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I Encontro de Pesquisa UFMG 2003 
 
Lógica X Retórica X Dialética: 
diferentes abordagens da argumentação 
 
 
Marco Antônio Sousa Alves 
UFMG 
raulzito666@hotmail.com 
 
 
Antes de entrar mais diretamente no objeto desta comunicação, qual seja, as diferentes 
abordagens da argumentação, gostaria de fornecer um panorama geral da teoria da argumentação 
e onde se situa o ponto que será tratado. Tal introdução se justifica, sobretudo, em razão do 
desconhecimento que em geral os filósofos brasileiros têm do estudo da argumentação. 
 Caberia, então, dar uma definição prévia do que se entende por argumentação. Tal tarefa 
é, entretanto, ingrata, pois as definições oferecidas são alvos de intensas críticas e questiona-se, 
até mesmo, a possibilidade de se oferecer uma definição prévia. Apesar disso, só para dar uma 
idéia desse território, ofereço quatro definições gerais, a primeira de Perelman, a segunda de 
Toulmin, a terceira de Eemeren e a quarta de Habermas: 
“Argumentar é fornecer argumentos, ou seja, razões a favor ou contra uma determinada 
tese.”1
 
“O termo argumentação será usado para se referir à atividade total de propor teses, pô-las 
em questão, respaldá-las produzindo razões, criticando essas razões, refutando essas 
críticas, e assim em diante”.2
 
“Argumentação é uma atividade social, intelectual e verbal servindo para justificar ou 
refutar uma opinião, consistindo em uma constelação de proposições e dirigida no sentido 
de obter a aprovação de um auditório”.3
 
1 PERELMAN, Chaïm. Argumentação. In: Enciclopédia Einaudi - Vol.11. Imprensa nacional-casa da moeda, 
Lisboa, 1987. p.234. 
2 TOULMIN, Stephen; RIEKE, Richard; JANIK, Allan. An introduction to reasoning. 2a ed. New York : 
Macmillan ; London : Collier Macmillan Publishers, 1984. p.14. No original: "The term argumentation will 
be used to refer to the whole activity of making claims, challenging them, backing them up by producing 
reasons, criticizing those reasons, rebutting those criticisms, and so on". 
3 EEMEREN; GROOTENDORST; KRUIGER. Handbook of Argumentation Theory: a critical survey of 
classical backgrounds and modern studies. Dordrecht-Holland / Providence-USA: Foris Publications, 1987. 
p.7. No original: “Argumentation is a social, intellectual, verbal activity serving to justify or refute an opinion, 
consisting of a constellation of statements and directed towards obtaining the approbation of an audience.” 
Marco Antonio
Text Box
Citar:nullALVES, Marco Antônio Sousa. Lógica x Retórica x Dialética: diferentes abordagens da argumentação. In: I ENCONTRO DE PESQUISA UFMG, Belo Horizonte, 2003. Comunicações apresentadas no I e II Encontro de Pesquisa em Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: Programa de Educação Tutorial (PET) Filosofia da UFMG, 2005. Disponível em http://ufmg.academia.edu/MarcoAntonioSousaAlves/Papers/894367/Logica_x_Retorica_x_Dialetica_diferentes_abordagens_da_argumentacao. Acesso em: [data de acesso] nullnullContato: marcofilosofia@ufmg.br 
I Encontro de Pesquisa UFMG 2003 
 
2
 
“Chamo argumentação ao tipo de fala em que os participantes tematizam as pretensões de 
validez que se tornam duvidosas e tratam de aceitá-las ou recusá-las por meio de 
argumentos. Uma argumentação contém razões que estão conectadas de forma 
sistemática com as pretensões de validez da manifestação ou emissão problematizadas. A 
força de uma argumentação se mede num contexto dado pela pertinência das razões”4. 
 
