Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Filosofia da educação: Aula 01 – Do Mito à Razão Na Grécia Antiga, a religião e o mito eram as fontes originárias de conhecimento. Através deles, os gregos tinham as respostas fundamentais para as grandes questões da existência. A partir do século VI a.C., no entanto, surgiram alguns sábios que propuseram uma outra forma de pensar e de explicar o mundo. Eles passaram a utilizar os argumentos racionais (não mais os religiosos ou míticos) para teorizar a realidade a partir de elementos presentes no próprio mundo natural, sem que precisassem apelar a um mundo sobrenatural. Nesse contexto, nasce a Filosofia. A seguir, você entenderá melhor esses acontecimentos. O nascimento da polis (cidade), no século VIII a.C., provocou grandes transformações na Grécia Antiga. O saber deixou de ser sagrado e tornou-se objeto de discussão. Os cidadãos da polis, passaram a ir à ágora (praça pública) para debaterem os problemas de interesse comum e para decidirem os rumos da cidade. Tal mentalidade libertou os homens das ideias de pré-determinação e dos desígnios divinos que lhes impunham o destino do qual não poderiam escapar. A política, por sua vez, permitiu aos cidadãos debaterem e traçarem o seu próprio destino em praça pública. Como você viu na página anterior, a passagem de uma visão mágica, mítica e religiosa do mundo para uma interpretação racional, humana, marca o nascimento da Filosofia no Ocidente e o início do período chamado Filosofia Antiga. O nascimento da Filosofia ocorreu no século VI a.C., nas colônias gregas da Magna Grécia (sul da Itália) e Jônia (atual Turquia). A Filosofia, tendo como fundamento a razão (logus), estabeleceu uma nova forma de interpretação da realidade. A Filosofia nasceu fincada no chão da sociedade grega, sob condições políticas, econômicas e culturais que determinaram todo o edifício racional que fora construído pelos inúmeros pensadores. Fatores políticos, religiosos e econômicos contribuíram para o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga. Inicialmente, conheça os fatores políticos. As origens da Filosofia vinculam-se ao processo de consolidação da democracia grega em torno da polis. A cidade-estado grega era o espaço legítimo e legitimador de sua liberdade, a ponto de o Estado tornar-se horizonte ético do homem grego. Esta era a base da cidadania grega: os cidadãos são a finalidade última do Estado, o bem do Estado é seu próprio bem, sua liberdade, sua grandeza. A democracia grega se apoiava em uma concepção de cidadania excludente. Eram considerados cidadãos, apenas os homens (varões) que possuíam bens ou riquezas. Portanto, estavam excluídos da cidadania as mulheres, os estrangeiros, os escravos e os homens pobres. Conheça, agora, os fatores religiosos que contribuíram para o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga.Atena: Os gregos conseguiram alcançar um patamar de liberdade religiosa muito elevado em relação a outros povos da Ásia Menor e do Oriente Próximo.Apolo: Enquanto em outras nações o poder religioso, aliado às monarquias de cunho tributário, servia para legitimar o Estado absoluto e o poder do rei, algumas cidades-estado da Grécia construíram uma relativa liberdade, baseada na autoridade do Pater Familias (Pai de Família).Afrodite: A religião grega não se baseava em um livro Sagrado. Portanto, os gregos não tinham dogmas a serem defendidos, ortodoxia, nem heresias, ou uma casta sacerdotal. Estava aberto o caminho para o livre pensar.L eja abaixo os fatores econômicos que contribuíram para o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga. O florescimento das cidades-estado gregas deveu-se principalmente ao desenvolvimento da indústria artesanal e do comércio. Antes disso, a Grécia era predominantemente agrária, sendo dominada politicamente por grandes proprietários de terras. Neste contexto, é mais compreensível que cultivasse uma visão mítica do mundo, mais ligada aos ciclos do clima. O crescimento industrial e comercial fez florescerem as cidades-estado, fazendo surgir novos atores sociais, que começavam a dominar o cenário político e ameaçar o poder da nobreza fundiária. É nessas