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Fisioterapia B rasil - V olum e 7 - N úm ero 1 - Janeiro / Fevereiro de 2 0 0 6 Janeiro / Fevereiro de 2006 Fi sio ter ap iaB r a s i l An o 7 - n o 1 www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1518-9740 Traumato • Mastectomia e amplitude de movimento do ombro • Risco de trombose venosa profunda • Osteoartrite do joelho e fortalecimento do quadríceps Ultra-som • Conformidade e manutenção dos equipamentos Infecção • Agentes patogênicos em eletrodos de borracha • Staphylococcus aureus em serviços de fisioterapia Respiratório • Mobilidade torácica durante a gestação • Amplitude tóraco-abdominal em indivíduos jovens • Fisioterapia e bipap pós cirurgia cardíaca !Capa.indd 1!Capa.indd 1 1/2/2006 18:21:021/2/2006 18:21:02 Fisioterapia B rasil - V olum e 7 - N úm ero 2 - M arço / A bril de 2 0 0 6 Março / Abril de 2006 Fi sio ter ap iaB r a s i l An o 7 - n o 2 www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1518-9740 Traumato • Instabilidade patelofemoral • Alongamento músculos isquiotibiais Anatomia • Síndrome do piriforme Lombalgia • Lombalgia e gestação • Isostretching e lombalgia crônica • Quebec Back Pain Disability Scale Respiratório • EMG em portadores de distrofinopatias Ultra-som • Interação com os tecidos biológicos !Capa.indd 1!Capa.indd 1 7/4/2006 13:47:097/4/2006 13:47:09 Fisioterapia B rasil - V olum e 7 - N úm ero 3 - M aio / Junho de 2 0 0 6 Maio / Junho de 2006 Fi sio ter ap iaB r a s i l An o 7 - n o 3 www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1518-9740 Cardiorespiratório • Lupus eritematoso sistêmico • Capacidade vital em crianças • Força muscular respiratória em idosos Traumato-ortopedia • Lesões músculo-esqueléticas e ginástica rítmica • Alongamento e força dos isquiotibiais Sáude da mulher • Fisioterapia na sala de parto Paralisia cerebral • Fisioterapia em crianças com paralisia cerebral • Estimulação elétrica neuromuscular na paralisia espástica !Capa.indd 1!Capa.indd 1 3/7/2006 19:05:263/7/2006 19:05:26 Fisioterapia B rasil - V olum e 7 - N úm ero 4 - Julho / A gosto de 2 0 0 6 Julho / Agosto de 2006 Fi sio ter ap iaB r a s i l An o 7 - n o 4 www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1518-9740 Postura • Lombalgia em motoristas de ônibus • Postura sentada da criança escolar • Sintomas osteomusculares em professores Saúde da mulher • Força muscular do períneo • Fatores de risco da incontinência urinária Hidroterapia • Temperatura, freqüência cardíaca e pressão arterial Esporte • Treinamento respiratório em atletas de natação !Capa.indd 1!Capa.indd 1 30/8/2006 19:30:3030/8/2006 19:30:30 Fisioterapia B rasil - V olum e 7 - N úm ero 5 - S etem bro / O utubro de 2 0 0 6 Setembro / Outubro de 2006 Fi sio ter ap iaB r a s i l An o 7 - n o 5 www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1518-9740 Paralisia cerebral • Equoterapia e encefalopatia espástica • Estimulação elétrica neuromuscular em paralisia cerebral • Estilo de vida e paralisia cerebral Traumato • Lesões músculo-esquelético por arma de fogo • Flexão do joelho e alongamento do fêmur pelo método de Ilizarov Gravidez • Adaptações fisiológicas do período gestacional Ergonomia • Fisioterapia preventiva na avaliação ergonômica de um escritório Profissão • Há preferência pelo sexo do fisioterapeuta para a terapia? !Capa.indd 1!Capa.indd 1 14/11/2006 16:55:3514/11/2006 16:55:35 Fisioterapia B rasil - V olum e 7 - N úm ero 6 - N ovem bro / D ezem bro de 2 0 0 6 Novembro / Dezembro de 2006 Fi sio ter ap iaB r a s i l An o 7 - n o 6 www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1518-9740 Fisiologia • Força de preensão e lateralidade em crianças Ergonomia • Análise qualitativa da postura estática • Condição Ergonômica dos postos de trabalhos • Intervenção da fisioterapia em funcionários de indústria têxtil Dermato • Vacuoterapia no fibro edema gelóide Acupuntura • Acupuntura para pacientes com hérnia de disco lombar • Acupuntura na reabilitação da terceira idade !Capa.indd 1!Capa.indd 1 15/1/2007 17:51:1015/1/2007 17:51:10 Fisioterapia Brasil (vol.7, nº1 janeiro/fevereiro 2006 - 1~80) EDITORIAL Seis anos de revista e muito trabalho pela frente, Jean-Louis Peytavin ................................................................................................... 3 ASSOCIAÇÃO Criação da Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher - ABRAFISM, Cristine Homsi Jorge Ferreira ................................................................................................................................................................................ 4 ARTIGOS ORIGINAIS Mobilidade torácica e pressões respiratórias máximas durante a gestação, Fátima Caromano, Eliane Sayuri, Cláudia Marchetti Vieira da Cruz, Juliana Monteiro Candeloro, Juliana Schulze Burti, Luciana Zazyki de Andrade ............................................................................................................................................. 5 Efeitos fi siológicos da fi sioterapia respiratória convencional associada à aplicação de BiPAP no pós-operatório de cirurgia cardíaca, Kamilla Tays Marrara, Aline Marques Franco, Valéria Amorim Pires Di Lorenzo, Fernanda Negrini, Sérgio Luzzi ...................................................................... 8 Ocorrência de bioagentes patogênicos nos eletrodos utilizados na Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea nos serviços de fi sioterapia da Baixada Fluminense RJ, José Tadeu Madeira de Oliveira, Antônio Neres Norberg, Fábio dos Santos Borges, Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, Ingrid Jardim de Azeredo Souza, Rafael Jardim de Azeredo Souza, Ailton da Silva Gonçalves, Betânia Martins Alhan de Oliveira, Fabiano Sanches Guerra ......................................................................... 14 Risco de trombose venosa profunda em pacientes traumato–ortopédicos hospitalizados, Luciano Pereira de Oliveira, Vagner Wilian Batista e Sá .................................................................................................................................. 18 Ocorrência de Staphylococcus aureus em fi sioterapeutas que atuam em clínicas e hospitais de Governador Valadares MG, Daniel de Assis Santos, Mariane Cândida Medeiros Oliveira, Liliane Lisboa Oliveira, Ludmila Reis Milardi, Sabrina Ferreira Almeida, Lígia Jordão Valentim, Bartira Pereira Neves, Mario Antonio Baraúna, Ruiz Angelo Ventura da Silva ........................................................................................... 22 Medida da amplitude tóraco-abdominal como método de avaliação dos movimentos do tórax e abdome em indivíduos jovens saudáveis, Audrey Borghi-Silva, Renata Gonçalves Mendes, Elisabeth Santos Silva, Higia L. Paulucci, Paula C. Picchi, Valéria Amorim Pires Di Lorenzo ................................................................. 25 Análise da amplitude de movimento do ombro de mulheres mastectomizadas submetidas a um programa de exercícios e alongamentos musculares, Ana Cristina da Nóbrega Marinho, Alexsandro Alcantara de Macedo ........................................................................................................................................................................ 30 Comparação dos lasers diodo 904 nm e 670 nm na viabilidade do retalho cutâneo randômico isquêmico em ratos, Lívia Ribeiro de Assis, Alexandre Marcio Marcolino, Carlos Eduardo Pinfi ldi, Rodrigo Paschoal Prado, Fábio Lourencin, Lydia Masako Ferreira ................................................................... 36 Comportamento do lactato sanguíneo de pacientes com síndrome isquêmica aguda nas 48 horas de internação na unidade coronariana submetidos à reabilitação cardíaca fase I, Cintia Godinho Junqueira, Regina Roque da Glória, Sílvia Mesquita, Miguel Houri Neto ....................................................................... 40 Correlação entre estresse e dor em pilotos de helicópteros do Grupamento de Radio Patrulha Aérea da Polícia Militar na cidade de São Paulo, Kelly Cristina Diniz, Tabajara de Oliveira Gonzalez, João Pedro Arantes, Emílio Luiz Santana Panhosa, Cezar Gallettii Júnior ........................................... 44 REVISÕES Fatores que interferem na reabilitação protética de idosos amputados de membros inferiores, Júnea Mara Gonçalves Moraes, Daniele Sirineu Pereira, Gisele de Cássia Gomes, Leani Souza Máximo Pereira ................................. 49 O exercício físico e a regeneração muscular, Fabiana Elisa Toressan Faria, Viviane Balisardo Minamoto ..................................... 55 Importância da conformidade dos equipamentos de ultra-som terapêutico com a NBR-IEC 1689, Elton Antônio Valentini, Carlos Dias Maciel, Nivaldo Antonio Parizotto ................................................................................................... 59 Osteogenese imperfeita – características clínicas, moleculares e tratamento, Gabriela Pinheiro Rebouças Martins, Marcus Vinicius Amaral, Henrique Douglas Melo Coutinho ....................................................... 66 ESTUDOS DE CASO Distrofi a muscular intermediária entre Duchenne e Becker, Elaine Maria Bueno da Silva, Thaís Helena Brunheroto Nucci, Cristina Iwabe, Maria da Graça Baldo Deloroso ................................................................................... 69 Benefícios de um programa de fortalecimento excêntrico do quadríceps no tratamento da osteoartrite de joelho, Andressa Souza Milagres, Igor Magalhães e Souza, Johnathan O. Coura Pereira, Roger Duarte da Paz, Flávia Maria Campos de Abreu .................................................................................................................................... 73 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ................................................................................................................................................................... 79 EVENTOS .......................................................................................................................................................................................................... 80 Fisioterapia_v7n1.indb 1Fisioterapia_v7n1.indb 1 1/2/2006 18:46:331/2/2006 18:46:33 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 20062 © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. w w w . a t l a n t i c a e d i t o r a . c o m . b r Ilustração da capa: Músculos do pescoso, ilustração de G. Devy, Traité d’anatomie humaine de Leon Testut, Paris, 1904. Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3362-2097 Recife Monica Pedrosa Miranda Rua Dona Rita de Souza, 212 52061-480 – Recife – PE Tel.: (81) 3444-2083 / 9204-0346 E-mail: atlanticarecife@terra.com.br Assinaturas 6 números ao ano: Brasil - 1 ano: R$ 156,00 América Latina - 1 ano: US$ 160,00 Europa - 1 ano: € 150,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Editores associados Dr. André Luís Santos Silva Drª. Tiene Deccache Colaboradoras da Redação Ingrid Haig Guillermina Arias Direção de arte Cristiana Ribas cristiana@atlanticaeditora.com.br Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. rene@atlanticaeditora.com.br Atendimento ao assinante Edilaine Silva atlantica@atlanticaeditora.com.br Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço por correio ou por e-mail aos cuidados de Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Revista Indexada na LILACS - Literatura Latino- americana e do Caribe em Ciências da Saúde Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Prof. Dr. Dirceu Costa (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná) Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Prof. Dr. José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO – Rio de Janeiro) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa) Profº Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo) Grupo de assessores Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Farley Campos (UCB – Rio de Janeiro) Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (UNIRB – Bahia) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID – São Paulo) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA – HFAG – Rio de Janeiro) Fisioterapia_v7n1.indb 2Fisioterapia_v7n1.indb 2 1/2/2006 18:49:391/2/2006 18:49:39 3Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Editorial Seis anos de revista e muito trabalho pela frente Jean-Louis Peytavin, editor A sua revista Fisioterapia Brasil entra no sétimo ano de existência, com mais de 400 artigos já publicados, e mais de 1000 artigos na lista de espera. Não há dia que não recebemos artigos e agradecemos por sua confi ança e pela qualidade, cada vez melhor, dos trabalhos enviados. Diante desta enorme produção dos fisioterapeutas brasileiros, vamos tentar, com a sua ajuda, desenvolver os nossos serviços. Em primeiro lugar, estamos aumentando a cada ano o número de páginas, para publicar cada vez mais artigos. São quase 500 páginas por ano, e em breve 600 e mais. Estamos também melhorando o procedimento de avaliação dos traba- lhos, com os mais renomados professores das universidades brasileiras. Temos de agradecer aqui a todos os membros do conselho científi co da revista que não poupam o seu tempo para redigir pareceres documentados e de grande interesse para os autores. Refi ro-me em particular a José Rubens Rebelatto, Dirceu Costa e Tânia de Fátima Salvini, da Ufscar, a Fátima Caromano, da USP, sem esquecer Esperidião Elias Aquim do Paraná, ou ainda nosso amigo Mario Antônio Baraúna de Uberlândia, nem todos os revisores anônimos que nos ajudam a construir uma revista que seja o espelho da pesquisa em fi sioterapia. Nosso objetivo é publicar o melhor da produção e criar ferramentas úteis para a consulta e pesquisa. Por isso, estamos reformando o nosso site, para apresentar, de uma maneira efi ciente, os artigos, os autores e os temas. Está demorando um pouco, mas estará pronto em breve. Todos os assinantes receberão uma senha para consultar à vontade os arquivos da revista e dos congressos. Não se desesperem se o seu artigo não está ainda publi- cado, estamos trabalhando para enviar uma resposta a todos. Do seu lado, ajudem-nos respeitando as normas de publica- ção e diminuindo o comprimento dos artigos: quanto mais curtos, mais têm chances de serem publicados rapidamente, e também mais chances têm de serem lidos... Estamos também preparando outras publicações e edi- ções, para utilizar o melhor possível o material que recebe- mos, com o objetivo de criar pouco a pouco uma verdadeira enciclopédia da fi sioterapia nacional. Com a sua ajuda e suas assinaturas, conseguimos construir, em seis anos, uma revista independente, hoje indispensável. Temos ainda muito trabalho pela frente, para torná-la uma revista de nível internacional e representativa da variedade dos temas de pesquisa da fi sioterapia, que cresce, a cada ano, na área das ciências da saúde. Mas acreditamos que não vamos esperar mais seis anos para chegar lá. Fisioterapia_v7n1.indb 3Fisioterapia_v7n1.indb 3 1/2/2006 18:49:391/2/2006 18:49:39 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 20064 Associação Criação da Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher (ABRAFISM) Profa. Dra. Cristine Homsi Jorge Ferreira Presidente da Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher A saúde das mulheres é um importante indicador da saúde de uma nação. Isso porque, historicamente, têm sido atribuídos às mulheres os cuidados com os demais membros da família, e porque estas representam o maior contingente de cuidadoras formais na área da saúde. Além disso, as mul- heres necessitam de cuidados especifi camente voltados à sua saúde reprodutiva, que devem incluir desde a possibilidade de escolher e utilizar um método contraceptivo, até uma as- sistência multiprofi ssional de qualidade na gestação, parto, puerpério e climatério. Essas são algumas das razões que justifi cam a necessidade de programas específi cos de saúde da mulher. Nesse sentido, diversos esforços mundiais têm sido empreendidos para melhorar os indicadores de saúde da mulher, envolvendo também a fi sioterapia. Um exemplo im- portante é a International Organization of Physical Therapy in Women’ s Health (IOPTWH), um subgrupo da World Confederation of Physical Therapy (WCPT) que tem como objetivos difundir e incentivar a prática clínica e a pesquisa em fi sioterapia na saúde da mulher, além de incentivar a criação de outros grupos no mundo. No Brasil, fi sioterapeutas de todo o país reunidos em assembléia que ocorreu no XVI Congresso Brasileiro de Fisioterapia em São Paulo, no dia 07/10/2005, criaram a Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher (ABRAFISM). O encontro começou com o discurso da se- cretária geral da WCPT, Dra. Brenda Myers, que falou sobre a importância das associações para o crescimento da fi sioterapia. Os principais objetivos desta nova associação foram declara- dos na sua criação e são: encorajar a promoção à Saúde da Mulher; promover a cooperação entre os fi sioterapeutas que trabalham na área de Saúde da Mulher; encorajar a melhora na assistência fi sioterapêutica prestada em Saúde da Mulher; contribuir para defi nir o papel da fi sioterapia em Saúde da Mulher no âmbito público e privado; facilitar o aprimoramento da prática fi sioterapêutica em Saúde da Mulher através da troca de informações em âmbito nacional e internacional; difundir o papel da fi sioterapia em Saúde da Mulher junto aos fi siotera- peutas, outros profi ssionais da área da saúde e comunidade leiga através da promoção de fóruns, debates, campanhas, simpósios e congressos; encorajar a pesquisa científi ca e co- laborar para o desenvolvimento de novos conhecimentos na área de Saúde da Mulher; colaborar para ampliação e preser- vação do mercado de trabalho do fi sioterapeuta na área de Saúde da Mulher; buscar apoio e cooperação com associações nacionais e internacionais que tenham objetivos semelhantes, e ainda incentivar a criação de uma especialidade na área de fi sioterapia, em Saúde da Mulher. Esses objetivos só serão concretizados se houver uma participação crescente dos fi sioterapeutas que atuam na área de Saúde da Mulher na vida associativa. A diretoria da ABRAFISM, eleita por unanimidade, agradece a confi ança e está extremamente motivada a trabalhar para que os fi siotera- peutas possam ocupar o seu espaço e contribuir, com suas habilidades e competências, para uma melhor qualidade de vida e saúde das mulheres brasileiras. Diretoria da ABRAFISM Presidente: Cristine Homsi Jorge Ferreira (SP) Vice-presidente: Elza Baracho (MG) Secretária Geral: Andréa Marques (SP) Diretora Científi ca: Adriana Moreno (SP) Diretora de Defesa Profi ssional: Elaine Caldeira Guirro (SP) Diretora Tesoureira: Maria Cristina Cortes Carneiro Meirelles (SP) Diretora de Comunicação: Pollyana Dórea (BA) Diretora Cultural: Telma Chiarapa (MS) Conselheira Consultiva: Débora Bevilaqua Grossi (SP) Para informar-se sobre como se tornar um membro da ABRAFISM, envie e-mail para abrafi sm@yahoo.com.br Fisioterapia_v7n1.indb 4Fisioterapia_v7n1.indb 4 1/2/2006 18:49:401/2/2006 18:49:40 5Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Mobilidade torácica e pressões respiratórias máximas durante a gestação Thoracic mobility and maximum breathing pressures during the pregnancy Fátima Caromano, D.Sc.