 Não pretendo me alongar em comentários acerca dessas definições. O que se deve reter 
aqui é apenas a amplitude do conceito que parece abrigar em seu interior toda situação em que 
razões são oferecidas ou refutadas. 
Quanto à importância do estudo da argumentação para a filosofia, temos que a prática 
filosófica se caracteriza exatamente pela necessidade de fundamentação, de dar razões para 
comprovar ou refutar determinadas teses. Saber algo implica necessariamente o ‘saber porque’ e 
reenvia nesse sentido às justificações potenciais. Diferentes teorias da argumentação estabelecem 
diferentes critérios de justificação e diferentes normas de racionalidade. A racionalidade passa a 
ser um conceito que vem de par com a teoria da argumentação, e depende da fiabilidade do saber 
que encarna, ou seja, na sua susceptibilidade de crítica ou de fundamentação. Dessa forma, é dito 
irracional aquele que defende suas opiniões de modo dogmático ou que é incapaz de as justificar. 
Assim, a teoria da argumentação, ao estudar a filosofia como prática argumentativa, constitui uma 
empresa claramente meta-filosófica, que tem por objeto o filosofar ele mesmo. 
O estudo da argumentação, apesar de remontar à Antiguidade (sobretudo Aristóteles), está 
ainda dando seus primeiros passos. Tendo em vista sua precocidade e também sua abrangência e 
complexidade, tal estudo é ainda cercado de grande imprecisão e confusão. O presente estudo 
busca analisar uma tentativa, conhecida como perspectivista, de sanar essa imprecisão e jogar 
alguma luz nesse campo. 
Proponho dividir a exposição em três partes. Na primeira (I), esclareço melhor o que é o 
perspectivismo. Na segunda (II), procurarei explicar em que consiste exatamente a abordagem 
retórica, lógica e dialética da argumentação, partindo dos estudos realizados por Joseph Wenzel. 
Na terceira e última parte (III), analiso as vantagens que tal distinção nos traz para a compreensão 
dos diversos estudos contemporâneos acerca da argumentação. 
 
I 
 
Os perspectivistas são teóricos que procuram ressaltar as diferentes formas de ver e 
estudar a argumentação. Tal estudo não se interessa pelo fenômeno per se, mas pelos modos de 
olhar para ele. O que está em jogo são as diferentes formas de se compreender o argumentar 
 
4 HABERMAS, Jürgen. Teoría de la acción comunicativa I. Madrid: Taurus, 1987. p.37. 
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3
humano, ou seja, as diferentes perspectivas de se estudar a argumentação. Wayne Brockriede 
define assim o perspectivismo: 
“O perspectivismo reconhece que tudo está relacionado com tudo. O ponto de vista 
perspectivista é uma forma de focalizar cada imagem por vez sem violar a integridade da 
visão sob análise”.5 
 
 Os perspectivistas afirmam a impossibilidade de estudar o puro argumento, sem qualquer 
contaminação, sem partir de qualquer perspectiva. Um argumento é extremamente complexo, o 
que impede uma análise que foque todos os aspectos simultaneamente. Brockriede usa a metáfora 
figura/fundo (figure/ground) para explicar como é possível ressaltar um aspecto de cada vez sem 
perder o conjunto6. O perspectivismo é, assim, uma estratégia de ênfase (a strategy of emphasis). 
A atividade do teórico da argumentação pode ser comparada à do fotógrafo, que registra vários 
ângulos diferentes na tentativa de obter um quadro mais completo de determinado evento. Dessa 
forma, a câmera foca ora o argumento, ora as relações entre os participantes, ora como se usa a 
linguagem, ora quais são as regras e procedimentos, etc. 
 O perspectivismo abriu um espaço enorme para se analisar os diferentes pontos de vista 
adotados no estudo da argumentação. Começou-se a se questionar sobre como a argumentação 
poderia ser estudada e também sobre como historicamente ela o teria sido. O próximo passo da 
apresentação consiste, então, em apresentar os estudos desenvolvidos por Joseph Wenzel, nos 
quais ele distingue três perspectivas cruciais, consagradas na tradição ocidental, que nos auxiliam 
a compreender a riqueza do campo da argumentação. 
 
