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Qualidade de Energia
 Fundamentos B€sicos 
 
1 
INTRODUÇÃO 
A qualidade da energia elétrica constitui na atualidade um fator crucial para a 
competitividade de praticamente todos os setores industriais e dos serviços. O setor 
da energia elétrica encontra-se, sobretudo nas duas últimas décadas, a atravessar 
profundas mudanças devido a um número considerável de fatores como (a) a 
alteração da natureza de cargas consumidoras e da forma como a energia elétrica é 
hoje utilizada, (b) a liberalização, desregulamentação (ou re-regulamentação) em 
curso a nível mundial, (c) a proliferação de autoprodutores, (d) o aparecimento de 
novas tecnologias de geração e (e) o peso crescente das questões ambientais 
associadas às tecnologias de geração, têm provocado grandes alterações no modo de 
funcionamento do setor
 
1.1 O fornecimento da energia 
A energia elétrica, térmica e/ou nuclear deixa as usinas geradoras a cada 
instante de tempo do dia e é transportada por uma complexa rede de linhas aéreas 
e/ou de cabos subterrâneos até alcançar seus centros consumidores. A Figura 1 
esquematiza de uma forma simplificada todo este processo desde quando a energia 
deixa a sua fonte geradora (1), passando por uma subestação de elevação da tensão 
(2), pelo seu transporte por longas linhas de transmissão até as áreas onde há a sua 
necessidade nos centros consumidores. Uma vez neste ponto, o nível de tensão é 
rebaixado por outra subestação (4) sendo que as linhas do sistema de distribuição (5) 
encarregam-se de direcionar a energia elétrica até as residências, centros comerciais 
e industriais. 
No entanto, para manter o nível de tensão dentro de certos limites 
operacionais aceitáveis, tanto ao nível de transmissão como de distribuição, são 
necessárias medidas de controle e de acompanhamento tanto dos órgãos de 
fiscalização como das concessionárias fornecedoras de energia. Isto se deve ao fato 
de que, tanto os sistemas de distribuição como de transmissão estão constantemente 
sujeitos a ocasionais variações de tensão. Estas variações, mesmo dentro de limites 
. 
1
 
pré-estabelecidos, podem causar operações incorretas de sensíveis equipamentos 
elétricos nos diversos setores. 
 
 
 
Figura 1- O fornecimento da energia 
 
Para avaliar o quanto um sistema está operando fora de suas condições 
normais, duas grandezas elétricas básicas podem ser empregadas. São elas: a tensão e 
a freqüência. A freqüência em um sistema interligado situa-se na faixa de 60 ± 
0,5Hz. Por outro lado, em relação à tensão, três aspectos principais devem ser 
observados: 
• Forma de onda, a qual deve ser o mais próximo possível de senóide; 
• Simetria do sistema elétrico e 
• Magnitudes das tensões dentro de limites aceitáveis. 
Entretanto, existem alguns fenômenos, aleatórios ou intrínsecos, que ocorrem 
no sistema elétrico fazendo com que os aspectos acima citados sofram alterações, 
deteriorando a qualidade do fornecimento de energia elétrica. Dentre os fenômenos 
podemos citar: afundamentos e/ou elevações de tensões, as interrupções, distorções 
harmônicas, flutuações de tensão, oscilações, ruídos, sobretensões, subtensões, etc. 
Tais fenômenos bem como as prováveis causas dos mesmos serão mais bem 
explanados a partir do capítulo 2 deste material. 
2
 
Para este contexto, cabe salientar que até bem pouco tempo atrás, a maioria 
dos consumidores industriais entendia que gerenciar a energia elétrica significava 
controlar a demanda, o fator de potência, e administrar os contratos junto à 
concessionária. Pouco se falava em supervisão de grandezas como tensões, correntes, 
potências e muito menos, em distorções harmônicas ou transientes. Alguns 
especialistas garantem que nos próximos cinco anos, a evolução dos sistemas de 
gerenciamento de energia será tão grande quanto foi nos últimos 30 anos. Por esta 
razão, as empresas que hoje pretendem apenas acompanhar a tensão e a corrente em 
tempo real logo manifestarão uma grande preocupação com o número de 
interrupções no fornecimento, e o tempo médio destas interrupções. Pouco tempo 
depois, estes mesmos usuários desejarão acompanhar a forma de onda da tensão 
entregue pela concessionária, de modo a analisar, por exemplo, transitórios, 
correntes harmônicas e afundamentos de tensão. No entanto, esta almejada análise 
depende da definição apropriada de indicadores que representem o desempenho dos 
serviços prestados pelas concessionárias envolvidas. No que segue, comentários 
básicos que dizem respeito a uma “boa qualidade da energia” e sobre os índices de 
continuidade associados ao assunto serão apresentados. 
 
1.2 Qualidade da Energia 
Como são de conhecimento, as interrupções, que podem ser provocadas tanto 
por fenômenos aleatórios como pela falta de manutenção preventiva dos sistemas 
elétricos, causam a diminuição da produtividade dos consumidores ocasionando a 
interrupção na operação dos equipamentos. Para o consumidor residencial, o que ele 
tem em mente como baixa qualidade da energia elétrica é realmente a falta de 
energia. Desde que essa falta não seja muito demorada, não haverá grandes 
aborrecimentos ou mesmo perdas econômicas por parte do consumidor. Se faltar 
tensão em sua casa durante três minutos, em princípio, não tem problema nenhum. 
Se faltar durante três horas, passa a ser diferente. Para o consumidor industrial, no 
entanto, se faltar energia durante meio segundo, a fábrica pára e o processo industrial 
tem que ser reiniciado, o que causa grandes prejuízos financeiros. Suponha que o 
processo seja a fabricação de tecido: a interrupção momentânea de tensão pode partir 
os fios do tecido. Para reiniciar o processo, será preciso emendar todos os fios que se 
partiram, e isso leva um certo tempo, com perda de produção. Se fosse um processo 
3
 
de estamparia, por exemplo, o tecido seria refugado uma vez que a estampa ficaria 
fora dos padrões. Nos processos de laminação de aço, quando as máquinas param, os 
operários têm que "desentupir" o laminador, cortando os varões de aço com 
maçaricos, além de manipulá-los sob altas temperaturas, etc. Como dado ilustrativo, 
constata-se pelos registros dos eventos, que uma interrupção na energia elétrica ou 
uma queda de 30% na tensão fornecida por um curto período pode zerar os 
controladores programáveis acarretando em inúmeras situações não desejáveis ao 
sistema integrado. 
Em virtude destas interrupções operacionais, destaca-se então, uma das 
principais razões para os estudos relacionados à QE: o valor econômico. Sendo que 
há impactos econômicos consideráveis nas companhias, em seus 
consumidores/clientes e fornecedores de equipamentos. No ramo industrial, sente-se 
um impacto econômico direto já que, nos últimos tempos, houve uma grande 
revitalização das indústrias com a automação e a inclusão de modernos 
equipamentos. 
Tem-se então que, para se estabelecer padrões de qualidade adequados é 
necessário definir a real expectativa dos consumidores, isto é, identificar o quanto à 
sociedade está disposta a pagar pelos custos dos mesmos, pois a melhoria do nível de 
qualidade implica em aumento dos custos. 
Cabe, para o momento, definirmos o que seria então um problema de QE. 
Não existe uma convenção ou consenso sobre este conceito. Por causa da 
rápida evolução dos sistemas nos últimos anos, este conceito também vem sofrendo 
alterações periodicamente. 
O conceito de “Qualidade da Energia” está relacionado a um conjunto de 
alterações que podem ocorrer no sistema elétrico. Entre muitos apontamentos da 
literatura, podemos então apresentar o assunto como qualquer problema manifestado 
na tensão, corrente ou desvio de freqüência, que
resulta em falha ou má operação de 
equipamento dos consumidores (DUGAN et al., 19961). Tais alterações podem 
ocorrer em várias partes do sistema de energia, seja nas instalações de consumidores 
ou no sistema supridor da concessionária. Como causas mais comuns pode-se citar: 
perda de linha de transmissão, saída de unidades geradoras, chaveamentos de bancos 
 
1 Esta será a referência básica adotada no decorrer do trabalho. Quando conveniente outras referências 
serão citadas. 
4
 
de capacitores, curto-circuito nos sistemas elétricos, operação de cargas com 
características não-lineares, etc. 
Quanto ao nível da QE requerido, este é que possibilita uma devida operação 
do equipamento em determinado meio para o qual foi projetado. Usualmente, há 
padrão muito bem definido de medidas para a tensão, de onde convencionalmente 
associa-se a QE à qualidade de tensão, já que o fornecedor de energia pode somente 
controlar a qualidade da tensão, mas não tem controle sobre a corrente que cargas 
particulares e ou específicas podem requerer. Portanto, o padrão aceito com respeito 
à QE é direcionado a manter o fornecimento de tensão dentro de certos limites. 
No passado, os problemas causados pela má qualidade no fornecimento de 
energia não eram tão expressivos, visto que, os equipamentos existentes eram pouco 
sensíveis aos efeitos dos fenômenos ocorridos e não se tinham instalados, em 
grandes quantidades, dispositivos que causavam a perda da qualidade da energia. 
Entretanto, com o desenvolvimento tecnológico, principalmente da eletrônica de 
potência, consumidores e concessionárias de energia elétrica têm-se preocupado 
muito com a qualidade da energia. Isto se justifica, principalmente, pelos seguintes 
motivos: 
• Os equipamentos hoje utilizados são mais sensíveis às variações na 
qualidade da energia. Muitos deles possuem controles baseados em 
microprocessadores e dispositivos eletrônicos sensíveis a muitos tipos de 
distúrbios; 
• O crescente interesse pela racionalização e conservação da energia elétrica, 
com vistas a otimizar a sua utilização, tem aumentado o uso de 
equipamentos que, em muitos casos, aumentam os níveis de distorções 
harmônicas e podem levar o sistema a condições de ressonância; 
• Maior conscientização dos consumidores em relação aos fenômenos ligados 
à qualidade da energia, visto que aqueles, estão se tornando mais 
informados a respeito de fenômenos como interrupções, subtensões, 
transitórios de chaveamentos, etc., passando a exigir que as concessionárias 
melhorem a qualidade da energia fornecida; 
• Integração dos processos, significando que a falha de qualquer componente 
tem conseqüências muito mais importantes para o sistema elétrico; 
5
 
• As conseqüências da qualidade da energia sobre a vida útil dos 
componentes elétricos. 
 A título de esclarecimento, a Figura 2 ilustra um levantamento feito nos EUA, 
mostrando o crescimento das cargas eletrônicas em relação à potência instalada de 
um sistema típico, com previsão até o ano 2000 [Projeto SIDAQEE2]. 
 
250
200
150
100
50
0
1960 1970 1980 1990 2000
Ano
 Concessionária Cargas Eletrônicas
Potência Instalada [GW]
 
 Figura 2- Crescimento de cargas eletrônicas 
Para exemplificar os impactos econômicos da qualidade da energia, a Figura 
3 mostra os custos associados a interrupções elétricas de até 1 minuto para diferentes 
setores econômicos. 
 
 
 
2 Todas as ilustrações apresentadas neste documento foram obtidas do projeto referenciado. 
6
 
 Figura 3 - Custo estimado - Interrupção de até 1 min 
 
Dentro do exposto, fica evidente a importância de uma análise e diagnóstico 
da qualidade da energia elétrica, no intuito de determinar as causas e as 
conseqüências dos distúrbios no sistema, além de apresentar medidas técnicas e 
economicamente viáveis para solucionar o problema. 
 
1.3 O controle da qualidade da energia elétrica 
 
O texto apresentado a seguir foi retirado do trabalho: “Continuidade nos 
Serviços de Distribuição de Energia Elétrica”, Conj. & Planej., Salvador: SEI, n. 
105, p. 36-40, Fev 2003 (César D. A. Belisário, Daniella A. Bahiense e Gecê M. 
Oliveira). 
A qualidade do setor elétrico de distribuição em específico é a performance 
das concessionárias no fornecimento de energia elétrica; seus parâmetros são: a 
conformidade, o atendimento ao consumidor e a continuidade. 
Esses parâmetros são pontos básicos para a definição dos diversos critérios de 
localização e arranjo das subestações, de critérios de escolha dos materiais e 
equipamentos de controle e proteção, regulação, e configuração da rede de 
distribuição. 
A conformidade está relacionada com os fenômenos associados à forma de 
onda de tensão, tais como: flutuações de tensão, distorções harmônicas e variações 
momentâneas de tensão. 
O atendimento abrange a relação comercial existente entre as concessionárias 
e o consumidor, considera a cortesia, o tempo de atendimento, às solicitações de 
serviços, o grau de presteza e o respeito aos direitos do consumidor. 
A continuidade corresponde ao grau de disponibilidade de energia elétrica ao 
consumidor. O ideal é que não haja interrupção no fornecimento de energia elétrica, 
ou, se houver, que seja a mínima possível e informada ao consumidor em tempo 
hábil, a fim de prevenir possíveis prejuízos decorrentes da falta de energia. Dentre os 
parâmetros de qualidade podemos considerar a continuidade o de maior relevância, 
porque afeta o cotidiano das pessoas e causa grandes transtornos por comprometer 
serviços essenciais. 
7
 
 
 
1.3.1 Continuidade de fornecimento 
Como anteriormente comentado, o controle da qualidade depende da 
definição apropriada de indicadores que representem o desempenho dos serviços 
prestados pelas concessionárias de energia. No que se refere à continuidade, os 
indicadores utilizados permitem o controle e monitoração do fornecimento de 
energia elétrica, a comparação de valores constatados ao longo de períodos 
determinados e, a partir de metas de qualidade definidas, a verificação do resultados 
atingidos. 
Os indicadores, além de refletirem os níveis de qualidade, possibilitam a 
imposição de limites aceitáveis de interrupção de fornecimento. Esses índices são 
ainda utilizados pelas concessionárias de energia elétrica como valores de referência 
para os processos de decisão nas etapas de planejamento, projeto, construção, 
operação e manutenção do sistema elétrico de distribuição. 
Em um contexto nacional, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) 
tem o papel de promover a qualidade da energia, regulamentar os padrões e garantir 
o atendimento aos mesmos, estimular melhorias, zelar direta e indiretamente pela 
observância da legislação, punir quando necessário, e também definir os indicadores 
para acompanhamento do desempenho das concessionárias. Cabe também ao órgão 
regulador estabelecer metas de melhoria de continuidade mediante contratos e/ou 
negociação com as concessionárias. 
A Portaria 046/78, do antigo DNAEE (Departamento Nacional de Águas e 
Energia Elétrica), estabeleceu os primeiros dispositivos do controle da continuidade, 
os quais, com a evolução do setor tornaram-se insuficientes. A implantação do novo 
modelo do setor elétrico configurou um monopólio natural regulado no segmento de 
distribuição, reforçando ainda mais a necessidade de apuração dos controles sobre a 
qualidade. A regulação pelo preço em vigor incentiva a assimetria de informação, 
pois as concessionárias não têm estímulos para fornecer dados relativos aos seus
custos. Como o nível de qualidade implica em custos, a tendência das 
concessionárias é manter esse nível no menor patamar possível, de modo a 
maximizar seus ganhos, correspondentes à margem entre o preço do serviço e o 
8
 
custo. Esses fatos, aliados à evolução dos recursos tecnológicos, tornaram imperativa 
a revisão desta portaria. 
Com a finalidade de atingir este objetivo foi editada a Resolução no 024/2000 
da ANEEL, que introduziu novos avanços, e reformulou os procedimentos de 
controle de qualidade sobre os aspectos da continuidade. 
Entre as medidas mais significativas estão a criação de procedimentos 
auditáveis, a uniformização do método de coleta de dados e registros dos mesmos, a 
forma de apresentação e a periodicidade do envio destes a ANEEL, de modo a 
possibilitar a análise e acompanhamento dos mesmos. 
Outra melhoria foi à introdução dos indicadores individuais, que tornou 
possível a avaliação das ocorrências de interrupção por unidade consumidora, o 
acompanhamento da agência reguladora e também do próprio consumidor. 
Atualmente esses índices podem ser solicitados às concessionárias. Entretanto, a 
partir de janeiro de 2005 será obrigatório à inclusão destes dados na fatura. 
A apuração dos dados de interrupção para os indicadores são realizadas com 
periodicidade mensal, trimestral e anual. 
Foram introduzidos novos critérios de formação de grupo de consumidores de 
características semelhantes e contíguos, geralmente pertencentes a uma determinada 
área de uma concessionária, que possibilitou o atendimento homogêneo. Esses 
conjuntos foram propostos pelas concessionárias a ANEEL, que após análise e 
aprovação, gerou uma resolução específica para cada concessionária com dados 
validados. 
Na resolução, estabeleceram-se padrões de referência baseados no 
levantamento de dados históricos de cada concessionária e a comparação destes entre 
as diversas empresas. 
O desenvolvimento de técnicas de comparação de desempenho entre as 
empresas de distribuição permitiu a formulação desses novos padrões e o 
estabelecimento de metas de melhoria dos índices de continuidade. 
As metas para os indicadores de continuidade individuais, coletivos (para 
cada conjunto de unidades consumidoras), ou globais (para o total da concessionária) 
foram definidas através de negociação entre as concessionárias e a ANEEL. Foram 
estabelecidas por concessionárias, com base nos valores históricos dos indicadores 
para os agrupamentos de consumidores, na análise comparativa de desempenho das 
9
 
empresas e nas metas de contratos de concessão, quando existentes. Essas metas são 
possíveis de renegociação quando das revisões tarifárias. 
Dos avanços obtidos pela resolução, podemos ainda ressaltar a exigência do 
envio dos indicadores a ANEEL, a imposição de penalidade por descumprimento das 
metas, o estabelecimento de prazos para o aviso de interrupção aos consumidores 
com a antecedência necessária e a obrigatoriedade da informação dos indicadores na 
fatura. Também se determinou a disponibilização do serviço de atendimento gratuito 
e permanente para o registro de reclamações dos consumidores e as solicitações de 
providências para serviços emergenciais. 
Os índices de continuidade adotados pelo órgão regulador são: 
A. Coletivos 
a) DEC: Duração equivalente de interrupção por unidade 
consumidora 
b) FEC: Freqüência equivalente de interrupção por unidade 
consumidora 
B. Individuais 
a) DIC: Duração de interrupção individual por unidade consumidora 
b) FIC: Freqüência de interrupção individual por unidade 
consumidora 
c) DMIC: Duração máxima de interrupção contínua por unidade 
consumidora 
Os indicadores coletivos são particularmente úteis à agência reguladora para 
atender suas necessidades de avaliação das concessionárias, enquanto os individuais 
servem mais especificamente ao interesse dos consumidores para avaliar o seu 
atendimento pela distribuidora. 
 Nas apurações dos indicadores acima todas as concessionárias devem 
considerar interrupções iguais ou maiores que 3 (três) minutos, e quando já estiver 
previsto no contrato de concessão, apuração com interrupções iguais ou maiores que 
1 (um) minuto, será apurado das duas formas. A partir de 2005 todas as empresas 
deverão considerar somente as interrupções com intervalos iguais ou maiores que 1 
(um) minuto, isto permite uma adequação de todas as distribuidoras ao padrão único 
de 1 (um) minuto no decorrer deste prazo, já que historicamente a maioria delas 
trabalhavam com interrupções iguais ou maiores a 3 (três) minutos. 
10
 
 
1.3.2 Evolução do desempenho da continuidade 
Em quatro anos de atuação da ANEEL, o padrão de continuidade do serviço 
de energia elétrica apresentou um ganho de eficiência significativo. No Brasil, no 
ano de 1997, registrou-se um DEC de 27,19% horas e um FEC de 21,68 
interrupções. Em 2001, esses valores foram de 9,05 horas e de 7,86 interrupções. 
Nas figuras 4 e 5 podem-se verificar as médias dos indicadores DEC e FEC 
para o estado da Bahia (COELBA – Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia) 
comparadas com os valores do Brasil. No Brasil, no período de 1996 a 2001, houve 
uma redução dos DEC e FEC, em cerca de 65% horas e 64% interrupções, enquanto 
na Bahia, neste mesmo período, a redução destes índices ficou em cerca de 25% 
horas e 8% de interrupções. 
É notória a ocorrência de uma redução acentuada nesses índices a partir da 
introdução da resolução no 24/00. No Brasil, no período após a implantação da 
ANEEL, até antes da vigência da referida resolução, ou seja, até o ano de 1999, 
houve uma redução dos DEC e FEC em cerca de 27% e 19% respectivamente, 
enquanto na Bahia, neste mesmo período, a redução destes índices ficou em cerca de 
21% e 8%. Após a implantação da resolução, entre 2000 a 2001, no Brasil o DEC e 
FEC ficaram com uma redução de 48%, e na Bahia uma redução no DEC de 13%, 
porém com um ligeiro aumento no FEC de 4,83%. 
A ANEEL vem implantando um sistema de monitoração da qualidade da 
energia elétrica, que dará à agência acesso direto e automático às informações sobre 
a qualidade no fornecimento, sem que dependa de dados encaminhados pelas 
empresas. Por via telefônica o sistema permite imediata recepção dos dados sobre 
interrupção e restabelecimento do fornecimento de energia elétrica e conformidade 
dos níveis de tensão nos pontos em que os equipamentos de monitoração estão 
instalados. Assim ele mede os indicadores da qualidade do serviço prestado pelas 
concessionárias de energia. 
Com o sistema, a ANEEL faz, numa determinada amostragem, o 
acompanhamento da qualidade de modo mais eficaz, além de poder auditar os dados 
fornecidos pelas concessionárias. Os indicadores apurados pelo sistema são: os de 
interrupção (DEC, FEC, DIC e FIC) relativos à duração e a freqüência por conjunto 
de consumidores e por consumidor individual e os dados de nível de tensão. 
11
 
 
1.3.3 Comentários finais 
A Resolução no 24 não esgota definitivamente o tema continuidade, devido à 
abrangência e importância do assunto. 
Encontram-se em fase de elaboração, através de consulta pública, uma minuta 
de resolução com o objetivo de alterar e complementar a resolução em vigor, 
considerando a necessidade de aperfeiçoar as regras estabelecidas. 
É importante considerar o dimensionamento adequado do nível de qualidade 
a ser alcançado, considerando o custo e o benefício dos investimentos que 
certamente será bancado pela sociedade, no momento em que é preciso ponderar se a 
prioridade é a melhoria dos índices de continuidade ou, por exemplo, a 
universalização dos serviços de eletricidade. 
É oportuno
observar que o cenário do setor elétrico aponta para uma matriz 
energética com uma maior participação de componentes de fonte de combustíveis 
fósseis e fontes alternativas, que representam, inicialmente, maiores custos para a 
sociedade. Vale considerar que para atender a universalização serão necessários 
grandes esforços em termos de investimentos. 
Na medida em que a regulamentação existente sinaliza a adoção de metas de 
continuidade gradativamente mais exigentes, haverá sempre uma tendência das 
concessionárias em adicionar aos investimentos uma sofisticação maior na qualidade 
dos materiais e padrões de instalação, e isto principalmente na área rural, onde se dá 
expansão das redes elétricas. 
Certamente, todos os consumidores merecem o mesmo nível de qualidade. 
Porém, cabe avaliar se num mesmo momento é melhor utilizar um padrão de 
continuidade menos exigente, do que o prolongamento da exclusão dos benefícios da 
energia elétrica de uma parcela da sociedade. 
O desafio atual do setor elétrico, no que tange ao controle da qualidade de 
distribuição, é encontrar padrões e metas para seus indicadores, que possam redundar 
em melhoria nos serviços de distribuição, sem com isso criar barreiras à expansão do 
setor. 
 
12
 
1.4 Termos e definições 
O objetivo desta seção é o de apresentar as definições aceitas para muitos dos 
termos encontrados na literatura nacional e internacional relacionados à qualidade da 
energia. Esta apenas se refere á definições básicas, tendo como intuito de apenas 
despertar ou formar uma idéia inicial a respeito do assunto. Termos como os que 
seguem são empregados em uma variedade de diferentes documentos e estão 
freqüentemente sujeitos a confusões. Definições mais precisas, quando convenientes, 
serão posteriormente apresentadas. 
 
Afundamento (Dip ou Sag): qualquer decréscimo na tensão de pequena duração 
(menor do que 1 minuto). 
Carga Crítica (Critical Load): dispositivos ou equipamentos identificados como 
importantes ou essenciais para a segurança de pessoas ou para a situação econômica 
do comércio/indústria. 
Distorção da Forma de Onda (Waveform Distortion): qualquer variação na 
qualidade da energia representada nas formas de ondas das tensões e correntes 
trifásicas. 
Distorção Harmônica (Harmonic Distortion): alteração na forma padrão da tensão 
ou corrente (onda senoidal) devido a um equipamento gerando freqüências diferentes 
das de 60 ciclos por segundo. 
Elevação (Swell): qualquer aumento de tensão de pequena duração (menor do que 
um minuto) . 
Interrupção (Interruption ou Outage): completa perda da energia elétrica 
Interrupção Momentânea (Momentary Outage): uma pequena interrupção na 
energia permanecendo entre 1/30 (dois ciclos) de um segundo a 3 segundos. 
Distúrbio (Disturbance): uma variação de tensão. Comumente, após a operação 
incorreta de determinado equipamento elétrico, por razões desconhecidas, o seu mal 
funcionamento será relacionado ao distúrbio de tensão. 
Oscilação ou Tremulação (Flicker): variação de tensão de pequena duração, mas 
longa o necessário para ser percebida pelos olhos humanos como uma oscilação de 
tensão. 
13
 
Ruído (Noise): qualquer sinal elétrico indesejado de alta freqüência que altera a 
forma de tensão padrão (onda senoidal). 
Sobretensão (Overvoltage): aumento do nível de tensão acima do normal (10% ou 
mais), com duração superior a um minuto. 
Subtensão (Drop ou Undervoltage): queda ou diminuição de tensão devido à partida 
de grandes motores ou perda de alimentadores ou transformadores sob carga. 
Algumas vezes é empregado para descrever afundamentos de tensão (voltage sags) 
ou subtensões (undervoltages). 
Tensão Nominal ou Normal (Nominal ou Normal Voltage): tensão nominal ou 
normal contratada para um sistema de determinada classe de tensão. 
Transitório (Transient, Spike ou Surge): um aumento inesperado no nível de tensão 
que tipicamente permanece por menos do que 1/120 de um segundo. 
 
