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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE ARTES E LETRAS DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS DISCIPLINA DE TÉCNICAS CIRCENSES RELATÓRIO FINAL DE AULAS PRÁTICAS Docente: Gabriela Amado Acadêmico: Leonardo Bergonci Santa Maria, RS, 2009/1 1. Conceitos A palavra clown tem sua derivação do inglês clod, que está etimologicamente conectada ao significado de “camponês” e à rusticidade que esta última evoca. Significa também rude, torpe, e assim por diante. Já a palavra palhaço, vem do italiano paglia, ou palha, que era utilizada como enchimento dos colchões da época e também porque a roupa destes primeiros palhaços era feita com o mesmo tecido utilizado na confecção destes colchões. Estreitamente ligado etimologicamente ao conceito de rudeza, o clown é aquele que através de seus atos rudes e torpes nos faz rir, embora esse não seja o seu objetivo, mas sim a conseqüência de seus atos. Com suas raízes na baixa comédia grega e romana e também na commedia dell’arte, o clown valia-se de alternância entre o solene e o grotesco, que mais tarde viriam a figurar como os dois tipos de conhecidos: o branco e o augusto. O clown branco é o que traz a imagem de pessoa cerebral, é o patrão, o intelectual, lúcido, que através de suas formas morais propõe as situações ideais. É o clown malvado que pode até dar bofetadas. O augusto é o rebelde, que ao invés de encantar-se com a graça e a harmonia do branco a rejeita. Ele é a criança que faz sujeira, que brinca, é o bobo ingênuo de boa-fé, sempre emocional que devido à sua infantilidade acaba sempre perdendo. Existe ainda um terceiro tipo, criado pelos Fratellini, o contre-pitre, que muito se assemelha ao augusto, mas que se alicia ao branco no fim das contas. É o mentiroso da rua, o espião, que transita nos dois meios, “a meio caminho da autoridade e do delito”1. Dentro do universo do clown, a lógica, a maneira como sucedem as coisas estão invertidas. Uma tarefa simples acaba mostrando-se extremamente complicada e, por conseguinte o inverso. O clown erra onde não esperamos e acerta onde não esperamos2. 1 FELLINI, (1970, págs. 1-7) 2 LECOQ, (1987, pág. 117) “É uma caricatura do homem(...) É a sombra(...) O clown sempre existirá. Pois está fora de cogitação indagar se a sombra morreu, se a sombra morre.” Federico Fellini 2. Início Nas aulas iniciais me senti um pouco perdido de início, uma vez que não pude comparecer na primeira aula. Percebi que os colegas já estavam muito à vontade, todos risonhos e isso foi me deixando mais tranqüilo e curioso por aquilo que viria. Ao passo que caminhávamos pelo espaço da sala, trazendo a concentração para o corpo, a atenção para o trabalho que íamos iniciar foi-nos solicitado que nos olhássemos e em seguida “comunicássemos” ao público o que estávamos vendo. De pronto não entendi o que era o “público”, mas aos poucos fui entendo que se tratava de um momento de cumplicidade com a finalidade de dividir com a plateia alguma situação engraçada ou algo novo que surgisse. Lembrei da parábasis grega muito utilizada na comédia antiga que se constituía de uma triangulação do então ator grego para com o público que o assistia (com a diferença de que ao invés do pnigo ou anapesto da parábasis antiga, aqui a triangulação constituía-se apenas de um olhar de cumplicidade). À medida que nos familiarizávamos uns com os outros, a turma foi tomando uma forma circular e foi-me pedido que me apresentasse para os colegas, enquanto era questionado sobre meu nome, meus hobbies e etc. Lentamente começaram a brincar com meus “defeitos”, ou com a estranheza de meus gostos (fossem eles quais fossem). Percebi que era buscado em mim o que havia de caricato, de estranho, embora ainda de maneira superficial, mas decidida. Mais tarde, viria a descobrir que isso fazia parte do processo na construção do clown individual, vasculhando nas minhas fraquezas aquilo que me mostraria como sou, “o homem assumindo sua humanidade e sua fraqueza e, por isso, tornando-se cômico”3 3 SHKLOVSKI, V. “El clown, la comedia y la tragedia”, in El circo soviético. Progresso, Moscou, 1975, pág. 32. 