Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
26/03/13 Consulex Online www.consulex.com.br/co/default.asp?op=cor&id=15694 1/2 [a-] [A+] Revista Jurídica Consulex nº 378 Direito e Bioética 15/10/2012 ALUGA-SE ÚTERO Há pouco tempo, quando se falava em “barriga de aluguel”, compreendendo aqui a maternidade substitutiva, aparentemente tratava-se de mais uma das ficções científicas relatadas em O admirável mundo novo, de Aldous Huxley. O leitor entendia o procedimento proposto, mas jamais imaginaria que tal descrição pudesse superar a barreira da realidade. A atualidade em caminhar acelerado, ao contrário, mostra o homem tentando acompanhar o ritmo alucinante das pesquisas envolvendo seres humanos e permite constatar que tudo aquilo que um dia foi utópico pode desbastar um novo caminho para a humanidade. A evolução da engenharia genética e os progressos científicos na área da reprodução humana têm solucionado satisfatoriamente o problema da infertilidade, criando várias opções para a procriação assistida, com a manipulação dos componentes genéticos dos dois sexos. As técnicas desenvolvidas, por meio de inseminação artificial e fecundação in vitro, culminando com a gestação de substituição, trazem grande esperança para muitos casais. Vale ressaltar, a inseminação artificial compreende o procedimento de transferência do sêmen do cônjuge, companheiro ou de um doador para o útero da futura gestante. A fertilização in vitro compreende a manipulação do material procriativo masculino e feminino, com a consequente transferência intrauterina dos embriões. Com isso, o casal pode se valer dos próprios gametas ou daqueles doados por terceiros, além da doação temporária de útero, para atingir o projeto parental. Nada obstante, a questão, relevante socialmente, ainda caminha por terreno ainda movediço e comporta várias discussões jurídicas, médicas, éticas e religiosas. A reprodução assistida, em razão de Bom dia, seja bem-vindo! INSTITUCIONAL CONVÊNIOS CONCURSOS E EVENTOS LINKS ÚTEIS DIALEX REVISTA CONSULEX PRÁTICA JURÍDICA REVISTA L&C IN CONSULEX CONSULEX.NET Produto: (Todos) Seção: (Todas) Edição: (Todas) Período: a Autor: Conteúdo: Ordenação: Cronológica Pesquisar Eudes Quintino de Oliveira Júnior Promotor de Justiça aposentado. Mestre em Direito Público, Doutor e Pós-Doutor em Ciências da Saúde. Reitor do Centro Universitário do Norte Paulista (UNORP), em São José do Rio Preto (SP). 26/03/13 Consulex Online www.consulex.com.br/co/default.asp?op=cor&id=15694 2/2 [voltar] | [topo] sua implantação “à fórceps”, carece de legislação ordinária para regulamentar todos os pressupostos e requisitos exigidos para cada procedimento. Isto porque a legislação sempre sucede a pesquisa e irá se posicionar somente quando a experiência for bem-sucedida e receber a aprovação para ser utilizada na sociedade. O Código Civil brasileiro, em vigor desde 2002, em iniciativa exemplar, ensaiou os primeiros passos na regulamentação das inseminações e fecundações homóloga e heteróloga (art. 1.597). Supletivamente, o Conselho Federal de Medicina editou a Resolução nº 1.957/10, dispondo sobre a gestação de substituição (doação temporária de útero) e permitindo o procedimento quando existente um problema médico que impeça ou contraindique a gestação na doadora genética. Assim, obrigatoriamente, as doadoras temporárias devem pertencer à família da doadora genética até o segundo grau de parentesco (mãe, irmã, prima), para afastar-se qualquer tentativa de comércio e lucro. Ausente o vínculo de parentesco, exige a Resolução a autorização do Conselho Regional de Medicina para a realização do procedimento, pelo que o órgão do Estado de São Paulo, no âmbito da atribuição que lhe foi conferida, vem permitindo a cessão temporária de útero entre não parentes para gestar bebês, desde que haja recomendação médica para tanto e que ausente qualquer suspeita de comércio entre os envolvidos. Nem sempre é possível contar que haja parentes dispostos ou até mesmo com condições de saúde para praticar a gestação de substituição e alojar os embriões que serão transferidos, e até mesmo difícil acreditar que qualquer outra mulher, mesmo movida pelo mais puro altruísmo, o faça de forma gratuita. O órgão deliberativo médico não tem competência legal e muito menos legitimidade para exigir qualquer outra medida, além de se ver impedido de realizar investigação para apurar se foi atendida a espontaneidade que move a doação. Na reprodução assistida, a mulher não parente que gestará o bebê é indicada pelos pais interessados no procedimento e, havendo acordo entre estes, certamente o fato não será ventilado. Com isso, abre-se uma brecha permissiva da prática de atos de comércio. A doação de órgãos e tecidos no Brasil, a título comparativo, regulamentada pela Lei nº 9.434/97, determina que a doação inter vivos será sempre gratuita, proibida qualquer iniciativa comercial, conforme também determina o § 4º do art. 199 da Constituição. No caso da cessão de útero, sem qualquer ônus, deve-se aplicar o § 7º do art. 226 do texto constitucional, no que determina que oplanejamento familiar é livre decisão do casal, cabendo ao Estado o dever de proporcionar recursos científicos para o exercício desse direito àqueles que não conseguem atingir a procriação pelos meios naturais. Disto decorre a premente necessidade de se regulamentar o procedimento de maternidade substitutiva, estabelecendo-se todos os requisitos exigidos no procedimento médico escolhido e, com relevo, o cumprimento rigoroso da gratuidade da medida. Se assim não for, possivelmente veremos anúncios em jornais e revistas oferecendo aluguel de útero. Depois virão as agências especializadas, cooperativas, consórcios e assim por diante. É o ingresso na “fábrica de robôs”, preconizado pelo tcheco Karel Tchápek, que com muito humor discutiu o aspecto ético e até mesmo indiscriminado da Biotecnociência e da Biotecnologia.