1.5 Causas dos distúrbios 
Alguns distúrbios relacionados à qualidade da energia originam-se do próprio 
sistema da empresa. No entanto, as causas destes distúrbios estão, geralmente, além 
do controle das empresas. Como por exemplo, ações provocadas pela ação da 
natureza como: relâmpagos, contato de galhos de árvores, ventos fortes, contatos de 
animais, gelo, etc. Além destes, temos os eventos de causas aleatórias como: 
atividades de construção, acidentes envolvendo veículos motores, falhas de 
equipamentos. Somando-se ainda, as operações normais da empresa como 
chaveamentos, operações com bancos de capacitores e atividades de manutenção 
também podem gerar situações que venham a provocar determinados distúrbios 
sobre o sistema. 
Para limitar estes tipos de distúrbios sobre o sistema a um menor número 
possível de clientes, o sistema de distribuição das empresas emprega um 
considerável número de dispositivos tais como circuitos disjuntores, circuitos 
automáticos de religamento, barramentos e seccionadores para auxiliar no isolamento 
do defeito. 
Uma grande percentagem dos distúrbios relacionados à qualidade da energia, 
na realidade, originam-se, de uma maneira geral, de dentro das instalações 
industriais/comerciais. 
14
 
Dos distúrbios originados de dentro das instalações dos usuários podemos 
destacar como principais fontes: 
a) nas instalações comerciais: os sistemas de aquecimento ou resfriamento 
de motores; elevadores; refrigeradores, lâmpadas fluorescentes; 
condutores inadequados e aterramentos impróprios; maquinário de 
escritório (copiadoras, fax, impressoras a laser, etc.); circuitos 
sobrecarregados e interferência magnética. 
b) nas instalações industriais: reguladores de velocidade ajustável; 
capacitores para correção do fator de potência; motores elétricos de 
grande porte; geradores de emergência; condutores inadequados e 
aterramentos impróprios; circuitos sobrecarregados e interferência 
magnética. 
 
1.6 Tipos de distúrbios 
Os distúrbios de energia podem ser originados tanto nos sistemas e /ou 
equipamentos das empresas concessionárias como dos consumidores. Estes 
distúrbios podem ser classificados em categorias que podem variar quanto ao efeito, 
duração e intensidade. A Tabela 1 que segue, ilustra as categorias mais comuns dos 
distúrbios, suas causas e algumas soluções práticas. 
 
15
 
TABELA 1 – Categorias de classificação dos distúrbios considerando-se o seu efeito, 
duração e intensidade sobre determinado sistema 
 
Tipo do 
distúrbio 
Descrição Possíveis causas Efeitos Soluções 
Interrupção de 
energia 
Total interrupção 
do fornecimento 
de energia: 
 
Interrupção 
momentânea: 
permanece de 0,5 
s até 3 s 
 
Interrupção 
temporária: 
permanece de 3 s 
até 1 min 
 
Interrupção 
permanente: 
permanece por 
um período 
superior a 1 min 
Acidentes, ações da 
natureza, etc., os quais 
requerem a devida 
operação dos 
equipamentos da 
concessionária 
(fusíveis, religadores, 
etc.) 
 
Curto circuitos internos 
requerendo a devida 
operação de disjuntores 
e fusíveis ao nível do 
consumidor. 
Saída e/ou queda 
do sistema 
 
Perda de 
memória de 
controladores e 
computadores 
 
Avaria de 
hardware 
 
Avaria de 
produtos 
Uninterruptible 
Power Supply 
(UPS) – 
Suprimento de 
Força ou Energia 
Ininterrompível 
 
Gerador de 
emergência 
(interrupção 
permanente) 
 
Tipo do 
distúrbio 
Descrição Possíveis causas Efeitos Soluções 
Transitório Alterações 
súbitas nas 
formas CA, 
resultando um 
abrupto, mas 
breve aumento da 
tensão 
São causados por 
tempestades 
(relâmpagos), operação 
de fusíveis, religadores 
e disjuntores
da 
concessionária 
 
Causas internas são a 
entrada ou saída de 
grandes equipamentos 
e chaveamento de 
capacitores 
Erros de 
processamento e 
perda de dados. 
 
Queima de placas 
de circuitos, 
danos ao 
isolamento e 
avarias nos 
equipamentos 
elétricos 
Pára-raios 
 
Uninterruptible 
Power Supply 
(UPS) 
 
Transformadores 
de isolação 
 
Transformador de 
tensão constante 
 
Tipo do distúrbio Descrição Possíveis causas Efeitos Soluções 
Afundamento/elevaçã
o 
Qualquer 
decréscimo 
(afundamento) 
ou aumento 
(elevação) na 
tensão por um 
período de 
tempo entre 
meio ciclo a 3s 
 
Afundamentos 
de tensão 
correspondem a 
Parada ou partida 
de pesados 
(grandes) 
equipamentos 
 
Curto circuitos 
 
Falhas de 
equipamentos ou 
chaveamentos da 
concessionária 
Perda de 
memória e erros 
de dados 
 
Parada de 
equipamentos 
 
Oscilações 
luminosas 
 
Redução da 
vida útil e 
diminuição da 
Uninterruptible 
Power Supply 
(UPS) 
 
Transformador 
de tensão 
constante 
 
Reguladores de 
tensão 
16
 
87% de todos os 
distúrbios 
observados em 
um sistema de 
energia (de 
acordo com 
estudos do Bell 
Labs). 
velocidade e/ou 
parada de 
motores 
 
 
Tipo do 
distúrbio 
Descrição Possíveis causas Efeitos Soluções 
Ruído Sinal elétrico de 
alta freqüência 
indesejável que 
altera a forma de 
onda de tensão 
convencional 
(forma senoidal) 
Interferência da 
transmissão de rádio ou 
televisão 
 
Operação de 
equipamentos 
eletrônicos 
Perda de dados e 
erros de 
processamento 
 
Recepção 
distorcida de 
áudio e vídeo 
Uninterruptible 
Power Supply 
(UPS) 
 
Transformadores 
de isolação 
 
Filtros de linha 
 
Tipo do 
distúrbio 
Descrição Possíveis causas Efeitos Soluções 
Distorção 
harmônica 
Alteração no 
padrão normal da 
tensão (forma 
senoidal) devido 
a equipamentos 
gerando 
freqüências 
diferentes das de 
60 ciclos por 
segundo 
Dispositivos 
eletrônicos e cargas 
não lineares 
Aquecimento de 
equipamentos e 
condutores 
elétricos 
 
Decréscimo do 
desempenho de 
motores 
 
Operação 
indevida dos 
disjuntores, relés 
ou fusíveis 
Filtros 
harmônicos 
 
Transformadores 
de isolação 
 
Melhoras nos 
condutores e 
aterramento 
 
Cargas isoladas 
 
Reatores de linha 
 
Tipo do 
distúrbio 
Descrição Possíveis causas Efeitos Soluções 
Sub e 
Sobretensão 
Qualquer 
alteração abaixo 
ou acima do 
valor nominal da 
tensão que 
persista por mais 
de um min 
Sobrecarga nos 
equipamentos e 
condutores 
 
Flutuação de grandes 
cargas ou taps dos 
transformadores 
incorretamente 
ajustados 
 
Condutor 
desenergizado ou 
faltoso ou conexões 
elétricas indevidas 
Ofuscamento ou 
brilho da luz 
 
Parada de 
equipamentos 
 
Sobreaqueciment
o de motores 
 
Vida ou eficiência 
reduzida dos 
equipamentos 
Uninterruptible 
Power Supply 
(UPS) 
 
Transformadores 
de tensão 
constante 
 
Distribuição de 
equipamentos 
 
Motores de 
tensão reduzidas 
 
17
 
A Tabela 2 mostra as categorias e características típicas de fenômenos 
eletromagnéticos que contribuem para a perda da qualidade da energia em um 
determinado sistema elétrico. Grande parte destes fenômenos já receberam 
comentários iniciais quando da apresentação da Tabela 1. Esta Tabela (2) estará 
referenciada a todos os demais capítulos que dizem respeito a cada fenômeno em 
específico. A mesma é uma síntese de todos os distúrbio que eventualmente possam 
a vir a ocorrer sobre determinado sistema elétrico, trazendo as principais 
características pelas quais os fenômenos são definidos. 
No que segue, todos estes distúrbios serão novamente apresentados, 
procurando-se melhor caracterizá-los conforme o seu efeito, duração e intensidade 
sobre determinado sistema elétrico. 
18
 
Tabela 2 - Classes e características típicas de fenômenos eletromagnéticos nos 
sistema elétricos 
 
Fenômeno Conteúdo 
Espectral Típico
Duração 
Típica 
Amplitude de 
Tensão Típica 
Transitórios 
- Impulsivos 
 ns 5 ns < 50 ns 
 µs 1 µs 50 ns - 1 ms 
 ms 0,1 ms > 1 ms 
- Oscilatórios 
 Baixa Freqüência < 5 kHz 3 - 50 ms 0,4 p.u. 
 Média Freqüência 5 – 500 kHz 20 µs 0,4 p.u. 
 Alta Freqüência 0,5 - 5 MHz 5 µs 0,4 p.u. 
Variações de Curta Duração 
- Instantânea 
 Afundamento 0.5 - 30 ciclos 0,1 – 0,9 p.u. 
Elevação 0.5 - 30 ciclos 1,1 – 1,8 p.u. 
- Momentânea 
 Interrupção 0.5 ciclos -3 s < 0,1 p.u. 
Afundamento 30 ciclos - 3 s 0,1 – 0,9 p.u. 
Elevação 30 ciclos - 3 s 1,1 – 1,4 p.u. 
- Temporária 
 Interrupção 3 s - 1 min < 0,1 p.u. 
Afundamento 3 s - 1 min 0,1 – 0,9 p.u. 
Elevação 3 s - 1 min 1,1 – 1,2 p.u. 
Variações de Longa Duração 
 Interrupção Sustentada > 1 min 0,0 p.u. 
 Sub-tensão Sustentada > 1 min 0,8 – 0,9 p.u. 
Sobre-tensão Sustentada > 1 min 1,1 –1,2 p.u. 
Desequilíbrio de Tensão RP 0,5 - 2% 
Distorção da Forma de Onda 
 Nível CC RP 0 – 0,1% 
Harmônicos de ordem 0-100 RP 0 – 20% 
Inter-Harmônicos 0 - 6 kHz RP 0 – 2% 
 “Notching” RP 
Ruído faixa ampla RP 0 – 1% 
Flutuação de Tensão < 25 Hz intermitente 0,1 - 7% 
Variação da Freqüência do 
Sistema 
 < 10 s 
 
RP – Regime Permanente 
 
19
 
2 
TRANSITÓRIOS 
 
Conforme DUGAN et al. (1996), o termo transitório tem sido aplicado a 
análise das variações do sistema de energia para denotar um evento que é 
indesejável, mas momentâneo, em sua natureza. Ou ainda, entende-se por transitórios 
eletromagnéticos as manifestações ou respostas elétricas locais ou nas adjacências, 
oriundas de alterações súbitas nas condições operacionais de um sistema de energia 
elétrica. Geralmente, a duração de um transitório é muito pequena, mas de grande 
importância, uma vez que os equipamentos presentes nos sistemas elétricos estarão 
submetidos a grandes solicitações de tensão e/ou corrente. 
Os fenômenos transitórios podem ser classificados em dois grupos, os 
chamados transitórios impulsivos, causados por descargas atmosféricas, e os 
transitórios oscilatórios, causados por chaveamentos. 
 
 
2.1 Transitório impulsivo 
Um transitório impulsivo é uma súbita alteração não desejável no sistema, 
que se encontra em condição de regime permanente, refletido nas formas de ondas da 
tensão e corrente, ou ambas, sendo unidirecional na sua polaridade (primeiramente 
positivo ou negativo). Normalmente é causado por descargas atmosféricas com 
freqüências bastante diferentes daquela da rede elétrica. A Figura 6 ilustra uma 
corrente típica de um transitório impulsivo, oriundo de uma descarga atmosférica. 
Os transitórios impulsivos são normalmente caracterizados pelos seus tempos 
de aumento e decaimento, os quais podem ser revelados pelo conteúdo espectral do 
sinal em análise. Como exemplo, um transitório impulsivo 1,2x50-µs 2000-V 
nominalmente aumenta de zero até seu valor de pico de 2000 V em 1,2 µs e decai a 
um valor médio do seu pico em 50 µs. Como anteriormente citado, a causa mais 
20
 
comum de transitórios impulsivos é a descarga atmosférica. Devido à alta freqüência 
do sinal resultante, a forma dos transitórios impulsivos pode ser alterada rapidamente 
pelos componentes do circuito e apresentar características significantes quando 
observadas de diferentes partes do sistema de energia. 
 
 
 
Figura 6 - Corrente transitória impulsiva oriunda de uma descarga 
atmosférica 
 
Por se tratarem de transitórios causados por descargas atmosféricas, é de 
fundamental importância se observar qual o nível da tensão no ponto de ocorrência 
da descarga. 
Em sistemas
de distribuição o caminho mais provável para as descargas 
atmosféricas é através de um condutor fase, no primário ou no secundário, causando 
altas sobretensões no sistema. Uma descarga diretamente na fase geralmente causa 
“flashover” na linha próxima ao ponto de incidência e pode gerar não somente um 
transitório impulsivo, mas também uma falta acompanhada de afundamentos de curta 
duração e interrupções. Altas sobretensões transitórias podem também ser geradas 
por descargas que fluem ao longo do condutor terra. Existem numerosos caminhos 
através dos quais as correntes de descarga podem fluir pelo sistema de aterramento, 
tais como o terra do primário, o terra do secundário e as estruturas do sistema de 
distribuição. Os principais problemas de qualidade da energia causados por estas 
correntes no sistema de aterramento são os seguintes: 
21
 
• Elevação do potencial do terra local, em relação a outros terras, em vários 
kV. Equipamentos eletrônicos sensíveis que são conectados entre duas 
referências de terra, tal como um computador conectado ao telefone através 
de um “modem”, podem falhar quando submetidos aos altos níveis de 
tensão. 
• Indução de altas tensões nos condutores fase, quando as correntes passam 
pelos cabos a caminho do terra. 
Em se tratando de descargas em pontos de extra alta tensão, o surto se 
propaga ao longo da linha em direção aos seus terminais podendo atingir os 
equipamentos instalados em subestações de manobra ou abaixadoras. Entretanto, a 
onda de tensão ao percorrer a linha, desde o ponto de incidência até as subestações 
abaixadoras para a tensão de distribuição, tem o seu valor de máximo 
consideravelmente atenuado, e assim, consumidores ligados na baixa tensão não 
sentirão os efeitos advindos de descargas atmosféricas ocorridas a nível de 
transmissão. Contudo, os consumidores atendidos em tensão de transmissão e 
supostamente localizados nas proximidades do ponto de descarga, estarão sujeitos a 
tais efeitos, podendo ocorrer à danificação de alguns equipamentos de suas 
respectivas instalações. 
 
2.2 Transitório oscilatório 
Também como para o caso anterior, um transitório oscilatório é uma súbita 
alteração não desejável da condição de regime permanente da tensão, corrente ou 
ambas, onde as mesmas incluem valores de polaridade positivos ou negativos. É 
caracterizado pelo seu conteúdo espectral (freqüência predominante), duração e 
magnitude da tensão (Tabela 2). Estes transitórios são decorrentes da energização de 
linhas, corte de corrente indutiva, eliminação de faltas, chaveamento de bancos de 
capacitores e transformadores, etc.. 
Um transitório com um componente de freqüência primário menor do que 5 
kHz, e uma duração de 0,3 a 50 ms, é considerado um transitório oscilatório de 
baixa freqüência. Estes transitórios são freqüentemente encontrados nos sistemas 
de subtransmissão e de distribuição das concessionárias e são causados por vários 
tipos de eventos. O mais comum provem da energização de uma banco de 
22
 
capacitores, que tipicamente resulta em uma tensão transitória oscilatória com uma 
freqüência primária entre 300 e 900 Hz. O pico da magnitude pode alcançar 2,0 p.u., 
mas é tipicamente 1,3 a 1,5 p.u. com uma duração entre 0,5 e 3 ciclos dependendo do 
amortecimento do sistema. A Figura 7 ilustra o resultado da simulação da 
energização de um banco de 600 kVAr na tensão de 13,8 kV. 
 
 (V) : t(s) (1)p2a
0 5m 10m 15m 20m 25m 30m 35m 40m t(s)
-12.5k
-10k
-7.5k
-5k
-2.5k
0
2.5k
5k
7.5k
10k
12.5k
15k
17.5k
20k
22.5k
 (V)
 
 
Figura 7 - Transitório proveniente do chaveamento de um banco de capacitores 
 
Transitórios oscilatórios com freqüências primárias menor do que 300 Hz 
também podem ser encontrados em sistemas de distribuição. Estes são geralmente 
associados com a ferroressonância e a energização de transformadores. Transitórios 
envolvendo capacitores em série podem ser incluídos nesta categoria. Estes ocorrem 
quando o sistema responde pela ressonância com componentes de baixa freqüência 
na corrente de magnetização do transformador (segunda e terceira harmônica) ou 
quando condições não usuais resultam em ferroressonância. 
Oscilações de ferroressonância podem aparecer no TPC devido à 
possibilidade de uma capacitância entrar em ressonância com algum valor particular 
de indutância dos componentes que contem núcleo de ferro. Esta situação não é 
desejável no caso dos TPCs, uma vez que informações indesejáveis poderiam ser 
transferidas aos relés e aos instrumentos de medição. 
23
 
 
A Figura 8 ilustra o fenômeno da ferroressonância envolvendo um 
transformador a vazio. 
 
 
Figura 8 - Transitório oscilatório de baixa freqüência causado pelo fenômeno da 
ferroressonância em um transformador a vazio 
 
Um transitório com componentes de freqüência entre 5 e 500 kHz, com uma 
duração medida em microssegundos (ou vários ciclos da freqüência principal), é 
referenciado como transitório oscilatório de média freqüência. Estes podem ser 
causados pelo chaveamento de disjuntores para a eliminação de faltas e podem 
também ser o resultado de uma resposta do sistema á um transitório impulsivo. A 
título de ilustração, toma-se como referência as Figuras 9 e 10, as quais ilustram um 
circuito equivalente para o estudo de tensões transitórias de restabelecimento (TRV) 
e a resposta do sistema à operação do disjuntor respectivamente. 
 
 
24
 
 
Figura 9 - Circuito equivalente para o estudo das tensões transitórias de 
restabelecimento quando da eliminação de uma falta 
 
 
Figura 10 - Sobretensão decorrente da eliminação de uma falta 
 
Como se pode observar, na figura 10, o pico de tensão pode atingir, no 
máximo, 2 vezes o valor de pico nominal. Estas sobretensões, como já foi dito para 
transitórios de baixa freqüência, quando aplicadas a equipamentos, podem ocasionar 
uma série de efeitos indesejáveis. 
Transitórios oscilatórios com um componente de freqüência maior do que 500 
kHz e com uma duração típica medida em microssegundos (ou vários ciclos da 
freqüência principal) são considerados transitórios oscilatórios de alta 
freqüência. Estes transitórios são freqüentemente resultados de uma resposta local 
do sistema a um impulso transitório. Podem ser causados por descargas atmosféricas 
ou por chaveamento de circuitos indutivos. 
A desenergização de cargas indutivas pode gerar impulsos de alta freqüência. 
Apesar de serem de curta duração, estes transitórios podem interferir na operação de 
cargas eletrônicas. Filtros de alta-frequência e transformadores isoladores podem ser 
usados para proteger as cargas contra este tipo de transitório. 
Considerando o crescente emprego de capacitores pelas concessionárias para 
a manutenção dos níveis de tensão, e pelas indústrias com vistas à correção do fator 
de potência, tem-se tido uma preocupação especial no que se refere à possibilidade 
de se estabelecer uma condição de ressonância, devido às oscilações de altas 
25
 
freqüências, entre o sistema da concessionária e a indústria, e assim ocorrer uma 
amplificação das tensões transitórias, bem superiores às citadas anteriormente, 
podendo atingir níveis de 3 a 4 p.u. 
Um procedimento comum para limitar a magnitude da tensão transitória é 
transformar os bancos de capacitores do consumidor, utilizados para corrigir o fator 
de potência, em filtros harmônicos. Uma indutância em série com o capacitor 
reduzirá a tensão transitória na barra do consumidor a níveis aceitáveis. No sistema 
da concessionária, utiliza-se o chaveamento dos bancos com resistores de pré-
inserção. Com a entrada
deste resistor no circuito, o primeiro pico do transitório, o 
qual causa maiores prejuízos, é significativamente amortecido. 
Conforme apresentado, algumas técnicas podem ser utilizadas na tentativa de 
se reduzir os níveis dos transitórios causados seja por chaveamentos ou por 
descargas atmosféricas. Entretanto, em alguns casos, como por exemplo, os 
transitórios oriundos de surtos de chaveamento em redes de distribuição, podem ter 
seu grau de incidência e magnitudes reduzidas através de uma reavaliação das 
filosofias de proteção e investimentos para melhorias nas redes. Esta última medida 
visa o aumento da capacidade da rede, portanto, evitando que bancos de capacitores 
venham a ser exigidos. 
 
26
 
3 
VARIAÇÕES DE LONGA DURAÇÃO NA TENSÃO 
 
 
Dos problemas relacionados às variações na tensão, citamos os efeitos de 
longa duração por um período superior a 1 min, que podem ser caracterizados como 
desvios que ocorrem no valor eficaz da tensão, na freqüência do sistema. Estas 
variações podem estar associadas à sobre ou subtensão e faltas sustentadas. No caso 
de sobre ou subtensão, geralmente, não resultam de falhas do sistema, mas são 
causadas por variações na carga e ou operações de chaveamento sobre o mesmo. Tais 
variações são tipicamente apresentadas e analisadas como gráficos do sinal de tensão 
(rms – root mean square) versus o tempo . 
 
3.1 Sobretensão 
Podemos designar uma sobretensão como sendo um aumento no valor eficaz 
da tensão CA, maior do que 110% (valores típicos entre 1,1 e 1,2 p.u.) na freqüência 
do sistema, por uma duração maior do que 1 min (Tabela 2). Sobretensões, 
usualmente resultam do desligamento de grandes cargas ou energização de um banco 
de capacitores. Taps dos transformadores incorretamente conectados também podem 
resultar em sobretensões no sistema. 
Geralmente, são instalados nas indústrias bancos de capacitores, normalmente 
fixos, para correção do fator de potência ou mesmo para elevação da tensão nos 
circuitos internos da instalação. Nos horários de ponta, quando há grandes 
solicitações de carga, o reativo fornecido por estes bancos é desejável. Entretanto, no 
horário fora de ponta, principalmente no período noturno, tem-se um excesso de 
reativo injetado no sistema, o qual se manifesta por uma elevação da tensão. 
Com relação às conseqüências das sobretensões de longa duração, estas 
podem resultar em falha dos equipamentos. Os dispositivos eletrônicos podem sofrer 
danos durante condições de sobretensões, embora transformadores, cabos, 
disjuntores, TCs, TPs e máquinas rotativas, geralmente, não apresentam falhas 
imediatas. Entretanto, tais equipamentos, quando submetidos a repetidas 
sobretensões, poderão ter as suas vidas úteis reduzidas. Relés de proteção também 
poderão apresentar falhas de operação durante as sobretensões. Uma observação 
27
 
importante, diz respeito à potência reativa fornecida pelos bancos de capacitores, que 
aumentará com o quadrado da tensão, durante uma condição de sobretensão. 
Dentre algumas opções para a solução de tais problemas, destaca-se a troca 
de bancos de capacitores fixos por bancos automáticos, tanto em sistemas das 
concessionárias como em sistemas industriais, possibilitando um maior controle do 
nível da tensão e a instalação de compensadores estáticos de reativos. 
 
3.2 Subtensão 
Já a subtensão apresenta características opostas, sendo que agora, um 
decréscimo no valor eficaz da tensão AC para menos de 90% na freqüência do 
sistema, também com uma duração superior a 1 min, é caracterizado (Tabela 1). 
As subtensões são decorrentes, principalmente, do carregamento excessivo de 
circuitos alimentadores, os quais são submetidos a determinados níveis de corrente 
que, interagindo com a impedância da rede, dão origem a quedas de tensão 
acentuadas. Outros fatores que contribuem para as subtensões são: a conexão de 
cargas à rede elétrica, o desligamento de bancos de capacitores e, conseqüentemente, 
o excesso de reativo transportado pelos circuitos de distribuição, o que limita a 
capacidade do sistema no fornecimento de potência ativa e ao mesmo tempo eleva a 
queda de tensão. 
A queda de tensão por fase é função da corrente de carga, do fator de potência 
e dos parâmetros R e X da rede, sendo obtidos através da equação (1). 
 
 ∆V I(Rcos Xsen )= +φ φ (1) 
onde: 
 ∆V- queda de tensão por fase; 
 I - corrente da rede; 
 R - resistência por fase da rede; 
X - reatância por fase da rede; 
 cosφ - fator de potência. 
 A partir da equação (1) pode-se concluir que aqueles consumidores mais 
distantes da subestação estarão submetidos a menores níveis de tensão. Além disso, 
28
 
quanto menor for o fator de potência, maiores serão as perdas reativas na 
distribuição, aumentando a queda de tensão no sistema. 
Para evidenciar a influência do fator de potência na tensão, a Figura 11 ilustra 
o perfil de tensão ao longo de um alimentador. 
Dentre os problemas causados por subtensões de longa duração, destacam-se: 
• Redução da potência reativa fornecida por bancos de capacitores ao 
sistema; 
• Possível interrupção da operação de equipamentos eletrônicos, tais como 
computadores e controladores eletrônicos; 
• Redução de índice de iluminamento para os circuitos de iluminação 
incandescente, conforme ilustra a Figura 12; 
• Elevação do tempo de partida das máquinas de indução, o que contribui 
para a elevação de temperatura dos enrolamentos e 
• Aumento nos valores das correntes do estator de um motor de indução 
quando alimentado por uma tensão inferior à nominal, como mostra a Figura 13. 
Desta forma tem-se um sobreaquecimento da máquina, o que certamente reduzirá a 
expectativa de vida útil da mesma. 
 
