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Profa. Juliana Ribeiro 1 DIREITO INTERNACIONAL II Juliana Ribeiro Apostila de Direito Internacional II 2 1 - INCOTERMS Visão Geral do Tema Os incoterms compreendem um conjunto de regras para interpretação e consolidação de termos comerciais usuais utilizados, precipuamente, nas transações comerciais internacionais. Tais regras foram criadas pela Internacional Chamber of Commerce, em 1936, e por ela são atualizadas na medida em que o desenvolvimento logístico e as práticas do comércio internacional assim o exigem. A última versão é a Incoterms 2000, cujos termos foram recentemente revisados, seguindo uma tendência mundial de internacionalização das relações entre os países, revolução nos meios de comunicação e alterações nas práticas de transportes. São também conhecidos como "Cláusulas de Preço", eis que, conforme a escolha, determinam os elementos que compõem o preço da mercadoria, adicionais aos custos de produção. Referidos termos internacionais do comércio têm importância significativa, pois representam linguagem universal em termos de comércio internacional. A par da importância e linguagem universal que facilita a contratação entre empresas de nacionalidades diferentes, a utilização dos incoterms podem envolver riscos significativos à parte que não tem domínio e conhecimento profundo de todos os aspectos de sua abrangência, pois dest as cláusulas defluem os riscos e responsabilidades que o exportador e o importador estão assumindo. A versão publicada em 2000 tem como ponto positivo uma apresentação bem mais simples e clara das treze definições que o compõem. O que motivou e motiva o uso de incoterms é a compreensível diversidade das formas de comerciar entre os diversos países de culturas diferentes, e até mesmo entre os de mesma cultura. Essa diversidade gerou, e ainda gera, muitas disputas comerciais que redundam em ações na justiça, muitas delas ocasionadas por desconhecimento ou falta de assessoramento na hora da contratação, lides cujas conseqüências elevam o custo de aquisição ou diminuem a margem de lucro das partes, conforme o lado em que estejam no contrato. Releva salientar que os incoterms sintetizam matérias relativas aos direitos e obrigações das partes no contrato, especialmente com relação à transferência de propriedade da mercadoria (tradição), custos e riscos inerentes às operações internacionais. De se esclarecer, entretanto, que devem ser empregados apenas nas relações contratuais estabelecidas entre vendedor e comprador, nunca nos contratos firmados com o transportador. A transferência de responsabilidade entre qualquer das partes e o transportador deve figurar em instrumento autônomo. Seu uso, embora opcional, é de todo recomendável, desde que as partes tenham bem presente quais os direitos e obrigações que dimanam da aceitação deste ou daquele incoterm. A má compreensão pode ocasionar vultosa perda em caso de sinistro, por exemplo. O mesmo se diga em relação à adoção de um incoterm e fixação de outras cláusulas contratuais que podem ser com ele incompatíveis. Abaixo estão descritos e interpretados cada um dos 13 incoterms. Profa. Juliana Ribeiro 3 Os Incoterms na Exportação A) EXW (Ex Works): o exportador encerra sua participação no negócio quando acondiciona a mercadoria na embalagem de transporte (containers, caixas, sacos, entre outros). Ou seja, a entrega da mercadoria se dá na porta da fábrica ou depósito, não se responsabilizando o vendedor sequer pelo seu carregamento no meio de transporte utilizado. A negociação se realiza no próprio estabelecimento do exportador. Assim, cabe ao importador estrangeiro adotar todos as providências para retirada da mercadoria do país do vendedor, tais como embarque para o exterior, contratar frete e seguro internacionais etc. Como se pode observar, o comprador assume todos os custos e riscos envolvidos no transporte da mercadoria do local de origem até o de destino. B) FCA (Free Carrier Named Point): o vendedor cumpre sua obrigação quando entrega a mercadoria, pronta para exportação (desembaraçada), aos cuidados do transportador, no local por ele designado. Cabe ao comprador contratar frete e seguro internacionais. O local escolhido para entrega é importante para definir a responsabilidade quanto à carga e descarga da mercadoria: ser a entrega acontecer nas dependências do vendedor, este será responsável pelo carregamento no veículo coletor do comprador; se a entrega for combinada em qualquer outro local, o vendedor não se responsabiliza pelo descarregamento de seu veículo. Pode ser utilizado em qualquer modalidade de transporte, mas é mais empregado no transporte multimodal de containers ou Rol-On-Roll-Off. C) FAS (Free Alongside Ship): o vendedor tem a obrigação de colocar a mercadoria ao longo do navio, no porto de carga, já liberada para exportação. A contratação do frete e do seguro internacionais fica por conta do comprador ou importador. A mercadoria somente é considerada entregue quando estiver suspensa no guindaste que a está removendo ou quando ultrapassar a balaustrada, se guindaste de terra. Somente utilizado no transporte aquaviário (marítimo, fluvial e lacustre). D) FOB (Free on Board): o vendedor tem a obrigação de colocar a mercadoria vendida a bordo do navio, no porto designado no contrato. Considera-se