acordada entre as partes. Calculada sobre o saldo devedor. Custo do dinheiro. Período entre o prazo de utilização e o pagamento da primeira amortização. Intervalo de tempo em que o empréstimo é transferido do credor ao devedor. Intervalo de tempo em que são pagas as amortizações. Parcelas de devolução do principal. Prestações menos juros. Soma da amortização acrescida de juros e encargos. QUADRO 2 - Termos usados no meio econômico/financeiro. FONTE: MATHIAS, Washington Franco; GOMES, José Maria, Matemática Financeira. São Paulo, Ed. Atlas,1989. O leasing ou arrendamento mercantil é um contrato por meio do qual a arrendadora ou locadora (entidade que se dedica à exploração de leasing) compra um bem escolhido por seu cliente para, em seguida, locar ao mesmo, por um prazo definido. Ao fim do contrato o arrendatário pode optar por renová-lo por mais um período, por devolver o bem arrendado à arrendadora ou dela adquirir o bem, pelo valor de mercado ou por um valor residual previamente definido no contrato. O cliente deste tipo de crédito é, tipicamente, uma empresa, podendo, no entanto, ser, também, contratado por pessoa física (BLATT, 1998). Existem três formas de Leasing: Financeiro, Operacional e Leasing back. Na operação de leasing operacional, a arrendadora arca com os custos de manutenção dos equipamentos, e a arrendatária pode desfazer o contrato bastando apenas esperar o período mínimo de noventa dias a contar do início do contrato, assim como determina o Banco Central, e aviso prévio para a empresa ou pessoa física contratante. O Leasing Financeiro se assemelha a um aluguel, com a diferença que se pode comprar o bem no final do prazo pré-determinado por um valor já determinado anteriormente. Já o Leasing Back ocorre quando uma empresa necessita de capital de giro. Ela vende seus bens a uma empresa que a aluga novamente à primeira (BLATT, 1998). No sistema de amortização constante (SAC) a parcela de amortização da dívida é calculada tendo por base o total da dívida, também denominado saldo devedor, dividido pelo prazo do financiamento, como um percentual fixo da dívida, considerando um sistema linear. No SAC a prestação inicial é um pouco maior que na Tabela Price, pois o valor que é pago da dívida, ou amortização, é maior, Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 20 assim, você estará liquidando mais da dívida desde o inicio do financiamento e pagando menos juros ao longo de contrato (MATHIAS; GOMES, 1989). Conforme a dívida é amortizada, a parcela dos juros e, por conseguinte a prestação, tendem a decrescer, pois o próprio saldo devedor está sendo reduzido. Com isso, no SAC, o saldo devedor e a sua prestação tendem a decrescer de forma constante desde o início do financiamento e não permite a ocorrência de valor residual ao término das prestações, desta forma, você estará menos exposto em caso de aumento do indexador do contrato (a TR, TJLP ou INCC) durante o financiamento (MATHIAS; GOMES, 1989). Vejamos então o mesmo exemplo do caso anterior (price), como ele se comporta pelo sistema de amortização constante: Tratamos novamente de um empréstimo de R$10.000,00 para ser pago em 10 parcelas mensais, com juros de 1% ao mês, porém dessa vez pelo SAC. TABELA 2 - Sistema de Amortização Constante. FONTE: Os autores z Assim como no sistema francês de amortização, o valor do juro será sempre o valor do saldo devedor do período anterior, multiplicado pela taxa, porém diferente em cada momento, pois a formação do saldo devedor, nesse caso, não soma juros retidos de períodos passados. z O valor da amortização será determinado ao dividir o valor financiado pelo número de parcelas em que será dividido. z O saldo devedor em cada momento será o resultado do saldo devedor anterior, descontando a amortização que ocorreu no período, que neste caso será um valor fixo. Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 21 Dica Nesse sistema de amortização, a parcela não será fixa, sendo calculada sempre pela soma da amortização ao valor dos juros, referente ao saldo devedor. Compare a Tabela 1 com a Tabela 2. Por depreciação devemos interpretar como sendo o custo ou a despesa decorrente da deterioração ou da obsolescência dos ativos imobilizados (máquinas, veículos, móveis, imóveis e instalações) da empresa. Ao longo do tempo, com a obsolescência natural ou desgaste com uso na produção, os ativos vão perdendo valor. Essa perda de valor deve ser apropriada pela contabilidade periodicamente, até que esse bem tenha valor reduzido a zero (SILVA, 2005). Contudo, ao determinar a depreciação, o administrador pode estabelecer fórmulas mais adequadas a sua realidade empresarial. Assim, um veículo, mesmo tendo uma vida útil de 5 anos ou mais, deverá ser depreciado em 5 anos no máximo, pois passado este período estará completamente obsoleto. Na possibilidade desse veículo ainda ter condições de ser utilizado, deverá ser feita uma reavaliação do bem, atribuindo a ele um novo valor, baseado em dados técnicos. A partir de então, continua-se com a depreciação até a completa exaustão do bem. Conforme o art. 25 da IN SRF nº 11/96, os bens depreciáveis são: z Edifícios e construções; z Projetos florestais destinados à exploração dos respectivos frutos; z Bens móveis e imóveis utilizados no desempenho de atividades de contabilidade; z Bens imóveis utilizados como estabelecimento da administração; z Bens móveis utilizados nas atividades operacionais, instalados em estabelecimento da empresa; z Veículos do tipo caminhão, caminhonete de cabine simples ou utilitários, utilizados no transporte de mercadorias e produtos adquiridos para revenda, de matéria-prima, produtos intermediários e de embalagem, aplicados a produção; z Veículos do tipo caminhão, caminhonete de cabine simples ou utilitário; as bicicletas e motocicletas utilizadas pelos cobradores, compradores e vendedores, nas atividades de cobrança, compra e venda; bem como os utilizados nas entregas de mercadorias; z Veículos utilizados no transporte coletivo de empregados; Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 22 z Bens móveis e imóveis utilizados em pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos; z Bens móveis e imóveis próprios, locados pela pessoa jurídica, e que tenham a locação como objeto de sua atividade; z Bens móveis e imóveis, objeto de arrendamento mercantil nos termos da Lei 6099/74, pela pessoa jurídica arrendadora; z Veículos utilizados na prestação de serviços de vigilância móvel, pela pessoa jurídica que tenha objeto essa espécie de atividade (art. 307 do RIR/99). 1.2.3 Métodos de Depreciação Conforme determina o art. 305 do RIR/99, podemos computar como custo ou encargo, em cada período de apuração, o valor correspondente à diminuição do valor dos bens do ativo, resultante do desgaste pelo uso, ação da natureza e obsolescência normal. Esse artigo determina ainda os seguintes métodos de depreciação: z Método Linear O método linear é o mais freqüentemente utilizado e se caracteriza pela aplicação de taxas constantes durante o tempo de vida útil estimado para o bem. Exemplo: Um bem tem vida útil de 10 anos, com taxa de depreciação de 10%. Taxa de Depreciação = 100% / tempo de vida útil TD = 100% / 10 anos = 10% a.a. z Método das Horas de Trabalho Este método consiste em determinar o número de horas de trabalho durante o tempo de vida útil previsto para o bem. A parcela de depreciação será obtida dividindo-se o número de horas trabalhadas no período pelo número de horas de trabalho estimadas durante a vida útil do bem. Este método é próprio das empresas industriais. z Métodos das Unidades Produzidas Também utilizado por empresas industriais. Consiste em determinar a quantidade total de unidades que devem ser produzidas pelo bem no decorrer de sua vida útil. A parcela de depreciação de cada período será obtida dividindo- se o número de unidades produzidas no período pelo número de unidades estimadas, a serem produzidas ao longo de sua vida útil. Calculamos a depreciação, dentre outros motivos, para deduzi-la das receitas e, assim, termos uma apuração mais real dos lucros obtidos nas operações empresariais. Para tanto, vamos ver a seguir o que são essas receitas de onde as depreciações e/ou amortizações serão descontadas. Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 23 1.2.4 Receitas Receita é o aporte de valores que ocorre em uma entidade (Contabilidade) ou patrimônio (Economia). Normalmente esse aporte vem em forma de dinheiro ou créditos representativos de direitos. Nas empresas privadas a receita normalmente corresponde ao produto de venda de bens ou serviços – aqui denominado faturamento – classificando-se em operacionais e não-operacionais (SÁ, 1990). Segundo Neves; Viceconti (2001), as receitas operacionais são oriundas do objeto de exploração da empresa, podendo ser classificadas da seguinte forma: z Receita da atividade técnica ou principal - relacionada à atividade principal da empresa como venda de produtos, mercadorias ou serviços. z Receita acessória ou complementar - decorrente da receita da atividade principal e representa rendimentos complementares. No Brasil denomina- se contabilmente esse grupo de receitas de Outras Receitas Operacionais, que devem ser compostos basicamente de Receitas Financeiras (juros, aluguéis, rendimentos). z Receitas não-operacionais - ingressos de valores no caixa derivados de transações não inclusas nas atividades principais ou acessórias da empresa. 1.2.5 Receita Bruta A receita bruta, para a contabilidade, é o produto da venda de bens e serviços. Ou seja, é a receita total decorrente das atividades-fim da empresa (atividades para as quais a empresa foi constituída, segundo seus estatutos ou contrato social), também visto como o faturamento da organização (SÁ, 1990). Porém, para fins tributários, no Brasil, a Receita Bruta tem diferentes composições. Considera-se receita bruta, para fins de aplicação do Simples Nacional, o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o resultado nas operações em conta alheia, tais como comissões recebidas, dentre outros, não incluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos. Para fins de legislação do PIS e COFINS, a receita bruta é o total de receitas contabilizadas, independentemente de originária do faturamento, o que motivou muitas empresas a questionarem este conceito na justiça, visando redução de contribuições a pagar. São excluídos do conceito da receita bruta, para fins tributários: o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), quando cobrado pelo vendedor dos bens ou prestador dos serviços na condição de substituto tributário. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 24 Para a contabilidade, a receita líquida é representada pela receita bruta com deduções, como no exemplo a seguir: Receita bruta de Vendas R$ 50.000,00 (-) Devoluções de Vendas R$ 1.500,00 (-) Descontos Comerciais R$ 5.000,00 (-) Impostos R$ 8.500,00 (=) Receita Líquida R$ 35.000,00 Da Receita Líquida, podem ser feitas ainda as seguintes deduções: (=) Receita Líquida R$ 35.000,00 (-) Custos R$ 4.000,00 (=) Lucro bruto R$ 31.000,00 (-) Despesas R$ 10.000,00 (=) Lucro líquido R$ 21.000,00 1.2.6 Impostos Imposto é uma contribuição percentual paga obrigatoriamente por pessoas ou organizações para um governo, a partir de uma base de cálculo e de um fato gerador. É uma forma de tributo que tem como principal finalidade, custear o Estado (SÁ, 1990). Impostos podem ser pagos em moeda (dinheiro) ou em mercadorias, embora o pagamento em mercadorias nem sempre seja permitido ou classificado como imposto em todos os sistemas tributários. No Brasil, os tributos somente são aceitos em forma de dinheiro. Esses tributos podem incidir sobre renda ou patrimônio. Renda diz respeito ao valor recebido pelo trabalho de indivíduos ou de organizações e patrimônio são os bens de posse que têm valor como imóveis e veículos (SMITH, 1983). São exemplos de impostos: Impostos federais z II - Imposto sobre a importação de produtos estrangeiros; z IE - Imposto sobre a exportação de produtos nacionais ou nacionalizados; z IR - Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza; z IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados; z IOF - Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários; z ITR - Imposto Territorial Rural. Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 25 Impostos estaduais z ICMS - Imposto sobre operações relativas à Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação; z IPVA - Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); z ITCMD - Imposto sobre Transmissões Causa Mortis e Doações de Qualquer Bem ou Direito. Impostos municipais z IPTU - Imposto sobre a Propriedade predial e Territorial Urbana; z ITBI - Imposto sobre Transmissão inter vivos de Bens e Imóveis e de direitos reais a eles relativos; z ISSQN - Impostos sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). Tanto os impostos pagos quanto os substituídos, no orçamento empresarial, são computados como custos e agregados assim ao valor do produto ou serviço produzido. Assim, a seguir, vamos discorrer acerca do tema custos, que será mais amplamente abordado no terceiro capítulo de nosso estudo. 1.2.7 Custos Os custos são medidas monetárias dos dispêndios financeiros com os quais uma organização, uma pessoa ou um governo, precisa arcar para atingir seus objetivos, sendo considerados como objetivos a utilização de um produto ou serviço qualquer, utilizados na obtenção de outros bens ou serviços. A Contabilidade gerencial incorpora esses e outros conceitos econômicos para fins de elaborar relatórios de custos de uso da administração da empresa (LEONI, 1996). Sob a visão contábil, os custos são medidas monetárias derivadas da aplicação de bens e serviços na produção de outros bens e serviços, durante o processo de fabricação. Não adentraremos mais no tema custos porque este será tema do capítulo 3. Outro importante item acerca dos custos das mercadorias é a relação que a empresa tem com sua gerência de estoques. A armazenagem de matéria prima, de produtos acabados ou em processos de fabricação gera outro custo para as organizações, que será tratado a seguir. 1.2.8 Estoques Estoques são recursos disponíveis em um determinado momento, que uma empresa pode aproveitar para dar origem a um bem. São quantidades armazenadas ou em processo de produção, com a o objetivo de criar uma Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 26 independência entre os vários estágios da cadeia produtiva. (Compra-Venda, Compra-Produção, Produção-Distribuição) (LUBBEN, 1989). A gestão de estoques é um conceito que está presente em todo tipo de empresa, assim como na vida quotidiana das pessoas. Desde o início da sua história que a humanidade tem usado estoques de variados recursos, de modo a suportar o seu desenvolvimento e sobrevivência, tais como ferramentas e alimentos (LUBBEN, 1989). No meio empresarial, o excesso de estoques representa custos operacionais e de oportunidade do capital empatado, porém níveis baixos de estoque podem originar perdas de economias e custos elevados devido à falta de produtos. A tarefa de encontrar o ponto ideal de estoques (também determinado ponto de equilíbrio) é bastante árdua (LUBBEN, 1989). Uma das vantagens dos estoques é o fato de poderem ser usados para enfrentar uma situação de privação do que é necessário podendo enfrentar variações ou balanços da procura, mesmo sendo essa procura mais ou menos constante, possibilitando também adquirir a baixos preços para se revender quando os preços são elevados, e evitam o desconforto devido a entregas e aquisições com elevada freqüência. Ou seja, devido ao fato das operações entre entregas e utilizações se efetuarem em tempos diferentes, pode-se dizer que os estoques servem de reguladores, entre esses dois processos (LUBBEN, 1989). O armazenamento de materiais compreende dois tipos de custos: fixos e variáveis. Nos custos variáveis podemos considerar os custos de operação e manutenção dos equipamentos, manutenção dos estoques, materiais operacionais e instalações, obsolescência e deterioração e custos de perdas. Já nos custos fixos, equipamentos de armazenagem e manutenção, seguros, benefícios a funcionários e folha de pagamentos e utilização do imóvel e mobiliário (LEONI, 1996). Quando a empresa detém estoques desnecessários, ocorre um desaproveitamento de estoque, o que vai significar uma perda de espaço físico e perdas de investimento. Quando existe a compreensão que os estoques geram desperdícios e quando se identificam as razões que indicam a necessidade de estoques, o propósito é usá-las de uma forma eficiente (LUBBEN, 1989). Para Leoni (1996), em relação aos custos associados à gestão de estoques, estes podem ser separados em três áreas principais: Custos de manutenção de estoques; Custos de pedido e Custos de falta. Custos de manutenção de estoques são custos proporcionais à quantidade armazenada e ao tempo que ela fica em estoque. Um dos custos mais importante é o custo de oportunidade do capital, pois representa a perda de receitas por ter o capital investido em estoques e não tê-lo investido em outra atividade econômica. Uma visão comum é considerar o custo de manutenção de estoque de um produto como uma pequena parte do seu valor unitário (LEONI, 1996). Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 27 Custo de pedido são custos referentes a uma nova encomenda, podendo esses custos ser tanto variáveis como fixos. Os custos fixos associados a um pedido são o envio da encomenda, receber essa mesma encomenda e a inspeção. O exemplo principal de custo variável é o preço por unidade de compra dos artigos encomendados (LEONI, 1996). Custos de falta são custos derivados de quando não existe estoque suficiente para atender a procura dos clientes em um dado período de tempo. Esses custos ocorrem com o pagamento de multas contratuais, perdas de venda, deterioração de imagem da empresa, perda de market share, e ativação de planos de contingência (LEONI, 1996). Para Lubben (1989), existem diversas classificações dos estoques. De acordo com a natureza dos produtos fabricados e da atividade da empresa, os estoques recebem diferentes denominações. Do ponto de vista do processo produtivo em uma empresa industrial, podemos ter: estoque de produtos em processo; de matéria-prima e materiais auxiliares; operacional e de produtos acabados. O estoque de produtos em processo baseia-se essencialmente em todos os artigos solicitados, necessários à fabricação ou á montagem do produto final, que se encontram nas várias fases de produção. No estoque de matéria-prima e materiais auxiliares encontramos materiais secundários, como componentes que iram integrar o produto final. São usualmente compostos por materiais brutos destinados à transformação. O estoque operacional é um tipo de estoque criado para evitar possíveis interrupções na produção por defeito ou danos de algum equipamento. É constituído por lubrificantes ou quaisquer materiais destinados à manutenção, substituição ou reparos tais como componentes ou peças sobressalentes. E por fim, o estoque de produtos acabados, que é composto pelo produto que teve seu processo de fabricação finalizado. Em empresas comerciais é chamado de estoque de mercadorias. Usualmente são materiais que se encontram em depósitos próprios para expedição. São formados por materiais ou produtos em condições de serem vendidos (LUBBEN, 1989). Fora do ciclo produtivo de uma empresa, temos também estoque de materiais administrativos, que é formado de materiais destinados ao desenvolvimento das atividades da empresa e utilizados nas áreas administrativas da mesma, tais como, impressos, papel, formulários, etc. E como suporte à operação da empresa, podemos também ter um estoque de segurança, que são as quantidades guardadas para assegurar o andamento do processo produtivo caso ocorram aumento na demanda do item por parte do processo ou atraso no abastecimento futuro (LUBBEN, 1989). Os estoques de segurança evitam que ocorram problemas inesperados em alguma fase produtiva interrompendo as atividades sucessivas de atendimento da demanda. A existência de estoques de segurança em uma fábrica evita que o processo produtivo pare em caso de uma avaria, alimentando as máquinas subseqüentes durante o reparo. São ainda utilizados para prevenir uma empresa de incertezas nas suas operações logísticas (LUBBEN, 1989). Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 28 Quanto aos critérios de avaliação de estoques, podemos considerar três critérios usualmente utilizados, sendo eles: PEPS (primeiro a entrar, primeiro a sair); UEPS (último a entrar, primeiro a sair); Preço médio ponderado. PEPS No método PEPS, usamos o custo do lote mais antigo quando ocorre venda da mercadoria até que se esgotem as quantidades desse estoque. Em seguida, partimos para o segundo lote mais antigo e assim sucessivamente (GARCIA, 2006). Existem várias desvantagens nessa metodologia. Uma delas é que precisamos controlar vários lotes para identificarmos sempre o custo do mais antigo. Nesse caso o PEPS provocará um estoque com valor mais alto e um custo mais baixo, formando assim um lucro maior, fazendo com que a empresa pague mais impostos e mais dividendos (GARCIA, 2006). UEPS Já o UEPS funciona de forma muito parecida com o PEPS, apenas que utilizamos o preço do último lote comprado para custearmos as vendas (GARCIA, 2006). O UEPS possui também suas desvantagens em relação ao PEPS, pois mesmo que não se acabe de usar todo um lote, abandona-se este e começa-se a usar o último mais recente. Com isso precisamos controlar diversos lotes com saldos no qual usamos parcialmente os custos (GARCIA, 2006). Preço médio ponderado Essa técnica é muito fácil de ser usada, pois custo médio será sempre a divisão do saldo financeiro pelo saldo físico. A Média é a técnica indicada para a elaboração dos cálculos de custos pela contabilidade, mas não é recomendada para se usar na formação dos preços de vendas (GARCIA, 2006). Para a contabilidade de custos não existe outra saída, pois a Média nos dá um custo mediano, um lucro mediano e um estoque mediano, inclusive no Brasil é obrigatório também o custeio por absorção real onde todos os custos contábeis são agregados e rateados na produção do mês (GARCIA, 2006). Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 29 Observe a aplicação dos três métodos citados, em uma mesma situação. TABELA 3 - Situação hipotética FONTE: Os autores TABELA 4 - PEPS FONTE: Os autores TABELA 5 - UEPS FONTE: Os autores Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 30 TABELA 6 - MÉDIA FONTE: Os autores A gestão de estoques é o principal critério de avaliação de eficiência do sistema de administração de materiais. Abrange uma série de atividades, que vão desde a programação e planejamento das necessidades de materiais em estoque, até ao controle das quantidades adquiridas, para medir a sua localização, movimentação, utilização e armazenagem de modo a responder com regularidade aos clientes em relação a preços, quantidades, e prazos (LUBBEN, 1989). A programação e planejamento são as atividades relativas à definição dos modelos necessários para a utilização de técnicas estatísticas, aplicáveis às previsões de necessidades e à gestão de estoques da empresa, dentro de uma produção e programação de vendas antecipadamente estabelecidas. O controle é a etapa executiva responsável pela atualização e coleta dos dados de movimentação que voltam a alimentar o processo de administração de estoques, e que faz com que algumas decisões sejam tomadas em função de uma série de parâmetros anteriormente estabelecidos (GARCIA, 2006). Apesar da sua importância, extensão e complexidade, freqüentemente a gestão de estoques é negligenciada em muitas empresas, sendo considerada como uma questão não estratégica e limitada à tomada de decisões em níveis organizacionais mais baixos. Algumas empresas já perceberam como a gestão de estoques pode ser utilizada ao longo de toda a cadeia de suprimentos da qual fazem parte, e de todas as vantagens competitivas que isso pode vir a trazer, desfrutando assim destas vantagens (LUBBEN, 1989). A boa administração dos estoques é de vital importância para a saúde financeira das empresas, uma vez que grande parte do capital das empresas está nos materiais envolvidos na produção, sendo comum representarem 50% de todo o seu capital. Assim, reduções no montante estocado se traduz na liberação de grande volume do capital necessário ao andamento do negócio como um todo (LUBBEN, 1989). Como vimos, estoques são custos, porém custos e despesas não são sinônimos. Veja a seguir. Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 31 1.2.9 Despesas Para a contabilidade, despesa é o dispêndio necessário para a obtenção de receita. As despesas são gastos que não se identificam com o processo de transformação ou produção de bens e produtos. Estão sempre relacionadas aos valores gastos com a estrutura administrativa e comercial da empresa tais como aluguel, salários e encargos, telefone, propaganda, impostos, comissões, dentre outros. Elas ainda são classificadas em fixas e variáveis, sendo as fixas aquelas cujo valor a ser pago não depende do volume, ou do valor das vendas, enquanto que as variáveis são aquelas cujo valor a ser pago está diretamente relacionado ao valor vendido (SÁ, 1990). Atenção: Custos diferente Despesas Custo é o gasto aplicado à produção de um bem. No comércio, aquisição de mercadorias. Na indústria, aquisição de matérias- primas, insumos e mão-de-obra. Despesas são os gastos usados para a obtenção de receitas não relacionadas diretamente no produto: aluguel, telefone, material de escritório, propaganda, comissões de vendedores, etc. No Brasil, as despesas de entidades privadas e com fins lucrativos aparecem na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), conforme as normas brasileiras de contabilidade, logo abaixo do lucro líquido operacional. As empresas sem fins lucrativos lançam as despesas na demonstração do déficit/ superávit do exercício, as quais constituem os grupos de despesas com vendas, administrativas e financeiras, e também no grupo despesas não-operacionais, daquela demonstração. É importante salientar que, contabilmente, despesa não é igual a custo, uma vez que este último, como você identificará no item 1.2.5, é relacionado com o processo produtivo de bens ou serviços, enquanto que despesa diz respeito aos gastos com a manutenção das atividades da entidade. Com base do que já vimos até o momento, certamente você está habilitado a partir para o próximo passo de nosso estudo: As demonstrações financeiras. 1.3 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Vamos perceber nesse item que demonstrações financeiras são representações estruturadas da posição financeira e do desempenho financeiro de uma determinada organização. Os seus objetivos se concentram em propiciar informações que orientem as tomadas de decisão, mostrando os resultados obtidos em determinados períodos. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 32 1.3.1 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é uma demonstração contábil dinâmica que tem por objetivo evidenciar a formação do resultado líquido em um exercício, por meio do confronto das receitas, custos e despesas, apuradas segundo o princípio contábil do regime de competência (SÁ, 1990). A DRE é estruturada da seguinte forma: Faturamento Bruto (-) IPI Faturado = Receita Operacional Bruta (Venda Bruta) Vendas de Mercadorias, Produtos ou Prestação de Serviços (-) Deduções e abatimentos Devoluções de vendas Descontos e abatimentos comerciais Vendas anuladas e canceladas Impostos sobre vendas = Receita Operacional Líquida (-) Custos das Mercadorias, Produtos ou Serviços Vendidos = Lucro Operacional Bruto (-) Despesas Operacionais Despesas com vendas / comerciais Despesas administrativas Encargos financeiros Outras despesas operacionais + Outras Receitas Operacionais Receitas de aluguéis, Dividendos recebidos, Ganhos em participações societárias, reversões de provisões (=) Resultado Operacional Líquido + Receitas Não Operacionais Vendas de permanentes, lucro apurado em coligadas e controladas pela equivalência patrimonial (-) Despesas não operacionais Custo dos Permanentes Vendidos, prejuízo apurado em coligadas e controladas, provisão para perdas prováveis em investimentos = Resultado do Exercício antes da Contribuição Social (-) Provisão para Contribuição Social = Resultado do Exercício antes do Imposto de Renda (não é necessariamente a base para o IR) (-) Provisão para o Imposto de Renda = Resultado do Exercício após o Imposto de Renda (-) Participações Debêntures Empregados Administradores Partes beneficiárias Contribuições para instituições ou Fundo de Assistência ou Previdência dos Empregados = Resultado Líquido do Exercício Lucro ou Prejuízo por Ação do Capital FIGURA 1 - Estrutura da DRE FONTE: BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ L6404consol.htm>. Acesso em: 28 ago 2008. Alterada pela Lei 11.638/07 de 28 de dezembro de 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ _Ato2007-2010/2007/Lei/L11638.htm>. Acesso em: 28 ago 2008. Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 33 A demonstração do resultado do exercício oferece um resumo financeiro dos resultados operacionais e não operacionais de uma empresa em certo período. Embora sejam elaboradas anualmente para fins legais de divulgação, normalmente são feitas mensalmente para fins administrativos e trimestralmente para fins fiscais (HELFERT, 2000). Observe um exemplo com números. TABELA 7 - Exemplo de DRE FONTE: Os autores A DRE está intimamente ligada ao Balanço Patrimonial, porém dá posicionamentos diferentes de um mesmo período. Observe abaixo o que ocorre com as informações nessa ferramenta de demonstração financeira. 1.3.2 Balanço Patrimonial Partimos da idéia de uma balança de dois pratos, onde sempre encontramos a igualdade. Mas em vez de se denominar balança, denomina-se Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 34 balanço. Já o termo patrimonial tem origem no patrimônio da empresa, ou seja, o conjunto de bens, direitos e obrigações. Juntando os dois conceitos temos o balanço patrimonial, equilíbrio do patrimônio, ou igualdade patrimonial, que evidencia a situação patrimonial da empresa em determinada data (PADOVEZE, 2004). O balanço é uma demonstração contábil que tem por finalidade apresentar a posição contábil, financeira e economica de uma empresa em determinada data, representando uma posição estática (situação do patrimônio em determinada data) (SÁ, 1990). Saiba Mais A palavra balanço vem do equilíbrio ou da igualdade expresso nas seguintes fórmulas contábeis: z Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido z Aplicações = Origens. Confira mais no site do SEBRAE acessando o link abaixo: http://www.sebrae.com.br/momento/quero-abrir-um-negocio/ planeje-sua-empresa/administracao/1114/BIA_1114/integra_bia O Balanço apresenta os Ativos (bens e direitos) e Passivos (obrigações) e o Patrimônio Líquido, que é resultante da diferença entre o total de ativos e passivos. É a demonstração contábil que evidencia, resumidamente, o patrimônio da empresa, quantitativa e qualitativamente (PADOVEZE, 2004). As contas do Ativo sujeitas à depreciação, à amortização, à exaustão e à provisão para créditos de liquidação duvidosa e outras provisões aparecerão, no Balanço Patrimonial, deduzidas das respectivas depreciações, amortizações, exaustões ou provisões para créditos de liquidação duvidosa e outras provisões (PADOVEZE, 2004). Atenção Na contabilidade, o ativo circulante é uma referência aos bens e direitos que podem ser convertidos em dinheiro em curto prazo. São ativos que podem ser considerados como circulantes: dinheiro em caixa, conta movimento em banco, aplicações financeiras, contas a receber, estoques, despesas antecipadas, numerário em caixa, depósito bancário, mercadorias, matérias-primas e títulos (PADOVEZE, 2004). O ativo circulante é aquele que irá se cumprir até o exercício social seguinte e é equivalente ao capital de giro. O Capital de giro ou Capital Circulante Líquido é a diferença do Ativo Circulante do Passivo Circulante, conforme a Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 35 terminologia do DOAR ( Demonstração de origens e aplicações de recursos) dada pela Lei Federal Brasileira 6.404/76. Esta era obrigatória para as companhias de capital aberto e para as de capital fechado que apresentassem na data do balanço patrimonial, um patrimônio líquido superior a R$ 1.000.000,00 (atualizado pela Lei no 9.457/97). A DOAR indica as modificações na posição financeira da companhia. E a partir de janeiro de 2008, a DOAR foi substituida pelo DFC (Demonstração de Fluxo de Caixa) de 2007. Ativo realizável a longo prazo é representado por um conjunto de bens e direitos que irão realizar-se após 360 dias da data da publicação do balanço a que faz parte. Exemplos: impostos a recuperar, contratos de mútuo valor, empréstimos a sócios ou diretores (direitos a receber que, mesmo pressuponto recebimento a curto prazo, devem ser classificados no realizável a longo prazo). Tal fato ocorre por que a empresa não vai acionar seu diretor se este não pagar na data combinada. Entram também no ativo realizável a longo prazo os direitos realizáveis após o término do exercício seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usuais na exploração do objeto da companhia (PADOVEZE, 2004). Passivo circulante são as obrigações que normalmente são pagas dentro de um ano tais como contas a pagar, dívidas com fornecedores de mercadorias ou matérias-prima, impostos a recolher, empréstimos bancários com vencimento nos próximos 360 dias, provisões para despesas incorridas, geradas, ainda não pagas, porém reconhecidas pela empresa tais como imposto de renda, férias, 13° salário, dentre outros (PADOVEZE, 2004). São considerados exemplos de passivo circulante: z Fornecedores (duplicatas a pagar) z Encargos sociais a pagar z Empréstimos bancários z Salários a pagar z Títulos a pagar z Impostos a pagar Passivo exigível a longo prazo são as dívidas de uma empresa que serão liquidadas com prazo superior a um ano, tais como financiamentos e títulos a pagar, dentre outros. Trata-se das obrigações com terceiros, como duplicatas a pagar, notas promissórias a pagar, fornecedores, impostos a recolher, contas a pagar, títulos a pagar, contribuições a recolher e outras, que terão seu vencimento 360 dias após a data da publicação do balanço de que fazem parte (SÁ, 1990). Patrimônio líquido representa os valores que os sócios ou acionistas têm na empresa em um determinado momento. No balanço patrimonial, a diferença entre o valor dos ativos e dos passivos e resultado de exercícios futuros representa o Patrimônio Líquido (PL), que é o valor contábil devido pela pessoa jurídica aos sócios ou acionistas, baseado no princípio da entidade (SÁ, 1990). A seguir temos um modelo mais completo de Balanço Patrimonial: Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 36 QUADRO 3 - Estrutura do Balanço Patrimonial FONTE: Os autores Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 37 Observe como se comportam os números aplicados ao modelo exposto: TABELA 8 - Exemplo de Balanço Patrimonial FONTE: Os autores Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 38 Visto a Demonstração do Resultado do Exercício e a Balanço Patrimonial, nos resta o fluxo de caixa, que trata-se de outra ferramenta de demonstração financeira. Veja a seguir. 1.3.4 Fluxo de Caixa O fluxo de caixa é uma ferramenta desenvolvida para a execução do planejamento e do controle financeiro a curto, médio e longo prazo da Empresa. Ele não indica apenas o total de dinheiro em caixa necessário para a manutenção das operações da empresa, mas também, o período em que serão obtidos e/ou desembolsados. Além disso, o fluxo de caixa serve como um ponto de referência em relação a qual os valores realizados podem ser comparados (CAVALHEIRO, 1989). Defasagens significativas podem indicar que os programas da empresa não estão correndo segundo o planejado, mostrando que deverão ser tomadas medidas corretivas e/ou saneadoras. Estas defasagens podem informar que os programas da empresa tornaram-se irreais em vista da ocorrência de acontecimentos imprevistos e incontroláveis (DAMODARAN, 1997). O fluxo não é nada mais que um plano escrito, expresso em termos de unidades monetárias. Trata-se de uma ótima ferramenta para auxiliar o administrador de determinada empresa nas tomadas de decisões. É através deste demonstrativo que os custos fixos e variáveis são evidenciados, permitindo- se desta forma um controle efetivo sobre determinadas questões empresariais (DAMODARAN, 1997). Para Pensar O fluxo de caixa pode ser utilizado também por pessoas físicas que tenham interesse em uma organização financeira pessoal mais eficiente? O fluxo de caixa poderá ser elaborado com relativa precisão e ter em vista várias finalidades. A principal será indicar as necessidades de dinheiro para atendimento dos compromissos que a empresa costuma ter com prazos certos para serem saldados. Observe o modelo de fluxo de caixa que é apresentado a seguir. Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 39 TABELA 9 - Modelo de Fluxo de Caixa FONTE: Os autores Vantagens do Fluxo de Caixa O fluxo de caixa também pode ser uma ferramenta de uso pessoal. Pessoas físicas que tenham interesse em uma organização financeira pessoal mais eficiente podem fazer uso dessas técnicas. Inclusive, existem hoje no mercado diferentes tipos de ferramentas que têm por objetivo facilitar a confecção do fluxo de caixa pessoal. Segundo Damodaran (1997), as principais vantagens do uso de um fluxo de caixa são: z demonstrar ao gestor financeiro o momento exato para as retiradas de caixa, sem acarretar problemas financeiros para a empresa; z propiciar ao gestor financeiro meios de pôr em funcionamento suas disponibilidades de caixa de maneira racional e lucrativa, sem comprometer a liquidez da empresa; Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 40 z projetar as necessidades financeiras futuras, permitindo que se busquem alternativas de suprimento de caixa mais rápidas e em tempo hábil quando se fizer necessário; z destacar os pontos negativos e os pontos positivos, antecipando ao gestor financeiro a atitude, em termos, das medidas cabíveis para cada situação projetada para a empresa; z auxiliar na verificação dos períodos em que a empresa terá excedentes de caixa, estimar os valores dos saldos de caixa e os períodos em que eles irão ocorrer; z permitir a escolha de alternativas mais eficazes para suprir eventuais faltas de saldo de caixa, visto que o fluxo estabelece os objetivos e as metas a atingir pela empresa. Ainda segundo o mesmo autor, as principais desvantagens do uso de um fluxo de caixa são: z quanto ao planejamento - os erros cometidos pelo gestor financeiro vinculam-se às estimativas do fluxo de caixa que, por sua vez, dependem da exatidão das projeções de vendas que lhe servirão de base para todo o sistema orçamentário global; z apresentará restrições por parte de alguns grupos da empresa quanto a mudanças de planejamento e de controles orçamentários; z poderá haver um imediatismo por parte do gestor financeiro ou de algumas pessoas na obtenção dos resultados, através da utilização do fluxo de caixa; z haverá sempre a necessidade de comparar os resultados apurados com os projetados pela empresa, visando o melhor planejamento de ingressos e de desembolsos de caixas futuros; z as instabilidades do mercado poderão prejudicar o desempenho do fluxo de caixa da empresa, em função das variações nas atividades econômico- financeiras para o período projetado. A projeção do fluxo de caixa consiste em uma importante e fiel ferramenta para se apurar o lucro real obtido no período e a falta deste, que deve ser suprido pelo capital de giro, assim como descrito no próximo item. 1.4 CAPITAL DE GIRO Agora vamos começar a tratar das finanças a curto prazo, que tem como preocupação principal a análise das decisões que afetam os ativos e passivos circulantes. Nesse contexto, observa-se que, com certa freqüência, a expressão capital de giro é associada à tomada de decisões financeiras a curto prazo. Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 41 Saiba Mais De acordo com a Lei das S/A's (Lei 6.404 de 15/12/1976, em seus artigos 179 e 180), o curto prazo é delimitado por um período igual ao de um exercício social, que normalmente é de um ano. Na prática, as decisões financeiras tipicamente de curto prazo envolvem entradas e saídas de caixa que ocorrem no prazo de um ano ou menos; tais como encomendas de matéria prima, pagamentos à vista ou descontos na venda de produtos acabados. Confira acessando o site abaixo: http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1976/6404.htm Obs: Em 28 de dezembro de 2007, foi publicada a Lei 11.638/07 que altera a Lei 6.404/76. Confira as mudanças no site abaixo: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/ L11638.htm Uma boa parte dos fundos de uma empresa destina-se ao que chamamos de capital de giro, ativos circulantes ou ativos correntes. Em geral, estes ativos compreendem os saldos mantidos pela empresa nas contas disponibilidades, investimentos temporários, contas a receber e estoques (matérias primas, mercadorias para venda, produção em andamento e produtos acabados). A soma destes saldos, em qualquer momento, representa o montante investido pela empresa nestes itens. Vamos determinar, a seguir, como se apura a necessidade de levantar ou aprovisionar recursos para o capital de giro nas finanças das empresas. 1.4.1 Necessidade de Capital de Giro Capital de giro é o conjunto de valores necessários para a empresa fazer seus negócios acontecerem. Em geral, boa parte do total dos ativos de uma empresa são destinados a este capital. Além de sua participação sobre o total dos ativos da empresa, o capital de giro exige um esforço para ser administrado pelo gestor financeiro maior do que aquele requerido pelo capital fixo (SÁ, 1990). Atenção O capital de giro precisa ser monitorado constantemente, pois sofre o impacto das diversas mudanças econômicas enfrentadas pela empresa. As dificuldades relativas ao capital de giro numa empresa são originadas pela ocorrência dos seguintes fatores: z Redução das vendas; z Crescimento da inadimplência; z Aumento das despesas financeiras; z Aumento dos custos. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 42 A necessidade de capital de giro surge em função do ciclo financeiro da empresa (que será explicado no item 1.4.3). Quando o ciclo financeiro é longo, a necessidade de capital de giro é maior e vice-versa. Assim, a redução do ciclo de caixa - em resumo, significa receber mais cedo e pagar mais tarde - deve ser uma meta da administração financeira. Entretanto, a redução do ciclo de caixa requer a adoção de medidas de natureza operacional, envolvendo o encurtamento dos prazos de estocagem, produção, operação e vendas. O cálculo através do ciclo financeiro (desenvolvido no item 1.4.3) possibilita mais facilmente prever a necessidade de capital de giro em função de uma alteração nas políticas de prazos médios ou no volume de vendas. Através do saldo das contas no Balanço Patrimonial, pode-se determinar a necessidade de capital de giro da seguinte forma: NCG = Contas a Receber + Estoque - Contas a Pagar. Dessa forma, podemos determinar o valor necessário para que as operações financeiras da empresa mantenham-se com um status de saudável. Porém, é muito importante a conciliação do fluxo de caixa, visto anteriormente, para determinarmos também os períodos em que será necessário cada montante do capital de giro apurado como necessário. Se não obtivermos o valor necessário para o capital de giro, nos resta crer que esta organização, ao invés de necessitar de recursos para fechar seu período, está com recursos extras, além do necessário. Trata-se de uma situação bastante saudável e confortável. A esta situação, dá-se o nome de saldo de tesouraria. 1.4.2 Saldo de Tesouraria Tesouraria é o setor de uma organização encarregado da contabilidade e do armazenamento do dinheiro - caixa (SÁ, 1990). O saldo de tesouraria é obtido pela diferença entre o ativo financeiro e o passivo financeiro: T = Ativo Financeiro – Passivo Financeiro, Você também pode determinar pelo valor residual decorrente da diferença entre o Capital de Giro e a necessidade de capital de giro, da seguinte forma: T = CDG – NCG Ou seja, trata-se da diferença entre o valor que se tem em caixa e o valor que é necessário para saldar as obrigações no período. Quando positivo é sinal que existe dinheiro sobrando no caixa, que pode ser investido na produção, algum ativo financeiro, ou até mesmo financiar um prazo maior aos clientes. Quando negativo, observa-se a evidência de que não há dinheiro suficiente para o cumprimento das obrigações, levando as organizações a buscar soluções para esse fechamento, que comumente se dá em buscar dinheiro no mercado financeiro, através de empréstimos ou venda de capital. Um saldo positivo de tesouraria representa uma reserva financeira da empresa para fazer frente a eventuais expansões da necessidade de Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 43 investimento operacional em giro, principalmente aquelas de natureza sazonal. A condição fundamental para que a empresa esteja em equilíbrio financeiro é que seu saldo de tesouraria seja positivo. Tanto situações de necessidade de capital de giro quanto em que ocorrem saldo de tesouraria, podem ser visualizadas nos ciclos empresariais: operacional e financeiro. Veja a seguir do que se trata. 1.4.3 Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro Podemos dizer que os ativos correntes constituem o capital de empresa que circula até transformar-se novamente em dinheiro, dentro de um ciclo de operações. Nota-se assim que o curto prazo, como duração desse ciclo de operações, na verdade varia conforme a natureza das operações da empresa, e se resume ao tempo exigido para que uma aplicação de dinheiro em insumos variáveis gire inteiramente, desde a compra de matéria prima e o pagamento de funcionários, até o recebimento correspondente à venda do produto ou serviço (MATIAS, 2007). A figura abaixo representa graficamente o ciclo operacional de uma empresa. Caixa Estoque de Matéria Prima Estoque de Produtos Acabados Duplicatas a Receber >>>>> >>>>> >>>>> Compra de Matéria Prima Produção Vendas à prazo Vendas à vista W W FIGURA 2 - Ciclo Operacional FONTE: Os autores Observe que existe certa dificuldade em visualizar uma empresa real em funcionamento e examinar o processo pelo qual as etapas são vencidas nesse ciclo, principalmente quando se considera que uma empresa certamente terá vários ciclos em andamento, simultaneamente e em etapas distintas a cada momento. Atenção As empresas mantêm capital de giro para sustentar um dado volume de operações. Os investimentos que ela faz, em cada item, dependem da natureza das operações às quais a empresa se dedica e das peculiaridades do setor em que ela atua. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 44 Vamos distinguir o Ciclo Operacional do Ciclo Financeiro (ou de caixa). Suponha o seguinte exemplo: num certo dia (data zero) você adquire mercadorias no valor de R$ 100.000,00 a serem pagos em 30 dias. Após 60 dias desta compra, você vende estas mercadorias por R$ 120.000,00 para pagamento num prazo de 45 dias. Cronologicamente, estes eventos podem ser resumidos conforme quadro a seguir: TABELA 10 - Cronologia de Eventos Compra de Mercadorias Evento Pagamento da Compra Venda da Mercadoria a prazo Recebimento da venda 0 30 60 105 Dia Caixa (R$ 100.000,00) R$ 140.000,00 FONTE: Os autores A primeira observação pertinente é que o ciclo completo, desde o momento da compra até o recebimento de caixa levou 105 dias. Denominamos este período de Ciclo Operacional. O seja, o ciclo operacional é o período que vai desde a compra da mercadoria até seu recebimento. Observe ainda que este ciclo possui dois componentes distintos. A primeira parte é o tempo que leva para comprar e vender a mercadoria, denominado de Prazo de estocagem, representado por 60 dias no exemplo acima. A segunda parte é o tempo necessário para receber a venda, denominado de Período de Contas a Receber, representado por 45 dias no caso do exemplo. Desta forma, temos: Ciclo Operacional = Prazo de Estocagem + Prazo de Recebimento de Vendas Onde, período de Estocagem representa o período entre a compra e a venda da mercadoria; e Prazo de Recebimento de Vendas é determinado pelo intervalo entre a venda da mercadoria e o recebimento da venda. Assim: Ciclo Operacional = 60 dias + 45 dias = 105 dias. Outra observação pertinente sobre o exemplo é que os fluxos de caixa e os outros eventos não estão sincronizados. Note que nada se pagou pelo estoque até 30 dias após a compra. A este prazo denominamos Prazo de Contas a Pagar: período entre o recebimento do estoque e seu pagamento. Houve então um desembolso de R$100.000,00 no dia 30 e, no entanto, não houve qualquer recebimento até o dia 105, o que evidencia a necessidade de financiamento dos R$100.000,00 por 75 dias (105 – 30). A este período denominamos Ciclo Financeiro, representando o número de dias transcorridos desde o pagamento do estoque até o recebimento da venda. Capítulo 1 Q Fundamentos da Gestão Financeira 45 Com base nestas definições, temos então que o Ciclo Financeiro que pode ser calculado como a diferença entre o Ciclo Operacional e o Prazo de Contas a Pagar Ciclo de Caixa = Ciclo operacional – Prazo de contas a pagar A figura a seguir representa as atividades operacionais a curto prazo e os fluxos de caixa de uma empresa comercial típica, mostrando a linha de tempo do fluxo de caixa. FIGURA 3 - Ciclo Operacional FONTE: Os autores A necessidade de uma administração financeira a curto prazo fica evidente nesta figura, quando se observa a defasagem entre as entradas e as saídas de caixa. Esta defasagem está relacionada à extensão do Ciclo Operacional e do Prazo de Contas a Pagar, cuja diferença gera o Ciclo Financeiro. A gestão dessa defasagem entre entradas e saídas de caixa a curto prazo passa por opções gerenciais, tais como: Empréstimos de curto prazo; Manutenção de Reserva de Liquidez (caixa ou títulos); Alteração no Prazo de Estocagem; Alteração no Prazo de Contas a Receber; Alteração no Prazo de Contas a Pagar. Neste capítulo, aprendemos que: Finanças podem ter seu conceito representado pela técnica ou ciência de administrar fundos. Nesse contexto, os administradores financeiros administram as finanças de todos os tipos de empresas, desempenhando uma série de tarefas relacionadas à movimentação de valores. Apesar de a administração financeira ter, como vimos, esse contato íntimo com a contabilidade, entendemos que a primeira tem como visão o fluxo de caixa, representado pelas seqüências de pagamentos ou recebimentos; ao passo que a contabilidade tem suas atenções voltadas ao regime de competência, apropriando receitas e despesas ao período de sua realização, independentemente da ocorrência ou não dos recebimentos das receitas ou dos pagamentos das despesas. Toda essa atenção à movimentação de fundos em uma organização tem um objetivo: monitorar e gerir operações de investimentos (aplicação de algum tipo de recurso com a esperança de receber no futuro um retorno superior ao investimento), amortizando (eliminação de uma dívida por meio de pagamentos Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 46 periódicos) e depreciando-os quando possível ou necessário. Por depreciação entendemos os custos ou as despesas decorrentes do desgaste ou da obsolescência dos bens adquiridos. São fatores importantes na apuração do lucro e, por conseqüência, incisivos na apuração dos resultados para a base de cálculo do imposto de renda. Essas despesas são normalmente descontadas das receitas, que tratam do aporte de valores que ocorre em uma empresa. A receita, quando apurada, vai se chamar de receita bruta e somente após as devidas deduções (despesas, custos, estoques, impostos, etc.), se apresenta como receita líquida. Com todas essas informações financeiras que vimos, conseguimos dispô- las em formas de demonstrações financeiras tais como o DRE (Demonstração do Resultado do Exercício), que tem por objetivo evidenciar a formação do resultado líquido em um exercício confrontando receitas, custos e despesas apuradas. Com essas informações podemos ainda construir o chamado Balanço Patrimonial, que objetiva apresentar a posição contábil, financeira e econômica de uma empresa em determinada data, representando a situação do patrimônio; ou ainda alimentar uma terceira ferramenta que vimos, chamada fluxo de caixa, onde ocorre todo o planejamento e o controle financeiro a curto, médio e longo prazos da empresa. Tratando-se das finanças de curto prazo, vimos com freqüência a expressão capital de giro, associada à tomada de decisões financeiras. Trata-se de um conjunto de valores necessários para a empresa realizar suas operações, pois boa parte do total dos ativos de uma empresa é destinada a este capital. Surge aí a atenção aos ciclos empresariais - operacional e financeiro – onde o primeiro vai tratar do tempo de estocagem de produtos, somado ao prazo para o recebumento das vendas dos mesmos; e o segundo, o resultado do ciclo operacional, descontando-se o prazo para o pagamentos decorrentes das atividades empresariais. Assim, podemos acreditar que você está pronto para realizar a atividade abaixo recomendada. Atividade Complementar 1) Do que trata a gestão financeira? 2) Qual a função do gestor financeiro? 3) Qual a diferença entre a gestão financeira e a contabilidade? 4) Defina amortização e depreciação, citando a importância dessa tarefa. 5) Qual a diferença entre despesas e custos? 6) O que é um DRE? Para que serve? 7) Qual o princípio fundamental do Balanço Patrimonial? 8) O que é um fluxo de caixa e como este pode ajudar na determinação da necessidade de capital de giro? 47 C A P ÍT U LO 2 2 DECISÕES DE FINANCIAMENTOS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS Objetivos de Aprendizagem 1. Distinguir a formação do custo de capital, seja ele próprio ou de terceiros e os efeitos dos impostos sobre a renda. 2. Propor as formas de alavancagem empresarial: operacional, financeira ou combinada (operacional e financeira). 