Distância 
0
-2
-4
-6
-8
[%]
Fp. Médio=0.85 Fp. Médio=0.7
V
 
 Figura 11 - Perfil de tensão ao longo de um alimentador em 
função do fator de potência. 
 
29
 
 Potência Consumida [W]
Nominal Queda - 2.5% Queda - 5% Queda - 7.5% Queda - 10%
0
20
40
60
80
100
120
 
 Figura 12 - Potência consumida por uma lâmpada incandescente de 100W para 
diferentes valores de tensão. 
 
 Elevação da Corrente [%]
Queda - 5% Queda - 10% Queda - 15%
0
2
4
6
8
10
12
14
 
Figura 13 - Elevação de corrente num motor de indução de 5CV em função da 
tensão de alimentação. 
 
Para minimizar estes problemas, as medidas corretivas geralmente envolvem 
uma compensação da impedância Z, ou a compensação da queda de tensão IR + jIX, 
causada pela impedância. 
As opções para o melhoramento da regulação de tensão são: 
• instalar reguladores de tensão para elevar o nível da tensão; 
• instalar capacitores “shunt” para reduzir a corrente do circuito; 
• instalar capacitores série para cancelar a queda de tensão indutiva (IX); 
• instalar cabos com bitolas maiores para reduzir a impedância Z; 
30
 
• mudar o transformador de serviço para um de capacidade maior reduzindo 
assim a impedância Z; e 
• instalar compensadores estáticos de reativos, os quais tem os mesmos 
objetivos que os capacitores, para mudanças bruscas de cargas. 
Existe uma variedade de dispositivos usados para regulação de tensão. Tais 
dispositivos são tipicamente divididos em três classes: 
• Transformadores de tap variável: Existem transformadores de tap variável 
com acionamento mecânico ou eletrônico. A maioria destes são do tipo 
autotransformador, embora existam numerosas aplicações de 
transformadores de dois e três enrolamentos com comutadores de tap. Os 
do tipo mecânico são para cargas que variam lentamente, enquanto que os 
eletrônicos podem responder rapidamente
às mudanças de tensão. 
• Dispositivos de isolação com reguladores de tensão independentes: 
Dispositivos de isolação incluem sistemas UPS (Uninterruptible Power 
Supply), transformadores ferroressonantes (tensão constante), conjuntos 
M-G, etc. Estes são equipamentos que isolam a carga da fonte de 
suprimento através de algum método de conversão de energia. Assim, a 
saída do dispositivo pode ser separadamente regulada e manter constante a 
tensão, desprezando as variações provenientes da fonte principal. 
• Dispositivos de compensação de impedância: Capacitores “shunt” ajudam 
a manter a tensão pela redução da corrente de linha ou através da 
compensação de circuitos indutivos. Estes capacitores podem ser fixos ou 
chaveados dependendo do tipo e da necessidade do sistema. Capacitores 
em série são relativamente raros, mas são muito úteis em algumas cargas 
impulsivas como britadeiras, etc. Estes capacitores compensam grande 
parte da indutância dos sistemas. Se o sistema é altamente indutivo, a 
impedância é significativamente reduzida. Se o sistema não é altamente 
indutivo, mas tem uma alta proporção de resistência, os capacitores série 
não serão muito efetivos. Compensadores estáticos de reativos podem ser 
aplicados tanto em sistemas das concessionárias como industriais. Eles 
ajudam a regular a tensão pela rápida resposta ao suprir ou consumir 
energia reativa. Existem três tipos principais de compensadores estáticos 
31
 
de reativos: o reator controlado a tiristor, o capacitor chaveado a tiristor e 
o reator a núcleo saturado. Estes equipamentos são muito usados em 
cargas geradoras de oscilações (flicker), tais como fornos a arco e em 
outras cargas que variam randomicamente. 
 
3.3 Interrupções sustentadas 
Quando o fornecimento de tensão permanece em zero por um período de 
tempo que excede 1 min, a variação de tensão de longa duração é considerada como 
uma interrupção sustentada. As interrupções maiores do que 1 mim são 
geralmente permanentes e requerem intervenção humana para reparar e retornar o 
sistema à operação normal no fornecimento de energia (Tabela 2). 
As interrupções sustentadas podem ocorrer de forma inesperada ou de forma 
planejada. A maioria delas ocorre inesperadamente e as principais causas são falhas 
nos disjuntores, queima de fusíveis; falha de componentes de circuito alimentador, 
etc. Já as interrupções planejadas são feitas geralmente para executar manutenção na 
rede, ou seja, serviços como troca de cabos e postes, mudança do tap do 
transformador, alteração dos ajustes de equipamentos de proteção, etc. 
Seja a interrupção de natureza sustentada ou inesperada, o sistema elétrico 
deve ser projetado e operado de forma a garantir que: 
• o número de interrupções seja mínimo; 
• uma interrupção dure o mínimo possível e 
• o número de consumidores afetados seja pequeno. 
Ao ocorrer uma falta de caráter permanente, o dispositivo de proteção do 
alimentador principal executa 3 ou 4 operações na tentativa de se restabelecer o 
sistema, até que o bloqueio definitivo seja efetuado. A duração desta interrupção 
pode atingir de vários minutos a horas (em média 2 horas), dependendo do local da 
falta, do tipo de defeito na rede e também da operacionalidade da equipe de 
manutenção. Em redes aéreas, a localização do defeito não demora muito tempo, ao 
passo que em redes subterrâneas necessita-se de um tempo considerável, o que 
contribui para o comprometimento da qualidade do fornecimento. Entretanto, a 
probabilidade de ocorrer uma falta em redes subterrâneas é muito menor do que em 
redes aéreas. 
32
 
A conseqüência de uma interrupção sustentada é o desligamento dos 
equipamentos, exceto para aquelas cargas protegidas por sistemas “no-breaks” ou 
por outras formas de armazenamento de energia. Como já foi colocado 
anteriormente, no caso de interrupções de curta duração, o desligamento de 
equipamentos acarreta grandes prejuízos às indústrias. No caso de interrupção 
sustentada o prejuízo é ainda maior, visto que o tempo de duração da interrupção é 
muito grande, comparado com o da interrupção de curta duração, retardando a 
retomada do processo produtivo. 
 
33
 
4 
VARIAÇÕES DE TENSÃO DE CURTA DURAÇÃO 
 
Estas variações podem ser designadas como instantâneas (afundamentos e 
elevações de 0,5 a 30 ciclos), momentâneas (interrupções de 0,5 a 3 s e 
afundamentos/elevações de 30 ciclos a 3 s), ou temporárias (interrupções e 
afundamentos/elevações de 3 s a 1 min), conforme definido na Tabela 2. Variações 
de tensão de curta duração são causadas por condições de faltas, energização de 
grandes cargas que requerem altas correntes de partida, ou a perda intermitente de 
conexões nos cabos do sistema. Dependendo da localização da falta e das condições 
do sistema, a falta pode ou causar um decréscimo da tensão (afundamento) ou um 
aumento da tensão (elevação), ou ainda, a completa perda da tensão (interrupção). A 
condição de falta pode estar próxima ou longe do ponto de interesse. Em ambos os 
casos, o impacto da tensão durante a condição de falta, é uma variação de curta 
duração até que os dispositivos de proteção operem para limpar a falta. 
 
4.1 Interrupções de curta duração 
Uma interrupção ocorre quando o fornecimento de tensão ou corrente de 
carga decresce para um valor menor do que 0,1 p.u. por um período de tempo que 
não excede 1 mim. 
As interrupções podem ser resultantes de faltas no sistema de energia, falhas 
nos equipamentos e mal funcionamento de sistemas de controle. As interrupções são 
medidas pela sua duração desde que a magnitude da tensão é sempre menor do que 
10% da nominal. A duração de uma interrupção, devido a uma falta sobre o sistema 
da concessionária, é determinado pelo tempo de operação dos dispositivos de 
proteção empregados. Religadores programados para operar instantaneamente, 
geralmente, limitam a interrupção a tempos inferiores a 30 ciclos. Religadores 
temporizados podem originar interrupções momentâneas ou temporárias, 
dependendo da escolha das curvas de operação do equipamento. A duração de uma 
interrupção devido ao mal funcionamento de equipamentos é irregular. 
Algumas interrupções podem ser precedidas por um afundamento de tensão 
(item 4.2) quando estas são devidas a faltas no sistema supridor. O afundamento 
34
 
ocorre no período de tempo entre o início de uma falta e a operação do dispositivo de 
proteção do sistema. A Figura 14 mostra uma interrupção momentânea devido a um 
curto-circuito, sendo precedida por um afundamento. Observa-se que a tensão cai 
para um valor de 20%, com duração de 3 ciclos e, logo após, ocorre à perda total do 
suprimento por um período de 1,8 s até a atuação do religador. 
 
 
Figura 14 - Interrupção momentânea devido a um curto-circuito e 
 subseqüente religamento 
 
Seja, por exemplo, o caso de um curto-circuito no sistema supridor da 
concessionária. Logo que o dispositivo de proteção detecta a corrente de curto-
circuito, ele comanda a desenergização da linha com vistas a eliminar a corrente de 
falta. Somente após um curto intervalo de tempo, o religamento automático do 
disjuntor ou religador é efetuado. Entretanto, pode ocorrer que, após o religamento, o 
curto persista e uma seqüência de religamentos pode ser efetuada com o intuito de 
eliminar a falta. A Figura 15 ilustra uma seqüência de religamentos com valores 
típicos de ajustes do atraso. 
35
 
Isc 30 5 15 30
 Ciclos Segundos Segundos Segundos
 
Figura 15 - Seqüência
de manobras efetuadas por 
dispositivos automáticos de proteção 
 
Sendo a falta de caráter temporário, o equipamento de proteção não 
completará a seqüência de operações programadas e o fornecimento de energia não é 
interrompido. Assim, grande parte dos consumidores, principalmente em áreas 
residenciais, não sentirão os efeitos da interrupção. Porém, algumas cargas mais 
sensíveis do tipo computadores e outras cargas eletrônicas estarão sujeitas a tais 
efeitos, a menos que a instalação seja dotada de unidades UPS (Uninterruptible 
Power Supply), as quais evitarão maiores conseqüências na operação destes 
equipamentos, na eventualidade de uma interrupção de curta duração. 
Alguns dados estatísticos revelam que 75% das faltas em redes aéreas são de 
natureza temporária. No passado, este percentual não era considerado preocupante. 
Entretanto, com o crescente emprego de cargas eletrônicas, como inversores, 
computadores, videocassetes, etc., este número passou a ser relevante nos estudos de 
otimização do sistema, pois é, agora, tido como responsável pela saída de operação 
de diversos equipamentos, interrompendo o processo produtivo e causando enormes 
prejuízos às indústrias. 
Atentos a este problema, algumas concessionárias têm mudado a filosofia de 
proteção com o objetivo de diminuir o número de consumidores afetados pelas 
interrupções. Na filosofia de proteção coordenada, o dispositivo de proteção do 
alimentador principal, seja o religador ou o disjuntor, sempre opera uma ou duas 
36
 
vezes antes da operação do dispositivo à jusante, geralmente, um fusível. Como pode 
ser observado na Figura 16, nesta filosofia, todos os consumidores do alimentador 
sentiriam as curtas interrupções, fazendo aumentar o índice de freqüência de 
interrupção por consumidor (FEC), o qual é monitorado pelas concessionárias. 
 
Ramal
Alim. Principal
Ramal
Defeituoso
 
Figura 16 - Diagrama unifilar de um sistema de distribuição, 
nova filosofia de proteção 
 
4.2 Afundamento de tensão 
Dependendo da localização da falta e das condições do sistema, a falta pode 
causar um decréscimo temporário de 10-90% no valor eficaz da tensão do sistema 
(0,1 e 0,9 p.u., na freqüência fundamental), podendo permanecer por um período de 
meio ciclo até 1 min (Tabela 2). Afundamentos de tensão são usualmente associados 
á faltas no sistema (curtos-circuitos ocorridos nas redes de distribuição), mas podem 
também ser causados pela energização de grandes cargas ou a partida de grandes 
motores e pela corrente de magnetização de um transformador. Segundo a literatura 
consultada (HUANG et al., 1998), quando a tensão do sistema cai de 30% ou mais, o 
estado deste é considerado crítico. 
Dependendo da sua duração estes eventos podem estar associados a três 
categorias, sendo estas: instantâneas, momentâneas e temporárias, as quais 
coincidem com as três categorias das interrupções e elevações já comentadas. Estes 
tempos de permanência sobre o sistema correspondem aos tempos de operação 
típicos dos dispositivos de proteção das concessionárias, tão bem como as divisões 
recomendadas pelas organizações técnicas internacionais. 
37
 
A Figura 16 ilustra uma subtensão de curta duração típica, causada por uma 
falta fase-terra. Observa-se um decréscimo de 80% na tensão por um período de 
aproximadamente 3 ciclos, até que o equipamento de proteção da subestação opere e 
elimine a corrente de falta. Neste caso, de acordo com a Tabela 2, a subtensão é de 
caráter instantâneo. Entretanto, as características e o número de subtensões diante de 
uma determinada falta dependem de vários fatores como: a natureza da falta, sua 
posição relativa a outros consumidores ligados na rede e o tipo de filosofia de 
proteção adotada no sistema. 
 
 
 
Figura 16 – Afundamento de tensão causado por uma falta fase-terra 
 
Nesta situação, observa-se a concessionária afetando os consumidores. 
Porém, pode ocorrer uma situação em que o curto-circuito se localize dentro de uma 
instalação industrial ou comercial e, desta forma, venha a causar subtensões em 
consumidores localizados em outros pontos da rede. Ressalta-se que, neste caso, as 
quedas de tensão são de níveis menores devido à impedância do transformador de 
entrada que limita a corrente de curto-circuito. Acrescenta-se ainda que, em 
transformadores de conexão ∆-Y, a corrente de seqüência zero, oriunda de faltas 
assimétricas, é eliminada do circuito. 
38
 
Para ilustrar a subtensão causada pela partida de um motor de indução e 
comparar com o caso anterior, tem-se a Figura 17. Como é de conhecimento, durante 
a partida de um motor de indução, este absorve uma corrente de 6 a 10 vezes a 
corrente nominal, resultando em uma queda significativa na tensão fornecida. 
Observa-se que, neste caso, a tensão cai rapidamente para 0,8 p.u. e, num período de 
aproximadamente 3 s, retorna ao seu valor nominal. 
 
 
 
Figura 17 – Afundamento de tensão causado pela partida de um motor de indução 
 
Como efeito destes distúrbios tem-se, principalmente, a má operação de 
equipamentos eletrônicos, em especial os computadores, que tem sido alvo de 
preocupações em órgãos de pesquisa em qualidade da energia. Entretanto, determinar 
os níveis de sensibilidade de tais equipamentos torna-se uma tarefa difícil, devido ao 
grande número de medições necessárias para a coleta de dados, e ainda, as 
dificuldades de se ter equipamentos de medição em condições reais de campo. 
Os níveis de sensibilidade apresentados a seguir foram determinados a partir 
de um estudo de casos realizado pelo EPRI (Electric Power Research Institute), com 
exceção daqueles referentes a computadores, os quais foram estabelecidos pela ANSI 
39
 
(American Nacional Standarsds Institute) e IEEE (Institute of Electrical and 
Electronics Engineers) - (Projeto SIDAQEE): 
a) Controladores de resfriamento 
 Estes apresentam uma sensibilidade muito grande as subtensões, quando 
estas atingem níveis em torno de 80% da nominal, desconsiderando o 
período de duração. Exemplos: torres de resfriamento e condensadores. 
b) Testadores de “chips” eletrônicos 
 Estes são muito sensíveis às variações de tensão e, devido à complexidade 
envolvida, freqüentemente requerem 30 minutos ou mais para reiniciarem a 
linha de testes. Tais testadores, compostos de cargas eletrônicas tipo: 
impressoras, computadores, monitores, etc., normalmente saem de operação 
se a tensão excursionar abaixo de 85% da nominal. 
c) Acionadores CC 
 São utilizados em grande escala em processos industriais, desta forma é 
importante que se mantenha uma qualidade no suprimento de energia destas 
cargas. A partir de resultados preliminares de monitorações, estes se 
mostram sensíveis quando a tensão é reduzida para próximo de 88% da 
nominal, ou seja, apresentam um alto nível de sensibilidade. 
d) PLC’s 
 Controladores Lógicos Programáveis robustos, pertencendo, portanto, a uma 
geração mais antiga, admitem zero de tensão por até 15 ciclos. Porém, os 
mais modernos, dotados de uma eletrônica mais sofisticada, começam a 
apresentar problemas na faixa de 50-60% da tensão nominal. 
e) Robôs 
 Robôs geralmente requerem uma tensão estritamente constante, para 
garantir uma operação apropriada e segura. Portanto, estes tipos de 
máquinas são freqüentemente ajustadas para saírem de operação, ou 
desconectadas do sistema de distribuição, quando a tensão atinge níveis de 
90% da nominal. 
f) Computadores 
 Conforme mencionado anteriormente, os computadores configuram-se a 
principal fonte de preocupação no que se refere as subtensões, uma vez que 
os dados armazenados na memória podem ser
totalmente perdidos em 
40
 
condições de subtensões indesejáveis. Assim, foi estabelecido pela 
ANSI/IEEE, limites de tolerância para computadores relativos a distúrbios 
no sistema elétrico. Estes trabalhos conduziram à Figura 18, onde os níveis 
de tensão abaixo da nominal representam os limites, dentro dos quais, um 
computador típico pode resistir a distúrbios de subtensões sem apresentar 
falhas. Nota-se que a suportabilidade de um computador é grandemente 
dependente do período de duração do distúrbio. 
 
0.001 0.50.01 1.00.1 6 10001003010
Tempo em Ciclos (60 Hz)
106%
87%
100
115%
30%0
200
T
en
sã
o 
[%
]
400
Nível de Tensão Passível de Ruptura
300
Envoltória da Tensão de
Tolerância do Computador
Falta de Energia de
Armazenamento
 
 
Figura 18 - Tolerâncias típicas de tensão para computadores (curva CBEMA – 
Computer Business Equipment Manufacturers Association) 
 
g) Videocassetes, forno de microondas e relógios digitais 
 Estas cargas são essencialmente domésticas e, de certa forma, apresentam-se 
pouco sensíveis às variações de tensão, o que pode ser verificado através da 
Figura 19. 
 
41
 
0.1 1 10 100 1000
Tempo em ciclos
0
20
40
60
80
100
Região de Má Operação:
„ VCR’s
„ Fornos de Microondas
„ Relógios Digitais
T
en
sã
o 
(%
 d
a 
N
om
in
al
)
 
Figura 19 - Limiares de tensão para operação segura de vídeos, microondas e 
relógios digitais 
 
Diante de tais problemas, as variações de tensão constituem-se num 
importante item de qualidade, merecendo atenção por parte das concessionárias, 
fabricantes de equipamentos e consumidores, além de pesquisadores da área de 
qualidade da energia elétrica. 
Existem várias medidas que podem ser tomadas no sentido de diminuir o 
número e a severidade das subtensões de curta duração. Algumas destas são: 
 
a) Utilização de transformadores ferroressonantes, conhecidos também 
como CVTs (“Constant Voltage Transformers”) 
 Este equipamento pode contornar a maioria das condições de afundamentos. 
São utilizados especialmente para cargas com potências constantes e de 
pequenos valores. Transformadores ferroressonantes são basicamente 
transformadores de relação de transformação 1:1, altamente excitados em 
suas curvas de saturação, fornecendo assim uma tensão de saída que não é 
significativamente afetada pelas variações da tensão de entrada. A Figura 20 
ilustra um circuito típico de transformadores ferroressonantes. 
42
 
 
Figura 20 - Transformador ferroressonante 
 
A Figura 21 mostra o melhoramento obtido em um controlador de processos 
aumentando a sua capacidade de suportar afundamentos. O controlador de 
processos pode suportar um afundamento abaixo de 30% da nominal 
dispondo de um transformador ferroressonante de 120VA. Sem o seu uso, 
este percentual fica em torno de 82%. 
 
 
 
Com 
Sem
43
 
Figura 21 - Melhoramento contra afundamentos através de um transformador 
ferroressonante. 
 
b) Utilização de UPS’s 
 Os tipos básicos de UPSs (Uninterruptile Power Supply) fundamentam-se 
nas operações on-line e standby. A UPS híbrida, que corresponde a uma 
variação da UPS standby, também pode ser usada para interrupções de 
longa duração. 
 A Figura 22 mostra uma configuração típica de uma UPS on-line. Nesta 
topologia, onde a carga é sempre alimentada através da UPS, à tensão CA 
de entrada é convertida em tensão CC, a qual carrega um banco de baterias, 
sendo esta então, invertida novamente para tensão CA. Ocorrendo uma falha 
no sistema CA de entrada, o inversor é alimentado pelas baterias e continua 
suprindo a carga. 
 
 
 
Figura 22 - UPS on-line 
 
Uma unidade UPS standby, mostrada na Figura 23, é às vezes chamada de 
UPS off-line, visto que o suprimento normal de energia é usado para 
energizar o equipamento até que um distúrbio seja detectado. Uma chave 
transfere a carga para o conjunto bateria-inversor. 
 
44
 
 
 Figura 23 - UPS Standby 
 
 Similarmente à topologia standby, a unidade UPS híbrida utiliza um 
regulador de tensão na saída para prover a regulação e manter 
momentaneamente o suprimento, quando da transferência de fonte 
convencional para a fonte UPS. Este arranjo é mostrado na Figura 24. 
 
 
Figura 24 - UPS Híbrida. 
 
c) Utilização de um dispositivo magnético supercondutor de 
armazenamento de energia 
 Este dispositivo utiliza um magneto supercondutor para armazenar energia 
da mesma forma que uma UPS utiliza baterias. Os projetos na faixa de 1 a 5 
MJ são chamados de micro-SMES (Superconducting Magnetic Energy 
Storage). A principal vantagem deles é a grande redução do espaço físico 
necessário ao magneto, se esta solução é comparada ao espaço para as 
baterias. Os projetos iniciais dos micro-SMES estão sendo testados em 
Banco 
45
 
vários locais nos EUA com resultados favoráveis. A Figura 25 mostra um 
diagrama on-line deste dispositivo. 
 
 
Figura 25 - Diagrama on-line de um dispositivo supercondutor 
de armazenamento de energia 
 
d) Utilização de métodos de partida de motores 
Dentre os mais utilizados pode-se citar os seguintes métodos de partida: 
- Partida suave (Soft Started); 
- Partida por meio de autotransformadores; 
- Partida por meio de resistência e reatância; 
- Partida por meio de enrolamento parcial e 
- Partida pelo método estrela-triângulo. 
 
e) Melhorar as práticas para o restabelecimento do sistema da 
concessionária em caso de faltas 
 Isto implica em adicionar religadores de linha, eliminar as operações rápidas 
de religadores e/ou disjuntores, adicionar sistemas do tipo Network e 
melhorar o projeto do alimentador. Estas práticas podem reduzir o número 
46
 
e/ou a duração de interrupções momentâneas e afundamentos, mas as faltas 
nos sistemas das concessionárias nunca podem ser eliminadas 
completamente. 
 
f) Adotar medidas de prevenção contra faltas no sistema da 
concessionária 
Estas medidas incluem atividades como poda de árvores, colocar pára-raios 
de linha, manutenção dos isoladores, blindagem de cabos, modificar o 
espaçamento entre condutores e melhorar o sistema de aterramento. 
 
4.3 Elevação de tensão 
Outro distúrbio pode ser caracterizado por um aumento da tensão eficaz do 
sistema (aumento este entre 10-80% da tensão, na freqüência da rede, com duração 
de meio ciclo a 1 min, Tabela 2) ocorrendo freqüentemente nas fases sãs de um 
circuito trifásico, quando da ocorrência de um curto circuito em uma única fase. O 
termo sobretensão momentânea é empregado por vários autores como sinônimo 
para o termo “elevação de tensão”. 
Como para o item anterior, elevações são usualmente associadas á condições 
de faltas no sistema, mas não são tão comuns como afundamentos de tensão. Um 
meio ilustrativo de como uma elevação pode ocorrer é do aumento temporário da 
tensão em fases não faltosas durante uma falta envolvendo uma fase com conexão a 
terra. A Figura 26 ilustra uma elevação de tensão causada por uma falta fase-terra. 
Este fenômeno pode também estar associado à saída de grandes blocos de cargas ou 
a energização de grandes bancos de capacitores, porém, com uma incidência pequena 
se comparada com as sobretensões provenientes de faltas fase-terra nas redes de 
transmissão e distribuição. 
As elevações são caracterizadas pela sua magnitude (valor eficaz) e duração. 
A severidade deste distúrbio durante uma condição de falta é uma função da 
localização da falta, impedância do sistema e do aterramento. Em um sistema não 
aterrado com impedância de seqüência zero
infinita, as tensões fase á terra das fases 
não aterradas serão 1,73 por unidade durante uma condição de falta envolvendo uma 
fase com conexão á terra. Próxima a subestação em um sistema aterrado, haverá um 
47
 
pequeno ou nenhum aumento nas fases não faltosas porque o transformador da 
subestação é usualmente conectado em delta-estrela, provendo um baixo caminho de 
impedância de seqüência zero para a corrente de falta. 
A duração da elevação está intimamente ligada aos ajustes dos dispositivos de 
proteção, à natureza da falta (permanente ou temporária) e à sua localização na rede 
elétrica. Em situações de elevações oriundas de saídas de grandes cargas ou 
energização de grandes bancos capacitores, o tempo de duração das elevações 
depende do tempo de resposta dos dispositivos reguladores de tensão das unidades 
geradoras, do tempo de resposta dos transformadores de tap variável e da atuação 
dos dispositivos compensadores de reativos e síncronos em sistemas de potência e 
compensadores síncronos que porventura existam. 
 
