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Ergonomia:
Princípios,
Métodos e
Técnicas
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© 2005. Anamaria de Moraes, Marcelo Márcio Soares
Anamaria de Moraes
Professora ANAMARIA DE MORAES é doutora em Comunicação pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
mestre em Engenharia de Produção [área de Ergonomia] pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em Ergonomia pela Fundação
Getúlio Vargas – R.J. É Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Design, do Curso de Especialização em Ergonomia da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro e do Laboratório de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces em Sistemas Humano-Tecnologia da PUC-Rio. A
professora Anamaria é referência em pesquisa e desenvolvimento em Ergonomia com centenas de artigos publicados em congressos em diversos
países. Possui mais de vinte anos de experiência como consultora em Ergonomia junto a empresas de diversos estados do Brasil.
Marcelo Márcio Soares
O professor MARCELO MÁRCIO SOARES é o atual presidente da ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia. Ele concluiu o seu Ph.D.
em Ergonomia pela Loughborough University, na Inglaterra, em dezembro de 1998. É mestre em Engenharia de Produção pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e especialista em Ergonomia pela Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. O Professor Marcelo é atualmente Sub-
Chefe do Departamento de Design e vice-coordenador do Mestrado em Design da Universidade Federal de Pernambuco [UFPE] – Brasil.
Também é o coordenador do Curso de Especialização em Ergonomia na mesma instituição, além de ministrar aulas de Ergonomia em diversos
cursos de pós-graduação no país. O autor é consultor em Ergonomia de diversas empresas no país, além de possuir cerca de cem artigos
publicados em diversos congressos no Brasil e no exterior. Recebeu o Student Prize da Sociedade de Ergonomia Inglesa, no ano de 1997.
Colaboradores:Colaboradores:Colaboradores:Colaboradores:Colaboradores:
Bruno Xavier da Silva BarrosBruno Xavier da Silva BarrosBruno Xavier da Silva BarrosBruno Xavier da Silva BarrosBruno Xavier da Silva Barros – Mestre em Engenharia de Produção, Especialista em Ergonomia e Graduado em Design pela Universidade Federal
de Pernambuco. Colaborou na revisão e elaboração de parte do texto.
Cláudia Mont’AlvãoCláudia Mont’AlvãoCláudia Mont’AlvãoCláudia Mont’AlvãoCláudia Mont’Alvão – Doutora em Engenharia de Transportes e Mestre em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ. Professora da PUC-R.J.
Colaborou na elaboração de diversos capítulos.
Débora TDébora TDébora TDébora TDébora Tatiana Fatiana Fatiana Fatiana Fatiana Ferro Rerro Rerro Rerro Rerro Ramosamosamosamosamos - Graduada em Design e Mestranda em Design pela Universidade Federal de Pernambuco. Colaborou na revisão e
elaboração de parte do texto.
Helda Oliveira BarrosHelda Oliveira BarrosHelda Oliveira BarrosHelda Oliveira BarrosHelda Oliveira Barros – Graduada em Fisioterapia pelo Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação, R.J. Mestranda em Design pela Universidade
Federal de Pernambuco. Colaborou na revisão e elaboração de parte do texto.
Lia Buarque de Macedo Guimarães Lia Buarque de Macedo Guimarães Lia Buarque de Macedo Guimarães Lia Buarque de Macedo Guimarães Lia Buarque de Macedo Guimarães – Mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutora em Engenharia
Industrial pela Universidade de Toronto, Canadá. Colaborou na execução da Unidade 10.
Nalva PNalva PNalva PNalva PNalva Pontes Soares ontes Soares ontes Soares ontes Soares ontes Soares – Especialista em Língua Portuguesa e Lingüística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Colaborou na revisão
lingüística e ortográfica do texto.
PPPPPaulo Gileno Cysneirosaulo Gileno Cysneirosaulo Gileno Cysneirosaulo Gileno Cysneirosaulo Gileno Cysneiros – Doutor em Psicologia Educacional pela Syracuse University, New York, USA. Especialista em Tecnologias da Informação e
Comunicação na Educação. Pesquisador do Projeto Virtus/UFPE. Colaborou como Designer Instrucional.
Raimundo Lopes DinizRaimundo Lopes DinizRaimundo Lopes DinizRaimundo Lopes DinizRaimundo Lopes Diniz – Mestre em Design pela PUC-Rio e Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Colaborou na execução da Unidade 10.
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Origens e Conceituação
da Ergonomia
Unidade1
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UNIDADE 1 - ORIGENS E CONCEITUAÇÃO DA
ERGONOMIA
IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução
NNNNNesta Unidade faremos uma caracterização do que é Ergonomia. Paraisto, daremos um pequeno mergulho na História, refletindo sobre osobjetos que nos rodeiam – dos mais simples às mais sofisticadas máquinas
atuais – e sobre as características físicas e psíquicas do ser humano na interação
com tais objetos.
O fisiologista, entre outros profissionais, lida com o ser humano; o engenheiro e
os projetistas em geral lidam com as máquinas. O ergonomista atua na interface
entre os dois conjuntos de elementos. Para estudo desta interação, utilizaremos
o conceito de sistema.
Como em toda ciência, a terminologia é essencial para uma compreensão clara
da Ergonomia. Refletiremos sobre vários dos termos que serão utilizados em
nosso curso, bem como sobre as fronteiras da Ergonomia com outras disciplinas.
Concluiremos esta Unidade com uma reflexão sobre segurança, produtividade e
qualidade.
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1.1 Os precursores da ergonomia
Desde civilizações antigas, o ser humano sempre buscou aperfeiçoar as
ferramentas, os instrumentos e os utensílios utilizados na atividade cotidiana.
Existem exemplos de empunhaduras de foices, datadas de séculos atrás, que
demonstram a preocupação em adequar a forma da pega às características da
mão humana, de modo a propiciar mais conforto durante sua utilização.
Enquanto a produção de bens se dava de modo artesanal, era possível obter
formas úteis, funcionais e ergonômicas sem excessivos requisitos projetuais. No
entanto, a produção em série - em larga escala ou mesmo em poucas unidades –
impossibilitou, técnica e economicamente, a compatibilização e a adequação de
produtos a partir do uso e de adaptações sucessivas.
Paradoxalmente, a evolução tecnológica exigiu e enfatizou a necessidade de
conhecer o ser humano. Depois de contínuos avanços em engenharia, onde o
ser humano se adaptou - mal ou bem - aos condicionamentos dos maquinismos,
evidenciou-se que os fatores humanos são primordiais. Mais ainda, em sistemas
complexos, onde parte das funções classicamente executadas pelas pessoas podem
ser alocadas às máquinas, uma incorreta adequação às capacidades humanas
pode comprometer a confiabilidade de todo o sistema. Assim, faz-se necessário
conhecer, a priori , fatores determinantes da melhor adaptação de produtos,
máquinas, equipamentos, trabalho e ambiente, aos usuários, operadores,
operários, manutenidores (aqueles responsáveis pela manutenção), indivíduos
em geral e pessoas portadoras de deficiências.
A ergonomia se constituiu a partir da reunião de psicólogos, fisiólogos e
engenheiros. A psicologia e a fisiologia são as duas principais ciências que fornecem
aos ergonomistas referências sobre o funcionamento físico, psíquico e cognitivo
do ser humano. O desempenho do ser humano no trabalho é cada vez mais
complexo e a ergonomia ampliou progressivamente o campo de seus fundamentos
científicos. A inteligência artificial, a semiótica, a antropologia e a sociologia passaram
a fazer parte do acervo de conhecimentos do ergonomista.