3. Analisar a viabilidade de um investimento por meio de técnicas matemáticas: Pay Back Simples, Pay Back Descontado, Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR). INTRODUÇÃO Podemos tratar do termo financiamento como uma ação organizacional/ empresarial realizada para pagar um produto/serviço por meio de um empréstimo. Financiamentos normalmente são oferecidos por instituições financeiras, tais como bancos, cobrando juros sobre os valores. Tecnicamente, o financiamento diferencia-se do empréstimo pelo vínculo direto que ocorre com algum bem ou serviço. Para a escolha e decisão das formas de financiamentos a se adotar, faz-se necessária a prática de análise dos investimentos pelo gestor financeiro da empresa. Esta tarefa objetiva quantificar as vantagens e as desvantagens do projeto que a empresa pretende realizar. Assim, esse capítulo almeja orientá-lo nas decisões de financiamentos, onde se faz necessário demonstrar o conceito de custo de capital (próprio ou de terceiros), para assim podermos projetar alavancagens (operacionais e/ou financeiras) e analisarmos a viabilidade dos investimentos por técnicas que serão abordadas, tais como: o Pay Back (que contempla o tempo de retorno de um investimento), o VPL (Valor Presente Líquido, que consiste em trazer todos os fluxos previstos em um projeto ao valor presente),e a determinação da TIR (Taxa Interna de Retorno, que nada mais é do que apurar a taxa de rendimento que os fluxos projetados nos retornará). 2.1 DECISÕES DE FINANCIAMENTOS O financiamento das atividades executadas pelas empresas é realizado por meio da aplicação de diferentes tipos de fundos obtidos externamente ou Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 48 gerados no decorrer das operações. Uma classificação bem simples divide esses fundos em duas categorias: capital próprio e capital de terceiros, a serem estudados a seguir, dentre outros tópicos adjacentes. 2.1.1 Custo de Capital Quando você detém um capital, ao investir ou aplicar esse recurso em uma determinada entidade, exige-se um retorno mínimo a título de remuneração do seu patrimônio. A taxa de captação dos recursos entregues à administração da empresa, levado em conta o princípio contábil da entidade, significa o custo de capital que representa a taxa de financiamento da entidade. Ou seja, o custo do capital pode ser representado pela taxa de juros que as empresas usam para calcular, descontando o valor do dinheiro no tempo (ATKINSON et al, 2000). O custo do capital tem efeito sobre as operações da empresa que, consequentemente vem afetar a sua lucratividade. Este pode ser obtido considerando todas as fontes dos recursos postos à disposição da empresa, de acordo com a participação percentual do capital próprio e de terceiros (ATKINSON et al, 2000). O Custo Médio Ponderado de Capital - CMPC é obtido pelo custo de cada fonte de capital ponderado por sua respectiva participação na estrutura de financiamento da empresa. Exemplo: Analisando as contas de uma empresa, observou-se que esta apresenta um Patrimônio Líquido de R$ 70.000 e dívidas de R$ 30.000. Portanto, há 70% de capital próprio e 30% de capital de terceiros. Sabe-se que: z a remuneração requerida pelos acionistas é de 20% ao ano; z o custo da dívida é de 10% ao ano; Então: CMPC = (20% x 70%) + (10% x 30%) = 17% ao ano. Ao custo do capital, agrega-se outro fator: o tributário. Observe a seguir a influência dos impostos sobre a renda nas atividades empresariais pertinentes aos nossos estudos neste caderno. 2.1.2 Efeitos dos Impostos sobre a Renda O imposto de renda é um imposto devido onde cada indivíduo ou empresa é obrigado a deduzir certa porcentagem de sua renda média anual para o governo. Esta percentagem pode variar de acordo com a renda média anual, ou pode ser fixa em uma dada percentagem. No Brasil, o imposto de renda é cobrado mensalmente e no ano seguinte o contribuinte prepara uma declaração de ajuste anual de quanto deve do imposto ou se tem restituição de valores pagos a mais, sendo que esses valores deverão ser homologados pelas autoridades tributárias. Capítulo 2 Q Decisões de Financiamentos e Análise de Investimentos 49 Vamos observar, ao analisar as contas empresariais, que a questão tributária afeta tanto o uso do capital próprio quanto quando usamos capital de terceiros. Não importa como conduzimos estas questões, os impostos estarão sempre presentes. 2.1.3 Custo de Capital Próprio O custo do capital próprio é calculado a partir da expectativa de retorno sobre o patrimômio líquido durante um determinado período (normalmente um ano) baseado em níveis de taxa de juros e retorno de mercado do mesmo no tempo. Para a obtenção do retorno, o risco de patrimônio líquido se aproxima do risco de mercado comum. Então, podemos afirmar que o custo do patrimônio líquido é representado pela taxa de retorno que os investidores exigem para realizar um investimento patrimonial em uma empresa (ATKINSON et al, 2000). 2.1.4 Custo do Capital de Terceiros Para calcular o custo do capital de terceiros, basta você identificar a taxa de captação de capital externo para fazer parte da estrutura de capital da sua empresa. O efeito do crescimento do montante do capital de terceiros, no custo de capital da empresa, se dá na forma que a taxa de capitalização do patrimônio líquido cresce na medida da redução do custo do capital de terceiros. O valor de mercado total de qualquer companhia é independente da sua estrutura de capital, e pode ser encontrado pela capitalização das expectativas de retorno futuras descontadas a uma taxa apropriada, considerado o risco do negócio (ATKINSON et al, 2000). Com os conhecimentos somados até o momento, podemos entrar no campo da alavancagem empresarial, que ora vai promover melhorias operacionais, ora financeiras e ora ambas simultaneamente. 2.2 ALAVANCAGEM Para Martins (2006), as grandes organizações estão sempre buscando alternativas para incrementar o seu potencial produtivo, ter lugar de destaque no mercado e diante da concorrência. O lema hoje é a diminuição de custo, mas se possível sem que isso tenha reflexo no volume de vendas e, acima de tudo, na rentabilidade e lucratividade da empresa. Para Pensar O que podemos sugerir aos gestores financeiros das organizações diante de uma economia de mercado que se apresenta muitas vezes conturbada? Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 50 Vamos tentar identificar o comprometimento que existe na relação custo, volume e lucro para a tomada de decisão e de controle, e a importância significativa da participação dos gestores. Diante de uma economia de mercado tão conturbada quanto a que estamos vivendo, podemos perceber certo receio dos gestores financeiros das organizações. Nesse cenário, diante de uma tomada de decisão, é necessário ter cautela na hora de optar pela melhor decisão, no intuito de se alcançar o melhor desempenho. Saiba Mais Na física, alavancagem é representada pelo emprego de uma alavanca para erguer um objeto, empregando menos força. Conforme a posição do ponto de apoio em relação ao objeto a ser movido, emprega-se mais ou menos força na ponta da alavanca. Daí o termo alavancar. Para nós, essa expressão terá o significado de promover e estimular um negócio ou obter fundos para custear um projeto com recursos externos à empresa. O estudo da relação custo, volume e lucro é algo de grande importância para a contabilidade gerencial e de custo, pois favorecem uma visão clara que envolvem várias vertentes dentro do sistema contábil, do operacional, no que se refere a importante responsabilidade da administração, onde o que importa é a análise dos seus próprios produtos e ver o comprometimento econômico de cada um deles e, em seguida, identificar as causas e as potencialidades estratégicas dos resultados; ao financeiro, que representa a diferença entre a obtenção de recursos de terceiros a um determinado custo e a aplicação desses recursos no ativo da empresa a uma determinada taxa; essa diferença provoca alteração na taxa de retorno sobre o patrimônio líquido (MARTINS 2006). O estudo da alavancagem pressupõe uma análise operacional e financeira da empresa, onde podemos combinar os efeitos da alavancagem operacional que parte da relação entre variação no lucro sobre variação no volume, e da alavancagem financeira, que leva em consideração o lucro líquido, patrimônio líquido médio, despesas financeiras e ativo total médio. Assim, se uma organização tiver uma boa alavancagem financeira e operacional, pequenas mudanças nas vendas produzirão grandes flutuações nos lucros. Grande importância deve ser dada ao Grau de Alavancagem, pois ele reflete o nível de operacionalização da empresa do controle interno a contabilidade, estando inseridos todos os quocientes analíticos das demonstrações contábeis (NEVES; VICECONTI, 2001). Nesse contexto, vamos dar início trabalhando a alavancagem operacional, apresentada e discriminada com mais detalhes no próximo item. 2.2.1 Alavancagem Operacional Para Neves; Viceconti (2001), a alavancagem operacional representa o efeito desproporcional entre a força efetuada no nível de produção e a força obtida Capítulo 2 Q Decisões de Financiamentos e Análise de Investimentos 51 na obtenção dos lucros. Ou seja, pode ser definido como sendo a variação percentual nos lucros operacionais, relacionada com determinada variação percentual no volume de vendas. Faz-se necessária à junção dos fatores: custos variáveis e custos fixos, para termos a alternância entre lucro e prejuízo. A Alavancagem Operacional é aferida pela proporção dos custos fixos em relação aos custos variáveis. Pode-se dizer que para os produtos que tem uma alta alavancagem operacional, caracterizada por altos custos fixos e baixos custos variáveis, pequenas alterações no volume de vendas irão resultar em grandes mudanças nos lucros. Já para os produtos que têm uma baixa alavancagem operacional, caracterizada por baixos custos fixos e altos custos variáveis, as mudanças no volume de vendas não resultarão em grandes mudanças nos lucros (MARTINS 2006). Atenção O nível de alavancagem operacional necessita ser bem analisado, pois reflete o comprometimento da empresa em relação ao seu nível de produção e com isso o grau de risco, no que se refere a sua lucratividade. No caso da Alavancagem Operacional, leva-se em consideração que, quanto maior for o volume de produção e quanto mais distante a empresa estiver de seu ponto de equilíbrio, ou seja, a quantidade mínima a se produzir para que não tenha prejuízo, menor será o seu grau de alavancagem operacional, pois a variação no volume de produção provocará menor impacto no percentual de lucro. Embora o Grau de Alavancagem Operacional (GAO) tenda a diminuir de valor quando se encontra acima do ponto de equilíbrio, também será menor o risco de a empresa entrar em prejuízo caso sofra uma redução na atividade produtiva (NEVES; VICECONTI, 2001). Caso o GAO for alto, ou seja, esteja abaixo do ponto de equilíbrio, isso representa que a empresa está trabalhando próxima ao ponto de equilíbrio e o risco de melhorar ou piorar seu resultado é bastante elevado. Por si só a Margem de contribuição não estabelece que a baixa de vendas implique diretamente em lucro ou prejuízo. Um fator que influencia na rápida passagem de lucro para prejuízo (ou de prejuízo para lucro) é o alto valor dos custos fixos, basta verificar que, quando não há custo fixo, não importa quão alta seja à margem de contribuição, nunca haverá prejuízo (NEVES; VICECONTI, 2001). Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 52 Saiba Mais Todo empreendimento necessita identificar a sua margem de risco, ou seja, o seu ponto de equilíbrio. É necessário buscar condições, tanto operacionais quanto financeiras, para que não se opere dentro dessa margem, pois o resultado pode não ser satisfatório e pode se tornar irreversível para a empresa. Veja mais no site abaixo: http://www.administradores.com.br/artigos/ponto_de_equilibrio_uma_ ferramenta_de_gestao_eficiente/22411/ Assim sendo, faz-se necessária a junção desses dois fatores: Margem de Contribuição e Custos Fixos - ou, no nosso caso, como o preço de venda é constante, assim como os custos fixos, conseguimos com isto ter uma visão mais facilmente do nível de alavancagem e sua relação com o nível de produção (para mais e para menos), refletindo diretamente na lucratividade da empresa. Então, a alavancagem operacional ocorre quando um crescimento de x% nas vendas provoca um crescimento de n vezes x% no lucro bruto. O efeito de alavancagem ocorre pelo fato de que os custos fixos são distribuídos por um volume maior de produção, fazendo com que o custo unitário da mercadoria seja reduzido, sendo que o fator n é o que representa o grau de alavancagem operacional. Pode ser definida como a capacidade que a empresa possui de usar custos operacionais fixos para aumentar os retornos de seus investidores (MARTINS, 2006). EXEMPLO: Se uma empresa que produz um tipo de computador, com as seguintes características: Custos Variáveis R$ 1.400/un Custos + Despesas Fixas R$ 100.000/mês Preço de Venda R$ 2.400/un PE = 100.000 / (2.400 – 1.400) = 100 unidades por mês Suponhamos que esteja produzindo e vendendo 120 unidades / mês, obtendo com isso um lucro de: 20 un x $ 1.000 = $ 20.000/ mês Sua margem de segurança é de 20 unidades, pois pode ter esta redução sem entrar na faixa de prejuízo. Em termos percentuais está com uma margem de segurança de 16,67%. (MS = (20 / 120) x 100 = 16,67%) Capítulo 2 Q Decisões de Financiamentos e Análise de Investimentos 53 Em volume de receitas segue-se o mesmo raciocínio: MS = (((120 x 2.400) – (100 x 2.400))/(120 x 2.400)) x 100 = 16,67% Se passar a produzir 144 unidades por mês, seu lucro será de: 44 un x R$1.000,00 = R$ 44.000,00 Comparando com a situação anterior temos: z aumento do volume: 24 un, ou seja, 20%; z aumento no lucro: $ 24.000,00, ou seja, 120% (44000/20000); Um acréscimo de 20% no volume de atividades, que correspondeu a um aumento de 120% no resultado, com uma alavancagem de: GAO = variação nos lucros / variação nas vendas. Então: GAO = 120% / 20% = 6 vezes Além da alavancagem operacional, podemos também promovê-la com vistas financeiras. Observe no item 2.2.2. 2.2.2 Alavancagem Financeira Alavancagem Financeira é a capacidade da empresa em usar encargos financeiros fixos para maximizar os efeitos de variações no lucro antes de descontar os juros e imposto de renda sobre o lucro por ação. Isso quer dizer que a alavancagem financeira acontece, positiva, quando os capitais de terceiros de longo prazo produzem efeitos positivos sobre o patrimônio líquido sendo vantajoso para uma empresa, os capitais de terceiros de longo prazo, somente quando o retorno sobre o ativo for superior ao retorno sobre o patrimônio líquido. Então podemos definir a alavancagem financeira como a alavanca que esta captação produz ou não no retorno aos acionistas (NEVES; VICECONTI, 2001). O resultado da alavancagem financeira pode ser melhor interpretado pela fórmula e seu coeficiente, ao qual denominamos de Grau de Alavancagem Financeira (GAF), que fica representada efetivamente pelo quociente entre o retorno sobre Patrimônio Líquido (RsPL) e o retorno sobre o ativo (RsA) da empresa. Dica Se GAF = 1,0 => a alavancagem financeira nula Se GAF > 1,0 => a alavancagem financeira favorável Se GAF < 1,0 => a alavancagem financeira desfavorável Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 54 Tomando-se por exemplo uma indústria com os seguintes dados: 2007 2008 Ativo 75.000 90.000 Exig.L.Prazo 15000 20.000 Lucro Líquido 3000 4.000 P.Líquido 12000 18.000 GAF em 2000 RsPL = 3.000 / 15.000 x 100 = 20,00% RsA = 12.000 / 75.000 x 100 = 16,00% GAF = RsPL / RsA = 20,00% / 16,00% = 1,250 GAF EM 2001 RsPL = 4.000 / 20.000 x 100 = 22,50% RsA = 18.000 / 90.000 x 100 = 20,00% GAF = RsPL / RsA = 22,50% / 20,00% = 1,125 A conclusão que você pode extrair é a de que, em 2007, o grau de alavancagem, embora positivo, tinha um resultado de 1,250. No ano de 2001, a empresa fez crescer seu ativo incorporando mais recursos e o grau de alavancagem, embora positivo, diminuiu para 1,125. Os resultados de 1,250 e 1,125 têm o seguinte significado: z em 2007 – a alavancagem financeira é favorável em 125,00%, ou seja, os capitais de terceiros contribuem para gerar um retorno adicional de 25,00% sobre o patrimônio líquido; z em 2008 – a alavancagem financeira é favorável em 112,50%, ou seja, os capitais de terceiros contribuem para gerar um retorno adicional de 12,50% sobre o patrimônio líquido. Tendo visto que podemos alavancar uma empresa tanto operacionalmente quanto financeiramente, podemos combinar então essas duas formas de alavancagem, como será observado no próximo passo nesse estudo. 2.2.3 Alavancagem Combinada É a capacidade da empresa usar custos fixos, tanto operacionais como financeiros, para aumentar os efeitos de variações nas vendas sobre o lucro liquido. Exemplo: Uma empresa vende 10.000 unidades de certo produto a R$5,00/unidade. Seus custos variáveis são de R$ 2,00/unidade, os custos fixos R$5.000,00. Paga juros de R$10.000,00 e dividendos referenciais de R$6.000,00. Sabendo-se que possui 1.250 ações ordinárias e que a alíquota do IR é de 40%, determinar o efeito da alavancagem combinada para uma venda estimada de 15.000 unidades. Capítulo 2 Q Decisões de Financiamentos e Análise de Investimentos 55 TABELA 11 - Alavancagem FONTE: Os autores O Grau de Alavancagem Combinada (GAC) é dado pela razão entre duas variações percentuais do lucro por ação "LPA" e a variação percentual nas vendas. GAC = UUUUU% do lucro por ação / UUUUU% das vendas Então: GAC = 300% / 50% = 6 vezes Sempre que o quociente for superior a 1, verifica-se a existência de alavancagem combinada, que será tanto maior quanto maior for o total dos custos fixos operacionais e financeiros. Assim, o Grau de Alavancagem Combinada está relacionado com o risco total da empresa e com a capacidade da empresa de cobrir seus custos fixos, tanto operacionais como financeiros. Saindo do contexto da alavancagem empresarial, vamos passar agora a discutir itens importantes nas análises de investimentos. Trata-se de elementos que nos permitem decidir em que opção de investimentos aplicarmos os nossos recursos. 