 
 
Figura 26 - Elevação de tensão devido a uma falta fase-terra 
 
Como conseqüência das elevações de curta duração em equipamentos, pode-
se citar falhas dos componentes, dependendo da freqüência de ocorrência do 
distúrbio. Dispositivos eletrônicos incluindo ASDs (Adjustable Speed Drivers), 
computadores e controladores eletrônicos, podem apresentar falhas imediatas durante 
48
 
estas condições. Contudo, transformadores, cabos, barramentos, dispositivos de 
chaveamento, TPs, TCs e máquinas rotativas podem ter a vida útil reduzida. Um 
aumento de curta duração na tensão em alguns relés pode resultar em má operação 
enquanto outros podem não ser afetados. Uma elevação de tensão em um banco de 
capacitores pode, freqüentemente, causar danos no equipamento. Aparelhos de 
iluminação podem ter um aumento da luminosidade durante uma elevação. 
Dispositivos de proteção contra surto como um circuito de fixação da amplitude 
(clamping circuit) podem ser destruídos quando submetidos a elevações que 
excedam suas taxas de MCOV (Maximum Continuous Operating Voltage). 
Dentro do exposto, a preocupação principal recai sobre os equipamentos 
eletrônicos, uma vez que estas elevações podem vir a danificar os componentes 
internos destes equipamentos, conduzindo-os à má operação, ou em casos extremos, 
à completa inutilização. Vale ressaltar mais uma vez que, a suportabilidade de um 
equipamento não depende apenas da magnitude da elevação, mas também do seu 
período de duração, conforme ilustra a Figura 18, a qual mostra a tolerância de 
microcomputadores às variações de tensão. 
 
49
 
5 
DESEQUILÍBRIO DE TENSÃO 
 
Desequilíbrio de tensão é muitas vezes definido como o desvio máximo dos 
valores médios das tensões ou correntes trifásicas, dividido pela média dos mesmos 
valores, expresso em percentagem. O desequilíbrio também pode ser definido 
usando-se a teoria de componentes simétricos. A razão entre os componentes ou de 
seqüência negativo ou zero, com o componente de seqüência positivo pode ser usado 
para especificar a percentagem do desequilíbrio. 
As origens destes desequilíbrios estão geralmente nos sistemas de 
distribuição, os quais possuem cargas monofásicas distribuídas inadequadamente, 
fazendo surgir no circuito tensões de seqüência negativa. Este problema se agrava 
quando consumidores alimentados de forma trifásica possuem uma má distribuição 
de carga em seus circuitos internos, impondo correntes desequilibradas no circuito da 
concessionária. Tensões desequilibradas podem também ser o resultado da queima 
de fusíveis em uma fase de um banco de capacitores trifásicos. 
Tais fatores fazem com que a qualidade no fornecimento de energia, 
idealizada pela concessionária, seja prejudicada e desta forma alguns consumidores 
têm em suas alimentações um desequilíbrio de tensão, o qual se manifesta sob três 
formas distintas: 
a) amplitudes diferentes; 
b) assimetria nas fases; e 
c) assimetria conjunta de amplitudes e fases. 
Destas, apenas a primeira é freqüentemente evidenciada no sistema elétrico. 
A instalação elétrica de um consumidor, sujeito a desequilíbrios de tensão, 
pode apresentar problemas indesejáveis na operação de equipamentos, dentre os 
quais destacam-se: 
a) Motores de Indução: Para as análises dos efeitos de tensões 
desequilibradas aplicadas a um motor de indução, considera-se somente os efeitos 
produzidos pelas tensões de seqüência negativa, somados aos resultados da tensão de 
seqüência positiva. Os efeitos das tensões e correntes de seqüência zero não são 
comumente considerados, visto que a maioria dos motores não possui caminho para a 
50
 
circulação destas correntes, seja pela conexão estrela isolada ou em delta destes 
motores. 
Sabe-se que, quando tensões de seqüência negativa são aplicadas ao estator 
do motor, surge um correspondente campo magnético que gira no sentido contrário 
ao campo da seqüência positiva, ou seja, contrário ao sentido de rotação do rotor. 
Assim, tem-se estabelecido uma indesejável interação entre os dois campos, o que 
resulta num conjugado pulsante no eixo da máquina. 
A Figura 27 ilustra a curva do conjugado desenvolvido por um motor de 
indução (20cv, 220V, Y), bem como a curva de conjugado de carga, quando 
alimentado por tensões desequilibradas. 
 
 (N.m) t(s) (1)t(mt_ind2.m1) (1)tc(mt_ind2.m1)
0 200m 400m 600m 800m 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 t(s)
-140
-120
-100
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
100
120
140
 (N.m)
 
 Figura 27 - Resposta do motor à alimentação desequilibrada 
 
Ao mesmo tempo, as correntes de seqüência negativa causam um 
sobreaquecimento da máquina. Isto pode ser evidenciado através da Figura 28, a qual 
apresenta elevações de temperatura típicas para motores de indução quando estes são 
submetidos a tensões desequilibradas. Como conseqüência direta desta elevação de 
Conjugado 
do motor
Conjugado 
da carga
51
 
temperatura, tem-se a redução da expectativa de vida útil dos motores, visto que o 
material isolante sofre uma deterioração mais acentuada na presença de elevadas 
temperaturas nos enrolamentos. 
 
 
Desequilíbrio [%]
 Elevação da Temperatura [oC]
100
80
60
40
20
0
Deseq. de Corrente Deseq. de Tensão
0 2 3,5 5
 
 Figura 28 - Elevação de temperatura de um motor de indução trifásico para 
diferentes níveis de desequilíbrio 
 
b) Máquinas síncronas: Como no caso anterior, a corrente de seqüência 
negativa fluindo através do estator de uma máquina síncrona, cria um campo 
magnético girante com velocidade igual à do rotor, porém, no sentido contrário ao de 
rotação definido pela seqüência positiva. Conseqüentemente, as tensões e correntes 
induzidas nos enrolamentos de campo, de amortecimento e na superfície do ferro do 
rotor, terão uma freqüência igual a duas vezes à da rede. Tais correntes aumentarão 
significativamente as perdas no rotor, principalmente no enrolamento de 
amortecimento, que possui baixa impedância onde, conseqüentemente, a corrente 
será mais elevada. 
No enrolamento de campo, estas correntes com freqüência duplicada 
distorcerão o campo magnético produzido pela corrente de excitação que, por sua 
vez, deformará a forma de onda da tensão gerada, interferindo, portanto, na atuação 
do regulador de tensão. 
 
52
 
c) Retificadores: Uma ponte retificadora CA/CC, controlada ou não, injeta 
na rede CA, quando esta opera sob condições nominais, correntes harmônicas 
características (de ordem 5, 7, 11, 13, etc). Entretanto, quando
o sistema supridor 
encontra-se desequilibrado, os retificadores passam a gerar, além das correntes 
harmônicas características, o terceiro harmônico e seus múltiplos. 
A presença do terceiro harmônico e seus múltiplos no sistema elétrico é 
extremamente indesejável, pois possibilita manifestação de ressonâncias não 
previstas, visto que não é prática a instalação de filtros de terceiro harmônico em 
instalações desta natureza e, isto pode causar danos a uma série de equipamentos. 
A Figura 29 mostra o espectro harmônico de um conversor de 6 pulsos a 
diodo, alimentado por tensões equilibradas e desequilibradas respectivamente. 
 
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Ordem Harmônica
0
20
40
60
80
100
120
Magnitude [%]
Equil. Deseq.
 
Figura 29 - Retificador alimentado por tensões equilibradas e desequilibradas, 
espectro harmônico 
 
53
 
6 
DISTORÇÃO DA FORMA DE ONDA 
Distorção da forma de onda é definido como um desvio da forma de onda 
puramente senoidal na freqüência fundamental, que é caracterizado principalmente 
pelo seu conteúdo espectral. 
Há cinco tipos principais de distorções da forma de onda - Tabela 2: 
a) nível CC; 
b) harmônicos; 
c) inter-harmônicas; 
d) notching e 
e) ruído. 
 
6.1 Nível CC 
A presença de um componente CC na tensão ou corrente em um sistema de 
energia CA é denominado nível CC. Este pode ocorrer como resultado de um 
distúrbio ou devido à operação ideal de retificadores de meia-onda. 
O nível CC em redes de corrente alternada pode levar à saturação de 
transformadores, resultando em perdas adicionais e redução da vida útil. Pode 
também causar corrosão eletrolítica dos eletrodos de aterramento e de outros 
conectores. 
 
6.2 Harmônicos 
Tecnicamente, um harmônico é um componente de uma onda periódica cuja 
freqüência é um múltiplo inteiro da freqüência fundamental (no caso da energia 
elétrica, de 60 Hz). 
Harmônicos são fenômenos contínuos, e não devem ser confundidos com 
fenômenos de curta duração, os quais duram apenas alguns ciclos. Distorção 
harmônica é um tipo específico de energia suja, que é normalmente associada com a 
crescente quantidade de acionamentos estáticos, fontes chaveadas e outros 
dispositivos eletrônicos nas plantas industriais. Estas perturbações no sistema podem 
normalmente ser eliminadas com a aplicação de filtros de linha (supressores de 
54
 
transitórios). Um filtro de harmônicos é essencialmente um capacitor para correção 
do fator de potência, combinado em série com um reator (indutor). 
A Figura 30 mostra a tensão num barramento CA de alimentação de um 
conversor de seis pulsos, na qual evidencia-se as deformações na forma de onda. A 
distorção harmônica vem contra os objetivos da qualidade do suprimento promovido 
por uma concessionária de energia elétrica, a qual deve fornecer aos seus 
consumidores uma tensão puramente senoidal, com amplitude e freqüência 
constantes. Entretanto, o fornecimento de energia a determinados consumidores que 
causam deformações no sistema supridor, prejudicam não apenas o consumidor 
responsável pelo distúrbio, mas também outros conectados à mesma rede elétrica. 
A natureza e a magnitude das distorções harmônicas geradas por cargas não-
lineares dependem de cada carga em específico, mas duas generalizações podem ser 
assumidas: 
a) os harmônicos que causam problemas geralmente são os componentes de 
números ímpares e 
b) a magnitude da corrente harmônica diminui com o aumento da 
freqüência. 
Como comentado, altos níveis de distorções harmônicas em uma instalação 
elétrica podem causar problemas para as redes de distribuição das concessionárias, 
para a própria instalação e para os equipamentos ali instalados. As conseqüências 
podem chegar até à parada total de importantes equipamentos na linha de produção 
acarretando em prejuízos econômicos. Dentre eles, de maior importância estão a 
perda de produtividade e de vendas devido a paradas de produção, causadas por 
inesperadas falhas em motores, acionamentos, fontes ou simplesmente pelo "repicar" 
de disjuntores. 
Para a quantificação do grau de distorção presente na tensão e/ou corrente, 
lança-se mão da ferramenta matemática conhecida por série de Fourier. As vantagens 
de se usar a série de Fourier para representar formas de onda distorcidas é que, cada 
componente harmônica pode ser analisada separadamente e, a distorção final é 
determinada pela superposição das várias componentes constituintes do sinal 
distorcido. 
55
 
 (V) : t(s) (1)pa
1. 55 1. 6 1. 65 1. 7 1. 75 1. 8 1. 85 1. 9 1. 95 1.5 1.505 t(s)
-200
-150
-100
-50
0
50
100
150
200
 (V)
 
Figura 30 - Tensão de alimentação de um conversor CA/CC 
 
Conhecidos os valores de tensões e/ou correntes harmônicas presentes no 
sistema, utiliza-se de um procedimento para expressar o conteúdo harmônico de uma 
forma de onda. Um dos mais utilizados é a “Distorção Harmônica Total”, a qual 
pode ser empregada tanto para sinais de tensão como para correntes. As equações (1) 
e (2) apresentam tais definições: 
 
 
 (1) 
 
 
 
 (2) 
 
 
onde: 
DHVT = >
∑
×
V
V
nn
nmáx
2
1
1
2
100(%) 
DHIT = >
∑
×
I
I
nn
nmáx
2
1
1
2
100(%) 
56
 
DHVT = distorção harmônica total de tensão 
DHIT = distorção harmônica total de corrente 
Vn = valor eficaz da tensão de ordem n 
In = valor eficaz da corrente de ordem n 
V1 = valor eficaz da tensão fundamental 
I1 = valor eficaz da corrente fundamental 
n = ordem da componente harmônica 
A “Distorção Harmônica Individual” é utilizada para a quantificação da 
distorção individual de tensão ou corrente, ou seja, para determinar a porcentagem de 
determinado componente harmônico em relação à sua componente fundamental. As 
equações (3) e (4) expressam tais definições. 
 
 DHV VV x100 (%)I
n
1
= (3) 
 
 DHI II x100 (%)I
n
1
= (4) 
 
onde: 
 DHVI - distorção harmônica individual de tensão. 
 DHII - distorção harmônica individual de corrente. 
Para fins práticos, geralmente, os componentes harmônicos de ordens 
elevadas (acima da 50ª ordem, dependendo do sistema) são desprezíveis para 
análises de sistemas de potência. Apesar de poderem causar interferência em 
dispositivos eletrônicos de baixa potência, elas usualmente não representam perigo 
aos sistemas de potência. 
No passado não havia maiores preocupações com harmônicos. Cargas com 
características não lineares eram pouco utilizadas e os equipamentos eram mais 
resistentes aos efeitos provocados por harmônicas. Entretanto, nos últimos anos, com 
o rápido desenvolvimento da eletrônica de potência e a utilização de métodos que 
buscam o uso mais racional da energia elétrica, o conteúdo harmônico presente nos 
sistemas tem-se elevado, causando uma série de efeitos indesejáveis em diversos 
57
 
equipamentos ou dispositivos, comprometendo a qualidade e o próprio uso racional 
da energia elétrica. O problema é ainda mais agravado pela utilização de 
equipamentos e cargas mais sensíveis à qualidade da energia. 
Assim, é de grande importância citar aqui os vários tipos de cargas elétricas 
com características não lineares, denominadas de “Cargas Elétricas Especiais”, que 
têm sido implantadas em grande quantidade no sistema elétrico brasileiro. Estas, de 
um modo geral, podem ser classificadas em três grupos básicos, a saber: 
 
a) Cargas de conexão direta ao sistema 
• motores de corrente alternada; 
• transformadores alimentadores; 
• circuitos de iluminação com lâmpadas de descarga (como as multi vapor 
metálico: mercúrio e sódio);
• fornos a arco, etc. 
 
b) Cargas conectadas através de conversores 
• motores de corrente contínua controlados por retificadores; 
• motores de indução controlados por inversores com comutação forçada; 
• motores síncronos controlados por cicloconversores (conversão estática 
direta CA/CA em uma dada freqüência para outra freqüência inferior); 
• fornos de indução de alta freqüência, etc. 
 
c) Reguladores 
• fornos de indução controlados por reatores saturados; 
• cargas de aquecimento controladas por tiristores; 
• velocidade dos motores CA controlados por tensão de estator; 
• reguladores de tensão a núcleo saturado; 
• computadores; 
• eletrodomésticos com fontes chaveadas, etc. 
Como já foi dito, as distorções harmônicas causadas pela operação de tais 
equipamentos e dispositivos, causam alguns efeitos indesejáveis ao sistema elétrico. 
Estes efeitos podem ser divididos em três grandes grupos. Nos dois primeiros 
58
 
estariam enquadrados, por exemplo, os problemas de perda da vida útil de 
transformadores, máquinas rotativas, bancos de capacitores, etc. No terceiro grupo 
estariam englobadas questões diversas que poderiam se traduzir numa operação 
errônea ou na falha completa de um equipamento. Nesta categoria estariam incluídos 
efeitos como: torques oscilatórios nos motores CA, erros nas respostas de 
equipamentos, aumento ou diminuição do consumo de kWh, etc. 
Para ressaltar tais efeitos, descreve-se abaixo como as distorções harmônicas 
de tensão e corrente podem alterar a operação de alguns dispositivos comumente 
encontrados nas redes elétricas. 
 
Cabos 
Dentre os efeitos de harmônicos em cabos destacam-se: 
• Sobreaquecimento devido às perdas Joule que são acrescidas; 
• Maior solicitação do isolamento devido a possíveis picos de tensão e 
imposição de correntes pelas capacitâncias de fuga, provocando aquecimento 
e conseqüentemente uma deterioração do material isolante. 
Outro aspecto importante que deve ser destacado refere-se ao carregamento 
exagerado do circuito de neutro, principalmente em instalações que agregam muitos 
aparelhos eletrônicos, como microcomputadores, onde há uma predominância muito 
grande do terceiro harmônico. Este se caracteriza por ser de seqüência zero, portanto, 
propaga-se pelo neutro podendo dar origem a tensões perigosas quando estas 
correntes circulam por malhas de terra mal projetadas. 
Com relação ao nível de distorção de tensão, abaixo do qual os cabos não são 
expressivamente afetados, este é dado pela equação (5). 
 
 ( )Vn
n=
∞∑ ≤
2
2 10% (5) 
 
Transformadores 
Um transformador, quando submetido a distorções de tensão e corrente, 
experimentará um sobreaquecimento causado pelo aumento das perdas Joulicas, 
59
 
além de intensificar as fugas tradicionalmente manifestadas nos isolamentos. As 
perdas Joulicas são dadas pela equação (6). 
 
 ∆PJ = ∆PJ1 (1 + DHIT2) (6) 
onde: 
 ∆PJ1 = representa as perdas à corrente fundamental 
 ∆PJ = representa as perdas incluindo a distorção harmônica 
Este aumento das perdas faz com que a vida útil deste equipamento seja 
reduzida, uma vez que a degradação do material isolante no interior do 
transformador ocorrerá de forma mais acentuada. 
Como ilustração, a Figura 31 mostra um perfil da vida útil de um 
transformador de corrente que se estabelece através de seus enrolamentos. Os 
resultados consideram que os componentes harmônicos, para cada situação, são 
superpostos a uma corrente fundamental igual a nominal do equipamento. 
 
0 6 12 18 24 30 36
Distorção Harmônica Total de Corrente (%)
0
10
20
30
40
50
60
70
x10
3
 
 Figura 31 - Vida útil de um transformador em função da 
 distorção harmônica de corrente. 
 
Segundo a literatura, os transformadores possuem um nível de tensão 
admissível dado pelas equações (7) e (8). 
 
60
 
 ( )Vn
n=
∞∑ ≤
2
2 5% (a plena carga) (7) 
 
 ( )Vn
n=
∞∑ ≤
2
2 10% (a vazio) (8) 
 
Motores de Indução 
Um motor de indução, operando sob alimentação distorcida, pode apresentar, 
de forma semelhante ao transformador, um sobreaquecimento de seus enrolamentos. 
Este sobreaquecimento faz com que ocorra uma degradação do material isolante que 
pode levar a uma condição de curto-circuito por falha do isolamento. A Figura 32 
mostra uma estimativa do acréscimo das perdas elétricas num motor de indução, em 
função da distorção total de tensão presente no barramento supridor. 
 
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Distorção Harmônica Total de Tensão - (%)
0
2
4
6
8
10
12
14 Acréscimo das Perdas Elétricas - (%)
 
Figura 32 - Perdas elétricas de um motor de indução trifásico 
em função da distorção total de tensão 
 
Em relação à análise de desempenho de um motor de indução submetido a 
tensões harmônicas, verifica-se uma perda de rendimento e qualidade do serviço, 
devido ao surgimento de torques pulsantes. Estes podem causar uma fadiga do 
61
 
material, ou em casos extremos, para altos valores de torques oscilantes, interrupção 
do processo produtivo, principalmente em instalações que requerem torques 
constantes como é o caso de bobinadeiras na indústria de papel-celulose e condutores 
elétricos. 
Com a utilização dos reguladores automáticos de velocidade, estes efeitos se 
pronunciam com maior intensidade, pois os níveis de distorção impostos pelos 
inversores superam os valores normalmente encontrados nas redes CA, muito 
embora, hoje, com novas técnicas de chaveamento, estes níveis têm sido reduzidos 
consideravelmente. 
Os motores de indução, de acordo com o seu porte e impedância de seqüência 
negativa, possuem um grau de imunidade aos harmônicos conforme sugere a 
equação (9). 
 %3,1
2
2
≤

∑∞
=n n
nV
 a 3,5% (9) 
 
Máquinas Síncronas 
Pelo fato de estarem localizados distantes dos centros consumidores, as 
unidades geradoras, responsáveis por grandes blocos de energia, não sofrem de 
forma acentuada as conseqüências dos harmônicos injetados no sistema. Entretanto, 
em sistemas industriais dotados de geração própria, que operam em paralelo com a 
concessionária, tem sido verificado uma série de anomalias no que se refere à 
operação das máquinas síncronas. Dentre estes efeitos destacam-se: 
• Sobreaquecimento das sapatas polares, causado pela circulação de correntes 
harmônicas nos enrolamentos amortecedores; 
• Torques pulsantes no eixo da máquina; e 
• Indução de tensões harmônicas no circuito de campo, que comprometem a 
qualidade das tensões geradas. 
Assim, é importante que uma monitoração da intensidade destas anomalias 
seja efetuada, com o propósito de assegurar operação contínua das máquinas 
síncronas, evitando transtornos como perda de geração. No caso de instalações que 
utilizam motores síncronos, as mesmas observações se aplicam. 
62
 
De forma semelhante aos motores de indução, o grau de imunidade das 
máquinas síncronas aos efeitos de harmônicos é função do porte da máquina e da 
impedância de seqüência negativa. Esta condição pode ser assegurada quando 
obedecida à equação (10). 
 %3,1
2
2
≤

∑∞
=n n
nV
 a 2,4% (10) 
 
Bancos de Capacitores 
Relembramos que bancos de capacitores instalados em redes elétricas 
distorcidas podem originar condições de ressonância, caracterizando uma 
sobretensão nos terminais das unidades capacitivas. 
Em decorrência desta sobretensão, tem-se uma degradação do isolamento das 
unidades capacitivas, e em casos extremos, uma completa danificação dos capacitores. 
Além disso, consumidores
conectados no mesmo PAC (Ponto de Acoplamento 
Comum) ficam submetidos a tensões perigosas, mesmo não sendo portadores de 
cargas poluidoras em sua instalação, o que estabelece uma condição extremamente 
prejudicial à operação de diversos equipamentos. Entretanto, mesmo que não seja 
caracterizado uma condição de ressonância, um capacitor constitui-se um caminho de 
baixa impedância para as correntes harmônicas, estando, portanto, constantemente 
sobrecarregado, sujeito a sobreaquecimento excessivo, podendo até ocorrer uma 
atuação da proteção, sobretudo dos relés térmicos. 
Estes efeitos, isolados ou conjuntamente, resultam na diminuição da vida útil 
do capacitor. Uma equação empírica (11) estima a vida útil de um capacitor. 
VU 1S T= ⋅




7 45,
 (11) 
onde: 
VU - vida útil em p.u.; 
S - valor de pico da sobretensão em p.u.; 
T - sobretemperatura em p.u. 
De posse da equação (11) é possível traçar o comportamento da vida útil de 
capacitores para vários valores de sobretensão e sobretemperatura. A Figura 33 
ilustra a redução da vida útil dos capacitores em função da temperatura. 
63
 
 
 
 
Figura 33 - Vida útil versus Sobretemperatura em capacitores 
 
A Figura 34 ilustra o efeito na redução da vida útil dos bancos de capacitores 
em função da distorção de tensão. 
Para assegurar uma operação segura dos bancos de capacitores em relação ao 
nível de distorção harmônica, estabelece-se uma recomendação traduzida pela 
equação (12). 
 ( * )n Vn
n=
∞∑ ≤
2
2 83% (12) 
 
 
64
 
 
 
Figura 34 - Vida útil versus Distorção de Tensão em Capacitores 
 
Medidores de Energia Elétrica 
Um outro efeito causado pelas distorções harmônicas refere-se à operação 
anormal ou indevida dos medidores de energia elétrica. 
O medidor de energia do tipo indução tem sua operação fundamentada no 
fenômeno da interação eletromagnética. O conjugado motor do medidor, associado 
ao registro de energia, é obtido em função da interação entre uma corrente “i” e um 
fluxo “φ”, este último oriundo da tensão aplicada ao medidor. Quando o medidor é 
submetido a tensões e correntes distorcidas, estas criam conjugados que fazem com 
que o disco acelere ou desacelere, ocasionando erros de medição. 
A Figura 35 mostra a relação entre a corrente eficaz de alimentação de um 
retificador trifásico de 6 pulsos e o erro registrado por um medidor de kWh indutivo. 
65
 
 
 
Figura 35 - Erro medido em função da corrente eficaz de um retificador controlado 
 
Para assegurar uma operação segura dos medidores de energia, estabelece-se 
uma recomendação de limite de distorção apresentada pela equação (13). 
 ( )Vn
n=
∞∑ ≤
2
2 20% (13) 
 
Dispositivos de Proteção 
Estes dispositivos, quando submetidos a sinais distorcidos, podem atuar de 
maneira incorreta, não retratando a real condição operacional do sistema. 
Uma recomendação para o limite de operação de relés quando submetidos a 
sinais distorcidos é apresentado pela equação 14. 
 ( )Vn
n=
∞∑ ≤
2
2 5% (14) 
Diante de tantos problemas causados por harmônicos, torna-se necessário 
tomar medidas preventivas ou corretivas, no sentido de reduzir ou eliminar os níveis 
harmônicos presentes nos barramentos e linhas de um sistema elétrico. 
 Dentre as diversas técnicas utilizadas destacam-se: 
• Filtros passivos: são constituídos basicamente de componentes R, L e C 
através dos quais obtêm-se os filtros sintonizados e amortecidos. Estes filtros 
são instalados geralmente em paralelo com o sistema supridor, 
66
 
proporcionando um caminho de baixa impedância para as correntes 
harmônicas. Podem ser utilizados para a melhoria do fator de potência, 
fornecendo o reativo necessário ao sistema. Entretanto, existem alguns 
problemas relacionados à utilização destes filtros, dentre os quais destacam-
se: o alto custo, a complexidade de sintonia e a possibilidade de ressonância 
paralela com a impedância do sistema elétrico. 
• Filtros ativos: um circuito ativo gera e injeta correntes harmônicas com 
defasagem oposta àquelas produzidas pela carga não linear. Assim, há um 
cancelamento das ordens harmônicas que se deseja eliminar. Embora bastante 
eficientes, estes dispositivos apresentam custos elevados (superiores aos 
filtros passivos), o que tem limitado a sua utilização nos sistemas elétricos. 
• Compensadores eletromagnéticos e 
• Moduladores CC. 
Técnicas tais como eliminação por injeção de um componente de corrente 
alternada ou pulsante, produzido por um retificador e aumento do número de pulsos 
dos conversores estáticos também podem ser utilizados. Dentre estas, a última tem 
sido mais usada e se enquadra dentro do contexto de equipamentos designados por 
compensadores eletromagnéticos de harmônicos. 
 