 Há uma tendência Há uma tendência Há uma tendência Há uma tendência Há uma tendência
internacional para seinternacional para seinternacional para seinternacional para seinternacional para se
adotar o termo “humano-adotar o termo “humano-adotar o termo “humano-adotar o termo “humano-adotar o termo “humano-
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“homem-máquina”. Esta“homem-máquina”. Esta“homem-máquina”. Esta“homem-máquina”.
Esta“homem-máquina”. Esta
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interpretações sexistasinterpretações sexistasinterpretações sexistasinterpretações sexistasinterpretações sexistas
do conteúdo.do conteúdo.do conteúdo.do conteúdo.do conteúdo.
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Embora, como veremos adiante, o nascimento “oficial” da ergonomia possa ser
definido com precisão, o seu primórdio remonta ao primeiro ser humano pré-
histórico, quando este escolheu uma pedra ou pedaço de madeira que melhor se
adaptasse a forma e movimentos de sua mão, para usá-los como arma. Durante
séculos o ser humano dependeu de ferramentas e utensílios rústicos construídos
para abrigá-lo, auxiliá-lo na sobrevivência e tornar sua vida mais tolerável. Esta
adaptação de objetos artificiais ao ambiente natural foi produzida de forma artesanal
até o advento da era mecanizada.
Com a revolução industrial (nos países mais destacados da Europa e nos Estados
Unidos), e a conseqüente produção em série de bens de consumo, a relação
direta entre produtor e consumidor passou a incorporar a figura do intermediador,
ou revendedor. O produto que era antes encomendado de acordo com as
necessidades específicas do comprador, passou a ser produzido em série para
atender as necessidades de um universo bem mais amplo de usuários. O século
dezoito testemunhou o surgimento das primeiras fábricas mecanizadas, que se
caracterizavam como sujas, barulhentas, perigosas e escuras. As jornadas de
trabalho atingiam 12, 14 ou mesmo 16 horas por dia, com o emprego de crianças
na produção industrial, algumas vezes a partir dos três anos e, mais
freqüentemente, a partir dos sete anos. Tal prática veio a se consolidar, no século
seguinte (século XIX), como um período de desenvolvimento do capitalismo
industrial com um substancial crescimento da produção, êxodo rural e concentração
de novas populações urbanas.
DEJOUR (1998) aponta esta época como sendo de absoluta falta de higiene,
promiscuidade, esgotamento físico, acidentes de trabalho, subalimentação com a
criação para condições de uma alta morbidade, alta mortalidade e de uma
longevidade dramaticamente reduzida. Ainda segundo o autor, a luta pela saúde,
entre os operários do século passado, identifica-se com a luta pela sobrevivência:
“viver, para o operário, é não morrer”.
A fase de incubação da Ergonomia durou aproximadamente um século, começando
em cerca de 1850 e permanecendo até o término da Segunda Guerra Mundial.
 As referências As referências As referências As referências As referências
bibl iográficas estãobibliográficas estãobibliográficas estãobibliográficas estãobibliográficas estão
listadas no final destalistadas no final destalistadas no final destalistadas no final destalistadas no final desta
publicação.publicação.publicação.publicação.publicação.
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Nesta fase há diversas tentativas de aplicar os conhecimentos emergentes de
fisiologia, antropometria e psicologia para melhorar o trabalho humano.
De acordo com LAVILLE (1986), MONOD e VALENTIN (1979) e VALENTIN
(1978), vários estudos e pesquisas que antecederam a criação da ergonomia
incorporando conhecimento foram advindos de estudos nas áreas de [i] fisiologia (p.
ex. Leonardo da Vinci (1452-1519), Lavoisier (1743-1794) e Jules Amar) [ii] medicina
e higiene (Arnauld de Villeneuve (1235-1313) e Ramazzini) [iii] psicologia (J.M. Lahy).
Com a Segunda Guerra Mundial, desenvolveu-se uma nova categoria de
maquinaria que não priorizava a força muscular do operador, mas sim suas aptidões
sensoriais, de percepção, cognição, resolução de problemas e tomada de decisões.
O desempenho de um operador de radar, por exemplo, quase não exige esforço
físico, mas impõe severas condições quanto a capacidade sensorial, atenção e
competência para decidir. Esta nova categoria de máquinas levantou questões
complexas e inusitadas sobre as habilidades psíquicas e mentais do ser humano.
Condições adversas de trabalho – ambientes físicos (temperatura, pressão, ruído,
vibração, etc), químicos (produtos manipulados, vapores, gases tóxicos, poeiras
fumaças, etc) e biológicos (vírus, bactérias, parasitas, fungos) –, aliadas a uma
organização desumana do trabalho (divisão e conteúdo de tarefas, relações de
poder, etc), podem repercutir na saúde mental e no estado físico dos trabalhadores.
Esta área é particularmente investigada por uma disciplina conhecida como
Psicopatologia do Trabalho.
No final do século XIX iniciaram-se as investigações sistemáticas para pesquisar
como a tarefa que o indivíduo desempenha, e/ou os mecanismos que o rodeiam,
determinam a capacidade humana para o trabalho.
Dentre os organizadores do trabalho, alguns consideram o inglês Frederick W.
Taylor como precursor da Ergonomia, pai da “administração científica do trabalho”,
campeão obstinado da “racionalização do trabalho”, das análises e das medidas
sistemáticas. Em 1911, Taylor publicou a obra “Princípios de administração científica”,
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influenciando toda a organização do trabalho nas empresas dos Estados Unidos,
da Europa e dos países socialistas.
Ele defendia que o trabalho deveria ser cientificamente observado de modo que,
para cada tarefa, fosse estabelecido:
· um método correto de execução,
· com um tempo determinado,
· usando ferramentas apropriadas.
A implantação do Taylorismo precisou vencer a resistência dos trabalhadores
qualificados. Como dizia seu criador, a análise do trabalho objetivava a apropriação
do saber operário pela gerência e, conseqüentemente, o controle das tarefas e
dos trabalhadores.
Como exemplo das investigações de Taylor, citamos seu estudo, em 1918, sobre
a movimentação de minérios de ferro e carvão com auxílio de pás. Ele observou
que a carga de trabalho aumentava quando o material era o minério de ferro. Seu
problema era então determinar qual a carga por pá que possibilitava a um bom
operário mover uma quantidade máxima de material por dia.De início, usaram-
se pás grandes, que acomodavam cargas maiores por pá. Depois se passou a
fornecer uma pá pequena para movimentar o minério de ferro e uma pá grande
para deslocar material mais leve, como cinzas; de forma que em ambos os casos
o peso de material por pá fosse cerca de nove quilos. Diminuiu-se assim a fadiga
do trabalhador e aumentou-se o rendimento no trabalho.
Taylor levou esta filosofia ao extremo ao propor que a gerência determinasse os
métodos e os tempos da produção, de modo que o trabalhador se concentrasse
unicamente em sua tarefa produtiva. Os trabalhadores deveriam ser controlados,
medindo-se a produtividade de cada um e pagando-se incentivos salariais aqueles
mais produtivos. Além de visar apenas a melhoria da produção e não a qualidade
de vida dos trabalhadores, o sistema Taylor limitava-se apenas ao estudo das
atividades motoras e negligenciava as atividades perceptivas e mentais.