2.3 ANÁLISE DE INVESTIMENTOS Tanto os indivíduos como as organizações querem ganhar dinheiro para gastá-lo no futuro, em outro momento. Porém, muitas vezes o consumo presente é mais desejável que o consumo futuro, e isto é assim exatamente, porque o futuro é muito incerto. Por isto, é melhor ter um real hoje do que um real de hoje Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 56 daqui a um ano. Para que optemos por querer esse valor no futuro, deve ser dado algo extra para conseguir que nós adiemos esta satisfação (SILVA, 2005). Existem consumidores e negociantes que realmente precisam do valor o presente e estão dispostos a reembolsar mais do que este no futuro. Negociantes podem investir os fundos de empréstimos de capital para criar lucros que são suficientes para reembolsar os fundos de empréstimo mais os juros. Os consumidores e governos pedem emprestado por várias razões, mas espera-se que tenham renda suficiente no futuro para reembolsar o principal e os juros. Isto é o que chamamos de valor do dinheiro no tempo (CAVALHEIRO, 1989). Dica Aplicar o conceito de valor do dinheiro no tempo é sem dúvida fundamental, pois é ele que determina a análise das alternativas de investimentos. Acesse o site abaixo e conheça mais sobre o valor do dinheiro no tempo: http://www.bertolo.pro.br/Adminfin/Manual_VDT.htm Os investimentos estão classificados em dois grupos principais: a) Investimentos Empresariais - ativos de um investimento empresarial (por exemplo, uma nova fábrica) têm um prazo longo e predefinido de duração, no qual todos os dados previstos de entradas e saídas de caixa precisam ser confirmados ano a ano e; b) Investimentos Financeiros - realizados no mercado financeiro, aplicando dinheiro em títulos e ações, normalmente com liquidez imediata ou pequena. Para Pensar Qual a principal dificuldade na análise de investimentos? Quando as estimativas sobre os dados do investimento são imprecisas, é recomendável que a análise de investimentos utilize três hipóteses: provável, otimista e pessimista. Desse modo, a análise de investimentos produzirá um PayBack (tempo de retorno do investimento) e um Valor Presente Líquido máximo, médio e mínimo esperados (SILVA, 2005). O desenvolvimento de critérios econômicos de decisão Consiste em analisar uma, duas ou mais propostas de investimento para concluir se é financeiramente vantagem efetivá-la ou qual delas é a mais rentável financeiramente, ou seja, qual a que trará maior lucro em dinheiro (DAMODARAN, 1997). Capítulo 2 Q Decisões de Financiamentos e Análise de Investimentos 57 Ao realizar suas projeções para analisar um investimento, vai-se perceber que a principal dificuldade será a obtenção de dados confiáveis, principalmente as projeções de entradas de caixa, que se originam de estimativas de vendas e não de certezas de vendas e/ou recebimento das mesmas. Para analisar os investimentos você deve utilizar os seguintes indicadores: z Pay Back Simples, z Pay Back Descontado, z Valor Presente Líquido, z Taxa Interna de Retorno. Antes de iniciarmos a discussão acerca desses indicadores, é importante demonstrar um outro elemento que; com exceção do Pay Back Simples, que aparece logo a seguir no próximo tópico; nos aparecerá como fator de comparação na tomada de decisão. Trata-se da Taxa Mínima de Atratividade (TMA). Essa taxa é específica para cada empresa e representa a taxa de retorno que a empresa está disposta a aceitar em um investimento de risco, para abrir mão de um retorno certo num investimento sem risco no mercado financeiro; e a mínima taxa que podemos aceitar para a aplicação do capital da empresa num investimento. 2.3.1 Pay Back Simples Pay Back Simples significa o tempo necessário para obtermos o retorno do investimento feito, sem considerarmos o valor do tempo no dinheiro, isto é sem considerar uma taxa de rendimento para este capital investido (DAMODARAN, 1997). Uma empresa está analisando um investimento para colocar gás no seu veículo de entregas. Os dados são: z Instalação do gás: R$ 3.000,00; z Economia em combustível: R$ 150,00 mensais. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 58 TABELA 12 - Fluxo com pay back simples. FONTE: Os autores Com estas informações você pode determinar que o Pay Back Simples deste investimento será de 20 meses. Vale lembrar que não estamos considerando o valor do dinheiro no tempo, pois quando obtivermos o retorno de R$150,00 no décimo mês, já não terá mais o mesmo poder de compra como no dia de hoje. Por esse motivo, o Pay Back Simples não é o melhor indicador para uma tomada de decisão em investimento financeiro. Nessa linha de raciocínio (tempo para recuperar o investimento), sugere-se a utilização do Pay Back Descontado, como a seguir. Capítulo 2 Q Decisões de Financiamentos e Análise de Investimentos 59 2.3.2 Pay Back Descontado Tente realizar o mesmo exemplo, porém desta vez com uma taxa mínima de atratividade. z Instalação do gás: R$ 3.000,00; z Economia em combustível: R$ 150,00 mensais; z Taxa Mínima de Atratividade: 1,00 % a.m. TABELA 13 - Fluxo com Pay Back Descontado FONTE: Os autores Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 60 Pay Back Descontado significa o tempo necessário para obtermos o retorno do investimento feito, considerando o valor do tempo no dinheiro, isto é; considerando uma taxa de rendimento para este capital investido. Payback é a relação entre o valor do investimento e o fluxo de caixa do investimento. O tempo de retorno indica em quanto tempo ocorre à recuperação do capital investido (DAMODARAN, 1997). Percebeu? Ao considerar o valor do capital no tempo, podemos concluir que o retorno do investimento somente se dará entre o 22º e o 23º mês, quando o capital começa a ser recolocado positivamente. Outra forma de se analisar uma proposta de investimento é pelo método do valor presente líquido, onde trazemos todos os fluxos de uma projeção ao valor presente, considerando uma taxa de desconto. Veja a seguir. 2.3.3 Valor Presente Líquido (VPL) O valor presente líquido (VPL) de um projeto de investimento é igual ao valor presente de suas entradas de caixa, menos o valor presente de suas saídas de caixa. A tarefa é trazer os retornos do investimento ao valor presente e analisar se o investimento deve ser feito ou não. Podemos ter as seguintes possibilidades para o Valor Presente Líquido de um projeto de investimento: z Maior do que zero: significa que o investimento é economicamente atrativo, pois o valor presente das entradas de caixa é maior do que o valor presente das saídas de caixa. z Igual a zero: o investimento é indiferente, pois o valor presente das entradas de caixa é igual ao valor presente das saídas de caixa. z Menor do que zero: indica que o investimento não é economicamente atrativo porque o valor presente das entradas de caixa é menor do que o valor presente das saídas de caixa. Dica Entre vários projetos de investimento, o mais atrativo é aquele que tem maior Valor Presente Líquido. Vamos usar o mesmo exemplo e determinar o VPL da decisão do proprietário do veículo ao instalar o Kit Gás no véu veículo, trazendo cada um dos fluxos positivos de R$ 150,00 ao momento presente (Mês 0), pela regra dos juros compostos onde PV = FV / (1 + TMA)n. Capítulo 2 Q Decisões de Financiamentos e Análise de Investimentos 61 Sendo: PV = Valor Presente FV = Valor Futuro n = Período TABELA 14 - Valor Presente Líquido FONTE: Os autores Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 62 Então, o valor presente líquido que você obteria nesse investimento seria de R$ 68,37. Além do VPL, outro indicador importante no processo decisório no que diz respeito à aplicação de capital é a Taxa Interna de Retorno. Observe abaixo do que se trata e veja ao final da explicação as situações em que apenas o VLP não nos ajuda na escolha de onde investir. 2.3.4 Taxa Interna de Retorno A Taxa Interna de Retorno (TIR), em inglês IRR (Internal Rate of Return), é a taxa necessária para igualar o valor de um investimento (valor presente) com os seus respectivos retornos futuros ou saldos de caixa. Sendo usada em análise de investimentos significa a taxa de retorno de um projeto (SILVA, 2005). Atenção Um projeto será atrativo se o mesmo tiver uma TIR maior do que TMA. O cálculo dessa equação pode ser obtido pelo processo iterativo (tentativa e erro), ou diretamente com o uso de calculadoras financeiras ou planilhas de cálculo. A Taxa Interna de Retorno de um investimento pode ser: z Maior do que a Taxa Mínima de Atratividade: significa que o investimento é economicamente atrativo. z Igual à Taxa Mínima de Atratividade: o investimento está economicamente numa situação de indiferença. z Menor do que a Taxa Mínima de Atratividade: o investimento não é economicamente atrativo, pois seu retorno é superado pelo retorno de um investimento com o mínimo de retorno. Dica Entre vários investimentos, o melhor será aquele que tiver a maior Taxa Interna de Retorno. Matematicamente, a Taxa Interna de Retorno é a taxa de juros que torna o valor presente das entradas de caixa igual ao valor presente das saídas de caixa do projeto de investimento. A TIR é a taxa de desconto que faz com que o Valor Presente Líquido (VPL) do projeto seja zero. Um projeto é atrativo quando sua TIR for maior do que o custo de capital do projeto (DAMODARAN, 1997). No caso supra citado, temos: PV = 3000 PMT = 150 n =23 Capítulo 2 Q Decisões de Financiamentos e Análise de Investimentos 63 3000 CHS PV 150 PMT 23 n i i = 1,20% a.m. então TIR = 1,20% a.m. Como o VPL foi representado por um valor positivo, certamente a TIR seria maior do que a TMA. Para Pensar Quando analisar um investimento pelo VPL e quando analisar pela TIR? Observe os exemplos: TABELA 15 - Comparação de investimentos iguais FONTE: O autor TABELA 16 - Comparação de investimentos diferentes TMA = 9,00% a.a. Ano PROPOSTA 1 PROPOSTA 2 0 R$ (10.000,00) R$ (10.000,00) 1 R$ 2.500,00 R$ 3.000,00 2 R$ 3.000,00 R$ 2.500,00 3 R$ 3.000,00 R$ 3.000,00 4 R$ 3.000,00 R$ 2.500,00 5 R$ 2.500,00 R$ 3.000,00 VPL = R$ 885,27 R$ 893,90 TIR = 12,34% 12,40% No caso ao lado, temos duas propostas de investimentos para R$ 10.000,00, projetando os retornos prováveis para os 5 anos propostos na operação. Como o valor do investimento foi o mesmo, onde tiver maior VPL teremos também a maior TIR. O indicador que será usado na escolha é indiferente. FONTE: Os autores TMA = 9,00% a.a. Ano PROPOSTA 1 PROPOSTA 2 0 R$ (20.000,00) R$ (30.000,00) 1 R$ 10.000,00 R$ 10.000,00 2 R$ 10.000,00 R$ 10.000,00 3 R$ 10.000,00 R$ 10.000,00 4 R$ 5.000,00 R$ 15.000,00 5 R$ 5.000,00 R$ 15.000,00 VPL = R$ 12.104,73 R$ 15.688,30 TIR = 33,68% 25,86% Já no segundo caso, temos duas propostas de investimentos com valores diferentes. Como os valores do investimento não são os mesmos, optamos pela maior TIR, pois apesar da proposta 2 apresentar maior VPL, a proposta 1 apresenta maior retorno sobre o investimento. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 64 Neste capítulo, aprendemos que: Quando das decisões de financiamentos, precisamos antes interpretar o custo de capital. Ao investir ou aplicar recursos em uma determinada entidade, esperamos um retorno mínimo a título de remuneração do patrimônio. A taxa de captação dos recursos entregues à administração da empresa significa o custo de capital (taxa de financiamento da entidade). Assim, o custo do capital pode ser representado pela taxa de juros que as empresas usam para calcular, descontando o valor do dinheiro no tempo. Este fator tem relevante efeito sobre as operações da empresa, pois conseqüentemente vem afetar a sua lucratividade. Assim, o custo do capital próprio é calculado a partir da expectativa de retorno sobre o patrimômio líquido durante um determinado período, baseado em níveis de taxa de juros e retorno de mercado do mesmo no tempo. Ou seja, o custo do patrimônio líquido é representado pela taxa de retorno que os investidores exigem para realizar um investimento patrimonial em uma empresa, ao passo que o custo do capital de terceiro é determinado pela taxa de captação de capital externo para fazer parte da estrutura de capital da empresa. Todas as organizações estão sempre buscando alternativas para melhorar o seu potencial, brigando por um lugar de destaque no mercado diante da concorrência. Para isso, costumam buscar a redução de custos e que isso tenha reflexo no volume de vendas e, por conseqüência, na rentabilidade e lucratividade da empresa. Assim, a alavancagem operacional representa o efeito desproporcional, entre a força efetuada no nível de produção e a força obtida na obtenção dos lucros, pela união de dois fatores que nos permitem a alternância entre lucro e prejuizo: custos variáveis e custos fixos. Já a alavancagem financeira visa usar encargos financeiros fixos para maximizar os efeitos de variações no lucro, antes de descontar os juros e o imposto de renda. Assim, a alavancagem financeira é positiva quando os capitais de terceiros de longo prazo produzem efeitos positivos sobre o patrimônio líquido, gerando vantagem para a empresa. Conhecendo essas duas formas de alavancagem, podemos criar um modo combinado entre ambas, usando custos fixos, tanto operacionais como financeiros, para aumentar os efeitos de variações nas vendas sobre o lucro liquido. Vimos que a principal dificuldade na tarefa de análise de investimentos é a obtenção de dados confiáveis, principalmente as projeções de entradas de caixa, que se originam de estimativas de vendas e não de certezas de vendas e/ ou recebimento das mesmas. Desse modo, a análise de investimentos produzirá um PayBack (tempo de retorno do investimento) e um Valor Presente Líquido máximo, médio e mínimo esperados. Com estes, podemos definir se um possível investimento é viável ou não. Mais uma vez, você certamente se encontra preparado para, com esses conceitos, responder às questões propostas na atividade abaixo relacionada. Capítulo 2 Q Decisões de Financiamentos e Análise de Investimentos 65 Atividade Complementar 1) Por que o gestor financeiro de uma organização deve estar atento ao seu custo de capital? 2) No caso de capital de terceiros, quem pode estar financiando este a uma organização? 3) Qual a diferença entre alavancagem operacional e financeira? 4) Como podemos combinar formas de alavancagem? 5) No que consiste analisar um investimento? 6) O que quer dizer “trazer valores a valor presente”? 7) Qual a influência da TMA em uma decisão de investimento? 8) Quando um investimento é economicamente viável? 66 67 C A P ÍT U LO 3 3 CUSTOS Objetivos de Aprendizagem 1. Distinguir as diferenças entre os tipos de gastos. 2. Separar os custos diretos dos indiretos. 3. Comparar o método de custeio por absorção, direto e indireto e Baseado em Atividades. 4. Analisar os resultados do custeio INTRODUÇÃO Neste Capítulo trataremos de alguns temas relacionados aos custos. Este é um assunto de extrema importância para qualquer gestor e, assim sendo, o conteúdo é extremamente extenso. Não há intenção de esgotarmos as possibilidades de estudo, pelo contrário, o objetivo é aguçar a curiosidade e dar alguns dos possíveis caminhos para um aprofundamento futuro. Daremos os primeiros passos no aprendizado da identificação e classificação dos gastos de uma organização. A tarefa dos registros está ligada à contabilidade geral ou financeira, já o controle dos custos está ligado à contabilidade gerencial (você deve imaginar que esta área da contabilidade é importantíssima para os administradores de todos os tipos de organização). A gestão e a análise dos custos trabalham com a precificação dos produtos ou serviços, com a apuração dos resultados, com as decisões de materiais e mão-de-obra e com a avaliação dos estoques, dentre outros temas. O custo real das compras também é um assunto que será tratado. Os diferentes métodos de custeio serão o cerne do Tópico 2 do presente capítulo. Nele observaremos as diferenças, vantagens e desvantagens de cada método apresentado. Já no Tópico 3 faz-se uma exposição de algumas questões referentes à análise dos custos. No derradeiro tópico deste capítulo, e não menos importante, há uma mostra básica de como podemos utilizar os custos para a precificação ou, no mínimo, para compararmos com os preços que utilizamos atualmente na nossa empresa. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 68 Dando continuidade aos estudos de Gestão Financeira e Custos, iniciaremos nosso estudo com a classificação dos gastos, que servirá de base para os demais itens que vem a seguir. Desejamos um ótimo estudo a todos! 