3. Desenvolvimento Na segunda aula (a terceira da turma), foi quando tivemos contato com a menor máscara do mundo (o nariz) pela primeira vez. Após nos aquecermos e concentrarmo-nos, lentamente fomos levando a máscara ao rosto. Lembro que o que senti foi algo primitivamente ligado à liberdade. Talvez estivesse influenciado por aquilo que alguns veteranos do curso já haviam dito sobre clowns (“Tu te sente mais livre pra criticar ou improvisar, porque não é tu, é o teu clown) ou pelo que havia lido em alguns textos e que tratavam da mesma ideia: despir-se de si mesmo mas sem encarnar um personagem. Ao longo da aula, com os subsídios que nos eram passados, começamos a interagir uns com os outros. Lembro que joguei com vários colegas e, ainda sem conhecer os tipos branco ou augusto, utilizei-me deles nas interações com os colegas, ora fazendo as vezes de branco (mandando, me exibindo ou tirando vantagem do clown augusto do colega) ora agindo como augusto (sendo enganado, chacoteado e até apanhando do clown branco do colega). Fiquei em dúvida se já deveria começar a definir meu clown ou se ainda era cedo para isso. Por fim, tentei apenas descobrir a qual dos dois me assemelhava mais, mas ainda sem tomar partido de nenhum. Nos exercícios que se seguiram, senti certa dificuldade em chamar a atenção dos colegas e mantê-los interessados em mim pelo tempo que fosse necessário. Simplesmente não me ocorria nada, porém percebi que o que despertava a curiosidade eram as situações inesperadas, ou algo que não fosse repetitivo. Isso me fez refletir sobre um texto de Lecoq (Em busca de seu próprio clown) sobre a lógica que rege o universo do clown, em que as situações se invertem, onde o fácil se fará difícil e vice versa. Vi essa inversão de lógica materializada na minha frente em forma de gag quando uma colega, durante uma improvisação enquanto clown mostrou extrema dificuldade em calçar um sapato de saltos. Primeiro a estranheza frente aquele objeto desconhecido; depois de algumas tentativas o entendimento de que aquilo era um sapato, algo de se pôr nos pés; uma vez identificado como algo para se colocar nos pés vem a dificuldade em saber qual sapato deve ir para que pé; e por fim a dificuldade em colocar-se em pé com um sapato de saltos. Vi nessa situação simples a plasmação daquilo que Lecoq dizia com relação ao “inverso da lógica”. A facilidade em se calçar um sapato torna-se algo de complexa realização, legando às tentativas e aos erros a comicidade da circunstância, assim como se referia Chaplin em “explorar de uma situação todo o riso possível”. Lembro de um exercício que fizemos, no qual o intuito era criar desenhos no ar com o corpo. Primeiramente com o nariz, após com a cabeça, ombros, cotovelos, e assim sucessivamente até que todo o aparato físico estivesse envolvido, criando uma espécie de dança. Em paralelo com a ideia de Chaplin, de se explorar toda a comicidade possível de uma situação, acho importante explorarmos também todas as possibilidades que nosso corpo oferece, assim como fizemos no exercício do desenho corporal. Através dele experimentamos movimentos, dos mais variados, algumas vezes ativando, ou até mesmo nos colocando, de formas nas quais nosso corpo não está habituado a se encontrar. Essas novas formas e movimentos corporais nos transmitem imagens novas (lembro que na ocasião, enquanto escrevia meu nome no ar com o cotovelo, fiquei imaginando situações em que meu clown tivesse que equilibrar uma bandeja precariamente com eles, pois as mãos estavam ocupadas segurando uma corda que se eu soltasse todos poderiam se machucar e o mundo todo iria explodir e..., e assim por diante), e a partir destas imagens novas surgem novas situações, e assim vão se criando gags, através deste encadeamento de ideias. Claro que isto não é uma regra, mas percebi que algumas das gags criadas pelos colegas surgiram deste exercício. E mesmo que não surja nenhuma ideia incrível que resulte numa gag sensacional, parte das sensações obtidas com o exercício é absorvida e acaba sendo utilizada como base para novas propostas, ou então o exercício funciona como um ótimo meio de aquecimento, o que confesso, foi o meu caso. Ao longo das aulas, também tivemos a oportunidade de retomarmos jogos que lidam com objetos imaginários (que desde o primeiro semestre estavam esquecidos). Sou suspeito a falar, pois tenho um grande apreço por objetos imaginários. Acredito que eles, quando bem construídos, têm uma capacidade incrível de comunicar tão mais engraçada do que se estivéssemos