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Série Estudo Esquematizado Interesses Difusos e Coletivos Cleber Masson, Landolfo Andrade e Adriano Andrade 2ª para 3ª edição Prezado Leitor, os trechos em fonte na cor vermelha indicam que houve alteração ou acréscimo de texto pelo autor. Os trechos tachados foram excluídos do texto. Os trechos em fonte preta já existiam na edição anterior da obra. Para localização do conteúdo, foram indicados os números dos itens onde o texto se encontra. Observe que os números das notas de rodapé podem divergir do seu livro impresso, atente‐se ao conteúdo do parágrafo ao qual a nota está ligada. 1.3.6.3.4 Recomendabilidade de tratamento conjunto • facilitação do acesso à Justiça para os sujeitos vulneráveis; • a proteção efetiva do interesse social; • a numerosidade dos membros do grupo; • dificuldade na formação do litisconsórcio; ou • a necessidade de decisões uniformes. A propósito desse requisito, convém citar acórdão em que o STJ não reconheceu a legitimidade de uma associação para propor ação civil pública em prol de consumidores, em razão de não haver, no caso em questão, a prova de que existiam vários consumidores lesados por um mesmo tipo contrato. Logo, na hipótese, a abrangência dos direitos que se pretendia defender não era ampla o suficiente (não havia, portanto, numerosidade dos membros do grupo) para caracterizá‐los como coletivos (em sentido amplo). Assim, estavam presentes direitos individuais, mas não individuais homogêneos1. 2.2 A Influência Das Class Actions Para que uma demanda possa ser processada com o status de class action, precisa preencher alguns requisitos previstos na Rule 23, e outros fixados pela jurisprudência. Uma vez constatada a presença de todos eles, a ação recebe do juízo a certificação (certification), que consiste na sua admissão como class action. Caso tais pressupostos de admissibilidade não sejam preenchidos, a demanda não é admitida como ação coletiva, mas, eventualmente, pode ter andamento na forma de ação individual. 2.3.1.1.4.2 Repartição de atribuições entre os diversos Ministérios Públicos Não obstante tais dificuldades, pode‐se dizer que, a exemplo do que ocorre para se definir as competências dos órgãos jurisdicionais,2 algo parecido se dá, de modo geral, para distribuir as atribuições entre os vários Ministérios Públicos. Até a edição anterior, importava principiarmos a análise da repartição de atribuições entre os diversos Ministérios Públicos a partir do exame da competência originária do STFF 3. Isso porque, em razão do que rezam os artigos 46 e 37, I, ambos da LOMPU, a Corte Maior entendia que apenas o MPF, por meio do Procurador‐Geral da República, poderia nela atuar originariamente. Logo, afirmávamos não ser possível que outros Ministérios Públicos 1 REsp 823.063/PR, 4.ª T., rel. Min. Raul Araújo, j. 14.02.2012, DJe 22.02.2012. 2 Conforme tratado no item 2.5, as competências das “Justiças” Comuns (federal, distrital e estaduais) e Especiais (eleitoral, trabalhista, militar) são residuais em relação às competências dos tribunais de sobreposição (STF e STJ); as competências das Justiças Comuns são residuais em relação às das Justiças Especiais; e, dentro das Justiças Comuns, as competências das Justiças dos Estados e do Distrito Federal são residuais em relação às da Justiça Federal. 3 Ao contrário do STF, não se vislumbram hipóteses que defiram ao STJ competência originária para ações civis públicas. Série Estudo Esquematizado Interesses Difusos e Coletivos Cleber Masson, Landolfo Andrade e Adriano Andrade 2ª para 3ª edição pudessem aforar ações civis públicas naquele sodalício. Assim, se a competência originária para a ação civil pública fosse do STF, necessariamente, a atribuição seria do MPF. Ocorre que o entendimento do STF mudou. Com efeito, ao apreciar a Reclamação 7.538/SP, a Corte Suprema passou a admitir que os Ministérios Públicos Estaduais nela atuem originariamente, quando estiverem atuando no desempenho de suas prerrogativas institucionais e no âmbito dos processos cuja natureza justifique sua participação4. A partir de então, a Corte Constitucional limita a aplicação dos citados dispositivos da LOMPU aos diversos ramos do Ministério Público da União, não a estendendo MPEs. A partir de tal revisão de entendimento, nada obsta, ao nosso aviso, que, presente hipótese de competência originária do STF para a ação civil pública, possa algum MPE ter legitimidade para propô‐la. Assim, conforme o caso concreto, a atribuição