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u n i v e r s i d a d e f e d e r a l d e i t a j u b a´ Sequ¨eˆncias e Se´ries Nume´ricas Prof. Dr. Marcio Colombo Fenille Instituto de Matema´tica e Computac¸a˜o https://sites.google.com/site/mcfenille/ mcfenille@unifei.edu.br Avenida BPS, no 1303, Pinheirinho, CEP 37500-903, Itajuba´ MG, Brasil Sequ¨eˆncias e Se´ries Nume´ricas Prof. Dr. Marcio Colombo Fenille “A faculdade que nos ensina a ver e´ a intuic¸a˜o. Sem ela, o geoˆmetra seria como um escritor bom de grama´tica mas vazio de ide´ias.” - Henri Poincare´ Suma´rio 1 Sequ¨eˆncias e limites de sequ¨eˆncias 3 1.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2 Sequ¨eˆncias mono´tonas e sequ¨eˆncias limitadas 6 2.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 3 Subsequ¨eˆncias 9 3.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 4 Sequ¨eˆncias de Cauchy 11 4.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 5 Se´ries nume´ricas 13 5.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 6 Propriedades das se´ries 16 6.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 7 Se´ries de termos na˜o negativos - Crite´rios de convergeˆncia 18 7.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 8 Se´ries alternadas e convergeˆncia absoluta 23 8.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 9 Crite´rios da raza˜o e da raiz 25 9.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 10 Reordenac¸a˜o de se´ries 27 10.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 11 Se´ries de poteˆncias 28 11.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 12 Continuidade, diferenciabilidade e integrabilidade de se´ries de poteˆncias 31 12.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 13 Se´ries de Taylor e Maclaurin 33 13.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 2 1 Sequ¨eˆncias e limites de sequ¨eˆncias Uma sequ¨eˆncia ou sucessa˜o de nu´meros reais e´ uma func¸a˜o a valores reais f : Df → R, cujo domı´nio Df e´ um subconjunto de N (o conjunto dos nu´meros naturais). As sequ¨eˆncias consideradas nestas notas sa˜o aquelas cujo domı´nio e´ um conjunto do tipo {n ∈ N : n ≥ q}, onde q e´ um natural fixo. O valor f(n) chama-se o n-e´simo termo ou termo geral (quando fornece uma lei que define o n-e´simo termo) da sequ¨eˆncia f e e´ frequentemente indicado por xn ou an ou bn, como conveniente for. Por abuso de notac¸a˜o, utilizaremos a notac¸a˜o (xn)n para indicar a sequ¨eˆncia de termo geral xn. O ı´ndice do lado de fora do pareˆnteses indica que a sequ¨eˆncia esta´ indexada naquele ı´ndice. Por ora, isto parece desnecessa´rio (e de fato o e´), mas esta notac¸a˜o mostrar-se-a´ importante mais adiante, quando tratarmos do conceito de subsequ¨eˆncias. Exemplo 1.1 Considere a sequ¨eˆncia (2n)n. Indicando por xn seu n-e´simo termo, temos x1 = 2, x2 = 2 2 = 4, x3 = 2 3 = 8, . . . . Exemplo 1.2 Considere a sequ¨eˆncia de termo geral sn = n∑ k=1 k. Temos x1 = 1, x2 = 1 + 2 = 3, x3 = 1 + 2 + 3 = 6, . . . . Exemplo 1.3 A sequ¨eˆncia de termo geral xn = (−1)n e´ aquela cujos termos de ı´ndice ı´mpar sa˜o todos iguais a −1 e os de ı´ndice par sa˜o todos iguais a 1, ou seja, seus termos sa˜o, ordenadamente, −1, 1,−1, 1,−1, 1, . . . Esta sequ¨eˆncia parece e e´ bastante ingeˆnua, mas nos servira´ de exemplos em va´rios momentos. Exemplo 1.4 A sequ¨eˆncia de Fibonacci e´ uma das mais conhecidas e famosas. Ela e´ definida tomando-se f1 = 1, f2 = 1, f3 = 2 e, indutivamente, fn+1 = fn + fn−1. Assim, os onze primeiros termos desta sequ¨eˆncia sa˜o, ordenadamente: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, . . .. Pode-se provar que o termo geral da sequ¨eˆncia de Fibonacci e´ fn = 1√ 5 (( 1 + √ 5 2 )n − ( 1−√5 2 )n) . Exemplo 1.5 Outra sequ¨eˆncia muito conhecida, da qual voceˆ naturalmente se lembra (do curso de Ca´lculo I), e´ aquela cujo termo geral e´ dado por an = ( 1 + 1 n )n . Definic¸a˜o 1.6 Considere uma sequ¨eˆncia (an)n e seja a um nu´mero real. Definimos: (i) lim n→+∞ an = a ⇔ Para todo � > 0 existe n0 ∈ N tal que n > n0 ⇒ a− � < an < a+ �. (ii) lim n→+∞ an = +∞ ⇔ Para todo � > 0 existe n0 ∈ N tal que n > n0 ⇒ an > �. (iii) lim n→+∞ an = −∞ ⇔ Para todo � > 0 existe n0 ∈ N tal que n > n0 ⇒ an < −�. Se ocorre (i), enta˜o dizemos que a sequ¨eˆncia e´ convergente (com limite a) e escrevemos, para simpli- ficar, an → a ou lim an = a. Uma sequ¨eˆncia que na˜o e´ convergente e´ chamada divergente. 3 Exemplo 1.7 O exemplo mais simples de sequ¨eˆncia convergente e´ a sequ¨eˆncia constante. Seja a ∈ R um real fixado e considere a sequ¨eˆncia (an)n cujos termos sa˜o todos iguais a a. Esta´ e´ a chamada sequ¨eˆncia constante igual a a. E´ fa´cil provar (prove!) que lim an = a. Exemplo 1.8 A sequ¨eˆncia de termo geral an = 1/n, com n ≥ 1, converge para zero. De fato, para todo � > 0 dado, o Teorema de Arquimedes implica na existeˆncia de um natural n0 tal que 1 n0 < �. Segue-se que, para todo n ≥ n0 se tem |an − 0| = 1 n ≤ 1 n0 < �. Exemplo 1.9 A sequ¨eˆncia de termo geral bn = (−1)n diverge. De fato, dado 0 < � < 1 e um real b (candidato a limite da sequ¨eˆncia), o intervalo (b− �, b+ �) ou na˜o conte´m 1 ou na˜o conte´m −1 ou ambos. Teorema 1.10 Seja f : [1,+∞[→ R uma func¸a˜o e defina a sequ¨eˆncia (xn)n fazendo xn = f(n) para todo natural n ≥ 1. Se lim x→+∞ f(x) = L, enta˜o tambe´m limn→+∞xn = L. Prova: Segue da hipo´tese que, para todo � > 0, existe δ > 1 tal que x > δ ⇒ |f(x)− L| < �. Para o mesmo � > 0 dado, tome n0 como sendo o primeiro natural maior que δ. Enta˜o n > n0 ⇒ n > δ ⇒ |f(n)− L| < �⇒ |xn − L| < �. � Exemplo 1.11 Mostre que a sequ¨eˆncia de termo geral an = lnn n converge e calcule seu limite. Resoluc¸a˜o: Seja f(x) = lnx x , para x ∈ [1,+∞[. Temos lim x→+∞ f(x) = limx→+∞ lnx x = lim x→+∞ 1/x 1 = lim x→+∞ 1/x = 0, onde a segunda igualdade resulta da Regra de L’Hospital. Pelo teorema anterior lim an = 0. Exemplo 1.12 Calcule lim n→+∞ bn, onde bn = 2n 3n+1 . Resoluc¸a˜o: lim n→+∞ bn = limn→+∞ 2n 3n+1 = 1 3 lim n→+∞ ( 2 3 )n = 1 3 · 0 = 0. Exemplo 1.13 Calcule lim n→+∞ n √ n Resoluc¸a˜o: lim n→+∞ n √ n = lim n→+∞n 1/n = lim x→+∞x 1/x = lim x→+∞ e ln x x = elimx→+∞ ln x x = e0 = 1. Observac¸a˜o 1.14 O limite de sequ¨eˆncias possui propriedades aritme´ticas ana´logas as do limite de func¸o˜es, ale´m da Conservac¸a˜o do Sinal e o Teorema do Confronto. Especificamente: Suponha que (an)n e (bn)n sejam sequ¨eˆncias tais que lim an = a e lim bn = b, com a, b ∈ R. Enta˜o • lim(an + bn) = a+ b e lim(an − bn) = a− b. • lim(anbn) = ab. • Se cada bn 6= 0 e tambe´m b 6= 0, enta˜o lim(an/bn) = a/b. 4 • (Conservac¸a˜o do Sinal) Se cada an > 0, enta˜o a ≥ 0. • (Teorema do Confronto) Se an ≤ cn ≤ bn para todo n e se a = b, enta˜o lim cn = a. Temos ainda o seguinte resultado, va´lido tambe´m para limite de func¸o˜es. Teorema 1.15 O limite de uma sequ¨eˆncia, se existe, e´ unico. Prova: Seja (an)n uma sequ¨eˆncia e suponha que an → a e an → b. Suponha a 6= b. Enta˜o |a− b| > 0 e existem naturais n1 e n2 tais que n > n1 ⇒ |an − a| < |a− b| 2 e n > n2 ⇒ |an − b| < |a− b| 2 . Assim, para n > max{n1, n2} temos |a− b| = |a− an + an − b| ≤ |an − a|+ |an − b| < |a− b|, o que e´ absurdo. Portanto a = b e o teorema esta´ provado. � 1.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. Calcule, caso exista (e se na˜o existir, justifique), o limite da sequ¨eˆncia de termo geral: an = √ n+ 1−√n bn = ( 1− 2 n )n cn = (−1)n + (−1) n n dn = cosnpi 2. Calcule e interprete geometricamente o limite das sequ¨eˆncias de termo geral an = ∫ n 1 1 x dx e bn = ∫ n 1 1 x2 dx 3. Calcule lim n→+∞ an+1 an sendo an = n! nn . 4. Considere a sequ¨eˆncia de termo geral sn = n∑ k=0 rk com r um nu´mero real. (a) Suponha r 6= 0 e r 6= 1. Mostre que sn = 1− r n+1 1− r . (Note que sn e´ a soma dos n primeiros termos da progressa˜o geome´trica de raza˜o r e termo inicial 1). (b) Suponha 0 < r < 1. Mostre que lim n→+∞ n∑ k=1 rk = r 1− r . (c) O que ocorre com limite do item anterior nos casos em que r < 0, r = 0, r = 1 e r > 1? 5. Suponha que, para todo n ≥ 1, |an − a| ≤ 1 n , onde a e´ um nu´mero real fixo. Encontre lim an. 6. Seja (an)n e (bn)n duas sequ¨eˆncias tais que |an − bn| ≤ e−n para todo n. Suponha que bn → b. Prove que tambe´m an → b. 7. Prove que a convergeˆncia de (an)n implica na convergeˆncia de (|an|)n. A rec´ıproca e´ verdadeira? 