utilizando objetos reais. No jogo em questão, procurávamos por um passarinho (só aí já se trabalha o foco – buscando o pássaro; velocidade – correndo atrás do pássaro ou caminhando devagarzinho para não assustá-lo; os planos – médio, alto e baixo nos quais se tenta pegar o pássaro, atacar o pássaro e fugir de um ataque do pássaro respectivamente; e tridimensionalidade do objeto – quando finalmente se pega o pássaro nas mãos, além de poder exercer força sobre o pássaro, ou dificuldade ou facilidade para erguer-lo, conforme o seu peso), e no momento em que o encontrávamos e o pegávamos ele se transformava em um monte de coco. A partir daí surgia uma outra situação, da qual deveríamos demonstrar uma outra resposta, frente a esse acontecimento que se propunha. Essa mudança drástica de situação me levou a imaginar que o mesmo acontece no palco, em que durante a gag tudo pode estar correndo bem, mas que sem aviso aparente o público possa manifestar algum outro tipo de reação (seja ela qual for) e que devemos ter a capacidade de encontrar uma maneira apropriada de lidarmos com a situação, e que além de tudo seja original (no caso do exercício, uma colega transformou o pássaro num monte de coco e começou a nadar. Original. Brilhante). Outra questão que me surgiu ao longo das aulas partiu do exercício supracitado: como sair-se de maneira original de algo que não prevemos? Acredito que mesmo agora ainda não conheça a resposta completa, mas me atrevo a afirmar que esteja intimamente ligada ao quanto conhecemos de nós mesmos. Leonid Georgievitch Engibarov diz que “para que [seu] personagem (o clown Lionia) amadurecesse, seria preciso que [ele], enquanto artista, [se] desenvolvesse espiritualmente”. A partir de então, concluí que esta capacidade de responder a estímulos imprevistos ou a organicidade para se sair bem deles venha com o tempo e com a prática, atreladas a uma bagagem cultural adquirida com a vivência e a experiência enquanto ator. Sem dúvidas, um dos exercícios que mais me ajudou a criar um estado e a entender melhor como funciona o universo de um clown foi o do “despertar” (o chamo assim, pois foi desta maneira que me senti quando fizemos pela primeira vez). Após nos aquecermos, escolhemos um lugar no espaço e fechamos os olhos. Lentamente colocamos “a menor máscara do mundo” e preguiçosamente começamos a abrir abri-los. Porém, a diferença neste abrir de olhos residia na forma em como estes mesmos olhos veriam o mundo a volta: de maneira completamente diferente, como se fosse a primeira vez que estivessem ali; como se fosse a primeira vez que vissem as incríveis lâmpadas fluorescentes semi-apagadas devido ao reator possivelmente queimado; como se fosse a primeira vez que vissem um trinco oxidado de porta e como ele é divertido subindo e descendo quando se mexe nele; como se fosse a primeira vez que vissem os vincos entre os parquês soltos no chão e como eles descrevem desenhos engraçados alternando cores escuras e claras. Ver tudo ao redor como se fosse a primeira vez, como se fosse novidade, ampliou de forma considerável a possibilidade de novas situações, não somente entre meu clown e o ambiente, mas também entre ele e todos os outros clowns ao redor. E assim como o espaço, eles também estavam sendo vistos pela primeira vez. Foi muito interessante, além se configurar numa profusão de tentativas de comunicar ao público (nesse caso a professora Bi) cada descoberta nova feita. Partimos então para uma nova parte do processo na qual começamos a testar nossas reações e emoções enquanto clowns. No jogo, após alguns exercícios de aquecimento, concentração e disponibilidade, foram sendo propostos sentimentos tais como: raiva, medo, amor, tristeza, timidez, sofrimento e alegria. Começamos a trabalhar estes sentimentos primeiramente de forma individual, e depois com os colegas. Aos poucos, foram se formando imagens para cada sentimento (salientando que essas emoções foram exploradas, e não sentimentalizadas) e aos poucos fomos transformando estas imagens em movimentos reais. Com esses movimentos começamos a exprimir as emoções que eram propostas, encontrando maneiras de passar para o corpo toda a intensidade da emoção proposta. Um dos subsídios nos dado para esse exercício era o de que se sentíssemos alegria, seria uma alegria muito intensa, e assim por diante para todos os