II 
 
A originalidade de Wenzel não estaria em criar uma nova abordagem para o estudo da 
argumentação,
mas antes em reconhecer as perspectivas existentes, analisá-las mais detidamente 
e fornecer, pela primeira vez, um quadro mais amplo de tais estudos, relacionando-os entre si7. 
Para Wenzel, o estudo da argumentação estava caracterizado, até então (década de 60-
70), pela diversidade de abordagens e a aparente incomensurabilidade entre os resultados. A 
 
5 BROCKRIEDE, Wayne. Constructs, experience and argument (1985). Quarterly Journal of Speech, 71, 
151-63. apud TRAPP, Robert; SCHUETZ, Janice. (eds.) Perspectives on Argumentation: essays in honor of 
Wayne Brockriede. Prospect Heights, Illinois: Waveland Press, 1990, p.1. No original: “Perspectivism 
recognizes that everything is related to everything else. A perspectivist view is a way of focusing on one picture at 
a time without violating the integrity of the view under scrutiny”. 
6 Cf. BROCKRIEDE, Wayne. Arguing about understanding (1982). Communication Monographs, 49, 137-
147. 
7 O próprio Wenzel, entretanto, reconhece a importância dos estudos anteriores de Walter R. Fisher & Edward 
M. Sayles (The Nature and Functions of Argument, 1966), Maurice Natanson (The Claims of Immediacy, 1965) 
e Douglas Ehninger & Wayne Brockriede (Decision by debate, 1960). 
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pergunta “o que é o argumento?” é vista por ele como enganosa e, se se objetiva criar uma teoria 
da argumentação completa, deve ser substituída pelas seguintes questões8: 
a) “Quais são os vários modos ou perspectivas criados pelos teóricos da argumentação 
na construção do argumento?”; 
b) “Quais interesses ou propósitos nutrem cada perspectiva?”; 
c) “Qual o ganho em se estudar a argumentação de tal ou tal modo?”. 
Partindo dessas questões, Wenzel encontrou três perspectivas que teriam guiado de fato o 
estudo da argumentação na tradição ocidental. Essas três perspectivas ou pontos de partida para 
o estudo do argumento não devem ser confundidas com três tipos de argumento, ou três sentidos 
diferentes para a palavra ‘argumento’. Segundo Wenzel: 
“As perspectivas devem ser entendidas como diferentes pontos de vista. Como a planta de 
uma construção, mostrando a visão de frente e dos lados, as três perspectivas discutidas 
aqui revelam diferentes aspectos de qualquer instância da argumentação”.9
 
Essas três perspectivas podem ser previamente descritas como: 
a) Perspectiva retórica: centrada no processo persuasivo; 
b) Perspectiva dialética: foca o procedimento que regula as discussões e organiza as 
intervenções; 
c) Perspectiva lógica: explora o argumento como produto e aplica padrões de avaliação 
de validade. 
A distinção entre as três abordagens reflete-se, na linguagem ordinária, na diferença entre 
“apresentar argumentos” (argument as process), “engajar-se em uma argumentação” ou “conduzir 
uma argumentação” (argument as procedure) e “julgar ou examinar um argumento” (argument as 
product). O tema tratado aqui, entretanto, não será a aplicação ordinária dessa distinção, mas a 
importância teórica. Antes de partir para a análise mais detida de cada uma dessas abordagens, 
reproduzo o quadro elaborado por Wenzel no qual ele apresenta de maneira reduzida os pontos 
principais dessas três perspectivas10: 
 
8 “This essay, therefore, poses a more appropriate set of questions along these lines: What are the several 
ways in which scholars construe argument? What different perspectives are thereby created? What interests or 
purposes inform each perspective? What can be gained from studying argument in each way? An analysis of 
the three chief perspectives that have guided the study of argument in fact (though often unconsciously) will 
yield a better appreciation of the uses and limits of each one and may pave the way to an eventual synthesis.” 
(WENZEL. Joseph W. Perspectives on Argument. In: BENOIT, William; HAMPLE, Dale; BENOIT, Pamela. 
(eds.) Readings in Argumentation. Berlin, New York: Foris, pp.121-143, 1992. p.121). 
9 WENZEL, Joseph W. Three perspectives on argument: rhetoric, dialectic, logic. In: TRAPP, Robert; SCHUETZ, 
Janice. (eds.) Perspectives on Argumentation: essays in honor of Wayne Brockriede. Prospect Heights, 
Illinois: Waveland Press, pp.9-26, 1990. p.9. No original: “The perspectives, therefore, should be understood 
as different points of view. Like the plans for a building, showing front, side and top views, the three 
perspectives discussed here reveal different aspects of any instance of argumentation”. 
10 Cf. WENZEL. Joseph W. Perspectives on Argument. In: BENOIT, William; HAMPLE, Dale; BENOIT, 
Pamela. (eds.) Readings in Argumentation. Berlin, New York: Foris, pp.121-143, 1992. p.134. 
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5
 
