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* Aula 07 * FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO CURSOS DE LICENCIATURAS LETRAS E PEDAGOGIA Aula 07 * FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Prof. RENATO DORNELLAS AULA 07 FILOSOFIA MODERNA EMPIRISMO INGLÊS * Aula 07 * INTRODUÇÃO Após termos analisado a contribuição de Descartes, vamos nesta aula conhecer e aprofundar o que é o empirismo, que junto com o pensamento cartesiano formaram as bases do pensamento moderno. A importância da filosofia política do liberalismo e a tradição iluminista, sua influência e suas implicações na sociedade e na educação. * Aula 07 * Aula 07 * Empirismo, deriva da palavra grega “empiria”, que significa basicamente uma forma de saber derivado da experiência sensível, e de informações acumuladas com base nesta experiência, permitindo a realização de fins práticos. Portanto, podemos entender, a grosso modo, o que o “empirismo” é a posição filosófica que toma a experiência como guia e critério de validade de suas afirmações, especialmente nos campos da teoria do conhecimento e da filosofia da ciência. * Aula 07 * Aula 07 * O princípio do empirismo é a frase de inspiração aristotélica: “Nada está no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”. Ou seja, todo conhecimento resulta de uma base empírica, de percepções ou impressões sensíveis sobre o real, elaborando-se e desenvolvendo-se a partir desses dados da realidade sensorial. Os empiristas, portanto, rejeitam a noção de idéias inatas ou de um conhecimento anterior à experiência ou independente desta. * Aula 07 * Aula 07 * O empirismo e o racionalismo de Descartes, constituíram conjuntamente algumas das principais correntes do pensamento moderno na sua fase inicial. A corrente empirista desenvolveu-se, sobretudo na Inglaterra e entre os filósofos de língua inglesa. Está diretamente ligada à criação da Real Sociedade de Londres para o Progresso do Conhecimento Natural, fundada em 1660 e patrocinada pelos ricos comerciantes de Londres. * Aula 07 * Aula 07 * Tais patrocinadores (burguesia comercial) tinham interesse nas possíveis aplicações técnicas desses conhecimentos, desde as questões de navegação até os estudos sobre linguagem, que permitiam a comunicação com os povos das novas terras com que negociavam. O empirismo não se restringiu ao contexto de língua inglesa, encontrando repercussão também na França e em outros países. * Aula 07 * Aula 07 * EMPIRISMO INGLÊS A Razão é adquirida através da experiência “Que dizem os empiristas? Nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, isto é, com as sensações. Os objetos exteriores excitam nossos órgãos dos sentidos e vemos cores, sentimos sabores e odores, ouvimos sons, sentimos a diferença entre o áspero e o liso, o quente e o frio, etc. As sensações se reúnem e formam uma percepção; ou seja, percebemos uma única coisa ou um único objeto que nos chegou por meio de várias e diferentes sensações. * Aula 07 * Aula 07 * Assim, vejo uma cor vermelha e uma forma arredondada, aspiro um perfume adocicado, sinto a maciez e digo: “Percebo uma rosa”. A “rosa” é o resultado da reunião de várias sensações diferentes num único objeto de percepção. As percepções, por sua vez, se combinam ou se associam. A associação pode dar-se por três motivos: por semelhança, por proximidade ou contigüidade espacial e por sucessão temporal. A causa da associação das percepções é a repetição. * Aula 07 * Aula 07 * Ou seja, de tanto algumas sensações se repetirem por semelhança, ou de tanto se repetirem no mesmo espaço ou próximas umas das outras, ou, enfim, de tanto se repetirem sucessivamente no tempo, criamos o hábito de associá-las. Essas associações são as idéias. As idéias, trazidas pela experiência, isto é, pela sensação, pela percepção e pelo hábito, são levadas à memória e, de lá, a razão as apanha para formar os pensamentos. * Aula 07 * Aula 07 * A experiência escreve e grava em nosso espírito as idéias, e a razão irá associá-las, combiná-las ou separá-las, formando todos os nossos pensamentos. Por isso, David Hume dirá que a razão é o hábito de associar idéias, seja por semelhança, seja por diferença” (Marilena Chauí – Convite à Filosofia). Tese do Empirismo: A experiência é a