circunstâncias que a Filosofia nasce, fazendo justificar o poder emergente de comerciantes e artesãos. Vale notar que essas mudanças ocorreram primeiro nas colônias gregas da Ásia Menor (em Mileto, principalmente), expandido-se, depois, para a região da Itália Meridional, chegando, então, ao centro da Grécia, em Atenas. Isto, porque, estando longe do controle central, puderam desenvolver instituições políticas autônomas e desenvolver um comércio próprio. Compreenda, agora, o discurso filosófico na Grécia Antiga. A princípio, os filósofos pré-socráticos, também chamados de "naturalistas" ou filósofos da physis, tinham como escopo especulativo o problema cosmológico, ou cosmo-ontológico, e buscavam o princípio (ou arché) das coisas. Cada um dos filósofos pré-socráticos sugeriu um elemento primordial (princípio) ou causa de todas as coisas que compõem a realidade física. Em um segundo momento, surge a sofística e o foco da filosofia muda do cosmo para o homem e o problema moral. Como sugere o nome, os filósofos pré-socráticos são aqueles que antecedem a Sócrates. Contudo, essa divisão se dá mais propriamente devido ao objeto de sua filosofia (o interesse pelo estudo da natureza) em relação à novidade introduzida por Sócrates, do que em relação à cronologia. Já que, temporalmente, alguns dos ditos pré-socráticos são contemporâneos a Sócrates, ou mesmo posteriores a ele (como no caso de alguns sofistas). Exemplos de elementos primordiais sugeridos pelos filósofos pré-socráticos: Tales de Mileto - a água Anaximandro de Mileto - o apeíron Anaxímenes de Mileto - o ar Xenófanes de Cólofon - a terra Heraclito de Éfeso - o fogo Pitágoras de Samos - o número Demócrito de Abdera - o átomo Empédocles de Agrigento - os quatro elementos (terra, água, fogo e ar) Aula 02 – Sócrates, Platão e Aristóteles Sócrates, Platão e Aristóteles são os mais importantes expoentes da Filosofia grega. As doutrinas desses filósofos compõem o período clássico da Filosofia grega, tendo longa vigência nos séculos seguintes. Ao longo dessa aula, você conhecerá a transformação filosófica provocada por Sócrates, com ênfase nos temas humanísticos; compreenderá o pensamento metafísico de Platão e a sua repercussão para a história do pensamento ocidental; e entenderá a solução metafísica dada por Aristóteles ao problema do conhecimento. Sócrates deu uma nova direção à Filosofia. Enquanto o interesse dos filósofos pré-socráticos recaiu sobre os estudos da natureza (physis), Sócrates interessou-se pelas questões humanas, a ética, a política, o conhecimento, a educação, entre outros problemas que afetam o homem. As fontes mais importantes de informações sobre Sócrates são as escritas por Platão, Xenofonte e Aristóteles. Sócrates foi mestre de Platão. Alguns historiadores afirmam que só se poder falar de Sócrates como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria. A principal preocupação de Sócrates era a de levar os seus concidadãos a pensarem. Platão nasceu em uma família aristocrata de Atenas. Foi brilhante escritor e filósofo e se destacou entre os pensadores mais influentes da civilização ocidental. Desde jovem, Platão tinha ambições políticas, mas logo se decepcionou com a liderança política de Atenas. Ele se tornou discípulo de Sócrates, seguindo sua filosofia e aderindo ao método por ele utilizado: a busca da verdade através de perguntas, respostas e mais perguntas. Após a morte de Sócrates, Platão abandonou a cidade. As suas viagens levaram-no a lugares como Egito, Cirene e Sicília. Quando regressou a Atenas, co-fundou uma escola que ficou conhecida por Academia, situada no Jardim de Academos, onde se ensinavam os mais diversos assuntos, desde a Matemática à Biologia, da Filosofia à Astronomia. Os ensinamentos de Platão foram escritos em forma de diálogo (aproximadamente trinta), de uma conversa ou um debate entre várias pessoas. Seus diálogos são divididos em três fases. A primeira fase é representada com Platão tentando comunicar a filosofia de Sócrates. Os diálogos da segunda e terceira fase relatam as próprias ideias de Platão, por mais que ele continue a utilizar Sócrates como personagem em seus diálogos. Em oposição aos sofistas, Platão