6.3 Interharmônicos 
São formas de ondas de tensões e correntes que apresentam componentes de 
freqüência que não são múltiplos inteiros da freqüência com a qual o sistema é 
suprido e designado a operar (50 ou 60 Hz). Estas inter-harmônicas podem 
aparecer como freqüências discretas ou como uma larga faixa espectral. Podem ser 
encontradas em redes de diferentes classes de tensões. As principais fontes são os 
conversores de freqüência estáticos, cicloconversores, motores de indução e 
equipamentos a arco. Sinais “carrier” em linhas de potência também podem ser 
considerados como interharmônicos. 
Os efeitos deste fenômeno não são bem conhecidos, mas admite-se que os 
mesmos podem afetar a transmissão de sinais carrier (portadores) e a induzir flicker 
(oscilação) visual no display de equipamentos como tubos de raios catódicos. 
 
67
 
6.4 Notching 
Notching é um distúrbio periódico de tensão causado pela má operação dos 
dispositivos eletrônicos quando a corrente é comutada de uma fase para outra. 
Durante este período há um momentâneo curto circuito entre duas fases levando a 
tensão próxima a zero tanto quanto é permitido pelas impedâncias do sistema. 
Desde que ocorre continuamente, pode ser caracterizado pelo espectro 
harmônico da tensão afetada. Os componentes de freqüência associados com o 
fenômeno notching podem ser altos e não ser prontamente caracterizados pelos 
equipamentos de medidas normalmente usados para análise de harmônicos. A Figura 
30 mostra a forma com que o notching se manifesta. 
 
6.5 Ruído 
Com respeito aos ruídos, estes podem ser definidos como sinais elétricos não 
desejáveis com um conteúdo do espectro abaixo de 200 kHz, superposto à tensão e 
corrente do sistema de energia nos condutores de fase ou obtidos sobre os condutores 
neutros, ou ainda, nos sinais da linha. 
Pode ser causado em sistemas de energia por equipamentos eletrônicos, 
circuitos de controle, equipamentos a arco, cargas com retificadores de estado sólido 
e fontes chaveadas e, via de regra, estão relacionados com aterramentos impróprios. 
O problema pode ser atenuado pelo uso de filtros, isolamento dos transformadores e 
condicionadores de linha. 
 
68
 
7 
FLUTUAÇÃO DE TENSÃO 
 
Flutuações na tensão são variações sistemáticas dos valores eficazes de 
tensão, ou uma série de mudanças aleatórias, cujas magnitudes normalmente não 
excedem faixas de valores pré-estabelecidos (faixa compreendida entre 0,95 e 1,05 
p.u., Tabela 2). 
Cargas industriais que exibem variações contínuas e rápidas na magnitude da 
corrente de carga podem causar variações na tensão que são freqüentemente referidas 
como flicker ou oscilação. Para ser tecnicamente
correto, flutuação de tensão é um 
fenômeno eletromagnético enquanto flicker é o resultado indesejável da flutuação de 
tensão em algumas cargas. 
Tais flutuações são geralmente causadas por cargas industriais e manifestam-
se de diferentes formas, a destacar: 
 
• Flutuações Aleatórias 
A principal fonte destas flutuações são os fornos a arco, onde as amplitudes 
das oscilações dependem do estado de fusão do material, bem como do nível de 
curto-circuito da instalação. 
 
 • Flutuações Repetitivas 
 Dentre as principais fontes geradoras de flutuações desta natureza tem-se: 
 - Máquinas de solda; 
 - Laminadores; 
 - Elevadores de minas e 
 - Ferrovias. 
 
A Figura 36 ilustra o comportamento do valor eficaz da tensão no barramento 
supridor de um laminador, durante um período de 5 segundos. 
 
69
 
Tensão [kV]
 
Figura 36 - Oscilações de tensão oriundas da operação de um laminador 
 
 • Flutuações Esporádicas 
A principal fonte causadora destas oscilações é a partida direta de grandes 
motores. Os principais efeitos nos sistemas elétricos, resultados das oscilações 
causadas pelos equipamentos mencionados anteriormente são: 
 - Oscilações de potência e torque das máquinas elétricas; 
 - Queda de rendimento dos equipamentos elétricos; 
 - Interferência nos sistemas de proteção e 
 - Efeito flicker ou cintilação luminosa. 
Em relação aos efeitos em motores elétricos, o conjugado desenvolvido é 
diretamente proporcional ao valor RMS da tensão e, estando os motores submetidos 
a tensões flutuantes, estes passam a apresentar torques oscilantes no eixo. A Figura 
37 mostra as curvas de conjugado eletromagnético e de carga de um motor de 
indução quando da presença de tensões oscilantes aplicadas ao estator, onde se 
verifica oscilações no conjugado motor, de amplitudes consideráveis. 
 
70
 
 (N.m) t(s) (1)t(mt_ind2.m1) (1)tc(mt_ind2.m1)
0 200m 400m 600m 800m 1 1 2 1.4 1.6 1 8 2 2.2 t(s)
-140
-120
-100
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
100
120
140
 (N.m)
 
 Figura 37 - Motor Submetido a Tensões Oscilantes 
 
Entretanto, o fenômeno flicker consiste no efeito mais comum provocado 
pelas oscilações de tensão. Este tema merece especial atenção, uma vez que o 
desconforto visual associado a perceptibilidade do olho humano às variações da 
intensidade luminosa é, em toda sua extensão, indesejável. A intensidade do efeito 
flicker está associada aos seguintes fatores: 
• Amplitude das oscilações; 
• Freqüência da moduladora e 
• Duração do distúrbio ou ciclo de operação da carga perturbadora. 
 Estes fatores, em conjunto com a perceptibilidade do olho humano, dão 
origem a curvas que representam os limiares da percepção visual para flutuações de 
tensão, conforme ilustra a Figura 38. 
 
Conjugado do 
motor 
Conjugado 
da carga
71
 
 
 
Figura 38 - Limites da Percepção Visual para Flutuações de Tensão Associadas a 
Ondas Senoidais e Quadradas 
 
Como pode ser observado na figura anterior, variações da ordem de 0,25% da 
tensão nominal são perceptíveis quando ocorrem em baixas freqüências (1 a 15 Hz). 
Entretanto, para as variações graduais, o que ocorre é uma acomodação visual, 
provocando um nível de irritação visual de menor intensidade e tolerável pelo ser 
humano. 
 
72
 
8 
VARIAÇÕES NA FREQÜÊNCIA DO SISTEMA 
 
Variações na freqüência de um sistema elétrico são definidas como o desvio 
no valor da freqüência fundamental deste, de seus valores nominais especificados (50 
ou 60 Hz). 
A freqüência do sistema de potência está diretamente relacionado à 
velocidade de rotação dos geradores que suprem o sistema. Há estreitas variações na 
freqüência com o balanço dinâmico entre cargas e mudanças na geração. A 
amplitude da variação e sua duração depende das características da carga e da 
resposta do sistema de controle de geração às alterações na carga. 
Variações na freqüência que ultrapassem dos limites para a operação em 
regime permanente podem ser causadas por faltas no sistema de transmissão, 
desconexão de um grande bloco de carga ou pela saída de operação de uma grande 
fonte de geração. 
Nos modernos sistemas interconectados de energia, variações significantes de 
freqüência são raras. Variações consideráveis e freqüentes podem mais comumente 
ocorrer para cargas que são supridas por geradores de sistemas isolados das 
concessionárias. Em sistemas isolados, como é o caso da geração própria nas 
indústrias, na eventualidade de um distúrbio, a magnitude e o tempo de permanência 
das máquinas operando fora da velocidade, resultam em desvios da freqüência em 
proporções mais significativas. 
73
 
9 
AVALIAÇÃO ECONÔMICA DA 
QUALIDADE DE ENERGIA 
 
Distúrbios na Qualidade da Energia Elétrica podem apresentar significantes 
conseqüências econômicas nos diferentes tipos de instalações. Uma grande variedade 
de soluções tecnológicas existem para mitigar as conseqüências de tais distúrbios e, 
no que segue, uma metodologia para se efetuar uma análise econômica comparativa 
entre as alternativas é apresentada. 
Diferentes alternativas são avaliadas estimando-se o desempenho alcançado 
que pode ser esperado após que a tecnologia tenha sido aplicada. As economias sobre 
o custo da qualidade da energia são calculados para cada alternativa ao longo de sua 
aplicação. Os benefícios ao sistema, expressos em termos de custos anuais, são 
apresentados como meios de comparação entre as várias tecnologias. 
 
9.1 Impactos econômicos da qualidade da energia 
Os custos associados com a perda de energia podem ser tremendos. 
Instalações de manufaturação apresentam custos associados com uma simples 
interrupção do processo variando de $ 10.000 a milhões de dólares. Os custos 
associados às instalações comerciais (bancos, centros de dados, centros de 
atendimento ao consumidor, etc.) podem também ser altos. Infelizmente, estas 
instalações podem ser sensitivas a uma larga faixa de distúrbios da qualidade da 
energia e não somente das interrupções no fornecimento, que são consideradas nas 
estatísticas de restabelecimento do sistema. Interrupções momentâneas ou sags de 
tensão com duração inferior a 100 ms podem ter o mesmo impacto do que 
interrupções por períodos maiores. Em virtude destes apontamentos, resulta uma 
larga variedade de tecnologias para equipamentos de proteção e melhorias na 
qualidade da energia. 
A avaliação das alternativas para o melhoramento na QE é um exercício em 
economia. Administradores e engenheiros devem avaliar os impactos econômicos 
das variações na QE contra os custos do melhoramento do desempenho para as 
diversas alternativas. A melhor escolha irá depender dos custos do problema e dos 
74
 
custos totais da operação das várias soluções. Note que as soluções devem incluir 
opções para melhorar o fornecimento do sistema da concessionária. 
Melhorar o desempenho das instalações durante variações da qualidade da 
energia pode resultar em significantes economias e pode apresentar vantagens 
competitivas. Portanto, é importante para consumidores e fornecedores trabalharem 
em conjunto para identificar a melhor alternativa para se alcançar os níveis de 
desempenho requeridos. 
A metodologia para a avaliação econômica descrita neste trabalho consiste 
dos seguintes passos: 
• caracterizar o desempenho da qualidade da energia no sistema; 
• estimar os custos associados com as variações da qualidade da energia; 
• caracterizar as soluções alternativas em termos de custos e eficácia e 
• desenvolver a análise econômica comparativa. 
 
9.1.1 Caracterizando o desempenho da qualidade da energia
O primeiro passo no processo é entender os tipos de distúrbios que ocorrem 
sobre o sistema e a freqüência de suas ocorrências. Afundamentos de tensão e 
interrupções momentâneas irão usualmente ser as mais importantes em termos de 
seus impactos nas operações das instalações e, por esta razão, serão abordadas nesta 
análise. 
Ao definir índices de desempenho, é importante entender as características dos 
distúrbios que podem causar uma má operação dos equipamentos do consumidor. A 
susceptibilidade da carga a variações nos valores eficazes das tensões é muito 
dependente do tipo específico de carga, controle e aplicação. Conseqüentemente, 
usualmente é muito difícil distinguir quais características de certas variações rms irão 
causar a má operação dos equipamentos. Os equipamentos susceptíveis as variações 
rms podem ser divididos em três principais grupos: 
• Equipamento sensível somente a uma variação do valor rms na tensão: este 
grupo inclui dispositivos tais como relés de subtensão, controladores de 
processos e muitos tipos de máquinas automatizadas. Os equipamentos 
deste grupo são sensíveis à experiência de uma magnitude de tensão mínima 
75
 
(ou máxima) durante um afundamento (ou elevação). A duração do 
distúrbio é usualmente de importância secundária para estes dispositivos. 
• Equipamento sensível tanto à variação do valor rms na tensão (magnitude) 
como da sua duração no sistema: este grupo praticamente inclui todos os 
equipamentos que se utilizam do fornecimento eletrônico da energia. Tais 
equipamentos apresentam uma má operação ou falham quando a tensão de 
saída fornecida cai abaixo de valores específicos, permanecendo por um 
período além do suportável ou pré-especificado. 
• Equipamento sensível a outras características além da magnitude e 
duração: alguns equipamentos são afetados por outras características de 
variações rms tais como o desbalanço de fases durante o distúrbio, o ponto 
do sinal analisado (forma da onda) onde se inicia a variação, ou qualquer 
oscilação transitória ocorrendo durante o distúrbio. Estas variações são mais 
delicadas do que a magnitude e duração e seus impactos são muito mais 
difíceis de generalizar. 
Nós usaremos o método padrão da indústria em caracterizar afundamentos de 
tensão empregando a magnitude mínima de tensão e duração (tempo em que a tensão 
esta abaixo de limiares especificados). A duração do afundamento é determinada 
pelo espaço de tempo requerido para o dispositivo de proteção detectar a falta e 
operar. Uma caracterização usual da duração é encontrada na norma padrão do IEEE 
1159 (IEEE Standard 1159), Tabela 2.1, onde afundamentos de tensão com duração 
entre 0,5 e 30 ciclos são identificados como “instantâneos”, outros entre 30 ciclos e 3 
segundos são identificados como “momentâneos” e outros, com duração entre 3 s a 1 
minuto são definidos como “temporários”. Em adição a magnitude e duração, é 
freqüentemente importante identificar o número de fases envolvidas no evento 
(afundamento), desde que isto pode afetar ambas a sensibilidade do equipamento e a 
capacidade da solução tecnológica. 
A magnitude da tensão em um dada instalação durante um evento de 
afundamento de tensão irá depender da localização da instalação com respeito à 
localização da falta sobre o sistema. Infelizmente, geralmente, faltas em qualquer 
parte do sistema podem afetar a operação de uma instalação. Esta “área de alcance da 
falta” é freqüentemente designada como “área de vulnerabilidade”, a qual define a 
sensibilidade da instalação a determinado evento (afundamentos de tensão). 
76
 
Uma vez que a área de vulnerabilidade é determinada para uma específica 
avaliação, o número esperado de afundamentos de uma dada severidade pode ser 
calculada baseada no desempenho esperado dos circuitos de transmissão e de 
distribuição dentro da área de vulnerabilidade. 
Claro que o modo mais fácil de caracterizar o desempenho é pelo 
monitoramento da qualidade da energia. Os afundamentos de tensão podem ser 
caracterizados sobre o tempo. 
 
9.1.2 Estimando os custos para variações da qualidade da energia 
Os custos associados com eventos de afundamento podem variar 
significantemente de valores próximos a zero até muitos milhões de dólares por 
evento. O custo irá variar não somente entre os diferentes tipos de indústrias e 
instalações individuais, mas também, com as condições do mercado. Nem todos os 
custos são facilmente quantificados ou verdadeiramente refletem a urgência de evitar 
as conseqüências de um evento de afundamento de tensão. 
Os custos de um distúrbio na QE podem ser categorizados primariamente em 
três principais categorias: 
• perdas relacionada ao produto, tais como perda de produtos e materiais, 
perda da capacidade de produção, disposição de cargas elétricas, etc.; 
• perdas relacionadas aos funcionários e/ou trabalhadores, tais como 
ociosidade, horas extras, reparos, etc. e; 
• custos auxiliares tais como danos á equipamentos, perda de oportunidade e 
penalidades devido a atrasos na entrega. 
Focalizando-nos sobre estas três categorias irá facilitar o desenvolvimento de 
uma lista detalhada de todos os custos e economias associadas com o distúrbio na 
QE. Para maiores detalhes, pode-se recorrer à norma padrão do IEEE 1346, apêndice 
A. 
Os custos tipicamente irão variar com a severidade (ambos em magnitude e 
duração) do distúrbio da qualidade da energia. Esta relação pode muitas vezes ser 
definida por uma matriz de fatores de indenizações. Os fatores de indenizações são 
desenvolvidos usando-se como base o custo momentâneo da interrupção. 
Usualmente, uma interrupção momentânea irá causar o desligamento ou interrupção 
de cargas e processos que não são especificamente protegidas com algum tipo de 
77
 
tecnologia de fornecimento contínuo de energia. Afundamentos de tensão e outras 
variações na qualidade da energia sempre irão ter um impacto sobre alguma porção 
associada ao encerramento total da atividade. A base de custo associada com uma 
interrupção momentânea pode ser designada como Ci. Se um afundamento de tensão 
de 40 % causa 80% do impacto econômico que uma interrupção momentânea causa, 
então o fator de indenização para o afundamento de 40% poderá ser 0,8. 
Similarmente, se um afundamento de 75% somente resulta em 10% dos custos que 
uma interrupção causa, então o fator de indenização é 0,1. 
Após os fatores de indenização serem aplicados a um evento, os custos de um 
evento são expressos por unidade de custo momentâneo da interrupção. Os eventos 
associados às indenizações podem então ser somados, sendo que o total é o custo de 
todos os eventos expressos em um número de interrupções momentâneas 
equivalentes. 
A Tabela 3 provê um exemplo de fatores de indenizações que podem ser 
usados para uma particular investigação. Os fatores de indenizações podem, além 
destes, serem expandidos para diferenciar entre afundamentos que afetam todas as 
três fases e afundamentos que afetam uma ou duas fases. A Tabela 4 combina as 
indenizações com o desempenho esperado para determinar o custo total anual 
associado com afundamentos de tensão e interrupções. O custo é 16,9 vezes o custo 
total associado a uma interrupção. Se uma interrupção custa $ 40.000, o custo total 
associado com afundamentos de tensão e interrupções deve ser $ 676.000 por ano. 
 
Tabela 3 – Exemplo de fatores de indenizações para diferentes 
magnitudes de afundamentos de tensão 
Categoria do evento Indenizações para a análise econômica
Interrupção 1,0 
Afund. com tensão mínima abaixo de 
50% 
0,8 
Afund. com tensão mínima (50 e 70%) 0,4 
Afund. com tensão mínima (70
e 90%) 0,1 
78
 
 
Tabela 4 – Fatores de indenizações combinados com o número de eventos 
esperados para determinar o custo total das variações na QE 
Categoria 
do evento 
Indenizações p/ a 
análise econômica
Número de 
eventos por ano 
Total interrupções 
equivalente 
Interrupção 1,0 5 5 
Afund. com tensão 
mínima abaixo de 
50% 
0,8 3 2,4 
Afund. com tensão 
mínima entre 50 e 
70% 
0,4 15 6 
Afund. com tensão 
mínima entre 70 e 
90% 
0,1 35 3,5 
Total 16,9 
 
9.1.3 Caracterizando os custos e a eficácia para as soluções alternativas 
Uma larga faixa de potenciais soluções, com vários graus de custos e eficácia 
estão disponíveis para mitigar as conseqüências associadas com uma pobre qualidade 
da energia. Soluções para a QE podem ser aplicadas em diferentes níveis ou 
localizações dentro de sistemas elétricos. As quatro principais opções são: 
- modificações no sistema de fornecimento e equipamento que afetam 
múltiplos consumidores; 
- tecnologias de serviço de entrada que afetam um simples consumidor, alvo 
ou objetivo; 
- condicionamento da energia na localização do equipamento no interior da 
instalação e 
- especificações do equipamento e projeto. 
Em geral, os custos destas soluções aumentam com o aumento da potência da 
carga a ser protegida. Isto significa que economias podem ser alcançadas se 
equipamentos sensíveis ou de controle puderem ser isolados e protegidos 
individualmente. 
Cada solução tecnológica necessita ser caracterizada em termos do custo e 
eficiência. Em termos gerais, a solução custo deve incluir requisitos iniciais e 
despesas de instalação, despesas de operação e manutenção, e qualquer outra 
79
 
disposição e/ou considerações para que agreguem valor na aplicação. Uma avaliação 
completa deverá incluir custos menos óbvios tais como despesas de imobiliários ou 
relacionadas ao espaço e impostos considerados. O custo da necessidade de espaço 
extra pode ser incorporado como uma taxa de aluguel e incluída com outras despesas 
anuais de operação. As considerações dos impostos podem ter vários componentes, e 
os benefícios ao sistema ou custo podem ser incluídos em outra despesa anual de 
operação. A Tabela 5 provê um exemplo dos custos iniciais e custos de operação 
anual para algumas tecnologias gerais usadas para melhorar o desempenho frente a 
afundamentos de tensão e interrupções. Estes custos são providos para uso ilustrativo 
e não devem ser considerados como um indicativo de qualquer produto em 
particular. 
 
Tabela 5 – Exemplo de custos para os diferentes tipos de tecnologias de 
melhoramento na qualidade da energia 
Alternativa Custo típico ($) Custo de operação e 
manutenção (% do custo 
inicial por ano) 
Proteção de controles (< 5 kVA) 
CVTs 1,000/kVA 10 
UPS 500/kVA 25 
Corretor dinâmico de 
afundamento* 
250/kVA 5 
Proteção de máquinas (10-300 kVA) 
UPS 500/kVA 15 
Baterias eletromecânicas 500/kVA 7 
Corretor dinâmico de 
afundamento* 
200/kVA 5 
Proteção de instalações (2-10 MVA) 
UPS 500/kVA 15 
Baterias eletromecânicas 500/kVA 5 
DVR** (estímulo de 
tensão de 50%) 
300/kVA 5 
Chave estática (10 MVA) 600,000 5 
Chave de transferência 
rápida 
150,000 5 
 
80
 
* Incorpora um microprocessador para monitorar a linha para condições de 
afundamento. O processador detecta quando a linha está fora do limite e controla 
uma chave estática, que insere um conversor e filtros em série com a linha durante o 
evento. 
** Reguladores Dinâmicos de Tensão (Dynamic Voltage Regulators) e Reguladores 
Série de Tensão (Series Voltage Regulators): para afundamentos de tensão de até 
50%. 
Junto ao custo, a eficácia da solução de cada alternativa deve ser quantificada 
em termos do melhoramento do desempenho que deve ser alcançado. A eficácia da 
solução, como custos da qualidade da energia, tipicamente irá variar com a 
severidade do distúrbio da qualidade da energia. Esta relação pode ser definida por 
uma matriz de valores em “% de afundamentos evitados”. 
 