*, Eliane Sayuri**, Cláudia Marchetti Vieira da Cruz**, Juliana Monteiro Candeloro**, Juliana Schulze Burti***, Luciana Zazyki de Andrade*** *Profa. Dra. do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP, Laboratório de Fisioterapia e Reatividade Comportamental do Curso de Fisioterapia da USP (LaFi-ReaCom) **Fisioterapeuta e Pesquisadora Voluntária do LaFi – ReaCom, ***Graduanda do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP Resumo A fi sioterapia atua no preparo físico/funcional da mulher durante o período gestacional e na recuperação pós-parto. Parte essencial das intervenções fi sioterapêuticas inclui a reeducação respiratória, que deve ser adaptada para as diferentes fases deste período. Com o objetivo em compreender melhor as alterações funcionais respiratórias decorrentes da gestação, este estudo analisou as pressões inspiratória e expiratória máximas e toracometria num grupo de 200 mulheres, sendo 150 gestantes divididas em três gru- pos, 50 no primeiro trimestre de gestação, 50 no segundo trimestre e 50 no terceiro trimestre de gestação, sendo que 50 mulheres não gestantes formaram o grupo controle. Encontrou-se que a diminui- ção da mobilidade torácica e das pressões respiratórias ocorre a partir do primeiro trimestre, aumentando com o desenvolver da gravidez e é dependente dos reajustes hormonais e das adaptações biomecânicas. Palavras-chave: gestação, respiração, avaliação e fi sioterapia. Artigo original Abstract Physical therapy prepares pregnants during pregnancy and after delivery. A essential part of the physical therapy interventions includes the respiratory reeducation that have to be adapted to the different phases of this period. Aiming a better comprehension of the respiratory changes that occurs during pregnancy, the objective of this study was to analyse maximal inspiratory and expiratory pressures in a group of 200 women. In this group 150 women were pregnant and 50 not pregnant. In the pregnant group, 50 were in the fi rst trimester, 50 in the second and 50 in the third trimester. It was found that decrease of the thoracic mobility and breathing pressures starts from the fi rst trimester, increases with the develop- ment of the pregnancy and is dependent of hormonal readjustment and biomechanical adaptations. Key-words: pregnancy, breathing, evaluation, physical therapy. Recebido 10 de maio de 2004; aceito 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Profa. Dra. Fátima Caromano Curso de Fisioterapia da USP, Laboratório de Fisioterapia e Reatividade Comportamental, Rua Cipotânea, 51 Cidade Universitária da USP 05360-000 São Paulo SP, E-mail: fcaromano@uol.com.br. Introdução A gravidez provoca grandes mudanças no organismo a fi m de prepará-lo para implantar, formar e desenvolver uma nova vida durante a gestação. No primeiro trimestre ocor- rem diversas alterações endócrinas, sendo que o elemento básico para tais alterações é a placenta, que sintetiza vários hormônios com funções próprias durante a gestação, como a gonadotropina coriônica (HCG), a somatotropina placen- tária, a tireotropina placentária, os estrógenos, a progesterona e os andrógenos. A tireóide, o pâncreas, a supra-renal e a hipófi se também têm suas atividades aumentadas nesta fase, alterando o metabolismo materno e, desta forma, fazendo com que coração, rins e pulmões trabalhem de forma mais intensa [1]. Quanto às alterações cardiopulmonares, o aumento da progesterona, particularmente, provoca uma diminuição na tensão alveolar, podendo haver congestão tissular e hiper- secreção no trato respiratório superior, além de diminuição na pressão diastólica logo no início da gestação, devido à Fisioterapia_v7n1.indb 5Fisioterapia_v7n1.indb 5 1/2/2006 18:49:411/2/2006 18:49:41 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 20066 diminuição na resistência vascular periférica. Como há um aumento de 15 a 20% no consumo de oxigênio, somado a um estado natural de hiperventilação (pela maior necessidade de O2 na gestação e pela sensibilização do centro respiratório na medula pela progesterona), o trabalho respiratório aumenta, podendo-se observar dispnéia durante exercícios leves logo nas primeiras semanas. Ocorrem alterações biomecânicas na função dos arcos costais (estimuladas por hormônios) que precedem o crescimento uterino, observado pelo aumento progressivo do ângulo subcostal, que desloca as costelas para cima e para fora e pelo aumento dos diâmetros torácicos ân- tero-posterior e transverso em cerca de dois a três centímetros cada (a circunferência torácica total aumenta de 5 a 7 cm). Devido às alterações na posição das costelas o diafragma ele- va-se aproximadamente quatro centímetros. Curiosamente, a freqüência respiratória não se altera, mas ocorre um aumento da incursão da respiração; o volume corrente e a ventilação por minuto aumentam, mas a capacidade pulmonar não se altera ou diminui [2]. No segundo trimestre, o crescimento do bebê que se alimenta pela placenta prevalece. Ocorre um aumento na atividade da tireóide materna, o que eleva ainda mais o me- tabolismo e a prolactina produzida pela hipófi se dobra de quantidade. Pode continuar ocorrendo dispnéia pela inade- quação entre a demanda e a resposta ventilatória e podem surgir palpitações quando a gestante faz exercícios físicos de baixa a moderada intensidade, já que sua freqüência cardíaca de repouso apresenta uma média de 15 batimentos por minuto a mais que a da mulher não grávida [3]. No terceiro trimestre a expansão do útero impede a descida total do diafragma durante a inspiração, sendo que, perto do parto, este músculo pode elevar-se até quatro centímetros ou mais. A pressão que o feto faz para cima pode deslocar as cos- telas, aumentando o perímetro costal inferior da mãe de 10 a 15 cm e aumentando o ângulo subcostal. Nessa fase da gestação a excursão respiratória fi ca limitada nas bases dos pulmões e torna- se mais ativa no ápice e na região medial, o que aumenta ainda mais a difi culdade de respirar no fi nal da gravidez [2]. A relaxina torna as articulações costocondrais mais móveis, tornando mais comum a ocorrência de dores, con- tusões e até rompimentos [4]. Durante toda a gestação as glândulas mamárias são estimuladas pelos hormônios de forma a aumentar seu volume, adaptando-se para o período de lactação. Esse aumento no volume da mama por um au- mento da massa, causa uma resistência à mobilidade na parte superior anterior do tórax, difi cultando ainda mais as inspira- ções, principalmente na postura de decúbito dorsal [5]. Do ponto de vista biomecânico, ocorre um aumento da base de sustentação para compensar o deslocamento cor- poral anterior provocado pelo útero aumentado. A maioria das grávidas refere dores nas costas e pode-se observar um aumento na lordose lombar [4]. Esta adaptação modifi ca o posicionamento das inserções dos pilares posteriores do músculo diafragma, diminuindo sua efi ciência biomecânica. Há aumento na volemia e, em conseqüência, na pré-carga cardíaca devido ao aumento da freqüência cardíaca e ao au- mento no condicionamento das fi bras cardíacas em resposta aos estrógenos, visando melhorar a irrigação uterina [6]. As paratireóides da mãe passam a fi car maiores e mais funcionantes nesse período para suprir as necessidades fetais de cálcio. A prolactina dobra de quantidade novamente e as concentrações de HCG e progesterona caem quando se aproxima o período do parto para que possam ocorrer as con- trações uterinas e a conseqüente expulsão do feto [1]. Quando se iniciam as contrações há um refl exo neuroendócrino que, via medula e hipotálamo, leva à liberação de ocitocina que auxilia na dilatação para o parto (por meio das contrações) e na con- tração das células mioepiteliais em volta das aréolas mamárias para que haja ejeção do leite para a amamentação [5]. Verifi ca-se que, desde a concepção, ocorrem mudanças fi siológicas e biomecânicas que alteram a função respiratória da gestante, não existindo na literatura índices que quanti- fi quem os efeitos das alterações nas pressões inspiratória e expiratória na mobilidade do tórax. Objetivo Frente ao colocado, este estudo se propõe a avaliar a mobilidade torácica em três fases gestacionais, utilizando a mensuração da toracometria e das medidas das pressões respiratórias máximas. Material e métodos Foram selecionadas 200 mulheres, com biotipos semel- hantes e faixa etária entre 18-25 anos. As participantes foram divididas em quatro grupos: 50 não grávidas (controle – NG), 50 gestantes na primeira quinzena do terceiro mês de gesta- ção (grupo 1 – G1), 50 mulheres na primeira quinzena do sexto mês de gestação (grupo 2 – G2) e 50 participantes na primeira quinzena do nono mês de gestação (grupo3 – G3). Para a mensuração da toracometria, foram utilizados um manuvacuômetro e fi ta métrica. As participantes foram gestantes que eram acompanhadas no Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sendo que todas deveriam ser saudáveis, sem nenhuma complicação, estarem na primeira gestação, com biotipo e faixa etária semelhantes. Todas foram convidadas e assinaram um termo de consentimento pós-informado sobre o estudo. As gestantes e as mulheres do grupo controle foram sub- metidas a mensurações de toracometria utilizando a técnica de cirtometria dirigida [7], quando foram coletadas medidas de três regiões: axilar, processo xifóide e últimos arcos costais, durante bipedestação. As mulheres eram orientadas a expirar profundamente, e o fi sioterapeuta realizava a primeira medida, depois faziam a inspiração profunda para a realização da Fisioterapia_v7n1.indb 6Fisioterapia_v7n1.indb 6 1/2/2006 18:49:411/2/2006 18:49:41 7Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 segunda medida. Em seguida calculava-se a diferença entre as duas medidas. O procedimento era repetido três vezes, utilizando-se para o estudo a maior das três medidas. Em seguida, realizava-se as medidas das pressões inspiratória e expiratória máximas, com as mulheres em postura sentada, por meio de manovacuômetro. Também foram coletadas três medidas em cada teste e, para efeito de estudo, utilizou-se a maior das três medidas. Entre cada coleta de medida foi feito um intervalo de três minutos para repouso. Foi realizada análise estatística descritiva e teste t de Student. Resultados e discussão Não foi encontrada diferença estatisticamente signifi cativa (p < 0,005) na idade e altura entre os quatro grupos e, como esperado, encontrou-se diferença signifi cativa de peso entre os grupos – em função do ganho de peso durante a gestação. Os dados mostram que os grupos estudados eram semelhantes quanto à idade, altura e peso no grupo NG (Tabela I). Tabela I - Valores das médias de idade, peso e altura nos quatro grupos estudados. Grupo Idade Peso Altura Não gestante - NG 23,5 ± 1,9 52,6 ± 3,9 1,57 ± 0,02 Grupo 1 22,9 ± 2,1 53,1 ± 5,0 1,57 ± 0,03 Grupo 2 23,1 ± 1,2 61,7 ± 7,8 1,55 ± 0,05 Grupo 3 23,3 ±1,8 63,2 ± 5,3 1,56 ± 0,03 Verifi cou-se que a mobilidade torácica, nos três segmentos avaliados e as pressões inspiratória e expiratória máximas di- minuíram de forma signifi cativa (p < 0,005) entre os grupos NG e G1, G1 e G2 e, G2 e G3, demonstrando uma sobre- carga orgânica que se inicia no primeiro trimestre, decorrente principalmente das alterações hormonais e cardiocirculatórias e, que se acentuam com o desenvolvimento do feto e con- seqüente compressão biomecânica do coração e pulmões associada com a mudança dos ângulos de origem e inserção dos músculos respiratórios (Tabela II e III). Tabela II - Valores das médias da PIMáx (pressão inspiratória máxima) e PEMáx (pressão expiratória máxima) nos quatro grupos estudados. Grupos Pressão Inspi- Pressão Expi- ratória Máxima ratória Máxima Não gestante - NG -81,2 ± 15,1 +80,9 ± 23,9 Grupo 1 - G1 -54,6 ± 12,6 +52,7 ± 13,6 Grupo 2 - G2 -41,7 ± 9,3 +47,6 ± 11,0 Grupo 3 - G3 -33,9 ± 10,9 +41,5 ± 12,4 Pode-se observar na Tabela II que a alteração mais signifi - cativa nas pressões respiratórias máximas ocorre no primeiro trimestre de gestação, desfazendo o mito de que a gestante vai apresentar maior difi culdade para respirar somente no fi nal da gravidez, em função da compressão do diafragma desencadeada pelo crescimento do feto. Também é interessante observar que a pressão inspiratória máxima é a medida que diminui de forma mais acentuada, o que explica a difi culdade para respirar durante a realização de pequenos a médios esforços no fi nal da gestação. Tabela III - Valores das médias das diferenças das cirtometrias em inspi- ração profunda e expiração profunda. Grupos Axilar Xifóidea Abdominal Não gestante - NG 8,1 ± 0,5 6,9 ± 0,8 1,2 ± 1,2 Grupo 1 - G1 6,2 ± 0,8 5,3 ± 0,3 0,7 ± 0,3 Grupo 2 - G2 5,4 ± 1,3 4,8 ± 1,1 0,5 ± 0,9 Grupo 3 - G3 5,1 ± 2,0 4,5 ± 1,8 0,3 ± 1,2 Como pode ser observado na Tabela III, a mobilidade torácica da população estudada era predominantemente axilar. A diminuição da expansibilidade diminuiu em aproxi- madamente um terço nas regiões axilar e xifóide, quando comparamos os quatro grupos e, chama a atenção o fato da mobilidade dos últimos arcos costais, no grupo G3, ser um quarto do valor encontrado no grupo NG, demonstrando o efeito biomecânico que ocorre em função da expansão do volume abdominal em direção à caixa torácica. Conclusão Os achados são compatíveis com as informações sobre as modifi cações impostas à gestante pelas alterações orgânicas que ocorrem a partir do primeiro trimestre. Desta forma, os programas de atividade física a serem elaborados para esta população devem considerar os exercícios compatíveis com a sobrecarga imposta, a possibilidade de execução de movimen- tos compensatórios durante o período de gestação, especial- mente de musculatura respiratória, o treinamento das posturas de repouso e o controle voluntário da respiração, dentro do padrão respiratório mais funcional para a gestante. Referências 1. Peixoto S. Pré-Natal. 2 ed. São Paulo: Manole; 1981. 2. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos – Fundamentos e técnicas. 3 ed. São Paulo: Manole; 1998. 3. Polden M, Mantle J. Fisioterapia em ginecologia e obstetrícia. 7 ed. São Paulo: Livraria Santos; 1997. 4. Tedesco JJA. A grávida. Suas indagações e as duvidas do ob- stetra. São Paulo: Atheneu; 2000. 5. Martins JAP. Manual de obstetrícia. 1 Fisiologia. São Paulo: EDUSP; 1982. 6. Guyton e Hall. Fisiologia humana e o mecanismo das doenças. 6 ed. São Paulo: Guanabara Koogan; 2000. 7. 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Fisioterapia_v7n1.indb 7Fisioterapia_v7n1.indb 7 1/2/2006 18:49:421/2/2006 18:49:42 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 20068 Ocorrência de bioagentes patogênicos nos eletrodos utilizados na Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea nos serviços de fi sioterapia da Baixada Fluminense RJ Occurrence of pathogenic bioagents on electrodes used in Transcutaneous Nerve Stimulation in physical therapy services in Baixada Fluminense RJ José Tadeu Madeira de Oliveira, M.Sc.*, Antônio Neres Norberg, D.Sc.*, Fábio dos Santos Borges, M.Sc.*, Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, M.Sc.*, Ingrid Jardim de Azeredo Souza**, Rafael Jardim de Azeredo Souza***, Ailton da Silva Gonçalves****, Betânia Martins Alhan de Oliveira*****, Fabiano Sanches Guerra****** *Docentes da Universidade Iguaçu, **Docente da Universidade Iguaçu, Especialista em Fisioterapia Cinética Funcional, ***Docente da Universidade Iguaçu, Especialista em Fisioterapia Cinética Funcional, ****Farmacêutico graduado pela Universidade Iguaçu, *****Farmacêutica graduada pela Universidade Iguaçu, Especialista em Parasitologia, ******Iniciação científi ca da Universidade Iguaçu Resumo A Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (TENS) é uma corrente de baixa intensidade, onde o contato entre o eletrodo e a pele são mecanismos indispensáveis da técnica terapêutica. Os eletrodos são constituídos de borracha siliconizada, acoplados à superfície cutânea com o uso de um gel eletricamente condutivo. Esses eletrodos de tamanho e marcas diversifi cadas, utilizados em pacientes, foram submetidos à fricção longitudinal com o auxílio de um suabe, em um tempo máximo de duas horas e foram semeados em meio de cultura Brewer e Sabouraud. O crescimento obtido foi repicado para meios de cultura Agar-sangue, Agar-hipertônico- manitol e meio seletivo para Pseudomonas e Staphylococcus. As colônias foram identifi cadas por caracteres culturais e provas bioquímicas de identifi cação, através de sistema BioMerieux Vitek. O crescimento fúngico foi identifi cado por caracteres morfológicos, culturais, pro- vas bioquímicas e morfológicas quando necessárias. Os resultados demonstraram 59,5 % de positividade nas amostras avaliadas para a presença de agentes fúngicos e bacterianos. Sugere-se uma neces- sidade de prevenção da transmissão de bioagentes por contato, e melhoria na qualidade do atendimento em fi sioterapia. Palavras-chave: bioagentes patogênicos, eletrodos. Artigo original Abstract The transcutaneous Nerve Stimulation (TNS) is a low intensity current where contact between electrode and skin are indispensable mechanisms of therapy. The electrodes are made of silicone rubber coupling to cutaneous surface using a electrically conductive gel. These electrodes of size and mark diversifi ed used in patients, were submitted to longitudinal friction with support of a swab, in maximum time of two hours and were seed in Brewer and Sabouraud medium. The growth obtained was transplanted to Agar-blood media, Agar-hipertonic-manitol and selective medium to Pseudomonas and Staphylococcus. The colonies were identifi ed by characters of culture and biochemical proof of identifi cation through the BioMerieux Vitek system. The fungal growth was identifi ed by morphological characters, cultural, biochemical and morfological proof when necessary. The results showed 59,5 % of positivity in evaluated samples for the presence of fungal and bacterium agents. Its suggested necessity of preventing bioagents transmission by contact and advance in attendance quality in physical therapy. Key-words: Pathogenic bioagents, electrodes. Artigo recebido em 3 de agosto de 2004; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: José Tadeu Madeira de Oliveira, Av. Mirandela, 1354 casa 02 Centro 26520-099 Nilópolis RJ, Tel: (21) 3761- 7152/9614-8940, E-mail: tadeumadeira@bol.com.br Introdução Durante séculos, a estimulação elétrica vem sendo utilizada para o alívio da dor. Na Grécia, enguias elétricas foram utilizadas pelos antigos egípcios no tratamento de lesões e dores de cabeça [1]. Em Roma, um escravo de nome Antero, emancipado pelo Imperador Tibério, pas- seava às margens do rio Tibre, tropeçou em um peixe elétrico e curou-se de sua crise de gota. Fatos históricos relataram outras situações. William Gilbert, no século XVI Fisioterapia_v7n1.indb 8Fisioterapia_v7n1.indb 8 1/2/2006 18:49:431/2/2006 18:49:43 9Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 considerado pai da eletroterapia moderna, Joham Jottob Krugger, em 1744, e Jean Louis Jalbert também utilizaram a eletricidade como recursos terapêuticos e novos adventos impulsionaram a eletroterapia como conhecimento cientí- fi co. O reconhecimento da eletroterapia como recurso oriundo da eletricidade estática e a corrente galvânica que surgiu após a Revolução Francesa mostram a evolução deste procedimento terapêutico [2]. Na década de 60, após a publicação da Teoria da Compor- ta por Melzack & Wall em 1965, os aparelhos de estimulação elétrica passaram a ser utilizados no controle da dor [2]. A Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (TENS) é uma corrente de baixa intensidade onde o contato entre o eletrodo e a pele são mecanismos indispensáveis na técnica terapêutica. Esses dados foram ratifi cados por Kitchen & Basin [3]. Os eletrodos são constituídos de borracha siliconizada com impregnação de carbono. Tais eletrodos são reutilizáveis, geralmente acoplados à superfície cutânea com o uso de um gel eletricamente condutivo. Existem outros tipos de eletrodos disponíveis, porém Nolan relatou que os eletrodos de borracha-silicone são mais efi cazes e economicamente viáveis [4]. Jadassohn [5] observou uma reação eczematosa em pacien- te medicado com iodofórmio, utilizado como cicatrizante. Alguns dias após, já com a melhora do quadro clínico, o autor reaplicou iodofórmio no tegumento do paciente, obtendo intensa reação eczematosa. No V Congresso Alemão de Der- matologia, Jadassohn comunicou sua observação, relatou que os agentes externos, chamados de contactantes representam uma grande fonte de contaminação. Andrade et al. [6] relataram que o meio hospitalar, incluin- do o ar, a água e as superfícies inanimadas que cercam o pa- ciente, guardam íntima relação com as infecções hospitalares, podendo proporcionar focos de contato e de transmissão. Apesar das principais causas de infecção hospitalar estarem relacionadas com a susceptibilidade do doente à infecção e com os métodos de diagnóstico e terapêuticos, não se pode deixar de considerar os aspectos de assepsia e de higiene do ambiente hospitalar. Muitos recursos para se evitar a ocorrência do problema vêm sendo utilizados. O Center for Disease Control [7] referiu que as organizações de saúde têm desenvolvido normas de assepsia e higiene hospitalar. Schaefer [8] ratifi cou que essas normas são universais porque devem ser aplicadas a todos os doentes, em todos os tipos de tratamentos e para todos os instrumentos e equipamentos. Os protocolos propostos atribuem ênfase especial às barreiras de proteção contra os microrganismos. Segundo Russo et al. [9], a crescente incidência de doenças transmissíveis conduz à necessidade de uma cons- cientização sobre os riscos reais de contaminação das mais diversifi cadas formas terapêuticas, dentre elas em especial a fi sioterapia. Sabe-se que, em termos de fi sioterapia, pouco se conhe- ce sobre os aspectos microbiológicos que envolvem esta atividade, fato que despertou receio e apreensão sobre o mecanismo de se identifi car focos de contato e de trans- missão de agentes patogênicos, dentre elas os causadores de dermatite de contato, com registros em outros países, evidenciando-se a necessidade de reconhecer a situação para estabelecermos uma abordagem mais específi ca com resultados mais concretos. Material e métodos Foram coletadas 24 amostras para pesquisa nos serviços de fi sioterapia, situados na região da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, no período de maio a julho de 2002. A análise dos materiais foi realizada no laboratório de micro- biologia e imunologia do programa de mestrado em ciências biológicas da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Iguaçu. Os eletrodos condutores de eletro- estimulação, de tamanho e marcas diversifi cadas utilizados em pacientes, foram submetidos à fricção longitudinal na superfície horizontal com o auxílio de um suabe embebido em solução salina (cloreto de sódio 0,9 %). No tempo máximo de duas horas após a coleta foram semeadas em meio de cultura de Brewer e Sabouraud. O meio de Brewer foi incubado em estufa a 37º C por 24 horas. O crescimento obtido foi repicado para meios de cultura Agar-sangue, Agar-hipertônico-manitol e meio seletivo para os gêneros Pseudomonas e Staphylococcus. As colônias desenvolvidas foram identifi cadas por caracteres culturais e provas bioquímicas de identifi cação, através do sistema BioMerieux Vitek. O crescimento fúngico no meio de Sabouraud foi identifi cado por caracteres morfológicos, culturais e provas bioquímicas quando necessárias. Resultados Das 24 amostras dos eletrodos de borracha siliconizada carbonizada de eletroestimulação analisadas, 59,5 % apresen- taram a ocorrência de agentes bacterianos e/ou agentes fún- gicos, nos serviços de fi sioterapia por municípios pesquisados na região da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Encontrou-se uma freqüência mais elevada para os bioagentes fúngicos (42,5 %), enquanto que os bacterianos apresentaram 17,0 % (Tabela I). De acordo com a ocorrência de agentes bacterianos nos eletrodos de eletroestimulação, foi encontrada uma freqüência igualmente distribuída entre Pseudomonas aeruginosa e Staphylo- coccus aureus (Tabela II). Na ocorrência de agentes fúngicos, houve uma freqüência bem distribuída de acordo com a seguinte ordem: Alternaria spp. 4,25 %, Aspergillus spp. 8,5 %, Cladosporium spp. 4,25 %, Candida albicans 8,5 %, Penicillium spp. 8,5 %, Nigrospora spp. 4,25 %, Sporothrix spp. 4,25 % (Tabela III). Fisioterapia_v7n1.indb 9Fisioterapia_v7n1.indb 9 1/2/2006 18:49:441/2/2006 18:49:44 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200610 Tabela I - Distribuição de bioagentes bacterianos e fúngicos em 24 amostras coletadas nos eletrodos de eletroestimulação, utilizados nos serviços de fi sioterapia por municípios pesquisados. Municípios Agentes Agentes Totais bacterianos fúngicos Nº (%) Nº (%) Nº (%) Belford Roxo 00 00 02 8,5 02 8,5 Mesquita 02 8,5 04 17,0 06 25,5 Nova Iguaçu 01 4,25 00 00 01 4,25 Japerí 01 4,25 02 8,5 03 12,75 Queimados 00 00 02 8,5 02 8,5 São João de Meriti 00 00 00 00 00 00 Totais 04 17,0 10 42,5 14 59,5 Tabela II - Ocorrência de agentes bacterianos por gênero e espécies em 24 amostras coletadas nos eletrodos de eletroestimulação, utilizados nos serviços de fi sioterapia. Gênero e especies Nº (%) Pseudomonas aeruginosa 02 8,5 Staphylococcus aureus 02 8,5 Totais 04 17,0 Tabela III - Ocorrência de agentes fúngicos por gênero e espécies em 24 amostras coletadas nos eletrodos de Eletroestimulação, utilizados nos serviços de fi sioterapia pesquisados. Gênero e especies Nº Amostras + (%) Alternaria spp 01 4,25 Aspergillus spp 02 8,5 Candida albicans 02 8,5 Cladosporium spp 01 4,25 Nigrospora spp 01 4,25 Penicillium spp 02 8,5 Sporothrix schenckii 01 4,25 Totais 