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Ainda no início do século passado, Frank e Lillian Gilbreth, nos Estados Unidos,
estudaram os movimentos e a gerência de oficinas, dando continuidade às análises
e medidas sistemáticas para a racionalização do trabalho. Em 1911, Frank Gilbreth
publicou o livro “Motion study; a method for increasing the efficiency of workman”,
com o clássico estudo sobre assentamento de tijolos por pedreiros de alvenaria.
Gilbreth projetou um andaime que se podia elevar ou descer rapidamente, o
que permitia que o operário trabalhasse no nível que melhor lhe conviesse. Uma
prateleira mantinha os tijolos e a argamassa em suas posições mais adequadas.
Cuidou-se também de arrumar os tijolos no palete para facilitar a retirada pelo
pedreiro e de otimizar a espessura e plasticidade da argamassa. A implantação
destas propostas possibilitou que cada operário de construção civil assentasse
350 tijolos por hora, em vez dos anteriores 120 por hora, o que significou um
incremento de praticamente 200% na produtividade.
Outro bom exemplo das análises de Frank e Lillian Gilbreth, foi o estudo do trabalho
de equipes cirúrgicas em hospitais, que resultaram em procedimentos até hoje em
uso: o cirurgião obtém um instrumento solicitando-o à instrumentadora, que o
coloca na mão do operador na posição correta de uso. Antes, os cirurgiões apanhavam
os instrumentos numa bandeja. Em certos casos gastavam mais tempo procurando
os instrumentos do que os utilizando na operação de pacientes. De acordo com
SANDERS e MACCORMICK (1993) o casal Gilbreth pode ser considerado como
um dos pioneiros do que, mais tarde, desenvolveu-se e transformou-se para dar
origem à Ergonomia. Isto porque a contribuição deles permitiu o surgimento de
uma ferramenta básica para a ergonomia que é a análise da tarefa.
Os estudos de Taylor e do casal Gilbreth deram origem a um ramo da engenharia
industrial que hoje se conhece como estudo de tempos e movimentos.
Assista ao filme italiano do diretor Elio Petri (1971), “A classe operária vai ao
paraíso”, disponível nas boas locadoras. Um clássico sobre o movimento
trabalhista no início do século XX, o filme explora as relaões entre capital e
trabalho, mostrando a prática de muitos conceitos do taylorismo.
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Nos anos seguintes, os engenheiros que se ocupavam dos estudos de tempos e
movimentos desenvolveram inúmeros princípios sobre a economia de
movimentos, a programação das atividades da tarefa e o planejamento da
organização do trabalho - princípios que se difundiram por toda a indústria moderna.
Seja nos Estados Unidos, na Europa, na Rússia (com o Stakanovismo), até a década
de 60, os métodos e propostas da administração científica do trabalho não sofreram
qualquer questionamento ou foram objeto de qualquer proposta de mudança.
Somente nos anos 70 discutem-se novas formas de organizar o trabalho: o
enriquecimento do trabalho, o alargamento das tarefas e o trabalho em equipes.
Em relação ao re-planejamento da tarefa, da maquinaria, dos equipamentos,
ferramentas e ambiente de trabalho, podem-se considerar os engenheiros
especialistas em tempos e movimentos como precursores da Ergonomia. No
entanto, a análise do trabalho que eles realizavam visava unicamente o aumento
do rendimento do trabalho. O principal critério de avaliação eram os índices de
produção individual. Mais ainda, o modelo de desempenho do ser humano em
que se fundamentavam é análogo ao do funcionamento de uma máquina. A ênfase
da engenharia de tempos e movimentos centra-se no ser humano apenas como
fonte de força mecânica, que deve funcionar no mesmo passo da máquina,
acompanhar o seu ritmo, de modo ininterrupto, sem qualquer autonomia. O ser
humano transforma-se, assim, num componente padronizado, intercambiável,
em uma peça do maquinismo, numa acepção oposta àquela preconizada hoje
pela Ergonomia.
O Fordismo é o conjunto de princípios desenvolvidos pelo empresário norte-
americano Henry Ford, em sua fábrica de automóveis, com o objetivo de
racionalizar e aumentar a produção. Em 1909, Ford introduziu a linha de
montagem – uma inovação tecnológica revolucionária. Os veículos são colocados
numa esteira e passam de um operário para outro, para que cada um faça uma
etapa do trabalho. A expressão fordismo virou sinônimo de produção em série.
Esse processo teve várias implicações: viável apenas para esse tipo de produção,
exige grandes fábricas e forte concentração financeira. Isso leva à formação de
 O movimento O movimento O movimento O movimento O movimento
stakanovista, equivalentestakanovista, equivalentestakanovista, equivalentestakanovista, equivalentestakanovista, equivalente
soviético do taylorismo,soviético do taylorismo,soviético do taylorismo,soviético do taylorismo,soviético do taylorismo,
deve seu nome aodeve seu nome aodeve seu nome aodeve seu nome aodeve seu nome ao
operário russo Alexeioperário russo Alexeioperário russo Alexeioperário russo Alexeioperário russo Alexei
StakanovStakanovStakanovStakanovStakanov, que em 1935,, que em 1935,, que em 1935,, que em 1935,, que em 1935,
estabeleceu um recordeestabeleceu um recordeestabeleceu um recordeestabeleceu um recordeestabeleceu um recorde
excepcional de extraçãoexcepcional de extraçãoexcepcional de extraçãoexcepcional de extraçãoexcepcional de extração
de carvão em um só dia.de carvão em um só dia.de carvão em um só dia.de carvão em um só dia.de carvão em um só dia.
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sociedades anônimas, que reúnem capitais de diversas pessoas. O novo sistema
de propriedade, dividido em ações, cria o anonimato do dono real do negócio.
Fonte: http://geocities.yahoo.com.br/vinicrashbr/historia/geral/fordismo.htm
(capturado em 28/07/2005).
O Toyotismo é um modo de organização da produção capitalista que se
desenvolveu a partir da globalização do capitalismo na década de 1980. Surgiu
no Japão após a II Guerra Mundial, mas só a partir da crise capitalista da
década de 1970 é que foi caracterizado como filosofia orgânica da produção
industrial (modelo japonês), adquirindo uma projeção global.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Toyotismo (capturado em 28/07/2005).
Antes de continuar, vamos refletir um pouco sobre o que estudamos até agora.
Faça uma lista dos pontos mais importantes abordados até o momento. Em par-
ticular, reveja as idéias de Taylor. Como você vê os três elementos enfatizados por
Taylor? Na sua opinião, quais os pontos positivos e negativos da concepção taylorista
de “organização científica” do trabalho? Tente relacionar as idéias de Taylor com as
do casal Gilbreth, pontuando como elas afetaram o mundo do trabalho.
1.2 As máquinas não lutam sozinhas
Se antes era difícil comparar o ser humano à máquina, com a evolução tecnológica
isso se tornou ainda mais difícil.
Durante a Segunda Guerra Mundial, mudanças tecnológicas aceleradas - aviões
mais velozes, radares, submarinos, sonares - colocaram o ser humano em situações
de extrema pressão ambiental, física e psicológica. Os equipamentos militares exigiam
dos operadores decisões rápidas e execução de atividades em condições críticas,
que implicavam em maior quantidade de informações, novidade, complexidade e
riscos de decisões, com maior probabilidade de erros fatais. Exacerbaram-se, então,
as contradições entre o progresso humano e o progresso tecnológico.