3.1 FUNDAMENTOS DE CUSTOS 3.1.1 Separação de Custos, Despesas, Investimentos e Perdas Todas as empresas efetuam gastos no seu dia-a-dia para o seu funcionamento. Esses gastos podem ser efetuados para administrar, vender, produzir, pagar os salários, energia elétrica, treinamento, gerenciamento de um projeto ou uma área, manutenção dos equipamentos, aluguel, compra de matérias-primas, compra de embalagens, investimento em veículos para transportar os seus produtos. Podemos observar que as empresas, independentemente de seu ramo de atividade, possuem vários tipos de gastos. A contabilidade nasceu como uma forma de organizar a informação. Imaginem uma empresa que tenha no seu portfólio 40 produtos, 80 fornecedores e 280 clientes. Dá para imaginar a informação que cada um deles gera (faturas, recibos, notas fiscais, impostos, etc,)! Com esta variedade de dados se faz necessária uma classificação para que os administradores possam entender a informação, organizá-la e tomar decisões mais precisas. Para Pensar E você, em sua empresa, já observou a quantidade de informação disponível? Esta informação está organizada? Você é capaz de entender esta organização? Simplificando a linguagem contábil, podemos chamar todos os desembolsos (saídas de caixa) como gastos. O gasto pode advir da entrega (desembolso presente) ou da promessa de entrega (desembolso futuro) de dinheiro. Os gastos podem ser classificados basicamente como investimentos, custos, despesas e perdas. Os desembolsos consistem no pagamento do bem ou serviço, independentemente de quando o produto ou serviço foi ou será consumido. Para a imputação dos custos utiliza-se o princípio da competência. Capítulo 3 Q Custos 69 Para continuar os estudos é importante entender o significado do regime de competência. Neste regime, o registro das receitas e despesas deve ser feito de acordo com a real ocorrência, independentemente de sua realização ou quitação. Por exemplo, se foram empregadas 40 toneladas de matéria-prima no mês de maio que somente serão quitadas em julho, o lançamento contábil do gasto deve ser feito em maio. Já o registro financeiro do desembolso será registrado no mês de julho. Portanto, não se pode confundir custo e despesa com desembolso. Os INVESTIMENTOS, segundo Tessari (2006), representam gastos que são ativados, constam no balanço patrimonial da empresa e esses gastos ficam ali até o momento em que são utilizados ou consumidos, recebendo uma classificação como custos ou despesas. Por exemplo: a matéria prima, no momento de sua aquisição por um determinado valor, estará contabilizada no estoque de mercadorias, sendo um ativo para a empresa e este irá gerar um benefício futuro. Outro exemplo mais comum são as máquinas e equipamentos adquiridos para a empresa poder produzir os seus produtos. Também podemos conceituar os investimentos como gastos em itens que darão retorno para a empresa, em forma de produtos e serviços, no decorrer do(s) próximo(s) exercícios. Dica Chamamos de exercício o período que está sendo analisado pela contabilidade. Por exemplo: queremos apurar os custos do mês de setembro de 2008. O exercício será o mês de setembro. O exercício pode ser anual, semestral, trimestral, mensal, semanal, etc., dependendo da necessidade e disponibilidade de informação da empresa. Um prédio, uma máquina ou um terreno normalmente é comprado para dar retorno (ser utilizado pela empresa) durante um período maior do que um exercício (um mês, um ano, etc.). Correto? Então ele é um investimento. O caso de uma compra de matéria-prima que não será utilizada também é um investimento, mas quando ela for gasta já é outra história. Os CUSTOS de uma organização são os gastos que foram consumidos na fabricação de um produto ou serviço. Esses gastos podem ser com o consumo de salários, ordenados e encargos, prêmios de produção, material de embalagem, matérias-primas, energia elétrica, depreciação dos equipamentos (perda de valor), transporte, alimentação, plano de saúde, treinamento, manutenção, materiais diversos, enfim; todos os gastos que possam ser gerados ou consumidos para fabricar um produto e/ou serviço. As DESPESAS de uma organização, segundo Sens (2008, p. 15): Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 70 [...] são os gastos que foram gerados ou consumidos fora do ambiente de fabricação de um produto ou serviço. O departamento de contabilidade, financeiro, vendas, efetua gastos para o desenvolvimento da sua atividade no dia a dia, não participando da fabricação do produto e ou serviço. Como exemplos de despesas podemos ter os salários, materiais de escritório, consumo de energia, consumo de água, depreciação dos computadores utilizados no ambiente da administração, impostos prediais, treinamento dos funcionários e diversos outros. As PERDAS representam bens ou serviços consumidos de forma anormal e involuntária. Podemos citar um gasto não intencional, decorrente de fatores externos extraordinários ou atividade produtiva normal da empresa. Um exemplo seria a queda de um meteorito na empresa (trágico) ou em caso de enchente em que se perde parte da matéria-prima. Agora que você já conhece como separar os tipos de gastos, vamos aprender como avaliar os estoques da empresa para estimar corretamente os custos. 3.1.2 Avaliação de Estoques Um dos objetivos da gestão de custos é avaliar corretamente os estoques. A princípio parece ser que não há nenhuma dificuldade neste processo. Quando começamos a observar as diferentes compras que fazemos de uma mesma matéria-prima percebemos que nem sempre ela tem o mesmo valor unitário de aquisição. Também temos que ter em mente o estoque de produtos em processo e produtos finais. Afinal, qual é o valor do estoque? Dica Um ponto muito importante a ser frisado é a existência de três tipos de estoque na empresa: z Matérias-Primas e Outros Materiais; z Produtos em Processo; z Produtos Finais. A questão do Produto em processo é um pouco complexa. Imaginemos uma empresa que fabrica petroleiros ou aviões. O prazo de fabricação, do início ao fim do processo produtivo, pode ultrapassar facilmente um ano. O valor dos produtos que estão sendo fabricados é um valor considerável do Balanço Patrimonial desta empresa. Saber esta resposta é extremamente importante para a empresa. Um estoque elevado significa que recursos financeiros que poderiam ser direcionados a algo mais rentável estão parados! No item estoques, do presente caderno, nós já estudamos os três tipos de avaliação de Estoque: PEPS, UEPS e PMP. Capítulo 3 Q Custos 71 Agora que podemos avaliar corretamente os estoques, é importante sabermos como poderemos incorporar os custos das compras aos materiais utilizados no produto ou serviço. 3.1.3 Custo das Compras Quando falamos do custo de um material, matéria-prima ou serviço, temos que lembrar que este custo deve ser calculado tendo-se em conta todos os gastos que ocorrerão, até que ele esteja dentro da empresa (ou do cliente). Devem ser computados custos de importação (impostos, por exemplo), fretes, seguros, armazenamento, etc. Este cálculo se faz necessário para que possamos comparar diferentes fornecedores do mesmo produto ou serviço. Vamos fazer um exemplo para fixar este conteúdo: A empresa Vênus Ltda. realizou as seguintes compras: z 1.500 unidades da Matéria-prima A a R$ 2,50 cada uma; z 3.000 unidades da Matéria-prima B a R$ 8,00 cada uma. Sabendo-se que o departamento de Compras da presente empresa tem custo de R$ 2.000,00, que os custos de importação da MP A foram de R$ 200,00 e que frete da MP B foi de R$ 1.000,00, calcule o custo de compra unitário das duas matérias-primas. Resolução: Custo Final da Matéria-prima A: Custo de Aquisição – 1.500 x R$ 2,50 = R$ 3.750,00 Divisão do departamento de Compras: R$ 2.000,00 / 2 = R$ 1.000,00 Custos de Importação = R$ 200,00 Custo total da MPa = R$ 3.750,00 + R$ 1.000,00 + R$ 200,00 = R$ 4.950,00 Custo Unitário final = R$ 4.950,00 / 1.500 = R$ 3,30 a unidade Custo Final Matéria-prima B: Custo de Aquisição – 3.000 x R$ 8,00 = R$ 24.000,00 Divisão do departamento de Compras: R$ 2.000,00 / 2 = R$ 1.000,00 Custos de Frete = R$ 1.000,00 Custo total da MPb = R$ 24.000,00 + R$ 1.000,00 + R$ 1.000,00 = R$ 26.000,00 Custo Unitário final = R$ 26.000,00 / 3.000 = R$ 8,67 a unidade Quando a empresa adquire um material para a fabricação de produtos, os impostos sobre valor agregado (IPI e ICMS) podem, ou não, ser recuperáveis, dependendo do regime tributário que ela trabalha. Caso eles sejam recuperáveis, deverão ser deduzidos do valor total da nota fiscal de compra. Se não forem recuperáveis, passarão a fazer parte do custo do material. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 72 Faremos um exemplo para fixar o conteúdo: Realizaremos uma compra de 10.000 kg de matéria-prima e os dados da nota fiscal são os seguintes: Total da Nota Fiscal (compra a prazo, vencimento 60 dias) R$ 600.000,00 Valor do IPI (10%) R$ 60.000,00 ICMS (12%) R$ 72.000,00 O custo real da mercadoria, no caso dos impostos serem recuperáveis, será o seguinte: Total da Nota Fiscal R$ 600.000,00 ( - ) IPI R$ 60.000,00 ( - ) ICMS R$ 72.000,00 CUSTO DO MATERIAL = R$ 468.000,00 O custo da mercadoria no caso do IPI não ser recuperável será o seguinte: Total da Nota Fiscal R$ 600.000,00 ( - ) ICMS R$ 72.000,00 CUSTO DO MATERIAL = R$ 528.000,00 Para Pensar Na empresa onde você trabalha, quais são os custos que podem ser incorporados às compras? Capítulo 3 Q Custos 73 Atividade Complementar 1) Classificar os gastos da tabela abaixo, colocando I para investimentos, D para despesas, C para os custos e P para perdas. TABELA 17 - Tipos de Gastos Gastos Valor R$ Embalagens 31.000,00 Salário dos funcionários do departamento financeiro 32.500,00 Salário dos funcionários do departamento de comercial 23.000,00 Matéria-prima em não utilizada neste exercício 15.000,00 Materiais Indiretos 12.000,00 Depreciação dos equipamentos da fábrica 10.200,00 Depreciação dos equipamentos administrativos 1.500,00 Uma enchente estragou matéria-prima 2.000,00 Energia elétrica consumida na fabricação dos produtos 1.800,00 Energia elétrica consumida no depto. Administrativo 1.200,00 Matéria-prima consumida no processo produtivo 13.000,00 Aluguel da fábrica 21.500,00 Aluguel de uma sala comercial 31.350,00 Salário do funcionário que trabalha na fábrica 1.800,00 Compra de um veículo 45.000,00 Compra de uma Máquina 55.000,00 FONTE: Os autores Colocar abaixo o total de cada conceito: Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 74 2) A empresa Marte Ltda. realizou as seguintes compras: z 1.000 unidades da Matéria-prima A a R$ 3,50 cada uma; z 2.000 unidades da Matéria-prima B a R$ 7,00 cada uma. Sabendo-se que o departamento de Compras da empresa tem custo de R$ 1.000,00, que os custos de importação da MP B foram de R$ 1.200,00 e que o frete da MP A foi de R$ 500,00, calcule o custo de compra unitário das duas matérias-primas. 3) Com os mesmos dados da atividade anterior, calcular o valor líquido da compra, sabendo-se que o IPI (10%) e o ICMS (17%) são reembolsáveis. Obs: O cálculo é apenas sobre o custo de aquisição, sem fretes e custos de importação. Acabamos de conhecer alguns conceitos, como a separação dos gastos, os métodos de avaliação de estoques e os custos de compras e sua incorporação aos materiais, que são a base para o entendimento dos métodos de custeio que veremos a continuação. 3.2 MÉTODOS DE CUSTEIO Os métodos de custeio são, basicamente, diferentes formas de ratear os custos indiretos. O método mais simples (e mais utilizado nas empresas) é o custeio por absorção. O método do custeio variável também é trabalhado na maioria das empresas, principalmente pela necessidade de calcular o ponto de equilíbrio de cada produto. Na vanguarda dos custos está o método ABC, que é incrivelmente mais justo, porém muito mais complexo de se implantar. Iniciaremos o nosso estudo pelo mais simples dos métodos: o custeio direto e indireto e iremos trabalhando o aumento de complexidade no decorrer desta seção. Agora, mãos à obra! 3.2.1 Custeio Direto e Indireto Quando queremos determinar os custos de um determinado produto ou serviço encontramos duas classes de custos e despesas: as diretas e as indiretas. Os custos e despesas diretos são os mais fáceis de controlar, pois vão diretamente aos produtos. Um exemplo é o caso da fabricação de uma mesa. A madeira, o aço, os parafusos e a tinta seriam os materiais diretos; a mão-de-obra de corte da madeira, montagem da mesa e de pintura é a mão-de-obra direta (MOD); já os materiais como o óleo das máquinas e o material de manutenção são Capítulo 3 Q Custos 75 considerados materiais indiretos; e a mão-de-obra do controle da qualidade e da supervisão é considerada mão-de-obra indireta (MOI). Materiais Diretos: compreendem a matéria-prima (componente físico que compõe o produto), materiais secundários e embalagem. São facilmente mensuráveis (quantidade por unidade) e compõem o produto final. Materiais Indiretos: são os materiais empregados na fabricação do produto, mas, devido à dificuldade de cálculo quanto à quantidade utilizada em cada produto fabricado, são considerados materiais indiretos. Podemos identificar com precisão os custos diretos pelo seu real consumo por produto. Geralmente para esta identificação temos um controle de medida, uma ficha técnica de produto, um controle interno. Neste controle temos a quantidade precisa dos componentes integrantes do produto. Voltando ao nosso exemplo, teríamos 0,50 m2 de madeira (18 mm de espessura), 2 kg de barras de aço 8x4, 16 parafusos 25x17 e 200 ml de tinta preta para aço. Com base nesta “receita” e os valores unitários de cada material podemos saber o custo dos materiais diretos desta mesa. De maneira similar podemos calcular os custos da mão-de-obra direta. Nesta mesma mesa utilizamos 0,5 hora de mão-de-obra para cortar a madeira, 1 hora para a montagem e mais 0,4 hora para a pintura e acabamento. Sabendo- se o custo por hora de trabalho de cada um destes profissionais, podemos calcular facilmente o custo de MOD. Matéria-prima é o principal material que entra na composição do produto final. Ela sofre a transformação no processo de fabricação. É o material que, do ponto de vista da quantidade, é o mais empregado na produção. As matérias-primas em estoque serão aplicadas diretamente no produto e, ao serem transferidas do estoque para o processo produtivo, transformam-se em custos de produção. Exemplo: a madeira na fabricação de mesas e o aço. Material Secundário é o material direto, de caráter secundário; não é o componente básico na composição do produto, mas é perfeitamente identificável ao produto. Exemplo: parafusos na mesa. Embalagens são materiais utilizados para embalagem do produto ou seu acondicionamento para remessa. São materiais diretos devido à fácil mensuração com o produto. Exemplo: caixa onde é embalada a mesa. Para calcularmos a mão-de-obra direta é extremamente importante medir o tempo de cada processo na produção de um produto ou serviço. No valor total do custo de mão-de-obra é importantíssimo estarem incorporados todos os Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 76 gastos com aqueles funcionários, ou seja, salário bruto, FGTS, férias, 13º salário, vale-transporte, vale alimentação e demais benefícios que houver. Para empresas onde só há um tipo de produto, ou ainda, em que um funcionário trabalhe em uma máquina que faz apenas um produto ou serviço, é extremamente fácil medir quantas horas ele trabalha e calcular o custo para o produto ou serviço em questão. Já nos casos em que o funcionário trabalha com vários produtos ou serviços, só é considerada mão-de-obra direta caso você possa medir a quantidade de tempo que ele se dedica a cada um dos produtos. Vamos a um exemplo para melhor entendermos os Custos Diretos. Voltando ao nosso exemplo, teríamos 0,50 m2 de madeira (18 mm de espessura), 2 kg de barras de aço 8x4, 16 parafusos 25x17 e 200 ml de tinta preta para aço. Nesta mesma mesa utilizamos 0,5 hora de mão-de-obra para cortar a madeira, 1 hora para a montagem e mais 0,4 hora para a pintura e acabamento. Valor Unitário da Madeira: R$ 50,00 o m2 Valor Unitário do aço: R$ 10,00 p kg Valor Unitário do Parafuso: R$ 0,05 o parafuso Valor Unitário da Tinta: R$ 10,00 o litro Obs: Nestes valores já estão incorporados os fretes, seguros, armazenamentos e demais despesas referentes às compras. Valor do salário-hora do cortador: R$ 6,00 Valor do salário-hora do montador: R$ 4,00 Valor do salário-hora do pintor: R$ 8,00 Encargos e Benefícios: 67% dos salários Resolução Materiais Diretos Madeira: 0,50 x R$ 50,00 = R$ 25,00 Aço: 2 x R$ 10,00 = R$ 20,00 Parafusos: 16 x R$ 0,05 = R$ 0,80 Total materiais diretos: R$ 45,80 Mão-de-obra Direta Cortador: (R$ 6,00 + 67%) x 0,5 = R$ 5,01 Montador: (R$ 4,00 + 67%) x 1,0 = R$ 6,68 Pintor: (R$ 8,00 + 67%) x 0,4 = R$ 5,50 Total mão-de-obra direta: R$ 17,19 Valor total dos custos diretos: R$ 45,80 + R$ 17,19 = R$ 62,99 Os custos indiretos são aqueles em que temos alguma dificuldade para medir exatamente a quantidade que é utilizada na produção de uma unidade de um bem. Um funcionário que opera uma máquina, na qual são fabricados vários Capítulo 3 Q Custos 77 produtos, e não é possível medir o tempo de produção de cada produto, devemos classificar esta mão-de-obra como indireta. Outros exemplos de custos indiretos são a energia, aluguéis, depreciação de máquinas, etc. Segundo Crepaldi (2002, p. 18) “os custos indiretos são os que, para serem incorporados aos produtos, necessitam da utilização de algum critério de rateio. Na prática, a separação dos custos em diretos e indiretos leva em conta a relevância e o grau de dificuldade de medição.” O exemplo clássico é a energia elétrica, onde o custo é direto, porém a dificuldade de medição é tão grande que a maioria das empresas considera como indireto. Dica Há várias formas de se ratear os custos indiretos. Você vai perceber que esta é a única parte em que atuam os diferentes métodos de custeio. No método mais simples, que é o custeio por absorção, simplesmente criaremos um critério de rateio e aplicaremos diretamente. Já no método por departamentalização, primeiro alocaremos todos os custos aos departamentos e depois ratearemos, dentro dos departamentos, aos produtos. Já no custeio ABC, utilizamos atividades como base de rateio para os custos e despesas indiretas. Visto o método de custeio direto e indireto, agora vamos trabalhar conceitos um pouco mais avançados, com o custeio por absorção. O fato de termos trabalhado primeiro o estudo dos materiais diretos é explicado pela sua utilização em todos os demais métodos de custeio. 3.2.2 Custeio por Absorção No custeio por absorção devemos escolher um critério para fazermos o rateio dos custos indiretos aos produtos. Com base neste critério, calcula-se, proporcionalmente, os valores de cada um dos custos indiretos que devem ser absorvidos por cada produto. Os critérios mais comuns são as horas de mão- de-obra direta e a quantidade produzida. O método de custeio por absorção é um dos métodos válidos para a elaboração das demonstrações financeiras, obedecendo aos princípios fundamentais de contabilidade para a apuração dos lucros e, por conseqüência, o recolhimento do imposto de renda. Neste método de custeio todos os custos de produção devem ser incorporados aos produtos no período. Os custos diretos (materiais diretos e mão-de-obra direta) e os custos indiretos (depreciação, aluguel de fábrica, manutenção, etc). Muito importante observar que ao custo de produção somente serão incorporados os gastos de produção, custos diretos e indiretos. As despesas não serão incorporadas ao cálculo do custo de produção de um produto ou serviço, não estão incorporadas na conta de custo do produto vendido, constando apenas na Demonstração de Resultados do Exercício. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 78 No exemplo abaixo utilizaremos como critério de rateio as horas de mão- de-obra: A empresa Sillas SA. É especializada em produzir cadeiras, sendo suas principais linhas a Standart (Ps), Médium (Pm) e Premium (Pp). Os dados obtidos junto ao controller da empresa no fim do exercício a ser analisado foram: - Vendas: Ps = 10.000 unidades a R$ 26,00 cada Pm =10.000 unidades a R$ 34,00 cada Pp = 10.000 unidades a R$ 60,00 cada - Matéria-prima: R$ 200.000,00 madeira R$ 150.000,00 aço - Materiais Diversos de Fábrica: R$ 50.000,00 - Energia Elétrica Fábrica: R$ 60.000,00 - Despesas Gerais: Fábrica: R$ 25.000,00 Demais: R$ 25.000,00 - Salários: Fábrica: R$ 200.000,00 Demais: R$ 50.000,00 - Depreciação Fábrica: R$ 80.000,00 Demais: R$ 10.000,00 - Aluguel: Fábrica: R$ 12.000,00 Escritório: R$ 5.000,00 - Armazenagem de produtos acabados: R$ 12.000,00 - Comissões sobre vendas: R$ 45.000,00 Custos Diretos: - Madeira: 35% Standart 35% Médium 30% Premium - Aço: 25% Standart 30% Médium 45% Premium - Mão-de-obra: 15% Standart 25% Médium 40% Premium Pede-se: 1) Calcule as Vendas de cada produto e o total da empresa. 2) Separe os Custos das Despesas. 3) Aproprie os Custos Diretos. 4) Aproprie os Custos Indiretos em função da MOD. 5) Elabore a DRE. Capítulo 3 Q Custos 79 Resolução: 1. Receita Ps = 10.000 X R$ 26,00 = R$ 260.000,00 Pm = 10.000 X R$ 34,00 = R$ 340.000,00 Pp = 10.000 X R$ 60,00 = R$ 600.000,00 2. Custos Diretos 2.1 Materiais Diretos 2.1.1 Madeira Custo Total da Madeira: R$ 200.000,00 Divisão: 35% Ps = R$ 200.000,00 x 35% = R$ 70.000,00 35% Pm = R$ 200.000,00 x 35% = R$ 70.000,00 30% Pp = R$ 200.000,00 x 30% = R$ 60.000,00 2.1.2 Aço Custo Total do Aço: R$ 150.000,00 Divisão: 25% Ps = R$ 150.000,00 x 25% = R$ 37.500,00 30% Pm = R$ 150.000,00 x 30% = R$ 45.000,00 45% Pp = R$ 150.000,00 x 45% = R$ 67.500,00 2.2 Mão-de-obra Direta Salários de Fábrica: R$ 200.000,00 (esta é a parte dos salários que são custos, pois estão ligados à produção dos produtos, dentro deste valor estão a Mão-de-obra Direta e a Mão-de-obra Indireta). Divisão: 15% Ps = R$ 200.000,00 x 15% = R$ 30.000,00 25% Pm = R$ 200.000,00 x 25% = R$ 50.000,00 40% Pp = R$ 200.000,00 x 40% = R$ 80.000,00 Obs: O restante (20%) é considerado Mão-de-obra Indireta. 3. Critério de Rateio Utilizaremos como critério de rateio a MOD. MOD: R$ 30.000,00 + R$ 50.000,00 + R$ 80.000,00 = R$ 160.000,00 O percentual dos Custos Indiretos que vão a cada tipo de Produto será calculado como a divisão entre o valor de MOD de cada um pelo total de MOD da empresa. Ps = R$ 30.000 ÷ R$ 160.000,00 = 18,75% Pm = R$ 50.000,00 ÷ R$ 160.000,00 = 31,25% Pp = R$ 80.000,00 ÷ R$ 160.000,00 = 50,00% Assim sendo, 18,75% dos custos indiretos vão para o Ps, 31,25% para o Pm e 50,00% para o Pp. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 80 4. Custos Indiretos São considerados custos indiretos os gastos ligados à produção de bens ou serviços. No nosso exemplo estes gastos são: - Materiais Diversos de Fábrica: R$ 50.000,00 - Energia Elétrica Fábrica: R$ 60.000,00 - Despesas Gerais: Fábrica: R$ 25.000,00 - Salários: Fábrica: R$ 200.000,00 - Depreciação Fábrica: R$ 80.000,00 - Aluguel: Fábrica: R$ 12.000,00 Valor total dos Custos Indiretos: R$ 427.000,00 5. Rateio dos Custos Indiretos Seguindo o que havíamos determinado nos critérios de rateio: Ps = R$ 427.000,00 x 18,75% = R$ 80.062,50 Pm = R$ 427.000,00 x 31,25% = R$ 133.437,50 Pp = R$ 427.000,00 x 50,00% = R$ 213.500,00 6. Cálculo dos Custos Totais e Unitários por Produto Para calcular os custos totais, somaremos os custos diretos (materiais e mão-de-obra) e os custos indiretos. Para calcular os custos unitários, dividiremos os custos totais pelas unidades produzidas. Custo Direto: Ps = R$ 70.000,00 + R$ 37.500,00 + R$ 30.000,00 = R$ 137.500,00 Pm = R$ 70.000,00 + R$ 45.000,00 + R$ 50.000,00 = R$ 165.000,00 Pp = R$ 60.000,00 + R$ 67.500,00 + R$ 80.000,00 = R$ 207.500,00 Custo Direto + Indireto Ps = R$ 137.500,00 + R$ 80.062,50 = R$ 217.562,50 Pm = R$ 165.000,00 + R$ 133.437,50 = R$ 298.437,50 Pp = R$ 207.500,00 + R$ 231.500,00 = R$ 439.000,00 Custos Unitários Ps = R$ 217.562,50 ÷ 10.000 = R$ 21,76 a unidade Pm = R$ 298.437,50 ÷ 10.000 = R$ 29,84 a unidade Pp = R$ 439.000,00 ÷ 10.000 = R$ 43,90 a unidade 7. Despesas Dos gastos que tínhamos inicialmente, alguns não foram contabilizados como custos. As opções são: Investimentos (não havia); Perdas (não havia) e Despesas. Capítulo 3 Q Custos 81 As despesas, por sua vez, podem ser classificadas em Administrativas, Comerciais e Financeiras. As despesas financeiras são basicamente gastos com juros, o que também não há. Sobraram as despesas comerciais e financeiras. As comerciais são aquelas ligadas à comercialização, armazenagem e distribuição dos produtos finais, as restantes são consideradas administrativas. Despesas Comerciais: - Armazenagem de produtos acabados: R$ 12.000,00 - Comissões sobre vendas: R$ 45.000,00 O total de despesas comerciais é de: R$ 67.000,00 Despesas Administrativas: - Despesas Gerais: Demais: R$ 25.000,00 - Salários: Demais: R$ 50.000,00 - Depreciação: Demais: R$ 10.000,00 - Aluguel: Escritório: R$ 5.000,00 O total de despesas administrativas é de R$ 90.000,00 8. DRE TABELA 18 – Demonstração do Resultado do Exercício FONTE: Os autores Após o estudo do sistema de rateio de custos indiretos mais simples, aprendemos que existe a necessidade de um critério para a divisão deste tipo de custo. No custeio variável estudaremos uma outra opção, além de separar os custos de uma forma distinta. 3.2.3 Custeio Variável Neste método de custeio, leva-se em consideração o comportamento do custo. Quanto ao comportamento os custos, podem ser classificados em: variáveis, fixos e semi-fixos. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 82 Já havíamos visto, na seção anterior, os custos diretos. Aqui eles se chamam custos variáveis. Ao longo desta seção trabalharemos com as questões relacionadas a este tipo de comportamento dos custos. Custos Variáveis Quando medimos o nível de atividade em unidades produzidas, há custos que são sempre iguais por unidade. A quantidade de madeira utilizada na fabricação de um tipo de mesa sempre será a mesma. Quando falamos do comportamento dos custos como variáveis significa que eles variam em função da quantidade produzida. Se produzimos uma mesa, consumimos 0,2 metros cúbicos de madeira, por exemplo. Já se produzimos 10 mesas, utilizaremos 0,2 x 10 mesas = 2 metros cúbicos, isto é; varia proporcionalmente à quantidade produzida. Graficamente ficaria da seguinte forma: X X SS SS X T C U ST O T O TA L C U ST O U N IT ÁR IOCUSTO VARIÁVEL TOTAL CUSTO VARIÁVEL UNITÁRIO UNIDADES UNIDADES FIGURA 4: Comportamento dos Custos Variáveis AUTOR: Os autores Você pôde observar que o custo variável unitário se mantém fixo (a quantidade de madeira que gasta em uma mesa, por exemplo) e o valor total do custo variável cresce proporcionalmente à quantidade produzida. A seguir estudaremos a sua antítese, os custos fixos. Custos Fixos São componentes do custo final do produto que não apresentam variação com a mudança no nível de atividade (número de unidades produzidas) pela empresa. Utilizando ainda a fábrica de mesas, o valor do seguro da fábrica ou o salário do supervisor não variam em função das unidades que são produzidas. Capítulo 3 Q Custos 83 Graficamente ficaria da seguinte forma: X X SS SS X \ C U ST O T O TA L C U ST O U N IT ÁR IO CUSTO FIXO TOTAL CUSTO FIXO UNITÁRIO UNIDADES UNIDADES FIGURA 5: Comportamento dos Custos Fixos FONTE: Os autores Afirmam Bruni e Fama (2004) que os custos fixos existem mesmo que não haja produção. Uma forma de agrupá-los é: z Custo Fixo de Capacidade (CFC): custos relativos às instalações da empresa, como depreciação, amortização, etc. z Custo Fixo Operacional (CFO): relativos à operação das instalações da empresa, como seguro, imposto predial, etc. Você deve estar atento aos custos fixos, que não variam em função da produção e sim de outros fatores. Por exemplo, se uma conta de telefone apresenta valores diferentes todos os meses, porém não correlacionados com a produção, esses gastos devem ser classificados como fixos - mesmo que possuam variações mensais. Ao estudarmos os custos variáveis e fixos, ficaram claras as diferenças entre eles. O fato dos custos variáveis unitários manterem-se sempre no mesmo nível, enquanto os custos fixos unitários são decrescentes, é um ponto a se seguir de perto. Outra questão extremamente importante é o custo variável total, que cresce proporcionalmente à quantidade, enquanto os custos fixos não se alteram. Como na vida nada é simplesmente preto e branco, há também os custos semi-fixos, que estudaremos a seguir. Custos Semi-fixos São custos que não se alteram até determinado patamar, tornando-se variáveis a partir de então. Ocorre normalmente quando fechamos “pacotes” com empresas, onde se contrata uma quantidade fixa de algum insumo e, após este patamar, o excedente passa a ser variável. Contas de água, telefone e casos de fornecimento específico de energia se enquadram nesta denominação. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 84 Como você pode perceber, a classificação dos custos em fixos e variáveis é, em teoria, extremamente simples, já a sua aplicação na prática é um pouco mais complicada. A outra opção que temos, e devemos tomar cuidado para não confundir, são os custos semi-variáveis. Custos Semi-variáveis São aqueles custos que trabalham como degraus de uma escada. Mantêm- se constante até atingirem um certo patamar e depois crescem verticalmente. Um exemplo é o custo do encarregado (supervisor) de cada turno. Até X pessoas operando naquele turno (por exemplo, 20), ele pode trabalhar sozinho; ao chegar a 21 pessoas se faz necessária a contratação de mais um supervisor. O mesmo ocorre com o aluguel: até que um galpão não esteja totalmente ocupado, o aluguel será de apenas um galpão, caso a empresa necessite de mais espaço ela dificilmente consegue alugar apenas alguns metros quadrados, ela tem que alugar outro galpão. Assim os custos semi-variáveis trabalham em saltos. Agora que conhecemos as quatro maneiras de classificar os custos, em função de seu comportamento unitário (fixos, variáveis, semi-fixos e semi-variáveis), vamos montar uma demonstração de resultados utilizando os custos fixos e variáveis. DRE pelo Método do Custeio Variável Para os gestores de empresas é de extrema importância o conceito de margem de contribuição. Também chamada de contribuição marginal, ela se define como a “sobra” de recursos, já deduzidos os custos e despesas variáveis. Este método de apresentação de resultados não é permitido para fins de apresentações públicas e/ou fiscais, porém tem um importante olhar sobre o gerenciamento do dia-a-dia das empresas, sendo base para a tomada de decisão. Neste método consideramos apenas os custos e despesas variáveis para calcular o custo final do produto, tanto vendido como em estoque. Também é de extrema importância, pois é a base para o cálculo do ponto de equilíbrio, tema que veremos no próximo tópico. Segue abaixo a estrutura de uma DRE pelo método do Custeio Variável: Receita Operacional Bruta (-) Impostos sobre Vendas (=) Receita Operacional Líquida ( - ) Custo do Produto Vendido Variável ( - ) Despesas Variáveis ( = ) Margem de Contribuição ( - ) Custos Fixos ( - ) Despesas Fixas ( = ) Resultado Capítulo 3 Q Custos 85 Na demonstração acima você pode observar que, para o cálculo da margem de contribuição, deduzimos a receita já líquida (após impostos) dos custos e despesas variáveis. A margem de contribuição da DRE (a soma das margens dos diversos produtos) deve ser superior aos custos e despesas fixas do período para que o resultado seja positivo. Para Pensar Você já tentou fazer uma DRE da sua empresa? Mesmo que os valores não sejam totalmente reais vamos completar o esquema abaixo: Receita Operacional Bruta (-) Impostos sobre Vendas (=) Receita Operacional Líquida ( - ) Custo do Produto Vendido Variável ( - ) Despesas Variáveis ( = ) Margem de Contribuição ( - ) Custos Fixos ( - ) Despesas Fixas ( = ) Resultado Vamos resolver o exemplo a seguir para melhor entender o funcionamento deste método: A empresa do Zé S.A. teve a seguinte estrutura de custos no ano de 2007: Materiais diretos R$ 100.000,00 Mão-de-obra direta R$ 300.000,00 Custo Indireto Variável de Fabricação R$ 50.000,00 Custo Indireto de Fixo de Fabricação R$ 250.000,00 Preço Unitário do Produto: R$ 20,00 a unidade Quantidade Produzida: 40.000 unidades 1) Elaborar a Demonstração do Resultado do Exercício pelo Método de Custeio direto e ou variável. 2) Qual é a margem de contribuição? Resolução: 1. Receita = 40.000 unidades x R$ 20,00 a unidade = R$ 800.000,00 2. Custos e Despesas Variáveis = R$ 100.000,00 + R$ 300.000,00 + R$ 50.000,00 = R$ 450.000,00 Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 86 4. Custos e Despesas Fixas = R$ 250.000,00 3. DRE Receita R$ 800.000,00 (-) Custos e Despesas Variáveis R$ 450.000,00 (=) Margem de Contribuição R$ 350.000,00 (-) Custos e Despesas Fixas R$ 250.000,00 (=) Resultado R$ 100.000,00 Vistos os métodos de custeio por absorção e o custeio variável, onde também trabalhamos a DRE e a margem de contribuição; duas das ferramentas mais importantes para um gestor; agora seguiremos nosso estudo com o método de custeio ABC, onde necessitamos dos conceitos de custos diretos e indiretos e aprenderemos o que é e como se comporta uma atividade. 3.2.4 Custeio ABC Custeio baseado em atividades, ou custeio ABC (Activity Based Costing), é um método de custeio onde o rateio dos custos indiretos se faz em função das atividades ligadas ao processo produtivo da empresa. Esta metodologia foi desenvolvida pelos professores americanos Robert Kaplan e Robin Cooper em meados da década de 80, em Harvard. O sistema de custeio baseado em atividades procura amenizar as distorções provocadas pelo rateio, necessário aos métodos tratados anteriormente. Segundo Martins (2003, p. 87), o Custeio Baseado em Atividades “é uma metodologia de custeio que procura reduzir sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio arbitrário dos custos indiretos”. A idéia básica é atribuir primeiramente os custos às atividades e posteriormente atribuir custos das atividades aos produtos. Conforme Eller (2000, p.82), “o Custeio Baseado em Atividades parte da premissa de que as diversas atividades desenvolvidas geram custos e que os produtos consomem essas atividades”. Segundo Martins (2003, p.96) para atribuir custos às atividades e posteriormente aos produtos utilizam-se de direcionadores. Martins (2003, p.96) diz que: “há que se distinguir dois tipos de direcionador: [...] direcionador de custos de recursos, e os [...] direcionadores de custos de atividades”. Já Nakagawa (2001, p.42), explica atividade “como um processo que combina, de forma adequada, pessoas, tecnologias, materiais, métodos e seu ambiente, tendo como objetivo a produção de produtos”. O início de qualquer trabalho pelo método ABC é a definição de quais atividades serão medidas. Elas devem ser importantes para a produção do bem ou serviço. Um dos diferenciais do método de custeio ABC é que a sua utilização, por exigir controles mais rígidos, possibilita a implantação e o aperfeiçoamento dos controles internos da empresa. Existe a necessidade de mensurar vários aspectos relacionados às atividades. O nível de detalhamento pode variar de empresa a empresa, dependendo da sua necessidade. Capítulo 3 Q Custos 87 O esquema de custos ABC segue o seguinte esquema: 1º Diagnóstico das Atividades que serão o critério de rateio. 2º Determinação dos Custos e Despesas Indiretas. 3º Incorporação dos Custos Indiretos às Atividades. 4º Cálculo do número de vezes que cada Atividade é realizada para cada Produto. 5º Incorporação das Atividades aos Produtos. Exemplo: O Hotel Alfa possui apartamentos das categorias Básico simples e duplo, e de categoria Fashion simples e duplo. Os preços das diárias são de R$ 70,00 o básico simples (BS), R$ 110,00 o básico duplo (BD), R$ 130,00 o fashion simples (FS) e R$ 200,00 o fashion duplo (FD). A taxa de ocupação média dos quartos básicos é de 70% e dos quartos fashion é de 65%, durante o ano. A quantidade de quartos de cada tipo: z Básico Simples (Bs) – 10 quartos z Básico Duplo (Bd) – 20 z Fashion Simples (Fs) – 5 quartos z Fashion Duplo (Fd) – 15 quartos Os custos diretos e os preços são os seguintes: TABELA 19 – Custos Diretos e Preços Unitários Standard Luxo Simples Duplo Simples Duplo 15 30 20 35 75 100 150 200 Custos Diretos R$ / apto. Preço da diária R$ / apto. FONTE: Os autores Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 88 Por meio de entrevistas, análise de dados na contabilidade, etc. verificou- se que os principais custos indiretos referiam-se às seguintes atividades relevantes: TABELA 20 - Atividades Atividades R$ ano Inspecionar apartamentos 149.600 Recepcionar hóspedes 147.553 Requisitar materiais 134.900 Lavar roupa (enxoval) 147.500 Total 579.553 FONTE: Os autores Os custos e despesas fixos estruturais totalizam R$ 387.467,00 por ano, e não devem ser rateados. A administração fez um levantamento dos direcionadores de custos dessas atividades. São eles: TABELA 21 – Direcionadores de Custos Standard Luxo Simples Duplo Simples Duplo 300 h 1.500 h 500 h 1.100 h 1 por diária 700 5.000 2 por diária 4.230 37.000 1 por diária 670 4.000 2 por diária 1.500 13.000 Tempo gasto por inspeção Nº de hóspedes Nº de requisições Quilogramas de lavagem FONTE: Os autores Pede-se calcular: a) A Margem Bruta, em porcentagem, por categoria de apartamento; b) O custo de cada categoria, pelo ABC; c) O lucro operacional do Hotel. Capítulo 3 Q Custos 89 Resolução: RECEITA Número de Diárias: Número de Quartos x Taxa de Ocupação x Dias do Ano (365) Bs = 10 x 70% x 365 = 2.555 diárias Bd = 20 x 70% x 365 = 5.110 diárias Fs = 5 x 65% x 365 = 1.186 diárias Fd = 15 x 65% x 365 = 3.559 diárias Receita: Número de Diárias x Preço por Categoria Bs = 2.555 x R$ 70,00 = R$ 178.850,00 Bd = 5.110 x R$ 110,00 = R$ 562.100,00 Fs = 1.186 x R$ 130,00 = R$ 154.180,00 Fd = 3.559 x R$ 200,00 = R$ 711.800,00 Receita Total: R$ 1.606.930,00 CUSTOS Custos Diretos: Número de Diárias x Custo Direto Unitário Bs = 2.555 x R$ 15,00 = R$ 38.325,00 Bd = 5.110 x R$ 30,00 = R$ 153.300,00 Fs = 1.186 x R$ 20,00 = R$ 23.720,00 Fd = 3.559 x R$ 35,00 = R$ 124.565,00 Custos Indiretos: devemos dividir os custos indiretos (inspecionar apartamentos, recepcionar hóspedes, requisitar materiais e lavar roupa) pela quantidade total dos direcionadores destes custos (tempo de inspeção, número de hóspedes, número de requisições e quilogramas de lavagem): Inspecionar Apartamentos: R$ 149.600,00 Total de horas de Inspeção: (300 + 1.500 + 500 + 1.100) = 3.400 horas Custo/h de Inspeção: R$ 149.600,00 ÷ 3.400 = R$ 44,00 por hora de inspeção Bs = 300 horas x R$ 44,00/hora = R$ 13.200,00 Bd = 1.500 horas x R$ 44,00/hora = R$ 66.000,00 Fs = 500 horas x R$ 44,00/hora = R$ 22.000,00 Fd = 1.100 horas x R$ 44,00/hora = R$ 48.400,00 Recepcionar Hóspedes: R$ 147.553,00 Total Hóspedes: (2.555 + 2x5.110 + 1.186 + 2x3.559) = 21.079 hóspedes Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 90 Custo de recepção por hóspede = R$ 147.553,00 ÷ 21.079 = R$ 7,00 por hóspede Bs = 2.555 hóspedes x R$ 7,00/hóspede = R$ 17.885,00 Bd = 10.220 hóspedes x R$ 7,00/hóspede = R$ 71.540,00 Fs = 1.186 hóspedes x R$ 7,00/hóspede = R$ 8.302,00 Fd = 7.118 hóspedes x R$ 7,00/hóspede = R$ 49.826,00 Requisitar Materiais: R$ 134.900,00 Número de Requisições: (700 + 4.230 + 670 + 1.500) = 7.100 requisições Custo unitário da requisição = R$ 134.900,00 ÷ 7.100 = R$ 19,00 por requisição Bs = 700 requisições x R$ 19,00/requisição = R$ 13.300,00 Bd = 4.230 requisições x R$ 19,00/requisição = R$ 80.370,00 Fs = 670 requisições x R$ 19,00/requisição = R$ 12.730,00 Fd = 1.500 requisições x R$ 19,00/requisição = R$ 28.500,00 Lavar Roupa: R$ 147.500,00 Número de Quilogramas: (5.000 + 37.000 + 4.000 + 13.00) = 59.000 quilogramas lavados Custo do kg lavado = R$ 147.500,00 ÷ 59.000 = R$ 2,50 por kg Bs = 5.000 kg x R$ 2,50/kg = R$ 12.500,00 Bd = 37.000 kg x R$ 2,50/kg = R$ 92.500,00 Fs = 4.000 kg x R$ 2,50/kg = R$ 10.000,00 Fd = 13.000 kg x R$ 2,50/kg = R$ 32.500,00 Total Custos Indiretos: Inspeção + Recepção + Requisição + Lavar Roupa Bs = Inspecionar - R$ 13.200,00 Recepcionar - R$ 17.885,00 Requisitar - R$ 13.300,00 Lavar - R$ 12.500,00 Total: R$ 56.885,00 Bd = Inspecionar - R$ 66.000,00 Recepcionar - R$ 71.540,00 Requisitar - R$ 80.370,00 Lavar - R$ 92.500,00 Total: R$ 310.410,00 Fs = Inspecionar - R$ 22.000,00 Recepcionar - R$ 8.302,00 Requisitar - R$ 12.730,00 Lavar - R$ 10.000,00 Total: R$ 53.032,00 Capítulo 3 Q Custos 91 Fd = Inspecionar - R$ 48.400,00 Recepcionar - R$ 49.826,00 Requisitar - R$ 28.500,00 Lavar - R$ 32.500,00 Total: R$ 159.226,00 a) Margem Bruta Para calcularmos a Margem Bruta (MB) devemos deduzir os Custos Diretos (CD) e os Custos Indiretos (CI) das Receitas. TABELA 22- Demonstração de Resultados do exercício por produtos e total FONTE: Os autores b) Custo Total por Categoria: CD + CI Bs = R$ 38.325,00 + R$ 56.885,00 = R$ 95.210,00 ÷ 2.555 = R$ 37,26 / unidade Bd = R$ 153.300,00 + R$ 310.410,00 = R$ 463.710,00 ÷ 5.110 = R$ 90,75 / unidade Fs = R$ 23.720,00 + R$ 53.032,00 = R$ 76.752,00 ÷ 1.186 = R$ 64,72 / unidade Fd = R$ 124.565,00 + R$ 159.226,00 = R$ 283.791,00 ÷ 3.559 = R$ 79,74 / unidade c) Lucro Operacional Nós o calcularemos deduzindo os custos e despesas fixas estruturais da Margem Bruta já calculada: Lucro Operacional: R$ 687.467,00 – R$ 387.467,00 = R$ 300.000,00 Como nós pudemos observar, o custeio ABC (por atividades) é mais justo no rateio dos custos indiretos, porém é necessário muito mais informação para que possamos calculá-lo de forma correta. No exemplo acima as atividades e os direcionadores de custos já estavam delimitados, facilitando, e muito, o nosso trabalho. Tente você, na sua empresa, encontrar as principais atividades e os direcionadores de custos e montar um sistema de custeio ABC. Você pode se surpreender!!! Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 92 Atividade Complementar 1) A empresa Ventanas Ltda. É especializada em produzir janelas, sendo suas principais linhas a Standart (Js), Médium (Jm) e Premium (Jp). Os dados obtidos junto ao controller da empresa no fim do exercício a ser analisado foram: - Vendas: Vs = 1.000 unidades a R$ 36,00 cada Vm = 1.000 unidades a R$ 44,00 cada Vp = 1.000 unidades a R$ 50,00 cada - Matéria-prima: R$ 40.000,00 madeira R$ 50.000,00 aço - Materiais Diversos de Fábrica: R$ 5.000,00 - Energia Elétrica Fábrica: R$ 6.000,00 - Despesas Gerais: Fábrica: R$ 2.500,00 Demais: R$ 2.500,00 - Salários: Fábrica: R$ 20.000,00 Demais: R$ 5.000,00 - Depreciação Fábrica: R$ 8.000,00 Demais: R$ 1.000,00 - Aluguel: Fábrica: R$ 1.200,00 Escritório: R$ 500,00 - Armazenagem de produtos acabados: R$ 1.200,00 - Comissões sobre vendas: R$ 2.500,00 Custos Diretos: - Madeira: 25% Standart 25% Médium 50% Premium - Aço: 25% Standart 40% Médium 35% Premium - Mão-de-obra: 35% Standart 35% Médium 30% Premium Pede-se: 1) Calcule as Vendas de cada produto e o total da empresa; 2) Separe os Custos das Despesas; 3) Aproprie os Custos Diretos; 4) Aproprie os Custos Indiretos em função da MOD; 5) Elabore a DRE. Capítulo 3 Q Custos 93 2) Os elementos seguintes podem ser classificados em custos (e despesas) fixos (CF), custos (e despesas) variáveis (CV), investimentos (I) ou perda (P). TABELA 23 – Tipos de Gastos Elemento a) Comissões sobre venda b) Consumo de madeira para a fabricação de uma mesa c) Energia elétrica consumida na área administrativa d) Energia elétrica consumida na área de produção e) Distribuição de mercadorias vendidas f) Compra de caminhões g) Fretes e Seguros sobre as matérias-primas compradas h) Depreciação máquina da fábrica i) Depreciação dos equipamentos de informática para a administração j) Manutenção das máquinas k) Compra de maquinário l) Seguros da fábrica m) Seguros das lojas comerciais n) Supervisão da linha de produção o) Limpeza e conservação do prédio administrativo p) Consumo de materiais indiretos q) Custos de um Incêndio r) Matéria-prima s) Material de escritório t) Embalagem para os produtos u) Salários do pessoal administrativos v) Despesas dos carros dos vendedores CV CF P I FONTE: Os autores 3) A Empresa Você S.A. possui duas classes de produto e duas variações de cada classe. O Produto A Luxo e Premium e o Produto B Luxo e Premium. Os preços dos produtos são de R$ 10,00 o A Luxo (Al), R$ 11,00 A Premium (Ap), R$ 13,00 o B Luxo (Bl) e R$ 20,00 o B Premium (Bp). A quantidade de vendas de cada tipo: - Al 4.000 unidades - Ap 8.000 unidades - Bl 2.500 unidades - Bp 7.000 unidades Os custos diretos e os preços são os seguintes: Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 94 TABELA 24 - Custos Diretos e Preços Unitários FONTE: Os autores Por meio de entrevistas, análise de dados na contabilidade, etc. verificou-se que os principais custos indiretos referiam-se às seguintes atividades relevantes: TABELA 25 - Atividades Atividades R$ ano Cortar Produtos 15.000 Transportar Produtos 14.000 Montar Produtos 17.000 Acabar Produtos 14.500 Total 60.500 FONTE: Os autores Os custos e despesas fixos estruturais totalizam R$ 30.000,00 por ano e não devem ser rateados. A administração fez um levantamento dos direcionadores de custos dessas atividades. São eles: TABELA 26 - Direcionadores de Custo A B Luxo Premium Luxo Premium R$ 1,50 R$ 3,00 R$ 2,75 R$ 4,75 R$ 10,00 R$ 11,00 R$ 13,00 R$ 20,00 Custos Diretos Preço Standard Luxo Simples Duplo Simples Duplo 3.000 h 15.000 h 5.000 h 11.100 h 3.200 700 5.000 1.600 4.230 37.000 800 670 4.000 1.250 1.500 13.000 Tempo gasto em corte Metros de transporte No de montagens Tempo gasto em acabamento FONTE: Os autores Capítulo 3 Q Custos 95 Pede-se calcular: a) A Margem Bruta, em porcentagem, por produto; b) O custo de cada produto, pelo ABC; c) O lucro operacional da Empresa. Aqui chegamos ao final do estudo dos métodos de custeio deste caderno. Estudamos o comportamento dos custos em duas vertentes – os custos diretos e indiretos e os custos fixos, variáveis, semi-fixos e semi-variáveis – além dos métodos de custeio – por absorção, direto e indireto e ABC (baseado em atividades). Pudemos também comprovar que a única diferença entre os métodos está no rateio dos custos indiretos (nos custos diretos todos os métodos realizam os mesmos cálculos). O seguimento do nosso estudo depende da compreensão do que vimos até aqui, já que a análise dos custos só pode ser realizada se entendemos a natureza deles. 3.3 ANÁLISES DE CUSTOS Após entendermos os métodos de custeio, faremos uma breve exposição de alguns tipos de análise que podem ser feitas com os dados obtidos pelos métodos de custeio. A análise das relações custo, volume e lucro e o ponto de equilíbrio são, comumente, as ferramentas mais utilizadas no dia-a-dia. Não é nossa pretensão esgotar o tema, que é assunto de livros inteiros na bibliografia financeira. A seguir trabalharemos com a relação entre custo, volume e lucro, que é influenciada pelo comportamento (fixo, variável, semi-fixo e semi-variável) dos custos. 3.3.1 Análise das Relações Custo, Volume e Lucro Conforme já vimos no tópico anterior, há custos e despesas que são fixas. Muitas vezes nos deparamos com gestores repetindo o mantra: “devemos produzir e vender mais para diluir os custos e despesas fixas”. Esta é uma questão que requer análise, já que é real. Quanto maior a quantidade produzida, menor o peso dos custos e despesas fixas no custo total do produto ou serviço. Imaginemos o seguinte exemplo: A empresa Ordenadores S.A. fabrica computadores de última geração. Ela recebe uma proposta de exclusividade onde a empresa TLMKT Ltda compraria a produção de um ano de atividades. A proposta da TLMKT Ltda é a compra de 10.000 unidades a um preço unitário de R$ 1.200,00 reais, já deduzidos os impostos sobre venda. Os custos e despesas variáveis de cada computador são de R$ 800,00 e os custos e despesas totais fixas são de R$ 2.000.000,00. Vamos calcular o resultado da operação? Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 96 Receita 10.000 unidades x R$ 1.200,00 a unidade = R$ 12.000.000,00 Custos e Despesas Variáveis 10.000 unidades x R$ 800,00 a unidade = R$ 8.000.000,00 Custos e Despesas Fixas R$ 2.000.000,00 ao ano DRE Receita R$ 12.000.000,00 (-) Custos e Despesas Variáveis R$ 8.000.000,00 (=) Margem de Contribuição R$ 4.000.000,00 (-) Custos e Despesas Fixas R$ 2.000.000,00 (=) Resultado R$ 2.000.000,00 Como nós podemos observar, o Resultado corresponde a 16,67% (R$ 2.000.000,00 ÷ R$ 12.000.000,00) da Receita e a Margem de Contribuição corresponde a 33,33% da Receita (R$ 4.000.000,00 ÷ R$ 12.000.000,00). Vamos propor uma modificação? Imagine que a TLMKT Ltda resolva comprar 20% a mais de computadores neste ano, ou seja, 12.000 unidades. A estrutura da Ordenadores S.A. suporta este incremento sem nenhum tipo de modificação (não variam os custos fixos). O que aconteceria com o Resultado do período? E com a Margem de Contribuição? Receita 12.000 unidades x R$ 1.200,00 a unidade = R$ 14.400.000,00 Custos e Despesas Variáveis 12.000 unidades x R$ 800,00 a unidade = R$ 9.600.000,00 Custos e Despesas Fixas R$ 2.000.000,00 ao ano DRE Receita R$ 14.400.000,00 (-) Custos e Despesas Variáveis R$ 9.600.000,00 (=) Margem de Contribuição R$ 4.800.000,00 (-) Custos e Despesas Fixas R$ 2.000.000,00 (=) Resultado R$ 2.800.000,00 Como nós podemos observar, o Resultado corresponde a 19,44% (R$ 2.800.000,00 ÷ R$ 14.400.000,00) da Receita e a Margem de Contribuição corresponde a 33,33% da Receita (R$ 4.800.000,00 ÷ R$ 14.400.000,00). Interpretando o resultado, um incremento de 20% na Receita resultou um incremento de 40% no Resultado da empresa. Esta é uma análise custo- volume-lucro. Com base nestes dados, os gestores podem tomar decisões sobre incrementos da produção, descontos, etc. Capítulo 3 Q Custos 97 A análise custo, volume e lucro é de extrema importância para qualquer gestor. Juntamente com o estudo da margem de contribuição, que já vimos no custeio variável, são duas importantes ferramentas para os gestores. O item que ainda nos falta para ter o tripé básico para gerenciar as informações decorrentes dos custos é o ponto de equilíbrio, que utiliza conceitos de custos fixos e variáveis. Vamos a ele! 3.3.2 Ponto de Equilíbrio O ponto de equilíbrio é o número mínimo de unidades de um determinado produto, que deve ser produzido e vendido para que sejam cobertos os custos e despesas relativas ao ele. Na literatura acadêmica você também pode encontrar a expressão em inglês break even point. É importante frisar que o ponto de equilíbrio só poderá ser calculado quando utilizamos a metodologia do custeio variável. No ponto de equilíbrio o resultado operacional de um dado produto é igual a 0. Para calculá-lo devemos utilizar os valores unitários do preço e dos custos e despesas variáveis, e o total dos custos fixos. A fórmula de cálculo segue abaixo: Ponto de equilíbrio = Q = CF ÷ (pv-cv) Onde, Q = Quantidade de unidades do ponto de equilíbrio; CF = Custos e Despesas Fixas Totais; pv = Preço unitário de venda; cv = Custo variável unitário. Façamos um exemplo para fixar o conteúdo: Supondo que uma empresa tenha custos operacionais fixos (CF) equivalentes a R$ 25.000,00, que o preço (pv) de venda por unidade de produto seja igual a R$ 100,00 e que o custo operacional variável por unidade (cv) seja de R$ 50,00; para se obter o volume de vendas no ponto de equilíbrio, aplicando a equação acima, teremos: R$ 25.000,00 Q = ------------------------ = 500 unidades R$ 100,00 - 50,00 Resultado projetado: Receita de Vendas R$ 50.000,00 (-) Custos Variáveis operacionais - R$ 25.000,00 (=) Margem de Contribuição R$ 25.000,00 Dtaxa de M.C: 2.500/5.000 = 0,50 (-) Custos Fixos operacionais - R$ 2.500,00 (=) LAJIR R$ zero Conclusão: Caso a empresa venda 500 unidades do produto, correspondendo a um volume de vendas de R$ 50.000,00, o lucro operacional da empresa deve se igualar a zero. Nesse nível de vendas, portanto, os custos fixos e variáveis estão cobertos. Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 98 Atividade Complementar 1) Determinar o ponto de equilíbrio operacional, em quantidade de vendas, de uma empresa a partir dos seguintes dados e fazer a demonstração de resultado: Preço unitário de venda: R$ 60,00 Custos variáveis unitários: R$ 20,00 Margem de contribuição: R$ 40,00 Custos operacionais fixos: R$ 400.000,00 Agora que já conhecemos as principais formas de se analisar as informações geradas pelos custos, coletando e calculando os dados para utilizá- los para a tomada de decisão, vamos aproveitar o conhecimento que já acumulamos para aprender a formar o preço mínimo de venda e compará-lo com o que o mercado trabalha. 3.4 FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA Os conceitos de custos são de extrema importância para a formação, ou ao menos para o controle, do preço de venda. Estes dados são úteis para que a empresa não atue no mercado com o preço abaixo dos custos e, a cada vez que vende mais, perca mais dinheiro. Caso ela deseje vender abaixo do custo ao menos será consciente disso. A gestão de preços é algo muito particular de cada organização, envolvendo questões estratégicas. É importante que o gestor tenha a informação sobre cada produto e, se possível, sobre cada cliente. 3.4.1 Impostos Para calcularmos um preço, ou ao menos um valor orientativo, é de suma importância conhecer o seu regime tributário, seja Lucro Real, Lucro Presumido ou Super-Simples na esfera federal. Também não podemos esquecer dos impostos estaduais e municipais, quando for o caso. Para as empresas que trabalham no Lucro Real os impostos são os já conhecidos (ver Capítulo 1 do presente material). No regime do Lucro Presumido, o fisco presume margem de lucro na maioria das atividades industriais, costuma ser igual a 8% da receita operacional bruta e a alíquota a ser aplicada sobre essa base presumida será de 15% a 25% mais a CSLL. Para outros serviços as margens podem ser de 16% ou 32% Capítulo 3 Q Custos 99 Imposto de Renda Mensal TABELA 27 – Impostos sobre diferentes atividades FONTE: ASSEF (1999, p.27). As questões tributárias devem estar muito claras na hora de analisar os preços praticados por uma empresa. Não é o objetivo deste material ser um guia de tributos; desta forma, utilizaremos alguns exemplos mas não entraremos nos pormenores da questão. 3.4.2 Markup O método de custeio utilizado pela empresa é de fundamental importância na sua precificação. Além do conceito de custeio por absorção, departamentalização ou ABC, a empresa necessita adicionar o montante das despesas operacionais aos custos para chegar ao conceito de gasto total para formar os seus preços. O markup nada mais é que um marcador. É o ponto, ou o preço, em que deveria estar o produto para gerar a margem de contribuição (ou lucro, dependendo do caso) mínima que a empresa exige. Na constituição do markup precisamos conhecer todos os gastos relacionados diretamente com as vendas, tais como: comissões, Pis/Cofins, ICMS, distribuição e um lucro desejado. Vamos a um exemplo: a nossa empresa de mesas e cadeiras (para que mudar se ela vai tão bem)? Imagine que a empresa paga 7% de comissões, 3,65% de PIS/COFINS, 12% de ICMS e quer obter 20% de lucro. Para constituir um markup devemos somar os percentuais incidentes sobre o preço de venda, ou todos os gastos proporcionais ao preço de venda, que no nosso exemplo seria: TABELA 28 - Gastos Variáveis sobre o Preço Final FONTE: Os autores Gasto Percentual Comissões 8,0 % Pis/Cofins 3,65% ICMS 12% Lucro 20% Somatória 43,65% Gestão Financeira e Custos Q FURB / SAPIENCE 100 Para calcular o preço dos produtos devemos fazer o seguinte cálculo: 100% - 43,65% = 56,35%. Com este valor fazemos a seguinte divisão: 1 ÷ 56,35% = 1,7746. O que significa isso? Significa que devemos multiplicar o valor que é o somatório dos custos e despesas por 1,7746 para obtermos o preço final, ou ao menos o preço orientativo. Imaginemos que o somatório dos custos e despesas da nossa mesa tenha sido de R$ 85,00; então o valor orientativo de venda, dado o lucro que a empresa deseja, os impostos e as despesas com comissões, será de R$ 85,00 x 1,7746 = R$ 150,84. COMPROVAÇÃO TABELA 29 - Demonstração de Resultados Preço de Venda R$ 150,84 100% (-) COMISSÕES R$ 12,07 8% (-) ICMS R$ 18,10 12% (-) PIS/COFINS R$ 5,51 3,65% (-) Custos e Despesas R$ 85,00 56,35% (=) Resultado da mercadoria R$ 30,16 20% FONTE: Os autores Saiba Mais Para você que quer se aprofundar no assunto, há mais informações (e extremamente atualizadas) sobre custos em: http://www.abcustos.org.br/ http://www.portaldecontabilidade.com.br/ 101 REFERÊNCIAS ASSEF, Roberto. Guia Prático de Formação de Preços. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. ATKINSON, A. A. et al. Contabilidade gerencial. 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