será do MPF e/ou do MPE, a depender da matéria em pauta se inserir dentre aquelas compatíveis com as funções institucionais conferidas ao MPF pela LOMPU e/ou ao MPE por sua respectiva Lei Orgânica. Em não se tratando de competência originária do STF, deve‐se passar à análise das atribuições dos Ministérios Públicos que atuam perante as Justiças especiais. Façamo‐lo. 2.6.4 Denunciação da lide Apesar da inexistência de óbice legal genérico, a denunciação da lide é defesa em ações (sejam individuais, sejam coletivas) movidas em face dos fornecedores, quando fundadas no fato do produto, por conta do que dispõe o art. 88, c.c. o art. 13, parágrafo único, do CDC. Parte da doutrina sustenta que tal vedação, a despeito de a remissão do art. 88 limitar‐se ao art. 13 (que trata do fato do produto), aplicar‐se‐ia, também, ao fato do serviço, sob o argumento de que, nas ações de reparação de danos provocados por serviço defeituoso, a possibilidade de ingresso em juízo de outros responsáveis, contra a vontade do consumidor‐ ‐autor, poderia ser‐lhe igualmente prejudicial.5 A divisão doutrinária se reproduz na jurisprudência. No STJ, a 4.ª Turma sustenta que a vedação limita‐se às ações fundadas no fato do produto6, ao passo que a 3.ª Turma, alterando seu entendimento anterior (que era idêntico ao da 4.ª Turma), agora se posiciona no sentido de que a proibição se estende às hipóteses de fato do serviço7. Nos demais casos, existe forte resistência doutrinária à admissibilidade de denunciações em ações civis públicas, sob o principal argumento de que elas protelariam a tutela jurisdicional dos interesses lesados, ao introduzirem na lide um elemento novo de discussão: a responsabilidade do terceiro em face do réu‐denunciante 2.7.1.1.3 Prorrogação de competência nas relações entre ações da Justiça Estadual e Federal II – Destarte, a reunião dos processos por conexão só tem lugar se o mesmo juízo for competente para julgar ambas ou a diversidade das causas, o que não se verifica na espécie, uma vez que a Caixa Econômica Federal só integra o polo passivo em uma das ações – na que 4 Tribunal Pleno, rel. Min. Ellen Gracie, DJe 03.06.2011. No mesmo sentido: MS 28.827/SP, 1.ª T., rel. Min. Carmen Lúcia, DJe 09.10.2012. 5 Nesse sentido, dentre outros: GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade Civil: Dano e Defesa do Consumidor. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 84; OLIVEIRA, James Eduardo. Código de Defesa do Consumidor: Anotado e Comentado. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 710; ARAÚJO FILHO, Luiz Paulo da Silva. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 108. 6 REsp 439.233/SP, rel. Min. Aldir Passarinho, DJU 22.10.2007. 7 REsp 1.165.279/SP, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 28.05.2012. Série Estudo Esquematizado Interesses Difusos e Coletivos Cleber Masson, Landolfo Andrade e Adriano Andrade 2ª para 3ª edição tramita perante a 30.ª Vara Federal do Rio de Janeiro – sendo a Justiça Federal absolutamente incompetente para conhecer das demais.8 Ao menos no que diz respeito à continência, a controvérsia no STJ foi resolvida pela edição da Súmula 489, que afirma que “Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual”. Tendo em vista que o mesmo óbice que se opunha à reunião das ações na continência é o que se invoca no caso da conexão (competência absoluta), uma vez admitida a possibilidade da reunião no caso da continência, a tendência é que se aplique a mesma orientação da Súmula 489 para os casos de conexão. 2.9.2.1 Liminares: aspectos gerais No que diz respeito às liminares satisfativas, é amplamente majoritário o entendimento doutrinário e jurisprudencial de não serem elas concebíveis sem prévio requerimento da parte interessada, em razão da redação do art. 273 do CPC: “o juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar...”. Atenção: dentre os autores que esposam o entendimento minoritário encontra‐se Gregório Assagra de Almeida, membro do Ministério Público de Minas Gerais, e cujo pensamento goza de grande respeito naquela instituição. Para ele, “como está em jogo o interesse social na ação civil pública, o juiz poderá conceder a liminar de ofício ou a requerimento da parte, seja ela de natureza cautelar (...) seja ela de natureza de antecipação dos efeitos da tutela final pretendida (...)”.9 Sua posição acerca do tema foi adotada no concurso de ingresso àquele Ministério Público do ano de 2011. 