8. Suponha que an → 0. Para cada n, ponha bn = min{|a1|, |a2|, . . . , |an|}. Prove que bn → 0. 5 9. Suponha an → a, com a 6= 0. Considere a sequ¨eˆncia (bn)n definida por bn = 0 sempre que an = 0 e bn = 1/an para an 6= 0. Prove que bn → 1/a. 10. Seja f : R → R uma func¸a˜o cont´ınua em a ∈ R. Seja a0 ∈ R e considere a sequ¨eˆncia (an)n definida indutivamente por an+1 = f(an). Suponha que an → a. Prove que a e´ um ponto fixo de f , ou seja, que f(a) = a. (Dica: Utilize o fato1 que, sendo lim an = a, tambe´m lim an+1 = a). 11. Prove os resultados mencionados na Observac¸a˜o 1.14. 2 Sequ¨eˆncias mono´tonas e sequ¨eˆncias limitadas Uma sequ¨eˆncia (an)n e´ chamada crescente (respectivamente decrescente) se an ≤ an+1 (respecti- vamente an ≥ an+1) para todo n. Uma sequ¨eˆncia que e´ ou crescente ou decrescente e´ chamada uma sequ¨eˆncia mono´tona. Exemplo 2.1 A sequ¨eˆncia de termo geral an = 2n+ 1 3n− 2, n ≥ 1, e´ mono´tona decrescente. De fato, temos an+1 − an = 2(n+ 1) + 1 3(n+ 1)− 2 − 2n+ 1 3n− 2 = · · · = −7 (3n+ 1)(3n− 2) . Como, para todo n ≥ 1, tem-se 3n+ 1 > 0 e 3n− 2 > 0, segue-se que an+1 − an < 0. Exemplo 2.2 A sequ¨eˆncia de termo geral an = sen npi 2 na˜o e´ mono´tona. De fato, a sequ¨eˆncia e´ 1, 0,−1, 0, 1, 0,−1, 0, . . . . Exemplo 2.3 A sequ¨eˆncia de termo geral an = n+ 5 n2 + 6n+ 4 , n ≥ 1, e´ mono´tona decrescente. De fato, seja f(x) = x+ 5 x2 + 6x+ 4 . Temos f ′(x) = − (x+ 5) 2 + 1 (x2 + 6x+ 4)2 < 0 para todo x ≥ 1. Portanto f e´ decrecente, o que implica que (an)n tambe´m o e´, ja´ que an = f(n) para todo n. Definic¸a˜o 2.4 Um nu´mero C (respectivamente D) e´ chamado uma cota inferior (respectivamente uma cota superior) de uma sequ¨eˆncia (an)n se an ≥ C (respectivamente an ≤ D) para todo n ∈ N. Se existe um tal C, (an)n e´ dita limitada inferiormente. Se existe um tal D, (an)n e´ dita limitada superiormente. Se existem C e D, (an)n e´ dita limitada. Observac¸a˜o 2.5 (an)n e´ limitada se, e somente se, existe M > 0 tal que |an| < M , para todo n ∈ N. De fato, por um lado, e´ claro que a existeˆncia de um tal M implica que a sequ¨eˆncia (an)n e´ limitada, pois neste caso M sera´ cota suprior e −M sera´ cota inferior para (an)n. Por outro lado, suponha que (an)n seja limitada por cotas inferior e superior C e D, respectivamente. TomeM = max{|C|, |D|}+1. Enta˜o M > 0 e temos, para todo n, −M < −|C| ≤ C ≤ an ≤ D ≤ |D| < M, o que prova que |an| < M para todo n ∈ N. 1Este fato sera´ provado na Sec¸a˜o 3. 6 Exemplo 2.6 Considere a sequ¨eˆncia de termo geral an = (−1)n 2n 3n+ 1 . Temos 0 ≤ 2n 3n+ 1 = 2 3 + 1/n < 2 3 , o que implica em − 2 3 ≤ (−1)n 2n 3n+ 1 ≤ 2 3 , provando que a sequ¨eˆncia (an)n e´ limitada. Exemplo 2.7 Considere a sequ¨eˆncia de termo geral an = n! 2n . E´ claro que (an)n e´ limitada inferior- mente por 0. Agora, os primeiros termos da sequ¨eˆncia sa˜o 1 2 , 2 4 , 6 8 , 24 16 , 120 32 , . . . e a10 = 3543, 75 e a15 ≈ 40000000. Vamos provar que (an)n na˜o e´ limitada superiormente. Para tanto, vamos mostrar que Para todo M > 0 dado, existe n ∈ N tal que n! 2n > M De fato, para n ≥ 3 temos n! 2n = ( 1 2 · 2 2 · 3 2 ) · ( 4 2 · 5 2 · · · n 2 ) ≥ 3 4 2n−3 = 3 · 2n−5. Logo se 3 · 2n−5 > M , enta˜o tambe´m n! 2n > M . Agora, 3 · 2n−5 > M ⇔ 2n−5 > M 3 . Mas, pelo Teorema de Arquimedez, dado M > 0, certamente existe um natural n suficientemente grande para que se verifique a desigualdade 2n−5 > M 3 . Isto prova que os termos da sequ¨eˆncia (an)n crescem indefinidamente e, portanto, tal sequ¨eˆncia na˜o e´ limitada superiormente. Teorema 2.8 Toda sequ¨eˆncia convergente e´ limitada. A rec´ıproca e´ falsa. Prova: Suponha an → a. Enta˜o, tomando � = 1, vemos que existe n0 ∈ N tal que n > n0 ⇒ a− 1 < an < a+1. Considere o conjunto finito F = {a1, a2 . . . , an0 , a−1, a+1}. Sejam c o menor e d o maior elemente de F . Enta˜o c ≤ an ≤ d para todo n, o que prova que a sequ¨eˆncia e´ limitada. Para ver que a rec´ıproca na˜o e´ verdadeira, considere a sequ¨eˆncia (0, 1, 0, 1, . . .). � Definic¸a˜o 2.9 Seja A ⊂ R um subconjunto na˜o vazio de R. Um nu´mero C (respectivamente D) e´ chamado uma cota inferior (respectivamente uma cota superior) de A se a ≥ C (respectivamente a ≤ D) para todo a ∈ A. Se existe um tal C, A e´ dito limitado inferiormente. Se existe um tal D, A e´ dito limitado superiormente. Se existem C e D, A e´ dito limitado. Definic¸a˜o 2.10 Seja A ⊂ R um subconjunto na˜o vazio. • Dizemos que um nu´mero real S e´ o supremo de A, e escrevemos S = supA, se S e´ uma cota superior de A e qualquer outra cota superior de A e´ maior que S, ou seja, S e´ a menor cota superior de A. Noutro termos S = supA⇔ para todo � > 0, existe a ∈ A tal que S − � < a ≤ S. • Dizemos que um nu´mero real s e´ o ı´nfimo de B, e escrevemos s = inf B, se s e´ uma cota inferior de B e qualquer outra cota inferior de B e´ menor que s, ou seja, s e´ a maior cota inferior de B. Noutro termos s = inf B ⇔ para todo � > 0, existe b ∈ B tal que s ≤ b < s+ �. 7 A definic¸a˜o de cotas para uma sequ¨eˆncia (an)n equivale a esta u´ltima quando consideramos o conjunto A como sendo aquele constituido pelos termos da sequ¨eˆncia (an)n, isto e´ A = {an}n. E´ o´bvio que, conjuntos que na˜o sa˜o limitados superiormente na˜o possuem supremo e, de modo ana´logo, conjuntos que na˜o sa˜o limitados inferiormente na˜o possuem ı´nfimo. Exemplo 2.11 Seja A = {x ∈ R : 0 < x2 < 2}. Enta˜o A e´ limitado e temos inf A = 0 e supA = √2. O teorema abaixo retrata a completude do corpo dos nu´meros reais, propriedade essencial em boa parte dos resultados que demonstraremos daqui em diante. Teorema 2.12 (Propriedade do Supremo) Todo subconjunto de R limitado superiormente ad- mite supremo. Analogamente, todo subconjunto de R limitado inferiormente admite ı´nfimo. Teorema 2.13 Toda sequ¨eˆncia de nu´meros reais crescente e limitada superiormente e´ convergente. Analogamente, toda sequ¨eˆncia de nu´meros reais decrescente e limitada inferiormente e´ convergente. Prova: Seja (an)n uma sequ¨eˆncia crescente e limitada superiormente. O conjunto A = {an}n, consti- tuido pelos termos da sequ¨eˆncia, e´ na˜o vazio e limitado superiormente. Logo, admite supremo. Seja a = supA. Vamos provar que an → a. Sendo a = supA, dado � > 0, existe um natural n0 tal que a− � < an0 ≤ a. Como, por hipo´tese, (an)n e´ crescente, resulta, n > n0 ⇒ a− � < an. Mas, para todo n, tem-se an < a, pois a e´ supremo de A. Logo, n > n0 ⇒ a− � < an < a+ �. Portanto an → a. A prova da segunda parte do teorema e´ ana´loga e fica a cargo de leitor. � Teorema 2.14 Se (an)n e´ crescente, mas na˜o e´ limitada superiormente, enta˜o lim an = +∞. Analoga- mente, se (an)n e´ decrescente, mas na˜o e´ limitada inferiormente, enta˜o lim an = −∞. Prova: Como (an)n na˜o e´ limitada superiormente, para todo � > 0, existe um natural n0 tal que an0 > �. Como, por hipo´tese, (an)n e´ crescente, resulta n > n0 ⇒ an > �, ou seja, an → +∞. � Exemplo 2.15 A sequ¨eˆncia de termo geral an = n en e´ convergente. De fato, seja f(x) = x ex , x ∈ [1,+∞[. Temos an = f(n) para todo natural n e, ale´m disso, f ′(x) = 1− x ex < 0 para todo x > 1. Isso prova que f e´ decrescente em [1,+∞[ e portanto, a sequ¨eˆncia (an)n e´ tambe´m decrescente. Como, ale´m disso, (an)n e´ limitada inferiormente (0 e´ uma cota inferior desta sequ¨eˆncia), segue do teorema que (an)n e´ convergente. Exemplo 2.16 A sequ¨eˆncia de termo geral sn = n∑ k=1 1 k2 e´ convergente. Observamos, inicialmente, que a sequ¨eˆncia e´ crescente, como cada um de seus termos e´ obtido do anterior somando-se um nu´mero real positivo. Vamos agora provar que a sequ¨eˆncia e´ limitada superiormente. Temos sn = 1 + 1 22 + 1 32 + · · ·+ 1 n2 ≤ 1 + ∫ n 1 1 x2 dx. Como a sequ¨eˆncia n 7→ ∫ n 1 1 x2 dx e´ crescente e lim n→+∞ ∫ n 1 1 x2 dx = lim n→+∞ [ − 1 n + 1 ] = 1, segue-se que sn ≤ 2, para todo n ≥ 1. Disso tudo segue que a sequ¨eˆncia e´ convergente, pois e´ crescente e limitada superiormente por 2. Isto significa que existe s ∈ R, s ≤ 2, tal que lim n→+∞ n∑ k=1 1 k2 = s. 8 Observac¸a˜o 2.17 Pode-se provar a sequ¨eˆncia (sn)n do exemplo anterior converge para pi 2/6. E neste caso, escrevemos ∞∑ k=1 1 k2 = pi2 6 . Exemplo 2.18 A sequ¨eˆncia de termo geral sn = n∑ k=1 1 k e´ divergente. Como no exemplo anterior, pode-se provar que a sequ¨eˆncia e´ crescente. Agora, para todo n ≥ 1, sn = 1 + 1 2 + 1 3 + · · ·+ 1 n ≥ ∫ n+1 1 1 x dx. Como lim n→+∞ ∫ n+1 1 1 x dx = lim n→+∞ ln(n+ 1) = +∞, resulta sn → +∞. Exemplo 2.19 Voceˆ naturalmente se lembra, do curso de Ca´lculo I, que a sequ¨eˆncia (an)n, cujo termo geral e´ an = ( 1 + 1 n )n , e´ crescente e limita e, portanto, convergente, e que seu limite e´ o famoso nu´mero de Euler. lim n→+∞ ( 1 + 1 n )n = e 2.