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“Uma importante lição de engenharia, proveniente da Segunda Guerra Mundial,
é que as máquinas não lutam sozinhas. A guerra solicitou e produziu
maquinismos novos e complexos, porém, geralmente essas inovações não
faziam o que se esperava delas. Tal ocorria porque excediam, ou não se
adaptavam, às características e capacidades humanas. Por exemplo, o radar
foi chamado “olho da armada”, mas o radar não vê. Por mais rápido e preciso
que seja, será quase inútil, se o operador não puder interpretar as informações
apresentadas na tela e decidir a tempo. Similarmente, um avião de caça, por
mais veloz e eficaz que seja, será um fracasso se o piloto não puder voá-lo com
rapidez, segurança e eficiência” (CHAPANIS, 1959)
Assim, cabe ao ser humano avaliar a informação, decidir e agir. Ao se desconsiderar
os fatores humanos, têm-se como resultado as falhas dos sistemas. O projeto de
engenharia pode ser eficaz, mas o desempenho não ser eficiente. Buscam-se
explicações e a solução mais fácil é afirmar que a culpa é do trabalhador(a) - o erro
humano, a falha humana, o ato inseguro. No entanto, acusar o trabalhador(a) de
negligência, descaso, desobediência ou ignorância, não resolve nem previne o
problema.
Engenheiros têm se juntado aos psicólogos e fisiólogos visando adequar
operacionalmente equipamentos, ambiente e tarefas:
• aos aspectos neuropsicológicos da percepção sensorial (visão, audição e tato);
• aos limites psicológicos de memória, atenção e processamento de informações;
• às características cognitivas de seleção de informações, resolução de problemas
e tomada
de decisões;
• à capacidade fisiológica de esforço, adaptação ao frio ou ao calor, e de resistência
às mudanças de pressão, temperatura e biorritmo.
Nasce a ERGONOMIA!
24
Vamos refletir um pouco sobre a evolução tecnológica, contrastando com as
características do ser humano.
Um importante papel da Ergonomia é adequar a interface humano-máquina,
de forma a não gerar sub e sobrecarga de trabalho durante a execução da
tarefa. Neste âmbito, torna-se imprescindível conhecer e respeitar as
capacidades e potencialidades humanas.
Sabendo que a tecnologia evoluiu bastante e que o tempo de processamento
da informação pela máquina pode ser infinitamente maior que o tempo de
processamento humano, como, então, podemos conciliar essa evolução
tecnológica às condições humanas? Descreva possíveis custos físicos e
psíquicos que podem ser decorrentes desta inadequação. Qual a sua experiência
como profissional?
- “O projeto de engenharia pode ser eficiente, mas o desempenho não ser
eficaz”. Reflita sobre esse comentário e, se puder, exemplifique com uma
situação real onde ocorre o que está descrito.
A eficiência pode ser medida pelo menor número de erros na execução de uma
tarefa, no menor período de tempo. Já eficácia pode ser medida pelo maior
número de eventos executados correta e adequadamente numa tarefa, du-
rante o menor período de tempo ou no tempo normal designado para a realização
daquela tarefa.
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1.3 O batismo da Ergonomia
O termo Ergonomia é utilizado pela primeira vez, como campo do saber específico,
pelo psicólogo inglês K. F. Hywell Murrel, no dia 8 de julho de 1949, quando
pesquisadores resolveram formar uma sociedade para “o estudo dos seres
humanos no seu ambiente de trabalho” - a “Ergonomic Research Society” (PHEAS-
ANT, 1997). Nesta data, em Oxford, criou-se a primeira sociedade de Ergonomia,
que congregava psicólogos, fisiologistas e engenheiros ingleses, pesquisadores
interessados nas questões relacionadas à adaptação do trabalho ao ser humano.
Num sentido amplo, todavia, o termo “trabalho” aplica-se a qualquer atividade
humana com qualquer propósito, particularmente se ela envolve algum grau de
experiência ou esforço. Ao definir ergonomia em relação ao trabalho humano,
utiliza-se em geral, a palavra trabalho com este sentido amplo.
Buscava-se um termo de fácil tradução para outros idiomas, que permitisse
derivação de outras palavras - ergonomista, ergonômico, etc. - e que não implicasse
que uma disciplina fosse mais importante que outra. Foi proposto o neologismo
“Ergonomia”, que compreende os termos gregos “ergo” (trabalho) e “nomos”
(normas, regras). Entretanto, a etimologia do vocábulo não define, precisamente,
o objeto desta disciplina.
Figura 1.1 – Wojciech Jastrzebowsky,
ensaísta polonês que criou o termo
“ergonomia”, em1857.
26
A origem do termo “ergonomia” remonta a 1857, quando o polonês Wojciechj
Jastrzebowski deu o seguinte título para uma de suas obras: “Esboço da ergonomia
ou ciência do trabalho baseada sobre as verdadeiras avaliações da Ciência da
Natureza”. Define-se então a ergonomia como a ciência de utilização das forças e
das capacidades humanas.
O termo “Ergonomia” foi definido por Murrell, após consultar estudiosos da língua
grega e latina, como “o estudo da relação entre o humano e o seu ambiente de
trabalho”. Isto ocorreu no verão de 1949. Welford apud Galley (2002), 25 anos
após, publicou um polêmico artigo na revista Ergonomics, no qual apresentava
uma reflexão que apontava o termo “ergonomia” como feio e incompreensível e
que havia sido adotado em 1950 em função de uma “dúvida sepulcral”. Tal termo,
segundo o autor, é facilmente confundido com a palavra “economia” e exigiu
bastante persuasão para que os editores concordassem no uso do termo para o
famoso jornal inglês que hoje adota este título. No entanto, o autor admite que
este termo é facilmente traduzido em diversos idiomas e com a “sabedoria de
uma percepção tardia” este termo poderia ver suplantada as dificuldades iniciais
assegurando uma atenção que, de outra forma, não teria obtido.
Apesar das reservas de Welford e de suas críticas ácidas, o termo ergonomia continua
em vigor, cada vez mais difundido e plenamente estabelecido na área científica.
O termo Ergonomia é utilizado na maior parte do mundo. A exceção ocorre
nos Estados Unidos e Canadá, onde as expressões que mais se aproximam são:
human factors (fatores humanos),
human factors engineering (engenharia dos fatores humanos),
engineering psychology (esta expressão poderia ser traduzida por
ergopsicologia),
man-machine engineering (engenharia humano-máquina) e
human performance engineering (engenharia do desempenho humano).
Cumpre registrar aCumpre registrar aCumpre registrar aCumpre registrar aCumpre registrar a
impressão conjunta, emimpressão conjunta, emimpressão conjunta, emimpressão conjunta, emimpressão conjunta, em
forma de ediçãoforma de ediçãoforma de ediçãoforma de ediçãoforma de edição
comemorativa, do trabalhocomemorativa, do trabalhocomemorativa, do trabalhocomemorativa, do trabalhocomemorativa, do trabalho
de Jastrzebowski pelode Jastrzebowski pelode Jastrzebowski pelode Jastrzebowski pelode Jastrzebowski pelo
Instituto PInstituto PInstituto PInstituto PInstituto Polonês deolonês deolonês deolonês deolonês de
PPPPProteção ao Troteção ao Troteção ao Troteção ao Troteção ao Trabalho e arabalho e arabalho e arabalho e arabalho e a
Associação InternacionalAssociação InternacionalAssociação InternacionalAssociação InternacionalAssociação Internacional
de Ergonomia (IEA), nade Ergonomia (IEA), nade Ergonomia (IEA), nade Ergonomia (IEA), nade Ergonomia (IEA), na
ocasião do seu 14ocasião do seu 14ocasião do seu 14ocasião do seu 14ocasião do seu 14ooooo.....