entregue a mercadoria quando elas transpõem a amurada do navio (ship’s rail) no porto de embarque. Todo o custo e o risco de estivagem fica a cargo do vendedor, como também o desembaraço da mercadoria. O importador pode escolher o navio que transportará a carga, inclusive um de sua nacionalidade. E) CFR (Cost and Freight): o vendedor assume todos os custos, inclusive a contratação do frete internacional para transportar a mercadoria até o porto de destino indicado. Também fica responsável pelo desembaraço da exportação. Destaque-se que os riscos por perdas e danos e/ou quaisquer outros custos adicionais são transferidos do vendedor para o comprador no momento em que a mercadoria cruze a amurada do navio, no porto de carga. Assim, a negociação (venda) ocorre ainda no país do vendedor. Cabe ao comprador, porém, contratar e pagar seguro da mercadoria, caso queira se resguardar. F) CIF (Cost, Insurance and Freight): o vendedor transfere a responsabilidade sobre a mercadoria, já desembaraçada, ao comprador, no momento da transposição da amurada do navio no porto de embarque. No entanto, o vendedor fica responsável pelo pagamento dos custos relativos ao embarque, Apostila de Direito Internacional II 4 frete e descarga, até o porto de destino indicado no contrato. Também obriga-se a contratar e pagar prêmio de seguro do transporte principal. No entanto, o seguro pago pelo vendedor tem cobertura mínima, cabendo ao comprador avaliar a necessidade de efetuar seguro complementar. Cabe ao vendedor escolher a embarcação que levará a mercadoria. G) CPT (Carriage Paid to): o vendedor contrata e paga o frete de transporte da mercadoria até o porto designado. Os riscos de avarias, perdas e danos, bem como quaisquer custos adicionais em razão de fatos ocorridos após sua entrega ao transportador, são transferidos ao comprador quando a mercadoria é entregue à custódia do primeiro transportador. O vendedor é responsável pelo desembaraço das mercadorias. Esse termo pode ser usado em qualquer modalidade de transporte, inclusive o multimodal. H) CIP (Carriage and Insurance Paid to): nesse termo o vendedor tem as mesmas obrigações definidas no Carriage Paid to e, além disso, arca com o pagamento dos prêmios dos seguros contra riscos de perdas e danos da mercadoria durante todo o percurso do transporte. Quando as mercadorias são entregues à custódia do transportador, os riscos por perdas e danos se transferem do vendedor ao comprador, assim como eventuais custos adicionais. O prêmio do seguro pago pelo vendedor tem cobertura mínima, competindo ao comprador avaliar a necessidade de realizar seguro complementar. I) DAF (Delivered at Frontier): o vendedor deve entregar a mercadoria, pronta para a exportação, em local previamente designado na fronteira, antes, porém, da divisa alfandegária, arcando com todos os custos e riscos até esse momento. A entrega ocorre ainda no veículo do transportador, sem descarregar. O vendedor responsabiliza-se pelo desembaraço da exportação, mas fica com o comprador a responsabilidade pelo desembaraço da importação. Geralmente o DAF é empregado na modalidade de transporte rodoviário ou ferroviário. J) DES (Delivered Ex Ship): o vendedor fica responsável pela entrega da mercadoria, a bordo do navio, no porto de destino, cabendo a ele todos os custos e riscos de embarque, seguros e transporte. A retirada da mercadoria do navio com os custos daí decorrentes são de responsabilidade do comprador, como também o desembaraço da mercadoria para efetivar a importação. K) DEQ (Delivered Ex Quay): o vendedor fica responsável e se obriga a colocar a mercadoria disponível ao comprador no porto de descarga. O vendedor assume todos custos e riscos durante o transporte, além de se responsabilizar pela descarga da mercadoria no cais. O desembaraço e encargos no país do comprador ficam por conta deste. L) DDU (Delivered Duty Unpaid): o vendedor se obriga a entregar as mercadorias, com todos os custos e riscos de transporte, no local designado pelo comprador, mas sem a responsabilidade de descarregar o veículo transportador. Os gastos com impostos e demais encargos oficiais porventura devidos em razão da importação ficam com o comprador. Ressalta-se que o comprador deve arcar com quaisquer custos adicionais e assumir eventuais conseqüências geradas por sua omissão em desembaraçar no prazo as mercadorias. M) DDP (Delivered Duty Paid): contrariamente ao ex works, onde praticamente não existem responsabilidades ou riscos para o vendedor, no DDP todas as responsabilidades e custos, inclusive tributários, além de quaisquer outros Profa. Juliana Ribeiro 5 encargos no país do comprador ficam a cargo do vendedor. É o incoterm que estabelece o maior responsabilidade ao vendedor. Conclusões Os incoterms são instrumentos usuais utilizados no comércio internacional, com vistas a facilitar a operacionalização de contratos de compra e venda e minimizar as diferenças entre as partes interessadas, geralmente de diferentes nacionalidades e culturas. São regras, imparciais, que visam a uniformização e harmonização dos contratos internacionais de comércio. Uma vez agregados aos contratos internacionais, passam a ter força legal, com o significado que lhes empresta a Internacional Chamber of Commerce. O cuidado com as sutis diferenças existentes entre um e outro incoterm é fundamental para que nenhum dos contratantes tenha surpresa em caso de eventual sinistro, notadamente em função da necessidade de uma das partes realizar a contratação de seguro complementar. Dominar e bem interpretar os incoterms é indispensável para que as partes contratantes possam incluir e prever todos os custos nas transações em Comércio Exterior, bem como calcular seus lucros. Não raro os exportadores preferem realizar negócios cuja entrega da mercadoria se dê no país do comprador. Isso porque, de um lado, amplia seu poder de barganha, pois confere mais segurança e conforto a quem está comprando e, de outro, possibilita o crescimento de sua margem de lucro na exportação, não obstante sua maior responsabilidade e riscos. Para tanto, uma boa logística é fundamental. 