10 42,5 Discussão Lima et al. [10] relataram que grande parte das infecções cutâneas é causada por fungos e bactérias, estando estas isoladas ou em conjunto. Enfatiza-se a possibilidade da ocorrência de infecção hospitalar, não somente pela existência de bioagentes patogênicos, mas pela suscetibilidade do indivíduo à infecção independente dos aspectos de limpeza do ambiente e respectivos equipamentos. Schaefer [8] relatou a importância das normas universais de assepsia, desinfecção e esterilização para todos os pacientes, instrumentos e equipamentos como forma de controle de infecção e biossegurança, chamando-nos a atenção para a realização de um estudo mais específi co voltado à fi sioterapia. Santos [11] corroborou com Rey [12], quando disse que a alta umidade entre diversos segmentos corporais suporta a atividade e o crescimento de grande quantidade de bactérias, fungos e leveduras. Em nossos estudos, das 24 amostras dos eletrodos de borracha siliconizada carbonizada de eletroes- timulação analisadas, houve uma freqüência de 59,5 % de agentes bacterianos e/ou fúngicos, confi rmando a necessidade de conscientização dos profi ssionais de fi sioterapia sobre os riscos de contaminação por microrganismos. Silva [13] defi niu que a infecção implica a colonização de células, tecidos ou ca- vidades corporais do hospedeiro, enquanto que a colonização indica a presença do microrganismo sem causar doença. Diaz & Rojas [14] alertaram para o fato de que todas as super- fícies, principalmente as horizontais, devem ser limpas, pois a força de gravidade facilita a produção e proliferação de microrganismos veiculadores de contaminação e infecção. Rey [12] relatou que a pele apresenta uma microbiota, com predomínio de espécies do gênero Staphylococcus aureus, além de bacilos gram-negativos, representados principalmente por enterobactérias. A freqüência de positividade nos eletrodos de eletroestimulação em nosso estudo para agentes bacterianos apresentou-se menor que para agentes fúngicos (17,0 % e 42,5 %, respectivamente). Com relação aos agentes bacterianos, foi encontrada uma freqüência igualmente distribuída entre Pseudomonas aeruginosa (50 %) e Staphylococcus aureus. Adams et al. [15], Levy et al. [16], Santos et al. [17], Santos et al. [18] e Gould [19] ratifi caram que o Staphylococcus aureus, enquanto um dos membros patogênicos da microbiota do homem, é encontrado em inúmeras partes do corpo, como fossas nasais, mãos, garganta, intestino, e princi- palmente pele e mucosas. O mesmo foi descrito por Zaits et al. [20] quanto aos elementos fúngicos, citando a candidose como ubíqua e a Candida albicans como integrante desta microbiota. E este microorganismo pode ser transmitido de pessoa para pessoa, através do contato direto ou indireto [21,22]. Morrinson et al. [23], Hosking et al. [24], Jantunem et al. [25], Verscharaegen et al. [26], Wald et al. [27] evidenciaram que as infecções por Aspergillus representam a segunda causa mais comum de infecção por fungos em pacientes. Cahill [328], ao realizar biópsias de pele com aspergilose cutânea por Aspergillus niger, confi rmou sua patogenia colocando a pele contaminada como transmissor e a água como veicula- dora do patógeno, o que ratifi ca a possibilidade de as placas eletrocondutoras serem mediadoras destes patógenos com a pele. Enquanto que Austwich & Longbottom [29] se referiram a uma outra espécie, o Aspergillus fumigatus, como sendo de importância clínica nas infecções e alergias. Nossos estudos apontaram para uma freqüência bem distribuída de agentes fúngicos na seguinte ordem: Alternaria spp. 4,5 %, Aspergillus spp. 8,5 %, Candida albicans 8,5 %, Penicillium spp. 8,5 %, Cladosporium spp. 4,25 %, Nigrospora spp. 4,25 % e Sporothrix spp. 4,25 %. Frampton [1] alertou sobre a irritação cutânea durante a aplicação prolongada, fazendo-se necessária a lim- peza da área a serem aplicados os eletrodos a fi m de evitar essas irritações. Fisioterapia_v7n1.indb 10Fisioterapia_v7n1.indb 10 1/2/2006 18:49:451/2/2006 18:49:45 11Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Frampton [1] ratifi cou que a resposta alérgica aos eletrodos, à fi ta adesiva, ou ao gel representam o principal problema à aplicação do TENS. A Organização Mundial de Saúde (OMS/ WHO) considera as parasitoses como elementos de máxima im- portância nas ciências da Saúde. Baseados nessas informações, Madeira-Oliveira et al. [30] relataram a relevância da inclusão da disciplina de parasitologia na formação acadêmica de fi siotera- pia, da qual pouco se conhece sobre os aspectos microbiológicos que envolvem a prática terapêutica. O resultado da pesquisa aponta para a necessidade de um protocolo de assepsia efi caz destes eletrodos, nos serviços de fi sioterapia, promovendo o bem estar físico e a integridade dos pacientes. Conclusão Registra-se na região da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, nos serviços de fi sioterapia, a ocorrência de bioagentes patogê- nicos nos eletrodos de borracha siliconizada com impregnação de carbono, utilizados na eletroanalgesia transcutânea. Entre as amostras analisadas, 59,5 % conferiram posi- tividade de patógenos com predominância dos elementos fúngicos em 42,5 % e bacterianos em 17 %. Levanta-se a suposição de que a freqüência de microrga- nismos patogênicos nos eletrodos associados a microbiota cutânea do homem, baixa do sistema imune e técnica ina- dequada de aplicação promovam a ocorrência de possíveis doenças dermatológicas. Considerando-se a análise dos resultados, relata-se a ne- cessidade da realização de técnica asséptica na região cutânea de aplicação da eletroanalgesia no homem e nos eletrodos. Faz-se necessário um cuidado preventivo e de biossegurança no que se refere à prática fi sioterapêutica em relação a bioagen- tes patogênicos. É preciso, também, que se dê continuidade na pesquisa com fundamentação na investigação dos bioagentes patogênicos na abordagem fi sioterapêutica, identifi cando procedi- mentos apropriados para desinfecção dos eletrodos e da pele. Referências 1. Frampton VM. Pain control with the aid of transcutaneous nerve stimulation. Physiotherapy 1982;68(3):77-81. 2. Leitão A, Leitão V. Clínica de reabilitação. 1a ed. São Paulo: Atheneu; 1995. p.313-4. 3. Kitchen S, Basin S. Eletroterapia de Clayton. 10a ed. São Paulo: Manole; 1998. p.350. 4. Nolan MF. Conducticve differences in electrodes used with transcutaneous electrical nerve stimulation devices. Phys Ther 1991;71:746-51. 5. Jadassohn J. [1985]. Tur Kenntnis Der Medikamentosen Derma- tosen. Verhandeugen. Deutchen Dermatigishen Gereleschaet. Finster Congrees. Graz Wien: W Braunmiller; 1896. p.106. 6. Andrade D, Angerami ELS, Padovani CR. Condição microbi- ológica dos leitos hospitalares antes e depois de sua limpeza. 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Fisioterapia_v7n1.indb 11Fisioterapia_v7n1.indb 11 1/2/2006 18:49:461/2/2006 18:49:46 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200612 Efeitos fi siológicos da fi sioterapia respiratória convencional associada à aplicação de BiPAP no pós-operatório de cirurgia cardíaca Physiological effects of the conventional respiratory physical therapy associated to BiPAP in post cardiac surgery Kamilla Tays Marrara*, Aline Marques Franco*, Valéria Amorim Pires Di Lorenzo, D.Sc.**, Fernanda Negrini, M.Sc.***, Sérgio Luzzi**** *Graduandas do curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Araraquara – UNIARA, **Professora do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, ***Professora do curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Araraquara – UNIARA, ****Médico cirurgião da equipe de cirurgia cardíaca da Santa Casa de Misericórdia de Araraquara Resumo O objetivo deste estudo foi avaliar as alterações da função pulmonar pela Força Muscular Respiratória (FMR-PImax e PEmax), Capacidade Vital (CV), Freqüência Respiratória (FR) e Oxigenação (SpO2) do pré-operatório ao 1º pós-operatório (PO) e deste à pré-alta; e verifi car a efi cácia da Fisioterapia Respiratória Convencional (FRC) associada à Ventilação não-invasiva (BiPAP) no PO de cirurgia cardíaca. Incluiu-se 27 pacientes, 12 tratados com FRC associada à BiPAP (Grupo1-G1) e 15 com FRC (Grupo2- G2), com avaliação das variáveis citadas no pré-operatório, 1ºPO, 3ºPO e pré-alta. Para a análise utilizou-se Friedman ANOVA e Mann-Whitney (p ≤ 0,05). Quanto a FMR, apenas G1 aumentou signifi cativamente do 1ºPO para pré-alta, e os valores de PImax apresentaram-se signifi cativamente maiores que G2. Em ambos os grupos, a CV aumentou signifi cativamente do 1º para o 3ºPO, mas apenas G1 mostrou valores da pré-alta próximos ao pré-operatório. A oxigenação aumentou do 3ºPO à pré-alta para ambos, mas apenas o G1 aproximou-se dos valores do pré-operatório. Quanto à FR, apenas o G1 reduziu signifi cativamente no PO. A FRC associada à BiPAP mostrou-se mais efi ciente do que a FRC isolada, no aumento da FMR, CV e oxigenação, e na reversão da FR, apesar dos valores não terem sido recuperados completamente até a pré-alta. Palavras-chave: ventilação não-invasiva, cirurgia cardíaca, fi sioterapia respiratória, função pulmonar. Artigo original Abstract The aim of this study was to evaluate the pulmonary function alterations by the Respiratory Muscular Force (RMF- MIP and MEP), Vital Capacity (VC), Breathing Frequency (BF) and Oxigenation (SpO2) from the Pre-operation to the 1st post-operation (PO) and from that one to the pre-discharge; and to verify the effi ciency of the Conventional Respiratory Physical Therapy (CRP) associated to the Non-invasive ventilation (BiPAP) in the cardiac surgery PO. 27 patients were included; 12 of them were treated with FRC associated to the BiPAP (Group 1-G1) and 15 with FRC (Group 2-G2). These patients were evaluated in the pre-operation ,1st PO, 3rd PO and pre-discharge as for the mentioned variables. To the analysis were used Friedman ANOVA and Mann-Whitney (p ≤ 0,05). As for the RMF, only G1 increased signifi cantly from the fi rst PO to the pre-discharge, and the values of MIP were signifi cantly bigger than G2. In both groups, the VC increased signifi cantly from the 1st to the 3rd PO, but only G1 presented pre-discharge values near to the pre-operation. The oxigenation increased from the 3rd PO to the pre-discharge for both, but only the G1 came near to the pre- operation values. As for RF, only the G1 decreased signifi cantly in the PO. In conclusion, the CRF associated to the BiPAP seemed be more effi cient than the isolated CRF, in the RMF increasing, VC and oxigenation, and in the RF reversion, despite of the values have not been completely recuperated until the pre-discharge. Key-words: non-invasive ventilation, cardiac surgery, respiratory physical therapy, pulmonary function. Artigo recebido em 4 de junho de 2004; aceito em 15 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Kamilla Tays Marrara, Av. Filomeno Rispoli, 179 Parque Santa Marta 13564-200 São Carlos SP, Tel.: (16) 33762559, E-mail: kamillatm@bol.com.br Introdução A cirurgia cardíaca predispõe a alterações sistêmicas que demandam cuidados específi cos no Pós-Operatório (PO) [1]. Dentre essas alterações destacam-se o tempo de Circulação Extra-Corpórea (CEC), uso de anestésicos, dor pós-operatória, medo, presença de fatores de risco, entre outros, sendo comum ocorrer mudanças no padrão respira- Fisioterapia_v7n1.indb 12Fisioterapia_v7n1.indb 12 1/2/2006 18:49:471/2/2006 18:49:47 13Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 tório, incoordenação muscular e diminuição na complacência pulmonar devido às alterações nas propriedades mecânicas do pulmão e da parede torácica. A anestesia está associada a efeitos deletérios sobre a função pulmonar, sendo que a alteração do padrão respiratório, que se torna superfi cial, e a disfunção diafragmática causam a hipoventilação alveolar, redução da resposta ventilatória e hipoxemia. As alterações fi siológicas e mecânicas somam-se para diminuir a função pulmonar e a Força Muscular Respiratória (FMR), de maneira a comprometer a recuperação do paciente no PO de cirurgia cardíaca, pois a manutenção adequada da FMR é essencial para a ventilação pulmonar e para a facilita- ção da desobstrução das vias aéreas [2]. A anormalidade na mecânica pulmonar após cirurgia cardíaca é caracterizada por um padrão restritivo com redução da Capacidade Vital (CV) e da Capacidade Residual Funcional (CRF) [3]. A CV está geralmente reduzida a aproximadamente 40% dos valores pré- operatórios, durante um período de no mínimo dez a quatorze dias [4,5]. Para prevenção e tratamento dessas complicações pós-operatórias, a Fisioterapia Respiratória Convencional (FRC) tem sido amplamente utilizada, demonstrando ser tão efi ciente quanto outras técnicas de expansão pulmonar, recuperando a função pulmonar. Os pacientes que receberam FRC associada à Ventilação Não-Invasiva (VNI) por dois níveis de pressão positiva (BiPAP) [6], também apresentaram diminuição signifi cativa da incidência dessas complicações, em comparação aos pacientes que não realizaram qualquer abordagem fi sioterapêutica [7-9]. O uso da VNI reduz o trabalho respiratório e aumenta a complacência do sistema respiratório por reverter microatelectasias do pulmão e, tanto o padrão respiratório restritivo, como a hipoxemia não podem ser prevenidos, mas modifi cados [10], sem mudança nos índi- ces de FMR [9,11], não dependendo do esforço do paciente para gerar inspirações profundas. Sendo assim, apresenta uma vantagem em relação a outros métodos, principalmente em PO imediato, no qual o paciente é pouco cooperativo ou incapaz de realizar inspiração máxima, promovendo aumento dos valores de volumes e capacidades pulmonares [12]. É também verifi cado que a utilização de VNI, por pelo menos dois a três dias após a cirurgia, leva a efeitos benéfi cos na função pulmonar e índices de oxigenação [7]. Tendo em vista o número de complicações que ocorrem no PO de cirurgia cardíaca e os efeitos benéfi cos da FRC associada à BiPAP constatados na literatura, justifi ca-se a realização deste estudo, contribuindo com maior número de trabalhos científi cos que fundamentem a associação desta técnica de ventilação como forma de reversão das compli- cações pós-operatórias. Os objetivos deste estudo foram avaliar as alterações da função pulmonar do pré-operatório para o 1º PO e verifi car a evolução das medidas de FMR, CV, Freqüência Respiratória (FR) e Oxigenação (SpO2) no 1º PO até a pré-alta, verifi cando a efi cácia da aplicação de BiPAP na diminuição das alterações da mecânica pulmonar frente ao ato cirúrgico. Material e métodos Foram avaliados 40 pacientes, com idade média de 58,1 ± 9,06 anos, submetidos a cirurgia cardíaca eletiva de revascu- larização do miocárdio com incisão mediana e CEC realizada no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Araraquara, dos quais 13 não concluíram o protocolo de tratamento devido a instabilidade hemodinâmica, arritmias não-controladas e de- sistência do tratamento no PO. Todos os pacientes assinaram um Termo de Consentimento mediante orientações sobre o protocolo proposto, em atendimento à resolução 196/96 do CNS, e este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário de Araraquara. Foram excluídos os pacientes submetidos a cirurgia de emergência, baixo nível de compreensão e idade inferior a 50 anos. Os pacientes foram selecionados e agrupados randomi- camente em dois grupos, compondo um Grupo 1 (G1) com 12 pacientes, tratado com FRC associada a aplicações de BiPAP (duas vezes ao dia, com duração de 30 minutos cada aplicação), e Grupo 2 (G2) com 15 pacientes, tratado com FRC, duas vezes ao dia. As avaliações foram realizadas no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e pré-alta, sendo que no pré-operatório os pacientes receberam informações sobre os procedimentos cirúrgicos e fi sioterapêuticos a serem executados nos diferentes períodos de sua recuperação (período de internação), sendo todos sub- metidos a uma avaliação clínica na qual constavam os dados pessoais, antropométricos, diagnóstico médico, antecedentes pessoais, dados relacionados à cirurgia, além de medidas es- pecífi cas como: FMR (PImax e PEmax), CV, FR e SpO2. A FMR foi obtida com um manovacuômetro da marca Ger-Ar escalonado em cmH2O, segundo metodologia pro- posta por Black&Hyatt [13]. Para a realização da manobra o paciente foi instruído a realizar um esforço inspiratório máximo após expiração completa para a mensuração da Pressão Inspiratória Máxima (PImax). Da mesma forma, o paciente foi instruído a realizar um esforço expiratório máximo ao fi nal de uma inspiração máxima para a mensura- ção da Pressão Expiratória Máxima (PEmax). Para a obtenção da CV utilizou-se um Ventilômetro de Wright da marca Omedha, e o paciente foi instruído a inspirar profundamente e expirar lentamente, através de um bucal, até soltar todo ar, utilizando clipe nasal. A FR foi mensurada pelos movimentos da caixa torácica durante os ciclos respi- ratórios realizados em um minuto. A SpO2 foi obtida de forma não invasiva através do oxí- metro de pulso portátil 1001 acoplado a um dos dedos do paciente, indicador ou anular, sendo verifi cado sem utilização de máscara de oxigênio e antes da aplicação de BiPAP. Essas medidas específi cas foram obtidas de forma pa- dronizada pelo mesmo examinador, com o paciente sentado de forma confortável. Após a realização da cirurgia cardíaca, os pacientes receberam o tratamento proposto de acordo com o seu grupo, sendo que a FRC constava de exercícios Fisioterapia_v7n1.indb 13Fisioterapia_v7n1.indb 13 1/2/2006 18:49:481/2/2006 18:49:48 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200614 Figura 1 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável PImáx no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G1. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. respiratórios diafragmáticos associados à movimentação ativa e/ou ativo-assistida nos membros superiores, mobilização de membros inferiores, manobras desobstrutivas, auxílio da tosse e técnicas reexpansivas. A aplicação de BiPAP foi utilizada na modalidade espontânea, ciclada em dois níveis de pressão positiva, com um nível pressórico durante a inspiração (IPAP) de 8 a 12 cmH2O e um nível pressórico durante a expiração (EPAP) de 4 a 6 cmH2O. Para cada variável estudada foi realizado o cálculo das Médias e dos Desvios Padrões e aplicada a análise de Friedman ANOVA (p ≤ 0,05) entre as situações, e a análise Mann-Whitney para comparação dos grupos quanto ao Índice de Ganho do 1º PO à pré-alta ( =((Pré-alta – 1ºPO)/1ºPO*100) ). Resultados A Tabela I mostra as características antropométricas, demográfi cas, clínicas e cirúrgicas dos pacientes envolvidos neste estudo para G1 e G2. As fi guras 1, 2, 3 e 4 ilustram o comportamento dos valores de FMR (PImax e PEmax), onde se pode constatar uma queda signifi cativa entre o pré- operatório e o 1º PO tanto para G1 como para G2. Apenas para o G1 (FRC + BiPAP) houve aumento signifi cativo dos valores do 1º PO para pré-alta, sendo este aumento observado a partir do 3º PO. Quando comparado o Índice de Ganho, em percentual, do 1º PO para pré-alta hospitalar, nos diferentes protocolos utilizados, observou-se que o G1 apresentou valores de PImax signifi cativamente maiores do que os do G2, sendo que para PEmáx, o Índice de Ganho entre os grupos não se mostrou signifi cativo. No que se refere a CV, as fi guras 5 e 6 demonstram os re- sultados obtidos entre as fases pré-operatório e pré-alta, sendo observado, do pré-operatório para 1º PO, diminuição signifi cativa dos valores, tanto para G1 como para G2, e um aumento signifi - cativo de 1º para 3º PO, mas apenas o grupo tratado com FRC associada à BiPAP mostrou valores de pré-alta próximos aos de pré-operatório. Quando comparados G1 e G2, quanto ao Índice de Ganho de 1º PO para pré-alta hospitalar, foi observado que não houve diferença signifi cativa entre eles. Tabela I - Características antropométricas, clínicas e cirúrgicas em média e desvio padrão dos pacientes estudados. Variáveis G1 G2 Idade (anos) 58,7 ± 8,5 57,7 ± 9,76 Sexo 11 homens / 1 mulher 11 homens / 4 mulheres Peso (kg) 76,6 ± 14 67,00 ± 11,3 Altura (m) 1,70 ± 0,11 1,64 ± 0,07 Índice de massa corpórea 24,22 25,00 Tempo total de cirurgia (horas) 3,08 ± 0,6 2,95 ± 0,65 Tempo de perfusão (min) 71,75 ± 10,96 77,81 ± 26,35 Figura 2 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável PImáx no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G2. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Figura 3 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável PEmáx no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G1. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Fisioterapia_v7n1.indb 14Fisioterapia_v7n1.indb 14 1/2/2006 18:49:491/2/2006 18:49:49 15Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Figura 6 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável CV no pré- operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G2. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Figura 4 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável PEmáx no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G2. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Figura 5 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável CV no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G1. **p<0,01. Figura 7 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável SpO2 no pré- operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G1. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Em relação à oxigenação, verifi cou-se redução signifi cativa dos valores de pré-operatório à 1º PO para ambos os grupos, assim como um aumento também signifi cativo de 3º PO à pré-alta, mas apenas os resultados do grupo tratado com FRC associada à BiPAP aproximaram-se dos valores do pré- operatório, como pode ser verifi cado nas fi guras 7 e 8. No que se refere ao Índice de Ganho, em percentual, para SpO2 entre G1 e G2, do 1º PO para pré-alta, não foi observada alteração signifi cativa. Quanto à FR, não foram observados valores signifi cativos entre as situações de pré-operatório à pré-alta, tanto para G1 como G2, mas em relação ao Índice de Ganho do 1º PO para pré-alta, comparando-se ambos os grupos, verifi cou-se redução signifi cativa dos valores no grupo tratado com FRC associada à BiPAP, em comparação ao grupo tratado com FRC isolada, como pode ser verifi cado na Tabela II. Figura 8 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável SpO2 no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G2. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Fisioterapia_v7n1.indb 15Fisioterapia_v7n1.indb 15 1/2/2006 18:49:501/2/2006 18:49:50 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200616 Tabela II - Pressão Inspiratória Máxima e Freqüência Respiratória média, Delta de PImáx e da FR do 1º PO à Pré-alta para G1 e G2. PImáx média FR média ∆PImáx ∆FR 1º PO Pré-alta 1º PO Pré-alta G1 28,4 ± 14,8 55,6 ± 27,7 21,2 ± 4,9 18,1 ± 3,0 48,4 ± 15,4* -11,9 ± 16,6* G2 39,2 ± 12,7 42,4 ± 16,8 20 ± 3,1 21,5 ± 2,6 -2,37 ± 43,4 14,9 ± 21,5 Valores expressos em Média e Desvio Padrão; PImáx média no 1º PO e pré-alta de cirurgia cardíaca, em cmH2O; FR média no 1º PO e pré-alta de cirurgia cardíaca, em rpm; ∆PImáx = Delta de PImáx ((Pré-alta – 1º PO)/1º PO * 100); e ∆FR = Delta de FR; *p < 0,05-Mann-Whitney. Discussão Este estudo investigou os efeitos da cirurgia cardíaca associada à CEC, com relação à função pulmonar em pacientes submetidos a rotina de FRC associada à BiPAP e FRC isolada. Com relação a FMR, observou-se que a cirurgia cardíaca associada à CEC produz prejuízos sobre a mecânica respiratória, reduzindo, assim, a capacidade dos músculos inspiratórios e expiratórios em gerar tensão sufi ciente para vencer o trabalho imposto, por desvantagem mecânica ou por dor pós-operatória. Têm sido constatados valores menores de PImáx e PEmáx em relação aos valores pré-operatórios nos pacientes em PO de cirurgia cardíaca [14], estando esta diminuição relacionada ao trauma que os músculos respiratórios são submetidos durante esse procedi- mento cirúrgico e ao aparecimento de alta taxa de complica- ções pulmonares [15] e, apesar desses valores aumentarem com o passar dos dias da recuperação, não retornam aos valores pré-operatórios até oito semanas após a ocorrência da cirurgia [1,2,16]. Neste estudo verifi cou-se que, mesmo com uma redução dos valores de FMR (PImáx e PEmáx) do pré-operatório para o 1º PO, para ambas as variáveis, apenas o G1 (FRC associada a BiPAP) apresentou aumento do 1º PO à pré-alta hospitalar. Quanto à CV, em alguns estudos, como o de Matte et al. [17], quando se associou aplicação de BiPAP à FRC, obser- vou-se aumento dos valores desta variável, assim como os apresentados neste estudo, sendo que os valores de pré-alta aproximaram-se dos verifi cados no pré-operatório. A uti- lização de BiPAP leva a um menor trabalho da musculatura respiratória e aumento dos valores de volumes e capacidades pulmonares, não necessitando do esforço do paciente para gerar inspirações profundas [12]. Em relação à oxigenação, os resultados apresentados por Ferreira et al. [7], Matte et al. [17] e Ingwersen et al. [18] demonstraram melhora dos valores de SpO2 com a utiliza- ção de FRC associada à BiPAP, assim como os resultados apresentados por Joris et al. [19] em PO de gastroplastia, sendo que este resultado também pôde ser verifi cado neste estudo, observando-se que os valores da pré-alta mostraram- se bem próximos dos valores do pré-operatório. Sugerindo que o aumento da Oxigenação deveu-se ao aumento da Pressão Parcial de Oxigênio (PaO2), da relação V/Q, da relação PaO2/FiO2, diminuição do shunt pulmonar e da diferença alvéolo-arterial, apesar destas variáveis não terem sido estudadas. No que se refere a FR observada neste estudo, verifi cou-se menores valores para o grupo tratado com FRC associado à BiPAP quando comparado ao grupo tratado apenas com FRC na pré-alta hospitalar, estando de acordo com os resul- tados apresentados por Matte et al. [17], devendo-se à maior abertura alveolar e melhora da complacência. Alguns autores relatam que a efetividade da VNI depende do ajuste adequado dos parâmetros do ventilador, sendo que para BiPAP utiliza-se pressão inspiratória fi xada entre 8 e 12 cmH2O, enquanto a expiratória varia de 4 a 6 cmH2O, e para tais níveis pressóricos obteve-se ganho dos valores de CV e SpO2 [7,17], assim como os resultados observados neste estudo, em que ambas as variáveis na pré-alta mostraram valores próximos aos do pré-operatório. Este estudo apresentou algumas limitações, tais como número de pacientes avaliados em cada grupo e o número e tempo de aplicações diárias de BiPAP, assim como controle das complicações no PO pela análise radiográfi ca; e a ausên- cia de um grupo controle (sem tratamento). Entretanto, em nosso estudo, todos os pacientes foram tratados, seguindo uma rotina estabelecida pelo setor de fi sioterapia. Conclusão Em conclusão, foi verifi cado que os pacientes submetidos a cirurgia cardíaca associada à CEC apresentaram prejuízos sobre a função pulmonar, e a utilização da FRC associada à BiPAP aplicada aos pacientes no PO de cirurgia cardíaca foi efi caz no ganho de FMR (PImáx) e no aumento da CV e oxigenação, assim como na reversão da FR. Observando- se, dessa forma, maior efi ciência quando a FRC é associada a BiPAP do que quando aplicada isoladamente, porém os valores basais de função pulmonar não foram recuperados completamente até a pré-alta hospitalar. Referências 1. Johnson D, Hurst, T, Thomson D, Mycyk T, Burbridge BT, May- ers I. Respiratory function after cardiac surgery. J Cardiothorac Vasc Anesth 1996;10:571-7. Fisioterapia_v7n1.indb 16Fisioterapia_v7n1.indb 16 1/2/2006 18:49:511/2/2006 18:49:51 17Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 2. Garcia RCP, Costa D. Treinamento muscular respiratório em pós-operatório de cirurgia cardíaca eletiva. 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O objetivo deste estudo foi identifi car e classifi car o risco para desenvolvimento de TVP nos pacientes internados na enfermaria de traumato-orto- pedia do Hospital Estadual Rocha Faria (HERF) - Rio de Janeiro. Foi utilizado o delineamento de estudo epidemiológico descritivo, prospectivo, aleatório, de prevalência, por um período de quatro meses (maio/2003 a agosto/2003). A coleta de dados baseou-se no protocolo de profi laxia de TVP modifi cado. A amostra foi composta por 96 pacientes, 53 do sexo feminino e 43 do sexo masculino masculino, com idade variando de 04 a 97 anos; (média de 54,4 ± 24,1; p < 0,05). Dos 96 pacientes, 8 (8%) foram classifi cados no risco baixo, 44 (46%) no risco médio e 44 (46%) no risco alto para desenvolvimento de TVP. Identifi cou-se alta prevalência (92%) para o risco de desenvolvimento de TVP na amostra estudada. Palavras-chave: trombose venosa profunda, prevalência, pacientes hospitalizados, traumato-ortopedia. Artigo original Abstract Deep vein thrombosis (DVT) is a common disease in hospitalized patients, mainly in postoperative ones and immobilized. The aim of this study was to identify and to classify the risk for development of DVT in patients hospitalized in orthopedic infi rmary of the Rocha Faria Hospital (RFH) – RJ-Brazil. It was a descriptive, prospective and prevalence study for a period of four months (2003/may to 2003/aug). The collection of data was based on the protocol of DVT prophylaxis modifi ed. The sample was composed for 96 patients, 53 female and 43 male, with age varying of 04 to 97 years old; (average of 54,4 ± 24,1; p < 0.05). 8 patients (8%) were classifi ed in low risk, 44 (46%) in intermediate risk and 44 (46%) in high risk for DVT development. It was concluded that exists high prevalence (92%) for DVT development in the studied sample. Key-words: deep vein thrombosis, prevalence, hospitalized patients, orthopedic diseases. Artigo recebido em 28 de setembro de 2004; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Luciano Pereira de Oliveira, Condomínio Fazenda Mombaça, 05 km 481 BR 101, 23900-000 Angra dos Reis RJ, Tel: (21)9447-1243, E-mail: oliveira.lp@uol.com.br. Introdução A trombose venosa profunda (TVP) é uma condição na qual um coágulo forma-se no interior de uma veia profunda, geralmente dos membros inferiores e mais raramente dos membros superiores, apresentando predominantemente fi brina e hemácias com quantidade variável de plaquetas e leucócitos [1]. Este trombo pode tomar proporções capazes de ocluir totalmente a passagem de sangue pelo vaso aco- metido, o que levaria a uma recanalização vascular, fato con- tribuinte para o não aparecimento de sinais e sintomas como dor local e edema distal em até 50% dos pacientes [2-5]. A TVP é um transtorno grave, de difícil diagnóstico [5,6] e com alta incidência na população feminina, principalmente nas idosas onde há um maior risco, abrangendo todas as etnias [7]. Porém, outros estudos [8,9] têm demonstrado que Fisioterapia_v7n1.indb 18Fisioterapia_v7n1.indb 18 1/2/2006 18:49:521/2/2006 18:49:52 19Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 adolescentes e crianças com idade inferior a 12 anos, assim como neonatos, apresentam igual risco para desenvolverem TVP, despertando a atenção quanto à presença real do risco em todas as faixas etárias. As complicações da TVP constituem alto risco para a vida do paciente. A mais temida é a embolia, provocada pelo desprendimento do trombo de uma veia proximal. Este des- prendimento de trombo é perigoso, pois é capaz de ocluir totalmente um vaso sangüíneo de pequeno calibre no pulmão. A esse fenômeno dá-se o nome de tromboembolia pulmonar (TEP), condição de custo oneroso para seu tratamento, que apresenta alta incidência em pacientes hospitalizados e é identifi cada como causa de mortes [2,10-14]. Possibilidades terapêuticas farmacológicas, físicas e cirúrgicas têm sido utilizadas para tratar a TVP. No entanto, a prevenção é a melhor estratégia para os pacientes interna- dos [15,16]. Segundo o consenso estabelecido no V Fórum Nacional da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular – SBACV [17], sobre Profi laxia da TVP e Trombo- embolismo Pulmonar, a profi laxia é recomendada a todos os pacientes, clínicos ou cirúrgicos hospitalizados, bem como para aqueles em domicílio, que necessitem permanecer aca- mados por tempo prolongado. O método de escolha, físico e/ou farmacológico, é determinado de acordo com a clas- sifi cação do risco de cada paciente em baixo, médio ou alto, de sua condição clínica e da disponibilidade dos diferentes métodos em cada hospital. É consenso que todos os pacientes hospitalizados devam começar a deambular precocemente, seja qual for o risco para desenvolvimento de TVP [17-19]. No entanto, esse método físico nem sempre é possível, devido às condições clínicas apresentadas pelo paciente, principalmente os restritos ao leito. Dessa forma, torna-se indispensável a presença de um fi sioterapeuta para acompanhar de perto a evolução de cada paciente hospitalizado, bem como para prescrever e imple- mentar o método físico mais adequado para cada caso. A alta prevalência de distúrbios traumato-ortopédicos, principalmente fraturas dos membros inferiores com indica- ções cirúrgicas, documentada por Sá [20] nas enfermarias de traumato-ortopedia do Hospital Estadual Rocha Faria – HERF, levou-nos a questionar se os pacientes internados nas diversas clínicas deste hospital apresentariam risco para desenvolverem TVP, e se a afi rmativa fosse verdadeira, qual seria o índice de risco para desenvolvimento de TVP nesta população. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi identifi car e classifi car o risco para desenvolvimento de TVP nos pacientes internados na enfermaria de traumato-ortopedia do HERF - RJ. Material e métodos A população pesquisada contou com indivíduos internados na enfermaria de traumato-ortopedia do HERF, oriundos de diversas regiões do Estado do Rio de Janeiro, com as mais variadas condições traumato-ortopédicas, no período de maio a agosto de 2003. A amostra foi composta por 96 indivíduos (n = 96), dos quais 53 (55%) eram do sexo feminino e 43 (45%), do sexo masculino, com média de idade 54,4 ± 4,8 anos (p < 0,05). O delineamento de estudo foi o epidemiológico descri- tivo, prospectivo, randomizado de prevalência. Para a coleta dos dados, utilizou-se um formulário pa- drão onde constava o nome do paciente, idade, sexo, peso, altura, diagnóstico médico, etiologia e procedimento médico prescrito e o protocolo de profi laxia de TVP de Bastos et al. [21], obedecendo aos critérios de risco propostos na IV Conferência de Consenso de Terapia Antitrombótica [22], como demonstra a Figura 1. Figura 1 - Formulário padrão utilizado para coleta de dados e classifi cação de risco de TVP [21]. Nome Idade Sexo Peso (kg) Altura (m) IMC Clínica: Leito: Diagnóstico Proc. Terapêutico Etiologia Fatores de Risco: • Idade > 40 anos • Eclâmpsia • Síndrome nefrótica • Cirurgia prolongada + 60` • Idade > 65 anos* • Pré-eclâmpsia • Infarto agudo Miocárdio • Trauma grave* • Infecção grave • Puerpério • TVP/EP + 2 anos • Trauma • Variz de grosso calibre • Neoplasia • Doença autoimune • AVE • Grande queimadura • Ileíte regional • Restrição ao leito > 5h* • ICC • Obesidade (IMC ≥ 30) • Retocolite ulcerativa • Imobilização • TRM** • Anticoncepcional oral • Diabetes • Anestesia geral • Outros **Alto risco: Classificação do risco: • Grande cirurgia ortopédica quadril/joelho • Trombofilia (síndrome pró-trombótica) • BAIXO (0 a 1 ponto) • Prostectomia trans. / grande cirurgia p/ câncer • MÉDIO (2 a 4 pontos) • Traumatismo raquimedular • TVP/EP a menos de 2 anos • ALTO (5 ou mais pontos) Legenda: IMC – Índice de Massa corporal; TRM – Traumatismo Raquimedular; AVE – Acidente Vascular Encefálico; ICC – Insuficiência Cardíaca Congestiva; TVP/EP – Trombose Venosa Profunda/Embolia Pulmonar Fisioterapia_v7n1.indb 19Fisioterapia_v7n1.indb 19 1/2/2006 18:49:531/2/2006 18:49:53 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200620 A utilização do protocolo é dada da seguinte forma: para cada fator de risco assinalado conta-se 1 ponto, para os fatores de risco marcados por um asterisco (*) conta-se 2 pontos. Então, o somatório de todos os fatores de risco assinalados determina se o paciente em questão pertence a uma classe de risco baixo, se for somado zero ou 1 ponto; risco médio, se somarem 2 a 4 pontos; ou alto, se a pontuação for igual ou maior a 5 pontos. Os fatores de risco: “Grande cirurgia ortopédica quadril/joelho”, “Prostectomia trans./Grande cirurgia p/câncer”, “Traumatismo raquimedular”, “Trom- bofi lia -Síndrome pró-trombótica” e “TVP/EP” (Trombose Venosa Profunda/Embolia Pulmonar a menos de dois anos) são considerados fatores de alto risco. Os dados foram coletados por fi sioterapeuta, semanal- mente, diretamente do prontuário e por entrevista com o paciente ou o seu responsável. Não foram solicitados exames complementares com o objetivo de avaliar todas as condições patológicas contidas no formulário padrão. Somente foram assinaladas as patologias diagnosticadas que constavam no prontuário do paciente, ou relatadas pelo próprio paciente ou familiar. Toda fratura fechada foi considerada como perten- cente ao fator de risco “trauma”, enquanto que as fraturas expostas, os politraumatismos e as amputações (cirúrgica ou traumática) foram considerados como fator de risco “trauma grave”. As infecções de pós-operatório e as pseudoartroses in- fectadas pertenceram ao fator de risco “infecção grave”. Determinou-se um tempo de restrição no leito em cinco horas tendo como base o estudo de Campos [23], pois o fator de risco “Restrição prolongada no leito” contida no protocolo de Bastos [21] não contemplava tal informação. O item Traumatismo raquimedular (TRM), foi acrescido de dois asteriscos (**) para indicação direta de alto risco de desenvolvimento de TVP. Resultados e discussão Dos 96 pacientes avaliados, 25 (26 % ± 9%, p < 0,05) apresentavam idade abaixo dos 40 anos; 35 (36,5 % ± 10% p < 0,05) entre 40 e 65 anos; e 36 (37,5 % ± 10%, p < 0,05) pacientes acima de 65 anos. O trauma, incluindo o trauma grave, foi o fator de risco que mais esteve presente nas avalia ções. Noventa e dois pacientes (95,8% ± 4%, p < 0,05) tiveram confi rmado o diagnóstico de fratura. Tal condição contribuiu para a alta freqüência de imobilizações (54 % ± 10%, p < 0,05) e restrições ao leito por um tempo maior que 5 horas (50% ± 10%, p < 0,05). A Tabela I demonstra a distribuição da amostra de acordo com os fatores de risco e freqüência das condições. O tempo médio dos procedimentos cirúrgicos realizados nos pacientes foi de duas horas, contadas a partir da sedação. Portanto, estes pacientes já possuíam risco baixo de desen- volvimento de TVP. Ao fi nal de cada avaliação, obteve-se a identifi cação da classe de risco para desenvolvimento de TVP do paciente. O risco baixo teve a menor prevalência, somente 8 (8%) pacien- tes. Quanto ao risco médio e alto, houve uma equivalência na prevalência, para ambos, de 44 (46%). Tabela 1 - Distribuição da amostra nos principais fatores de risco de TVP avaliados em 96 pacientes internados nas enfermarias de traumato- ortopedia do HERF. Fatores de risco Freqüência % Trauma 83 86,46 Imobilização 52 54,17 Restrição ao leito > 5h 48 50,00 Idade > 65 anos 36 37,50 Idade entre 40 e 65 anos 35 36,46 Cirurgia prolongada > 60 minutos 12 12,50 Outros 12 12,50 Trauma grave 9 9,38 Diabetes 7 7,29 Infecção grave 5 5,21 Anestesia geral 6 6,25 Obesidade 2 2,08 Grande cirurgia ortopédica Quadril/Joelho 2 2,08 Síndrome nefrótica 1 1,04 Infarto Agudo do Miocárdio 1 1,04 Acidente Vascular Encefálico 1 1,04 A fi gura 2 ilustra a distribuição da amostra na classifi cação de risco para desenvolvimento de TVP. Figura 2 - Distribuição percentual da classifi cação de risco de desenvolvi- mento na amostra estudada. Os resultados obtidos neste estudo são semelhantes aos encontrados por Bergqvist et al. [24], realizado no Hospital Geral de Malmo, na Suécia, para prevenção de trombose venosa profunda após cirurgia. Os autores identifi caram uma incidência menor que 10%, para o risco baixo, enquanto que para o risco médio esse número elevou-se, atingindo uma incidência de 10 a 40% e para o risco alto de 40 a 80%. Fisioterapia_v7n1.indb 20Fisioterapia_v7n1.indb 20 1/2/2006 18:49:531/2/2006 18:49:53 21Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Conclusão O risco baixo para desenvolvimento de TVP teve a menor prevalência, somente 8 (8%) pacientes. Quanto ao risco mé- dio e alto, houve uma mesma prevalência, para ambos, de 44 (46%), estando o trauma, a idade avançada, a imobilização e a restrição ao leito associados diretamente com o alto risco para desenvolvimento de TVP, seja no paciente hospitalizado ou domiciliado. Estudos futuros devem abordar ações terapêuticas e pro- fi láticas para redução do risco de desenvolvimento de TVP em pacientes hospitalizados ou domiciliados. Referências 1. Hirsh J, Hull RD, Raskob GE. Tromboembolismo venoso, epidemiologia e patogênese da trombose venosa. J Am Coll Cardiol 1986;8:104B-13. 2. Mitchel C, Cotran RS. Distúrbios hemodinâmicos, trombose e choque. In: Cotran RS, Kumar V, Collins T. Robins, patologia estrutural e funcional. 6a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p. 101-23. 3. Goodman CC, Snyder TEK. Diagnóstico diferencial em fi siote- rapia. 3a ed.. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p. 124. 4. Molnar LJ. Diagnóstico por métodos não-invasivos. In: XXXII Congresso Brasileiro de Angiologia e Cirurgia Vascular; 1997; Curitiba. Anais. Curitiba: SBACV; 1997. p.292-5. 5. Pulido LS. Trombosis venosa profunda. Rev Sanid Def Nac (Santiago de Chile) 1987;4(3):260-4. 6. Leyja AV, Ramírez FR. 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Fisioterapia_v7n1.indb 21Fisioterapia_v7n1.indb 21 1/2/2006 18:49:541/2/2006 18:49:54 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200622 Ocorrência de Staphylococcus aureus em fi sioterapeutas que atuam em clínicas e hospitais de Governador Valadares – Minas Gerais Staphylococcus aureus occurrence in physical therapists of Governador Valadares – Minas Gerais Daniel de Assis Santos*, Mariane Cândida Medeiros Oliveira**, Liliane Lisboa Oliveira**, Ludmila Reis Milardi**, Sabrina Ferreira Almeida**, Lígia Jordão Valentim**, Bartira Pereira Neves**, Mario Antonio Baraúna***, Ruiz Angelo Ventura da Silva**** *Doutorando em Microbiologia, Universidade Vale do Rio Doce UNIVALE, **Acadêmicos de fi sioterapia – Universidade Vale do Rio Doce UNIVALE, ***Doutor em Motricidade Humana – Centro Universitário do Triângulo UNITRI, ****Mestre em Fisioterapia – Centro Universitário do Triângulo UNITRI Resumo Trinta profi ssionais fi sioterapeutas foram selecionados para verifi car o estado de portador de Staphylococcus aureus na mu- cosa nasal. A coleta foi realizada por meio de um swab esterilizado que, posteriormente foi inserido em um tubo contendo caldo de enriquecimento. Para o isolamento e identifi cação utilizaram-se as provas bioquímicas manita, Dnase, catalase e coagulase. Verifi cou-se que todos os indivíduos pesquisados eram portadores de uma espé- cie de estafi lococo, sendo que 52% eram portadores de S. aureus, 43% de S. epidermidis e 5% possuíam S. saprophyticcus. Fatores como idade, sexo, área de atuação profi ssional, internações prévias e uso de medicamentos não infl uenciaram de forma signifi cativa os resultados obtidos (p<0,05). O presente estudo demonstrou que a maioria dos profi ssionais pesquisados possuía S. aureus na mucosa nasal. O estado de portador assintomático desse microrganismo pelos fi sioterapeutas pode apresentar risco potencial de transmissão aos pacientes por eles atendidos. Palavras-chave: Staphylococcus aureus, portador assintomático, fi sioterapeuta. Artigo original Abstract Thirty physical therapists from Governador Valadares (Southeast of Brazil) were selected to investigate the nasal carrier occurrence of Staphylococcus aureus. Specimens for culture were collected from the nares with cotton swabs. The nasal swabs were cultured on enrichment broth. After that, culture was transferred to manitol salt agar, Dnase agar and citrated serum to identify the isolates. Our data revealed that all investigated professionals were nasal carrier of one Staphylococcus specie (52% - S. aureus; 43% - S. epidermidis; 5% - S. saprophyticcus). Conditions as age, sex, place of work, medicine use and previous diseases didn’t signifi cantly infl uence obtained results (p<0.05). This work demonstrated that the majority of investigated professionals was nasal carriers of S. aureus, and there is a transmission risk of the microorganism to their patients. Key-words: Staphylococcus aureus, nasal carrier, physical therapist. Recebido 17 de fevereiro de 2005; aceito 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Daniel de Assis Santos, Laboratório de Microbiologia, Universidade Vale do Rio Doce, E-mail: danielassisantos@yahoo.com. br Introdução O gênero Staphylococcus compreende patógenos comuns ao homem e outros animais, os quais, ocasionalmente, provocam doenças que