propõe um novo método: a dialética (ou arte de pensar), que vai das palavras às ideias. Estas constituem a própria essência, fundamento e modelo das coisas sensíveis e individuais. Platão, portanto, divide o existente em duas partes: o mundo das ideias e o mundo físico em que vivemos. No mundo das ideias, tudo é constante e real. Já no mundo físico (ou mundo sensível), tudo está sujeito ao fluxo, à mudança, daí seu caráter relativo e aparente. De um lado, o mundo das ideias ou das formas puras e imutáveis, e de outro, o mundo das coisas mutáveis. Assim, as únicas coisas, de fato, permanentes e verdadeiras para Platão, seriam as ideias. Observar o mundo físico (tal como a ciência faz hoje em dia) pouco serviria, portanto, para alcançarmos uma compreensão da realidade, embora servisse para reconhecermos, ou recordarmos, as ideias perfeitas que traríamos dentro de nós. Ideias ou formas são arquétipos imutáveis. De acordo com Platão, só essas ideias/formas são o fundamento do verdadeiro conhecimento. Platão distinguiu dois níveis de saber: opinião e conhecimento. A República é a maior e mais reconhecida obra política de Platão. A obra se foca na questão de justiça: Como é um Estado justo? Quem é um individuo justo? Segundo Platão, a melhor forma de governo é a aristocracia por mérito. Ele divide o estado ideal em três classes: a classe dos comerciantes, a classe dos militares e a classe dos filósofos-reis.A República aborda diversos temas sobre justiça, governo e apresenta um governo utópico. Essa obra vem sendo amplamente lida através dos séculos, por mais que suas propostas nunca tenham sido adotas como uma forma de governo concreta. Na República, também encontramos o famoso Mito da Caverna (ou Alegoria da Caverna). Trata-se de uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância. Em outras palavras, podemos dizer que a Alegoria da Caverna trata da passagem gradativa do senso comum, enquanto visão de mundo e explicação da realidade, para o conhecimento filosófico. Aristóteles é considerado um dos mais fecundos pensadores de todos os tempos. Aristóteles nasceu em Estagira, na península macedônica da Calcídica (por isso, ele também é chamado de o Estagirita). Era filho de Nicômano, amigo e médico pessoal do rei Amintas 2º, pai de Filipe e avô de Alexandre, o Grande. Aos 16 ou 17 anos, Aristóteles mudou-se para Atenas (centro intelectual e artístico da Grécia) e estudou na Academia de Platão até a morte do mestre, no ano 347 a.C. Após a morte de Platão, Aristóteles passou algum tempo em Assos, no litoral da Ásia Menor (atual Turquia), onde casou-se com Pítias, a sobrinha do tirano local. Sendo este assassinado, o filósofo fugiu para Mitilene, na ilha de Lesbos. Foi depois convidado para a Corte da Macedônia onde, durante três anos, exerceu o cargo de tutor de Alexandre, mais tarde “o Grande”. Em 355 a.C., Aristóteles voltou a Atenas e fundou uma escola próxima ao templo de Apolo Lício, que recebeu o nome de Liceu. O caminho coberto ("peripatos") por onde costumava caminhar enquanto ensinava deu à escola um outro nome: Peripatética. A escola se tornaria a rival e ao mesmo tempo a verdadeira herdeira da Academia platônica. Com a morte de Alexandre, em 323 a.C., o imenso império erguido por ele esfacelou-se. Em Atenas eclodiu um movimento que visava a restaurar a independência da cidade-estado. Malvisto pelos atenienses por causa da sua origem macedônica, Aristóteles foi acusado de “ateísmo” ou “impiedade”. Para não ter o mesmo fim de Sócrates, condenado ao suicídio, exilou-se voluntariamente em Cálcida, na ilha da Eubéia, onde morreu um ano depois. As investigações filosóficas de Aristóteles consideraram várias áreas do conhecimento. Podemos citar a Biologia, a Zoologia, a Física, a História Natural, a Poética, a Psicologia, sem falar em disciplinas propriamente filosóficas como a Ética, a Teoria Política, a Estética e a Metafísica. A metafísica aristotélica é a ciência que estuda “o ser enquanto ser”, ou os princípios e as causas do ser e de seus atributos essenciais. Podemos sintetizar a metafísica aristotélica em quatro questões gerais: potência e ato; matéria e forma; particular e universal; e movido e