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. E´ convergente ou divergente? Justifique: (a) sn = n∑ k=1 1√ k (b) sn = n∑ k=1 1 2k (c) sn = n∑ k=1 1 k2 + 1 (d) sn = n∑ k=1 1 ln k 2. Suponha que, para todo natural k, o termo ak pertenc¸a ao conjunto {0, 1, 2, . . . , 9}. A sequ¨eˆncia de termo geral sn = n∑ k=1 ak 10k e´ convergente ou divergente? Justifique. 3. Seja sn = n∑ k=0 [1 + (−1)k], n ≥ 0. Verifique que sn → +∞. 4. Prove que e´ convergente a sequ¨eˆncia de termo geral an = ∫ n 1 sen2x x2 dx. 3 Subsequ¨eˆncias Dada uma sequ¨eˆncia (an)n, considere uma sequ¨eˆncia (nk)k de naturais tal que n1 < n2 < n3 < · · · . Enta˜o, a sequ¨eˆncia (ank)k e´ chamada uma subsequ¨eˆncia de (an)n. Deste modo, uma subsequ¨eˆncia nada mais e´ que uma restric¸a˜o da sequ¨eˆncia a` um subconjunto infinito de seu domı´nio. Se (ank)k converge, seu limite e´ chamado um limite subsequencial de (an)n. Exemplo 3.1 Considere a sequ¨eˆncia de termo geral an = 1 2 [1 + (−1)n], n ≥ 1. A sequ¨eˆncia assim definida e´ (0, 1, 0, 1, . . .). Duas subsequ¨eˆncias de (an)n se destacam naturalmente, quais sejam, a sub- sequ¨eˆncia dos termos de ı´ndices ı´mpares a2n−1 = 0 (sequ¨eˆncia constante igual a zero) e a subsequ¨eˆncia dos termos de ı´ndices pares a2n = 1 (sequ¨eˆncia constante igual a 1). Exemplo 3.2 Considere a sequ¨eˆncia de termo geral an = [ 1 n + (−1)n ] , n ≥ 1. Temos a2n−1 = 1 n − 1 e a2n = 1 n + 1. E e´ claro que a2n−1 → −1 e a2n → 1. Assim −1 e 1 sa˜o dois limites subsequenciais de (an)n, muito embora esta sequ¨eˆncia na˜o seja, ela mesma, convergente. 9 Teorema 3.3 Se lim an = a, enta˜o toda subsequ¨eˆncia de (an)n tambe´m converge para a. Corola´rio 3.4 Se lim n→+∞ an = a, enta˜o, para todo k ∈ N, limn→+∞ an+k = a. Com efeito, (an+k)n e´ uma subsequ¨eˆncia de (an)n. Exprime-se o corola´rio acima dizendo que o limite de uma sequ¨eˆncia na˜o se altera quando dela se omite um nu´mero finito de termos. Na realidade, o teorema acima diz que o limite se mante´m, mesmo que se desprezem termos em nu´mero infinito, desde que se conserve uma infinidade de ı´ndices, de modo a restar ainda uma subsequ¨eˆncia. E´ u´til (e o´bvio) o fato que se (an+k)n converge, enta˜o tambe´m (an)n converge. Ha´ duas aplicac¸o˜es especialmente u´teis do teorema anterior e da unicidade do limite. A saber: • Mostrar que uma sequ¨eˆncia na˜o converge: basta obter duas subsequ¨eˆncias com limites distintos. • Determinar o limite de uma sequ¨eˆncia que, a priori, se sabe que converge: basta determinar o limite de alguma subsequ¨eˆncia, e este sera´ o limite procurado. Exemplo 3.5 Suponha que a sequ¨eˆncia (an)n seja convergente e satisfac¸a a condic¸a˜o an+1 = A+Ban para todo natural n, onde A e B sa˜o constantes reais com B 6= 1. Encontre lim n→+∞ an. Resoluc¸a˜o: Seja a = lim n→+∞ an. Enta˜o tambe´m limn→+∞ an+1 = a. Logo, da igualdade an+1 = A+Ban vem a = lim n→+∞ an+1 = limn→+∞[A+Ban] = A+B limn→+∞ an = A+Ba, donde resulta a = A/(1−B). Exemplo 3.6 A sequ¨eˆncia de termo geral an = cosnpi e´ divergente. De fato, as subsequ¨eˆncias (a2n)n e (a2n−1)n teˆm limites distintos. Abaixo, um dos mais importantes teoremas da teoria de sequ¨eˆncias de nu´meros reais. Teorema 3.7 Toda sequ¨eˆncia limitada possui subsequ¨eˆncia convergente. A demonstrac¸a˜o deste teorema exige argumentos envolvendo o conceito de supremo e limite supe- rior que ultrapassam o grau de dificuldade esperado para este curso. 3.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. Prove o Teorema 3.3. 2. Prove que (an)n converge para a se, e somente se, toda subsequ¨eˆncia de (an)n converge para a. 3. Prove que a fim de que uma sequ¨eˆncia (an)n na˜o possua subsequ¨eˆncia convergente e´ necessa´rio e suficiente que lim n→∞ |an| = +∞. 4. Seja (an)n uma sequ¨eˆncia tal que a2n → a e tambe´m a2n+1 → a, ou seja, a subsequ¨eˆncia dos termos de ı´ndices pares e a subsequ¨eˆncia dos termos de ı´ndices ı´mpares sa˜o ambas convergentes e convergem para o mesmo limite a ∈ R . Prove que an → a. 5. Dizemos que uma sequ¨eˆncia (an)n e´ quase-constante se ela e´ constante a partir de um certo ı´ndice n0 ∈ N. Responda VERDADEIRO ou FALSO e justifique: 10 (a) Toda sequ¨eˆncia quase-constante e´ convergente. (b) Toda sequ¨eˆncia convergente posssui uma subsequ¨eˆncia quase-constante. 6. Prove que a sequ¨eˆncia a1 = √ 2, a2 = √ 2 + √ 2, a3 = √ 2 + √ 2 + √ 2, . . . converge e calcule seu limite. 7. Prove que a sequ¨eˆncia a1 = √ 2, a2 = √ 2 √ 2, a3 = √ 2 √ 2 √ 2, . . . converge e calcule seu limite. 4 Sequ¨eˆncias de Cauchy Ja´ salientamos a importaˆncia do resultado “toda sequ¨eˆncia mono´tona limitada e´ convergente”, que nos permite, em certos casos, saber que uma sequ¨eˆncia possui limite, mesmo sem conhecer o valor de tal limite. Mas e´ claro que muitas sequ¨eˆncias convergentes na˜o sa˜o mono´tonas, de modo que aquele crite´rio de convergeˆncia na˜o e´ o mais geral poss´ıvel. Veremos agora o crite´rio de Cauchy, que nos dara´ uma condic¸a˜o necessa´ria e suficiente para a convergeˆncia de uma sequ¨eˆncia de nu´meros reais. Seja (an)n uma sequ¨eˆncia de nu´meros reais. Ela se chama uma sequ¨eˆncia de Cauchy quando cumpre a seguinte condic¸a˜o Dado arbitrariamente � > 0, existe n0 ∈ N tal que m,n > n0 ⇒ |xm − xn| < �. A fim de que (an)n seja uma sequ¨eˆncia de Cauchy, exige-se que seus termos xm, xn, para valores suficientemente grandes dos ı´ndices m e n, se aproximem arbitrariamente uns dos outros. Compare-se com a definic¸a˜o de limite, onde se exige que os termos xn se aproximem arbitrariamente de um nu´mero real a dado a priori. Aqui se impo˜e uma condic¸a˜o apenas sobre os termos da pro´pria sequ¨eˆncia. Teorema 4.1 Toda sequ¨eˆncia convergente e´ de Cauchy. Prova: Seja lim an = a. Dado arbitrariamente � > 0, existe n0 ∈ N tal que m > n0 ⇒ |am − a| < �/2 e n > n0 ⇒ |an − a| < �/2. Logo m,n > n0 ⇒ |am − an| ≤ |am − a|+ |an − a| < �/2 + �/2 = �, o que mostra que (an)n e´ uma sequ¨eˆncia de Cauchy. � Intuitivamente, se an → a, enta˜o, para valores grandes de n, os termos an se aproximam de a. Neste caso, eles devem necessariamente se aproximar uns dos outros. Passaremos agora a` demonstrac¸a˜o da rec´ıproca do teorema precedente. Antes, dois lemas: Lema 4.2 Toda sequ¨eˆncia de Cauchy e´ limitada. Prova: Seja (an)n uma sequ¨eˆncia de Cauchy. Tomando � = 1, obtemos n0 ∈ N tal que m,n > n0 ⇒ |am−an| < 1. Em particular n > n0 ⇒ |an0+1−an| < 1, ou seja, n > n0 ⇒ an ∈]an0+1−1, an0+1+1[. Seja α o menor e β o maior elemento do conjunto finito F = {a1, a2, . . . , an0 , an0+1 − 1, an0+1 + 1}. Enta˜o an ∈ [α, β] para todo n ∈ N, o que prova que (an)n e´ limitada. � Lema 4.3 Se uma sequ¨eˆncia de Cauchy possui uma subsequ¨eˆncia convergindo para a, enta˜o a pro´pria sequ¨eˆncia converge para a. 11 Prova: Seja (an)n uma sequ¨eˆncia nas condic¸o˜es enunciadas. Dado � > 0, existe n0 ∈ N tal que m,n > n0 ⇒ |am − an| < �/2. Existem tambe´m n1 > n0 tal que |an1 − a| < �/2. Portanto n > n0 ⇒ |an − a| ≤ |an − an1 |+ |an1 − a| < �/2 + �/2 = �. Isto prova que an → a. � Teorema 4.4 Toda sequ¨eˆncia de Cauchy de nu´meros reais e´ convergente. Prova: Seja (an)n uma sequ¨eˆncia de Cauchy. Pelo Lema 4.2, ela e´ limitada. Logo, pelo Teorema 4.1, ela possui uma subsequ¨eˆncia convergente. Segue do Lema 4.3 que (an)n converge. � 4.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. Sejam (an)n e (bn)n duas sequ¨eˆncias de Cauchy. Mostre que a sequ¨eˆncia (|an − bn|)n converge. 2. Use a func¸a˜o f :]0, 1] → R dada por f(x) = 1/x e a sequ¨eˆncia de termo geral an = 1/n para provar que uma func¸a˜o cont´ınua na˜o transforma necessariamente sequ¨eˆncias de Cauchy em sequ¨eˆncias de Cauchy. 3. Seja (an)n uma sequ¨eˆncia convergente com an → p. Prove que a sequ¨eˆncia (a1, p, a2, p, a3, p, . . .) e´ uma sequ¨eˆncia de Cauchy. Qual o limite de (x1, p, x2, p, . . .)? 4. Seja f : R → R uma func¸a˜o que transforma sequ¨eˆncias de Cauchy em sequ¨eˆncias de Cauchy. Prove que f e´ cont´ınua. (sugesta˜o: Para todo p ∈ R, se an → p, considere a sequ¨eˆncia (x1, p, x2, p, . . .) e enta˜o utilize o exerc´ıcio anterior para concluir que f(xn)→ f(p)) . 