2.11.3.7 Limites territoriais da coisa julgada c.2) Violação ao devido processo legal no aspecto substantivo: o Executivo Federal infringiu os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade e, portanto, ao princípio do devido processo legal no seu aspecto substantivo. A irrazoabilidade e a desproporcionalidade decorrem de que o Presidente da República, visando restringir a eficácia de ações costumeiramente frequentadas pela Fazenda Pública e até mesmo por ele, deu azo a sentenças judiciais conflitantes, desprezou, a um só tempo, o princípio da igualdade e o princípio da segurança jurídica, e, ao fragmentar a tutela dos direitos transindividuais em várias ações coletivas, agiu em detrimento do princípio da economia processual, que havia sido aprimorado pelo microssistema resultante da integração CDC + LACP. No STJ, vinha prevalecendo o entendimento de que a sentença, na ação civil pública, nos termos do art 16 da LACP, faz coisa julgada apenas nos limites da competência territorial do órgão prolator10. Esse entendimento foi revisto por sua Corte Especial, para afirmar a possibilidade de o beneficiário ajuizar a execução individual no foro de seu domicílio, diverso do foro da sentença coletiva, sob ‐ dentre outros ‐ o argumento de que os efeitos e a eficácia da sentença não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando‐se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juízo (arts. 468, 472 e 474, CPC, e 93 e 8 CC 53.435/RJ, 2.ª Seção, rel. Min. Castro Filho, j. 08.11.2006, DJ 29.06.2007. 9 Manual das Ações Constitucionais. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. 182 e 183. 10 EREsp 293.407/SP, Corte Especial, rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ 01.08.2006. No mesmo sentido: EREsp 399.357/SP, 2.ª Seção, rel. Min. Fernando Gonçalves, j. 09.09.2009, DJe 14.12.2009. Série Estudo Esquematizado Interesses Difusos e Coletivos Cleber Masson, Landolfo Andrade e Adriano Andrade 2ª para 3ª edição 103, CDC). Em seu voto, o relator reconhece a confusão conceitual do art. 16 (entre coisa julgada e competência territorial), e observa que restringir os efeitos da coisa julgada ao foro do juízo da sentença esvaziaria a utilidade prática da ação coletiva, já que, na hipótese de dano nacional ou regional, apenas os habitantes do Distrito Federal ou da capital estadual onde ajuizada a ação seriam beneficiados por uma sentença de procedência11. Sem embargo, a questão ainda não está pacificada, uma vez que, posteriormente a tal julgamento, a 2.ª Turma do STJ, invocando o caput do art. 2.‐A da Lei 9.494/1997, no caso de ações civis públicas movidas por associações (aqui incluídos os sindicatos), continua restringindo os efeitos da sentença aos substituídos que residam, à data da propositura da ação, nos limites territoriais do órgão prolator12. Apesar disso, a mesma 2.ª Turma, ao menos em relação aos sindicatos, não tem condicionado os efeitos subjetivos da sentença à apresentação de lista e autorizações de associados, prevista no parágrafo único do mesmo art. 2.º‐A, já que a legitimidade dos sindicatos para representar a categoria profissional emerge da CF, sem limitações13. 2.12.2.2 Liquidação e execução coletivas Para parte da doutrina e da jurisprudência, a atuação dos colegitimados do art. 82 do CDC na liquidação e execução coletiva de títulos em prol de interesses individuais homogêneos, distintamente de sua legitimação para propositura das ações coletivas de conhecimento, não configuraria substituição processual (legitimação extraordinária), mas sim representação processual (legitimação ordinária), pois, na liquidação e execução (ao contrário da fase de conhecimento), é mister individualizar a situação particular de cada vítima.14 Logo, esse cumprimento coletivo dependeria de prévia autorização das vítimas.15 E, por já não se tratar mais da defesa de direitos coletivos em sentido amplo (difusos, coletivos ou individuais homogêneos), mas sim da defesa de direitos individuais perfeitamente identificados, os entes públicos, em regra, não estariam legitimados a promover a respectiva execução, ressalvado, se for o caso, a Defensoria Pública, e, excepcionalmente (se houver relevância social em razão da matéria ou do número de lesados), o Ministério Público16. O STJ e o STF, porém, ao menos quanto à legitimidade dos sindicatos, seja em função do que dispunha o art. 8.º da revogada Lei 7.788/1989,17 que falava em substituição processual,18 seja por conta do que proclama o art. 8.