2 - AUTONOMIA DA VONTADE NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO A AUTONOMIA DA VONTADE NA TEORIA GERAL DO DIREITO Compreender o paradigma da modernidade, e entender como as noções de Estado e sujeito de direito operam no sentido conferir uma harmonia aparente a um sistema social que se funda na desigualdade, é tarefa fundamental para a análise dos caracteres que hoje fundamentam a ciência jurídica. Como bem afirma Tércio Sampaio Ferraz Jr.: "Para o mundo jurídico o advento da sociedade do homo laborans significa, assim, a contingência de todo e qualquer direito, que não apenas é posto por decisão, mas vale em virtude de decisões, não importa quais, isto é, na concepção do animal laborans, criou-se a possibilidade de estruturas contraditórias, sem que a contradição afetasse a função normativa." O mundo ocidental funda suas raízes nos paradigmas construídos em meio às mudanças de um período de revoluções políticas e sociais, amparadas, sobretudo, na grande querela instaurada entre empirismo e racionalismo. Tércio Sampaio identifica nesse período uma formalização e racionalização do direito que Apostila de Direito Internacional II 6 não é "...mais nem contemplação, nem manifestação da autoridade, nem exegese à moda medieval, mas capacidade de reprodução artificial (laboratorial) de processos naturais". Essa sistematização do direito, capaz de torná-lo um regulador racional, lança as bases para uma concepção histórica do fenômeno jurídico, sujeito às circunstâncias e contingências culturais de cada povo. Institucionaliza-se, desta forma, a mutabilidade do direito, uma característica fundamental do fenômeno da positivação, no qual os institutos jurídicos são vistos como totalidades de natureza orgânica. Ora bem, o arbítrio individual, a capacidade de escolha do indivíduo que tem autonomia para fazer opções, está intimamente associado à idéia de liberdade, sendo esta última preciosa para que se reconheça o direito subjetivo como uma realidade em si. Segundo Tércio Sampaio Ferraz Jr., enquanto para os antigos a liberdade era um status, o status libertatis dos romanos, em oposição ao status servitutis, o cristianismo trouxe uma outra concepção de liberdade, o livre-arbítrio. Desta forma, se entre os romanos a liberdade consistia numa "...qualificação pública do agir político", o pensamento cristão concebeu a liberdade como uma qualidade interna da vontade individual que se expressa num querer ou não querer, partilhados por todos os homens, independentemente do seu status. O indivíduo torna-se, assim, um centro isolado, pois o livre-arbítrio é sempre exercido, não importando se esse exercício é ou não possível. Mesmo numa prisão o homem conserva a vontade livre. Tércio Sampaio alerta para o fato de que o exercício do livre-arbítrio encontra limites na medida em que não se puder exteriorizar publicamente. Tem- se, portanto, um conceito negativo de liberdade, como ele próprio afirma: "...o lado público do livre-arbítrio permite assim a compreensão da liberdade como não impedimento. É o conceito negativo de liberdade: o homem é livre à medida que pode expandir o que quer." Essa concepção de liberdade será fundamental para a estruturação do capitalismo nascente. Com base no livre-arbítrio, na liberdade como não impedimento, um novo conceito de liberdade é erigido. Desta feita um conceito positivo, sendo a liberdade entendida como autonomia, como capacidade de auto-regramento da vontade. Nádia de Araújo apresenta uma definição de vontade efetuada por Claparède, que a distingue das outras atividades, como, por exemplo, as operações intelectuais, por apresentar um conflito de tendências que têm por objeto o fim da ação. O ato de vontade teria como função resolver esse conflito entre fins. O direito moderno atribuía à vontade a força geradora do vínculo obrigacional, importância essa que foi mitigada durante o século XX com a crescente intervenção do Estado na economia, em detrimento da liberdade do indivíduo. Com efeito, no início do século XIX a concepção clássica de negócio jurídico utilizava a expressão (Rechtsgeshaft) para "...designar o ato jurídico em que a vontade tinha liberdade de escolha, podendo auto-regrar-se". Segundo Marcos Bernardes de Mello, o conceito de negócio jurídico fora então "...construído sob a inspiração ideológica do Estado liberal, cuja característica mais notável consistia na preservação da liberdade individual, o mais ampla possível, diante do Estado". Essa excessiva valorização do voluntarismo findou por transformar o negócio jurídico num ato