sentimentos, todos de forma extremada. Tive alguma dificuldade em transpor corporalmente sofrimento e prazer, pois não consegui encontrar uma maneira de dissociá-los de dor e alegria, respectivamente. Aos poucos foram se estabelecendo relações entre os clowns através dos sentimentos extremados, ampliados. Brincar com a maçaneta da porta causava muita alegria, e essa alegria levava a pulos de felicidade que sem querer leva a esbarrões contra os outros e esses esbarrões ou causam muita dor ou muita raiva. Assim se construíam diversas relações, uma levando a outra, levando a diversas situações. Um complemento utilizado nas aulas que nos ajudou muito, além das indicações da Profa. Bi, foram as músicas. Algumas gags foram construídas a partir de estímulos provocados pelas músicas, como o número de balé de Dona Batatinha e Dona Popô (clowns de Aline e Elis, respectivamente), um dos mais engraçados em minha opinião. A música clássica que sugeria passos delicados de balé performatizados por clowns só poderia resultar em algo engraçado. Ambas tentando mostrar graciosidade na ponta dos pés e falhando miseravelmente (porém sempre triangulando com o público e tentando passar a ideia de: “Tudo está sob controle! A dança é assim mesmo”) foi impagável. Este número para mim foi um perfeito exemplo de jogo entre colegas. Ambas propuseram e receberam as propostas, mutuamente, escutando-se, dando espaço e tempo para que cada uma tivesse o seu momento de atenção do público, trocando de foco nos momentos certos. O resultado foi um número muito engraço, e o mais interessante, simples. Em dada ocasião, quando chegou meu momento de improvisar com uma colega, tentei entrar em suas propostas. Porém percebi que algo não estava funcionando muito bem. Tive alguma dificuldade em propor algo novo e isso me desmotivou um pouco, mexendo de certa forma com minha então precária concentração. Digo precária porque depois de terminado o exercício me pus a pensar sobre o que havia se passado. Percebi que antes de entrar em cena para a improvisação fiquei, de certa forma, intelectualizando sobre o que iria fazer, cogitando possibilidades. Pensei até em sugerir algo a minha colega antes de entrarmos, mas no último momento desisti. Acredito que o que ocorreu é que me mantive preso ao que havia imaginado antes não dando margem para que a inspiração me levasse a criar algo novo através das propostas da colega. Lembrei depois do que falavam alguns professores no primeiro semestre do curso, que não devemos racionalizar ou intelectualizar antes das improvisações, e sim deixar que a espontaneidade nos conduza. Em nossas aulas seguintes, agora um pouco mais conhecedores das peculiaridades de nossos clowns (com os jogos fomos percebendo quem eram os medrosos, os risonhos, os tímidos, etc.) partimos em busca de figurinos. Para mim, desde o início, visualizei meu clown usando algo com suspensórios, fossem calças, fossem bermudas, mas com suspensórios. Nada racional que justifique o fato, apenas um desejo inconsciente. Além dos suspensórios achei uma bermuda xadrez que logo imaginei usando-a com meias até os joelhos. Por fim, uma camisa azul-florida-dói-nos-olhos para fazer contraste com a bermuda xadrez. Olhei-me no espelho, mas ainda faltava alguma coisa. Óculos! E mais os suspensórios e... Pronto! Figurino completo. Tracei então um paralelo entre eu e meu clown, e achei muitos pontos em comum, ao contrário do que acreditava que iria encontrar. Em comum percebi nossa curiosidade sobre tudo ao redor (tanto objetos, como pessoas), nossa contemplatividade (ambos observamos muito o que acontece a nossa volta) e a vontade de brincar sempre. Das nossas diferenças, a mais gritante é a de que eu tenho muito mais bom gosto para me vestir do que ele (isso do meu ponto de vista, porque do dele eu me visto muito mal!). Por fim, a última etapa foi o batismo. Fui presenteado com a graça de Senhor Coyote (com “Y’). Achei o nome engraçado, e tentei lembrar se já havia visto um coiote antes e percebi que não conhecia. A única informação que possuía sobre esse bicho era a de que se parecia com um cachorro, e mesmo assim sem muita certeza. Resolvi, porém, não pesquisar a respeito do animal, para que a impressão que eu tivesse dele se mantivesse parecida com a inicial (algo entre o do desenho do Papa Léguas e a raposa amiga do Pequeno