5. Dizemos que uma func¸a˜o f : R→ R e´ uma contrac¸a˜o se existe um nu´mero real λ, com 0 ≤ λ < 1, tal que, quaisquer que sejam os reais x e y, vale |f(x)− f(y)| ≤ λ|x− y|. Seja, enta˜o, f : R → R uma contrac¸a˜o e considere um real a0. Seja a sequ¨eˆncia an, n ≥ 0, definida por an = f(an−1), n ≥ 1. Prove: (a) |a2 − a1| ≤ λ|a1 − a0| (b) |a3 − a2| ≤ λ2|a1 − a0| (c) |an+1 − an| ≤ λn|a1 − a0| (d) |an+2 − an| ≤ (λn+1 + λn)|a1 − a0| (e) |an+p − an| ≤ (λn+p−1 + λn+p−2 + · · ·+ λn)|a1 − a0| (f) |an+p − an| ≤ λ n 1− λ |a1 − a0|, para todo natural p e todo natural n. 6. Seja (an)n a sequ¨eˆncia do exerc´ıcio anterior. Prove que (an)n e´ de Cauchy e, portanto, existe um nu´mero real a tal que lim n→+∞ an = a. 7. Prove que toda contrac¸a˜o e´ uma func¸a˜o cont´ınua. 8. Seja (an)n a sequ¨eˆncia do Exerc´ıcio 5. Tendo em vista os Exerc´ıcios 6 e 7, prove que a e´ um ponto fixo de f , ou seja, f(a) = a. 9. Prove que toda contrac¸a˜o f : R→ R possui um e somente um ponto fixo. 12 5 Se´ries nume´ricas Uma soma formal de todos os termos de uma sequ¨eˆncia infinita de nu´meros reais (ak)k tal como ∞∑ k=1 ak e´ chamada uma se´rie infinita ou simplesmente uma se´rie. A soma sn = a1 + a2 + · · · + an = n∑ k=1 ak dos n primeiros termos da sequ¨eˆncia (ak)k e´ chamada a n-e´sima soma parcial da se´rie ∞∑ k=1 ak. Observac¸a˜o 5.1 Note-se que, para todo natural n, tem-se sn+1 = sn + an+1. Exemplo 5.2 Considere a se´rie ∞∑ k=1 1 2k . Temos: s1 = 1 2 s2 = 1 2 + 1 4 = 3 4 = 0, 75 s3 = 1 2 + 1 4 + 1 8 = 3 4 + 1 8 = 7 8 = 0, 875 s4 = 1 2 + 1 4 + 1 8 + 1 16 = 7 8 + 1 16 = 15 16 = 0, 9375 ... s24 = 1 2 + 1 4 + 1 8 + 1 16 + 1 32 + · · ·+ 1 224 = 0, 99999998. Se a sequ¨eˆncia (sn)n das somas parciais de uma se´rie ∑ ak converge para um limite S = lim sn, dizemos que a se´rie ∑ ak converge e que sua soma e´ S. Neste caso, escrevemos S = ∞∑ k=1 ak. Quando a se´rie na˜o converge, dizemos que ela diverge. Uma se´rie que converge e´ chamada conver- gente e uma que diverge e´ chamada divergente. Exemplo 5.3 Encontre a n-e´sima soma parcial da se´rie ∞∑ k=1 1 k(k + 1) . Determine se esta se´rie converge ou diverge e, se convergir, encontre sua soma. Resoluc¸a˜o: Temos: sn = n∑ k=1 1 k(k + 1) = n∑ k=1 ( 1 k − 1 k + 1 ) = ( 1− 1 2 ) + ( 1 2 − 1 3 ) + · · ·+ ( 1 n − 1 n+ 1 ) = 1− 1 n+ 1 . Portanto, sn = n n+ 1 . E assim, lim n→+∞ sn = limn→+∞ n n+ 1 = lim n→+∞ 1 1 + 1/n = 1. Portanto a se´rie e´ convergente e temos ∞∑ k=1 1 k(k + 1) = 1. 13 Uma se´rie como a deste exemplo, em que o termo geral ak pode ser expresso como ak = bk − bk+1 e´ chamada uma se´rie telesco´pica. Neste caso mais geral, a n-e´sima soma parcial e´ sn = b1 − bn+1. Exemplo 5.4 Encontre a se´rie cuja sequ¨eˆncia de somas parciais tem termo geral sn = 3n 2n+ 1 . De- termine se esta se´rie converge ou diverge e, se convergir, encontre sua soma. Resoluc¸a˜o: sn = 3n 2n+ 1 e sn−1 = 3(n− 1) 2(n− 1) + 1 = 3n− 3 2n− 1. Assim, de sn = sn−1 + an segue-se an = sn − sn−1 = 3n 2n+ 1 − 3n− 3 2n− 1 = 3 4n2 − 1 . Portanto, a se´rie procurada e´ ∞∑ k=1 3 4k2 − 1 e, ja´ que sn e´ a n-e´sima soma parcial desta se´rie, temos ∞∑ k=1 3 4k2 − 1 = limn→+∞ sn = limn→+∞ 3n 2n+ 1 = 3 2 . Exemplo 5.5 (Se´rie Geome´trica) Uma se´rie geome´trica e´ a soma formal dos termos de uma progressa˜o geome´trica, ou seja, e´ uma se´rie da forma ∞∑ k=1 ark−1 = a+ ar + ar2 + · · ·+ arn−1 + · · · , onde a e r sa˜o constantes reais. A constante r e´ chamada a raza˜o da se´rie. Para uma tal se´rie geome´trica, temos: sn = a+ ar + ar 2 + · · ·+ arn−1 e rsn = ar + ar2 + ar3 + · · ·+ arn, donde (1− r)sn = a− arn = a(1− rn) e, portanto sn = a 1− rn 1− r , desde que r 6= 1. Agora, se |r| < 1, enta˜o lim r→+∞ r n = 0 e, enta˜o, lim n→+∞ sn = limn→+∞ a 1− rn 1− r = a 1− r . Por outro lado, se |r| > 1, enta˜o a sequ¨eˆncia (rn)n diverge e, assim, a sequ¨eˆncia (sn)n tambe´m diverge. No caso em que |r| = 1, e´ fa´cil ver que (sn)n diverge, a menos que se tenha a = 0. Exemplo 5.6 Supondo 0 < α ≤ 1, mostre que ∞∑ k=0 (−1)k α 2k+1 2k + 1 = arctgα. Resoluc¸a˜o: Este problema sera´ resolvido com aux´ılio da progressa˜o geome´trica. Sabemos que 1 + r + r2 + · · ·+ rn = 1− r n+1 1− r . Da´ı 1 1− r = 1 + r + r 2 + · · ·+ rn + r n+1 1− r . Fazendo r = −x2, resulta 1 1 + x2 = 1− x2 + x4 + · · ·+ (−1)nx2n + (−1)n+1 x 2n+2 1 + x2 . 14 Como arctgα = ∫ α 0 1 1 + x2 dx, resulta arctgα = α− α 3 3 + α5 5 + · · ·+ (−1)n α 2n+1 2n+ 1 + (−1)n+1 ∫ α 0 x2n+2 1 + x2 dx. Agora e´ so´ mostrar que, para 0 < α ≤ 1, lim n→+∞ ∫ α 0 x2n+2 1 + x2 dx = 0. Seja, enta˜o 0 < α ≤ 1. Temos: 0 ≤ x 2n+2 1 + x2 ≤ x2n+2 para x ∈ [0, α]. Da´ı 0 ≤ ∫ α 0 x2n+2 1 + x2 dx ≤ ∫ α 0 x2n+2dx e, portanto, 0 ≤ ∫ α 0 x2n+2 1 + x2 dx ≤ α 2n+3 2n+ 3 . De 0 < α ≤ 1, segue que lim n→+∞ α2n+3 2n+ 3 = 0 e, portanto, lim n→+∞ ∫ α 0 x2n+2 1 + x2 dx = 0. Fica assim provado que, para 0 < α ≤ 1, arctgα = ∞∑ k=0 (−1)k α 2k+1 2k + 1 . Exemplo 5.7 Verifique que pi 4 = 1− 1 3 + 1 5 − 1 7 + · · · = ∞∑ k=0 (−1)k 1 2k + 1 . Resoluc¸a˜o: Pelo exemplo anterior pi 4 = arctg 1 = ∞∑ k=0 (−1)k 1 2k + 1 . 5.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. Explique cuidadosamente a diferenc¸a entre uma sequ¨eˆncia e uma se´rie. 2. Encontre uma se´rie cuja n-e´sima soma parcial seja dada por sn = 3n 2n+ 5 . 3. Encontre a soma de cada se´rie abaixo forc¸ando os termos atrave´s de somas parciais a formar uma se´rie telesco´pica. (a) ∞∑ k=1 1 k(k + 1)(k + 2)(k + 3) (b) ∞∑ k=1 √ k + 1−√k√ k2 + k (c) ∞∑ k=1 ( sen 1 k − sen 1 k + 1 ) 4. Use os resultados envolvendo se´ries geome´tricas para encontrar a soma de cada se´rie. (a) ∞∑ k=1 [ 5 ( 1 2 )k + 3 ( 1 3 )k] (b) ∞∑ k=1 3 10k (c) ∞∑ k=1 2 ( −1 3 )k+7 (d) ∞∑ k=1 e−k 5. Prove que, para todo a ∈ R, a se´rie a2+ a 2 1 + a2 + a2 (1 + a2)2 + · · · e´ converge e calcule sua soma. 6. Lembrando que ln(1 + α) = ∫ α 0 1 1 + x dx, mostre que, para 0 < α ≤ 1 tem-se ln(1 + α) = ∞∑ k=1 (−1)k+1α k k . 15 7. Utilizando o exerc´ıcio anterior, calcule a soma das se´ries2 (a) 1− 1 2 + 1 3 − 1 4 + · · · (b) 1 2 − 1 2 · 22 + 1 3 · 23 − 1 4 · 24 + · · · 8. Considere a func¸a˜o f(x) = 1 xα , x ≥ 1 e α > 1. Seja β > 1 um real dado. Calcule a soma da se´rie ∞∑ k=0 βkf(βk) e prove que lim β→1 (β − 1) ∞∑ k=0 βkf(βk) = ∫ +∞ 1 f(x)dx. 9. Suponha que a func¸a˜o f : [1,+∞[→ R seja cont´ınua, decrescente e positiva. Suponha, ainda, que a se´rie ∞∑ k=1 f(k) seja convergente e tenha soma S. Prove que n∑ k=1 f(k) e´ um valor aproximado por falta de S, com erro, em mo´dulo, inferior a ∫ ∞ n f(x)dx. 6 Propriedades das se´ries Nesta sec¸a˜o, apresentaremos algumas propriedades gerais das se´ries nume´ricas para, mais adiante, estudarmos os assim chamados crite´rios de convergeˆncia. Teorema 6.1 Se a se´rie ∑ ak converge, enta˜o lim n→∞ an = 0. Prova: Seja sn = n∑ k=1 ak. Como ∑ ak converge, (sn)n converge e lim n→+∞ sn = S = ∞∑ k=1 ak. Sendo assim, como an = sn − sn−1, resulta lim n→+∞ an = limn→+∞(sn − sn−1) = limn→+∞ sn − limn→+∞ sn−1 = S − S = 0. � Exemplo 6.2 As se´ries ∞∑ k=1 k k + 13 e ∞∑ k=1 cos(kpi) na˜o convergem, pois lim n→∞ n n+ 13 = 1 6= 0 e lim n→∞ cos(npi) na˜o existe. Observac¸a˜o 6.3 A rec´ıprova do teorema anterior e´ falsa, ou seja, se lim n→∞ an = 0, na˜o necessariamente a se´rie ∑ ak sera´ convergente. De fato, considere o seguinte exemplo: Exemplo 6.4 Considere a se´rie ∞∑ k=1 ln k k + 1 . Temos: lim n→∞ ln k k + 1 = ln lim n→∞ k k + 1 = ln 1 = 0. No entanto, ∞∑ k=1 ln k k + 1 = ∞∑ k=1 [ln(k)− ln(k + 1)] = lim n→+∞ ln(n+ 1) = +∞. A seguir, o resultado que nos permite operar algebricamente se´ries nume´ricas. 2A se´rie do item (a) tem soma igual a ln 2. Este fato sera´ lembrado e utilizado mais adiante. 16 Teorema 6.5 (i) Se ∑ ak e ∑ bk sa˜o se´ries convergentes, enta˜o ∑ (ak ± bk) e´ convergente e vale∑ (ak ± bk) = ∑ ak ± ∑ bk. (ii) Se ∑ ak converge e ∑ bk diverge, enta˜o ∑ (ak + bk) diverge. (iii) Se ∑ ak e´ convergente (respectivamente divergente) e c e´ uma constante na˜o nula, enta˜o ∑ cak e´ convergente com ∑ cak = c ∑ ak (respectivamente, ∑ cak e´ divergente). Prova: Segue facilmente das propriedades aritme´ticas dos limites de sequ¨eˆncias. Os detalhes sa˜o deixados como exerc´ıcios para o leitor. � Observac¸a˜o 6.6 Se ∑ ak e ∑ bk sa˜o ambas divergentes, pode ocorrer de ∑ (ak+bk) ser convergente. De fato, tome-se para exemplo (trivial) ak = k e bk = −k. Exemplo 6.7 Encontre a soma da se´rie ∞∑ k=1 ( 5 2k−1 + 1 3k−1 ) Resoluc¸a˜o: A se´rie dada pode ser expressa como a soma de duas se´ries geome´tricas convergentes, cujas somas podem ser facilmente calculadas: ∞∑ k=1 5 2k−1 = 5 1− 1/2 = 10 e ∞∑ k=1 1 3k−1 = 1 1− 1/3 = 3 2 . Portanto ∞∑ k=1 ( 5 2k−1 + 1 3k−1 ) = 10 + 3 2 = 23 2 . Exemplo 6.8 A se´rie ∞∑ k=1 ( ln k k + 1 − 1 3k ) diverge, ja´ que ∞∑ k=1 ln k k + 1 diverge e ∞∑ k=1 1 3k converge. Teorema 6.9 Seja M um inteiro positivo fixado. A se´rie ∞∑ k=1 ak converge se, e somente se, a se´rie ∞∑ k=M+1 ak converge. Ale´m disso, se estas se´ries convergem, enta˜o ∞∑ k=1 ak = M∑ k=1 ak + ∞∑ k=M+1 ak. 6.