de autonomia da vontade, autonomia privada, no qual a declaração da Profa. Juliana Ribeiro 7 vontade negocial constituiria o próprio negócio jurídico, cujos efeitos dela (vontade) seriam decorrentes. Marcos Mello critica essa concepção, para ele distorcida, de negócio jurídico. Sendo a exteriorização da vontade o elemento nuclear do suporte fático do ato jurídico lato sensu, a sua importância para o mundo jurídico apenas teria razão de ser caso estivesse prevista como suporte fático de alguma norma jurídica. Nesse sentido, a vontade negocial tem de ser erigida à condição de fato jurídico pela incidência da norma jurídica. "Sem a incidência da norma, a vontade não entrará no mundo jurídico e, portanto, não há como se falar em negócio jurídico ou outra qualquer espécie de fato jurídico. Somente há juridicidade onde há norma jurídica que a atribua a algum fato, inclusive volitivo." Segundo Marcos Mello, é importante estabelecer uma distinção entre eficácia legal, decorrente da incidência da norma jurídica sobre o seu suporte fático, juridicizando-o, e a eficácia jurídica, que são os efeitos do fato jurídico. A norma jurídica, o fato e tampouco o suporte fático não podem, sozinhos, produzir eficácia jurídica. Assim sendo, a extensão da eficácia jurídica é uma decorrência do que fora estatuído pelo sistema jurídico como efeito do fato jurídico, noutras palavras, mesmo não sendo a fonte dos efeitos jurídicos, é a norma jurídica quem define a eficácia do fato jurídico. Haveria assim uma situação jurídica básica que se constituiria na eficácia mínima e necessária dos fatos jurídicos, a partir da qual seriam irradiados, quando possível, seus outros efeitos. Quando limitada a apenas uma esfera jurídica, essa situação jurídica básica é denominada simples ou unisubjetiva. Quando, porém, o direito que integra uma esfera jurídica corresponde a um dever noutra esfera jurídica, estabelece-se uma relação jurídica entre os titulares desses direitos e deveres, caracterizando assim, uma situação jurídica complexa ou intersubjetiva, que se subdivide em situação jurídica complexa unilateral e situação jurídica complexa multilateral. Na primeira, embora haja a necessidade de intersubjetividade no relacionamento, inexiste a correspectividade de direitos e deveres; na segunda, ocorre a intersubjetividade jurídica e a correspectividade de direitos e deveres, caracterizando assim a relação jurídica. Ao regular as relações jurídicas, o sistema jurídico pode fazê-lo exaustivamente, estabelecendo normas cogentes que não deixam margem à atuação da vontade, adstrita à escolha da categoria negocial, ou poderá fazê-lo de forma mais ampla, assentindo que a vontade escolha não apenas a categoria negocial, como também estruture o conteúdo eficacial da relação jurídica. Para Marcos Bernardes de Mello, contudo, a autonomia ou auto-regramento da vontade não estaria apta a produzir efeitos que não estivessem previstos pelo sistema jurídico. Desta forma, nos negócio jurídicos a vontade não criaria efeitos, pois estes seriam decorrentes da lei (ex lege) , que apenas concederia aos indivíduos a possibilidade de escolher a categoria jurídica dentro de certos limites estabelecidos pelo próprio ordenamento jurídico. Essas limitações à vontade negocial conduzem à conclusão de que a lei deixa aos indivíduos um espectro restrito de possibilidades, quando se tratar de escolher a categoria jurídica e a eficácia da relação jurídica. Como afirma Pontes de Miranda: "Em verdade, ainda que amplamente, o direito limita a classe dos atos humanos que podem ser juridicizados. Mundo fático e mundo jurídico não são coextensivos. Noutros termos: somente dentro de limites pré-fixados, podem as Apostila de Direito Internacional II 8 pessoas tornar jurídicos atos humanos, e, pois, configurar relações jurídicas e obter eficácia jurídica. A chamada ‘autonomia da vontade’, o auto-regramento, não é mais do que ‘o que ficou às pessoas’. (...) O que caracteriza o auto-regramento da vontade é poder-se, com ele, compor o suporte fático dos atos jurídicos com o elemento nuclear da vontade." A autonomia da vontade, no entanto, assume papel preponderante quando se trata de estabelecer a lei aplicável às relações jurídicas que extrapolam as fronteiras do ordenamento jurídico interno. Nesse aspecto, as limitações à vontade negocial são ainda mais evidentes, uma vez que adstritas à escolha da lei aplicável à relação jurídica. A AUTONOMIA DA VONTADE NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO A autonomia da vontade nos contratos internacionais é questão doutrinariamente já debatida no Direito Internacional Privado. O mesmo se pode dizer, por exemplo, dos contratos de adesão, espécie de negócio jurídico no qual a autonomia de uma das partes contratantes estaria restrita à aceitação ou não das condições gerais e cláusulas uniformes estabelecidas pelo proponente. A natureza adesiva desse contratos torná-los-ia permeáveis a adoção de condições gerais uniformes, às quais deveria aderir o contrato, sem que ao oblato fosse permitido contestá-las. Paulo Luiz Neto Lôbo efetua, contudo, restrições ao significado do termo "adesão" usualmente utilizado pela doutrina. Segundo ele, há que se estabelecer uma distinção entre condições gerais e contrato de adesão, afastando-se assim a confusão estabelecida pela orientação