motor. Conheça, inicialmente, duas dessas questões. A doutrina da potência e do ato é fundamental na metafísica aristotélica.Todo ser, que não seja o Ser perfeitíssimo (Deus), é uma síntese (um sínolo), um composto de potência e de ato, em diversas proporções, conforme o grau de perfeição, de realidade dos vários seres. Um ser desenvolve-se, aperfeiçoa-se, passando da potência ao ato. Esta passagem da potência ao ato é a atualização de uma possibilidade, de uma potencialidade anterior. Por exemplo, um ovo está em ato, mas é potência de uma ave. Esta doutrina é aplicada e desenvolvida por Aristóteles, especialmente, quando este trata da doutrina da matéria e da forma, que representam a potência e o ato no mundo, na natureza em que vivemos. Segundo Aristóteles, o indivíduo é composto por dois elementos: a matéria e a forma. O composto de matéria e forma (o sínolo) constitui a substância.A matéria aristotélica, porém, não é o puro não-ser de Platão (mero princípio de decadência), pois esta é também condição indispensável para concretizar a forma.Então, não existe a forma sem a matéria, ainda que a primeira seja princípio de atuação e determinação da segunda. Com respeito à matéria, a forma é, portanto, princípio de ordem e finalidade, racional, inteligível. Diversamente da ideia platônica, a forma aristotélica não é separada da matéria, e sim imanente e operante nela. Ao contrário, as formas aristotélicas são universais, imutáveis, eternas, como as ideias platônicas. Os elementos constitutivos da realidade são, portanto, a forma e a matéria. A realidade, porém, é composta de indivíduos, substâncias, que são um composto (um sínolo) de matéria e forma. Por consequência, estes dois princípios não são suficientes para explicar o surgir das substâncias e dos indivíduos que não podem ser atuados, a não ser por um outro indivíduo, isto é, por uma substância em ato. Com isso, existe a necessidade de um terceiro princípio, a causa eficiente, para poder explicar a realidade efetiva das coisas. A causa eficiente, por sua vez, deve operar para um fim, que é precisamente a síntese da forma e da matéria, produzindo esta síntese o indivíduo. Daí uma quarta causa, a causa final, que dirige a causa eficiente para a atualização da matéria mediante a forma. Mediante a doutrina da matéria e da forma, Aristóteles explica o indivíduo, a substância física, a única realidade efetiva no mundo, que é precisamente o composto (sínolo) de matéria e de forma. A essência, que é igual em todos os indivíduos de uma mesma espécie, deriva da forma. Já a individualidade, pela qual toda substância é original e se diferencia de todas as demais, depende da matéria. O indivíduo é, portanto, potência realizada, matéria enformada, universal particularizado. Mediante a doutrina da matéria e da forma é explicado o problema do universal e do particular, que tanto atormenta Platão. Aristóteles faz o primeiro (a ideia) imanente no segundo (a matéria), depois de ter eficazmente criticado o dualismo platônico, que fazia os dois elementos transcendentes e exteriores um ao outro. Da relação entre a potência e o ato, entre a matéria e a forma, surge o movimento, a mudança, o vir-a-ser, a que é submetido tudo que tem matéria, potência. A mudança é, portanto, a realização do possível. Esta realização do possível, porém, pode ser levada a efeito unicamente por um ser que já está em ato, que possui já o que a coisa movida deve vir-a-ser, visto ser impossível que o menos produza o mais, o imperfeito o perfeito, a potência o ato, mas vice-versa.Mesmo que um ser se mova a si mesmo, aquilo que move deve ser diverso daquilo que é movido, deve ser composto de um motor e de uma coisa movida. Por exemplo, a alma é que move o corpo.O motor pode ser unicamente ato, forma. A coisa movida, enquanto tal, pode ser unicamente potência, matéria.Eis a grande doutrina aristotélica do motor e da coisa movida, doutrina que culmina no motor primeiro, absolutamente imóvel, ato puro, isto é, Deus. Como todo pensamento e todo juízo, a proposição aristotélica está submetida aos três princípios lógicos fundamentais, condições de toda verdade: Relembre os principais pontos estudados sobre