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. Verifique que as se´ries abaixo sa˜o divergentes: (a) ∞∑ k=1 [1 + (−1)k] (b) ∞∑ k=2 k ln k (c) ∞∑ k=1 ek sen 1 k 2. Verdadeiro ou falso? Justifique! “Se ∑ ak e´ uma se´rie divergente de termos positivos, enta˜o ∑ a−1k e´ convergente.” 3. Calcule a soma da se´rie ∞∑ k=0 [ e−k + cos (kpi) e 2k ] . 4. Seja M o seu nu´mero de matr´ıcula. Calcule a soma da se´rie ∞∑ k=M 1 k(k + 1) . 5. Prove o Teorema 6.9. 17 7 Se´ries de termos na˜o negativos - Crite´rios de convergeˆncia Nesta sec¸a˜o, estudaremos crite´rios de convergeˆncia para se´ries cujos termos na˜o trocam de sinal. Por convenieˆncia, assumiremos termos na˜o negativos. Teorema 7.1 Seja ∑ ak uma se´rie cujos termos sa˜o todos na˜o negativos. Se a sequ¨eˆncia (sn)n das somas parciais da se´rie ∑ ak e´ limitada superiormente, enta˜o ∑ ak e´ convergente. Prova: Como os termos ak sa˜o todos na˜o negativos, a sequ¨eˆncia (sn)n e´ mono´tona crescente e, portanto, convergente, ja´ que, por hipo´tese, esta sequ¨eˆncia e´ tambe´m limitada. � Exemplo 7.2 Mostre que a se´rie ∞∑ k=1 k − 1 k2k converge. Resoluc¸a˜o: Claramente, cada termo da se´rie e´ na˜o negativo. Agora, k − 1 k2k = k − 1 k ( 1 2 )k < ( 1 2 )k . Isso implica que, para todo natural n, tem-se: sn = n∑ k=1 k − 1 k2k < ∞∑ k=1 ( 1 2 )k = 1 2 · 1 1− 1/2 = 1, o que prova que a sequ¨eˆncia (sn)n e´ limitada. O resultado segue do teorema anterior. A seguir, um cla´ssico, importante e bastante intuitivo crite´rio de convergeˆncia que ja´ utilizamos implicitamente nos Exemplos 2.16 e 2.18. Teorema 7.3 (Crite´rio da Integral) Considere a se´rie ∞∑ k=1 ak e suponha que exista um natural p e uma func¸a˜o f : [ p,+∞[→ R cont´ınua, decrescente e na˜o negativa tal que f(k) = ak para k ≥ p. Nestas condic¸o˜es, tem-se: (i) ∫ +∞ p f(x)dx converge ⇒ ∞∑ k=1 ak converge. (ii) ∫ +∞ p f(x)dx diverge ⇒ ∞∑ k=1 ak diverge. p ap a 1+p 1+p a 2+p 2+p Prova: Para n > p, tem-se n∑ k=1 ak = p∑ k=1 ak + n∑ k=p+1 ak. Como p esta´ fixo, segue desta relac¸a˜o que ∞∑ k=1 ak sera´ convergente (ou divergente) se, e somente se, ∞∑ k=p+1 ak for convergente (ou divergente). (i) Temos n∑ k=p+1 ak ≤ ∫ n p f(x)dx ≤ ∫ +∞ p f(x)dx. Segue que a sequ¨eˆncia sn = n∑ k=p+1 ak e´ crescente e limitada superiormente por ∫ +∞ p f(x)dx. Assim, se∫ +∞ p f(x)dx <∞, enta˜o a se´rie ∞∑ k=1 ak converge. 18 (ii) Temos n−1∑ k=p ak ≥ ∫ n p f(x)dx. Assim, supondo que ∫ +∞ p f(x)dx seja divergente, a sequ¨eˆncia sn = n∑ k=p+1 ak sera´ crescente e ilimitada e, portanto, divergente. � Exemplo 7.4 A se´rie ∞∑ k=1 1 1 + x2 converge ou diverge? Justifique. Resoluc¸a˜o: Temos∫ +∞ 1 dx 1 + x2 = lim b→+∞ ∫ b 1 dx 1 + x2 = lim b→+∞ [arctg x]b1 = lim b→+∞ [ arctg b− pi 4 ] = pi 2 − pi 4 = pi 4 . Pelo crite´rio da integral, a se´rie ∞∑ k=1 1 1 + x2 converge. Exemplo 7.5 A se´rie ∞∑ k=2 1 k ln k converge ou diverge? Justifique. Resoluc¸a˜o: Temos∫ +∞ 2 dx x lnx = lim b→+∞ ∫ b 2 dx x lnx = lim b→+∞ [ln(lnx)]b2 = lim b→+∞ [ln(ln b)− ln(ln 2)] = +∞. Pelo crite´rio da integral, a se´rie ∞∑ k=2 1 k ln k diverge. Exemplo 7.6 (Se´rie Harmoˆnica) A se´rie harmoˆnica ∞∑ k=1 1 kp converge se p > 1 e diverge se p ≤ 1. Resoluc¸a˜o: Se p < 0, enta˜o lim k→+∞ 1 kp = +∞ e assim ∞∑ k=1 1 kp diverge. Se p = 0, enta˜o lim k→+∞ 1 kp = 1 e, neste caso, ∞∑ k=1 1 kp tambe´m diverge. Assumindo p > 0, a func¸a˜o f(x) = 1 xp e´ cont´ınua, decrescente e na˜o negativa em [1,+∞[ e temos ∫ b 1 1 xp dx = ln b se p = 1 e ∫ b 1 1 xp dx = b1−p − 1 1− p se p 6= 1. Como lim b→+∞ ln b = +∞, segue do crite´rio da integral que ∞∑ k=1 1 kp diverge se p = 1. Para p 6= 1 temos lim b→+∞ b1−p − 1 1− p = − 1 1− p se p > 1 e limb→+∞ b1−p − 1 1− p = +∞ se p < 1. Mais uma vez do crite´rio da integral segue que ∞∑ k=1 1 kp converge se p > 1 e diverge se p ≤ 1. 19 Observac¸a˜o 7.7 Na˜o obstante a se´rie harmoˆnica ∞∑ k=1 1 kp ser convergente quando p > 1, na˜o existe uma “fo´rmula agrada´vel” para sua soma. A func¸a˜o ζ :]1,+∞[→ R dada por ζ(p) = ∞∑ k=1 1 kp chama-se Func¸a˜o Zeta de Riemann e desempenha importante papel na Teoria Anal´ıtica dos Nu´meros.3 Definic¸a˜o 7.8 Sejam ∑ ak e ∑ bk duas se´ries cujos termos sa˜o na˜o negativos. Dizemos que ∑ bk domina ∑ ak se ak ≤ bk para todo k. Se existe n0 ∈ N tal que ak ≤ bk para todo k ≥ n0, dizemos que∑ bk domina eventualmente ∑ ak. Teorema 7.9 (Crite´rio da comparac¸a˜o direta) Sejam ∑ ak e ∑ bk se´ries cujos termos sa˜o na˜o negativos e suponha que ∑ bk domine eventualmente ∑ ak. Nestas condic¸o˜es, tem-se: (i) Se ∑ bk converge, enta˜o ∑ ak converge. (ii) Se ∑ ak diverge, enta˜o ∑ bk diverge. Prova: E´ bastante intuitiva e simples e, portanto, fica como exerc´ıcio para o leitor. � Exemplo 7.10 Mostre que a se´rie ∞∑ k=1 1 7k + sen k converge. Resoluc¸a˜o: Vamos mostrar que a se´rie ∞∑ k=1 1 7k−1 (que sabemos ser convergente) domina a se´rie ∞∑ k=1 1 7k + sen k . A desigualdade que deve, para tanto, ser demonstrada, e´ 1 7k + sen k ≤ 1 7k−1 , a qual e´ equivalente a` desigualdade 7k−1 ≤ 7k + sen k, ou ainda, −sen k ≤ 7k − 7k−1 = (7− 1)7k−1 = 6 · 7k−1. Esta u´ltima desigualdade e´ claramente verdadeira, ja´ que −sen k ≤ 1 ≤ 6 ≤ 6 · 7k−1, para todo k ≥ 1. Exemplo 7.11 Mostre que a se´rie ∞∑ k=2 1 ln k diverge. Resoluc¸a˜o: Como 0 < ln k < k para todo k ≥ 2 (verifique!4), temos 1 k < 1 ln k para todo k ≥ 2. Assim, a se´rie ∞∑ k=2 1 ln k domina a se´rie ∞∑ k=2 1 k . Como esta u´ltima e´ divergente, a se´rie ∞∑ k=2 1 ln k diverge. Exemplo 7.12 Mostre que a se´rie ∞∑ k=2 k k2 + 2k + 1 diverge. Resoluc¸a˜o: Temos k k2 + 2k + 1 = 1 k · 1 1 + 2k + 1 k2 . Para todo k ≥ 1, tem-se 1 + 2 k + 1 k2 ≤ 4 e, portanto, para todo k ≥ 1, tem-se 1 1 + 2k + 1 k2 ≥ 1 4 . Segue que, para todo k ≥ 1, k k2 + 2k + 1 ≥ 1 4k . Como ∞∑ k=2 1 4k = +∞, resulta ∞∑ k=2 k k2 + 2k + 1 = +∞. 3Como citamos na Observac¸a˜o 2.17, ζ(2) = pi2/6. 4Para isso, defina f(x) = x− lnx e cheque que f(1) > 0 e f ′(x) > 0 para todo x > 1. 20 Teorema 7.13 (Crite´rio do limite) Sejam ∑ ak e ∑ ck duas se´ries cujos termos sa˜o positivos a partir de algum ı´ndice q fixado. Suponhamos que lim k→+∞ ak ck = L. (i) Se L > 0, L real, enta˜o ou ambas as se´ries convergem ou ambas divergem. (ii) Se L = +∞ e se ∑ ck diverge, enta˜o ∑ ak tambe´m diverge. (iii) Se L = 0 e se ∑ ck converge, enta˜o ∑ ak tambe´m converge. Prova: (a) De lim k→+∞ ak ck = L, L > 0 real, segue que, tomando-se � = �/2, existe um natural p, que podemos supor maior que q, tal que k > p⇒ L− L 2 < ak bk < L+ L 2 donde k > p⇒ L 2 ck < ak < 3L 2 ck. Segue do crite´rio da comparac¸a˜o que ambas as se´ries sa˜o convergentes ou ambas sa˜o divergentes. (b) De lim k→+∞ ak ck = +∞ segue que, tomando-se � = 1, existe um natural p > q, tal que k > p⇒ ak ck > 1 donde k > p⇒ ak > ck. Segue do crite´rio da comparac¸a˜o que se ∑ ck for divergente, enta˜o ∑ ak tambe´m sera´. (c) De lim k→+∞ ak ck = 0 segue que, tomando-se � = 1, existe um natural p > q, tal que k > p⇒ ak ck < 1 donde k > p⇒ ak < ck. Segue do crite´rio da comparac¸a˜o que se ∑ ck for convergente, enta˜o ∑ ak tambe´m sera´. � Exemplo 7.14 A se´rie ∞∑ k=2 ke−k converge ou diverge? Justifique. Resoluc¸a˜o: A se´rie harmoˆmica ∞∑ k=2 1 k2 e´ convergente. Fac¸amos ak = ke −k e ck = 1 k2 . Temos lim k→∞ ak ck = lim k→+∞ ke−k 1/k2 = lim k→+∞ k3 ek = 0. Pelo crite´rio do limite, concluimos que a se´rie dada converge. Observac¸a˜o 7.15 O sucesso na utilizac¸a˜o do teste do limite esta´ exatamente na escolha adequada da se´rie ∑ ck de comparac¸a˜o. Em muitos casos, as se´ries harmoˆnicas ou as se´ries geome´tricas desem- penham muito bem este papel. Exemplo 7.16 A se´rie ∞∑ k=2 k2 + 2 k5 + 2k + 1 converge ou diverge? Justifique. Resoluc¸a˜o: Como lim k→+∞ k2 + 2 k5 + 2k + 1 = 0, a se´rie tem chance de ser convergente. Vamos tomar como se´rie de comparac¸a˜o a se´rie geome´trica ∞∑ k=2 1 k3 , que sabemos ser convergente. Fazendo ak = k2 + 2 k5 + 2k + 1 e ck = 1 k3 , temos lim k→∞ ak ck = lim k→+∞ k5 + 2k3 k5 + 2k + 1 = 1. Pelo crite´rio do limite, conclui-se que a se´rie dada converge. 