9.1.4 Desenvolvendo a análise econômica comparativa 
O processo de comparação de diferentes alternativas para melhoramento no 
desempenho envolve determinar o custo anual total para cada alternativa, incluindo 
ambos os custos associados com as variações na qualidade da energia (relembrando 
que as soluções tipicamente não eliminam por completo estes custos) e os custos 
anuais de implementação das soluções. O objetivo é minimizar estes custos anuais 
(custos PQ + custos das soluções). 
Comparando as diferentes alternativas para as soluções da qualidade da energia 
em termos de seus custos anuais (custos anuais da qualidade da energia + custos 
anuais das soluções para qualidade da energia) identificam-se aquelas soluções com 
baixos custos que justificam investigações mais detalhadas. A solução do nothing 
(não fazer nada) é geralmente incluída na análise comparativa e é tipicamente 
identificada como caso base. A solução do nothing tem um custo anual zero para a 
solução, mas apresenta o maior custo anual para a qualidade da energia. 
Muitos dos custos são por sua natureza anuais. Os custos associados com a 
compra e a instalação de várias soluções tecnológicas podem ser anuais, usando-se 
de uma apropriada taxa de interesse e assumido o tempo ou período da avaliação. 
A idéia da análise econômica deve também incluir um parâmetro de avaliação 
sensitivo onde os parâmetros de incerteza poderiam ser caracterizados por valores de 
um mínimo, máximo e médio. A natureza probabilística de eventos da qualidade da 
81
 
energia associados com condições de mercado, que podem grandemente afetar os 
custos da qualidade da energia, poderiam tipicamente justificar a necessidade para 
avaliações sensitivas. 
82
 
10 
MEDIÇÕES E MONITORAMENTO DA 
QUALIDADE DA ENERGIA 
 
É crescente a demanda pela melhoria da qualidade dos serviços de energia 
elétrica, com os consumidores exigindo uma pronta atuação do órgão regulador, em 
benefício da sociedade. 
Até o momento, o processo de monitoração da qualidade do serviço oferecido 
pelas concessionárias baseou-se, principalmente, na coleta e no processamento dos 
dados de interrupção do fornecimento de energia elétrica (DEC e FEC) informados 
periodicamente pelas empresas á ANEEL. Os dados são tratados e avaliados pela 
Agência, que verifica o desempenho das concessionárias. 
Agora, está em implantação o Sistema ANEEL de Monitoração da Qualidade 
da Energia Elétrica, que dará á Agência acesso direto e automático às informações 
sobre a qualidade do fornecimento, sem que dependa de dados encaminhados pelas 
empresas. Por via telefônica, o Sistema permite imediata recepção dos dados sobre 
interrupção e restabelecimento do fornecimento de energia elétrica e conformidade 
dos níveis de tensão nos pontos em que os equipamentos de monitoração estão 
instalados. Assim ele mede os indicadores da qualidade do serviço prestado pelas 
concessionárias de energia. 
Com o Sistema, a Superintendência de Fiscalização dos Serviços de 
Eletricidade - SFE, faz-se um acompanhamento da qualidade de modo mais eficaz e, 
além disso, pode auditar os dados fornecidos pelas concessionárias. Os indicadores 
calculados pelo Sistema são: os de interrupção (DEC, FEC, DIC e FIC) relativos à 
duração e à freqüência das interrupções, por conjunto de consumidores e por 
consumidor individual; e os de níveis de tensão (DRP, DRC e ICC) relativos à 
ocorrência da entrega de energia ao consumidor com tensões fora dos padrões de 
qualidade definidos pela ANEEL. 
Contudo, o advento dos sistemas de monitoração digital permitiu ir além
da 
monitoração dos sistemas de proteção. Nos últimos anos tem-se observado um 
grande interesse na monitoração de parâmetros associados a QEE fornecida. Esses 
parâmetros, de uma forma geral, podem ser agrupados em: 
83
 
a) sinais transitórios sobrepostos ao sinal de freqüência fundamental; 
b) variações momentâneas de tensão; 
c) interrupções momentâneas (continuidade); 
d) desequilíbrio de tensão/corrente; 
e) variações de freqüência; 
f) distorção da forma de onda (harmônicos) e 
g) flutuação de tensão/cintilação. 
O volume de dados necessário para a análise de cada um destes fenômenos 
leva em consideração a sua característica e duração. Para os fenômenos que 
necessitam de um grande volume de dados para a sua caracterização, geralmente 
adota-se uma abordagem de registros periódicos de eventos. No caso de fenômenos 
lentos (“quase permanente”), cuja caracterização necessite de um pequeno volume de 
dados, utiliza-se uma estratégia de medição contínua (histórico). 
Ao contrário dos Registradores Digitais de Perturbações (RDPs), os quais já 
possuem um conjunto de funcionalidades muito bem definidas e consolidadas, os 
Registradores de parâmetros para análise da Qualidade da Energia Elétrica (RQEE) 
ainda se encontram em fase de consolidação, quanto aos recursos disponíveis, 
capacidades de memória, capacidades de comunicação, protocolos de medição e até 
mesmo quanto ao preço básico desses instrumentos. 
A fronteira que separa um RDP de um RQEE é bastante tênue e muitas vezes 
não parece estar bem clara para os usuários (e mesmo para alguns fabricantes) destes 
dois equipamentos. 
De um forma geral, as características básicas de um RQEE compreende: 
• a monitoração de um conjunto de parâmetros cujo escopo é bem maior 
do que o do RDP. 
• Normalmente monitoram um único circuito (4 correntes e 4 tensões); 
• realizam muitos cálculos sobre os sinais monitorados. 
• É configurado por uma série de triggers (disparos) associados aos 
problemas de QEE (o que normalmente exclui os triggers digitais). 
• Gera registros estatísticos de eventos aos quais podem estar associados 
a dados fasoriais (valores de módulo e ângulo medidos a cada ciclo) e 
também a dados oscilográficos. 
84
 
• Gera registros históricos (medição contínua). 
• A sincronização temporal não é tão relevante embora necessária. 
• Grava normalmente um grande número de eventos, sendo grande a 
preocupação com estratégias que minimizem o volume de dados 
armazenados. 
• Os dados são lidos e analisados com uma filosofia voltada para o 
tratamento estatístico dos eventos ocorridos em um certo período de 
tempo. Registros oscilográficos concomitantes com os eventos são 
disponibilizados para permitir uma melhor visualização dos 
fenômenos. 
• Podem ser instalados em TPs e TCs que alimentam os sistemas de 
medição. 
As características comuns aos dois registradores constituem-se 
fundamentalmente pelo hardware e aquisição dos sinais de corrente e tensão, sendo 
que o escopo do RQEE é muito mais abrangente do que a do RDP. No entanto, 
existem muitas funcionalidades no RDP que são realizadas pelo RQEE, tais como a 
localização de defeitos e geração de triggers digitais. 
Alguns parâmetros da QEE, principalmente os associados às variações 
momentâneas de tensão e interrupções, podem ser facilmente registradas com o 
auxílio de um RDP. No entanto, o volume de dados armazenados é normalmente 
excessivo, tornando o tratamento dos mesmos muito trabalhoso, uma vez que muitas 
das etapas não são realizadas de forma automática. 
A medição de fenômenos de natureza “quase-permanente” (harmônicos, por 
exemplo) pode ser realizada através de disparos oscilográficos em intervalos de 
tempo periódicos. Esse tipo de registro, no entanto, além de gerar um grande volume 
de dados, normalmente não atende totalmente aos protocolos de medição usualmente 
empregados. Alguns fenômenos que dependem de protocolos de medição bastante 
específicos (como por exemplo, a medição de cintilação) normalmente não podem 
ser realizados por meio de um RDP. 
Sendo assim, pelos apontamentos já apresentados, temos que o uso de RQEEs 
ainda é incipiente, sendo que os próprios equipamentos e softwares associados 
encontram-se em uma fase de maturação e grande aprimoramento. A tendência é de 
85
 
que os RQEEs sejam utilizados principalmente nos pontos de conexão entre os 
diversos agentes do setor elétrico com o objetivo de se fazer um acompanhamento 
contínuo da QEE na fronteira entre as empresas, sendo que os consumidores 
industriais já começam a instalar seus próprios medidores. 
Desta forma, o que se visualiza para a próxima década é o desenvolvimento de 
equipamentos mais poderosos que tenderão a agrupar simultaneamente as duas 
funções (oscilografia e qualimetria), e que irão realizar a monitoração de 
praticamente toda a rede de transmissão e distribuição de energia elétrica. 
 
DEFINIÇÕES: 
 
Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC): indica o 
número de horas em média que um consumidor fica sem energia elétrica durante um 
período, geralmente mensal. 
 
Freqüência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC): indica 
quantas vezes, em média, houve interrupção na unidade consumidora (residência, 
comércio, indústria etc). 
 
Duração de Interrupção por Unidade Consumidora (DIC) e Freqüência de 
Interrupção por Unidade Consumidora (FIC): indicam por quanto tempo e o número 
de vezes respectivamente que uma unidade consumidora ficou sem energia elétrica 
durante um período considerado. 
 
Duração Relativa da Transgressão de Tensão Precária (DRP): indicador individual 
referente à duração relativa das leituras de tensão, nas faixas de tensão precárias, no 
período de observação definido, expresso em percentual. 
 
 Duração Relativa da Transgressão de Tensão Crítica (DRC): indicador individual 
referente à duração relativa das leituras de tensão, nas faixas de tensão críticas, no 
período de observação definido, expresso em percentual. 
 
86
 
Índice de Unidades Consumidoras com Tensão Crítica (ICC): percentual da 
amostra com transgressão de tensão crítica. 
 
10.1 Testes laboratoriais para a qualidade da energia 
Testes em laboratório da qualidade da energia geralmente servem para uma das 
três propostas: 
• testar o desempenho de dispositivos elétricos na presença de distúrbios da 
qualidade da energia, 
• testar a habilidade de dispositivos aplicados a QE em mitigar distúrbios, ou 
• determinar a magnitude e tipos de distúrbios de qualidade da energia 
produzidos por um dispositivo conectado ao sistema de energia. 
O laboratório da qualidade da energia deve, portanto, ser capaz de recriar 
condições de operação, ambas para as situações de distúrbio e não distúrbio, que o 
dispositivo irá experimentar em campo. 
Muitos tipos de equipamentos são necessários para reproduzir os vários 
distúrbios. Os instrumentos de medidas devem então capturar os distúrbios e 
monitorar o desempenho do dispositivo sob teste. Para testar grandes dispositivos, é 
algumas vezes mais prático tomar o teste e monitorar o equipamento a ser avaliado 
do que mover e reconectar o dispositivo em laboratório. 
O IEEE Emerald Book categoriza os distúrbios da qualidade da energia e os 
laboratórios devem estar aptos a reproduzir e medir tais distúrbios. Para o propósito 
de teste em laboratório, é usual categorizar os distúrbios como: 
• distúrbios de tensão ou corrente e 
• como distúrbios de alta ou baixa freqüência. 
A categoria determina que equipamento irá gerar e medir o distúrbio em 
laboratório. 
 
10.1.1 Teste em baixa freqüência
Um sistema típico usado para gerar distúrbios em baixa freqüência é 
mostrado na Figura 39. O distúrbio é criado em baixa tensão por um gerador de 
forma de onda arbitrária. O gerador pode ser um dispositivo comercial ou pode ser 
87
 
um PC com um software direcionado a conversores digitais para analógicos. Saídas 
típicas são ±10 V. 
 
Figura 39 – Gerador de distúrbios em baixa freqüência 
 
As características dos distúrbios são repassadas para o gerador da forma de 
onda. As características podem ser de uma forma de onda padrão (em regime), ou 
elas podem ser tomadas de um arquivo de dados de distúrbios coletados em campo. 
A segunda opção é particularmente empregada quando o dispositivo/equipamento 
está erroneamente operando em uma determinada localização. Os distúrbios medidos 
no local são recriados no laboratório, permitindo que o dispositivo seja analisado e 
opções de mitigação sejam testadas para aqueles específicos distúrbios. 
O distúrbio é então convertido para níveis apropriados por um amplificador. 
Os limites de freqüência do teste do sistema são fixados pelo comprimento de banda 
do amplificador. Os limites do sistema em baixa freqüência na “Wichita State 
University (WSU)”, por exemplo, está próximo a 22 kHz. Este limite permite teste de 
harmônicos até a 300a harmônica em 60 Hz e interrupções momentâneas ou 
afundamentos de até 50 µs. 
O amplificador usado depende do tipo de distúrbio a ser criado. Alguns 
distúrbios requerem um amplificador de fonte de tensão, enquanto que outros 
requerem uma fonte de corrente. Os amplificadores de tensão produzem uma tensão 
que tem a mesma forma de onda como da saída da forma de onda do gerador e a uma 
magnitude apropriada para o dispositivo sobre teste, isto é, 120 V rms para um 
dispositivo de 120 V. Os amplificadores de corrente similarmente produzem uma 
 
Características do distúrbio 
Gerador de 
forma de onda 
arbitrário 
Amplificador 
(tensão ou 
corrente) 
Dispositivo 
sob teste 
Monitores 
88
 
corrente com a forma de onda da saída do gerador. A Tabela 6 lista os vários 
distúrbios e os tipos de amplificadores empregados para recriá-los. Um dispositivo 
trifásico necessitará de três amplificadores, um por fase. 
 
Tabela 6 – Amplificadores para distúrbios em baixa freqüência 
Fonte de tensão Fonte de corrente 
Distorção harmônica de corrente 
ponteiras de corrente 
transformadores de corrente 
relés sensíveis a corrente 
instrumentos de medida de corrente 
 
Interrupção 
Afundamento 
Elevação 
Distorção harmônica 
Interferência eletromagnética (EMI) 
 
10.1.2 Teste de fonte de tensão 
Interrupções, afundamentos e elevações são distúrbios de tensão e requerem 
amplificadores de fonte de tensão. A saída de um amplificador é conectada 
diretamente ao dispositivo sobre teste, como mostrado na Figura 39. Os distúrbios 
são aplicados ao dispositivo e seu desempenho é medido. 
Distorção harmônica, exceto para dispositivos usados para detectar ou medir 
corrente, também é um distúrbio de tensão e o amplificador de fonte de tensão é 
novamente empregado. A forma de onda de tensão distorcida do amplificador é 
aplicada diretamente no dispositivo sob teste. Uma onda senoidal pura é usualmente 
empregada para determinar a produção de corrente harmônica de um dispositivo. 
 
10.1.3 Teste de fonte de corrente 
Um amplificador de fonte de corrente é necessário em duas situações de teste 
em qualidade da energia. A primeira destas é para testar dispositivos usados para 
sentir ou medir corrente. Relés de corrente, medidores de watt-hora e 
transformadores de corrente são alguns exemplos.Todos estes apresentam uma baixa 
impedância à corrente e requerem um amplificador de corrente que gera uma forma 
de onda de corrente em uma baixa impedância. Uma aplicação comum é determinar 
a resposta dos transformadores de corrente para a distorção harmônica de corrente. 
A segunda aplicação para o amplificador de fonte de corrente é para produzir 
interferência eletromagnética (ElectroMagnetic Interference - EMI). O campo 
89
 
magnético que gera a EMI é produzido pela corrente, então, uma específica forma de 
onda de corrente é necessária para gerar o campo magnético. A corrente pode passar 
diretamente por uma bobina Helmholtz para criar um campo uniforme ou por um, ou 
mais condutores em um feixe para criar interferência em condutores próximos. 
Alguns dispositivos irão requerer ambos os amplificadores de fontes de 
tensão e corrente. Um medidor de wattt-hora é um exemplo, com ambas as bobinas 
sensíveis à tensão e a corrente. Um relé de distância trifásico requer três fontes de 
tensão e corrente. O gerador de forma de onda arbitrário, neste caso, deve gerar seis 
formas de ondas. 
 
10.1.4 Teste em alta freqüência 
Devido aos limites do comprimento de banda nos geradores de formas de 
onda e amplificadores, os testes em alta freqüência requerem equipamentos 
especializados. Distúrbios de tensão em alta freqüência incluem descargas 
atmosféricas e transitórios de chaveamentos, chaveamentos de capacitores, arcos e 
descargas eletrostáticas. 
Testes padrões para descargas atmosféricas e transitórios devidos a 
chaveamentos são descritos em IEEE Standard C62.45. As formas de ondas 
analisadas nestes testes apresentam freqüências na faixa de MHz. Geradores 
especializados são empregados para gerar estes distúrbios. Os geradores permitem 
que o equipamento seja energizado durante o teste enquanto a fonte aplicada de um 
sistema de energia externo acoplado é provido. A magnitude do fenômeno, sua forma 
e ângulo de fase são variáveis controláveis. 
Arco e outros ruídos de alta freqüência são gerados por um gerador de 
transitórios. Este dispositivo também permite que o equipamento sob teste seja 
energizado e um rápido transitório seja aplicado na forma de onda da tensão. A 
magnitude, freqüência, ângulo de fase e duração dos pulsos transitórios são todos 
controláveis. 
Descargas eletrostáticas, tais como aquelas produzidas pelo caminhar sobre 
um carpet e aquelas ao se tocar dispositivos aterrados, produzindo um pequeno 
choque (spark), podem causar falhas em dispositivos eletrônicos ao nível do chip. 
Para testar dispositivos, um choque controlado é produzido por um dispositivo que 
90
 
gera uma alta tensão estática e então descarrega no equipamento sob teste. A tensão 
estática produzida é controlável. 
Muitos dispositivos que estão em uso hoje podem emitir radiação de alta 
freqüência podendo causar problemas para alguns tipos de equipamentos. Em 
particular a controles de baixa tensão e linhas de comunicação. Tal teste é 
usualmente feito por um laboratório comercial especializado em testes de alta 
freqüência EMI. 
 
10.1.5 Teste de campo 
Devido ao tamanho, peso e limitações elétricas, pode ser difícil trazer um 
equipamento grande para o laboratório. Afundamentos de tensão são freqüentemente 
os mais importantes assuntos da qualidade da energia nestes tipos de equipamentos e 
um gerador de afundamento pode ser levado ao equipamento sob teste. 
Um gerador de afundamento típico é mostrado na Figura 40. Este gerador 
consiste de autotransformadores variáveis e chaves controladas por computadores 
que conectam ou desconectam os transformadores no circuito. 
 
 
Figura 40 – Gerador de afundamento de tensão 
 
O equipamento sob teste é energizado da sua fonte normal. Os 
autotransformnadores são regulados para os afundamentos de tensão e tempo 
desejados tendo o dispositivo sob teste conectado aos seus terminais. A operação do 
equipamento é monitorada durante o afundamento e opções de mitigação podem ser 
aplicados durante
os testes. 
 
Fonte 
Dispositivo 
sob teste 
~ 
Chave controlada por computador 
Autotransformador 
variável 
91
 
 
10.1.6 Cargas de laboratório 
Cargas elétricas ou mecânicas controláveis são necessárias no laboratório 
para testes da qualidade da energia. Quando motores são testados, por exemplo, o 
motor deve estar sob carga para realizar trabalho. A carga mecânica é usualmente um 
dinamômetro, o qual provê velocidade e torque de carga variável para o motor. 
Contudo o sistema supridor de energia e os retificadores necessitam 
experimentar cargas elétricas quando testados. Cargas elétricas lineares incluem 
resistores variáveis, indutores e capacitores que podem ser combinados em série ou 
paralelo para produzir uma desejada impedância. Cargas não lineares podem ser 
freqüentemente simuladas por um retificador em ponte com cargas lineares variáveis 
conectadas ao seu lado CC. 
 
10.1.7 Equipamento de monitoramento e medição 
Uma variedade de instrumentos são usados para medir os distúrbios criados 
pelos testes de equipamentos e pelos distúrbios de cargas gerados em laboratório. 
Outros instrumentos de medida do desempenho de um dispositivo estão sendo 
testados. Muitos testes requerem numerosos parâmetros durante o teste. 
Instrumentos multicanais com ponteiras e transdutores apropriados são 
convenientes para o monitoramento de ambos os distúrbios relacionados à QE como 
ao desempenho do equipamento sob teste. Instrumentos comerciais estão 
disponíveis, ou um computador com um hardware e software para aquisição de 
dados pode ser usado. 
Medidores do sistema de energia são empregados para muitos testes da QE. 
Os mesmos devem ser capazes de medir adequadamente os distúrbios considerados 
em laboratório. Devido às formas de ondas distorcidas analisadas na QE, todos os 
medidores devem corretamente ler os valores rms. Multímetros digitais são usados 
para ajustar os testes e prover uma indicação visual dos parâmetros durante os 
mesmos. 
 
92
 
10.1.8 Protocolos de teste 
Testes da QE podem ser feitos para determinar como um dispositivo responde 
a uma particular forma de onda ou distúrbio. Estes são geralmente executados 
quando um dispositivo não trabalha adequadamente. Neste caso, um monitoramento 
da QE é realizada em campo para determinar quais distúrbios estão presentes. Estas 
características dos distúrbios são então reproduzidas em laboratório e aplicadas ao 
equipamento sob teste. 
Testes da QE são freqüentemente usados para caracterizar a resposta de um 
dispositivo a um específico conjunto de distúrbios da QE. Isto permite aos 
fabricantes e usuários verificar como o dispositivo se comportará quando em 
operação. Um número de protocolos de testes foram desenvolvidos com este 
objetivo. Exemplos incluem os protocolos de testes desenvolvidos pelo Electric 
Power Research Institute (EPRI), Power Electronics Application Center em 
Knoxville, Tennesee. 
 
 
93
 
11 
 
CARACTERIZAÇÃO DE EVENTOS DA QUALIDADE 
DA ENERGIA UTILIZANDO FERRAMENTAS 
COMPUTACIONAIS MODERNAS 
 
 
Alguns dos métodos empregados para a análise dos fenômenos transitórios no 
presente passam pela: 
(i) transformação dos dados no domínio da freqüência, empregando-se a análise 
de Fourier, Laplace ou a Transformada Z ou pelo 
(ii) uso de programas de simulação computacional de sistemas de energia, como 
o programa de transitórios eletromagnético (EMTP), ou pelas soluções matemáticas 
de equações diferenciais seja analítica ou numericamente. 
Apesar da eficiência destes métodos, com o aumento da complexidade dos 
sistemas de energia concomitante com a demanda para permitir uma rede mais 
rígida sem comprometer a qualidade do fornecimento da energia, os engenheiros 
estão continuamente na busca de métodos alternativos de análise transitória, com o 
propósito de projetar novos equipamentos que eficientemente atuem perante os 
fenômenos com características transitórias. 
 
11.1 Softwares para a simulação de fenômenos 
relacionados á QEE 
 
Há muitas formas de distúrbios que podem ocorrer nos sistemas de energia. 
Exemplos típicos de distúrbios na qualidade da energia, anteriormente citados são: 
afundamentos e elevações de tensão, interrupções no fornecimento da energia, 
oscilações transitórias, ruídos, distorções harmônicas, etc. Para caracterizar tais 
fenômenos, dispõem-se de simulações do sistema elétrico sob condições normais e 
de distúrbio, podendo-se utilizar para tal dos softwares PSCAD / EMTDC (Manitoba 
HVDC Research Centre, 1998) e do Aternative Transient Program (ATP), devido à 
confiabilidade e ao reconhecimento existente pela comunidade acadêmica em relação 
a estes. Estes softwares foram desenvolvidos para a simulação de redes elétricas, 
sendo que em seus ambientes é possível modelar elementos tais como: resistores, 
94
 
capacitores e indutores; bobinas mutuamente acopladas, tais como transformadores; 
linhas de transmissão e de distribuição; fontes de tensão e corrente; chaves e 
disjuntores; diodos e tiristores; funções de controle analógico e digital; máquinas 
CA; medidores de tensão e corrente; transformadores de potência; inserção de 
bancos de capacitores, etc. 
 
11.1.1 Simulação de um sistema de distribuição primário 
Preocupada com a manutenção de padrões que garantam aos consumidores 
uma energia de boa qualidade, a Cia Paulista de Força e Luz (CPFL), tem se 
empenhado em diagnosticar problemas e causas das alterações na qualidade da 
energia, bem como implementar ações corretivas que mantenham-na dentro dos 
níveis requeridos pelos consumidores. 
Como já comentado, vários são os distúrbios relacionados á QE que merecem 
especial atenção. Para caracterizar tais fenômenos, dispõem-se de simulações no 
software ATP. As grandezas analisadas referem-se a valores amostrados de tensões 
de um sistema elétrico real, cujos dados foram fornecidos pela CPFL- Companhia 
Paulista de Força e Luz (Figura 41). 
Na figura, o transformador da subestação (Subestação138/13,8 KV, 25 
MVA), os transformadores de distribuição 3 e 13 (Trafo Distr. 3 e 13 - 45 kVA) e o 
transformador particular 4 (Trafo Part. 4 - 45 kVA), que aparecem destacados, foram 
modelados considerando-se suas curvas de saturação. O modelo das cargas do lado 
secundário destes trafos seguem características específicas que denotam situações 
reais de carga (na figura, esta situação está denotada por carga*). Já os 
transformadores particulares 1, 2 e 3 (Trafo Part. 1, 2 e 3) foram modelados sem 
considerar as respectivas curvas de saturação dos transformadores. Logo, as cargas 
foram referidas ao primário com uma parcela RL em paralelo com um capacitor para 
a devida correção do fator de potência originalmente de 0,75 e posteriormente 
corrigido para 0,92 (tal situação está representada na figura por carga**). Os demais 
transformadores de distribuição foram modelados somente como cargas RL referidas 
ao primário, considerando-se um fator de potência geral de 0,9538 (destacado na 
figura apenas como carga), cujo ponto de conexão com o sistema é indicado na 
figura. Cabe ainda destacar que tanto os transformadores de distribuição quanto os 
95
 
particulares apresentam ligações delta-estrela, com resistência de aterramento de 
zero ohm. Além destes, três bancos de capacitores (um de 1200 kVAr e dois de 600 
kVAr cada) estão instalados ao longo do sistema (BC 1, 2 e 3). O alimentador 
principal é constituído por cabo nu CA-477 MCM em estrutura aérea convencional, e 
seus trechos são representados por elementos RL acoplados. 
 
 
Figura 41 – Diagrama do sistema elétrico de distribuição a ser analisado
Deve ser ressaltado que a modelagem deste sistema de distribuição primário 
faz parte de uma situação real encontrada junto a CPFL e que a mesma, na medida do 
possível, apresenta grande semelhança com o encontrado na prática. Inúmeras 
considerações práticas foram adotadas até a obtenção e teste do mesmo, em um 
trabalho conjunto entre as partes interessadas. 
 
11.1.2 Fenômenos caracterizados sobre o sistema 
Para uma melhor compreensão e definição dos principais termos empregados 
que se referem ao assunto delineado, relembramos no que segue os fenômenos 
caracterizados e analisados no decorrer deste trabalho. As Figuras ilustrativas de 42 a 
46 foram obtidas sobre o sistema de distribuição em análise (Figura 41). 
 
 
BC3
13,8 kV 
Alimentador 01
Alimentador 02
Alimentador 03
476 m 700 m 400 m
carga
Trafos 
4, 5, 6 e 7
 carga 
Trafos 
 8, 9 e 10 
 carga 
Trafos 
 11, 12 e 14 BC1 BC2
~ 
138 kV 
Sistema 
equivalente 
Fonte 
60 Hz 
Transformador da 
subestação 
138/13,8 kV 
15/20/25 MVA 
∆ 
Trafo 
Distr. 
3 
 carga 
*
Trafo 
Part 2
 carga 
**
Trafo 
Part 1
 carga 
**
Trafo 
Part 3
 carga 
**
Trafo 
Distr. 
13 
 carga 
* 
Trafo 
Part 4 
 carga 
*
Trafos 
1 e 2 
 carga 
96
 
Afundamento de tensão 
Dependendo da localização da falta e das condições do sistema, a falta pode 
causar um decréscimo temporário de 10-90% no valor eficaz da tensão do sistema, 
permanecendo este distúrbio por um período de meio ciclo até 1 min. Afundamentos 
de tensão são usualmente associados com faltas no sistema (curtos-circuitos 
ocorridos nas redes de distribuição), mas podem também ser causadas pela 
energização de grandes cargas ou a partida de grandes motores e pela corrente de 
magnetização de um transformador (Figura 42). 
0.00 0.05 0.10 0.15
-15000
-10000
-5000
0
5000
10000
15000
Te
ns
ão
 (V
)
Tempo (s)
 
 
 
FIGURA 42 – Afundamento de tensão de 0,6 p. u. 
 