Aristóteles. Como você pôde perceber, o sistema aristotélico invalida o dualismo platônico, representado pela teoria das ideias. Ora, a forma aristotélica não existe separada, num mundo inteligível e apartado do mundo das coisas sensíveis e materiais. A forma, junto com a matéria, constituiria os indivíduos, as substâncias. Portanto, a forma é parte constitutiva das coisas e faz parte do único mundo existente. Aristóteles, diferente de Platão, valoriza o conhecimento sensível, desvalorizado por Platão, como fonte de erro e de engano. Ao contrário de Platão, Aristóteles entende que todo o conhecimento possível inicia-se com os sentidos ou a sensação. Os sentidos, entretanto, são insuficientes, e precisam ser superados por outros graus mais elevados de abstração, passando pela memória, a experiência, a arte (téchne) e chegando à teoria (epistemé), grau mais perfeito do conhecimento. Aula 03 – Filosofia Medieval – Parte I A Filosofia Medieval compreende um período histórico que vai do final do helenismo (séculos IV e V) até o Renascimento (final do século XV e início do século XVI). É a maior parte da produção filosófica da Idade Média. Possivelmente, você já ouviu falar que a Idade Média apresenta uma imagem negativa. Você sabe o porquê disso? A imagem negativa da Idade Média é entendida pela transição entre os clássicos e os novos tempos, movimento que culmina no humanismo renascentista, procurando recuperar as glórias da antiguidade greco-romana. A fase final da Filosofia Medieval (séculos XI e XV) equivale ao desenvolvimento da escolástica e a criação das universidades. A filosofia de São Tomás de Aquino, que se aproximou dos textos de Aristóteles, resultou numa nova contribuição para o desenvolvimento da escolástica. Posições controvertidas que foram assumidas na Filosofia, na Teologia e na Política. A presença da tradição aristotélica na Europa ocidental. O levantamento de questões que aproximavam a Teologia da Filosofia, investigando racionalmente os fundamentos da fé cristã. O pensamento de Santo Agostinho. A transição do helenismo para o cristianismo. é no período final da Idade Média que ocorre a transição do helenismo para o cristianismo. A religião cristã originária do judaísmo surge e se desenvolve no contexto do helenismo. A cultura ocidental da qual somos herdeiros até hoje é a síntese entre o judaísmo, o cristianismo e a cultura grega. O helenismo permitiu a aproximação entre a cultura judaica e a filosofia grega, que tornou possível, mais tarde, o surgimento de uma filosofia cristã. Em Alexandria, essas culturas conviveram e se integraram, de forma que se falavam várias línguas na região. Nessa época, foi possível encontrar uma aproximação entre a cosmologia platônica e a narrativa da criação do mundo. Inicialmente, o cristianismo não se distinguia claramente do judaísmo. Ele era visto como uma seita reformista dentro da religião da cultura judaica. Para os gregos, o príncipe divino operava no mundo, essa visão influenciou fortemente o desenvolvimento da filosofia cristã. É em São Paulo que encontramos a concepção de uma religião universal. Ele defendia a necessidade de pregar a todos. Esta é uma diferença básica em relação ao judaísmo e as demais religiões da época. Obtenha mais informações sobre os fatores históricos que contribuíram para o nascimento da filosofia cristã. Podemos dizer que a cultura de língua grega hegemônica permitiu a concepção de uma religião universal, que corresponde, no plano espiritual e religioso, a concepção de império no plano político e militar. Essa concepção foi consolidada com o batismo do imperador Constantino, em 337, e com a institucionalização do cristianismo como religião oficial. Entretanto, não havia ainda uma unidade no cristianismo. A filosofia grega teve uma importância fundamental no processo de unificação do cristianismo, quando as discussões levaram a formulação de uma unidade doutrinária hegemônica, ortodoxa. Os primeiros representantes dessa filosofia cristã pertenceram a, assim, chamada escola neoplatônica cristã Alexandria. Uma questão que acompanhou todo o pensamento medieval foi o conflito entre razão e fé, que era foco de tensão permanente. Diversos