Resumo das três perspectivas 
 Perspectiva retórica focando 
o arguir (arguing) como 
processo 
Perspectiva dialética 
focando a argumentação 
(argumantation) como 
procedimento 
Perspectiva lógica focando 
o argumento (argument) 
como produto 
Fim prático persuasão crítica julgamento 
Fim teórico entender as condições da 
eficácia argumentativa 
explicar as condições de 
uma argumentação crítica e 
sincera 
estabelecer padrões de 
validade e força dos 
argumentos (sound 
argument) 
Situação situações retóricas naturais arenas de discursos 
regrados 
campo do argumento 
Regras regras sociais tácitas regras procedimentais 
explícitas 
regras inferenciais explícitas 
Padrão de 
qualidade 
eficácia (effectiveness) sinceridade (candidness) força conclusiva (soudness) 
Falante ator social ingênuo advogado consciente explicação impessoal 
Ouvintes auditório particular visada universalista auditório universal 
a) retórica 
 
A argumentação vista sob o ângulo de processo seria um fenômeno que ocorre quando 
atores sociais se dirigem a outros com o fim de ganhar a adesão. Tal estudo acentua o caráter 
contextual11, a ação humana em situação (real, concreta, particular e imediata), no sentido de 
persuadir alguém12. Cito Wenzel: 
 
11 Habermas compreende a dimensão retórica de forma oposta ao particularismo ressaltado por Wenzel. O 
discurso argumentativo visto como processo é, para Habermas, aquele que visa satisfazer condições ideais 
para a comunicação. Aqui interessam as estruturas de uma situação ideal da linguagem imunizada contra a 
repressão e a desigualdade. Habermas pretende satisfazer essa exigência a partir da reconstrução das 
condições universais de simetria, mediante uma investigação sistemática das contradições performativas e 
sustentando a possibilidade de uma situação ideal de fala onde apenas o melhor argumento aja 
coercitivamente. A intuição fundamental ligada a esse plano caracteriza-se pela intenção de convencer um 
auditório universal. Nesse ponto, Habermas cita Perelman como aquele que introduziu essa expressão 
justamente como uma construção ideal na qual todos os seres racionais seriam participantes. Considero um 
equívoco essa leitura de Habermas, pois a visada ao auditório universal caracteriza justamente o 
convencimento e não a persuasão, que é o objeto próprio da retórica. Nesse sentido, concordo com a 
interpretação que Wenzel dá ao próprio Habermas, caracterizando-o como dialético e deixando o termo 
‘retórico’ para designar aquilo que Perelman descreveu como persuasão, ou seja, a adesão de um auditório 
particular. 
12 “A useful set of distinctions derives from Perelman's characterization of audiences as particular or 
universal. The rhetorical audience is understood as a particular assemblage of persons either in actuality or in 
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6
“Para ser mais preciso, quando se fala do estudo da argumentação a partir
da perspectiva 
retórica, quer-se dizer que se busca compreender certos elementos embutidos no 
processo de persuasão. Então, a perspectiva retórica constrói o argumentar como um 
processo persuasivo”.13
 