Elevação de tensão 
Outro distúrbio pode ser caracterizado por um aumento da tensão eficaz do 
sistema (entre 10-80% da tensão, na freqüência da rede, com duração de meio ciclo a 
1 min) e freqüentemente ocorre nas fases sãs de um circuito trifásico, quando ocorre 
um curto circuito em uma única fase (Figura 43). 
97
 
0.00 0.05 0.10 0.15
-20000
-15000
-10000
-5000
0
5000
10000
15000
20000
Te
ns
ão
 (V
)
Tempo (s)
 
 
 
FIGURA 43 – Elevação de tensão de 0,6 p. u. 
Interrupção 
Uma interrupção ocorre quando o fornecimento de tensão ou corrente de 
carga decresce para um valor menor do que 0,1 p. u. por um período de tempo que 
não excede 1 min (Figura 44). As interrupções podem ser resultantes de faltas no 
sistema de energia, falhas nos equipamentos e mal funcionamento de sistemas de 
controle. As interrupções são medidas pela sua duração desde que a magnitude da 
tensão é sempre menor do que 10% da nominal. 
0.00 0.02 0 04 0 06 0 08 0.10 0.12 0.14
-20000
-15000
-10000
-5000
0
5000
10000
15000
Te
ns
ão
 (V
)
Tempo (s)
 
 
 
FIGURA 44 – Interrupção momentânea do fornecimento de energia – 1/2 ciclo a 1s 
98
 
 
Ruído 
Com respeito aos ruídos, estes podem ser definidos como sinais elétricos não 
desejáveis com um conteúdo do espectro abaixo de 200 kHz, superposto à tensão e 
corrente do sistema de energia nos condutores de fase ou obtidos sobre os condutores 
neutros, ou ainda, nos sinais da linha (Figura 45). 
0.00 0.05 0.10 0.15
-15000
-10000
-5000
0
5000
10000
15000
Te
ns
ão
 (V
)
Tempo (s)
 
 
 
FIGURA 45 – Ruído de 0,1 p.u., freqüência de 1200 Hz, 
sobreposto ao sinal de tensão (fase “A”) 
 
Oscilação transitória 
Também como para os casos anteriores, um transitório oscilatório é uma 
súbita alteração não desejável da condição de regime permanente da tensão, corrente 
ou ambas, onde as mesmas incluem valores de polaridade positivos ou negativos. É 
caracterizado pelo seu conteúdo espectral (freqüência predominante), duração e 
magnitude da tensão. Estes transitórios são decorrentes da energização de linhas, 
corte de corrente indutiva, eliminação de faltas, chaveamento de bancos de 
capacitores e transformadores, etc. 
Um transitório com um componente de freqüência primário menor do que 5 
kHz, e uma duração de 0,3 a 50 ms, é considerado um transitório oscilatório de baixa 
freqüência. Estes transitórios são freqüentemente encontrados nos sistemas de 
subtransmissão e de distribuição das concessionárias e são causados por vários tipos 
de eventos. O mais comum provem da energização de uma banco de capacitores, que 
99
 
tipicamente resulta em uma tensão transitória oscilatória com uma freqüência 
primária entre 300 e 900 Hz. O pico da magnitude pode alcançar 2,0 p. u. , mas é 
tipicamente 1.3 a 1.5 p. u. com uma duração entre 0,5 e 3 ciclos dependendo do 
amortecimento do sistema. A Figura 46 ilustra o resultado da simulação de 
energização de dois bancos de 600 kVAr na tensão de 13,8 KV (Figura 41, BC 2 e 
3). 
0.00 0.05 0.10 0.15
-15000
-10000
-5000
0
5000
10000
15000
Te
ns
ão
 (V
)
Tempo (s)
 
 
 
FIGURA 46 – Oscilação transitória devido ao chaveamento automático 
de um banco de capacitores 
 
Transitórios oscilatórios com freqüências primárias menor do que 300 Hz 
também podem ser encontrados em sistemas de distribuição. Estes são geralmente 
associados com a ferroressonância e a energização dos transformadores. Transitórios 
envolvendo capacitores em série podem ser incluídos nesta categoria. Estes ocorrem 
quando o sistema responde pela ressonância com componentes de baixa freqüência 
na corrente de magnetização do transformador (segunda e terceira harmônica) ou 
quando condições não usuais resultam em ferroressonância. 
 
11.2 Ferramentas de análise para a QEE 
O estudo para obtenção de técnicas que forneçam uma boa representação, 
para uma determinada função a ser analisada, deve objetivar o desenvolvimento de 
ferramentas que nos capacite a localizar características diferenciadas de uma dada 
função ou forma de onda analisada. 
Para detectar características de uma dada função ou forma de onda, devemos 
primeiramente analisá-la. Isso ocorre naturalmente no nosso cotidiano: sinais são 
100
 
analisados e interpretados pelo nosso sentimento e uma representação dos sinais é 
conseguida dessa análise e enviada para nosso cérebro. Este é o processo usado, por 
exemplo, na percepção de cores e sons. 
Sons, cores, e outros elementos que interagimos com nosso cotidiano, são 
caracterizados por funções. Para cada ponto no espaço, e para cada instante de tempo 
a função produz uma certa saída a qual nós somos capazes de detectá-las. Estas 
funções são usualmente chamadas de sinais. 
A melhor maneira de se analisar as características de um sinal é estudando 
suas freqüências (GOMES et al., 1997). Em sinais de áudio, por exemplo, as 
freqüências são responsáveis pelo o que nós estamos acostumados a identificar como 
som grave ou agudo. Além disso, a distinção entre verde e vermelho é capturado na 
freqüência de uma associada onda eletromagnética. Desta forma, no que segue, 
veremos algumas das possíveis representações que podemos utilizar na análise de 
determinadas funções ou formas de ondas. 
 
11.2.1 A transformada de Fourier 
Como comentado anteriormente, podemos obter uma representação exata da 
função f(t) e essa representação caracteriza completamente tal função por suas 
respectivas freqüências. O único inconveniente é o
fato que f(t) tem que, 
necessariamente, ser periódica. 
Cabe então o questionamento: Será possível estender os resultados para 
funções não periódicas? Neste caso, não teremos espectros discretos para freqüências 
bem definidas. No entanto, pode-se usar a representação da série de Fourier como 
um primeiro passo para introduzir o conceito de freqüência para funções arbitrárias. 
A TF faz parte dos modelos não paramétricos (onde são envolvidos um 
número infinito de parâmetros e a análise é feita no domínio da freqüência) e é uma 
representação no domínio da freqüência de uma função do tempo, mantendo 
exatamente as mesmas informações que a função tempo, mudando apenas a maneira 
de apresentação das informações (MICHELIN, 1998). 
Em muitas áreas da ciência e engenharia, as representações de sinais ou de 
outras funções pela soma de senóides ou exponenciais complexas permitem soluções 
convenientes para problemas e freqüentemente dão um melhor entendimento do 
fenômeno físico em análise do que se poderia obter de outras maneiras. Tais 
101
 
representações de Fourier, como são geralmente chamadas, são úteis em 
processamento de sinais por duas razões básicas. A primeira é que para sistemas 
lineares esta representação é muito conveniente para determinar a resposta para uma 
superposição de senóides ou exponenciais complexas. A segunda razão é que a 
representação de Fourier freqüentemente serve para estabelecer certas propriedades 
do sinal que podem ser obscurecidas ou menos evidenciadas no sinal original 
(RABINER & SCHAFER, 1978). 
Embora a transformada de Fourier trabalhe bem para o caso infinito no tempo 
de um sinal estacionário, ela é incapaz de resolver qualquer informação temporal 
associada com estas oscilações. Se a amplitude de um sinal harmônico oscila com o 
tempo, a transformada de Fourier não pode ser usada sem modificação (PORTNOFF, 
1980). Logo, a série de Fourier, requer periodicidade no tempo de todas as funções 
envolvidas. A informação da freqüência do sinal calculado pela clássica 
Transformada de Fourier (TF) é uma média sobre a duração total do sinal em 
análise. Então, se há um sinal transitório local, definido em um pequeno intervalo de 
tempo sobre o sinal em análise, o seu transitório será considerado pela TF, mas a sua 
localização sobre o eixo do tempo será perdida. 
Uma técnica comumente usada é janelar o sinal em uma seqüência de 
intervalos, onde cada seqüência sendo suficientemente pequena de maneira que a 
forma de onda seja aproximada a uma onda estacionária (quase estacionária). Esta 
técnica é chamada de Transformada de Fourier Janelada (TFJ). 
A idéia básica da TFJ consiste na multiplicação de um sinal de entrada f(t) 
por uma dada função janela W(t) cuja posição varia no tempo, isto é, dividindo o 
sinal em pequenos segmentos no tempo. Deste modo, cada espectro de freqüência 
mostra o conteúdo de freqüência durante um curto tempo. A totalidade de tais 
espectros contém a evolução do conteúdo de freqüência com o tempo de todo sinal 
em análise (JARAMILLO et al., 2000). 
Proposta por DENNIS GABOR, o autor afirma que a TFJ permite uma 
análise da freqüência do sinal localmente no tempo (MISITI et al., 1997). Neste 
caso, uma janela de observação é deslocada no domínio do tempo, em uma técnica 
chamada de análise do sinal por janelas, e a TF é calculada para cada posição da 
janela, como mostra a Figura 47, mapeando o sinal original em uma função 
bidimensional de tempo e freqüência. 
102
 
 
 
 
Figura 47 – Transformada de Fourier Janelada 
 
A transformada de Fourier janelada capacita-nos a analisar uma função f(t) 
no domínio do tempo e da freqüência, no sentido de podermos localizar informações 
em ambos os domínios, tempo e freqüência. Para o momento, questiona-se o 
seguinte: 
Quão precisamente podemos localizar a informação de f(t) no domínio do 
tempo e da freqüência? 
Infelizmente existe um limite para a localização precisa no domínio do tempo 
e da freqüência. Esta limitação surge de um princípio que rege as transformadas de 
tempo e freqüência. Este é o princípio da incerteza que, de uma maneira simples, 
afirma o seguinte: nós não podemos obter uma localização precisa simultaneamente 
no domínio do tempo e da freqüência. Uma intuição além deste princípio é simples: 
para medir freqüências nós devemos observar o sinal por alguns períodos no tempo e 
para uma maior precisão no domínio da freqüência, um maior intervalo no tempo 
será necessário. 
O princípio da incerteza, mencionado acima, afirma que: 4πϖT ≥ 1. Isto 
significa dizer que a localização do sinal no domínio do tempo e da freqüência é 
representado geometricamente pela dimensão do retângulo T x ϖ. Este retângulo é 
chamado de janela de incerteza ou cela de informação da transformada, ilustrada 
pela Figura 48. Do princípio da incerteza, a área desse retângulo é maior ou igual a 
4π. 
 
 
103
 
Figura 48 – Janela da Incerteza 
 
Em geral a cor cinza é associada para cada cela para indicar sua energia na 
decomposição. Considere a Figura 49 abaixo. 
 
 
Figura 49 – Átomos no domínio do tempo e da freqüência 
 
O sinal associado à cela ou átomo à esquerda, apresenta uma pequena 
localização em freqüência e uma pequena concentração de energia; o átomo central 
tem uma melhor localização de freqüências (ciclo completo) e, portanto mais 
energia; o átomo à direita tem uma boa resolução em freqüência (vários ciclos são 
abrangidos) e, conseqüentemente, uma energia mais concentrada. 
 
104
 
Análise dos distúrbios utilizando a transformada de Fourier janelada 
Apesar de poderem causar interferências em dispositivos eletrônicos de baixa 
potência, geralmente, as componentes harmônicas de ordens elevadas (acima da 25a 
a 50a ordem, dependendo do sistema) são desprezíveis para análises de sistemas de 
potência (DUGAN et al., 1996). Serão consideradas, para fins de estudos neste 
trabalho, as componentes harmônicas até a 50a ordem. 
No trabalho de HENSLEY et al., (1999), tem-se que janelas de 1 ciclo 
fornecem resultados satisfatórios para análise do conteúdo de freqüências de sinais 
com distúrbios relacionados à QE. Desta forma, para uma melhor compreensão dos 
tipos de distúrbios citados, utilizamos janelas de 1 ciclo, a qual totaliza 128 amostras 
por ciclo. A taxa amostral utilizada na simulação dos distúrbios, como visto, foi de 
7,68 kHz, e a freqüência fundamental do sistema é de 60 Hz. Portanto, a análise do 
conteúdo de freqüência de cada janela estará, obviamente, relacionada a 1 ciclo 
completo. Após o janelamento do sinal em análise, cada janela é analisa pela TRF, a 
qual fornecerá informações em freqüência do sinal em análise. O avanço da janela 
para esse estudo é realizado de meio em meio ciclo como mostra a Figura 51. 
105
 
 
 
Figura 51 – Esquema de janelamento do sinal em análise para a aplicação da 
TRF 
11.2.2 A transformada Wavelet 
A análise por Wavelet transpõe as limitações dos métodos de Fourier pelo 
emprego de funções de análise que são locais, ambas no tempo e na freqüência. Uma 
Wavelet é uma pequena wave, a qual possui sua energia concentrada no tempo, 
possibilitando assim a análise de fenômenos transitórios, não estacionários ou 
variantes no tempo. A mesma ainda possui característica oscilatória, mas também 
tem a habilidade de permitir a análise tanto no tempo quanto na freqüência, 
simultaneamente. 
A TW é muito bem aceita para uma ampla faixa de sinais que não são 
periódicos e que podem conter ambos os componentes senoidais e de impulso, como 
é típico nos transitórios de sistemas de potência. Em particular, a habilidade de 
Wavelet
em se concentrar em pequenos intervalos de tempo, para componentes de 
alta freqüência, e em longos intervalos de tempo, para componentes de baixa 
freqüência, melhora a análise com impulsos e oscilações localizadas, particularmente 
na presença da componente fundamental e dos componentes harmônicos de baixa 
ordem. Para esta análise em específico, a TW pode apresentar uma janela que 
automaticamente se ajusta para proporcionar a resolução desejada. 
106
 
A análise de Wavelet emprega um protótipo de função chamado Wavelet mãe. 
Matematicamente, a Transformada Contínua de Wavelet (TCW) de um dado sinal 
x(t) com respeito a Wavelet mãe g(t) é genericamente definida como: 
( ) ( ) dt
a
btgtx
a
baTCW 

 −= ∫
∞
∞−
1, (1) 
onde a é a dilatação ou fator de escala e b é o fator de translação, e ambas as 
variáveis são contínuas. É claro da equação 1 que o sinal original no domínio do 
tempo x(t), com uma dimensão, é mapeado para uma nova função no espaço, de 
dimensão dois, através dos coeficientes de escala e de translação pela TW. O 
coeficiente da TW, em uma particular escala e translação - TCW(a,b), representa 
quão bem o sinal original x(t) e a Wavelet mãe escalada e transladada se combinam. 
Então, o conjunto de todos os coeficientes TCW(a,b) associados a um particular sinal 
é a representação do sinal original x(t) com respeito a Wavelet mãe g(t). 
Podemos visualizar a Wavelet mãe como uma função associada ao tamanho 
da janela de dados. O fator de escala a e o tamanho da função associada à janela são 
interdependentes, isto é, pequenas escalas implicam em pequenas janelas. 
Conseqüentemente, podemos analisar componentes com pequenas faixas de 
freqüência de um sinal com um pequeno fator de escala e componentes com largas 
faixas de freqüência com um grande fator de escala, capturando, portanto, todas as 
características de um sinal em particular. 
A TW engloba um infinito conjunto de Wavelet devido à necessidade da 
Análise de Multiresolução (AMR). Na AMR, as funções Wavelets são usadas para 
construir blocos para decompor e construir o sinal em diferentes níveis de resolução. 
A função Wavelet gerará uma versão detalhada do sinal decomposto e a função 
escalamento gerará uma versão aproximada do sinal decomposto. Há muitos tipos de 
Wavelets mães que podem ser empregadas na prática. Uma Wavelet mãe muito 
empregada para uma grande faixa de aplicações é a Daubechies Wavelet. Esta é 
idealmente aceitável para detectar um sinal com baixa amplitude, curta duração e 
com rápido decaimento e oscilação, típico dos sinais encontrados em sistemas de 
energia. 
Análoga à relação existente entre a transformada contínua de Fourier e a 
Transformada Discreta de Fourier (TDF), a Transformada Contínua Wavelet tem 
107
 
uma versão digitalmente implementável, denotada como Transformada Discreta 
Wavelet (TDW) que é definida como segue: 
( ) ( ) 


 −= ∑ m
o
m
oo
nmo a
ab
a
nk
gnxkmTDW 1, (2) 
onde g(.) é a Wavelet mãe e os parâmetros de escala e de translação a e b são funções 
de um parâmetro inteiro m, isto é, moaa = e mooanbb = , que permite uma expansão da 
família originada pela Wavelet mãe, gerando as Wavelets filhas. Nesta equação, k é 
uma variável inteira que se refere a um número particular de amostra de um 
determinado sinal de entrada. O parâmetro de escala permite o aumento da escala 
geométrica, isto é, 1, 1/ao, 1/ao2, ... A saída da TDW pode ser representada em duas 
dimensões de maneira similar a TDF, mas com divisões muito diferentes no tempo e 
na freqüência. 
Pela simples troca entre as variáveis n e k e rearranjando TDW temos: 
( ) ( ) ( )kbnagkxnmDWT omo
k
m
oa
−= −∑1, (3) 
Observando esta equação, podemos notar que há uma grande similaridade 
com a equação de convolução para a resposta ao impulso finito para filtros digitais 
(Finite Impulse Response – FIR), a saber: 
( ) ( ) ( )knhkx
c
ny −= ∑1 (4) 
onde h(n-k) é a resposta ao impulso do filtro FIR. Comparando-se as duas últimas 
equações, é evidente que a resposta ao impulso do filtro na equação de TDW é 
( )kbnag omo −− . 
Como ilustração apresentada por HWAN KIM & AGGARWAL (2000), 
podemos selecionar ao = 2 ou (ao-m = 1, ½, ¼, 1/8,...) e bo = 1, e a TDW pode ser 
implementada pelo uso de um filtro multi-estágio com a Wavelet mãe como um filtro 
passa baixo l(n) e com seu dual tendo o filtro passa alto h(n). A implementação da 
TDW com um banco de filtros é computacionalmente eficiente. A saída do filtro 
passa alto permite uma detalhada versão dos componentes de alta freqüência do sinal 
e o componente de baixa freqüência é mais bem empregado para se obter os outros 
detalhes do sinal de entrada. 
108
 
Similar a TDF, a TDW pode ser representada em um plano com uma 
dimensão, mas com diferentes divisões no tempo e na freqüência. Por exemplo, se o 
sinal original está sendo amostrado em Fs (Hz), então a maior freqüência de 
amostragem que o sinal pode representar é Fs/2 (baseado no teorema de Nyquist). 
Esta pode ser vista como a saída do filtro passa alto, que é o primeiro detalhe do 
sinal decomposto, sendo capturada, neste, a banda de freqüências entre Fs/2 e Fs/4. 
Da mesma maneira, o segundo detalhe captura a banda de freqüência entre Fs/4 e 
Fs/8, e assim por diante. 
Associado com a análise Wavelet, ambas as principais características em alta 
e baixa freqüência nos diferentes níveis de detalhes são claramente evidenciadas. Isto 
é obtido aplicando-se a TDW a um determinado número de ciclos do sinal 
transitório. 
Finalmente, deve ser mencionado que, para os interessados em aplicar a 
Transformada Wavelet na análise de sinais transitórios, a ferramenta está disponível 
como parte de pacotes computacionais, como a MATLAB e MATHEMATICA, 
amplamente empregados e de fácil acesso. 
Cabe novamente, relembrar a principal razão do crescente número de 
trabalhos relacionados à TW, que é devido a sua habilidade de não somente 
decompor o sinal em seus componentes de freqüência, mas também, ao contrário da 
Transformada de Fourier (TF), prover uma divisão não uniforme no domínio da 
freqüência, por meio do qual focaliza-se em pequenos intervalos de tempo para 
componentes de alta freqüência e longos intervalos de tempo para baixas 
freqüências. Esta característica em se adequar à resolução de freqüência pode 
facilitar a análise do sinal e a detecção de peculiaridades do sinal, os quais podem 
ser úteis para caracterizar a fonte de transitórios e/ou o estado de pós-distúrbio dos 
sistemas. 
A TW normalmente usa ambos os pares de análise e síntese wavelet. A 
síntese é usada para reconstruir a forma de onda. O sinal original é decomposto em 
suas sub-bandas ou níveis. Cada destes níveis representam parte do sinal original 
ocorrendo em um dado tempo e em uma particular faixa de freqüência. Estas bandas 
particulares de freqüência são espaçadas logaritmicamente a contrário da TF. Os 
sinais decompostos possuem uma poderosa propriedade de localização “tempo-
109
 
freqüência”, a qual é a principal vantagem provida pela TW. O sinal resultante pode 
então ser analisado em ambos os domínios do tempo e da freqüência. 
A análise multiresolução se refere ao procedimento de se obter aproximações 
passa-baixa e detalhes passa-banda dos sinais originais. Uma aproximação é uma 
representação de baixa resolução do sinal original, enquanto que um detalhe é a 
diferença entre duas sucessivas representações de baixa resolução. Uma aproximação 
contêm a tendência geral do sinal original, enquanto que um detalhe engloba o 
conteúdo de alta freqüência do sinal original. Aproximações e detalhes são obtidos
por sucessivos processos de convolução. O sinal original é dividido em diferentes 
escalas de resolução, ao invés de diferentes freqüências, como no caso da análise de 
Fourier. 
O algoritmo da análise multiresolução é ilustrado na Figura 50, onde três 
níveis de decomposição são tomados como um exemplo para ilustração. Os detalhes 
e as aproximações do sinal original S são obtidos passando-se o mesmo por um 
banco de filtros, o qual consiste de filtros passa baixa e alta. O filtro passa-baixa 
remove os componentes de alta freqüência, enquanto que o filtro passa alta destaca o 
conteúdo de alta freqüência do sinal em análise. Com referência a figura, os 
procedimentos de multiresolução são definidos como: 
( ) ( ) ( )knAkhnD j
k
j −= −∑ 1 
( ) ( ) ( )knAklnA j
k
j −= −∑ 1 
onde l e h são vetores dos filtros passa baixa e alta respectivamente. D1 e Aj são os 
detalhes e as aproximações na resolução j, j =1, 2, ..., J. Aj-1 é a aproximação do nível 
imediatamente acima do nível j, k =1, 2, ..., K, onde K é o comprimento do vetor 
filtro. 
110
 
D1
S
A1
2 2H L
D2 A2
2 2H L
D3 A3
2 2H L
Sinal original
Nível 1
Nível 2
Nível 3
 
Figura 50 – Multiresolução e a decomposição Wavelet 
 
Para se ter uma representação não redundante e uma reconstrução única do 
sinal original, bancos de filtros ortogonais são exigidos. A TW e a decomposição por 
multiresolução são rigidamente relacionadas. Também, como mostrado na figura, a 
decomposição por wavelet é completa incluindo-se uma operação de reamostragem 
na análise por multiresolução. 
O número máximo dos níveis de decomposição por wavelet para a TW é 
determinado pelo comprimento do sinal original, pela particular wavelet selecionada 
e o nível de detalhe requerido. Os filtros passa baixa e alta são determinados pela 
função de escala e função wavelet respectivamente. 
O processamento de sinais emprega exclusivamente wavelets ortogonais. 
Uma representação não redundante e uma perfeita reconstrução do sinal original 
podem somente ser alcançadas por wavelets ortogonais compactadas. Das que são 
usualmente empregadas podemos destacar as wavelets Daubechies, Morlets, Coiflets 
e Symlets. Estas wavelets apresentam diferentes atributos e critérios de desempenho 
quando são aplicadas a específicas aplicações, tais como a detecção de transitórios e 
compressão de sinais. Embora não exista um critério definitivo para a escolha de 
uma wavelet, a melhor opção deve apresentar uma notável semelhança com o 
fenômeno as ser estudado. 
111
 
Embora haja muitas aplicações de TW em sistemas de energia, será 
apresentado neste trabalho somente alguns casos ilustrativos como, a localização e 
proteção contra faltas em um sistema de energia, a detecção de distúrbios na 
qualidade da energia e a análise de um fenômeno de disparo parcial em uma 
subestação isolada a gás (Gas Insulated Substations – GIS). Ênfase particular é 
direcionada a considerações práticas que dizem respeito à TW incluindo: a seleção 
de uma adequada wavelet mãe, seleção das características mais relevantes, análise 
multiresolução e, finalmente, uma avaliação do desempenho. 
 
11.2.3 Análise da qualidade de energia pela TW 
No trabalho intitulado “Análise da qualidade da energia utilizando 
transformadas wavelet combinadas às redes neurais artificiais” (apresentado no XVII 
SNPTEE, Oleskovicz et al., 2003) é proposto o emprego da técnica ARM para 
detectar e localizar o distúrbio agregado às formas de ondas de tensão analisadas. 
Além da detecção e localização, os distúrbios são classificados segundo sua natureza, 
utilizando-se um método baseado em limiar, bem como por técnicas de inteligência 
artificial, como Redes Neurais Artificiais (RNAs). As grandezas analisadas referem-
se a valores amostrados de tensões de um sistema elétrico real, cujos dados foram 
fornecidos pela CPFL - Companhia Paulista de Força e Luz e simulados pela 
aplicação do software ATP – Alternative Transients Program. Os software Matlab 
e o NeuralWorks também são utilizados para as respectivas aplicações da TW e 
RNAs propostas. Como aplicação prática, visando os interesses do setor energético 
atual, um software para a análise da QE fornecida por um dado sistema elétrico está 
sendo implementando e extensamente testado, com resultados iniciais bastante 
promissores. 
Análise de resoluções múltiplas 
A técnica de Análise de Resoluções Múltiplas (ARM) permite a 
decomposição de um dado sinal em diferentes níveis de resolução, fornecendo 
importantes informações no domínio do tempo e da freqüência. Por esta técnica, o 
sinal analisado é primeiramente decomposto em dois outros sinais, uma versão 
detalhada e outra atenuada, através de filtros passa alta (h1) e passa baixa (h0) que 
são representados matematicamente por funções Wavelets e funções escala, 
respectivamente (Figura 51). Como o sinal atenuado – proveniente do filtro passa 
112
 
baixa – é novamente decomposto, resultando em dois novos sinais detalhados e 
atenuados, em níveis de freqüência diferentes, estes fornecem informações diretas, 
relativas ao sinal original, no domínio da freqüência e do tempo (GOMES & 
VELHO, 1998). 
As Figuras 51 e 52 ilustram a técnica descrita, tendo-se na primeira a 
representação do processo de filtragem que é acompanhado também de um operador 
downsampling, o qual reduz a quantidade de informações a ser processada. A 
segunda ilustra as respectivas decomposições do sinal. A Figura 52 - (a) representa a 
versão aproximada do sinal, e os detalhes da decomposição são apresentados na 
Figura 52 – (b), (c) e (d). 
 