concílios fixaram a doutrina considerada legitima e condenaram os que não aceitavam esses dogmas expulsando-os da Igreja. Podemos dizer que a filosofia grega se incorporou de maneira definitiva à tradição cristã: a lógica e retórica forneceram meios de argumentação; e a metafísica de Platão e de Aristóteles forneceu conceitos chaves (substâncias, essências e etc.), em função dos quais questões teológicas eram discutidas. Um dos grandes pensadores cristãos foi Santo Agostinho. A sua influência filosófica e teológica se estendeu até o período moderno. Veja abaixo os três aspectos fundamentais da contribuição desse pensador para o desenvolvimento da Filosofia. A formulação das relações entre Teologia e Filosofia, entre razão e fé. A criação da teoria do conhecimento com ênfase na questão da subjetividade e da interioridade. A elaboração da teoria da história que foi desenvolvida na monumental cidade de Deus. Santo Agostinho pode ser considerado o primeiro pensador a desenvolver uma noção de uma interioridade que prenuncia o conceito de subjetividade do pensamento moderno. Encontramos no pensamento de Santo Agostinho a oposição interior/exterior e a concepção de que a interioridade é o lugar da verdade: é olhando para a sua interioridade que o homem descobre a verdade pela iluminação divina. A teoria da iluminação divina vem substituir a teoria platônica, explicando o ponto de partida do processo de conhecimento e abrindo o caminho para a fé. A concepção agostiniana teve uma grande influência no desenvolvimento da noção ocidental de tempo histórico, raiz da visão hegeliana. Santo Agostinho viveu em tempos conturbados: a ruína do mundo antigo, a decadência do Império Romano, as invasões dos bárbaros pagãos. Ele mostrou que os eventos históricos devem ser interpretados à luz da revelação, que a cidade divina prevalecerá, já que a história tem uma direção. Além de Santo Agostinho, é necessário mencionar Boécio (470-525), como um pensador fundamental para a mediação entre na filosofia antiga e a filosofia cristã medieval. Você já estudou que o termo escolástica designa todos aqueles que pertencem a uma escola ou que se vinculam a uma determinada escola de pensamento e de ensino. Conheça, agora, os fatores históricos que contribuíram para o seu desenvolvimento. As culturas bárbaras que se estabelecem na Europa Ocidental não tinham conhecimento e, nem tampouco, interesse pela Filosofia. Só a partir do século IX, cinco séculos após a morte de Santo Agostinho, a situação começa a mudar. Em 529, São Bento fundou, na Itália, a ordem monástica beneditina, diferente das ordens monásticas das igrejas orientais, que eram exclusivamente contemplativas. Graça aos monges copistas foram preservados os textos da antiguidade clássica grego-romana, nas bibliotecas. Progressivamente, o mundo europeu ocidental começava a se reestruturar. A primeira grande tentativa de reestruturação aconteceu no natal do ano 800, quando o papa Leão III, convidou Carlos Magno para ir à Roma e lá o consagrou imperador do sacro império romano germânico. Após a morte de Carlos Magno, seu império foi dividido entre o seu filho e os sucessores deste, levando a uma nova fragmentação política, que gerou grandes conflitos. É, portanto, em torno dos séculos XI e XII que vamos assistir o surgimento da chamada escolástica. Neste contexto, aparece a famosa querela entre a razão e a fé que percorre toda a Filosofia Medieval. No entanto, o desenvolvimento da Filosofia torna-se possível devido à difusão de consolidação das escolas nos mosteiros e catedrais. Santo Anselmo é considerado o primeiro grande pensador da escolástica. Ele elaborou sua filosofia buscando articular a razão e a revelação, a fé e o entendimento. Santo Anselmo deu a sua principal contribuição à Filosofia na formulação do famoso argumento ou prova ontológica, como ficou conhecido posteriormente (desde Kant). Trata-se de um dos argumentos mais clássicos da tradição filosófica, tendo sido questionado por outros filósofos na Idade Média, dentre eles São Tomás de Aquino. A conclusão de Santo Anselmo é que não se pode pensar a inexistência de um ser do qual nada maior pode ser pensado sem contradição. Desse