monista da doutrina francesa. O contrato de adesão não seria, desta forma, um contrato geral, gerais seriam apenas as condições às quais o contrato adere necessariamente. E assim ocorre porque a adesão ao contrato, por parte do oblato, pressupõe a conclusão do negócio jurídico, ou seja, a oferta somada à aceitação. Antes disso, não há negócio jurídico, mas apenas condições gerais, uma vez que "...o contrato dito de adesão só passa a existir com a declaração comum das partes contratantes". Desta forma, não se poderia falar de adesão ao que juridicamente ainda não existe, o contrato. Tampouco se poderia falar em adesão a condições gerais, uma vez que estas se aplicam a despeito da ausência de consentimento. Paulo Lôbo é enfático ao concluir: "O que adere -– liga, une, cola – às condições gerais é o contrato individual quando se conclui. É o contrato que adere, e não o contratante, pois sua adesão, repita-se, é irrelevante. (...) No atual estágio da ciência jurídica, o contrato de adesão pode ser assim concebido: o contrato que, ao ser concluído, adere a condições gerais predispostas por uma das partes, que passam a produzir efeitos independentemente de aceitação da outra parte." Ora, a adesividade, se considerar apenas o plano do direito interno, constitui-se em um quase antípoda do consensualismo e, por extensão, fere o princípio da autonomia da vontade, tido aqui como o poder que as partes têm de livremente negociar os termos do contrato, escolhendo a categoria negocial e estruturando o conteúdo eficacial da relação jurídica . Como afirma Irineu Strenger a respeito dos contratos: "Ora, o contrato, seja de que natureza for, constitui-se num meio pelo qual os particulares regulam seus interesses de acordo com determinada vontade, Profa. Juliana Ribeiro 9 mesmo admitidas limitações ao seu exercício, apresentando-se num quadro abstrato que (...) pode configurar em seus conteúdos as instituições correspondentes, essencialmente as relativas a quaisquer dados concretos da vida social, expressos na lei ou num ordenamento jurídico. Tais elementos não devem ser vistos somente pelo ângulo da técnica jurídica, porque exatamente o direito que se apóia sobre o contrato, como símbolo do direito individual, alicerça-se nos princípios da igualdade e da liberdade, ao passo que o direito que se apóia nas instituições tem apenas como suporte a autoridade." Segundo Irineu Strenger, deixar de reconhecer o papel da vontade contraria a dimensão pluralista da sociedade "...onde os ideais morais e jurídicos se cristalizam por força de um comando que se origina na natureza humana". (15) A despeito dessa visão calcada no abstrato conceito de natureza humana, Strenger concebe, assim como Miguel Reale, que o processo jurígeno não está restrito à norma jurídica, como ele mesmo sentencia: "Por outro lado, o processo jurígeno não se exaure na norma jurídica, porquanto, como diz Miguel Reale, ela mesma suscita, no seio do ordenamento e no meio social, um complexo de reações estimativas, de novas exigências fáticas e axiológicas, e o homem constitui o centro do direito, e o fim principal do direito é servir a seus legítimos interesses." Autonomia da vontade, no direito interno, confunde-se com liberdade para contratar, embora deva-se considerar a ressalva efetuada por Pontes de Miranda, que assim dimensionou ambos os princípios: a libe rdade para contratar corresponderia ao poder de "...se adquirirem, livremente, direitos, pretensões, ações e exceções oriundos do contrato; e princípio da autonomia da vontade (expressão essa que Pontes de Miranda preferia substituir por auto-regramento) , o da escolha, o líbito, das cláusulas contratuais". No âmbito do direito interno, a aceitação da autonomia da vontade oscila entre duas perspectivas distintas. A primeira antevê a possibilidade de que as partes possam dispor livremente os termos do contrato, a despeito das normas imperativas, facultativas ou supletivas, cujo ápice fora atingido, como bem observa Oscar Tenório (18) , com o liberalismo, materializando-se o princípio da autonomia da vontade no art. 1.134 do Código Civil francês, no qual restava estipulado que as convenções legalmente constituídas fariam lei entre as partes. A segunda perspectiva rechaça o individualismo da primeira, propugnando que a efetiva influência do Estado no campo econômico e nas relações comerciais propiciou uma redução do espectro de ação dos contratantes, sujeitando-os às determinações legais. Quanto a esta segunda orientação, Irineu Strenger alerta para o fato de que a autonomia da vontade não estaria restrita a uma visão estritamente publicista, tese também esposada por Vicente Ráo, padecendo de maiores ou menores limitações em função da relação sob a qual seja tratada, a saber, se de natureza pública ou privada. Como o próprio Strenger afirma: "Para contestar a concepção extremadamente publicista vale-se (Vicente Ráo) da opinião de Betti, segundo a qual a autonomia de um ente ou sujeito subordinado pode ser concebida através de duas funções distintas: a) como fonte de normas destinadas a formar parte integrante da própria ordem jurídica que a reconhece como tal e por meio dela realiza uma espécie de descentralização da função nomogenética, fonte esta que poderia ser qualificada como regulamentar, por ser subordinada à lei; e b) como pressuposto à