º, III, da CF,19 que não exige expressa autorização dos filiados, têm entendido tratar‐se 11 RESP 1.243.887/PR, Corte Especial, rel. Min. Luís Felipe Salomão, j. 19.10.2011, DJe 12.12.2011. 12 AgRg no REsp 1.279.061/MT, rel. Min. Humberto Martins, j. 19.04.2012, DJe 26.04.2012; AgRg no REsp 1.338.029/PR, rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 13.11.2012, DJe 21.11.2012. 13 AgRg no AREsp 232.468/DF, rel. Min. Humberto Martins. J. 16.10.2012, DJe 25.10.2012. 14 GRINOVER, Ada Pellegrini. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. p. 887 e 890; ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. 4. ed. São Paulo: RT, 2009. p. 185. 15 Voto do relator Min. Teori Albino Zavascki no REsp 487.202, 1.ª T., j. 06.05.2004, DJ 24.05.2004. 16 REsp 869.583/DF, 4.ª T., rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 05.06.2012, DJe 05.09.2012. Apesar de não constar na ementa do acórdão, a legitimidade do MP para propor a execução coletiva dos direitos individuais é admitida, em caráter excepcional, no voto do relator. 17 Art. 8.º Nos termos do inciso III do art. 8.º da Constituição Federal, as entidades sindicais poderão atuar como substitutos processuais da categoria, não tendo eficácia a desistência, a renúncia e transação individuais. 18 EREsp 901.627/RS, Corte Especial, rel. Min. Luiz Fux, j. 17.06.2009, DJe 06.08.2009. 19 Art. 8.º (...) III – ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. Série Estudo Esquematizado Interesses Difusos e Coletivos Cleber Masson, Landolfo Andrade e Adriano Andrade 2ª para 3ª edição 20 de hipótese de substituição processual, de modo que sua legitimidade prescindiria da autorização dos ofendidos. 2.13.3 Fontes de receita O fundo federal será alimentado principalmente com os valores decorrentes de condenações emanadas da justiça federal, ao passo que os fundos estaduais receberão os recursos provenientes de condenações proferidas pela respectiva justiça estadual. Em regra, essas condenações em dinheiro normalmente terão sido voltadas à reparação de interesses difusos ou coletivos. Os recursos oriundos de indenizações de interesses individuais homogêneos somente afluirão aos fundos nos casos de fluid recovery do CDC ou da Lei 7.913/1989. Os respectivos regulamentos dos fundos poderão prever outras fontes de receitas, além dos valores provenientes de condenações judiciais. A título de exemplo, conforme dispõe o art. 1.º, § 2.º, da sua lei de regência, o fundo federal também pode ser alimentado por outras fontes, como pelo produto da arrecadação das multas aplicadas por infrações administrativas à Lei 7.853/1989 (lei de proteção a portadores de deficiências), ao CDC; e à Lei 8.884/199421, bem como de doações de pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras. 3.2.1.2 Legitimidade passiva Interessa analisar, outrossim, o § 2.º do art. 6.º, que, ao remeter ao inciso II, item b, do art. 4.º, dá a entender, em uma interpretação literal, que, no caso de a lesão ao patrimônio da entidade decorrer da avaliação superestimada de um bem a ela entregue por penhor ou hipoteca, deverá ser citado para a ação, além da entidade e dos beneficiários do ato, somente o avaliador do bem, o que deixaria de fora do polo passivo as autoridades, funcionários ou administradores porventura responsáveis. Há, na hipótese, uma presunção legal de que esses agentes públicos são induzidos a erro pela credibilidade na expertise técnica do avaliador. A solução legal é infeliz, pois não se afasta a possibilidade de, em um caso concreto, os agentes públicos ou administradores terem consciência de que o bem dado em garantia foi super‐ avaliado e, mesmo assim, autorizarem a operação bancária ou de crédito real, concretizando o ato lesivo ao erário, de modo que não haveria 4.4.1.1.3 Outros legitimados O mesmo raciocínio se aplica com relação aos direitos transindividuais protegidos pelo CDC, em razão de seu art. 83 admitir, em sua defesa, a propositura de todas as espécies de ações que assegurem sua adequada e efetiva tutela. E mais: tendo em vista o princípio da integração CDC x LACP, é ainda razoável sustentar que os mesmos legitimados à propositura da ação civil pública podem impetrar o writ coletivo em prol de quaisquer direitos metaindividuais, desde que presentes os pressupostos constitucionais e infraconstitucionais do mandamus.22 20 RE 193.503/SP, Pleno, rel. Min. Carlos Veloso, rel. p/ac. Min. Joaquim Barbosa, j. 12.06.2006, DJe 24.08.2007. 21 Atualmente substituída, quase que na íntegra, pela Lei 12.529/2011. 