Figura 51 - Processo de decomposição de um sinal através de filtragem. 
Neste trabalho utiliza-se como wavelet mãe a família das Daubechies, mais 
precisamente a daubechies de ordem 4, ou db4. Conforme mostrado em ARRUDA et 
al. (2002) e também em muitos artigos desta área, esta wavelet mãe é bastante 
adequada para decomposição dos distúrbios mencionados. 
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1
-20
0
20
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1
-1
0
1
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1
-2
0
2
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1
-1
0
1
(a) 
(b) 
(c) 
 (d) 
 
Figura 52 - Representação de um sinal sob ARM. Aproximação A3 (a), detalhe 1 (b), 
detalhe 2 (c) e detalhe 3 (d). 
113
 
Uma visão geral do trabalho 
Pela aplicação da TW, podemos constantemente monitorar o sistema, através 
dos seus valores amostrados de tensões, a uma freqüência de 7,68 kHz. Tal valor foi 
respeitado devido à freqüência de amostragem usualmente empregada pelos 
instrumentos de medição e obtenção de dados, como por exemplo, o BMI (Basic 
Measuring Instrument) Model 7100, que apresenta um valor em torno de 7,7 kHz. 
Com uma janela de dados móvel, a ferramenta poderá, com um alto índice de 
precisão, detectar uma descontinuidade nos sinais, contendo a janela de dados 64 
amostras de pré e 64 amostras de pós-fenômeno, ou seja, com meio ciclo de pré e 
meio ciclo de pós-fenômeno em análise. A Figura 53 ilustra uma das possíveis 
situações, onde, claramente pode-se verificar a presença de uma descontinuidade do 
sinal em análise a 0,0487s. O primeiro gráfico representa a janela do sinal em 
análise e o segundo a primeira decomposição do mesmo pela ARM. 
Inicialmente, a idéia é monitorar constantemente as três fases de tensões e, 
tão logo seja caracterizado uma descontinuidade nos sinais, ativar, de forma 
independente, um Módulo Completo (MC) que irá permitir o armazenamento de até 
10 ciclos pós-fenômeno, para a completa análise dos sinais pela TW e,
em paralelo, 
um Módulo Inteligente (MI), que irá classificar entre os cinco fenômenos 
caracterizados (afundamento e elevação de tensão, interrupção, ruído e oscilação 
transitória), dispondo de técnicas de inteligência artificial, neste caso em específico, 
RNAs. Entende-se por completa análise, a determinação exata dos instantes de 
inserção e extinção dos fenômenos sobre o sistema, caracterização dos componentes 
de freqüência e magnitudes presentes nos sinais e a resposta do sistema frente ao 
distúrbio com a conseqüente classificação dos mesmos. Este MC é totalmente 
baseado na AMR e Análise Quantitativa do Limiar (AQL) dos diferentes níveis de 
decomposição dos sinais em questão. 
114
 
0.04 0.042 0.044 0.046 0.048 0.05 0.052 0.054 0.056 0.058
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
x 104
tempo (s)
Te
ns
ão
 (k
v)
0.04 0.042 0.044 0.046 0.048 0.05 0.052 0.054 0.056 0.058
-2000
-1000
0
1000
2000
tempo (s)
am
pl
itu
de
 
Figura 53 – O início de um distúrbio caracterizado como uma interrupção 
é acusado pela TW 
O sistema elétrico em análise 
As grandezas analisadas referem-se a valores amostrados de tensões de um 
sistema elétrico real, cujos dados foram fornecidos pela CPFL- Companhia Paulista 
de Força e Luz e simulados pela aplicação do software ATP (Figura 54). 
Na figura, o transformador da subestação (Subestação138/13,8 KV), os 
transformadores de distribuição 3 e 13 (Trafo Distr. 3 e 13) e o transformador 
particular 4 (Trafo Part. 4), que aparecem destacados, foram modelados 
considerando-se suas curvas de saturação. O modelo das cargas do lado secundário 
destes trafos seguem características específicas que denotam situações reais de carga. 
Já os transformadores particulares 1, 2 e 3 (Trafo Part. 1 2 e 3) foram modelados sem 
considerar as respectivas curvas de saturação dos transformadores. Logo, as cargas 
foram referidas ao primário com uma parcela RL em paralelo com um capacitor para 
a devida correção do fator de potência originalmente de 0,75 e posteriormente 
corrigido para 0,92. Os demais transformadores de distribuição foram modelados 
somente como cargas RL referidas ao primário, considerando-se um fator de 
potência geral de 0,9538. Os demais foram somente representados por suas cargas 
equivalentes, cujo ponto de conexão com o sistema é indicado na figura. Cabe ainda 
destacar que tanto os transformadores de distribuição quanto os particulares 
apresentam ligações delta-estrela, com resistência de aterramento de zero ohm. Além 
destes, três bancos de capacitores (um de 1200 kVAr e dois de 600 kVAr cada) estão 
115
 
instalados ao longo do sistema (BC 1, 2 e 3). O alimentador principal é constituído 
por cabo nu CA-477 MCM em estrutura aérea convencional, e seus trechos são 
representados por elementos RL acoplados. 
Deve ser ressaltado que a modelagem deste sistema de distribuição primária 
faz parte de uma situação real encontrada junto a CPFL e que a mesma, na medida do 
possível, apresenta grande semelhança com o encontrado na prática. Inúmeras 
considerações práticas foram adotadas até a obtenção e teste do mesmo, em um 
trabalho conjunto entre as partes interessadas. 
 
Figura 54 – Diagrama do sistema elétrico de distribuição analisado 
Etapas na análise 
Para uma melhor compreensão e definição dos principais termos empregados 
que se referem ao assunto delineado, apresentam-se a seguir os fenômenos 
caracterizados e analisados no decorrer deste trabalho (DUGAN et al., 1996). 
Afundamento de tensão: Dependendo da localização da falta e das condições 
do sistema, a falta pode causar um decréscimo temporário de 10-90% no valor 
eficaz da tensão do sistema, permanecendo este distúrbio por um período de meio 
ciclo até 1 min. 
Elevação de tensão: Outro distúrbio que pode ser caracterizado por um 
aumento da tensão eficaz do sistema (aumento entre 10-80% da tensão, com duração 
116
 
de meio ciclo a 1 min) e que freqüentemente ocorre nas fases sãs de um circuito 
trifásico, quando ocorre um curto circuito em uma única fase. 
Interrupção: Uma interrupção ocorre quando o fornecimento de tensão ou 
corrente de carga decresce para um valor menor do que 0,1 p.u., por um período de 
tempo que não excede 1 min. 
Ruído: Com respeito aos ruídos, estes podem ser definidos como sinais 
elétricos não desejáveis com um conteúdo do espectro abaixo de 200 kHz, 
superposto à tensão e corrente do sistema de energia. Geralmente a amplitude típica é 
menor que 1% da tensão fundamental. 
Oscilação transitória: É uma súbita alteração não desejável da condição de 
regime permanente da tensão, corrente ou ambas, onde as mesmas incluem valores 
de polaridade positivas ou negativas. É caracterizada pelo seu conteúdo espectral 
(freqüência predominante), duração e magnitude da tensão. 
Análise quantitativa do limiar 
O método da Análise Quantitativa do Limiar (AQL), no Módulo Completo 
(MC), baseia-se na capacidade da ARM em extrair características diferenciadas entre 
os fenômenos relacionados à QE. Tal diferenciação é caracterizada pela forma como, 
usualmente, os detalhes obtidos pela ARM comportam-se na análise de um dado 
distúrbio. 
A Figura 55 apresenta a primeira decomposição da ARM (db4) para um sinal 
em regime permanente, seguido dos distúrbios de afundamento de tensão, elevação 
de tensão, ruído, chaveamento de capacitores, bem como a decomposição de um 
sinal com interrupção no fornecimento de energia. Pode ser observado que o 
comportamento do primeiro detalhe de decomposição nitidamente diferencia os 
fenômenos, exceto para os distúrbios de afundamento e elevação de tensão, sendo 
que o mesmo ocorre para a interrupção apresentada. Em função das diferenças, a 
AQL é explorada para a classificação dos fenômenos no primeiro detalhe de 
decomposição, com respeito aos distúrbios ocasionados pelo ruído e chaveamento de 
capacitores. Já para o caso de diferenciação entre os fenômenos de afundamento, 
elevação de tensão e interrupção momentânea, emprega-se o sétimo detalhe de 
decomposição, como será posteriormente elucidado. 
117
 
 
Figura 55 – Primeiro detalhe para o regime permanente e os distúrbios em estudo: (a) 
regime permanente, (b) afundamento e (c) elevação de tensão, (d) ruídos, 
(e) oscilações transitórias e (f) interrupção momentânea. 
No algoritmo da AQL implementado, como ilustrado pelo fluxograma na 
Figura 56, um dado sinal de entrada é apresentado e decomposto pela ARM. Nesta 
etapa são armazenados os detalhes 1, 2, 3, 4 e 7, bem como a quinta versão da 
aproximação do sinal. Inicialmente é calculada a diferença (diff) entre os níveis de 
energia do sétimo detalhe do sinal de entrada e de um sinal em regime permanente 
tomado como referência. Tal detalhe contém informações diretas do componente de 
freqüência de 60 Hz. Sendo assim, variações neste nível de detalhe indicam a 
presença de fenômenos de nível de freqüência similar ao nível de freqüência do sinal 
fundamental, ou seja, afundamentos e elevações de tensão ou interrupções 
momentâneas. 
Uma vez que variações no nível de energia do sétimo detalhe são detectadas, 
o algoritmo utiliza informações no terceiro nível de detalhe de forma a estimar os 
instantes de início e fim do distúrbio. Em seguida, a versão da quinta aproximação é 
usada para estimar a amplitude do distúrbio. Tal versão da aproximação é utilizada 
por conter, por completo, a componente fundamental, tendo sido extraídas 
componentes de altas freqüências que poderiam apresentar estimativas errôneas. 
 
118
 
 
Figura 56 – Fluxograma da AQL proposta. 
Um outro ramo de análise do algoritmo AQL se desenvolve para o
caso em 
que a diferença diff não mostra variações capazes de indicar a presença de distúrbios 
de afundamento ou de elevação de tensão. Neste caso, o algoritmo AQL utiliza 
informações do primeiro detalhe para a classificação dos distúrbios de oscilações 
transitórias, ruídos e do sinal em regime permanente. Tal diferenciação é obtida 
estipulando-se limiares que caracterizam os picos apresentados nos detalhes para 
cada distúrbio, sendo que este considera também a forma como os picos aparecem, 
como por exemplo, a diminuição da amplitude dos picos em se tratando de 
oscilações transitórias. Inicialmente o maior pico de um detalhe do sinal de entrada é 
comparado a um limiar característico de oscilações transitórias e, para uma resposta 
positiva, o algoritmo afirma a presença deste distúrbio. Caso contrário, tal pico é 
comparado a picos característicos de ruídos, afirmando ou não a presença deste. 
119
 
Seguindo a metodologia acima apresentada, efetuou-se de forma 
automatizada a classificação dos distúrbios pertencentes a um conjunto de teste 
formado por 30 diferentes situações. Destas, 8 situações referem-se a afundamentos e 
6 a elevações de tensão, 4 a interrupções, 8 a ruídos e 4 a oscilação transitória. O 
algoritmo apresentou um índice de 100% de acerto para todos os casos, como pode 
ser observado na Tabela 7. Além do conjunto de teste, foram também analisadas 42 
novas situações que corresponderão ao conjunto de treinamento a ser empregado no 
Módulo Inteligente (MI), que será apresentado a seguir (item 11.3.2.6). Cabe 
adiantar que estas diferentes situações caracterizam 8 situações de afundamentos de 
0,1 a 0,9 p. u., 8 de elevações de 0,1 a 0,8 p. u., 8 de interrupções momentâneas, 10 
de ruídos (freqüência de 0,8 a 1,2 kHz) e 8 de oscilações transitórias, devido ao 
chaveamento de bancos de capacitores sobre o sistema (Figura 54). Todos os 
fenômenos foram caracterizados tomando-se como ângulos de incidência/inserção 0 
e 90o. 
Nos casos analisados, a estimação da duração dos distúrbios de 
afundamento, elevação de tensão e interrupção momentânea apresentou um nível de 
acerto expressivo, com erro médio de 5,5%, para todos os casos testados. Na quarta 
coluna da Tabela 7, apresenta-se o Erro Médio na Estimação da Duração dos 
Distúrbios (EMEDD). Cabe explicar que o erro foi calculado considerando-se a 
diferença entre o Valor Estimado e o Valor Referencial dividindo-a pelo Valor 
Referencial. Afirma-se também que o erro proporcionado para cada fenômeno 
apresenta um valor máximo e constante, que por sua vez será tanto menor quanto 
maior a duração do distúrbio. 
Ressalta-se também que, considerando todos os casos analisados, o algoritmo 
apresentou um erro médio de ±4% na estimação da amplitude dos distúrbios de 
afundamento e elevação de tensão, juntamente com os casos de interrupção 
momentânea. 
 
 
 
 
TABELA 7 – Resultados obtidos com a aplicação da AQL para um o conjunto de 
teste formulado 
 
120
 
Fenômeno 
 
Número de 
casos 
Índice de 
Acertos % 
EMEDD 
% 
Afundamento 8 100% ± 4.2 
Elevação 6 100% ± 6.9 
Interrupção 4 100% ±4.9 
Ruído 8 100% - 
Osc. Trans. 4 100% - 
 
A classificação dos fenômenos por RNAs 
Conforme explicitado, após a detecção de uma descontinuidade ou uma 
situação anormal sobre o sistema, acusada pela TW, o MI é ativado para buscar a 
classificação do ocorrido. 
Este MI é composto por uma RNA independente associada a cada fase de 
tensão do sinal em análise. Cada RNA apresenta 40 unidades na sua camada de 
entrada, as quais correspondem a 20 amostras de pré e 20 amostras de pós-
caracterização do fenômeno, a uma freqüência de amostragem de 2,4 kHz. A RNA 
apresenta somente 5 unidades de processamento na sua camada intermediária e uma 
camada de saída com 3 unidades (RNA 40 – 5 – 3). Como destacado, o software 
NeuralWorks foi empregado com o objetivo de se obter as matrizes de pesos fixas 
que caracterizem as condições de operações sobre o sistema elétrico. Utilizou-se do 
algoritmo supervisionado “Norm-Cum-Delta Learning Rule”, uma variação do 
algoritmo de retropropagação, o qual é imune às alterações do tamanho da época 
(número de padrões aleatórios pertencentes ao conjunto de treinamento apresentados 
à arquitetura a cada iteração). Como uma alternativa para a função de transferência 
sigmoidal, a função de transferência tangente hiperbólica foi utilizada. Durante a fase 
de treinamento, utilizaram-se valores de taxas de aprendizagem distintas para as 
unidades da camada intermediária e de saída compreendidas entre 0,4 a 0,01, com 
valores de momento situados entre 0,2 a 0,001. Todo o trabalho foi executado sobre 
um Pentium II – 333 MHz. As saídas desejadas/esperadas para caracterizar cada 
fenômeno são observadas na Tabela 8. Esperam-se valores próximos ou iguais a 0 
(zero) e 1 (um) para caracterizar as situações. 
 
TABELA 8 – Valores esperados pelo MI para caracterizar os fenômenos delineados 
 
Fenômeno Saída 1 Saída 2 Saída 3 
Afundamento 0 0 1 
121
 
Elevação 0 1 0 
Interrupção 0 1 1 
Ruído 1 0 0 
Osc. Trans. 1 0 1 
 
O conjunto de treinamento, conforme já apresentado, foi gerado 
considerando-se 42 padrões onde os mesmos caracterizam 8 situações para cada 
fenômeno de afundamento e elevação de tensão, interrupção momentânea, oscilação 
transitória e, 10 situações de ruídos sobre o sistema. Todos os fenômenos foram 
caracterizados tomando-se como ângulos de incidência/inserção 0 e 90o. Para validar 
o proposto pelo MI, 30 novas e diferentes situações de teste foram geradas e 
apresentadas ao mesmo. Do exposto, afirmamos que o MI apresentou um índice de 
100% de acerto para todas as situações conforme apresentado na Tabela 9. 
 
TABELA 9 – Resultados obtidos com a aplicação da RNA para um o conjunto de 
teste formulado 
Fenômeno 
 
Número de 
casos 
Índice de 
Acertos % 
Afundamento 8 100% 
Elevação 6 100% 
Interrupção 4 100% 
Ruído 8 100% 
Osc. Trans. 4 100% 
 
Conclusões 
Neste trabalho, abordou-se o emprego da técnica de Análise de Resoluções 
Múltiplas (ARM) para detectar, localizar e classificar o distúrbio agregado às formas 
de ondas de tensão. Além do exposto, os fenômenos delineados também foram 
classificados segundo a sua natureza, utilizando-se de uma arquitetura de Rede 
Neural Artificial (RNA). 
O emprego da RNA vêm validar os resultados observados na Análise 
Quantitativa do Limiar (AQL) no que diz respeito à classificação dos fenômenos. 
Como justificado, os módulos MC (Módulo Completo - AQL) e MI (Módulo 
Inteligente - RNA) desempenharão suas funções em paralelo. Em primeira instância, 
com apenas meio ciclo de pós-fenômeno, teremos a detecção do distúrbio (ARM) e a 
classificação do mesmo (MI). Assim, as medidas preventivas ou paliativas ao 
122
 
ocorrido poderão ser tomadas. O MC poderá então analisar o sinal como um todo e 
relatar os instantes de inserção e extinção, além da classificação do fenômeno sobre o 
sistema (tempo de análise pós-fenômeno: 10 ciclos). Pelos resultados observados, 
com respeito à classificação, ambas as abordagens apresentaram um índice de 100% 
de acertos. Novos e mais aprofundados estudos estão sendo realizados para 
aprimorar, tanto o algoritmo, ainda em fase de implementação, como a saída e 
análise dos resultados desejados. 
Basicamente, grande parte dos fenômenos/distúrbios relacionados aos 
assuntos delineados já foram estudados, mas, por mais amplas que tenham sido estas 
novas situações, específicas características ainda devem ser incluídas e trabalhadas 
no sentido de se alcançar uma implementação prática e confiável ao que foi proposto.
11.3 Técnicas de Inteligência Artificial 
Este item procura exemplificar a caracterização de medições da qualidade da 
energia no que diz respeito a um melhor aproveitamento da informação disponível, 
utilizando-se de sistemas de inteligência artificial. 
 
11.3.1 Aplicação de Redes Neurais Artificiais 
Da situação atual, com os modernos equipamentos de medição, acumula-se 
dentro das concessionárias elétricas um grande volume de dados, principalmente em 
termos das medições que são dificilmente assimiláveis. Estas medições são 
realizadas para específicas finalidades e os resultados, apesar de poderem representar 
um interesse geral para todos os setores da empresa, em geral, são utilizados 
unicamente pelo departamento específico que pediu a sua execução. Sendo assim, a 
análise das medições por sistemas automáticos de inteligência artificial vem a 
permitir e possibilitar um melhor aproveitamento da informação e a sua circulação 
em todos os níveis da empresa. 
A metodologia utilizada para o diagnóstico e o arquivamento das medições 
pode utilizar um sistema de inteligência artificial, que simule uma rede neural. Cada 
medição pode ser identificada por uma série de campos variáveis, numéricos ou 
lógicos (localização, quantidade e tipo de consumidores atendidos, tipo de 
transformador, carregamento do transformador pelo faturamento - escolhidos após 
123
 
uma análise do sistema) e por uma série de conclusões (resultados das medições - por 
exemplo, limites máximos ou mínimos de tensão observados). A partir das medições 
realizadas, o sistema pode automaticamente inferir quais, entre os transformadores 
não medidos, se encontram em situação crítica. Como todos os sistemas neuroniais, 
das vantagens desta aplicação, destaca-se a capacidade de aprendizado do sistema 
inteligente sendo a sua confiabilidade melhorada com o aumento das informações 
disponibilizadas pelas medições. 
Ilustrando um pouco melhor a metodologia proposta, ao nível da 
concessionária, uma equipe técnica pode estudar o banco de dados disponível e os 
mecanismos do fluxo das informações, fixando os objetivos esperados da análise das 
medições. Fixando-se os parâmetros de análise a serem levados em conta no estudo 
das medições, elaboram-se os específicos algoritmos de análise aplicando-os ao 
banco de dados existentes. Com base nos algoritmos desenvolvidos, o sistema pode 
emitir específicos relatórios, indicando as medições críticas, que merecem uma maior 
atenção por parte da empresa, apontando de forma preliminar os prováveis 
problemas presentes no conjunto de consumidores. Para a interpretação dos dados, 
podem ser empregados algoritmos do tipo estatístico a cada medição e comparações 
entre grupos de medições homogêneas, utilizando técnicas de análise por lógica 
Fuzzy. Dependendo da quantidade e da complexidade das medições, pode ser 
montado um sistema de interpretação dos dados utilizando-se programas de 
inteligência artificial com redes neuroniais. 
 
11.3.2 Detecção de distúrbios na qualidade da energia elétrica utilizando 
redes neurais 
Este trabalho aborda o uso da arquitetura ADALINE (ADAptive Linear 
NEuron) na detecção de distúrbios relacionados à qualidade da energia (ABDEL-
GALILA and EL-SAADANY, 2003). 
A característica principal desta abordagem frente as demais é a sua rapidez 
em nível de resposta, devido a sua construção simples (arquitetura) e de fácil 
implementação. Comparando-a com os métodos baseados em análise Wavelet, cujos 
cálculos matemáticos são pesados, esta demonstrou ser uma ferramenta acessível 
para aplicações on-line. 
124
 
Neste trabalho é realizado inicialmente uma revisão sobre redes neurais, 
dando maior enfoque a teoria do Adaline. Também é apresentado um panorama geral 
sobre qualidade da energia. Em seguida, exemplos numéricos são apresentados à 
Adaline, avaliando o algoritmo utilizando sinais gerados pelo software Matlab. 
Desta aplicação, analisá-se a sensibilidade do Adaline considerando os seguintes 
parâmetros: taxa de aprendizagem e número de entradas do algoritmo. Para validação 
dos resultados encontrados o modelo é exposto a um sistema do IEEE de distribuição 
industrial de 13 barras. Este sistema foi testado com diferentes tipos de cargas 
lineares e não lineares, analisando-o em duas situações: uma para detectar a 
ocorrência de afundamentos no sinal de tensão acrescido de componentes 
harmônicos, e outra para a ocorrência de transitórios oscilatórios no sinal de tensão 
também acrescido de componentes harmônicos. 
Para esta aplicação observou-se que a rede Adaline obteve sucesso na 
detecção exata dos distúrbios mais comuns relacionados à qualidade da energia. O 
modelo analisado mostrou-se bastante sensível tanto para o número de entradas 
atrasadas quanto ao valor da taxa de aprendizagem. Uma pequena taxa de 
aprendizagem pode conduzir a uma redução da velocidade do tempo de 
convergência, enquanto uma taxa de aprendizagem maior pode levar o modelo a 
perder a habilidade de localizar o sinal de energia. 
 
11.3.3 Algoritmos Genéticos aplicados à estimação de componentes 
harmônicos em um SEP 
O problema de identificação de harmônicos pode ser abordado como um 
problema de estimação onde os AGs serão empregados como ferramenta de 
otimização para a estimação dos mesmos, especialmente para sinais com magnitudes 
variantes no tempo. A modelagem matemática do problema se resume na estimação 
dos componentes harmônicos de um sinal ruidoso (MACEDO et al., 2002) (MOURA 
et al., 2002). Matematicamente, um sinal periódico e distorcido pode ser 
adequadamente representado em termos de sua freqüência fundamental e seus 
componentes harmônicos, expressos como uma soma de senóides como na série de 
Fourier. Deve ser enfatizado que quanto mais próximo do real for o modelo do sinal 
em análise (maior será o número de harmônicos considerados) o que pode tornar alto 
o esforço computacional desenvolvido, podendo inclusive inviabilizar algumas 
125
 
aplicações on-line. Sendo assim, procura-se modelar o sistema obtendo-se um 
balanço entre a simplicidade e a generalidade, assegurando que os resultados sejam 
significativos para a aplicação em específico. 
Para o desenvolvimento deste trabalho, os sinais analógicos provenientes do 
sistema elétrico são convenientemente digitalizados formando um banco de dados 
que servirá como parâmetro para o algoritmo. Este banco será formado pelo 
componente CC e a magnitude da tensão dos termos seno e co-senos do componente 
fundamental e de cada harmônico em específico. Esta aplicação resume-se então em 
encontrar uma estimativa dos parâmetros referentes ao componente CC, ao 
componente fundamental e componentes harmônicos do sinal em análise, 
minimizando o erro entre o vetor de ruído desconhecido e o real, através da teoria de 
AGs. 
Estudos iniciais referentes aos AGs mostram que estes podem identificar os 
componentes harmônicos para qualquer forma de onda distorcida proveniente de um 
SEP, independente da presença ou não do CC. Isto dá a um método que empregue 
AG vantagens adicionais quando comparado à utilização da TDF ou à utilização de 
filtros dinâmicos. Cabe relembrar que no caso da TDF, o seu comportamento pode 
ser influenciado pela presença do componente CC, e os filtros dinâmicos por sua vez, 
necessitam de reajustes em seus parâmetros. Cabe ainda citar o ótimo desempenho 
do Filtro de Kalman nesta estimação dos componentes harmônicos, que em 
contrapartida, necessita de uma detalhada análise estatística do sinal a ser analisado. 
Ressalta-se que uma técnica baseada em AGs que atue de maneira ótima na 
estimação de harmônicos em um SEP pode ainda ser empregada como
um filtro 
digital. 
Cabe destacar que investigações podem ser realizadas com relação à 
possibilidade de aplicações on-line ligadas à proteção digital do sistema, o que 
certamente traria vantagens adicionais à precisão dos cálculos realizados pela 
mesma. 
 
126
 
12 
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