hipótese de fato gerador de Apostila de Direito Internacional II 10 relações jurídicas já disciplinadas, em abstrato e geral, pelas normas de ordem jurídica, revelando semelhante distinção um dado fenomenológico que não pode ser desconhecido (...) E finaliza: a autonomia privada verdadeira e própria, consiste no poder que os sujeitos privados possuem de ditar as regras de seus interesses, em suas relações recíprocas." Transpostas para o plano do direito conflitual, ambas as orientações irão resultar na aceitação ou não aceitação do princípio da autonomia da vontade no Direito Internacional Privado e no dimensionamento do limites da sua aplicação. A essas duas orientações assemelham-se as concepções subjetivista e objetivista do conceito de autonomia da vontade. A primeira entende que a designação do direito aplicável ao contrato obedeceria à vontade das partes. Inexistindo uma lei escolhida no contrato, caberia ao juiz aplicar-lhe a vontade hipotética dos contratantes, implícita nas cláusulas contratuais e deduzida pelo julgador. Como o contrato possui uma conexão internacional, seu raio de abrangência extrapola a rede de relações sociais do ordenamento jurídico interno e, desta forma, forçoso seria concluir-se que o contrato não estaria submisso a nenhum sistema jurídico. A escolha da lei aplicável promoveria a incorporação dessa lei ao contrato. Em contrapartida, a concepção objetivista afirma que a lei não pode ser objeto do que fora convencionado pelos contratantes. O princípio da autonomia da vontade não permite que as partes adotem a lei aplicável, mas que a esta se submetam. A lei aplicável é, portanto, determinada pelo juiz de acordo com o que as partes tenham estipulado em relação à localização do contrato. Alguns, como Niboyet por exemplo, chegaram mesmo a afirmar que a autonomia da vontade considerada como o poder de escolha da lei competente, não existe. Por certo Niboyet tinha em mente que não se pode aceitar que uma norma imperativa no plano interno adquira o status de uma norma facultativa no plano internacional. Essa degradação da norma na passagem da ordem interna para a ordem internacional preconizaria a diversidade das conseqüências advindas da transgressão da norma imperativa, eivando de nulidade os atos no âmbito do ordenamento jurídico interno e amenizando os seus efeitos no plano internacional. Pontes de Miranda também criticou duramente a teoria da autonomia da vontade, assim justificando o seu pensamento: " a) na parte de cogência, há uma lei aplicável, que poderá conferir à vontade, por estranha demissão de si-mesma, o poder de desfazer tal imperatividade, quer dizer – um imperativo que se nega a si mesmo, que se faz dispositivo; b) fixados pela aplicável os limites da autonomia, dentro deles não há escolha de lei, há ‘lei’ que constitui conteúdo, citação, parte integrante de um querer". O comentário aqui efetuado por Pontes de Miranda, também citado por Nádia de Araújo , refere-se à Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro de 1916. Considerando a afirmação do jurista alagoano, seria mesmo um contra-senso conceber uma norma imperativa que permitisse a sua negação. Tal argumento, contudo, possui o mesmo teor dos argumentos formulados pelos que refutam o reenvio e justificam sua tese no fato de que uma vez indicado o direito estrangeiro pela norma de conflito do foro, deverá aquele – o direito estrangeiro – ser aplicado, não se aceitando a devolução para a aplicação da lex fori por se contrapor tal aplicação à determinação inicial desta lei. A Pontes de Miranda incomoda a idéia de que uma norma imperativa contivesse a sua própria negação, o que resulta na sua Profa. Juliana Ribeiro 11 concepção de que "...a autonomia da vontade não existia, nem como princípio nem como teoria aceitável". No Direito Internacional Privado, a autonomia da vontade, como restou aqui explicitado, cinge-se tão somente à liberdade que têm os contratantes para determinar a lei aplicável ao contrato. Desta forma, os contratos internacionais de franchising estariam sujeitos aos inúmeros conflitos de leis decorrentes do tratamento diferenciado que recebem, legislativa e doutrinariamente, de cada ordenamento jurídico em particular. Sendo de natureza adesiva, poderia o policitante invocar a autonomia da vontade e determinar-lhes, unilateralmente, a lei aplicável. Ora bem, considerando que os contratos de franquia possuem natureza adesiva, ou ainda, apresentariam alguns elementos que os qualificariam como contratos de adesão, como se convencionou chamar, para os ordenamentos jurídicos que não aceitam o caráter de adesividade dos contratos de franchising, a cláusula que permite a fixação unilateral da lei aplicável seria sobejamente abusiva. Além disso, aceitando-se ou não a "teoria da adesão", podem ainda os contratos internacionais de franquia esbarrar no óbice maior à determinação da lei aplicável em matéria de contratos internacionais: a adoção da autonomia da vontade como elemento de conexão no Direito Internacional Privado. Os contratos internacionais são, portanto, um solo fértil para a adoção da autonomia de vontade como critério determinante da lei que lhes será aplicável. Nesses tempos de internacionalização, para não dizer globalização, da vida econômica, torna-se imprescindível a adoção de normas uniformes, quer internas