Príncipe). Uma vez munidos de nomes e figurinos, passamos à maquiagem. Sempre quis algo que não fosse muito carregado, então acabei ganhando de presente da Profa. Bi para o Senhor Coyote um belo reforço nas sobrancelhas, de maneira que elas ficassem arrebitadinhas em alguns pontos, lembrando estrelas, e os olhos clareados, para que ficasse evidente o contorno preto deles, ressaltado pelos óculos. O Senhor Coyote, apesar do Senhor, lembra inconfundivelmente uma criança, apenas grande demais para a idade, mas para mim, uma criança. Quando fizemos nossa primeira saída pela universidade com nossos clowns tivemos contato com algumas pessoas. Essa foi uma experiência interessante, pois possibilitou que se trabalhassem vários estímulos novos, tanto do ambiente (árvores, carros, pedras, grama, etc.) quanto das pessoas que estavam pela rua. A princípio meu clown ficou um pouco intimidado com as pessoas, chegando a pegar um galho de árvore caído para se esconder enquanto caminhava, mas logo abandonou o galho porque formigas que estavam no galho começaram a picá-lo. Eu, enquanto clown, tentei me relacionar com uma moça que passava. Brinquei com o fato de ambos usarmos óculos, porém ela, super receptiva, olhou-me como se tivesse acabado de me tirar do próprio nariz e simpaticamente continuou seu caminho, rumo a sua casa, muito provavelmente indo assistir ao Domingão do Faustão já que era domingo. Essa reação me abalou um pouco e me senti frustrado com a recusa dela em brincar comigo. Fiquei pensando nesse ocorrido durante vários dias, reavaliando se minha abordagem foi muito invasiva e cheguei à conclusão que não devo esperar reciprocidade de todas as pessoas que eu venha por ventura abordar. Entendi então, da maneira mais triste possível, que incrivelmente existem pessoas que simplesmente não querem brincar. 4. Apresentação Final Após nossa “saída a campo”, voltamos nossas atenções para a finalização de nosso espetáculo. A possibilidade de fazermos uma viagem para nos apresentarmos para crianças carentes em Silveira Martins realmente me animou, pois sempre acreditei que as crianças são um público muito mais generoso. Como sucedeu que a viagem acabou não saindo, voltamos as atenções para fazer uma apresentação no Caixa Preta. Confesso que isso me desanimou um pouco, já que uma das intenções era mostrar o trabalho desenvolvido para os colegas de centro que, a meu ver, seriam tão receptivos como a moça de óculos do domingo à tarde. Porém, o que me animava era o fato de que a segunda sessão seria direcionada a um público infantil, que viria de algumas escolas. Já preparado psicologicamente para a apresentação aos colegas do CAL, finalizamos os ensaios e finalmente nos apresentamos. Tensão ao apagarem-se as luzes ao final e depois os aplausos. Alívio. Nem tivemos tempo de trocar ideias com o público über crítico (a maioria massiva das Cênicas) e já voltamos nossas atenções para a resolução daquilo que não saiu como o esperado na primeira apresentação. Sanados esses problemas e a fome que me corroia (não almocei neste dia em função de ensaios para minha Encenação III), começamos a nos preparar para a apresentação para a as crianças. O mais interessante desta vez não foi a apresentação em si, que transcorreu bem, mas sim o depois, quando ainda com nosso clowns, fomos conversar com as crianças. De início algumas se mostraram envergonhadas e titubeavam em vir ter com os clowns. Por fim, peguei uma fita e comecei a brincar com elas, fazendo algumas evoluções rítmicas: cobrinhas, ondinhas, espirais, rodinhas, etc. Em cinco segundos o Senhor Coyote já estava pulando fita com o Antônio e o Ricardo queria dar um abraço nele. Após brincar com vários objetos e com o Senhor Coyote, ignorando deliberadamente a professorinha que o chamava para voltar para a escola, Antônio segurou a mão do meu clown e o convidou para ir à escola com ele, de forma que pudessem continuar a brincar lá. Fui Leonardo quando falei que não poderia ir porque minha mãe, a Bi (foi o que me ocorreu na hora) queria que eu ficasse, mas enquanto Senhor Coyote, fui correndo faceiro com ele para dentro do ônibus e ainda sentei à janela, só para descobrir que outras novidades eu encontraria pelo caminho e curioso por quais outras brincadeiras Antônio me ensinaria. 5. Anexos Foto1: Seu Coyote e Dona Popô Foto 2: Clowns Foto 3: Dona Popô