fonte, a origem da razão e das idéias racionais e a nossa mente é como uma folha em branco que será preenchida pelos conteúdos advindos de nossa experiência sensível. * Aula 07 * Aula 07 * Bacon e o método experimental Podemos distinguir dois aspectos, inter-relacionados, da contribuição de filosófica de Bacon, que examinaremos a seguir: 1) sua concepção de pensamento crítico contida na teoria dos ídolos; 2) sua defesa do método indutivo no conhecimento científico e de um modelo de ciência anti-especulativo e integrado com a técnica. * Aula 07 * Aula 07 * Assim, como Descartes, a filosofia de Bacon caracteriza-se por uma ruptura bastante explícita em relação à tradição anterior, sobretudo a escolástica de inspiração aristotélica. A preocupação fundamental de Bacon é com a formulação de um método que evite o erro e coloque o homem no caminho do conhecimento correto. Este é um dos sentidos principais do pensamento crítico, que marcará fortemente a filosofia moderna, vendo a tarefa da filosofia como a libertação do homem de preconceitos, ilusões e superstições. * Aula 07 * Aula 07 * TEORIA DOS ÍDOLOS FRANCIS BACON Os ídolos são ilusões ou distorções que segundo Bacon, “bloqueiam a mente humana”, impedindo o verdadeiro conhecimento. Os ídolos (falsas noções) podem ser de quatro tipos: 1) ídolos da tribo: ocorrem por conta das deficiências do próprio espírito humano e se revelam pela facilidade com que generalizamos com base nos casos favoráveis, omitindo os desfavoráveis. São assim chamados porque são inerentes à natureza humana, à própria tribo ou raça humana. Exemplo dessas generalizações: astrologia, alquimia e cabala; * Aula 07 * Aula 07 * 2) ídolos da caverna: resultam da própria educação e da pressão dos costumes (uma alusão à alegoria da caverna de Platão) 3) ídolos da vida pública: estes estão vinculados à linguagem e decorrem do mau uso que dela fazemos; 4) ídolos da autoridade: decorrem da irrestrita subordinação à autoridade. Os sistemas filosóficos careciam de demonstração, eram pura invenção como as peças de teatro. * Aula 07 * Aula 07 * Bacon propõe então um modelo para a nova ciência. O homem deve despir-se de seus preconceitos, tornando-se “uma criança diante da natureza”. Só assim alcançará o verdadeiro saber. O novo método científico é a indução, que a partir da observação atenta da natureza permite formular leis científicas que são generalizações indutivas, a partir das quais pode-se controlar a natureza e dela tirar benefícios para o homem. * Aula 07 * Aula 07 * A teoria das idéias de Locke e a crítica ao inatismo Locke vê a filosofia como uma tarefa crítica e preparatória para a construção da ciência, e desenvolve um modelo empirista, anti-especulativo e anti-metafísico de conhecimento. Afirma que todas as nossas representações do real são derivadas de percepções sensíveis, não havendo outra fonte para o conhecimento. Portanto, não existem idéias inatas, isto é, o conhecimento não é inato, mas resulta da maneira como elaboramos os dados que nos vêm da sensibilidade por meio da experiência. * Aula 07 * Aula 07 * A mente é como uma folha em branco, a “tabula rasa”, na qual a experiência deixa as suas marcas. Desta forma, pra processarmos o conhecimento em nossa mente precisamos da reflexão, e bem como distinguir entre as qualidades primárias e as secundárias das substâncias. * Aula 07 * Aula 07 * Locke é considerado como um dos primeiros filósofos do período moderno a desenvolver uma filosofia da linguagem, mais especificamente uma teoria do significado. Isto quer dizer que o significado das palavras é, portanto, aidéia correspondente a elas em nossa mente, e é por meio das idéias que as palavras se referem às coisas. Esta é para Locke a semântica ideacional. A Linguagem é assim a expressão de um pensamento, criado anteriormente à linguagem e independente dela. * Aula 07 * Aula 07 * O ceticismo de David Hume Este filósofo, foi sob muitos aspectos, o mais radical dos empiristas, levando essas teses às suas últimas conseqüências e assumindo uma posição filosófica cética. O ceticismo de Hume pode ser interpretado a partir do questionamento que dirige a dois princípios ou pressupostos fundamentais da tradição filosófica: a causalidade e a identidade pessoal. Para ele, causalidade