quer de sobredireito, para que sejam evitados ou ao menos minimizados os conflitos de 2° grau decorrentes da diversidade de elementos de conexão adotados pelos vários ordenamentos jurídicos. Como já foi dito, essa uniformidade é sempre buscada, nunca alcançada, e seria utópico pretender que o fosse. Contudo, alguns obstáculos impõem-se a esta uniformização e o primeiro deles resulta na própria conceituação doutrinária dos contratos internacionais, dos contratos de adesão e, por fim, dos contratos de franquia. Como se tais dificuldades não fossem legião, a estas seguem-se as disparidades internas dos diversos ordenamentos jurídicos no que tange a adoção da autonomia da vontade como elemento de conexão nos contratos internacionais e, em maior escala, a determinação dos limites de sua aplicação. Erigir um único elemento de conexão como regra rígida de localização a ser aplicada a todos os tipos de contratos resulta num grave erro . A afirmação, feita por Von Hecke e citada por Luiz Olavo Baptista, ilustra com precisão que em matéria de contratos internacionais a determinação da lei aplicável, seja no que diz respeito aos aspectos extrínsecos ou formais seja no que tange aos aspectos intrínsecos ou de fundo, deve ser considerada em função das particularidades do caso. A posição de Olavo Baptista assemelha-se assim à tese defendida por Niboyet, que analisava os contratos numa classificação tipológica, propondo soluções que estivessem em consonância com o direito mais próximo ou mais compatível com a natureza do contrato. Quanto à distinção entre os aspectos de fundo e de forma, João Grandino Rodas, ao analisar os elementos de conexão relativamente às obrigações contratuais, atenta para o fato de que a adoção do locus regit actum como elemento de conexão pertinente ao aspectos extrínsecos ou formais do ato guarda Apostila de Direito Internacional II 12 algumas dubiedades. Uma delas seria a dificuldade de se estabelecer uma diferenciação entre forma e fundo, a outra consistiria no fato de que não foram também "...satisfatoriamente resolvidas as questões relativas a sua fundamentação e caráter". E é o próprio Professor Grandino Rodas quem cita Buzzati: "Embora a uniformidade de opiniões em torno de tal ponto do Direito Internacional Privado seja mais aparente do que real; perdura todavia a confusão derivada de não se ter exatamente fixado o teor da regra; ainda hoje não há consenso ao se determinar o conceito de ato ou o de forma, sendo considerados elementos extrínsecos da validade de um negócio jurídico alguns que, ao contrário, são elementos substanciais, ou vice-versa; grandes diferenças são encontradas nos sistemas legislativos dos vários Estados, diferenças nos julgados, até em um mesmo país e em casos idênticos, alguns escritores pretendem que a regra locus regit actum seja sempre obrigatória, outros facultativa, alguns, que não possa ser aplicada aos atos solenes, outros, não, etc." Como se observa, a delimitação de regras de conexão para os contratos internacionais e, em especial, a adoção da autonomia da vontade como elemento de conexão, esbarram em inúmeros obstáculos doutrinários, legislativos e jurisprudenciais. CONCLUSÃO As discussões teóricas aqui apresentadas apenas revelam uma parcela mínima das inúmeras divergências doutrinárias que campeiam no tratamento destas questões. Desta forma, uma pesquisa mais exaustiva exige uma verdadeira promenade pelas várias teorias que trataram a autonomia da vontade no âmbito do direito substancial e do Direito Internacional Privado. É evidente que não se pode pretender fossem tais teorias aqui analisadas. Como ocorre todo trabalho de investigação fundado na pesquisa bibliográfica, os esforços analíticos primaram quase que exclusivamente por esforço de demonstração das principais teorias acerca da autonomia da vontade no Direito Internacional Privado, bem como do contexto histórico de desenvolvimento desse instituto jurídico. 3 - ART. 8 DA LICC - Trata este artigo, no “caput” sobre a qualificação dos bens, tendo a competência territorial, pois aplica as leis do país onde estiverem situados. Aplicando-se desta forma, a todo território do Estado ( leges non valent ultra territorium). Exemplo: em relação aos imóveis, só aplicará as normas do local de sua situação. - No art. 8, §§ 1 e 2 LICC, aplica a lex domicilli. Os conflitos de leis no espaço relativos aos direitos reais regem pelo Principio da Territorialidade. Aplica a Lex rei sitae, quando: 1. classificar bens em móveis, públicos ou particulares, divisíveis ou indivisíveis, consumíveis ou inconsumíveis, fungíveis ou infungíveis, determinado se estão ou não no comércio. 2. reger a posse e seu efeitos, especificando a legitimidade ativa na proteção possessória; 3. dispor sobre a aquisição e perda dos direitos reais 4. traçar normas de usucapião 5. restringir o direito de propriedade mobiliária ou imobiliária Profa. Juliana Ribeiro 13 6. resolver questões de transferência de propriedade por meio de ato inter vivos 7. estipular as ações cabíveis ao titular do direito real 8. decidir os bens que podem ser objeto de direito real sobre coisa alheia 9. disciplinar o direito real sobre coisa alheia de fruição e de garantia, re gulando a sua constituição, os seus efeitos e a sua extinção. Em caso de penhor, aplicará a Lex domicilli, quem tiver com a posse do bem empenhado, no momento da constituição da garantia real (art. 8 §2 da LICC). 