22 Essa, aliás, parece ser a mesma conclusão de Eurico Ferraresi, embora a ampare não no art. 83 do CDC e no princípio da integração CDC x LACP, mas, sim, na necessidade de estender a utilização do writ coletivo previsto no ECA a outros temas não necessariamente relacionados à proteção da infância e da juventude, em homenagem ao princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional (Op. cit., p. 243). Gregório Assagra de Almeida também entende Série Estudo Esquematizado Interesses Difusos e Coletivos Cleber Masson, Landolfo Andrade e Adriano Andrade 2ª para 3ª edição 5.5.9.1 Reparação do dano moral •Súmula 388: “A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral”. Em vários outros casos, o STJ tem reconhecido a existência de dano moral in re ip‐sa, ou seja, dano vinculado à própria existência do fato ilícito, cujos resultados são presu‐midos. Nessas situações, não é necessária a apresentação de provas que demonstrem a ofensa moral da pessoa, bastando, para tanto, que se demonstre a ocorrência do fato ilegal. Na jurisprudência da Egrégia Corte Superior, encontram‐se os seguintes exemplos de dano moral in re ipsa: dano provocado pela inserção indevida do nome do consumidor em cadastro de inadimplentes (AgRg no AREsp 93.883/SC, 3.ª Turma, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 13.11.2012); dano decorrente de atraso de voo (REsp 299.532/SP, 4.ª Turma, rel. Min. Honildo Amaral, j. 27.10.2009); dano provocado pela falta de comunicação aos alunos de curso de graduação acerca do risco (depois concretizado) de impossibilidade de registro do diploma quando da conclusão do ensino, por falta de reconhecimento do curso pelo Ministério da Educação (REsp 631.204/RS, 3.ª Turma, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25.11.2008); cobrança indevida e corte ilegal do fornecimento do serviço de água e esgoto (AgRg no AREsp 163.472/RJ, 2.ª Turma, rel. Min. Herman Benjamin, j. 21.06.2012). 5.6.2.2.3 Consumidor potencial ou virtual Contrato de fiança. Relação entre o franqueador e franqueado. Lei 8.955/94. Código de Defesa do Consumidor. Fiança. Exoneração. 1. A relação entre o franqueador e o franqueado não está subordinada ao Código de Defesa do Consumidor. 2. Afastando o acórdão a existência de moratória com base na realidade dos autos e em cláusula contratual, não há espaço para acolher a exoneração da fiança, a teor das Súmulas n.º 5 e 7 da Corte, ademais da falta de prequestionamento dos dispositivos indicados no especial. 3. Recurso especial não conhecido (grifou‐se).23 Trilhando o mesmo entendimento, o STJ afastou a atividade de factoring do alcance do CDC, por não ter evidenciado, na hipótese, a situação de vulnerabilidade da pessoa jurídica contratante24. 5.8.7.7 A responsabilidade das empresas de planos de saúde pelos serviços prestados por médicos e hospitais credenciados A jurisprudência da Casa é tranquila em reconhecer a legitimidade passiva da cooperativa médica em demanda que se discute responsabilidade civil por suposto erro médico, pois a cooperativa tem por objeto a assistência médica e celebra contrato com seus associados, regulamentando a prestação de seus serviços de maneira padronizada, por meio que os legitimados dos arts. 5.º da LACP e 82 do CDC podem impetrar o writ coletivo, sem vislumbrar limitações temáticas, em razão de o mandamus consistir uma garantia constitucional fundamental, e que, portanto, não comporta interpretação restritiva (Op. cit. p. 605). 23 REsp 687.322/RJ, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 21.09.2006; no mesmo sentido: REsp 930875/MT, 3.ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 14.06.2011; AgRg no Resp 992528/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJE 17.5.2010; REsp 1198176‐DF, Rel. Min. Massami Uyeda, 06.08.2010; REsp 813481, Rel. Min. Massami Uyeda, Dje 30.06.2008. 24 REsp 938.979/DF, 4ª Turma, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 19.06.2012. Série Estudo Esquematizado Interesses Difusos e Coletivos Cleber Masson, Landolfo Andrade e Adriano Andrade 2ª para 3ª edição dos médicos e hospitais a ela filiados.25 O entendimento, já manifestado em diversos julgamentos do Superior Tribunal de Justiça, foi reafirmado pela Quarta Turma ao dar provimento a recurso especial para reconhecer a responsabilidade da Unimed Porto Alegre Cooperativa de Trabalho Médico e aumentar de R$ 6 mil para R$ 15 mil o valor da indenização por danos morais para cliente que teve vários problemas após cirurgia para retirada de cistos no ovário26. Na