Uma boa teoria retórica é aquela que consegue mostrar como adaptar eficazmente um 
discurso a um auditório particular. Os manuais de retórica dos sofistas seriam exemplos claros 
dessa abordagem na antiguidade e os trabalhos de Wolfgang Klein14 seriam um exemplo de 
abordagem retórica contemporânea. Isócrates, uma vez que acrescenta um valor moral à prática 
persuasiva, não se preocupa mais unicamente com a eficácia do discurso. Também para 
Aristóteles e Perelman, a abordagem retórica só pode ser atribuída com reservas, pois ambos 
abrem espaço para uma argumentação qualificada (o raciocínio dialético para o primeiro e a visada 
ao auditório universal para o segundo). 
 
b) dialética 
 
Dentre os vários sentidos que esse termo possui, Wenzel o emprega como um método, um 
sistema ou procedimento para regular discussões15. O estudo sob o ângulo do procedimento 
acentua a forma de se conduzir o discurso. Ao dialético interessa as estruturas de uma 
concorrência ritualizada pelos melhores argumentos. Dentre as regras que visam permitir esse tipo 
especial de interação estão: o reconhecimento da sinceridade dos participantes, as regras de 
distribuição dos encargos de argumentação, a ordenação dos temas e contribuições, o princípio de 
inércia (segundo o qual apenas as opiniões controversas precisam ser justificadas), o princípio da 
relevância (que regula a pertinência dos argumentos), dentre outros. Os participantes não são mais 
vistos como meros atores sociais, mas como pleiteantes auto-conscientes e motivados unicamente 
 
the speaker's construal of persons he addresses. The act of rhetoric is an adaptation of ideas to particular 
persons in a particular situation” (WENZEL. Joseph W. Perspectives on Argument. In: BENOIT, William; 
HAMPLE, Dale; BENOIT, Pamela. (eds.) Readings in Argumentation. Berlin, New York: Foris, pp.121-143, 
1992. p.132). 
13 WENZEL. Joseph W. Perspectives on Argument. In: BENOIT, William; HAMPLE, Dale; BENOIT, 
Pamela. (eds.) Readings in Argumentation. Berlin, New York: Foris, pp.121-143, 1992. p.124. No original: 
“To be more precise, when we speak of studying "argument" from the rhetorical perspective, we mean that we 
seek to understand certain elements embedded in the process of persuasion. Thus, the rhetorical perspective 
construes "arguing" as a persuasive process”. 
14 KLEIN. Argumentation und Argument apud HABERMAS, Teoría de la acción comunicativa I. Madrid: 
Taurus, 1987. 
15 “Of all the meanings of the term "dialectic," the one I employ here takes dialectic to be a method, a 
system, or a procedure for regulating discussions among people. The ultimate object of such regulation is to 
produce good decisions”. (WENZEL, Joseph W. Three perspectives on argument: rhetoric, dialectic, logic. In: 
TRAPP, Robert; SCHUETZ, Janice. (eds.) Perspectives on Argumentation: essays in honor of Wayne 
Brockriede. Prospect Heights, Illinois: Waveland Press, pp.9-26, 1990. p.14). 
I Encontro de Pesquisa UFMG 2003 
 
7
pelo esforço cooperativo da compreensão e da decisão. O aspecto cooperativo é ressaltado pela 
aceitação prévia das regras a serem seguidas. 
O objetivo de uma teoria dialética é projetar e usar métodos de tomada de decisão coletiva. 
Seu fim último, como método argumentativo, é promover um exame crítico. A intuição fundamental 
ligada a esse plano caracteriza-se pela intenção de acabar a discussão com um acordo motivado 
racionalmente. Tal via nos remete à prática socrática de discussão, que consistia em um jogo de 
pergunta/resposta cujo objetivo não era defender a própria visão, mas sim proceder juntos um 
exame crítico de forma a encontrar a melhor filosofia16. A teoria crítica de Habermas, a proposta 
pragma-dialética de Eemeren & Grootendorst17 e o método de correção argumentativa de 
Ehninger18 seriam exemplos contemporâneos de abordagens dialéticas da argumentação. 
 
c) lógica 
 
Do ponto de vista lógico, a argumentação é uma cadeia de proposições (premissas e 
conclusões) concebidas abstratamente, ignorando-se o processo comunicativo. Ao lógico interessa 
as estruturas que determinam as construções dos argumentos e suas relações entre si. A questão 
é saber quais as propriedades intrínsecas a um argumento que o tornam sólido, concludente. 
O objetivo de uma teoria lógica é descobrir e empregar padrões para o juízo racional. Eles 
desenvolvem, assim, cânones de inferências válidas que nos permitem tomar certas expressões 
por conhecimento fiável. O movimento da lógica informal, como os trabalhos realizados por Blair & 
Johnson19 e o diagrama de Toulmin20 são exemplos de abordagens lógicas da argumentação. 
 