representam risco à vida. As infecções estafilocócicas correspondem, na maioria das vezes, a condições comuns da pele de ferimentos. A maioria dessas doenças decorre de transferência de esta- filococos presentes na microbiota normal de indivíduos infectados, porém assintomáticos, para um indivíduo susceptível [1,2]. Os estafi lococos são cocos gram-positivos, não formadores de esporos, resistentes ao dessecamento, sendo prontamente disseminados pelas partículas de poeira presentes no ar e na superfície. Três são as espécies de Staphylococcus que apresentam importância para o homem: Staphylococcus saprophyticcus, Staphylo- Fisioterapia_v7n1.indb 22Fisioterapia_v7n1.indb 22 1/2/2006 18:49:551/2/2006 18:49:55 23Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 coccus epidermidis e Staphylococcus aureus. Embora todas essas espé- cies possam ser encontradas na microbiota normal do trato respiratório (especialmente narinas e garganta) e pele, elas são potencialmente patogênicas, sendo que a espécie S. aureus está relacionado às doenças humanas com maior freqüência [1,3]. As bactérias acima mencionadas, principalmente S. aureus, causam uma variedade de doenças, incluindo acne, piodermite, furúnculos, pústulas, impetigo, pneumonia, osteomielite, endocardite e artrite. Certas linhagens são responsáveis pela Síndrome do Choque Tóxico (SCT), que se caracteriza por febre alta, vômitos, diarréias, e ocasional- mente, o óbito. Além disso, pode ocorrer a contaminação do alimento por uma toxina produzida pelo S. aureus, que depois de ingerida, promove um aumento da permeabilidade intes- tinal, podendo levar a graves diarréias e vômitos. A espécie S. epidermidis é freqüentemente responsável por infecções de indivíduos submetidos a cateter endovenoso, enquanto que S. saprophyticus pode provocar condições infecciosas no trato urinário [1]. Indivíduos hígidos podem ser portadores e, na maioria dos casos, esses estafilococos não provocam doenças. As crianças são freqüentemente infectadas durante a primeira semana de vida por meio de contato com a mãe ou outro indivíduo com quem mantenha contato próximo. Condições infecciosas graves ocorrem quando a resistência do hospedeiro encontra-se debilitada em decorrência de alterações hormonais, enfermidades imu- nossupressoras (como a AIDS), ferimentos, tratamento com esteróides ou outras drogas que comprometam o sistema imune [1]. O uso indiscriminado de antibacterianos resulta em uma seleção natural de linhagens resistentes de estafi lococos, principalmente S. aureus, que possui uma grande capacidade de adquirir resistência aos antibióticos (2). As infecções hos- pitalares causadas por isolados resistentes aos antimicrobianos ocorrem com maior freqüência nos indivíduos debilitados. Dessa forma, os pacientes se contaminam com estafi loco- cos oriundos dos profi ssionais hospitalares, dentre estes, fi sioterapeutas, os quais podem ser portadores assintomáti- cos. Embora algumas infecções adquiridas na comunidade possam ser tratadas com penicilina, as amostras de S. aureus causadoras de doenças devem ser analisadas individualmente quanto à susceptibilidade e resistência aos fármacos antibac- terianos [1]. A prevenção de infecções estafi locócicas é problemática, uma vez que muitos indivíduos são portadores assintomáti- cos e pelo fato de algumas doenças, como a acne, poderem ser transmitidas pelo simples contato com os dedos contami- nados. Em ambientes hospitalares, tais como alas cirúrgicas e berçários, os profi ssionais infectados por S. aureus devem ser excluídos ou tratados com drogas antibacterianas de uso tópico e, ou sistêmico, a fi m de erradicar a condição de portador [1,2]. É difícil impedir a disseminação dos estafi lococos de uma pessoa para outra e procedimentos simples como coberturas de superfícies cutâneas expostas por meio de feridas cirúrgicas podem minimizar o risco de contaminação [4]. O presente trabalho teve, como principal objetivo, a averiguação do estado de portador nasal assintomático de bactérias do gênero Staphylococcus em profi ssionais fi siotera- peutas que atuam em diferentes centros, clínicas e hospitais na cidade de Governador Valadares, Minas Gerais. A análise do perfi l de portador é importante, pois pode auxiliar na prevenção da disseminação, do profi ssional para seus pacien- tes, de S. aureus. Material e métodos Foram selecionados 30 profi ssionais fi sioterapeutas, sendo 23 do sexo feminino e 7 do sexo masculino, que atuam em diferentes centros, clínicas de fi sioterapia e hospitais de Governador Valadares em Minas Gerais, para verifi car a ocorrência de S. aureus na mucosa nasal. Informações como área de atuação profi ssional, uso de medicamentos e internações prévias foram anotadas para posterior análise de correlação com os resultados dos testes de identifi cação dos isolados. Os profi ssionais foram submetidos a um swab nasal que foi, imediatamente, inserido em um tubo contendo caldo de enriquecimento. Em seguida os tubos foram incubados a 37ºC por um período de 24 horas. Decorrido o período de incubação, foram executados o isolamento e a identifi cação das espécies de Staphylococcus segundo Oplustil et al. [5]. O isolamento foi feito pela transferência de uma pequena alíquota do caldo de enriquecimento para ágar manita, que foi incubado a 37ºC por 24 horas. As colônias obtidas foram submetidas às provas bioquímicas Dnase, coagulase e catalase. A leitura dos resultados foi executada visualmente e, por observação do conjunto das provas bioquímicas, os isolados foram classifi cados em S. aureus, S. epidermidis ou S. saprophyticus. A análise da correlação dos resultados de portador assintomático em relação ao sexo, idade, área de atuação, internações prévias e uso de medicamentos foi realizada por meio do teste não-paramétrico de Wilcoxon. Um valor de p < 0,05 foi considerado como estatisticamente signifi cativo. Resultados Foi verifi cado que 100% dos indivíduos pesquisados possuíam, em sua microbiota nasal, uma espécie de Staphy- lococcus, sendo que em 52% a espécie identifi cada foi S. au- reus, em 43% foi S. epidermidis e em 5% foi S. saprophyticcus, como demonstra a Figura 1. A análise estatística revelou que nenhum dos parâmetros analisados (idade, sexo, área de atuação profi ssional, internações prévias e uso de medi- camentos) infl uenciou de forma signifi cativa os resultados observados (p<0,05). Fisioterapia_v7n1.indb 23Fisioterapia_v7n1.indb 23 1/2/2006 18:49:561/2/2006 18:49:56 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200624 Figura 1 - Ocorrência de espécies de Staphylococcus nos profi ssionais fi sioterapeutas pesquisados. portador nasofaríngeo assintomático constitui a fonte mais freqüente desses microrganismos. Esse fato demonstra existir um risco potencial para os pacientes atendidos por fi siotera- peutas portadores do microrganismo, principalmente se os profi ssionais atuarem em áreas ou locais nos quais predomi- nem pacientes imunocomprometidos. Além da simples deter- minação do estado de portador assintomático, seria desejável a determinação do perfi l de susceptibilidade e resistência a drogas antibacterianas das bactérias isoladas para que uma intervenção terapêutica com o intuito de eliminar o estado de portador fosse corretamente selecionada, evitando casos de falha da terapêutica, reduzindo a possibilidade da seleção de mutantes resistentes do microrganismo e, conseqüentemente, diminuindo o risco de contaminação de pacientes. Conclusão Concluindo, estudos de determinação da ocorrência de S. aureus em profi ssionais da saúde, não só em fi sioterapeutas, são ainda necessários para confi rmar os dados aqui apresen- tados e alertar a comunidade sobre as condições causadas por esse microrganismo, conscientizando sobre a possibilidade de preveni-las. Referências 1. Madigan MT, Martinko JM, Parker J. Doenças microbianas de transmissão interpessoal. Microbiologia de brock. 2 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall; 2004. 2. 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[6], buscando identifi car fatores que deter- minassem o estado de portador de S. aureus verifi caram, pesquisando jovens universitários, que a ocorrência foi maior em homens, diferindo dos dados aqui apresentados em que a análise estatística revelou não haver diferença es- tatisticamente signifi cativa entre homens e mulheres. Além disso, a freqüência da ocorrência aqui encontrada (52% dos indivíduos possuíam S. aureus na microbiota nasal) foi superior àquela verifi cada por Cole et al. [6], que foi de 27%. Bischoff et al. [7] obtiveram resultados semelhantes aos de Cole et al. [6], classifi cando 29% dos indivíduos pesquisados como portadores de S. aureus. Por outro lado, Pena et al. [8], em experimentos similares aos realizados no presente estudo, pesquisaram 71 pacientes em hemodiálise e averiguaram a ocorrência de S. aureus em 55%, semelhante ao valor aqui apresentado (52%). Ao estudar 250 pacientes portadores de piodermite, Naga- raju et al. [9] isolaram S. aureus de 80,8%, confi rmando a etio- logia dessa condição e reforçando o fato de que a mesma pode ser transmitida por meio de portadores assintomáticos do microrganismo. A detecção de S. aureus realizada em profi s- sionais da fi sioterapia e demais profi ssionais de saúde deveria ser executada rotineiramente, visto que a bactéria se encontra colonizando uma parte considerável da população mundial como mencionado acima (27% a 80,8%). Segundo Murray et al. [4], a disseminação dos microrganismos resistentes aos antibióticos é muito difícil de se controlar, pois o estado de Fisioterapia_v7n1.indb 24Fisioterapia_v7n1.indb 24 1/2/2006 18:49:571/2/2006 18:49:57 25Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Medida da amplitude tóraco-abdominal como método de avaliação dos movimentos do tórax e abdome em indivíduos jovens saudáveis Thoracoabdominal amplitude as evaluation method of thorax and abdomen movement in healthy young individual Audrey Borghi-Silva, D.Sc.*, Renata Gonçalves Mendes**, Elisabeth Santos Silva**, Higia L. Paulucci**, Paula C. Picchi**, Valéria Amorim Pires Di Lorenzo, D.Sc.*** *Profa Dra do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, Laboratório de Fisioterapia Cardiovascular – UFSCar, **Alunas do Curso de Fisioterapia da UNIARA, ***Profa Dra do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, Laboratório de Eletromiografi a e Espirometria, UFSCar, Trabalho referente à iniciação científi ca do curso de Fisioterapia do centro universitário de Araraquara – UNIARA Resumo Introdução: A medida da amplitude tóraco-abdominal (ATA), por meio da cirtometria, é um método utilizado para avaliar os movi- mentos do tórax e abdome de pacientes submetidos à reabilitação pulmonar, durante intervenções terapêuticas e cirúrgicas. Objetivos: Padronizar a medida de expansibilidade tóraco-abdominal por meio da cirtometria de indivíduos jovens saudáveis, realizando-a por três examinadores diferentes, em dias alternados. Método: Foram estuda- dos 100 indivíduos jovens saudáveis, com 20,8 ± 2 anos, sendo 50 do sexo masculino e 50 do sexo feminino. A medida da ATA foi realizada durante 3 inspirações e expirações máximas nos pontos da prega axilar, processo xifóide e cicatriz umbilical, por meio de fi ta métrica, por três examinadores diferentes, em dias alternados, considerando a maior medida para análise. Resultados: Não foram observadas diferenças estatisticamente signifi cativas pela ANOVA entre as medidas. O padrão respiratório costal foi predominante, em ambos os sexos, entretanto, este maior no sexo feminino (p < 0,05). Conclusão: Pela padronização da medida da amplitude dos movimentos tóraco-abdominais proposta neste estudo, foi possível verifi car que esta metodologia mostrou-se confi ável na avaliação fi sioterapêutica quando obtida por diferentes examinadores. Palavras-chave: amplitude tóraco-abdominal, fi sioterapia, cirtometria. Artigo original Abstract Introduction: The thoracoabdominal amplitude measurement, by cirtometry, is a method that has been used to evaluate the thoracoabdominal movements of patients submitted to the pulmonary rehabilitation, during therapeutical interventions and surgeries. Objectives: To standardize the thoracoabdominal expansibility measurement by cirtometry in health young individual realized by different examiners on alternate dates. Method: One hundred individual, with 20,8 ± years, being 50 men and 50 women, were studied. The thoracoabdominal amplitude measurement was realized, during 3 maximal inspirations and expirations, at the axillary fold, xiphoid process and umbilical scar, using a tape measure by 3 different examiners on alternate dates, it has being considered the highest measure to the analysis. Results: No were observed by ANOVA signifi cant statistical differences among the three examiners measures. The respiratory pattern presented costal predominance in both sexes, but it was higher in the female sex, p < 0,05. Conclusion: By measurement standardization of the thoracoabdominal amplitude proposed in this study was possible observed that this methodology was reliable in the physiotherapeutic evaluate when obtained by different examiners. Key-words: thoracoabdominal amplitude, physical therapy, cirtometry. Recebido 30 de março de 2005; aceito 5 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Audrey Borghi e Silva, Av. Caetano Mirabelli, 79, 13564-210 São Carlos SP, Tel: (16) 270-8607, E-mail: audreybs@uol. com.br Fisioterapia_v7n1.indb 25Fisioterapia_v7n1.indb 25 1/2/2006 18:49:581/2/2006 18:49:58 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200626 Introdução A medida das amplitudes de movimento do tórax e ab- dome tem sido amplamente utilizada na avaliação de diversas patologias e durante intervenções terapêuticas. Por meio do estudo da mobilidade tóraco-abdominal, Silva et al. [1] obser- varam importantes repercussões da cirurgia abdominal sobre os músculos respiratórios. Na cirurgia cardíaca, Pires et al. [2] e Garcia et al. [3] esta avaliação permitiu detectar a disfun- ção diafragmática, bem como a efetividade do treinamento muscular respiratório nestes pacientes. Em indivíduos com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) Maciel et al. [4] avaliaram os efeitos da administração do broncodilatador pela mobilidade tóraco-abdominal, e Aliverti et al. [5] estudaram a cinemática da caixa torácica e volumes compartimentais durante o exercício. Já outro estudo [6] verifi cou estes movi- mentos antes e após episódios agudos de asma. Os efeitos do envelhecimento [7] e da obesidade [8] na mobilidade torácica também foram estudados, bem como o comportamento da parede torácica durante a respiração em repouso [9] Na literatura têm sido propostos alguns métodos de mensurações das amplitudes de movimento do tórax e abdome. Segundo Manczurc et al. [10] a pletismografi a pode mensurar parâmetros respiratórios tão confi áveis quanto um sistema de pneumotacógrafo, porém não é tão acessível devido ao seu alto custo e a necessidade de pes- soal especializado para sua realização. Martuci et al. [11] realizaram um estudo para estabelecer a confi guração da parede torácica em sujeitos normais respirando livremente ou contra uma carga resistiva, utilizando um magnetômetro. Por meio de radiogramas simples de tórax, Pires et al. [2] mensuraram a amplitude de movimento hemidiafragmático na incidência póstero-anterior e De Groot et al. [9]. avaliaram os movimentos da parede torácica utilizando um analisador automático (ELITE). Além desses métodos de avaliação das amplitudes do tórax e do abdome, a medida por meio da cirtometria também tem sido utilizada para quantifi car tais amplitudes de movimentos [8], sobretudo após a realização de intervenções terapêuticas [12] e cirúrgicas [3,13]. A partir da cirtometria, nas fases da inspiração e expiração máximas, são obtidos os valores de ex- pansibilidade e retração dos movimentos tóraco-abdominais [14] com a utilização de fi ta métrica. Este método tem sido proposto devido a seu baixo custo, facilidade em sua execução e também como forma de defi nir o padrão respiratório de determinadas populações [8]. Nas avaliações fi sioterapêuticas a cirtometria tem sido utilizada para investigar a infl uência de técnicas sobre as amplitudes de movimento do tórax e abdome, em várias patologias. Costa et al. [8] avaliaram os efeitos da Reeduca- ção Funcional Respiratória (RFR) em indivíduos obesos por meio das medidas de força muscular respiratória (FMR) e cirtometria e observaram aumento na FMR e nas amplitudes tóraco-abdominais desses indivíduos após RFR. Jamami et al. [12] avaliaram os efeitos da Reabilitação Pulmonar (RP) em 22 pacientes com DPOC utilizando a espirometria simples, teste de caminhada, oximetria de pulso e além disso, foi proposta a avaliação da cirtometria e do índice de amplitude, por meio de cálculo matemático. Os resultados demonstraram que o programa de RP promoveu melhora na tolerância ao exercício e expansibilidade tóraco-abdominal dos pacientes estudados. Apesar de vários autores estudarem as amplitudes tóraco- abdominais, por meio da cirtometria, e pelo fato desta ser utilizada na prática de avaliação fi sioterapêutica, ainda perdura a necessidade de padronização, bem como da comprovação cientifi ca de sua confi abilidade enquanto método de avaliação, especialmente por depender exclusivamente de critério indi- vidual de quem coleta as medidas, sujeito a erro de interpre- tação. Nesse sentido e com o objetivo de minimizar possíveis erros metodológicos, este estudo se propôs a padronizar a obtenção da medida de expansibilidade tóraco-abdominal por meio da cirtometria de indivíduos saudáveis, realizada por três examinadores diferentes em dias alternados. Material e método Para a realização deste estudo foram avaliados 100 volun- tários com idade entre 18 a 25 anos, sendo 50 indivíduos do sexo feminino e 50 do sexo masculino, que consentiram em participar desta pesquisa. Este estudo foi aprovado pelo comitê de Ética em pesquisa da Instituição. Foram excluídos os voluntários que apresentaram patologias respiratórias, de- formidades torácicas ou neurológicas ou que não concluíram o procedimento experimental. A tabela 1 apresenta as carac- terísticas individuais dos sujeitos estudados. Tabela I - Características dos indivíduos estudados quanto à idade, peso, altura e IMC e resultados estatísticos (Teste t) entre o sexo masculino e feminino. Masculino (n = 50) Feminino (n = 50) Idade (anos) 20,6 ± 3,6 20,5 ± 3,4 Peso (kg) 73,3 ± 14,5 54,25 ± 9,2* Altura(m) 1,73 ± 0,2 1,60 ± 0,2* IMC (kg/m2) 23,1 ± 4,1 20,1 ± 3,3* Valores expressos em Média ± DP. *Diferença significativa (p<0,05). A medida da amplitude tóraco-abdominal foi obtida por meio da cirtometria, utilizando-se uma fi ta métrica, escalo- nada em centímetro (cm), sendo esta realizada por 3 diferentes examinadores diferentes e em dias alternados. Esta medida foi realizada horizontalmente em três níveis: axilar, xifoidiano e abdominal. Na região axilar os examinadores colocaram a fi ta métrica logo abaixo da prega axilar, tomando o cuidado para que esta fi casse fi rmemente posicionada em uma linha reta, a partir da prega em questão. A seguir, os examinadores orientaram o voluntário para Fisioterapia_v7n1.indb 26Fisioterapia_v7n1.indb 26 1/2/2006 18:49:581/2/2006 18:49:58 27Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 que realizassem uma inspiração máxima e logo após uma expiração máxima, sem direcionar o ar para uma ou outra região específi ca, deixando que a fi ta percorresse seus dedos durante a manobra. Em seguida, de maneira semelhante, os examinadores verifi - caram a amplitude xifoidiana, tomando como ponto de referência à borda inferior do apêndice xifóide e por último verifi caram a amplitude abdominal tendo a cicatriz umbilical como base. Para todas as medidas a fi ta métrica foi fi rmemente colocada sobre o tórax ou abdome, sem folgas e nem apertada em demasia, permitindo mobilidade durante a medida. Todos os examinadores receberam as orientações quanto aos pontos de referências que deveriam ser tomados como base durante as medidas. Em cada ponto de referência foram realizadas 3 inspi- rações e expirações máximas sob o comando de voz dos examinadores. Os voluntários foram examinados na posição ortostática, com o tórax desnudo e foram orientados a inspirar e expirar profundamente, sendo anotados os 3 valores de inspiração e expiração máximas em cada ponto, bem como as diferenças obtidas entre a inspiração e expiração. Entretanto, para a análise dos dados foi considerado o maior valor obtido das 3 medidas realizadas. Os resultados obtidos foram utilizados para calcular o Ín- dice de Amplitude (IA), proposto por Jamami et al. [13] com a fi nalidade de atenuar as diferentes dimensões de tórax e ab- dome para a amostra estudada, através da seguinte fórmula: Em que, INS = valor da cirtometria durante a inspiração máxima e EXP = valor da cirtometria durante a expiração máxima. Os resultados obtidos foram agrupados em tabelas, em média e desvio-padrão e ilustrados em fi gura. Para análise es- tatística dos dados, foi utilizada a análise de variância (ANOVA) para mais de 2 situações pareadas. Quando foram constatadas diferenças, foi aplicado o teste de Duncan para diferenciar as situações ou grupos. Para avaliar as diferenças entre o sexo masculino com o feminino foi utilizado o teste t Student não pareado. Utilizou-se como nível de signifi cância p < 0,05. Resultados Na tabela I, onde estão apresentadas as características dos indivíduos quanto à idade, peso, altura e IMC, separados por sexo, foram constatadas diferenças signifi cativas dessas variáveis, com exceção da idade, entre o sexo masculino e feminino (73,3 ± 14,5 versus 54,2 ± 9,2 kg; 1,73 ± 0,2 versus 1,60 ± 0,2 metros; e 23,1 ± 4,1 versus 20,1 ± 3,3 do IMC, respectivamente). Os resultados em média e desvio padrão das amplitudes de movimento axilar, xifoidiano e abdominal, obtidas na ins- piração e na expiração máxima, bem como a diferença entre a inspiração e a expiração, para o sexo masculino e feminino estão apresentados na tabela II. Tabela II - Médias e desvios-padrão dos valores das amplitudes axilar, xifoidiano e abdominal na inspiração e expiração, bem como dos índices de am- plitude (IA). Amplitude Feminino Masculino Insp Exp IA Insp Exp IA Axilar 85,6 ± 5,1 80,9 ± 5,2 4,7 ± 1,8 100,9 ± 6,8 95,7 ±7,3 5,1 ± 2,2 Xifoidiana 78,1 ± 5,2 74,6 ± 5,7 3,5 ± 1,4 93,0 ± 5,7 88,7 ± 6,5 4,3 ± 1,6 Abdominal 75,7 ± 6,8 76,1 ± 6,8 -0,4 ± 1,8 83,4 ± 8,5 84 ± 8,3 -0,7 ± 2,6 Insp: inspiração Exp: expiração IA: índice