Congresso Internacional,Congresso Internacional,Congresso Internacional,Congresso Internacional,Congresso Internacional,
em San Diego, nosem San Diego, nosem San Diego, nosem San Diego, nosem San Diego, nos
Estados Unidos, no anoEstados Unidos, no anoEstados Unidos, no anoEstados Unidos, no anoEstados Unidos, no ano
de 2000de 2000de 2000de 2000de 2000.....
27
Embora seja possível fazer distinções entre os termos Ergonomia e Fatores
Humanos, a tendência tem sido para a prevalência do termo Ergonomia.
No início dos anos noventa, a Human Factors Society (Associação Americana
de Ergonomia) fez uma consulta aos seus associados para a incorporação do
termo “ergonomia” na sua denominação oficial (LAUGHERY, 1992), passando
então a ser denominada Human Factors and Ergonomics Society.
No Brasil o termo Ergonomia foi consolidado com os primeiros livros aqui
escritos:
“Ergonomia: notas de aulas”, de IIDA e WIERZZBICKI (1968) e
“Ergonomia: a racionalização humanizada do trabalho”, VERDUSSEN (1978).
Responda
- Qual a vantagem de se unir profissionais de diversas áreas na discussão em
torno do trabalho humano?
- Até aqui esperamos que tenha ficado claro que a Ergonomia é uma área
essencialmente interdisciplinar. Isto significa que o ergonomista deverá sempre
trabalhar em equipe? Que vantagens e desvantagens você pode identificar na
maneira como se dá a atividade de um ergonomista?
Se você quiser obter mais informações sobre o surgimento da ergonomia, leia
o primeiro capítulo dos livros:
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo, Editora Edgard Blücher, 1990.
SANDERS, M.S. e MCCORMICK, E.J. Human factors in engineering and
design. 7a. ed. New York, McGraw-Hill, 1993.
28
1. 4 A evolução da ergonomia
Após a guerra, os ergonomistas voltaram a atenção para as inúmeras máquinas
que cercam nosso cotidiano. Descobriram que muitos dos erros de projeto que
atormentavam marinheiros, soldados e aviadores, existiam - e ainda existem -
nas fábricas, nas estradas, na sinalização urbana, nos tratores, caminhões,
automóveis e mesmo num fogão doméstico. São instrumentos que
os operadores
interpretam com dificuldade, controles que iludem a dona de casa, sinais de trânsito
que confundem motoristas, placas de sinalização que não orientam os transeuntes.
Estes e centenas de outros exemplos são evidência de projetos inadequados, de
incompatibilidades no sistema humano-tarefa-máquina (SHTM), determinados pela
falta de adaptação às características físicas, psíquicas e cognitivas humanas.
Nos vinte anos seguintes (1960-1980) ocorreu um rápido crescimento e expansão
da ergonomia. Até 1960, nos Estados Unidos, ela concentrava-se essencialmente
no complexo militar industrial. Com a corrida pelo espaço, a ergonomia tornou-
se uma importante parte dos programas da NASA. Mais importante ainda:
paralelamente à expansão além das fronteiras militares, as indústrias começaram
a reconhecer a importância da ergonomia para projetos de estações de trabalho
e produtos manufaturados.
Na década de 60 a Ergonomia difundiu-se para os meios de transporte e,
posteriormente, para os sistemas fabril e agrícola, até atingir o trabalho em escritórios.
Apesar disto, a Ergonomia continuou desconhecida do público em geral.
A ergonomia continuou a crescer a partir dos anos oitenta com a revolução dos
computadores, inicialmente focalizando os terminais de vídeo. Logo surgiram
computadores ergonomicamente projetados, softwares com interfaces amigáveis
e os fatores humanos no escritório ocuparam muitos artigos de jornais e revistas
que lidam com computadores e pessoas.
A tecnologia informatizada propiciou desafios para a ergonomia. Novos dispositivos
de controle, apresentação de informações via telas de computador e o impacto
29
das novas tecnologias sobre as pessoas constituem-se em áreas contemporâneas
de atuação do ergonomista.
O papel da ergonomia nas indústrias nucleares e de controle de processo cresceu
após os acidentes em Three Miles Island, nos Estados Unidos; Bhopal, na Índia e
Chernobyl na Ucrânia.
Como você associaria os acidentes citados acima com o que ocorreu em Goiânia,
no vazamento do Césio 137?
Para obter maiores detalhes referentes aos acidentes citados, inclusive o
acidente radioativo com o Césio 137, consulte os sites:
http://www.nuclear.radiologia.nom.br/diversos/apeernuc.htm
http://www.diesat.org.br/2005/janeiro_2005.pdf.
http://virtualbooks.terra.com.br/artigos/Acidente_nuclear_de_Goiania03.htm
Outra área que está contribuindo para o aumento da difusão da ergonomia são
os litígios sobre confiabilidade de produtos. As cortes têm solicitado a avaliação de
especialistas em ergonomia na análise de produtos envolvidos em acidentes du-
rante o uso.
Os últimos vinte anos testemunharam uma ampla revolução tecnológica que foi
responsável por novas formas de relação usuário X produto, trabalhador X sistema
de produção. Estas novas formas de relação originaram novos conflitos que serão
discutidos a seguir. O quadro seguinte, baseado em HELANDER (1997) apresenta,
de forma sucinta, a evolução tecnológica e os enfoques da ergonomia nos últimos
quarenta anos.
30
Anos 40/50 Ergonomia militar
Anos 60/70 Ergonomia industrial e de produtos de consumo
Ergonomia civil: siderurgia e meios de transportes
Início da corrida espacial
Indústria [estações de trabalho, produtos manufaturados]
Anos 80 Ergonomia do software e interação humano-computador
Automatização de escritórios
Controle de usinas nucleares e de processo [Three Miles Island,
Chernobyl e Bhopal]
Anos 90 Ergonomia organizacional e cognitiva
Geração de sistemas de informação, de multimídias, de hipertextos e
de programas aplicativos
Informatização de postos de trabalho
Participação na elaboração de normas técnicas
Participação em litígios judiciais
Macroergonomia
Século XXI Manufatura híbrida, automação e robótica
Usabilidade de produtos e sistemas complexos
Tráfego e transporte
Idosos e envelhecimento
Quadro 2 - Evolução tecnológica e os enfoques da Ergonomia
1.5 A Ergonomia e os novos conflitos humano x máquina
Uma análise especial deve ser direcionada ao que ocorreu a partir da década de
oitenta, com a participação da ergonomia na renovação produzida pela Informática.
Mais uma vez, a preocupação com os fatores humanos não acompanhou pari
passu o progresso tecnológico. Do mesmo modo que se enfatizava o funcionamento
eficaz durante o projeto de máquinas energizadas a vapor, eletricidade e petróleo,
com a microeletrônica ocorreu o mesmo. O projeto de computadores, a
PPPPPari passu ari passu ari passu ari passu ari passu – locução– locução– locução– locução– locução
adverbial latina,adverbial latina,adverbial latina,adverbial latina,adverbial latina,
signif icando “no mesmosignif icando “no mesmosignif icando “no mesmosignif icando “no mesmosignif icando “no mesmo
passo ou ritmo”.passo ou ritmo”.passo ou ritmo”.passo ou ritmo”.passo ou ritmo”.