III 
 
 
16 “The simplest form of dialectic is that depicted in Plato's dialogues, where two people alternate in the roles 
of speaker and interlocutor, critically testing one another's opinions in an effort to arrive at the true 
answer to some philosophical question” (WENZEL, Joseph W. Three perspectives on argument: rhetoric, 
dialectic, logic. In: TRAPP, Robert; SCHUETZ, Janice. (eds.) Perspectives on Argumentation: essays in honor 
of Wayne Brockriede. Prospect Heights, Illinois: Waveland Press, pp.9-26, 1990. p.14). 
17 Cf. EEMEREN, Frans H. van; GROOTENDORST, Rob. Argumentation, communication, and fallacies: a 
Pragma-Dialectical Perspective. Hillsdale, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 1992. 
18 Cf. EHNINGER, Douglas. Argument as Method: its Nature, its Limitations and its Uses. In: BENOIT, 
William; HAMPLE, Dale; BENOIT, Pamela. (eds.) Readings in Argumentation. Berlin, New York: Foris, 
pp.145-159, 1992. 
19 Cf. BLAIR & JOHNSON. Informal Logic. Edgepress, 1980; BLAIR, J. Anthony. Everyday argumentation 
from an informal logic perspective. In: BENOIT, William; HAMPLE, Dale; BENOIT, Pamela. (eds.) 
Readings in Argumentation. Berlin, New York: Foris, 1992. p.357-376; JOHNSON, Ralph H. Logic 
naturalized: recovering a tradition. In: EEMEREN, Frans H van; GROOTENDORST, Rob; BLAIR, J 
Anthony; WILLARD, Charles A (eds.) Argumentation: across the lines of discipline. Dordrecht/Holland, 
Providence/USA: Foris, pp.47-56, 1987. 
20 Cf. TOULMIN, Stephen. The uses of Argument. Cambridge University Press, 1964 (1a ed.: 1958). 
I Encontro de Pesquisa UFMG 2003 
 