de amplitude Nas tabelas III (sexo masculino) e IV (sexo feminino) estão relacionadas às médias e desvios padrões dos índices de amplitude obtidos dos diferentes examinadores, onde se observou pela ANOVA que não houve diferença signifi cativa entre eles. Tabela III - Médias e desvios-padrão dos valores dos índices de ampli- tude (IA) axilar, xifoidiano e abdominal no sexo masculino e resultados estatísticos entre os examinadores. IA Examinador 1 Examinador 2 Examinador 3 ANOVA Axilar 7,8 ± 3,6 8,3 ± 3,8 7,8 ± 4,3 NS Xifoidiana 7,2 ± 2,9 7,2 ± 3,8 7,3 ± 2,9 NS Abdominal -1,2 ± 4,7 -0,9 ± 5,2 -1,1 ± 4,9 NS *Diferenças entre os examinadores (p<0,05), NS Não significativo. Tabela IV - Médias e desvios-padrão dos valores dos índices de ampli- tude (IA) axilar, xifoidiano e abdominal do sexo feminino e resultados estatísticos entre os diferentes examinadores. IA Examinador 1 Examinador 2 Examinador 3 ANOVA Axilar 8,4 ± 3,2 8,7 ± 3,4 8,5 ± 3,3 NS Xifoidiana 7,0 ± 3,0 7,6 ± 3,1 7,1 ± 2,8 NS Abdominal -0,9 ± 3,6 -1,2 ± 7,3 -0,9 ± 4,8 NS *Diferenças entre os examinadores (p<0,05), NS Não significativo. Os dados referentes aos índices de amplitude estão demonstrados na tabela V na qual pode ser observada dife- rença signifi cativa para o sexo feminino quando comparado com o sexo masculino somente para o IAax (8,5 ± 0,1 versus 8,0 ± 0,3 respectivamente), com p < 0,05. Fisioterapia_v7n1.indb 27Fisioterapia_v7n1.indb 27 1/2/2006 18:49:591/2/2006 18:49:59 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200628 Tabela V - Médias e desvios-padrão dos valores dos índices de amplitude axilar, xifoidiano e abdominal para o sexo masculino e feminino. IA Feminino Masculino Teste t Axilar 8,5 ± 0,1 8,0 ± 0,3 * Xifoidiana 7,2 ± 0,2 7,3 ± 0,1 NS Abdominal -0,89 ± 0,3 -1 ± 0,09 NS *Diferenças entre os examinadores (p<0,05), NS Não signifi- cativo. Além disso, quanto ao comportamento da mobilidade tóraco-abdominal entre o sexo masculino e feminino, ilustra- do na fi gura 1, pode-se constatar diferenças estatisticamente signifi cantes entre os IAax e IAxif quando comparados ao IAabd. Porém o IAax e o IAxif não foram diferentes entre si. Figura 1 - Diferenças entre os Índices de amplitude axilar, xifoidiano e abdominal no sexo feminino e masculino. Discussão A medida da amplitude dos movimentos tóraco-ab- dominais tem sido utilizada como método de avaliação fi sioterapêutica da mobilidade e/ou amplitude, bem como da imobilidade ou rigidez torácica e abdominal, durante os movimentos respiratórios. Estudos têm propostos diferentes métodos de mensura- ção das amplitudes tóraco-abdominais, porém muitos deles, não são acessíveis devido a seu alto custo e necessidade de avaliadores treinados para execução das medidas. O presente estudo abordou a cirtometria, que é um método bastante acessível, considerando seu baixo custo com a utilização de apenas uma fi ta métrica e a facilidade de realização. Apesar da cirtometria ser um instrumento bastante uti- lizado na prática clínica, não foram encontrados estudos sobre a padronização deste método, bem como da comprovação cientifi ca de sua confi abilidade enquanto método de avaliação, o qual pode estar sujeito a erros interindividuais. Além disso, carece de estudos avaliando a mobilidade tóraco-abdominal de uma população de jovens saudáveis. O presente estudo analisou a aplicação deste método em voluntários jovens de 18 a 25 anos e saudáveis e a partir dos resultados, pode-se constatar que a medida de amplitude tóraco-abdominal por meio da cirtometria mostrou ser um método confi ável, uma vez que não foram encontradas diferenças entre os exami- nadores. Além disso, pode-se constatar que em ambos os sexos houve maior mobilidade/expansibilidade da região axilar (padrão respiratório costal), e maior tendência do padrão respiratório apical no sexo feminino. McArdle et al. [15] con- stataram que aproximadamente 70% da expansão pulmonar são devidos ao aumento antero-posterior e 30% são devidos ao movimento diafragmático, justifi cando a expansão redu- zida do abdome em relação ao tórax nos indivíduos avaliados neste estudo. Diversos estudos têm utilizado a medida da amplitude tóraco-abdominal por meio da cirtometria como um método avaliação da evolução clínica de pacientes submetidos a in- tervenções na área de fi sioterapia respiratória. Sampaio [16] observou que o treinamento físico e muscular respiratório modifi cou o padrão respiratório de pacientes asmáticos e Ja- mami et al. [12] e Silva [17] observaram que após programa de intervenção fi sioterapêutica na RP de pacientes com DPOC, houve uma melhora do padrão respiratório desses pacientes com aumento da expansibilidade tóraco-abdominal. Outros estudos que utilizaram esta medida como método de avaliação também podem ser citados, realçando a grande utilidade e importância deste estudo na padronização do método. Costa et al. [8] estudaram que a obesidade leva a im- portantes alterações da função pulmonar e que a reeducação funcional respiratória levou a aumentos dos IA. Garcia et al. [3] observaram que o treinamento muscular respiratório pro- porcionou aumento das amplitudes de movimento do tórax em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Já Maciel et al. [4] relataram aumento da expansibilidade, após a aplicação de broncodilatador em pacientes com DPOC e Cardoso et al.[18] observaram reduções da expansibilidade do tórax em pacientes parkinsonianos, quando comparados com indi- víduos não-parkinsonianos. Conclusão Finalizando, concluímos, por meio dos resultados ob- tidos neste estudo, que a cirtometria tóraco-abdominal é um método simples, barato e confi ável de avaliação da mo- bilidade/expansibilidade tóraco-abdominal e dos índices de amplitude axilar, xifoidiano e abdominal. Além disso, foi pos- sível constatar que a cirtometria, quando realizada de forma padronizada, mostrou-se um método confi ável de avaliação Fisioterapia_v7n1.indb 28Fisioterapia_v7n1.indb 28 1/2/2006 18:50:001/2/2006 18:50:00 29Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 das amplitudes tóraco-abdominais de indivíduos saudáveis na faixa etária estudada, quando utilizada por diferentes exa- minadores. No entanto, este estudo remete a necessidade de futuras pesquisas, sobre a efi cácia da cirtometria em relação a outros métodos de avaliação das amplitudes de movimento tóraco-abdominal, bem como em diferentes populações. Referências 1. Silva EF, Guedes RP, Ribeiro EC. Estudo das repercussões das cirurgias abdominais sobre os músculos respiratórios. Fisioter Mov 2003;16(1):51-6. 2. Pires AC, Saporito WF, Grandini M, Oliveira AC, Zambon JP, Ávila MP. Avaliação da Disfunção Diafragmática no Pós-Op- eratório de Cirurgia Cardíaca. Arq Med ABC 1999;22(1/2):13- 7. 3. 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Fisioterapia_v7n1.indb 29Fisioterapia_v7n1.indb 29 1/2/2006 18:50:011/2/2006 18:50:01 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200630 Análise da amplitude de movimento do ombro de mulheres mastectomizadas submetidas a um programa de exercícios e alongamentos musculares Motion range analysis of shoulder in women with mastectomy after exercises and stretching program Ana Cristina da Nóbrega Marinho*, Alexsandro Alcantara de Macedo** *Professora Visitante da Universidade Estadual da Paraíba, Doutoranda em Ciências da Saúde pela UFRN, **Graduado no Curso de Fisioterapia pela UEPB, Pós Graduado em Recursos Cinesioterapêuticos pela UFPB Resumo A retirada da mama tende a desencadear muitos problemas subseqüentes à cirurgia. Diante disso, este trabalho teve como obje tivo analisar a amplitude de movimento do ombro de mulheres mastectomizadas, antes e após a prática de um programa cinesiotera- pêutico. Participaram deste estudo 10 mulheres que fazem parte do serviço de fi sioterapia da Fundação Assistencial da Paraíba (FAP), da cidade de Campina Grande-PB. O programa foi realizado no período de Outubro a Dezembro de 2004, com freqüência de 2 vezes por semana, num total de 16 sessões. Os dados apontaram que todas as pacientes apresentaram diminuição da amplitude de movimentos antes da realização do programa cinesioterapêutico, para os movimentos de fl exão e abdução, e que após a realização do mesmo, os movimentos de fl exão e abdução apresentaram melhora na amplitude de movimento em 100% das pacientes. Para o movimento de fl exão, 80% das pacientes passaram a apresentar uma diferença de 0-10° e, para o movimento de abdução, 90% também apresentaram uma diferença em relação ao lado contra- lateral à cirurgia, de 0-10°, aprovando a importância e efi cácia de um programa de exercícios e alongamentos, que vem melhorar a qualidade de vida da paciente mastectomizada. Palavras-chave: câncer de mama, mastectomia, amplitude de movimento, cinesioterapia. Artigo original Abstract The breast withdrawal causes many subsequent problems to the surgery. Ahead of this, the aim of this study was to analyze the range of motion of women shoulder with mastectomy, before and after a physical therapy program. Ten women participated to this study which are part of the service of Physical Therapy of the Assistencial Foundation of the Paraíba (FAP), of the city of Campina Grande-PB. The program was carried through the period of 2004 october to december, twice a week, with a total of sixteen sessions. The data pointed out that all the patients presented reduction of the motion range before the physical therapy program, for the movements of fl exion and abduction, and after the program, the flexion abduction movements improved in 100% of the patients. To the fl exion movement, 80% of the patients presented a difference of 0-10° and for the movement of abduction, 90% also the surgery presented a difference in relation to the other side, of 0-10°, approving the importance and effectiveness of a program of exercises and stretching, that comes to improve the quality of life of the patient with mastectomy. Key-words: breast cancer, mastectomy, range motion, kinesitherapy. Artigo recebido em 30 de março de 2005; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Ana Cristina da Nóbrega Marinho, rua Adiel Valdivino, 102 Centenário 58108-025 Campina Grande PB, Tel: (83) 3211135, E-mail: anacrnm@hotmail.com Fisioterapia_v7n1.indb 30Fisioterapia_v7n1.indb 30 1/2/2006 18:50:021/2/2006 18:50:02 31Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Introdução O câncer de mama representa, hoje, a primeira causa de morte de câncer entre as mulheres brasileiras. No Brasil, há a tendência de aumento do número de morte pela doença em mulheres com idade inferior a 49 anos. Estimativas do INCA (Instituto Nacional de Câncer) indicam que são espe- rados cerca de 30.000 casos novos e 7.000 mortes por ano no país, sendo que nos últimos 20 anos houve um aumento da incidência de 68% [1]. De acordo com Gomes e Gomes [2], esta é a forma mais freqüente de câncer entre mulheres com idade superior a 40 anos e, segundo as estatísticas, sua incidência aumenta a cada ano, principalmente nos países em desenvolvimento. Apesar dos avanços no tratamento, a retirada da mama, ou mastectomia, continua sendo empregada em muitos casos. Este procedimento cirúrgico visa, além da prevenção da dis- seminação da doença, um melhor índice de sobrevida destas pacientes. Contudo, a ablação desta parte do corpo pode trazer danos psicológicos, sociais e complicações que afetam o bem-estar e auto-estima da mulher. O sucesso nos resultados do tratamento de câncer de mama pode ser obtido por diversas formas terapêuticas como a cirurgia, quimioterapia, hormonioterapia e radioterapia, desses a cirurgia continua sendo o principal recurso terapêu- tico para desempenhar a função de controle locorregional da doença, prevenindo a sua disseminação [3]. Os tratamentos do câncer de mama vêm sofrendo sig- nifi cativas mudanças, como técnicas mais conservadoras, estéticas e menos agressivas e mutiladoras. As cirurgias de mama levam a alterações funcionais, sociais e psicológicas na paciente, modifi cando sua auto-estima. Portanto, a reabilita- ção funcional não só se faz necessária, como é fundamental [4]. Segundo Kisner e Colby [5], as alterações na amplitude articular do ombro do lado envolvido surgem como uma das seqüelas de grande incidência neste grupo, além da dor, linfedema e aderências na parede torácica, e infl uenciam e interferem na vida diária e na qualidade de vida da mulher mastectomizada. Portanto, é de suma importância que o fi sioterapeuta que irá lidar com casos de mulheres que foram submetidas a mastectomia, tenha consciência das modifi cações que esse tipo de cirurgia irá causar nessas mulheres, e de como estas poderão interferir na qualidade de vida das mesmas. A fisioterapia, utilizando recursos específicos (físicos e naturais), desempenha um papel fundamental nesta nova etapa da vida da paciente, por representar um conjunto de possibilidades terapêuticas físicas suscetível de inter- vir desde a recuperação funcional da cintura escapular e membros superiores até a profilaxia de complicações como a retração, aderência cicatricial, fibrose, linfedema, que são responsáveis pela dificuldade da paciente em realizar suas AVDs. Material e métodos Marconi e Lakatos [6] referem que a pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas, através do emprego de processos científi cos. A pesquisa parte de uma dúvida ou problema e, com o uso do método científi co, busca uma solução ou resposta. Tomando por base esses conceitos, realizamos esta investigação do tipo descritiva, analítica, de caráter exploratório com abordagem qualiquantitativa. De acordo com a fi nalidade deste estudo, pode-se dizer que esta pesquisa é de caráter exploratório com abordagem qualiquantitativa, pois tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explí- cito ou a constituir hipóteses [7]. Também pode ser dita como uma pesquisa descritiva, pois tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenô- meno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. Participaram da população de estudo 10 pacientes mas- tectomizadas que fazem parte do serviço de fi sioterapia da Fundação Assistencial da Paraíba (FAP), da cidade de Campina Grande-PB. Para traçar o perfi l do grupo, as informações foram coletadas a partir da utilização de um questionário, por meio da técnica de entrevista semi-estruturada e de conteúdo não-disfarçado, com perguntas fechadas. Para análise da amplitude de movimento, foi utilizado um goniômetro simples, que serviu como fonte de registro e quantifi cação das eventuais alterações na amplitude de movimento do ombro homolateral, posteriormente à cirurgia, antes e após o programa cinesioterapêutico proposto. Inicialmente foi realizada a seleção dos indivíduos que assi- naram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido, caso con- cordassem com os requisitos da pesquisa. Após a formação do grupo, primeiro foi aplicado um questionário contendo questões relacionadas ao perfi l do grupo e foi feita uma avaliação da amplitude de movimento do ombro, com a utilização do goniô- metro. Na segunda fase da pesquisa, foi elaborado e aplicado um protocolo de tratamento cinesioterapêutico (com exercícios e alongamentos musculares), voltados pra ganho de amplitude articular do ombro (Anexo 1). O programa foi realizado em grupo, durante os meses de outubro a dezembro, num total de 16 sessões, sendo 2 vazes por semana, 30 minutos por sessão. Em uma terceira fase, todas as pacientes foram submetidas a uma nova avaliação e os foram dados analisados e comparados com os obtidos antes da realização das 16 sessões. Para coleta dos dados necessários, foram adotados os princípios éticos da privacidade e do anonimato necessários à pesquisa envolvendo seres humanos, dispostos na resolução 196/96 do Conselho Nacional da Saúde [8], que visa assegu- rar aos participantes da pesquisa, informações, anonimato, privacidade e o livre consentimento. Os dados foram transportados para planilhas e armazena- das no programa Software Excel, distribuídos e avaliados através das freqüências absolutas e relativas e apresentados sob forma de tabelas e quadros. Fisioterapia_v7n1.indb 31Fisioterapia_v7n1.indb 31 1/2/2006 18:50:021/2/2006 18:50:02 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200632 Resultados Aqui serão apresentados e, simultaneamente analisados, os dados desta pesquisa na seguinte seqüência: características só- cio-econômico-demográfi cas das pacientes; tipos de cirurgia; fatores de risco; tratamentos complementares; diferença do grau de amplitude de movimento do ombro homolateral com o contra-lateral à cirurgia. Características sócio-econômico-demográficas Tabela I - Distribuição percentual das características sócio-econômico- demográfi cas das pacientes com diminuição da amplitude de movimento do ombro, que foram submetidas a mastectomia. Idade f % 30-40 1 10 41-50 2 20 51-60 2 10 + 60 5 50 Estado civil Solteira 5 50 Casadas 4 40 Viúvas 1 10 Grau de instrução Sem instrução 4 40 Ensino Fundamental 5 50 Ensino Médio 1 10 Profissão Dona de casa 6 60 Costureira 1 10 Agente administrativo 1 10 Agricultora 2 20 Renda 1-3 SM 10 100 Procedencia Campina Grande 4 40 Outras cidades da Paraíba 6 50 Outro estado 0,0 0,0 Cor Branca 9 90 Negra 1 10 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) De acordo com a Tabela I, observa-se que a maioria das pa- cientes estudadas tinha idade superior a 60 anos (50%). Segundo Leal [9], a incidência de câncer de mama aumenta com a idade, isso porque o envelhecimento desencadeia mudanças celulares que elevam a sua suscetibilidade a transformação maligna, além do fato das pessoas idosas terem sido expostas por mais tempo aos diferentes fatores de risco preditores do câncer. Com relação ao grau de escolaridade observa-se que apenas uma paciente (10%) concluiu o ensino médio. Por essas mulheres terem baixa instrução de ensino, geralmente recebem poucas informações e tendem a sofrer de proble- mas de saúde, dentre estes destaca-se o câncer de mama. Vale ressaltar que muitas não tinham o conhecimento sobre a percepção dos benefícios e barreiras a respeito da prática do auto-exame, além de existirem também preconceitos e timidez de algumas mulheres no que se refere à realização de visitas médicas, aumentando as chances de aparecimento da doença e difi cultando seu possível tratamento. Verifi ca-se, quanto à profi ssão, que a maioria das pacientes estudadas referia ser dona de casa (60%). Dados semelhantes a esses foram encontrados no estudo de Davim et al. [10], que observaram que, dentre as 109 mulheres por ele pesquisadas, 66% referiram ser donas de casa. De acordo com a Tabela I, das 10 mulheres entrevistadas, 4 (40%) residiam na cidade de Campina Grande e 6 (60%) residiam em outras cidades da Paraíba. Este fato reside na idéia de que Campina Grande é uma cidade pólo para trata- mento de saúde de pessoas vindas de outras localidades da Paraíba. Pode-se ressaltar que todas as pacientes entrevistadas tinham renda familiar mensal entre 1 e 3 salários mínimos (100%). Marinho et al. [11] encontraram dados, em seu estudo, referentes à baixa renda familiar (67,1%). É possível que esses resultados estejam relacionados à situação demográfi ca das usuárias, uma vez que o maior contingente de entrevistadas tem baixa renda familiar, baixo nível educacional e são pro- venientes de outras cidades, como foi citado anteriormente. Pessoas em condições sócio-econômicas desfavoráveis têm maior difi culdade de acesso ao sistema de saúde e, conse- qüentemente, estão expostas ao diagnóstico tardio de varias doenças, inclusive o câncer de mama. Pode-se, ainda, identifi car que há uma maior prevalência nas mulheres de cor branca (90%), visto que só uma (10%) mulher de raça negra participou desta pesquisa. Estes dados semelhantes também foram encontrados nos estudos de Panobianco e Mamede [12], os quais observaram que, das 17 mulheres submetidas à cirurgia de mama por câncer, 16 delas (94,1%) eram brancas e uma da raça negra (5,9%). Tipo de cirurgia realizada De acordo com a Tabela II pode-se verifi car que a maioria (6-60%) das pacientes mastectomizadas que fi zeram parte do presente estudo foi submetida a mastectomia radical modifi cada do tipo Madden. Segundo Schwartz et al. [13], este tipo de cirurgia é indicado nos tumores de até 3,0 cm, e consiste na remoção da glândula mamária, com preservação dos músculos peitoral maior e menor, além do esvaziamento axilar nos três níveis e linfonodos interpeitorais. Estudos realizados por Orikassa e Brito [14] encontraram dados con- traditórios, onde a maioria (40%) das pacientes foi submetida a mastectomia radical simples, seguida de 32% das pacientes que se submeteram a mastectomia radical modifi cada do tipo Madden. Os primeiros procedimentos cirúrgicos em oncologia mamária, descritos por Halsted, são amplos e mu- Fisioterapia_v7n1.indb 32Fisioterapia_v7n1.indb 32 1/2/2006 18:50:031/2/2006 18:50:03 33Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 tiladores e, apesar das perspectivas de cura, muitas vezes não são os mais justifi cáveis pelas seqüelas psicofísicas deixadas. Segundo Chaves [15] e Goffi [16] além do melhor resultado estético, a sobrevida das pacientes submetidas às cirurgias conservadoras, combinadas com as terapêuticas complemen- tares, tem-se mostrado equânime e funcionalmente superior nos casos potencialmente curáveis, sobretudo nos estágios iniciais da doença, quando comparadas à sobrevida daquelas submetidas ao tratamento radical. Porém, é importante reali- zar uma seleção criteriosa do fator de segurança ao se optar por uma dessas técnicas. Tabela II - Distribuição percentual por tipo de cirurgia das pacientes mastectomizadas. Tipo de Cirurgia realizada f % Mastectomia radical Modificada a Patey 1 10 Mastectomia radical Halsted 2 20 Mastectomia radical Modificada a Madden 6 60 Quadrantectomia 1 10 Total 10 100 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) Tempo de cirurgia Tabela III - Distribuição percentual por tempo de cirurgia das pacientes mastectomizadas. Tempo de cirurgia f % 0-2 7 70 3-5 3 30 +6 0 0 Total 10 100 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) No que se refere ao tempo de cirurgia, a maioria das pacientes estudas (7-70%) encontrava-se no primeiro ao segundo ano de pós-operatório e 3 (30%) estavam no ter- ceiro ao quinto ano. Para Prado [17], esses períodos são de grande importância para o enfrentamento das difi culdades decorrentes do procedimento cirúrgico, pois é no decorrer deles que as mulheres encontram maior difi culdade para alcançar toda a amplitude de movimento do braço do lado operado, como também