hipótese, importa destacar as ponderações feitas pelo relator, ministro Raul Araújo, quanto ao regime de responsabilização, a partir da distinção entre os contratos de seguro‐saúde e os contratos de planos de saúde: (i) se o contrato for fundado na livre escolha pelo beneficiário/segurado de médicos e hospitais com reembolso das despesas no limite da apólice, conforme ocorre, em regra, nos chamados seguros‐saúde, não se poderá falar em responsabilidade da seguradora pela má prestação do serviço, na medida em que a eleição dos médicos ou hospitais aqui é feita pelo próprio paciente ou por pessoa de sua confiança, sem indicação de profissionais credenciados ou diretamente vinculados à referida seguradora. A responsabilidade será direta do médico e/ou hospital, se for o caso; (ii) se o contrato é fundado na prestação de serviços médicos e hospitalares próprios e/ou credenciados, no qual a operadora de plano de saúde mantém hospitais e emprega médicos ou indica um rol de conveniados, não há como afastar sua responsabilidade solidária e objetiva pela má prestação do serviço. 5.11.3.2 As práticas abusivas elencadas exemplificativamente no art. 39 II – recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes: o fornecedor não pode negar‐se a fornecer os produtos ou serviços próprios da sua atividade, na medida das disponibilidades de estoque e conforme os usos e costumes, podendo o consumidor exigir o cumprimento forçado dessa obrigação. Nesse sentido, considera‐se abusiva, por exemplo, a conduta do taxista que recusa a “corrida” ao consumidor, ao saber da pequena distância a ser percorrida. O objetivo do Código é coibir a especulação e a discriminação. A prática abusiva em análise também pode configurar crime contra as relações de consumo, previsto no art. 7.º, VI, da Lei 8.137/1990, com pena de detenção de dois a cinco anos, ou multa. Em interessante julgado, o STJ considerou ilícita a negativa pura e simples, por parte de uma seguradora, de contratar seguro de vida com um jovem que foi portador de leucemia, mas apresentava‐se clinicamente curado. Na hipótese, diversas opções poderiam substituir a simples negativa, como a formulação de prêmio mais alto ou mesmo a redução da cobertura securitária, excluindo‐se os sinistros relacionados à doença pré‐existente. Para a Corte Superior, “rejeitar o consumidor, pura e simplesmente, notadamente em situações em que o seguro é oferecido como consectário do contrato de estágio, gera dano moral.”27 25 AgRg no Resp 1.029.043/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4.ª Turma, DJ 08.06.2009. No mesmo sentido: REsp 138.059/MG, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ 11.06.2001. 26 REsp 866.371/RS, 4ª Turma, rel. Min. Raul Araújo, DJe 20.08.2012. 27REsp 1300116/SP, 3ª Turma, rel. Min. Nancy Andrigui, j. 23.10.2012. Série Estudo Esquematizado Interesses Difusos e Coletivos Cleber Masson, Landolfo Andrade e Adriano Andrade 2ª para 3ª edição 5.11.5.5.1 Direito à comunicação do assento Agora, uma vez quitada a dívida, a quem compete providenciar o cancelamento do registro? Comprovado o pagamento do débito, cabe ao fornecedor‐credor providenciar o imediato cancelamento da inscrição negativa, sob pena de responder por perdas e danos. Nesse sentido está assentada a jurisprudência do STJ: “Compete ao credor providenciar a imediata exclusão do nome do devedor que efetua o pagamento, a fim de que a entidade mantenedora possa proceder a respectiva baixa”.28 Quanto ao prazo para o credor solicitar essa baixa, o STJ29 definiu‐o em 5 (cinco) dias (aplicação analógica do art. 43, § 3º, do CDC), contados da data em que houver o pagamento efetivo, sendo certo que as quitações realizadas mediante cheque, boleto bancário, transferência interbancária ou outro meio sujeito a confirmação, dependerão do efetivo ingresso do numerário na esfera de disponibilidade do credor. 5.12.7.5 Elenco exemplificativo das cláusulas abusivas Note‐se que o “sistema” de proteção ao consumidor engloba todas as normas que tutelem o consumidor, mesmo que indiretamente, não se restringindo, portanto, às disposições do CDC. Assim, também fazem parte do “sistema de proteção ao consumidor” a Lei de Economia Popular (Lei 1.521/1951), a Lei Delegada (Lei 04/1962), a Lei dos Crimes contra a Ordem Econômica (Lei 8.137/1990), a Lei de Defesa da Concorrência (Lei 12.529/2011), a Lei de Plano e de Seguro‐Saúde (Lei 9.656/1998), além de outros diplomas legais e normas administrativas que tutelem, direta ou indiretamente, os direitos e interesses dos consumidores. 