31
implantação de centros de processamento de dados, a geração de sistemas de
informação, multimídias, hipertextos e programas aplicativos contemplam
primordialmente o funcionamento - a capacidade e velocidade dos componentes,
a conservação, a manutenção das máquinas, a rapidez no uso. A interação entre
as máquinas e os seus usuários raramente foi uma consideração a priori - e, no
caso da informatização, nada mudou -, daí a importância da ergonomia.
A informatização de postos de trabalho tem gerado mudanças profundas nos hábitos,
atitudes e esquemas operatórios das diversas atividades profissionais. As melhorias
resultantes da implantação de computadores exigiram o aumento do nível cultural
dos trabalhadores e resultaram na mudança das aspirações destes, em relação ao
trabalho, e na modificação da sua visão sobre as condições de trabalho.
A implantação de estações de trabalho computadorizadas compreende um
excelente exemplo de como o progresso técnico pode ser bem ou mal utilizado
em proveito ou prejuízo do operador humano. Quando não se consideram os
fatores fisiológicos e psicológicos dos usuários, ocorrem insatisfações e queixas.
Caso se contemplem variáveis ergonômicas como, entre outras, usabilidade da
interface, visibilidade, legibilidade, medidas antropométricas, propiciam-se bem-
estar e conforto para os operadores.
A informatização de tarefas ocasiona a mudança de atividades e funções, a
modificação dos espaços e das estações de trabalho, transformações da
operacionalização dos serviços de escritório, alterações na estrutura das
comunicações. Acrescente-se ainda o fechamento de postos de trabalhos com
profundas repercussões sociais.
A atividade de entrada intensiva de dados, por exemplo, se caracteriza por uma
descentralização horizontal, acompanhada de um aumento de trabalho repetitivo.
Ocorreu, então, uma desqualificação do trabalho devida ao parcelamento da tarefa,
falta de significado da informação tratada, especialização restrita dos operadores.
Os corolários são, por um lado, uma sobrecarga pela intensificação do ritmo de
trabalho e, por outro lado, uma sub-carga pela monotonia. Nas duas situações,
32
incrementam-se as possibilidades de erro e de problemas físicos e psíquicos para
o operador.
A automatização de sistemas produtivos, como as indústrias de processo - química,
cimento, etc. - cria situações de trabalho onde o operador responsável pelo controle
e regulação do sistema permanece isolado e deve manter uma constante vigilância
por muitas horas, seja durante o dia ou à noite. Cabe a este operador acompanhar
o bom andamento do processo de fabricação e intervir com rapidez em caso de
incidentes. Este tipo de tarefa, embora aparentemente não implique em qualquer
esforço do operador, ocasiona altos níveis de tensão para o ser humano. Os
incidentes ou acidentes são raros, mas quando ocorrem são de larga proporção e
acarretam sérios riscos para o sistema e para os próprios operadores, como no caso
de explosão de caldeiras, por exemplo. São muitas as informações a selecionar, as
variáveis
a interpretar e várias as possibilidades de solução. Tudo em muito pouco
tempo e envolvendo decisões que são sempre urgentes.
Em dezembro de 1984, o escapamento de gases tóxicos na usina da Union Car-
bide, em Bhopal, na Índia, provocou a morte de cerca de 2.500 pessoas. Como
escreveu MONTMOLLIN (1986), as conclusões de uma enquete do New York
Times, que o Le Monde reproduziu em 30 de janeiro de 1985, diziam que os
empregados ao descobrirem um escapamento comunicaram o fato a um
contramestre, que lhes respondeu que verificaria o problema depois de tomar
seu chá. Este mesmo contramestre declarou, no entanto, que apenas fora
informado de um escapamento de água. A matéria do New York Times, ainda
segundo MONTMOLLIN, declara que os empregados disseram que, em
desacordo com o regulamento, a direção da fábrica desativara uma unidade de
resfriamento de gás, vários meses antes do acidente.
Em continuação, o New York Times afirma que o escapamento começou duas
horas depois que um trabalhador - cuja formação não era adequada - recebeu a
ordem de limpar uma tubulação cuja vedação não estava perfeita - contrariando,
mais uma vez, às normas de segurança. Os trabalhadores estimaram que a reação
química que desencadeou a catástrofe provavelmente teve este fato como origem.
33
De acordo com os parâmetros da ergonomia, as comunicações, a oposição entre
o prescrito e o real, a formação dos trabalhadores encontra-se entre as principais
causas de acidentes desse tipo.
Por mais que se tente sanar as falhas humanas e eliminar o erro humano através
de sistemas automatizados, não se consegue prescindir do ser humano como
controlador - a ele cabe intervir e decidir nos momentos de pane total.
Do mesmo modo que o radar não é o “olho da armada”, o computador não
pensa. Entretanto, buscam-se máquinas “inteligentes” que resolvam problemas e
tomem decisões sozinhas, desconsiderando-se as capacidades humanas. A
automação e a robótica estão aí, a exigir novos equipamentos e a colocar novos
problemas - como a produção de sistemas de apoio a decisão, expert systems,
etc. A revolução industrial substituiu o trabalho humano no que se refere à energia
física necessária para manipular materiais. A automação vem substituir o trabalho
humano no processamento de informações, na determinação do que fazer do que fazer do que fazer do que fazer do que fazer e
como fazercomo fazercomo fazercomo fazercomo fazer..... A ergonomia mais uma vez sai em campo para adaptar estes
programas às características cognitivas do operador humano. O trabalho das “salas
de controle” dos operadores de terminais de vídeo e o projeto de ajudas
informatizadas e de sistemas de comunicação são agora campos de atuação do
ergonomista.
A ergonomia passa a ter então a sua importância alicerçada no estudo dos limites,
limiares, capacidades do ser humano, suas características físicas e psíquicas. Sendo
assim, qualifica-se para definir parâmetros ergonômicos para o projeto de produtos,
processos produtivos (métodos e planejamento, programação e controle da
produção), sistemas de informação, ambientes arquiteturais e treinamento para o
trabalho de forma a propiciar segurança, saúde, conforto, bem estar e melhoria
da qualidade de vida das pessoas.
34
Coloque no papel suas reflexões a respeito da informatização dos postos de
trabalho no Brasil. Que tipo de mudanças, ao seu ver, ocorreram (além das
citadas no texto) na interação do ser humano e seu trabalho? O que poderia
estar levando as pessoas a adoecerem mesmo trabalhando em postos
tecnologicamente avançados, com grande capacidade de automação?
1.6 Definição de ergonomia
A IEA – Associação Internacional de Ergonomia, no15o. Congresso (em 2000,
San Diego, EUA), apresentou as seguintes definições:
· “A ergonomia é a disciplina científica que busca entender as interações entre
os seres humanos e outros elementos do sistema; é também a área profissional
que aplica teoria, princípios, dados e métodos ao design, buscando otimizar o
bem-estar humano e a melhoria de desempenho geral de um sistema”.
Assim, de acordo com a IEA, os praticantes da Ergonomia devem:
· Contribuir para o planejamento, projeto e a avaliação de tarefas, postos de
trabalho, produtos, ambientes e sistemas para torna-los compatíveis com as
necessidades, habilidades e limitações das pessoas.
· Intervir, a partir de uma compreensão abrangente na abordagem do trabalho,
levando em conta considerações de ordem física, cognitiva, social,
organizacional, ambiental e outros aspectos relevantes.
O Quadro 3, abaixo, apresenta os domínios de especialização da ergonomia
definidos pela IEA.