21 Teorema 7.17 (Crite´rio da comparac¸a˜o de razo˜es) Sejam ∑ ak e ∑ bk duas se´ries de termos positivos. Suponhamos que exista um natural p tal que, para k ≥ p, ak+1 ak ≤ bk+1 bk . (i) Se ∑ bk converge, enta˜o ∑ ak converge. (ii) Se ∑ ak diverge, enta˜o ∑ bk diverge. Prova: Segue da hipo´tese que, para k ≥ p, tem-se ak+1 bk+1 ≤ ak bk e, portanto, a sequ¨eˆncia ak bk , k ≥ p, e´ decrescente. Da´ı, para k ≥ p, temos ak bk ≤ ap bp e, portanto, para k ≥ p, ak ≤ ap bp bk. Agora e´ so´ aplicar o crite´rio da comparac¸a˜o. � Exemplo 7.18 Considere a se´rie de termos positivos ∑ ak e suponha que existam um real r e um natural p, com 0 < r < 1, tais que, para todo k ≥ p, a raza˜o ak+1 ak ≤ r. Prove que a se´rie ∑ ak e´ convergente. Resoluc¸a˜o: Considere a se´rie geome´trica ∞∑ k=0 bk, onde bk = r k, k ≥ 0. Tal se´rie e´ convergente, pois 0 < r < 1. De bk+1 bk = r segue, para todo k ≥ p, ak+1 ak ≤ bk+1 bk . Pelo crite´rio de comparac¸a˜o de razo˜es, a se´rie ∑ ak e´ convergente. Exemplo 7.19 Considere a se´rie de termos positivos ∑ ak e suponha que exista um natural p tal que, para todo k ≥ p, a raza˜o ak+1 ak ≥ 1. Prove que a se´rie ∑ ak e´ divergente. Resoluc¸a˜o: Considere a se´rie ∞∑ k=0 bk, onde bk = 1 para todo k ≥ 0. Tal se´rie e´ evidentemente divergente e, para todo k ≤ p, ak+1 ak ≤ 1 = bk+1 bk . Pelo crite´rio de comparac¸a˜o de razo˜es, a se´rie ∑ ak e´ divergente. 7.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. Utilizando o crite´rio da comparac¸a˜o direta, decida se cada se´rie abaixo converge ou diverge: (a) ∞∑ k=1 cos2k k3 (b) ∞∑ k=1 2 + sen k k (c) ∞∑ k=1 ln k k ek 2. Utilizando o crite´rio da integral, estude a se´rie dada com relac¸a˜o a` convergeˆncia ou divergeˆncia. (a) ∞∑ k=2 1 k(ln k)α , α > 0 (b) ∞∑ k=0 k 1 + k4 (c) ∞∑ k=0 k k2 + 1 22 3. Suponha an > 0 para todo n e que a se´rie ∑ an convirja. Prove que as se´ries ∑ an 1 + an e ∑ a2n tambe´m convergem. 4. Prove que para todo polinoˆmio p(x) de grau superior a 1, a se´rie ∞∑ k=1 1 p(k) converge. 5. Seja λ > 0 um real dado. A se´rie ∞∑ k=0 kλ 2k e´ convergente ou divergente? Justifique. 6. Considere a se´rie ∑ ak de termos na˜o negativos e suponha que ak = 1 kα bk, k ≥ p. Utilize o crite´rio do limite para provar que: (a) Se lim bk = 0 e se α > 1, enta˜o ∑ ak converge. (b) Se lim bk = +∞ e se α ≤ 1, enta˜o ∑ ak diverge. 7. Seja γ > 0 um real dado. Prove: (a) lim k→+∞ k (ln k)γ = +∞. (Sugesta˜o: Verifique que lim u→+∞ eu uλ = +∞). (b) ∞∑ k=2 1 (ln k)γ e´ divergente. 8. (a) Verifique que ∞∑ k=1 ln k + 1 k = +∞. (Sugesta˜o: Se´rie telesco´pica) (b) Seja −1 < α < 0 um real dado. Mostre que ∞∑ k=1 ln k k − 1− α = +∞. (Sugesta˜o: Utilize o crite´rio do limite com ck = ln k + 1 k ). 9. (Crite´rio de Cauchy-Fermat) Suponha f : [1,+∞[→ R cont´ınua, decrescente e positiva. Sendo β > 1, prove que ∞∑ k=1 f(k) converge se, e somente se, ∞∑ k=0 βkf(βk) converge. 8 Se´ries alternadas e convergeˆncia absoluta Uma se´rie e´ chamada alternada quando seus termos consecutivos teˆm sinais opostos. O seguinte resultado apresenta um crite´rio definitivo para a convergeˆncia de uma se´rie alternada. Teorema 8.1 (Crite´rio de Leibniz) Seja (an)n uma sequ¨eˆncia decrescente de termos positivos com lim an = 0. Enta˜o a se´rie alternada ∞∑ k=1 (−1)k+1ak e´ convergente. Ale´m disso, se S e´ a soma desta se´rie e sn e´ a n-e´sima soma parcial, enta˜o 0 ≤ (−1)n(S − sn) ≤ an+1. Exemplo 8.2 Embora a se´rie harmoˆnica ∞∑ k=1 1 k seja divergente, a se´rie harmoˆnica alternada, a saber, ∞∑ k=1 (−1)k+1 1 k e´ convergente. De fato, segue do item (a) do Exerc´ıcio 7 da Sec¸a˜o 5 que ∞∑ k=1 (−1)k+1 1 k = ln 2. 23 Exemplo 8.3 Embora a se´rie ∞∑ k=2 1 ln k seja divergente, a se´rie alternada ∞∑ k=2 (−1)k 1 ln k e´ convergente. Exemplo 8.4 Mostre que a se´rie ∞∑ k=1 (−1)k+1 k + 3 k(k + 2) e´ convergente. Resoluc¸a˜o: Como cada an = n+ 3 n(n+ 2) e´ positivo, basta provar que (an)n e´ decrescente e que an → 0. Seja f(x) = x+ 3 x(x+ 2) , x ≥ 1. Temos f ′(x) = −x 2 + 6x+ 6 x2(x+ 2)2 < 0 para todo x ≥ 1. Isto prova que (an)n e´ decrescente. Agora, quanto ao limite de (an)n, temos: lim n→+∞ an = limn→+∞ n+ 3 n(n+ 2) = 0. Definic¸a˜o 8.5 (Convergeˆncia Absoluta e Condicional) Seja ∑ ak uma se´rie. (i) Se a se´rie ∑ |ak| converge, dizemos que ∑ ak e´ absolutamente convergente. (ii) Se a se´rie ∑ ak converge, mas ∑ |ak| diverge, dizemos que∑ ak e´ condicionalmente convergente. E´ claro que se uma se´rie e´ convergente e todos os seus termos sa˜o na˜o nagativos (ou todos sa˜o na˜o positivos), enta˜o a se´rie e´ absolutamente convergente. Exemplo 8.6 Sa˜o absolutamente convergentes a se´rie ∞∑ k=1 (−1)k 1 1 + k2 e a se´rie geome´trica alternada ∞∑ k=1 (−1)k+1 1 2k . Ja´ a se´rie harmoˆnica alternada ∞∑ k=1 (−1)k+1 1 k e´ condicionalmente convergente. Teorema 8.7 Toda se´rie absolutamente convergente e´ tambe´m convergente. Prova: Suponha ∑ |ak| convergente. Temos −|ak| ≤ ak ≤ |ak| o que implica 0 ≤ ak + |ak| ≤ 2|ak|. Mas ∑ 2|ak| = 2 ∑ |ak| converge. Enta˜o, pelo teste da comparac¸a˜o direta, ∑(ak + |ak|) converge. Portanto ∑ ak = ∑ (ak + |ak| − |ak|) converge. � Exemplo 8.8 Mostre que a se´rie ∞∑ k=1 sen k k3 + 4 converge (Atenc¸a˜o, esta se´rie na˜o e´ alternada!). Resoluc¸a˜o: Temos ∣∣∣∣ sen kk3 + 4 ∣∣∣∣ = |sen k|k3 + 4 ≤ 1k3 + 4 < 1k3 . Como ∞∑ k=1 1 k3 converge, pelo crite´rio da comparac¸a˜o direta a se´rie ∞∑ k=1 ∣∣∣∣ sen kk3 + 4 ∣∣∣∣ tambe´m converge. O resultado agora segue do teorema anterior. 24 8.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. Mostre que a se´rie dada e´ convergente. (a) ∞∑ k=1 (−1)k+1sen 1 k (b) ∞∑ k=1 (−1)k k 3 k4 + 3 (c) ∞∑ k=3 (−1)k+1 ln k k 2. Estude as se´ries abaixo quanto a divergeˆncia, convergeˆncia condicional e convergeˆncia absoluta. (a) ∞∑ k=1 (−1)k ln(ek + e−k) (b) ∞∑ k=2 sen ( kpi + 1 ln k ) 3. (a) Mostre que ∞∑ k=1 1 k2 = 4 3 ∞∑ k=0 1 (2k + 1)2 . (b) Calcule a soma da se´rie ∞∑ k=1 (−1)k+1 1 k2 , assumindo ∞∑ k=1 1 k2 = pi2 6 . 4. Calcule a soma da se´rie alternada ∞∑ k=1 (−1)k+1 k(k + 1) . 9 Crite´rios da raza˜o e da raiz Demonstramos nesta sec¸a˜o mais dois importantes crite´rios de convergeˆncia, a saber, o crite´rio da raza˜o e o crite´rio da raiz, o primeiro dos quais sera´ diretamente utilizado no estudo de se´ries de poteˆncias que desenvolveremos a partir da Sec¸a˜o 11 deste texto. Teorema 9.1 (Crite´rio da raza˜o) Seja ∑ ak uma se´rie de termos na˜o nulos. (i) Se lim k→+∞ ∣∣∣∣ak+1ak ∣∣∣∣ < 1, enta˜o a se´rie e´ absolutamente convergente. (ii) Se lim k→+∞ ∣∣∣∣ak+1ak ∣∣∣∣ > 1 ou +∞, enta˜o a se´rie e´ divergente. (iii) Se lim k→+∞ ∣∣∣∣ak+1ak ∣∣∣∣ = 1, nada se pode concluir. Prova: Faremos cada item separadamente. (i) Tome r tal que lim k→+∞ ∣∣∣∣ak+1ak ∣∣∣∣ < r < 1. Segue que existe um natural p tal que, para k ≥ p,∣∣∣∣ak+1ak ∣∣∣∣ < r. Pelo Exemplo 7.18, a se´rie e´ convergente. (ii) Segue da hipo´tese que existe um natural p tal que, para todo k ≥ p, ∣∣∣∣ak+1ak ∣∣∣∣ ≥ 1. Pelo Exemplo 7.19, a se´rie e´ divergente. (iii) Tome-se como exemplo as se´ries ∞∑ k=1 1 k e ∞∑ k=1 1 k2 . Sabemos que a primeira e´ divergente e a segunda e´ convergente. No entanto, em ambos os casos tem-se lim k→+∞ ∣∣∣∣ak+1ak ∣∣∣∣ = 1. � 25 Exemplo 9.2 A se´rie ∞∑ k=0 2k k! converge ou diverge? Justifique. Resoluc¸a˜o: Temos ak = 2k k! e ak+1 = 2k+1 (k + 1)! = 2k2 (k + 1)k! , donde ∣∣∣∣ak+1ak ∣∣∣∣ = 2k + 1 . Assim, como lim k→+∞ 2 k + 1 = 0, resulta do crite´rio da raza˜o que a se´rie dada e´ absolutamente conver- gente e, portanto, convergente. Exemplo 9.3 Mostre que a se´rie ∞∑ k=1 kk k! e´ divergente Resoluc¸a˜o: Temos∣∣∣∣ak+1ak ∣∣∣∣ = (k + 1)k+1(k + 1)! · k!kk = (k + 1)kkk = ( k + 1 k )k = ( 1 + 1 k )k . Como lim k→+∞ ( 1 + 1 k )k = e > 1, resulta do crite´rio da raza˜o que a se´rie dada e´ divergente. Teorema 9.4 (Crite´rio da raiz) Seja ∑ ak uma se´rie. (i) Se lim k→+∞ k √ |ak| < 1, enta˜o a se´rie e´ absolutamente convergente. (ii) Se lim k→+∞ k √ |ak| > 1 ou +∞, enta˜o a se´rie e´ divergente. (iii) Se lim k→+∞ k √ |ak| = 1, nada se pode concluir. Prova: Faremos apenas o primeiro e o terceiro casos; o segundo e´ deixado para o leitor. (i) Tomando-se r tal que lim k→+∞ k √ |ak| < r < 1, existe um natural p tal que, para k ≥ p, k √|ak| < r e, portanto, ak < r k. A convergeˆncia da se´rie segue por comparac¸a˜o com a se´rie geome´trica ∑ rk. Para checar a parte (iii) tome-se novamente como exemplo as se´ries ∞∑ k=1 1 k e ∞∑ k=1 1 k2 . � Exemplo 9.5 A se´rie ∞∑ k=0 k3 3k converge ou diverge? Justifique. Resoluc¸a˜o: Temos lim k→+∞ k √ |ak| = lim k→+∞ k √ k3 3k = 1 3 lim k→+∞ k √ k3 = 1 3 < 1. Logo, a se´rie dada e´ convergente. 