6.8.2.1 Introdução O conceito de patrimônio público é extraído do art. 1.º, § 1.º, da Lei da Ação Popular (Lei 4.717/1965),30 e compreende o complexo de bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico pertencentes à União, ao Distrito Federal, aos Estados, aos Municípios e aos respectivos órgãos da administração indireta. 6.8.4.2 Lei Eleitoral (Lei 9.504/1997) Assim, caso as condutas vedadas aos agentes públicos no art. 73 da Lei 9.504/1997 importem em enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, deverão ser enquadradas, respectivamente, nos arts. 9.º e 10 da LIA.31 In casu, o tipo de improbidade previsto no art. 11 da LIA continua tendo aplicação residual, é dizer, somente incidirá quando as condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais não se amoldarem à tipologia dos arts. 9.º (enriquecimento ilícito) e 10 (lesão ao erário) da LIA. 28 REsp 683.409/RS, 4.ª Turma, rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, j. 13.02.2007. No mesmo sentido: AgRg no Ag 1094459/SP, 3.ª Turma, Min. Sidnei Beneti, j. 19.05.2009. 29 A propósito: REsp 1149998/RS, 3ª Turma, rel. Min. Nancy Andrigui, j. 07.08.2012. 30 Art. 1.º, § 1.º, da Lei 4.717/1965: “Consideram‐se patrimônio público, para os fins referidos neste artigo, os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico”. 31 Em sentido contrário, mesmo reconhecendo o equívoco do legislador, Pedro Roberto Decomain advoga a tese de que a prática das condutas vedadas a agentes públicos em campanhas eleitorais, por força do disposto no § 7.º do art. 73, deve ser enquadrada na tipologia do art. 11, I, da LIA (Improbidade administrativa. São Paulo: Dialética, 2008. p. 182‐183). Série Estudo Esquematizado Interesses Difusos e Coletivos Cleber Masson, Landolfo Andrade e Adriano Andrade 2ª para 3ª edição (...) Mas atenção: em questões objetivas, recomenda‐se aos candidatos a opção pela alternativa que esteja em conformidade com a letra da lei, isto é, que enquadre a prática das condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral na tipologia do art. 11, I, da LIA (atentado contra os princípios regentes da atividade estatal). 6.8.5 Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010) A Lei Complementar 64/1990 (Lei de Inelegibilidades) regulamentou o art. 14, § 9º, da Constituição, erigindo diversas hipóteses de inelegibilidade. Cerca de 20 anos após sua promulgação, essa norma foi alterada pela Lei Complementar 135/2010 – também cha‐mada de “Lei de da Ficha Limpa”. Não é objetivo deste trabalho analisar todas as hipóteses de inelegibilidade elencadas na LC 64/1990, com as alterações promovidas pela LC 135/2010. Na sequência, cuidare‐mos apenas das hipóteses nas quais se tem em mira a proteção da probidade administra‐tiva e a moralidade para o exercício de mandato eletivo em vista da experiência pregressa do candidato como agente público. 6.8.5.1 Rejeição de contas por irregularidade insanável e que configure ato doloso de improbidade administrativa A primeira hipótese de inelegibilidade a ser destacada é aquela prevista no art. 1.º, I, “g”, da LC 64/1990. Confira‐se: Art. 1.º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: (...) g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade adminis‐ trativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando‐se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição; (Redação dada pela Lei Complementar n.º 135, de 2010) Para a caracterização da inelegibilidade enfocada, requer‐se: a) o julgamento e a re‐ jeição das contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas; b) a detecção de irregularidade insanável; c) que essa irregularidade caracterize ato doloso de improbidade administrativa; e d) decisão irrecorrível do órgão competente para julgar as contas. Para os fins eleitorais, irregularidades insanáveis sãos aquelas graves, decorrentes de condutas perpetradas com dolo ou má‐fé, contrárias ao interesse público. Na jurispru‐dência do Tribunal Superior Eleitoral, encontramos os seguintes exemplos de irregulari‐dades consideradas insanáveis: descumprimento da Lei de Licitações (REsp 33.659/SP – PSS 4.12.2008); retenção de contribuições previdenciárias sem o indispensável repasse à Previdência Social (AREspe 34.081/PE, DJe 12.02.2009; descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (AREsp 32.802/PR, DJe 02.06.2009); aplicação irregular de receitas repassadas por meio de convênio (REspe 34.066/SE – PSS 