35
Ergonomia Física Ergonomia Cognitiva Ergonomia Organizacional
Quadro 3 - Domínios de especialização da ergonomia definidos pela IEA
Se quiser saber mais consulte o site da IEA: http://iea.cc/
Refere-se as características da
anatomia humana, antropometria,
fisiologia e biomecânica em sua
relação a atividade física.
Estuda: a postura no trabalho,
manuseio de materiais,
movimentos repetitivos,
distúrbios músculo-esqueletais
relacionados ao trabalho, projeto
de posto de trabalho, segurança
e saúde.
Refere-se aos processos mentais,
tais como percepção, memória,
raciocínio e resposta motora
conforme afetam interações
entre seres humanos e outros
elementos de um sistema.
Estuda: carga mental de trabalho,
tomada de decisão, performance
especializada, interação humano
computador, stress e treinamento,
conforme estes se relacionam aos
projetos envolvendo seres
humanos e sistemas.
Refere-se a otimização
dos sistemas sócio-
técnicos, incluindo suas
estruturas organizacionais,
políticas e de processos.
Estuda: comunicações, projeto
de trabalho, organização
temporal do trabalho, trabalho
em grupo, projeto participativo,
novos paradigmas do trabalho,
cultura organizacional,
organizações em rede,
teletrabalho e gestão da
qualidade.
36
1.7 Uma proposta de definição
Com o objetivo de englobar estes aspectos e explicitar o campo de atuação da
Ergonomia, assim como seus objetivos, propomos, a partir de MORAES (1990) e
MORAES e SOARES (1989), a definição apresentada nos próximos parágrafos.
Conceitua-se ErgonomiaErgonomiaErgonomiaErgonomiaErgonomia como tecnologia projetual das comunicações entre
humanos e máquinas, trabalho e ambiente. A ergonomia busca, através de
pesquisas descritivas e experimentais, sobre limiares, limites e capacidades
humanas (a partir de dados da fisiologia, da neurofisiologia, da psicofisiologia, da
psicologia, da psicopatologia, da biomecânica ocupacional, bem como da anatomia
e da antropometria), fornecer bases racionais e empíricas para adaptar ao ser
humano (i) bens de consumo e de capital, (ii) meios e métodos de trabalho, (iii)
planejamento, programação e controle e processos de produção e (iv) sistemas
de informação.
A ergonomia também objetiva, através da ação, resolver os problemas da relação
entre o ser humano, máquina, equipamentos, ferramentas, programação do
trabalho, instruções e informações, solucionando os conflitos entre o humano e o
tecnológico, entre a inteligência natural e a “inteligência” artificial nos sistemas
humanos-máquinas.
Tais conflitos se expressam através de custos humanos do trabalho para o operador,
como fadiga, doenças profissionais, lesões temporárias ou permanentes,
mutilações e mortes. Também se expressam através de acidentes, incidentes,
erros excessivos, paradas não controladas, lentidão e outros problemas de
desempenho, assim como danificação e má conservação de máquinas e
equipamentos. Isto comumente acarreta em redução no nível de produção,
desperdício de matérias-primas, baixa qualidade dos produtos - o que acaba por
comprometer a produtividade e a qualidade do sistema homens-máquinas.
37
A palavra “máquina” compreende virtualmente qualquer tipo de objeto físico,
artefato, aparato, dispositivo, equipamento, utensílio,
meio de trabalho,
qualquer mecanismo físico objetivado com o qual o indivíduo executa alguma
atividade, com um propósito.
Nessa acepção, o lápis com o qual escrevemos, a raquete com que jogamos, a
pá com a qual cultivamos o jardim, a enxada, o martelo e o serrote, o balde de
massa e a pá do pedreiro, são tão máquinas quanto o carro ou a bicicleta que
dirigimos, o torno mecânico, a serra elétrica manual, a correia transportadora,
o painel de controle de uma refinaria, o console de monitoração de uma usina,
uma régua de cálculos, uma calculadora, um computador.
Com base nos enfoques sistêmico e informacional, a ergonomia como tecnologia
operativa trata de definir para projetos de produtos, estações de trabalho, sistemas
de controle, sistemas de informação, diálogos computadorizados, organização do
trabalho, operacionalização da tarefa e programas instrucionais, os parâmetros
interfaciais, instrumentais, informacionais, acionais, comunicacionais, cognitivos,
interacionais, movimentacionais, espaciais/arquiteturais, físico-ambientais, químico-
ambientais, securitários, operacionais, organizacionais, instrucionais, do espaço
interno, urbanos, psicossociais e de acessibilidade.
Exemplos de tais parâmetros são apresentados a seguir.
••••• interfaciaisinterfaciaisinterfaciaisinterfaciaisinterfaciais: configuração, morfologia, arranjo físico, dimensões, envoltórios
acionais de máquinas, equipamentos, consoles, bancadas, painéis e mobiliários;
••••• instrumentaisinstrumentaisinstrumentaisinstrumentaisinstrumentais: configuração, conformação, arranjo físico e topologia, priorização,
ordenação, padronização, compatibilização e consistência de painéis de
supervisão (sinópticos, mostradores) e/ou comandos;
••••• informacionaisinformacionaisinformacionaisinformacionaisinformacionais: visibilidade, legibilidade, compreensibilidade e quantidade de
informação, priorização e ordenação, padronização, compatibilização e
consistência, componentes sígnicos [caracteres alfanuméricos e símbolos
iconográficos] de sistemas de sinalização de segurança ou de orientação, de
38
painéis sinópticos, telas de monitores de vídeo e mostradores, de manuais
operacionais e apoios instrucionais; avisos/advertências e comportamento dos
usuários em relação às situações de risco.