4 - Art. 9 da LICC Os efeitos da obrigação ex delicto, são decorrentes da prática de um ato ilícito. Ex. caso de indenização ao lesado, aplicando a lei do local, onde o ilícito se originou. As obrigações convencionais e as oriundas de atos unilaterais, reger-se-ão: 1. quanto a forma: ad probationem tantum } lei do local onde originaram ad solemnitatem 2. quanto a capacidade: pela lei pessoal das partes (art. 7 da LICC- lex domicilli), exceto se for de ordem pública, pois a lex fori contraria a lei, à moral. Neste artigo não se aplica o Princípio da Autonomia da Vontade como elemento de conexão, para reger os contratos internacionais, no âmbito do direito internacional privado, sendo disciplinado pela lei local, com exceção a aplicação da lex loc i celebrationis (aplica a lei do país onde obrigação se constituir): - contratos trabalhistas assumidos pelas partes, estrangeiras ou não, no território nacional ou exterior, deverão obedecer à lei do local da execução do serviço ou do trabalho - contratos de transferência de tecnologia - atos relativos à economia dirigida ou aos Regimes de Bolsa de Mercados, que se subordinam à lei do país de sua execução. Art. 9 §1 LICC- trata da obrigação contraída no exterior, na qual atenderá a forma essencial requerida pela lei brasileira para ter validade o ato. Ex. um imóvel situado no Brasil foi vendido para um estrangeiro, deverão contrato ter escritura pública, para ter validade, aplicando a lei local para a sua validade e execução, neste caso é a lei brasileira, pois foi onde lavrou a escritura. Portanto aplicará a Locus Regit Actium a lei aplicável é a forma extrínseca do ato. Art. 9, §2 LICC- aplicará a lex domicilli do proponente, ou seja, o local onde reside o proponente, para cumprir a obrigação, não se importando com o local da celebração contratual Vide art. 435 Cód. Civil. 5 - Art. 10 LICC Há 3 sistemas para solucionar os conflitos: 1. sistema da unidade sucessória- só uma lei deve reger a transmissão causa mortis, determinando o herdeiro, ordem de vocação hereditária . Tendo competência o domicílio do de cujus (falecido), ou da nacionalidade. 2. sistema da pluralidade sucessória- a cada bem singular deve ser aplicado a lex rei sitae. 3. sistema misto- para os imóveis aplicará a lex rei sitae e os demais casos aplicará a lex domicilli do falecido. Esse artigo da Licc adotou o sistema da unidade sucessória. A comoriência será aplicado a lex domicilli do de cujus. Caso tenha diversos domicílios a lei pessoal de cada um regerá a sucessão, sendo que gerará conf litos. A morte presumida aplicará a lex domicilli do desaparecido. Apostila de Direito Internacional II 14 Art. 10, §2 LICC- aplica-se a lei do domicílio do herdeiro ou legatário, pois visa a aptidão para exercer o direito de suceder e não na capacidade para ter direito de sucessor, aplica-se a lex domicilli do falecido (art. 10 “caput” da LICC). Profa. Juliana Ribeiro 15 6 - Art. 12 LICC O estrangeiro, domiciliado ou não no Brasil, poderá ser autor ou réu, perante o tribunal brasileiro, com capacidade para estar em juízo, aplicará a lex domicilli, salvo ser for de ordem pública, aplicará a lex fori. O réu sendo brasileiro ou estrangeiro, domiciliado no Brasil, aplicará a competência da da autoridade judiciária brasileira. Já se dois réus e um for domiciliado no Brasil, aplicará o Princípio da Prevenção, que admite a competência do juiz que vier a tomar conhecimento da causa em primeiro lugar. O domicílio do réu é de competência brasileira. O mesmo se dará, quando o réu não está domiciliado no Brasil, mas a obrigação for cumprida no Brasil, será competente a Justiça brasileira para decidir a lide. Art. 12 §1 LICC- quando for relacionado as ações relativas ao imóvel situados no Brasil, aplicará a Lex rei sitae, ou seja o local do imóvel. Art. 12,§2 da LICC- O cumprimento de diligências deprecadas por autoridade competente será cumpridas por cartas rogatórias, ou seja, consiste em pedido feito pelo juiz de um país para outro, para solicitar a prática de atos processuais. Já as diligências realizadas sobre a massa falida, arresto seqüestro , transferência de bens ou de títulos, em razão da partilha, por terem caráter executória, não são objetos de cartas rogatórias. Quando ferir a ordem pública e os bons costumes, a lei local poderá impedir o cumprimento da carta rogatória (art. 17 LICC). 7 - ART. 13 DA LICC- refere-se à prova do direito estrangeiro. A prova dos fatos jurídicos aplicará o local onde ocorreu, lex loci. E o modo de produção de provas em juízo será aplicada a lex fori. O ônus probandi também aplicará ao local onde ocorreu o fato. Os meios de prova aplicará pela lei local onde se deu o fato, ou onde o ato foi celebrado (lex loci actus). A apreciação da prova dependerá da lei do juiz, para obter seu livre convencimento. Para a autoridade judiciária não se submeter ao direito alienígena, baseará nas prescrições legais de seu país, verificando: - a licitude do ato ou contrato; - capacidade das pessoas que se obrigaram; - observar as formas extrínsecas ou solenidades requeridas pela lei do lugar a celebração do ato (lócus regit actum); - a autenticidade do documento que deverá estar traduzido no idioma usado no país da lex fori e legalizado pelo cônsul.