9.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. E´ convergente ou divergente? Justifique. (a) ∞∑ n=0 3n 1 + 4n (b) ∞∑ n=1 n!2n nn (c) ∞∑ n=1 n3 + 4 2n 2. Prove que, para todo a > 0, a se´rie ∞∑ n=0 an n! e´ convergente. Conclua que lim n→+∞ an n! = 0. 26 3. Prove que, para todo natural n ≥ 1, ln 1 + ln 2 + · · ·+ ln(n− 1) ≤ ∫ n 1 lnx dx ≤ ln 2 + ln 3 + · · ·+ lnn. Conclua que, para todo n ≥ 1, tem-se (n− 1)!en ≤ e nn ≤ n!en. 4. Utilize a desigualdade nn ≤ n!en do exerc´ıcio anterior para provar que ∞∑ n=1 n!en nn diverge. 10 Reordenac¸a˜o de se´ries Dada uma se´rie ∑ ak, mudar a ordem de seus termos significa tomar uma bijec¸a˜o ϕ : N → N e considerar a se´rie ∑ bk onde bk = aϕ(k) para todo k ∈ N. O problema e´, enta˜o, o seguinte: Supondo∑ ak convergente, sera´ ainda ∑ bk convergente? No caso afirmativo, vale ∑ ak = ∑ bk? Diremos que uma se´rie ∑ ak e´ comutativamente convergente quando, para toda bijec¸a˜o ϕ : N→ N, a se´rie ∑ aϕ(k) e´ convergente. Demonstraremos abaixo que ∑ ak e´ comutativamente convergente se, e somente se, e´ absoluta- mente convergente. Em seguida, enunciaremos um resultado fanta´stico, devido a Riemann. Comec¸amos com um exemplo de como uma mudanc¸a de ordem nos termos de uma se´rie pode alterar a soma. Exemplo 10.1 Sabemos que ln 2 = 1− 1 2 + 1 3 − 1 4 + 1 5 − 1 6 + 1 7 − 1 8 + 1 9 − 1 10 + · · · Como e´ l´ıcito multiplicar os termos de uma se´rie convergente por um nu´mero real, multiplicando esta se´rie por 1/2 obtemos 1 2 ln 2 = 1 2 − 1 4 + 1 6 − 1 8 + 1 10 − 1 12 + 1 14 − 1 16 + 1 18 − 1 20 + · · · Agora, esta se´rie pode ser claramente substituida pela se´rie abaixo 1 2 ln 2 = 0 + 1 2 + 0− 1 4 + 0 + 1 6 + 0− 1 8 + 0 + 1 10 + 0− 1 12 + 0 + 1 14 + 0− 1 16 + 0 + · · · Tambe´m e´ l´ıcito somar termo a termo duas se´ries convergentes. Procedendo assim com a primeira e u´ltima se´ries acima e ja´ eliminando os termos nulos, obtemos 3 2 ln 2 = 1 + 1 3 − 1 2 + 1 5 + 1 7 − 1 4 + 1 9 + 1 11 − 1 6 + · · · que e´ uma reordenac¸a˜o da se´rie inicial. Isto mostra que uma reordenac¸a˜o na ordem dos termos de uma se´rie convergente pode alterar o valor da sua soma. Teorema 10.2 Toda se´rie absolutamente convergente e´ comutativamente convergente. Prova: Comec¸amos com uma se´rie convergente ∑ ak, onde ak ≥ 0 para todo k. Seja ϕ : N→ N uma bijec¸a˜o e ponhamos bk = aϕ(k). Afirmamos que ∑ bk = ∑ ak. Com efeito, sejam sn = a1 + a2 + · · ·+ an e tn = b1 + b2 + · · ·+ bn. Para cada n ∈ N, chamamos de m o maior dos nu´meros ϕ(1), ϕ(2), . . . , ϕ(n). Enta˜o, {ϕ(1), ϕ(2), . . . , ϕ(n)} ⊂ [1,m]. 27 Segue-se que tn = n∑ k=1 aϕ(k) ≤ m∑ k ak = sm De modo ana´logo, considerando ϕ−1 ao inve´s de ϕ, se veˆ que, para m ∈ N, existe n ∈ N tal que sm ≤ tn. Conclu´ımos que lim sn = lim tn, ou seja, ∑ ak = ∑ bk. No caso geral, temos ∑ ak = ∑ pk − ∑ qk, onde pk e qk sa˜o, respectivamente, a parte positiva e a parte negativa de ak. Toda reordenac¸a˜o (bk)k dos termos (ak)k origina uma reordenac¸a˜o (uk)k para (pk)k e uma reordenac¸a˜o (vk)k para (qk)k, de tal modo que cada uk e´ a parte positiva e cada vk e´ parte negativa de bk. Pelo que acabamos de ver ∑ uk = ∑ pk e ∑ vk = ∑ qk. Logo ∑ ak = ∑ uk − ∑ vk =∑ bk, o que prova o teorema. � O seguinte resultado conte´m a rec´ıproca do teorema anterior. Teorema 10.3 (Teorema de Riemann) Seja ∑ ak uma se´rie condicionalmente convergente. Dado qualquer nu´mero real S, existe uma reordenac¸a˜o bk = aϕ(k) dos termos da se´rie ∑ ak, tal que ∑ bk = S. 10.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. Prove o Teorema de Riemann. 2. Seja ∑ ak uma se´rie condicionalmente convergente. Prove que existem reordenac¸o˜es bk = aϕ(k) e ck = aψ(k) dos termos da se´rie ∑ ak, tais que ∑ bk = +∞ e ∑ ck = −∞. 11 Se´ries de poteˆncias Seja (ck)k uma sequ¨eˆncia de nu´meros reais e seja a um real fixado. Uma se´rie da forma ∞∑ k=0 ck(x− a)k = c0 + c1(x− a) + c2(x− a)2 + · · · e´ chamada uma se´rie de poteˆncias. As constantes c0, c1, c2, . . . sa˜o chamadas os coeficientes e a cons- tante a e´ chamada o centro da se´rie. Exemplo 11.1 Encontre os valores de x para os quais a se´rie de poteˆncias abaixo e´ convergente ∞∑ k=0 (−1)k k 3k xk = 0− 1 3 x+ 2 9 x2 − 3 27 x3 + · · · Resoluc¸a˜o: E´ claro que a se´rie converge para x = 0. Para x 6= 0, aplicamos o crite´rio da raza˜o: an = (−1)n n 3n xn e an+1 = (−1)n+1 (n+ 1) 3n+1 xn+1 ⇒ an+1 an = (−1)n+1(n+ 1)3nxn+1 (−1)nn3n+1xn Assim ∣∣∣∣an+1an ∣∣∣∣ = (n+ 1)3n |x| Segue-se lim n→+∞ ∣∣∣∣an+1an ∣∣∣∣ = limn→+∞ n+ 13n |x| = |x| · limn→+∞ n+ 13n = |x|3 . 28 Pelo crite´rio da raza˜o: • A se´rie converge para |x|/3 < 1, ou seja, para |x| < 3. • A se´rie diverge para |x|/3 > 1, ou seja, para |x| > 3. • Se |x| = 3, enta˜o |an| = ∣∣∣(−1)n n 3n xn ∣∣∣ = n 3n 3n = n. Assim, lim n→+∞ an 6= 0 e a se´rie diverge. Exemplo 11.2 Encontre os valores de x para os quais a se´rie de poteˆncias abaixo e´ convergente ∞∑ k=0 (x− 5)2k k! = 1 + (x− 52) + 1 2 (x− 5)4 + 1 6 (x− 5)6 + · · · Resoluc¸a˜o: E´ claro que a se´rie converge para x = 5. Para x 6= 5, aplicamos o crite´rio da raza˜o: an = (x− 5)2n n! e an+1 = (x− 5)2(n+1) (n+ 1)! ⇒ an+1 an = (x− 5)2n+2n! (x− 5)2n(n+ 1)n! Assim ∣∣∣∣an+1an ∣∣∣∣ = (x− 5)2n+ 1 e limn→+∞ ∣∣∣∣an+1an ∣∣∣∣ = limn→+∞ (x− 5)2n+ 1 = 0 < 1 Pelo crite´rio da raza˜o, a se´rie converge, independentemente do valor de x. O conjunto I de todos os valores de x para os quais a se´rie de poteˆncias ∑∞ k=0 ck(x − a)k e´ convergente e´ chamado o intervalo de convergeˆncia da se´rie. Podem ocorrer treˆs casos: • I e´ um intervalo limitado com centro em a e extremos a−R e a+R, onde R > 0 e´ um nu´mero real, podendo neste caso ocorrer I = [a−R, a+R] ou I = [a−R, a+R[ ou I =]a−R, a+R] ou I =]a−R, a+R[ • I =]−∞,+∞[, ou seja, I = R. • I = {a}. No primeiro caso, o nu´mero real R e´ chamado o raio de convergeˆncia da se´rie. Nos segundo e terceiro casos, escrevemos R = +∞ e R = 0, respectivamente. Em qualquer dos casos: A se´rie de poteˆncias converge absolutamente no intervalo ]a−R, a+R[. Teorema 11.3 Seja ∑∞ k=0 ck(x − a)k uma se´rie de poteˆncias com raio de convergeˆncia R. Suponha que lim n→+∞ ∣∣∣∣cn+1cn ∣∣∣∣ = L, onde L ou e´ um nu´mero real na˜o negativo ou L = +∞. Nestas condic¸o˜es: (i) Se L e´ um real positivo, enta˜o R = 1/L. (ii) Se L = 0, enta˜o R = +∞ . (iii) Se L = +∞, enta˜o R = 0. 29 Exemplo 11.4 Encontre o centro, o raio de convergeˆncia e o intervalo de convergeˆncia de ∞∑ k=0 (x+ 3)k 3k . Resoluc¸a˜o: O centro e´ a = −3, claro! A fim de aplicar o teorema acima, calculamos: cn = 1 3n e cn+1 = 1 3n+1 donde ∣∣∣∣cn+1cn ∣∣∣∣ = 3n3n+1 = 13 . Assim, L = lim n→+∞ ∣∣∣∣cn+1cn ∣∣∣∣ = 13 , o que implica que o raio de convergeˆncia da se´rie e´ R = 3. Para determinar exatamente o intervalo de convergeˆncia, resta investigar a convergeˆncia da se´rie para os valores a−R = −6 e a+R = 0. Quando x = −6, a se´rie torna-se ∞∑ k=0 (−3)k 3k = 1 − 1 + 1 − 1 + · · · , a qual diverge, ja´ que o termo geral na˜o tende a zero. Quando x = 0, a se´rie torna-se ∞∑ k=0 3k 3k = 1 + 1 + 1 + · · · , que tambe´m diverge. Portanto, o intervalo de convergeˆncia da se´rie ∞∑ k=0 (x+ 3)k 3k e´ o intervalo aberto I =]− 6, 0[. Exemplo 11.5 Encontre o centro e o raio e o intervalo de convergeˆncia de ∞∑ k=0 (−1)k k! (x− 17)k. Resoluc¸a˜o: O centro e´ a = 17, claro! A fim de aplicar o teorema acima, calculamos: cn = (−1)n n! e cn+1 = (−1)n+1 (n+ 1)! donde ∣∣∣∣cn+1cn ∣∣∣∣ = ∣∣∣∣ (−1)n+1n!(−1)n(n+ 1)n! ∣∣∣∣ = 1n+ 1 . Assim, L = lim n→+∞ ∣∣∣∣cn+1cn ∣∣∣∣ = limn→+∞ 1n+ 1 = 0, o que implica que o raio de convergeˆncia da se´rie e´ R = +∞. Portanto, o intervalo de convergeˆncia e´ I =]−∞,+∞[. Exemplo 11.6 Encontre o centro o raio de convergeˆncia e o intervalo de convergeˆncia de ∞∑ k=1 kkxk. Resoluc¸a˜o: O centro e´ a = 0, claro! A fim de aplicar o teorema acima, calculamos: cn = n n e cn+1 = (n+ 1) n+1 donde ∣∣∣∣cn+1cn ∣∣∣∣ = (n+ 1)n+1nn = ( n+ 1 n )n (n+ 1). Assim, L = lim n→+∞ ∣∣∣∣cn+1cn ∣∣∣∣ = limn→+∞ ( n+ 1 n )n · lim n→+∞(n+ 1) = e ·+∞ = +∞, o que implica que o raio de convergeˆncia e´ R = 0 e, portanto, o intervalo de convergeˆncia e´ I = {0}. 