8
 A taxonomia oferecida por Wenzel é interessante por vários motivos21: 
1) Ela permite que se adote várias abordagens complementares no estudo da 
argumentação; 
2) Ela nos permite observar como estudos tradicionais da argumentação se 
assentavam em perspectivas distintas; 
3) A partir dela, podemos avaliar melhor os resultados obtidos por cada 
abordagem e também compreender melhor como esses resultados se 
relacionam entre si sem se excluírem mutuamente; 
4) Ao escolher quais perspectivas adotar, delimita-se o que se considera 
importante estudar, evitando que se estude a argumentação a partir de todos 
os caminhos possíveis ao mesmo tempo (o que só gera confusão); 
 Entendo que o perspectivismo ajuda a eliminar a imprecisão, em razão da clareza que ele 
oferece para o estudo das diversas teorias da argumentação22. Assim como a palavra ‘argumento’ 
tem sentidos distintos23, também a pergunta “o que é um bom argumento?” pode receber ao 
menos três respostas distintas, que, como foi visto, pode ser o argumento eficaz (retórica), o 
argumento sólido (lógica) ou o argumento sincero e crítico (dialética)24.
21 Como justifica o próprio Wenzel: “First, it acknowledges the legitimacy of multiple approaches to the 
study of argument. There is no need to choose between a "process" or "product" orientation, for each one is 
valuable at different times for different purposes. Second, once we begin to see how different research 
traditions are grounded in different perspectives, we can appreciate how each kind of research produces unique 
results, how it differs from other approaches, but also how different perspectives relate to one another. 
Third, recognizing that there are so many possible perspectives enables one to admit to limitations: not everyone 
can study argumentation in every way. So, in choosing which perspectives to employ, we take a stand on 
what questions we consider important in the study of argumentation” (WENZEL, Joseph W. Three 
perspectives on argument: rhetoric, dialectic, logic. In: TRAPP, Robert; SCHUETZ, Janice. (eds.) Perspectives 
on Argumentation: essays in honor of Wayne Brockriede. Prospect Heights, Illinois: Waveland Press, pp.9-
26, 1990. p.11). 
22 “...the taxonomy provided by the three perspectives may, in itself, help to clarify the significance of 
previous work in argumentation as well as the potentialities of future lines of research. The significance of 
much previous research becomes clearer when framed within the purview of the three perspectives.” 
(WENZEL. Joseph W. Perspectives on Argument. In: BENOIT, William; HAMPLE, Dale; BENOIT, Pamela. 
(eds.) Readings in Argumentation. Berlin, New York: Foris, pp.121-143, 1992. p.136). 
23 Cf. os estudos de Daniel O’Keefe (Two concepts of argument, 1977): Argument1 – refere-se a um tipo de 
proferimento ou ato comunicativo. É algo que a pessoa faz, profere. (Ex: ele emitiu um argumento). 
Argument2 – refere-se a um tipo particular de interação. É algo que as pessoas têm, se engajam, participam. 
(Ex: Eles participaram de uma argumentação). Além desses dois sentidos, temos o Argument0, proposto por 
Hample (The functions of argument, 1983), que corresponde à dimensão cognitiva do argumento, o processo 
mental que ocorre na mente das pessoas. 
24 “The particular normative stance of each perspective can be seen in the answers each gives to the question. 
"What is a good argument?" The rhetorician would say something like, "Good arguing consists in the 
production of discourse (in speech or writing) that effectively helps members of a social group solve 
problems or make decisions." The dialectician might say, "Good argumentation consists in the systematic 
organization of interaction (e.g., a debate, discussion, trial, or the like) so as to produce the best possible 
decisions." The logician might say, "A good argument is one in which a clearly stated claim is supported 
by acceptable, relevant and sufficient evidence." (WENZEL, Joseph W. Three perspectives on argument: 
rhetoric, dialectic, logic. In: TRAPP, Robert; SCHUETZ, Janice. (eds.) Perspectives on Argumentation: essays 
in honor of Wayne Brockriede. Prospect Heights, Illinois: Waveland Press, pp.9-26, 1990. p.12). 
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9
Ao não perceber essas diferenças, o estudo da argumentação se viu envolto em pseudo-
problemas. Um exemplo típico é o debate sobre a relevância da lógica para a retórica, como a 
crítica de Willard ao modelo de Toulmin, dizendo que a complexidade dos argumentos persuasivos 
não podia ser adequadamente explicitada por um diagrama lógico25. Outro pseudo-problema seria 
a pesquisa de uma ‘validade retórica’, como pretende McKerrow, acreditando ser o campo da 
argumentação complexo demais para ser avaliado logicamente26. 
Uma teoria completa da argumentação deveria conseguir levar em consideração esses 
três aspectos em conjunto. Como compara Wenzel: 
“Assim como o corpo humano pode ser estudado anatomicamente ou fisiologicamente ou 
quimicamente, também o processo da argumentação pode ser estudado retoricamente, 
dialeticamente ou logicamente. Em cada caso, os vários estudos se complementam e 
enriquecem um ao outro”.27
 
 Mas, apesar de defender as três perspectivas como legítimas, complementares e 
indispensáveis para uma teoria completa da argumentação, Wenzel mostra maior simpatia pela 
abordagem dialética, acreditando estar aí o lugar central na conceitualização da argumentação, 
onde o rigor lógico e o apelo retórico são combinados no exame crítico das teses28. Tal também 
acontece com Habermas, que também reconhece a necessidade de se levar em conta essas três 
abordagens, mas acaba atrofiando a sua proposta no dialético29. 
 