para incorporar procedimentos de autocuidado, prevenção de bloqueio articular e alterações posturais. Fatores de risco Observa-se, no quadro I, que 5 pacientes (50%) tinham história de câncer de mama na família, e 5 (50%) fi zeram uso de pílulas anticoncepcionais. De acordo com Leal [9], o histórico familiar é evidente. Alguns autores demonstram que irmãs e fi lhas de mulheres com câncer de mama apresentam um risco 3 vezes maior de desenvolver esta patologia, e um risco 5 vezes maior quando as pacientes apresentam doença bilateral. Por fi m, um risco superior a 50 vezes em relação às irmãs de pacien tes com câncer da mama cujas mães também eram afetadas. Isso denota a infl uência do fator hereditário prognosticador da neoplasia, confi rmado pelo resultado da tabela. Quadro I - Distribuição percentual por fatores de risco das pacientes mastectomizadas. Fatores de risco f % Etilismo 0,0 0,0 Tabagismo 2 20 Uso anticoncepcional 5 50 Câncer de mama na família 5 50 Obesidade 1 10 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) Com relação ao papel dos anticoncepcionais no desen- volvimento dos tumores malignos da glândula mamária, há opiniões divergentes. Porém, estudos mais recentes têm mostrado que o uso prolongado de anticoncepcionais orais em pacientes que apresentaram a primeira gestação muito cedo, e que tiveram uma menarca um tanto precoce, em pa- cientes com ciclos onovulatórios do tipo hiperrestrogênico e em mulheres na pré-menopausa que fazem uso prolongado da pílula, coloca estas pacientes no grupo de alto risco para o desenvolvimento do câncer de mama. Tratamentos complementares Quadro II - Distribuição percentual por tratamentos complementares das pacientes mastectomizadas. Tratamentos complementares f % Quimioterapia 9 90 Radioterapia 9 90 Não fez tratamento 1 10 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) O Quadro II mostra o percentual dos tratamentos com- plementares realizados pelos indivíduos do grupo estudado. Nove pacientes (90%) foram submetidas a tratamento de quimioterapia e radioterapia. Estudos de Panobianco e Ma- mede [12] estão em sintonia com dados obtidos no presente estudo, visto que, das 17 mulheres estudadas em sua pesquisa, 14 (82,3%) também foram submetidas a esses tipos de trata- mentos complementares. De acordo com Magalhães, Erlich e Erlich [18], grandes passos foram dados no sentido terapêutico, como a quimiote- rapia adjuvante, que aumenta a sobrevida livre da doença, sendo que em alguns casos pode-se falar até mesmo em cura; Fisioterapia_v7n1.indb 33Fisioterapia_v7n1.indb 33 1/2/2006 18:50:041/2/2006 18:50:04 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200634 a quimioterapia neoadjuvante aumenta em cerca de 20% as chances de sobrevida livre da doença por 5 anos nos estágios iniciais e dobra na doença localmente avançada. Segundo Magalhães, Erlich e Erlich [18], a radioterapia representa uma arma importante no combate ao câncer, por que ela possui grande capacidade de destruir células malignas remanescentes no leito tumoral com alta efi cácia. Schlwartz et al. [13] relatam que a adição da radioterapia no tratamento do câncer tem reduzido signifi cativamente a incidência de recidiva locorregional, potencializando a sobrevida e a quali- dade de vida dessas mulheres. Porém, a radiação pode causar fi brose no cavo axilar, destruindo os linfáticos e contribui para o acúmulo de linfa no membro homolateral. A mobilidade da articulação glenoumeral pode ser podada pelo peso do membro linfede- matoso e também pela fraqueza pós-operatória dos músculos da cintura escapular [5]. Diferença de grau de amplitude de movi- mento antes do programa cinesioterapêutico. Tabela IV - Distribuição percentual por diferença de grau de amplitude de movimento, do ombro homolateral em reação ao contra-lateral à cirurgia, antes do programa cinesioterapêutico. Diferença em Movimentos analisados graus da ADM Flexão Extensão Abdução f % f % f % 0 |—| 10° 5 50 10 100 9 90 11° |—| 20° 3 30 0 0 1 10 21° |—| 30° 1 10 0 0 0 0 31° |—| 50° 1 10 0 0 0 0 Total 10 100 10 100 10 100 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, ADM: Amplitude de movimento, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) De acordo com a Tabela IV, para o movimento de fl exão, 5 (50%) pacientes apresentaram uma diferença entre 0 e 10°, 3 (30%) de 11° a 20°, 1 (10%) de 21° a 30°, e apenas 1 (10%) apresentou diferença de 31° a 50°, isso sempre em comparação ao lado contra-lateral à cirurgia. Esses dados estão em consonância com os resultados do estudo feito no departamento de cirurgia do Hospital St. Elizabeth, na Holanda, onde, das 148 pacientes mastectomizadas, 12% apresentaram uma diferença de mais de 20° na fl exão do ombro homolateral à cirurgia, em comparação com o lado contra-lateral [19]. Baraúna et al. [19] avaliaram a morbidez e a limitação da amplitude de movimento, onde foi comprovada a diminui- ção da fl exão do ombro envolvido em 4% das pacientes mastectomizadas. Em relação ao movimento de extensão, verifi ca-se na Tabela IV que 10 (100%) pacientes envolvidas na pesquisa apresentaram diminuição entre 0° e 10°, isso implica dizer a extensão foi o movimento que sofreu menor diminuição após a retirada da mama. Para o movimento de abdução, a Tabela IV mostra que 9 (90%) pacientes apresentaram uma diferença de 0° a 10° e apenas 1 (10%) apresentou diminuição de 11° a 20°, em comparação com o ombro contra-lateral à cirurgia. Ainda analisando a Tabela IV, percebe-se que todas as pacientes avaliadas antes do programa cinesioterapêutico pro- posto na pesquisa apresentaram diminuição da amplitude de movimento do ombro homolateral à cirurgia, para os movi- mentos de fl exão, extensão, abdução, sendo que houve uma diminuição mais signifi cativa para o movimento de fl exão. Comparando os dados da Tabela IV com os dados da tabela III, observa-se que ocorreu diminuição na amplitude de movimento do ombro envolvido na cirurgia, mesmo estando as pacientes em um pós-operatório bastante tardio (3 a 5). Esses dados confrontam com os resultados encontrados em um estudo feito pelo Hospital Universitário de St. Vincent, em Dublin, na Irlanda, onde foi verifi cado, através do goniô- metro, que as pacientes mastectomizadas estudadas por eles apresentaram diminuição da amplitude de movimento do ombro envolvido, notadamente na primeira semana após a cirurgia, com retorno ao normal em até 6 meses. Porém, os dados do presente estudo corroboram com um estudo mais recente feito no Ambulatório de Mastologia do Departa- mento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Uberlândia, no qual, com utilização da biofotogrametria computadorizada, verifi cou-se que a amplitude de movimento do ombro envolvido fi cou comprometida mesmo após 6 meses de cirurgia [19]. Estes dados sugerem que o profi ssional de fi sioterapia deve estar inserido dentro da equipe de profi ssionais que tratam essas pacientes, e que o acompanhamento deve ser feito não apenas no pós-operatório imediato, e sim até mesmo após 6 meses de cirurgia. Diferença de grau de amplitude de movi- mento após o programa cinesioterapêutico. A Tabela V mostra que, depois de executado o programa cinesioterapêutico proposto, todas as pacientes tiveram ganho de amplitude de movimento para o movimento de fl exão, 80% das pacientes apresentaram uma diferença de 0° a 10º no ombro homolateral em relação ao ombro contra-lateral à cirurgia, ou seja, antes, 5 pacientes apresentaram essa dife- rença e após o término do programa esse número aumentou para 8. Quanto ao movimento de extensão, não ocorreu alteração signifi cativa após as 16 sessões, em comparação ao início do programa cinesioterapêutico. Já para o movimento abdução ocorreu ganho de amplitude após as 16 sessões (100% das pacientes passaram a apresentar uma diminuição entre 0 a 10°, comparando o ombro envolvido e o ombro contra-lateral à cirurgia). Fisioterapia_v7n1.indb 34Fisioterapia_v7n1.indb 34 1/2/2006 18:50:051/2/2006 18:50:05 35Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Tabela V - Distribuição percentual por diferença de grau de amplitude de movimento, do ombro homolateral em relação ao contra-lateral à cirurgia, após o programa cinesioterapêutico. Dif. graus ADM Movimentos analisados Flexão Extensão Abdução f % f % f % 0 |—| 10° 8 80 10 100 10 100 11° |—| 20° 1 10 0 0 0 10 21° |—| 30° 1 10 0 0 0 0 31° |—| 50° 0 0 0 0 0 0 Total 10 100 10 100 10 100 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, ADM: Amplitude de movimento, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) Em um estudo realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Oncológicas (CEPON), onde foi utilizado também o goniômetro para análise da amplitude do ombro, foram encontrados dados semelhantes ao presente estudo. Para o movimento de fl exão e abdução, após 10 sessões de fi sioterapia, em 4 sessões, as pacientes recuperaram 80% da função do ombro envolvido [20]. Conclusão Estes dados sugerem que o profi ssional de fi sioterapia deve estar inserido na equipe de profi ssionais que tratam essas pacientes, e que o acompanhamento deve ser feito não apenas no pós-operatório imediato, e sim até mesmo após 6 meses de cirurgia. De acordo com dados literários, todas as pacientes mastectomizadas sofrem complicações no pós-cirúrgico imediato e tardio e, caso não sejam tratadas, há um retardo na recuperação, difi cultando o retorno às atividades de vida diária. A diminuição da amplitude de movimento é uma destas complicações, e geralmente só é tratada por meio de procedimentos fi sioterapêuticos, em especial através da prática de exercícios e alongamentos. Referências 1. Lopes ER, Abreu E, Mello RC. Câncer. INCA – Ministério da Saúde. [citado 2004 jul 23]. Disponível em: URL: http://www.inca.org.br 2. 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Fisioterapia_v7n1.indb 35Fisioterapia_v7n1.indb 35 1/2/2006 18:50:061/2/2006 18:50:06 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200636 Comparação dos lasers diodo 904 nm e 670 nm na viabilidade do retalho cutâneo randômico isquêmico em ratos Comparison of the 904 nm and 670 nm diode lasers in the viability of random skin fl ap Lívia Ribeiro de Assis*, Alexandre Marcio Marcolino*, Carlos Eduardo Pinfi ldi M.Sc.**, Rodrigo Paschoal Prado M.Sc.**, Fábio Lourencin, M.Sc***, Lydia Masako Ferreira, D.Sc. **** *Graduado em Fisioterapia pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva IMES-FAFICA, **Docente do IMES-FAFICA, Professor da Pós-Graduação Latu Sensu de Especialização em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica, Universidade de São Marco, Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte - Webtvinterativa, ***Docente da Universidade Paulista, campus de São José de Rio Preto, ****Professora Titular da Disciplina de Cirurgia Plástica do Departamento de Cirurgia da UNIFESP-EPM e Coordenadora do Pro- grama de Pós-Graduação em Cirurgia Plástica Reparadora da UNIFESP - EPM Resumo O presente estudo teve como objetivo comparar a efi cácia do laser diodo (904 nm) e do laser diodo (670 nm) na viabilidade do retalho cutâneo randômico em ratos. Este se constituiu de 36 ratos da linhagem Wistar, distribuídos ao acaso em 3 grupos de 12 animais cada. O retalho cutâneo randômico foi realizado com as medidas de 10 x 4 cm, com uma barreira plástica interposta entre o mesmo e o leito doador. O Grupo 1 (controle) foi submetido a uma simulação de tratamento de radiação. O Grupo 2 submeteu-se a radiação do laser diodo (904 nm). O Grupo 3 recebeu a radiação laser diodo (670 nm). Foi utilizada a técnica pontual com contato, em um ponto localizado a 2,5 cm da base cranial do retalho com densidade de energia de 16 J/cm2 imediatamente após a operação e nos 4 dias subseqüentes. As porcentagens da área de necrose de todos os grupos foram avaliadas no 7 dia pós-operatório com o método de Gabarito de papel. Obtivemos como resultado no Grupo 1 média de área de necrose de 48 %; o Grupo 2 - 37 % e o Grupo 3 - 27 %. Após a análise estatística, os resultados mostraram que os grupos experimentais obtiveram valores estatisticamente signifi cativas em comparação ao grupo controle e que, o Grupo 3 apresentou uma menor área de necrose (p < 0,001). Concluímos que a radiação laser diodo foi efi caz no aumento da viabilidade do retalho cutâneo randômico em ratos sendo que a radiação laser diodo 670 nm (G3) foi a mais efi caz no aumento da viabilidade do retalho cutâneo randômico em ratos comparado ao grupo 1 e grupo 2. Palavras-chave: terapia a laser de baixa intensidade, retalho cirúrgico, necrose, ratos. Artigo original Abstract The aim of this study was to compare the role of AsGa (904 nm) diode laser irradiation and GaAlAs (670 nm) diode laser irradiation in the viability of random skin fl ap in rats. Were used 36 Wistar rats, weighed and randomly divided in 3 groups with 12 rats in each group. The random skin fl ap was performed measuring of 10 x 4 cm, with a plastic sheet interposed between the fl ap and the donor site. The Group 1 (control) underwent sham irradiation. Group 2 was submitted to diode laser (AsGa) irradiation and Group 3 was submitted to diode laser (GaAlAs) irradiation. The laser irradiation was used with the punctual contact technique with target tissue on a point at 2,5 cm cranial from the fl ap base immediately after the surgery and for the four subsequent days, and the energy density was 16 J/cm2. The percentage of necrotic area of the three groups was calculated at the seventh postoperative day through a paper template method. Results: The Group 1 obtained the average necrotic area of 48%, the Group 2 - 37 % and the Group 3 - 27 %. After the ANOVA test, the results showed that all experimental groups obtained values statistically signifi cant compared to the control group, and the group 3 was the best group compared all groups of this study (p < 0,001). Conclusion: The laser irradiation was effi cient in increasing random skin fl ap viability in rats and the diode laser irradiation GaAlAs (group 3) was the most effi cient in increasing random skin fl ap viability in rats compared to the group 1 and the group 2. Key-words: laser therapy low level, skin fl ap, necrosis, rats. Recebido 3 de maio de 2005; aceito 10 de janeiro de 2006. Endereços para correspondência: Rodrigo Paschoal Prado, rua Rio Grande do Sul, 801 Higienópolis 15804-040 Catanduva SP, Tel: (17) 97175734, E-mail: paschoalrp@hotmail.com; Carlos Eduardo Pinfi ldi, rua Aracajú, 1352 Vila Santo Antônio 15801-250 Catanduva SP, Tel: (17) 35248203, E-mail: cepinfi ldi@hotmail.com. Fisioterapia_v7n1.indb 36Fisioterapia_v7n1.indb 36 1/2/2006 18:50:071/2/2006 18:50:07 37Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Introdução Os retalhos cutâneos são utilizados com grande freqüência em todos os ramos da cirurgia plástica, porém a isquemia continua a ser a principal complicação dessas intervenções, podendo levar a necrose tecidual e a um insucesso no trata- mento [1]. Em função disso, pesquisas estão voltadas à melhora do aporte sangüíneo para os mesmos, diminuindo assim a condição isquêmica e prevenindo a necrose [2-5]. Recentemente, surgiram pesquisas utilizando o laser de baixa intensidade e estas merecem destaque pelos resultados satisfatórios e pela facilidade de aplicação, no entanto há ainda incerteza sobre sua efi cácia nos procedimentos com retalhos cutâneos [6,7], principalmente em relação a qual comprimento de onda seria mais efi caz. Dessa forma, esse trabalho teve por objetivo investigar o efeito dos lasers diodo 904 nm e 670 nm na viabilidade do retalho cutâneo randômico isquêmicos em ratos. Materias e métodos Utilizou-se 36 ratos (Rattus norvegicus: var. albinus, Rodentia, Mammalia), adultos, com cerca de 3 meses de idade, pesando entre 280 gramas a 310 gramas, machos pesando 260 a 320 gramas, da linhagem Wistar, sendo estes distribuídos rando- micamente em 3 grupos de 12 animais cada. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade de Medicina de Catanduva. Os animais do estudo foram anestesiados, por via intra- peritoneal, com uma associação eqüitativa de cloridrato de tiletamina e cloridrato de zolazepam, em uma dose total de 50 mg/kg. Após a anestesia, foi realizada a depilação digital no dorso do animal. Logo após, foi realizado um retalho de base cranial, com 10 cm de comprimento e 4 cm de largura no dorso dos animais. O retalho teve como limites os ângulos inferiores das escápulas e os ossos superiores da cintura pélvica [8] (Figura 1). Figura 1 – Retalho planejado (10 x 4 cm). Fonte: Dados do Autor Os retalhos foram elevados a partir da fáscia profunda dos músculos e continham a fáscia superfi cial, panículo carnoso e pele (Figura 2). Figura 2 –Retalho cutâneo randômico de base cranial elevado. Fonte: Dados do Autor Um fi lme plástico foi interposto entre o retalho e o leito doador, impedindo a revascularização do retalho por meio dos vasos do leito [9,10]. A seguir, suturou-se o retalho com pontos separados simples de fi o de náilon monofi lamentar 4-0 na mesma posição original (“área doadora”), com a distância de 1 cm entre os pontos (Figura 3) [4]. Figura 3 - Retalho suturado após a interposição da barreira plástica. Fonte: Dados do Autor Imediatamente após o procedimento operatório, os animais do Grupo 1 (controle) mantiveram-se anestesiados por mais 30 minutos, quando submeteram-se à simulação do tratamento laser diodo, o grupo 2 submeteu-se a uma radiação do laser diodo 904 nm e o grupo 3 recebeu a radiação do laser diodo 670 nm. Foi utilizada a técnica pontual com contato em um ponto localizado a 2,5 cm da base cranial do retalho. A radiação laser foi realizada imediatamente após a operação e nos 4 dias subseqüentes, no mesmo horário e com densidade de energia de 16 J/cm2 [11]. Durante a realização da aplicação do laser, foi utilizado um molde plástico sobre o retalho para a demarcação do ponto Fisioterapia_v7n1.indb 37Fisioterapia_v7n1.indb 37 1/2/2006 18:50:071/2/2006 18:50:07 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200638 referente aos grupos (Figura 4). Foi utilizado um equipamento laser com comprimento de onda 904nm, potência de 15 mW área do feixe de 0,125 cm2 no grupo 2 e no grupo 3 o laser diodo de onda 670 nm, potência de 30 mW e área do feixe de 0,07 cm2. Figura 4 - Local da irradiação laser. Fonte: Dados do Autor A porcentagem de área de necrose dos retalhos foi veri- fi cada, no sétimo dia após a operação, por meio do método do gabarito de papel [12]. O limite entre o tecido viável (pele macia, rósea, quente e com pêlos) e o necrosado (pele rígida, escurecida, fria e sem pêlos) foi demarcado nos animais com caneta esferográfi ca diretamente no retalho. Um molde de todo o retalho foi desenhado, onde se delimitou a área necrosada da área viável do retalho e logo após foi recortado em papel transparente vegetal, sendo a seguir aferido em balança de precisão (erro de ± 0,0001 g). Foi recortada deste fragmento também, apenas a área cor- respondente à necrose do retalho que também foi aferida. Em seguida foi aplicada a seguinte fórmula: porcentagem de área = peso do gabarito de papel de necrose do retalho x 100 de necrose do retalho peso do gabarito de papel da área total do retalho Resultados A porcentagem das áreas de necrose foram as seguintes: Grupo 1 (48%), Grupo 2 (37%) e Grupo 3 (27%). Foi uti- lizado o este ANOVA para a realização dos resultados sendo que os grupos experimentais foram estatisticamente signifi - cativos comparados ao grupo controle, sendo que o Grupo 3 o que obteve uma menor área de necrose do retalho cutâneo comparado aos demais grupos do estudo. Discussão Atualmente vários fi sioterapeutas e médicos utilizam o laser de baixa intensidade na prática clínica em úlceras venosas, por pressão e diabéticas, objetivando um aumento da microcirculação e do fl uxo sanguíneo, acarretando uma cicatrização mais rápida e efi caz [13-16] No entanto há ainda incerteza sobre qual comprimento de onda seria mais efi caz nos procedimentos com retalhos cutâneos [6,7]. Tabela I - Porcentagem da área de necrose no sétimo dia pós-operatório. Animal Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 01 57 44 34 02 48 39 29 03 47 49 19 04 50 52 35 05 45 38 31 06 46 35 2 07 48 40 30 08 42 30 32 09 51 34 22 10 49 41 28 11 46 33 24 12 52 11 30 Média 48 37 27 G3< G2< G1 Teste ANOVA p<0,001 G1- Grupo 1 (Controle) G2- Grupo 2 (904 nm) G3- Grupo 3 (670 nm) Em virtude deste conhecimento, resolveu-se pesquisar os efeitos deste aumento de fl uxo sangüíneo causado pela irradiação laser na viabilidade do retalho cutâneo randômico isquêmico, utilizado com grande freqüência principalmente nas operações plásticas reconstrutoras. O rato foi escolhido, como modelo experimental, devido às facilidades de obtenção, de manipulação laboratorial e por ter sido utilizado em diversos experimentos semelhantes [4-7] O modelo de retalho cutâneo que evolui com isquemia em sua porção distal, com as medidas de 10 x 4 cm, proposto e aceito consensualmente desde 1965 por McFarlane et al. [8], foi escolhido para o experimento por se tratar de um retalho bem defi nido no estudo da isquemia e por ser uma linha de pesquisa muito estudada no Programa de Pós-graduação em Cirurgia Plástica da UNIFESP-EPM, apresentando uma porcentagem de necrose entre 25 a 50% a partir de sua porção distal, apesar que em 5,7% dos casos de retalhos isquêmicos não ocorre necrose signifi cativa [4,5]. Para garantir e padroni- zar o grau de isquemia adotou-se a conduta de interpor um fi lme plástico entre o retalho e o leito doador, para impedir a revascularização do retalho por meio dos vasos do leito, conforme proposto por Ugland [9] e revisto por Kaufman et al. [10]. A área de necrose do retalho foi avaliada no 7º dia pós- operatório por meio do método do gabarito de papel. Este método foi eleito também, devido à ampla utilização na litera- tura pesquisada, e também por ser de rápida e fácil execução, com uma margem de erro de apenas 5% [12]. Fisioterapia_v7n1.indb 38Fisioterapia_v7n1.indb 38 1/2/2006 18:50:081/2/2006 18:50:08 39Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Os resultados deste estudo demonstraram que o laser diodo foi efi caz no aumento da viabilidade do retalho cutâneo isquêmico e que o grupo 3 foi o que obteve uma menor área de necrose comparado aos outros grupos experimentais (p < 0,001). A técnica de aplicação deste estudo foi a pontual com contato [11,13,17] em um ponto localizado a 2,5 cm da base cranial do retalho [17], utilizando um molde plástico para padronizar o local de aplicação [8], sendo que a aplicação foi realizada imediatamente após o ato operatório e nos 4 dias subsequentes [17]. A dosimetria utilizada no estudo foi de 16 J/cm2 baseado em Kami et al. [11] sendo que este utilizou o laser diodo com comprimento de onda de 830 nm. Sugerimos a partir deste estudo que novas pesquisas sejam realizadas com esses mesmos comprimentos de onda, podendo ser diversifi cado o local de aplicação, número de pontos e dosimetria. Conclusão A radiação laser de baixa intensidade foi efi caz na via- bilidade do retalho cutâneo em ratos, sendo que a radiação 670 nm (grupo 3) mostrou-se o mais efi ciente comparados aos demais grupos. Referências 1. Kerrigan CL. Skin fl ap failure: pathophysiology. Plast Reconstr Surg 1983;72:766-77. 