é uma forma nossa (humana) de perceber o real, uma idéia derivada da reflexão sobe as operações de nossa própria mente, e não uma conexão necessária entre causa e efeito, uma característica do mundo natural. * Aula 07 * Aula 07 * A crítica à identidade pessoal segue essa mesma linha de raciocínio, para ele jamais podemos apreender a nós mesmos sem algum tipo de percepção. O “eu” (sef), é um feixe de percepções que temos em um determinado momento e que varia na medida em que essas percepções variam. Estamos, assim, em constante mudança, pois a cada momento novas percepções são acrescentadas ao feixe, e outra empalidecem ou desaparecem. A única coisa que assegura o nosso “eu” , o que somos e temos, é pela força do hábito, do costume e da memória que conseguimos. * Aula 07 * Aula 07 * Portanto, pra ele, jamais temos um conhecimento certo e definitivo; toda a ciência é apenas resultado da indução, e o único critério de certeza que podemos ter é a probabilidade. É neste sentido e por esses motivos que ele é considerado um cético. Por outro lado, ele também afirma que a maneira pela qual conhecemos e pela qual agimos no real depende apenas de nossa natureza, de nossos costumes e de nossos hábitos. Por esta razão ainda não se chegou a definir se Hume é mais cético ou mais naturalista. * Aula 07 * Aula 07 * Jean-Jacques Rousseau (1712-78) Nascido em Genebra (Suíça), foi um dos mais importantes pensadores do séc. XVIII no campo da política, da moral e da educação, influenciando os ideais do Iluminismo e da revolução Francesa (1789). O ponto de partida de sua filosofia é uma concepção de natureza humana representada pela famosa idéia segundo a qual “O homem nasce bom, a sociedade o corrompe” (Contrato Social, livro I, cap. 1), à qual se acrescenta a idéia de que “o homem nasce livre e por toda parte se encontra acorrentado”. Porém não é toda e qualquer sociedade que Rousseau condena, mas sim aquela que acorrenta e aprisiona o homem, chegando a adotar como modelo de sociedade justa e virtuosa a Roma republicana do período anterior aos césares. * Aula 07 * Aula 07 * É possível, portanto formular um ideal de sociedade em que os homens seriam livres e iguais, ideal este que servirá de inspiração à Revolução Francesa. A grande questão para Rousseau consiste em saber como preservar a liberdade natural do homem e ao mesmo tempo garantir a segurança e o bem-estar que a vida em sociedade pode lhe dar. * Aula 07 * Aula 07 * Segundo a teoria do contrato social, a soberania política pertence ao conjunto dos membros da sociedade. O fundamento dessa soberania é a vontade geral, que não resulta apenas na soma da vontade de cada um. A vontade particular e individual de cada um diz respeito a seus interesses específicos, porém, enquanto cidadão e membro de uma comunidade, o indivíduo deve possuir também uma vontade que se caracteriza pela defesa do interesse coletivo, do bem comum. * Aula 07 * Aula 07 * É papel da educação a formação dessa vontade geral, transformando assim, o indivíduo em cidadão, em membro de uma comunidade. O processo educativo pressupõe o conhecimento profundo e dá a devida importância às leis psicológicas do desenvolvimento do educando. São essas as leis que devem orientar todo o processo educativo, deixando-se de lado todas as especulações teóricas a esse respeito. * Aula 07 * Aula 07 * Essas leis se resumem no seguinte: - Observar a Natureza e seguir o caminho que ela traçar. - As funções, que se exercem numa etapa de vida, afirmam e preparam o surgimento e o desenvolvimento das funções posteriores. - Mesmo quando uma ação parece ser desinteressada, parece não satisfazer alguma necessidade ou interesse funcional, na realidade se trata sempre de uma adaptação funcional. * Aula 07 * Aula 07 * Respeitar a individualidade de cada educando, pois cada um tem sua forma própria. É em função dessa individualidade que ele deve ser orientado. Para que o processo educativo não degenere num exercício estéril e até nocivo, é indispensável partir da estrutura específica do educando. Não se deve ver na criança um adulto em miniatura, como era costume na época, uma etapa passageira, provisória, da existência humana, pois a criança tem uma existência própria e acarreta direitos específicos. * Aula 07 *