071202008); e a prática de atos geradores de dano ao erário, assim reconhecido pelo Tribunal de Contas (AAREsp 33.806/MG, DJe 18.06.2009). Além de insanável, a irregularidade precisa configurar ato doloso de improbidade administrativa. Quanto ao ponto, uma observação se faz necessária: não se exige a Série Estudo Esquematizado Interesses Difusos e Coletivos Cleber Masson, Landolfo Andrade e Adriano Andrade 2ª para 3ª edição condenação do candidato por ato de improbidade, tampouco que haja ação de improbidade em curso na Justiça Comum. Para que a hipótese de inelegibilidade em exame incida, basta que a Justiça Eleitoral decida que a irregularidade insanável apontada também configure ato doloso de improbidade administrativa. Na espécie, como bem observa José Jairo Gomes, não se há falar em condenação da Justiça Eleitoral pela prática de ato de improbidade, mas apenas em apreciação e qualificação jurídica de fatos e circunstâncias relevantes para a estruturação da inelegibilidade em apreço. Contudo, atenção: se houver sentença condenatória definitiva emanada da Justiça Comum, o juízo de improbidade aí firmado vincula a Justiça Eleitoral. Por fim, anote‐se que a hipótese de inelegibilidade em apreço também reclama que haja decisão irrecorrível do órgão competente para julgar as contas. Diz‐se irrecorrível a decisão da qual não caiba mais nenhum recurso no âmbito administrativo. E é justamen‐te essa decisão final que marca o termo de início do prazo de oito anos de inelegibilidade. 6.8.5.2 Condenação pela prática de atos dolosos de improbidade administrativa A segunda hipótese de inelegibilidade voltada diretamente à defesa da probidade ad‐ ministrativa está prevista no art. 1.º, I, “l”, da LC 64/1990, que assim dispõe: Art. 1.º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: (...) l) os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada em julgado ou preferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena; (incluído pela Lei Complementar n.º 135, de 2010). A configuração da inelegibilidade enfocada requer: a) condenação por ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito; b) que essa condenação transite em julgado ou seja proferida por órgão judicial colegiado; e c) que seja aplicada na sentença condenatória a sanção de suspensão dos direitos políticos. Conforme será visto em momento oportuno, a sanção de suspensão dos direitos polí‐ ticos está prevista para as três modalidades de improbidade administrativa (arts. 9.º, 10 e 11), mas sua aplicação não é obrigatória. Assim, mesmo que o agente seja condenado pela prática de ato de improbidade, é possível que a ele não se imponha a sanção de suspensão dos direitos políticos; neste caso, não terá incidência a hipótese de inelegibilidade em estudo. Também é preciso que seja reconhecida a prática de ato doloso de improbidade que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito. Logo, conforme já decidido pelo TSE, se o candidato for condenado por ato de improbidade que importe apenas violação aos princípios da Administração Pública (art. 11 da LIA), não terá incidência a inelegibilidade do art. 1.º, I, l, da LC 64/1990. Questão interessante consiste em saber se a inelegibilidade do art. 1.º, I, 1, da Lei Complementar 64/1990 incide apenas nas hipóteses de condenação por improbidade que implique, concomitantemente, lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito. Para parte da doutrina, a qual nos filiamos, a conjuntiva e no texto deve ser entendida como disjuntiva (ou), pois é possível cogitar de lesão ao patrimônio público por ato doloso do agente sem que haja correspondente enriquecimento ilícito, assim como é possível cogitar de enriquecimento ilícito do agente sem que haja correspondente lesão ao erário. Nesse sentir, tanto a condenação pela prática de ato doloso lesivo ao erário (art. 10 da LIA) como a condenação pela prática ato que importe em enriquecimento ilícito são aptas a atrair a incidência da hipótese de inelegibilidade em foco. Série Estudo Esquematizado Interesses Difusos e Coletivos Cleber Masson, Landolfo Andrade e Adriano Andrade 2ª para 3ª edição Não é esse, contudo, o entendimento que prevalece na jurisprudência do TSE. Para a Corte Superior Eleitoral, a condenação pela prática de atos de improbidade administrativa somente atrai a inelegibilidade descrita na alínea l do inciso I do art. 1.º da Lei Comple‐mentar 64/1990 se reconhecer, cumulativamente, a ocorrência de enriquecimento ilícito e de lesão ao patrimônio público.