••••• acionaisacionaisacionaisacionaisacionais: configuração, conformação, apreensibil idade, dimensões,
movimentação e resistência de comandos manuais e pediosos;
••••• comunicacionaiscomunicacionaiscomunicacionaiscomunicacionaiscomunicacionais: articulação e padronização de mensagens verbais por alto-
falantes, microfones e telefonia; qualidade de equipamentos de comunicação
oral;
••••• cognitivoscognitivoscognitivoscognitivoscognitivos: compreensibilidade, consistência da lógica de codificação e
representação, compatibilização de repertórios, significação das mensagens;
processamento de informações, coerência dos estímulos, das instruções e das
ações e decisões envolvidas na tarefa, compatibilidade entre a quantidade de
informações, complexidade e/ou riscos envolvidos na tarefa; qualificação,
competência e proficiência do operador;
••••• interacionaisinteracionaisinteracionaisinteracionaisinteracionais: navegação em hipertextos, páginas da web, considerando
consistência, orientação X desorientação do usuário (onde estou? para onde
vou?), arquitetura da informação, gerência de conteúdo, e-writing, legibilidade,
destaque das informações, metáforas e ajudas ao usuário;
••••• movimentacionaismovimentacionaismovimentacionaismovimentacionaismovimentacionais: limites de peso para levantamento e transporte manual
de cargas, segundo a distância horizontal da carga em relação à região lombar
da coluna vertebral, o curso vertical do levantamento ou abaixamento da carga,
a conformação da carga, a freqüência de manipulação da carga;
••••• espaciais/arquiteturaisespaciais/arquiteturaisespaciais/arquiteturaisespaciais/arquiteturaisespaciais/arquiteturais: aeração, insolação e iluminação do ambiente;
isolamento acústico e térmico; áreas de circulação e layout de instalação das
estações de trabalho; ambiência gráfica, cores do ambiente e dos elementos
arquiteturais;
••••• físico-ambientaisfísico-ambientaisfísico-ambientaisfísico-ambientaisfísico-ambientais: iluminação, ruído, temperatura, vibração, radiação, pressão,
dentro dos limites da higiene e segurança do trabalho, e considerando as
especificidades da tarefa;
••••• químico-ambientaisquímico-ambientaisquímico-ambientaisquímico-ambientaisquímico-ambientais: toxicidade, vapores e aerodispersóides; agentes biológicos
(microorganismos: bactérias, fungos e vírus), que respeitem padrões de assepsia,
higiene e saúde;
••••• securitários securitários securitários securitários securitários: controle de riscos e acidentes, pela manutenção de máquinas e
39
equipamentos, pela utilização de dispositivos de proteção coletiva e, em último
caso, pelo uso de equipamentos de proteção individual adequados, pela supervisão
constante da instalação dos dutos, alarmes e da planta industrial em geral;
••••• operacionaisoperacionaisoperacionaisoperacionaisoperacionais: programação da tarefa, interações formais e informais, ritmo,
repetitividade, autonomia, pausas, supervisão, precisão e tolerância das
atividades da tarefa, controles de qualidade, dimensionamento de equipes;
••••• instrucionaisinstrucionaisinstrucionaisinstrucionaisinstrucionais: programas de treinamento, procedimentos de execução da tarefa;
reciclagens e avaliações;
••••• organizacionaisorganizacionaisorganizacionaisorganizacionaisorganizacionais: parcelamento, isolamento, participação, gestão, avaliação,
jornada, horário, turnos e escala de trabalho, seleção e treinamento para o
trabalho;
••••• do espaço internodo espaço internodo espaço internodo espaço internodo espaço interno: circulação e fluxo de pessoas, máquinas e materiais,
consideração das atividades a serem desempenhadas e de movimentação dos
operadores para realizá-las;
••••• urbanosurbanosurbanosurbanosurbanos: planejamento e projeto do espaço da cidade, sinalização urbana e de
transporte, terminais rodoviários, ferroviários e metroviários, áreas de circulação
e integração, áreas de repouso e de lazer;
••••• psicossociaispsicossociaispsicossociaispsicossociaispsicossociais: conflitos entre indivíduos e grupos sociais; dificuldades de
comunicações e interações interpessoais; falta de opções de descontração e
lazer;
••••• de acessibilidadede acessibilidadede acessibilidadede acessibilidadede acessibilidade: sejam equipamentos, meios de transporte ou espaços
interiores e exteriores, considerações em seu planejamento, de forma que
possam ser utilizados com autonomia pelas pessoas portadoras de deficiências.
Acima foram colocados 19 parâmetros ergonômicos. Reflita sobre a importância
de cada um deles no ambiente de trabalho. Tente relacioná-los com a sua
atividade profissional.
O objeto da ergonomia, seja qual for a sua linha de atuação, ou as estratégias e os
métodos que utiliza, é o ser humano no seu trabalho trabalhando, realizando a
sua tarefa cotidiana, executando as atividades do dia-a-dia. Esse trabalho real e
concreto compreende o trabalhador, o operador, o manutenidor, o instrutor ou
40
usuário no seu local de trabalho, enquanto executa sua tarefa, com suas máquinas,
ferramentas, equipamentos e meios de trabalho, num determinado ambiente
físico e arquitetural, com seus chefes e supervisores, colegas de trabalho e
companheiros de equipe, e mais as interações e comunicações formais e informais,
num determinado quadro econômico-social, ideológico e político.
A ergonomia partilha assim o seu objetivo geral - melhorar as condições específicas
do trabalho humano - com a higiene e a segurança do trabalho. Os organizadores
do trabalho também estudam o trabalho real para determinar procedimentos
mais racionais e formas mais produtivas de efetuar a tarefa. Várias são as ênfases,
as estratégias, métodos e técnicas. No entanto, é imprescindível enfatizar que a
ergonomia orienta-se prioritariamente para a aplicação.
Cumpre ressaltar que a singularidade da ergonomia está justamente na sua práxis,
que integra o estudo das características físicas e psíquicas do ser humano, as
avaliações tecnológicas do sistema produtivo, a análise da tarefa, com a apreciação,
o diagnóstico, a projetação, a avaliação e a implantação de sistemas homens-
tarefas-máquinas. O ergonomista, junto com engenheiros, arquitetos, desenhistas
industrias, analistas e programadores de sistema, organizadores do trabalho,
psicólogos, médicos e enfermeiros do trabalho, propõe mudanças e inovações,
sempre a partir de variáveis fisiológicas, psicológicas e cognitivas humanas e segundo
critérios que privilegiam o ser humano.
Na filosofia de Aristóteles, práxis é uma das três atividades básicas dos seres
humanos; as outras são a theoria e a poiêsis, ou produção artística. Mais
tarde tem-se que a subordinação da teoria à prática relaciona-se com a
incapacidade da razão para resolver contradições. A práxis relaciona-se com a
atividade livre, autêntica e autoconsciente, opondo-se ao trabalho alienado.
(BLACKBURNS, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro, Jorge
Zahar, 1974)
O atendimento aos requisitos ergonômicos possibilita maximizar o conforto, a
41
satisfação e o bem-estar; garantir a segurança; minimizar constrangimentos, cus-
tos humanos e carga cognitiva, psíquica e física do operador e/ou usuário; e otimizar
o desempenho da tarefa, o rendimento do trabalho e a produtividade do sistema
humano-tarefa-máquina.
Finalmente, cabe asseverar que a ergonomia tem como centro focal de seus
levantamentos, análises, pareceres, diagnósticos, recomendações, proposições e
avaliações, o HUMANO como ser integral. A vocação principal da ergonomia é
recuperar o sentido antropológico do trabalho, gerar o conhecimento atuante e
reformador que impede a alienação do trabalhador, valorizar o trabalho como agir
através do qual o ser humano se transforma e transforma a sociedade, como livre
expressão da atividade criadora, como superação dos limites da natureza pela
espécie humana.
1.8 Afluentes, efluentes e fronteiras da Ergonomia
O recorte da Ergonomia se faz através do seu objeto - o ser humano em seu
trabalho, numa situação real -, de seus múltiplos recortes do sistema humano-
tarefa-máquina e da ênfase na análise da tarefa (trabalho e atividades). Cumpre,
portanto, observar que o sistema humano-tarefa-máquina pode ser compreendido
a partir de diversas situações de trabalho e lazer: um shopping center, um hospital,
uma sala de controle, uma agência bancária, um terminal rodoviário, um laboratório
de análise, uma galeria de exposições, um parque, uma banca de jornal, um
banheiro público para deficientes, um sistema de sinalização de uma universidade,
um console de controle, a estação de trabalho de um digitador, um banco de
praça, uma cozinha residencial, uma sala de estar, etc.
A ergonomia como tecnologia substantiva implica interações com várias ciências -
as disciplinas afluentesdisciplinas afluentesdisciplinas afluentesdisciplinas afluentesdisciplinas afluentes. A ergonomia como tecnologia operativa compreende
interações com diversas tecnologias projetuais - as disciplinas efluentesdisciplinas efluentesdisciplinas efluentesdisciplinas efluentesdisciplinas efluentes.
····· Disciplinas afluentesDisciplinas afluentesDisciplinas afluentesDisciplinas afluentesDisciplinas afluentes são aquelas que fornecem subsídios (i) sobre os aspectos
físicos e mentais do ser humano (anatomia, antropometria, biomecânica

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