11.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. Encontre o centro a, o raio R e o intervalo I de convergeˆncia da se´rie de poteˆncias. (a) ∞∑ k=1 (x− 1)2k k5k (b) ∞∑ k=0 (cos kpi)(x+2)k (c) ∞∑ k=1 1 · 3 · 5 · · · (2k− 1)xk (d) ∞∑ k=0 (−1)k 10 k k! (x+pi)k (e) ∞∑ k=1 (1+2+ · · ·+k)x2k−1 (f) ∞∑ k=0 (−1)k 2 2k+1 2k + 1 (x−3)2k (g) ∞∑ k=0 ( sen kpi 2 ) xk (h) ∞∑ k=0 1 · 3 · 5 · · · (2k − 1) 23k+1 (x− 10)k (i) ∞∑ k=0 2k(x+ 4)k (j) ∞∑ k=1 1 k ( 1− x 2 )k (k) ∞∑ k=1 (−1)k 1 · 5 · 9 · 13 · · · (4k + 3) 2 · 4 · 6 · 8 · · · (2k) (x+ 6) k 30 2. Determine o domı´nio da func¸a˜o f dada por f(x) = ∞∑ n=2 xn lnn . 3. Seja α > 0 um nu´mero real dado, com α na˜o natural. Prove que a se´rie abaixo converge para |x| ≤ 1 e diverge para |x| > 1. ∞∑ n=1 α(α− 1)(α− 2) · · · (α− n+ 1) n! xn. 4. Considere a se´rie de poteˆncias ∞∑ n=0 anx n. Seja A = {x ≥ 0 : lim n→+∞ anx n = 0}. Prove que o raio de convergeˆncia da se´rie e´ igual ao supremo de A. 5. (a) Suponha que |x| < r, r > 0, e que ∞∑ n=0 anr n = 0. Prove que ∞∑ n=0 nanx n = 0. (b) Prove que as se´ries de poteˆncias ∞∑ n=0 anx n e ∞∑ n=0 nanx n teˆm o mesmo raio de convergeˆncia. 12 Continuidade, diferenciabilidade e integrabilidade de se´ries de poteˆncias Seja ∞∑ k=0 ck(x − a)k uma se´rie de poteˆncias com raio R e intervalo I de convergeˆncia. Podemos definir a func¸a˜o f : I −→ R x 7−→ f(x) = ∞∑ k=0 ck(x− a)k A diferenciac¸a˜o e integrac¸a˜o termo a termo da se´rie de poteˆncias ∞∑ k=0 ck(x−a)k produz novas se´ries de poteˆncias: ∞∑ k=0 d dx [ck(x− a)k] = ∞∑ k=1 kck(x− a)k−1 ∞∑ k=0 ∫ ck(x− a)kdx = ∞∑ k=1 ck k + 1 (x− a)k+1 Teorema 12.1 (i) f e´ cont´ınua no intervalo aberto ]a−R− a+R[. (ii) ∞∑ k=0 d dx [ck(x− a)k] e ∞∑ k=0 ∫ ck(x− a)kdx tambe´m teˆm raio de convergeˆncia R. (iii) Para x ∈]a−R, a+R[, tem-se f ′(x) = ∞∑ k=0 d dx [ck(x− a)k] = ∞∑ k=1 kck(x− a)k−1. (iv) Para b ∈]a−R, a+R[, tem-se ∫ b a f(x)dx = ∞∑ k=0 ∫ b a ck(x− a)kdx = ∞∑ k=0 ck k + 1 (b− a)kdx 31 Exemplo 12.2 Use a fo´rmula ∞∑ k=0 xk = 1 1− x que expressa a soma da se´rie geome´trica 1+x+x 2+ · · · para |x| < 1, para escrever cada expressa˜o dada abaixo como uma se´rie de poteˆncias: (a) 1 1 + x2 (b) 1 (1− x)2 (c) ln(1 + x) Resoluc¸a˜o: (a) Para |x| < 1, tambe´m |x2| < 1. Assim, substituindo x por −x2 na fo´rmula ∞∑ k=0 xk = 1 1− x , obtemos 1 1 + x2 = ∞∑ k=0 (−x2)k = ∞∑ k=0 (−1)kx2k. (b) 1 (1− x)2 = d dx [ 1 1− x ] = d dx ∞∑ k=0 xk = ∞∑ k=0 d dx [xk] = ∞∑ k=1 kxk−1 para |x| < 1. (c) ln(1 + x) = ∫ x 0 1 1 + t dt = ∫ x 0 (1− t+ t2 − t3 + · · · )dt = [ t− t 2 2 + t3 3 − t 4 4 + · · · ]x 0 = x− x 2 2 + x3 3 − x 4 4 + · · · = ∞∑ k=0 (−1)k x k+1 k + 1 para |x| < 1. Exemplo 12.3 Encontre uma fo´rmula para calcular a soma ∞∑ n=0 nxn, |x| < 1. Resoluc¸a˜o: O raio de convergeˆncia da se´rie ∞∑ n=0 (n+ 1)xn e´ R = 1 (verifique!). Seja f(x) = ∞∑ n=0 (n+ 1)xn. Para todo t ∈]− 1, 1[,∫ t 0 f(x)dx = ∞∑ n=0 ∫ t 0 (n+ 1)xndx = ∞∑ n=0 tn+1 = t+ t2 + t3 + · · · = t 1− t . Mas, pelo Teorema Fundamental do Ca´lculo, d dt ∫ t 0 f(x)dx = f(t). Assim, derivando de ambos os lados da equac¸a˜o acima resulta f(t) = 1 (1− t)2 . Portanto, para |x| < 1, ∞∑ n=0 (n+ 1)xn = 1 (−x)2 . Como ∞∑ n=0 nxn = ∞∑ n=0 (n+ 1)xn − ∞∑ n=0 xn, resulta ∞∑ n=0 nxn = 1 (1− x)2 − 1 1− x = x (1− x)2 para |x| < 1. 32 12.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. Mostre que, para |x| < 1, ln 1 + x 1− x = 2 ∞∑ n=0 x2n+1 2n+ 1 (sugesta˜o: Verifique que ∑ x2n = 1 1− x2 , para |x| < 1, e integre termo a termo de 0 a t). 2. Mostre que, para |x| < 1, arctg x = ∞∑ n=0 (−1)n x 2n+1 2n+ 1 (sugesta˜o: Verifique que ∑ (−1)nx2n = 1 1 + x2 , para |x| < 1). 3. Considere a func¸a˜o f definida por f(x) = ∞∑ n=1 xn n!n . Verifique que f esta´ definida para todo nu´mero real e calcule f ′(1). 4. Considere a func¸a˜o f definida por f(x) = ∞∑ k=0 k + 1 3k (x − 1)k. Verifique que x = 2 pertence ao interior do intervalo de convergeˆncia da se´rie que define f e, em seguida, calcule ∫ 2 1 f(x) dx. 13 Se´ries de Taylor e Maclaurin Suponha que seja f uma func¸a˜o expandida em se´ries de poteˆncias f(x) = ∞∑ k=0 ck(x− a)k para x ∈]a−R, a+R[. Para cada x ∈]a−R, a+R[, temos f ′(x) = ∞∑ k=1 kck(x− a)k−1 f ′′(x) = ∞∑ k=2 k(k − 1)ck(x− a)k−2 f ′′′(x) = ∞∑ k=3 k(k − 1)(k − 2)ck(x− a)k−3 ... f (n)(x) = ∞∑ k=n k(k − 1)(k − 2) · · · (k − n+ 1)ck(x− a)k−n E assim, f (n)(a) = n(n− 1)(n− 2)(n− 3) · · · 3 · 2 · 1 · cn = n!cn. Portanto cn = f (n)(a) n! , que, como nos lembramos do curso de Ca´lculo I, e´ o coeficiente de ordem n do polinoˆmio de Taylor de f em torno de a. 33 Definic¸a˜o 13.1 Seja f uma func¸a˜o infinitamente diferencia´vel em um intervalo aberto J e seja a um nu´mero real em J . A se´rie de Taylor de f em a e´ a se´rie de poteˆncias ∞∑ n=0 f (n)(a) n! (x− a)n. A se´rie de Taylor para f em a = 0 e´ chamada se´rie de Maclaurin de f , sendo portanto, a se´rie ∞∑ n=0 f (n)(0) n! xn. Observac¸a˜o 13.2 Na˜o ha´ implicac¸o˜es na definic¸a˜o de que a se´rie de Taylor de f realmente convirja para f . O que temos e´ o seguinte teorema. Teorema 13.3 (Expansa˜o de uma func¸a˜o em se´rie de Taylor) Seja f uma func¸a˜o infinitamente diferencia´vel num intervalo aberto contendo o real a. Suponha que existam reais r,M > 0 tais que |f (n)(x)| ≤M para todo x ∈]a− r, a+ r[ e todo n ∈ N. Enta˜o, para todo x ∈]a− r, a+ r[, tem-se f(x) = ∞∑ n=0 f (n)(a) n! (x− a)n. Exemplo 13.4 Prove que, para todo x ∈ R, ex = 1 + x+ x2 2! + x3 3! + x4 4! · · · Resoluc¸a˜o: Considere a func¸a˜o infinitamente diferencia´vel f(x) = ex, x ∈ R, e seja a = 0. Para todo natural n, temos f (n)(x) = ex para todo x ∈ R. Dado um real r > 0, como a func¸a˜o f e´ estritamente crescente, temos ex < er para todo x ∈]− r, r[, o que implica que |f (n)(x)| < er para x ∈]− r, r[. Sendo assim, pelo teorema anterior, ex = ∞∑ n=0 f (n)(0) n! xn = ∞∑ n=0 xn n! = 1 + x+ x2 2! + x3 3! + · · · para todo x ∈] − r, r[. Agora, como o real r e´ arbitra´rio e pode ser tomado ta˜o grande quanto se queira, a fo´rmula acima vale para todo x ∈ R. Exemplo 13.5 Prove que, para todo x ∈ R, senx = x− x 3 3! + x5 5! − x 7 7! + x9 9! − x 11 11! + · · · Resoluc¸a˜o: A func¸a˜o f(x) = senx, x ∈ R, e´ infinitamente diferencia´vel e, como, para todo n ∈ N, ou f (n)(x) = ±senx ou f (n)(x) = ± cosx, segue-se que |f (n)(n)| ≤ 1, para todo n ∈ N e todo x ∈ R. Precisamente, temos f (n)(x) = senx se n = 0, 4, 8, . . . cosx se n = 1, 5, 9, . . . −senx se n = 2, 6, 10, . . . − cosx se n = 3, 7, 11, . . . =⇒ f (n)(0) = 0 se n = 0, 4, 8, . . . 1 se n = 1, 5, 9, . . . 0 se n = 2, 6, 10, . . . −1 se n = 3, 7, 11, . . . 34 Portanto, para todo x ∈ R, senx = ∞∑ n=0 f (n)(0) n! xn = x− x 3 3! + x5 5! − x 7 7! + x9 9! − x 11 11! + · · · Exemplo 13.6 Vamos encontrar a expansa˜o em se´ria de Taylor para a func¸a˜o f(x) = 1/x com centro em a = 2. Calculando as derivadas de f obtemos f ′(x) = − 1 x2 f ′′(x) = 2 x3 f (3)(x) = − 6 x4 f (4)(x) = 24 x5 . . . f (n)(x) = (−1)n n! xn+1 Assim, calculando em a = 2 obtemos f (n)(2) = (−1)n n! 2n+1 para todo n ≥ 0 (Consideramos f (0) = f). Logo, os coeficientes da se´rie de Taylor para f(x) = 1/x com centro em a = 2 sa˜o cn = f (n)(2) n! = (−1)n 1 2n+1 , e a se´rie de Taylor de f(x) = 1/x com centro em a = 2 e´, portanto, ∞∑ n=0 (−1)n 1 2n+1 (x− 2)n. 13.1 Exerc´ıcios da sec¸a˜o 1. Encontre a se´rie de Taylor da func¸a˜o f em a. Se na˜o conseguir encontrar uma lei geral para os coeficientes da se´rie, expresse somente seus primeiros (digamos, cinco) termos. (a) f(x) = ex, a = −1 (b) f(x) = tg x, a = pi/4 (c) f(x) = √x, a = 1 (d) f(x) = ln(1/x), a = 2 (e) f(x) = sen 2x, a = pi/4 (f) f(x) = cosx, a = 0 2. Considere a func¸a˜o f definida (por sua expansa˜o em se´rie de Taylor com centro em a) por f(x) = ∞∑ n=0 n (n+ 1)! (x− a)n. Verifique que f esta´ definida para todo nu´mero real e calcule o limite lim n→∞ f (n)(a). 3. Suponha que a se´rie de poteˆncias ∞∑ n=0 anx n tenha raio de convergeˆncia na˜o nulo R. Suponha, ainda, que exista r > 0, com r < R, tal que, para todo x ∈]− r, r[ se tenha ∞∑ n=0 anx n = 0. Prove que an = 0 para todo natural n. Refereˆncias bibliogra´ficas [1] H. L. Guidorizzi, Um Curso de Ca´lculo, Vol.4, Ed.5, Rio de Janeiro: LTC, 2008. [2] E. L. Lima, Curso de Ana´lise, Vol.1, Ed.11, Rio de Janeiro: IMPA, 2006. [3] M. A. Munem e D. J. Foulis, Ca´lculo, Vol.2, Rio de Janeiro: LTC, 2008. 35