modo, fica provada a existência de Deus. Aula 04 – Filosofia Medieval – Parte II Conheça os fatores históricos que contribuíram para a fusão entre a cultura árabe, a filosofia grega e o pensamento cristão.Filosofia grega: A fusão começa a partir do momento em que Alexandre (século IV a.C.) inicia a expansão do seu Império, levando e difundindo a cultura grega pelo Oriente Médio, conquistando a Índia. A partir desse momento, não restou mais dúvida a mistura entre a língua local e a grega com suas ricas tradições, formando os principais núcleos de cultura.Pensamento cristão: No período cristão (IV e V d.C.), outro marco se dará aprofundando essa fusão. Vários cristãos foram condenados e buscaram exílio no Oriente, principalmente na Síria e na Mesopotâmia. Esses cristãos, além de conhecedores da filosofia e da ciência grega, usavam a língua grega.Cultura arabe: A fusão também foi influenciada pelo profeta Maomé (570-632), quando este assumiu a liderança religiosa do povo árabe, fundando a religião islâmica. Esse contexto, sem dúvida, favoreceu o encontro dos árabes com os núcleos de cultura de origem grega e cristã. Portanto, os cristãos da escolástica tiveram o primeiro contato com o pensamento de Aristóteles através desses núcleos de cultura. Como você estudou na página anterior, os cristãos da escolástica tiveram o primeiro contato com o pensamento de Aristóteles através dos núcleos de cultura. Logo, podemos concluir que o grande desenvolvimento da filosofia escolástica, a partir do século XIII, foi devido à influência do pensamento árabe. Com o desenvolvimento de uma intensa atividade artesanal e comercial, no século XIII, surgiram núcleos urbanos importantes que tiveram grande influência no enriquecimento de uma pequena parte da população. Consequentemente, houve o rompimento com a ordem econômica (política feudal), dando lugar a um mundo em que as relações sociais permitiam a mobilidade social. Além disso, os artesões passaram a se organizar em ligas nas cidades, fazendo nascer um novo tipo de convívio social. As obras de Aristóteles, com as suas preocupações científicas e empíricas, foram adequadas a esse novo contexto, devido a dois fatores fundamentais que são característicos do século XIII: o surgimento das universidades e a criação das ordens religiosas (franciscanos e dominicanos). São Tomás foi um dos grandes pensadores da alta escolástica. Teve uma profunda ligação com as universidades do século XIII, sobretudo a de Paris. Tornou-se um grande pensador com criatividade e originalidade. Desenvolveu uma filosofia própria, tratando praticamente de todas as grandes questões da Filosofia e da Teologia de sua época. eve grande interesse pelas obras de Aristóteles e dos pensadores árabes. Mostrou que a filosofia de Aristóteles era compatível com o cristianismo. O tomismo tornou-se uma espécie de representante de “uma filosofia cristã oficial”, isto se deu devido à grandeza da obra de São Tomás e da complexidade das questões tratadas. Como exemplo disso, ele desenvolveu as cinco vias da prova da existência de Deus. Guilherme de Ockham foi o maior dos lógicos escolásticos. Ele combinou o racionalismo do pensamento aristotélico com a fé revelada do cristianismo. Pelas posições que assumiu na Filosofia, na Teologia e na Política, e pelos constantes enfrentamentos com as autoridades, Ockham foi perseguido pelo Papa. Foi graças as suas ideias, que foram lançadas as sementes que levaram o sistema filosófico medieval à ruína, dando lugar ao novo senso de investigação crítica inspirado diretamente dos gregos. Aula 05 – Filosofia Moderna – Parte I A ideia de modernidade foi sendo construída com o passar dos tempos. O termo moderno já era usado na Filosofia Medieval, mas o conceito de modernidade veio de duas noções fundamentais relacionadas - a ideia de progresso e a valorização do indivíduo, que são decorrentes de fatores históricos como: o Humanismo Renascentista (século XV); a Reforma Protestante (século XVI); a Revolução Científica (século XVII); a redescoberta do ceticismo. O primeiro fator histórico que você conhecerá é o Humanismo Renascentista do século XV. O conceito de Renascimento abrange os séculos: XV e XVI, que foi o período histórico intermediário entre o medieval e o moderno. Podemos dizer que o traço mais característico desse período foi o humanismo. O humanismo teve também uma grande importância na política. As partes centrais do ideário humanista tratam da rejeição da tradição escolástica em favor de uma recuperação da natureza humana individual, ponto de partida de uma nova ordem. O principal pensador político mais original desse período foi sem dúvida Nicolau Maquiavel (autor de O Príncipe, publicado em 1532). A Reforma Protestante do século XVI também contribuiu para o conceito de modernidade. Em uma visita a Roma (1510), Lutero ficou chocado com a corrupção da sede da Igreja e começou a defender a necessidade de uma reforma.Portanto, o marco do início da Reforma Protestante foi a pregação por Lutero das suas 95 teses contra os teólogos católicos da universidade e contra o papa Leão X (1517). A ideia de reforma foi bastante comum no desenvolvimento do cristianismo. A ruptura provocada pela Reforma é um dos fatores propulsores da modernidade, embora Lutero se aproxime mais da filosofia medieval agostiniana. O protestantismo, o movimento de oposição a Roma, difundiu-se por outros países, a exemplo de Calvino na Suíça, em Genebra.Com isso, a Igreja Católica inicia uma ofensiva contra o protestantismo. O Concílio de Trento estabeleceu as bases doutrinárias e litúrgicas. A Inquisição ganhou nova força e, assim, surgiram novas ordens religiosas como a Companhia de Jesus, de caráter militante. No século seguinte, a Guerra dos Trinta Anos opõe católicos e protestantes por toda Europa. A ética protestante, principalmente calvinista, proporcionou grande desenvolvimento econômico da Europa, permitindo a acumulação do capital. Lutero combateu a escolástica, sua concepção teológica é uma interpretação da doutrina de santo Agostinho sobre a luz natural que todo o indivíduo tem em si e que permite entender e aceitar a revelação, não necessitando da intermediação da igreja, dos teólogos, da doutrina dos concílios, a fé é suficiente. Se a discussão em torno da “regra da fé” abre caminho acerca do livre arbítrio e da salvação. Essa discussão levanta questões de natureza moral.Para Lutero, a salvação só é possível pela graça divina, dom de Deus que independe do saber adquirido, ou da obediência da autoridade eclesiástica, assim rejeita a doutrina ética da escolástica tomista e o esforço humano não desempenha nenhum papel na salvação. Além do Humanismo Renascentista e da Reforma Protestante, a Revolução Científica também contribuiu para o conceito de modernidade. São duas as grandes transformações científicas: do ponto de vista da cosmologia - o modelo empreendido por Galileu - universo infinito e movimento dos corpos celestes, principalmente da terra;do ponto de vista da ideia de ciência - a valorização da observação do método experimental que se opõe à ciência contemplativa dos antigos. Outro fator histórico que contribuiu para o conceito de modernidade foi a redescoberta do ceticismo. O interesse pelo ceticismo antigo é retomado no Renascimento como parte do movimento de volta aos clássicos.A Idade Média havia sido, em grande parte, ignorada pelos céticos devido à refutação do ceticismo por santo Agostinho. Possivelmente, os céticos foram os primeiros filósofos a questionar a possibilidade do conhecimento e a levantar a questão sobre os limites da natureza humana do ponto de vista cognitivo, o que será uma das grandes temáticas do pensamento moderno até Kant. Um dos primeiros a tratar dessa temática argumentou que os limites do nosso entendimento só podem ser superados pela fé. A revelação e a fé são as únicas possibilidades de superar a incerteza de uma ciência incapaz de alcançar o verdadeiro saber. Podemos considerar Michele de Montaigne o filósofo mais importante desse período, quanto à retomada e ao desenvolvimento do ceticismo, inclusive devido a sua influência em Descartes.A visão cética de Montaigne pode ser considerada um dos pontos de partida do subjetivismo e do individualismo. Diante de um mundo de incerteza, mergulhado em guerras e conflitos religiosos e políticos o homem refugia-se dentro de si.