25 Cf. WILLARD, Charles Arthur. On the utility of descriptive diagrams for the analysis and criticism of 
arguments. In: BENOIT, William; HAMPLE, Dale; BENOIT, Pamela. (eds.) Readings in Argumentation. 
Berlin, New York: Foris, 1992. p.239-257. 
26 Cf. McKERROW, Ray E. Rhetorical Validity: an Analysis of three Perspectives on the Justification of 
Rhetorical Argument. In: BENOIT, William; HAMPLE, Dale; BENOIT, Pamela. (eds.) Readings in 
Argumentation. Berlin, New York: Foris, 1992. p.297-311. 
27 WENZEL. Joseph W. Perspectives on Argument. In: BENOIT, William; HAMPLE, Dale; BENOIT, 
Pamela. (eds.) Readings in Argumentation. Berlin, New York: Foris, pp.121-143, 1992. p.125. No original: 
“But just as the human body can be studied anatomically or physiologically or chemically, so the processes of 
argumentation can be studied rhetorically or dialectically or logically. In each case, the several studies 
complement and enrich one another” 
28 “...the dialectical perspective should now be recognized, analyzed, and investigated on an equal footing 
with the rhetorical and logical. It is my impression that works addressed to the concerns of the dialectical 
perspective have not been so well integrated into the scholarship and teaching of argumentation as have the 
other two (the one notable exception seems to be Ehninger and Brockriede, Decision by Debate). Although I am 
not prepared to develop the argument here, I suspect that the dialectical perspective may deserve the central 
place in a conceptualization of argument, for it is only within the framework of a dialectical encounter that the 
resources of rhetorical appeal and logical rigor are combined for the critical testing of theses.” (WENZEL. 
Joseph W. Perspectives on Argument. In: BENOIT, William; HAMPLE, Dale; BENOIT, Pamela. (eds.) 
Readings in Argumentation. Berlin, New York: Foris, pp.121-143, 1992. p.140). 
29 A crítica seria que, ainda que Habermas considere que o bom desenvolvimento de uma teoria da 
argumentação necessita considerar esses três aspectos em conjunto, tal coordenação se dá de forma 
desequilibrada na própria proposta habermasiana, que pende mais para o aspecto da motivação racional em 
detrimento dos outros dois. Dessa forma, “a perspectiva da argumentação que se desenha no eixo 
habermasiano comunicação/racionalidade estabelece a primazia da normatividade sobre a efetividade 
argumentativa” (CARRILHO. Rhétoriques de la modernité. Paris: PUF, 1992. p.108). A perspectiva 
I Encontro de Pesquisa UFMG 2003 
 
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Conclusão 
 
 Gostaria de concluir essa comunicação ressaltando o objetivo principal da minha fala, que 
foi mostrar como o perspectivismo permite jogar alguma luz nos estudos da argumentação, 
oferecendo um quadro que permite compreender melhor as diferentes formas de se abordar o 
assunto e, também, os diferentes resultados obtidos. Além disso, tal classificação ajuda a evitar 
alguns pseudo-problemas, advindos de uma visão míope. 
 Concordo com a afirmação de Wenzel e de Habermas de que uma teoria completa da 
argumentação precisa levar em consideração essas três abordagens. Entendo também que no 
caso da argumentação filosófica, a abordagem dialética seria mais valiosa, na medida em
prescreve normas para a discussão racional sem precisar abstrair de sua dimensão comunicativa, 
discursiva. É nesse sentido que desenvolvo atualmente no mestrado um estudo sobre o auditório 
universal, tal como Perelman o compreende. Espero assim poder jogar alguma luz na problemática 
pretensão filosófica à verdade e objetividade, além de clarear em que sentido se apela à razão e 
qual limite pode existir em tal pretensão. 
 
 
comunicativa oferece uma concepção divergente do elemento retórico e do argumentativo, acentuando o 
caráter normativo do último e ornamental do primeiro. Tal não se coaduna bem com aquilo que disse o 
perspectivismo. Isso explicaria a facilidade com que Habermas separa a persuasão do convencimento no 
interior do discurso argumentativo e sua orientação de maneira exclusiva em direção à reconstrução de 
situações ideais, atrofiando sua teoria da argumentação no normativo dialético (por ele descrito como 
retórico). 
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