2. Kjartansson J, Lundeberg T. Effects of electrical nerve stimula- tion (ENS) in ischemic tissue. Scand J Plast Reconstr Hand Surg 1990;24:129-34. 3. Jurell G, Jonsson CE. Increased Survival of experimental skin fl aps in rats following tretment with antiadrenergic drugs. Scand J Plast Reconstr Surg 1976;10:169. 4. Duarte SI, Gomes HFC, Ferreira LM. Effect of dimethyl sulphoxide on necrosis of skin fl aps in rats. Can J Plast Surg 1998;6:93-7. 5. Liebano RE, Ferreira LM, Sabino Neto M. 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Fisioterapia_v7n1.indb 39Fisioterapia_v7n1.indb 39 1/2/2006 18:50:091/2/2006 18:50:09 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200640 Comportamento do lactato sanguíneo de pacientes com síndrome isquêmica aguda nas 48 horas de internação na unidade coronariana submetidos à reabilitação cardíaca fase I Behaviour of sanguineous lactate in pacients with acute ischemic syndrome among 48 hours of in-patient (phase I) cardiac reabilitation in coronary unit Cintia Godinho Junqueira*, Regina Roque da Glória*, Sílvia Mesquita**, Miguel Houri Neto, D.Sc.*** *Fisioterapeutas e preceptoras da residência em fi sioterapia pneumofuncional do hospital Biocor, especialistas em fi sioterapia pneumofuncional e em exercícios físicos aplicados à reabilitação cardíaca e populações especiais, **Fisioterapeuta do Hospital Vera Cruz, especialista em fi sioterapia pneu- mofuncional e em exercícios físicos aplicados à reabilitação cardíaca e populações especiais, ***Professor de Bioestatística no Mestrado em Ciência da Saúde - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) Resumo Avaliou-se a infl uência do exercício precoce pós Síndrome Isquêmica Aguda (SIA) no nível do lactato sanguíneo, nas 48 horas de evolução dos pacientes em unidade coronariana. Foram medidos 12 indivíduos com idade média de 69,4 ± 12,7 anos, sendo 8 do sexo masculino e 4 do sexo feminino, submetidos à análise laboratorial por coleta de amostra sanguínea, antes e após a reabilitação cardíaca na fase 1, segundo o protocolo estabelecido pelo American College of Sports Medicine (ACSM), dentro das 48 horas da admissão na referida unidade. Não houve diferença signifi cativa (p < 0,05) dos níveis de lactato obtidos no período de 48 horas da admissão pós SIA, demonstrando que o exercício físico precoce na fase aguda desta síndrome impediu o pico do lactato em torno das 48 horas de evolução. Palavras-chave: lactato sanguíneo, reabilitação cardíaca, miocárdio, infarto. Artigo original Abstract Was evaluated the effect of early exercise post Acute Ischemic Syndrome (AIS) on the level of the blood lactate within 48 hours of evolution of patients in the coronary unit. The data collection, which included 12 AIS patients, 69,4 ± 12,7 years old, being 8 males and 4 females, subject to laboratorial analyses by means of blood sample collection before and after the cardiac rehabilitation in phase 1, in compliance with the protocol established by American College of Sports Medicine (ACMS), within the 48 hours of admission in the mentioned unit. There was no signifi cant difference (p < 0,05) on the levels obtained in the period of 48 hours of admission post AIS showing that the early exercise in the acute phase of this syndrome prevented the lactate peak close to the 48 hours of evolution. Key-words: sanguineous lactate, cardiac rehabilitation, myocardium, heart attack. Artigo recebido em 15 de julho de 2005; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Regina Roque da Glória, Rua Desembargador Alfredo de Albuquerque, 20/502 Santo Antônio 30330-250 Belo Horizonte MG, Tel: (31) 3297-8872, E-mail: reginaroque@terra.com.br Fisioterapia_v7n1.indb 40Fisioterapia_v7n1.indb 40 1/2/2006 18:50:101/2/2006 18:50:10 41Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Introdução A Síndrome Isquêmica Aguda representa o evento decor- rente de uma diminuição do aporte de oxigênio ao miocárdio, em caráter agudo, ocasionando graus variados de sofrimento, que podem culminar em morte tecidual em maior ou menor grau. Compreende a angina instável e o infarto agudo do miocárdio. O diagnóstico da SIA baseia-se no quadro clínico de dor precordial, alterações eletrocardiográfi cas do segmento ST e alterações enzimáticas [1,2]. A isquemia cardíaca leva a um acúmulo de metabólitos e liberação de enzimas que existem no tecido, em níveis ele- vados. Esses marcadores isquêmicos são úteis para auxiliar tanto no diagnóstico quanto no prognóstico dos pacientes com IAM. São mensuradas as enzimas creatinoquinase-MB (CK-MB), a mioglobina, a troponina I e a desidrogenase lática (LDH). A evolução no tempo dos marcadores bio- químicos de lesão miocárdica é variável de acordo com cada enzima. A LDH apresenta uma elevação em torno de 12 a 18 horas, pico entre 24 a 48 horas e normalização em torno de 10 dias, tornando-se, assim, um marcador importante para avaliar os benefícios do exercício sobre a evolução dos pacientes nesta fase, havendo prazo para se iniciar a reabilitação cardíaca por apresentar um pico mais tardio [3,4]. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a reabili- tação cardíaca é parte integrante da terapêutica cardiológica. Um programa de exercícios físicos supervisionados deve ser iniciado tão logo o quadro do paciente se estabilize. A mobilização precoce tem o objetivo de reduzir os efeitos deletérios do repouso prolongado no leito, evitar compli- cações pulmonares, osteomusculares e vasomotoras e ainda controlar as alterações psicológicas e promover redução da permanência hospitalar [5-9]. O exercício de leve intensidade pode favorecer o sítio de liberação de lactato pelos músculos, fígado, intestino e pele, ou seja, diminuir a concentração de lactato e assim promover o equilíbrio entre a sua produção e remoção [10]. Em uma situação de isquemia, em que está havendo um desequilíbrio, o exercício pode contribuir para a remoção do lactato, mini- mizando os efeitos deletérios de sua concentração aumentada, nesta fase precoce da SIA O objetivo deste estudo foi avaliar a infl uência do exercício precoce pós SIA no curso do lactato sanguíneo nas 48 horas de evolução dos pacientes. Material e métodos A coleta de dados abrangeu o período de junho a agosto de 2004, incluindo uma amostra de 12 pacientes com idade média de 69,4 ± 12,7 anos, sendo 8 do sexo masculino e 4 do sexo feminino, realizado no Hospital Biocor, em Nova Lima, MG, conforme demonstra a Tabela I. Tabela I - Idade, sexo e evolução individual dos pacientes. Pacientes Idade (anos) Sexo Evolução 1 79 Masculino Alta 2 71 Feminino Alta 3 82 Masculino Alta 4 81 Masculino Alta 5 71 Feminino Alta 6 49 Masculino Alta 7 47 Masculino Alta 8 69 Masculino Alta 9 82 Masculino Alta 10 78 Feminino Alta 11 70 Feminino Alta 12 54 Masculino Alta Considerando a SIA como o evento decorrente de uma diminuição do aporte de oxigênio ao miocárdio, em caráter agudo, ocasionando graus variados de sofrimento, que po- dem culminar em morte tecidual em maior ou menor grau, foram incluídos no estudo os pacientes admitidos na Unidade Coronariana, com presença de pelo menos 2 dos seguintes critérios: 1) história clínica de dor, 2) alteração ECG, 3) alte- ração enzimática; que evoluíram sem complicações clínicas e/ou hemodinâmicas como recorrência de dor, edema agudo de pulmão, arritmias e intervenção mecânica. Esses pacientes foram submetidos à análise laboratorial por coleta de amostra de sangue arterial e venoso, por canula- ção arterial braquial ou venosa; tendo sido colhidas amostras de acordo com o protocolo de admissão do UCO nas 48 horas. As amostras foram avaliadas pelo aparelho gasômetro ABL 735 Radiometer Copenhagem. Os pacientes foram submetidos à reabilitação cardíaca na fase 1 após 6 a 12 horas da admissão, logo que se apresentassem estáveis clínica e hemodinamicamente, sendo monitorizados por eletrocardiografi a direta contínua. O programa de exercícios seguiu o protocolo estabelecido no hospital, baseado no American College of Sports Medicine (ACSM) e supervisionado diretamente pelo fi sioterapeuta. O protocolo estabelece atividades de baixa intensidade, com gasto calórico entre 1,5 a 3 METS, proporcional ao metabolismo utilizado para as atividades habituais diárias. O programa foi realizado duas vezes ao dia com duração em torno de 15 minutos, e inclui exercícios de mobilização ativa de membros superiores e membros inferiores e intensidade limitada pela variação da freqüência cardíaca. A progressão foi graduada da posição supina a ortostática e pelo número de repetições. Os critérios utilizados para interromper a sessão foram a queixa do paciente de cansaço ou dor, a variação da freqüência cardíaca de 20 bpm e alteração eletrocardiográfi ca. Resultados A análise estatística foi feita através do teste de pareamento fundamentado no teste t de Student para uma probabilidade de erro de 5% (p < 0,05). Fisioterapia_v7n1.indb 41Fisioterapia_v7n1.indb 41 1/2/2006 18:50:101/2/2006 18:50:10 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200642 A tabela II mostra os parâmetros bioquímicos de lactato à admissão e após as 48 horas de evolução. Tabela II - Níveis individuais de lactato na admissão e após 48 horas. Lactato Pacientes Admissão 48 horas 1 8 8 2 9 11 3 13 14 4 11 16 5 10 10 6 20 11 7 13 15 8 12 15 9 8 9 10 19 12 11 9 9 12 24 18 13,00 ± 5,24 12,33 ± 3,20 O intervalo de confi ança da média (IC) dos desvios de lactato (0,16 ± 1,2545), por apresentar uma amplitude de variação que contém o valor zero, indica a não signifi cância dos níveis dessa substância no período de 48 horas, sendo expresso pela equação: IC = Onde: X = Valor médio das diferenças individuais; T = Constante obtida da tabela T de student para: α = nível de erro para 5%; GL = 11 graus de liberdade; s = desvio padrão associado à média das diferenças; n = número amostral. Discussão Este estudo demonstra que a variação não signifi cativa do lactato, devido à reabilitação precoce, evitou que não se atingisse o seu pico usualmente esperado, o que se explica pela remoção mais rápida e efi caz do ácido lático por oxi- dação nos músculos esqueléticos e cardíaco, com exercícios de baixa intensidade, minimizando os efeitos do acúmulo de lactato sanguíneo. Na revisão da literatura, não há descrição de trabalhos que relacionem os efeitos do exercício sobre o lactato na reabilita- ção cardíaca fase 1, mas há várias citações na fase 2 [11-13]. A energia para a função normal da célula em condições de repouso e de exercício é obtida predominantemente pela via aeróbica, através do sistema ATP-CP, onde a oxidação da glicose ou glicogênio produz ATP pelo ciclo de Krebs. Sabe-se ainda que, em condições de anaerobiose, a falta de oxigênio ativa a enzima LDH que reduz o ácido pirúvico em ácido lático [14,15]. O metabolismo da glicose, sem a presença de oxigênio, como ocorre na isquemia miocárdica, produz ácido lático, que é o produto fi nal do metabolismo anaeróbio lático. O infarto agudo do miocárdio é o resultado de um foco de isquemia tecidual causada por uma perfusão tissular inadequada. Portanto, o fl uxo arterial baixo, baixa retenção de oxigênio e presença de glicólise anaeróbia caracterizam a isquemia miocárdica [16]. Essa situação resulta em privação de oxigênio acompanhada de remoção inadequada de metabólitos, e como a hipóxia inibe o metabolismo aeróbio, as reservas intracelu- lares de ATP podem fi car depletadas. A hipóxia decorrente da isquemia miocárdica também afe- ta a produção de energia pelo miocárdio, devido ao acúmulo de metabólitos tóxicos e acidose. Estes metabólitos resultam em desvio parcial da produção de ATP aeróbia habitual para o tipo anaeróbio menos característico; utilizando o metabo- lismo dos carboidratos como o combustível predominante e um acentuado aumento na produção de ácido lático. Numa situação normal, o coração é protegido contra a fadiga pela enzima LDH, que transforma o ácido lático produzido em pequena quantidade, em ácido pirúvico. Entretanto, durante a isquemia, esse processo é invertido, sendo importante o equilíbrio entre a produção e a remoção do lactato. A remoção do lactato ocorre pelo ciclo de Cori, tampo- namento e utilização por outras células, como musculares, esqueléticas e cardíacas [17,18]. Sabendo que o exercício de leve intensidade pode fa- vorecer o sítio de liberação de lactato pelos músculos, fígado, intestino e pele, ou seja, que o objetivo do exercício é diminuir a concentração de lactato e assim promover o steady-state entre a produção e a remoção do lactato, e sabendo que numa situação de isquemia miocárdica está havendo um desequilí- brio, presume-se que o exercício possa contribuir na remoção do lactato nesta fase precoce da SAI [19]. O ácido lático é oxidado após o exercício, ou seja, ele é convertido em ácido pirúvico e utilizado como substrato pelo coração e pelo músculo esquelético, sendo a remoção do ácido lático mais rápida quando realizado um exercício leve contínuo, do que quando na recuperação em repouso. Isto seria explicado pelo fato de o exercício leve aumentar a oxidação do ácido lático pelo músculo que está trabalhando. Estima-se que a intensidade ideal de exercício para promover a remoção do ácido lático seja de cerca de 30-40% do VO2 máximo, e que exercícios de intensidade mais elevada pode- riam acarretar um aumento na produção de ácido lático e, conseqüentemente, impedir a sua remoção. Possivelmente, o treinamento promoveria um fl uxo san- guíneo melhorado para o fígado, permitindo uma remoção aumentada de lactato. Vários trabalhos publicados na litera- tura científi ca demonstram os efeitos benéfi cos do exercício sobre o metabolismo dos indivíduos [20]. Fisioterapia_v7n1.indb 42Fisioterapia_v7n1.indb 42 1/2/2006 18:50:111/2/2006 18:50:11 43Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Estudos com lactato marcado metabolizado por animais concluíram que a oxidação é a principal via de sua eliminação no repouso (40-50% do lactato produzido) e nos exercícios leves (55-87% do lactato produzido). Em outro estudo com pacientes pós IAM, antes e após reabilitação cardíaca por 3 semanas, concluíram que este período foi efi ciente para causar adaptações, evidenciadas pelo decréscimo da FC e PA sistólica, bem como redução no ácido lático [21]. Assim, com base nos trabalhos publicados na fase 2 e 3 da reabilitação cardíaca [22,23], afi rmando que o treinamento físico tem como um de seus objetivos diminuir a concentração de lactato progressivamente ao longo dos dias, e sabendo que a remoção do lactato começa a ocorrer durante o exercício e pode durar até mais de 60 minutos após a interrupção do exercício, observa-se que, ainda na fase 1 da reabilitação cardíaca, ocorrem resultados benéfi cos do exercício sobre a concentração de lactato sanguíneo nos pacientes pós SIA [21,24]. Conclusão A partir dos resultados obtidos neste estudo, em que não houve a variação signifi cativa do lactato no curso das 48 horas após a SIA, não atingindo o pico de seus valores como seria esperado de acordo com a literatura, conclui-se que a reabili- tação cardíaca na fase 1, além dos benefícios comprovados para auxiliar a recuperação dos pacientes e para a redução da morbimortalidade cardiovascular, contribui também para melhor remoção do lactato. Os resultados encontrados, apesar de obtidos com número amostral estatisticamente sustentável, indicam que uma pesquisa desta natureza seja feita com um maior número de pacientes para que se defi na uma média mais próxima do universo populacional e a real instabilidade da resposta medida. Referências 1. Knobel L, Baruzzi ACA, Brilhante JJ, Feher J. Infarto agudo do miocárdio. In: Knobel L. Condutas no paciente grave. São Paulo: Atheneu; 1997. p.26-44. 2. Piegas LS. III Diretriz sobre tratamento do infarto agudo do miocárdio. 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Fisioterapia_v7n1.indb 43Fisioterapia_v7n1.indb 43 1/2/2006 18:50:121/2/2006 18:50:12 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200644 Correlação entre estresse e dor em pilotos de helicópteros do Grupamento de Radio Patrulha Aérea da Polícia Militar na cidade de São Paulo Correlation between stress and pain related by helicopters pilots from the Military Police Flying Group in the city of São Paulo Kelly Cristina Diniz*, Tabajara de Oliveira Gonzalez**, João Pedro Arantes***, Emílio Luiz Santana Panhosa****, Cezar Gallettii Júnior***** *Jornalista profi ssional pela Universidade de Taubaté (UNITAU), Graduanda de Fisioterapia pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), **Coordenador de estágio supervisionado na área Musculoesquelética e Professor de Fisioterapia Preventiva (UMC), Mestre em Ciências da Saúde, ***Professor no curso de Educação Física (UMC), Mestre em Psicologia pela PUCCAMP, ****Major Comandante do Grupamento de Rádio Patrulha Aérea da Polícia Militar (PM) do Estado de São Paulo (GRPAe), *****Capitão Médico do GRPAe, Chefe Seção Saúde do GRPAe Resumo Este estudo teve como objetivo avaliar a correlação entre estres- se e dor musculoesquética em pilotos comandantes de helicópteros do Grupamento de Rádio Patrulha Aérea da Polícia Militar (PM) do Estado de São Paulo (GRPAe), unidade Campo de Marte, na cidade de São Paulo. O estudo foi realizado com a participação de 15 pilotos voluntários, que responderam a dois questionários: o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp, devidamente autorizado, e o Inventário de Dor de Wisconsin adaptado. As informações obtidas foram analisadas pela estatística descritiva linear coefi ciente de correlação de Pearson (r). Os resultados mostraram alta taxa de desconforto musculoesquelético relacionado ao trabalho (60%). Entre os sintomáticos, a prevalência de dor foi 34,4% em ombro, seguido da coluna lombar (25%). Entre os sintomáticos de estresse (40%), 33% apresentavam-se na fase de “resistência” e 7% “quase- exaustão”, com sintomatologias prevalentes psicológicas (57%). A análise linear descritiva, pelo Coefi ciente de Correlação de Pearson, demonstrou alta correlação (r = 0,90) entre estresse e ocorrência de dor entre esses profi ssionais. Os resultados sugeriram que a profi ssão possui riscos ocupacionais de lesão musculoesquelética. Palavras-chave: dor musculoesquelética, pilotos de helicópteros; estresse. Artigo original Abstract The aim of this study was to assess stress level presented by helicopter pilots from the Military Police Group of Flying from the State of São Paulo (GRPAe), in the city of Sao Paulo, and correlated with musculosketal pain prevalence. Fifteen commandants pilots participated in this study, asking two questionnaires: Lipp’s Symptom Inventory of Stress to Adults (ISSL), properly authorized, and the Wisconsin Adapted Inventory of Pain. Data were analyzed by linear descriptive statistics Coeffi cient of Correlation of Pearson (r). The results indicated a high prevalence rate of symptoms among helicopters pilots (60%). The prevalence of pain involved the shoulder (34,4%) and the lumbar spine (25%). Among those who presented signs of stress (40%), 33% was in the resistance phase and 7% presented almost-exhaustion phase, with psychological symptomatology of stress prevailed (57%). The Coeffi cient of Correlation of Pearson was 0,90. The results indicated occupational risks for the musculoskeletal system. Key-words: musculosketal pain, helicopters pilots, stress. Recebido 21 de setembro de 2005; aceito 10 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Kelly Cristina Diniz, Av. José Benedito Braga, 514/01 Vila Mogilar 08773-020 Mogi das Cruzes SP, Tel: (11) 4699- 1460 / 8165-1323, E-mail:llydiniz@terra.com.br / diniz.k@bol.com.br Introdução O trabalho dos pilotos de helicópteros do Grupamento de Rádio Patrulha Aérea da Polícia Militar (PM) do Estado de São Paulo (GRPAe) incorpora muito dos fatores desencadeantes e/ou agravantes do estresse no ambiente de trabalho descritos na literatura [1]. O estresse é defi nido como uma mobilização química coordenada do corpo humano para atender à demanda de adaptação do organismo frente a uma situação ameaçadora Fisioterapia_v7n1.indb 44Fisioterapia_v7n1.indb 44 1/2/2006 18:50:131/2/2006 18:50:13 45Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 da homeostase, seja a natureza do estressor real ou imagi- nário. Dessa maneira, um elevado estado de ansiedade, que é caracterizado como um sintoma de estresse, pode infl uir na habilidade cognitiva devido à redução do nível de concentra- ção na execução de tarefas [2]. Padrão postural sedentário, ou trabalho sentado na maior parte do tempo, estado de alerta constante em atividades de risco de morte e contatos com situações de tragédia são comuns no meio de trabalho da PM [3]; somando-se à atividade de pilota- gem, a complexidade de tarefas num ambiente de velocidade e temporalidade acentuam as pressões diárias de serviço. No desempenho de suas atividades aéreas, principalmente, os pilotos de helicópteros estão submetidos a uma postura muscular estática e assimétrica, de tensões contínuas durante o tempo de vôo. Nessa atitude postural, sob vibrações constantes, quadros dolorosos podem ser desencadeados em regiões mus- culares e/ou osteotendíneas adjacentes a coluna vertebral [4]. Contudo, a dor musculoesquelética pode ser exacerbada por fatores pessoais, que dizem respeito à forma com que o indivíduo interage com o meio em que trabalha; episódios constantes de tensão emocional por fatores individuais e/ou sobrecarga de trabalho podem gerar o estresse ocupacional, que se caracteriza por desconfortos orgânicos sintomáticos, perda de desempenho profi ssional e falta de motivação [5]. Numa abordagem atual de investigação das causas dos acidentes aéreos, envolvendo o complexo homem-meio- máquina, o estresse é apontado como fator de infl uência na gênese e/ou no contexto do acidente [6]. Esse fato dinamizou o conceito de segurança de vôo no meio aeronáutico através da repercussão e conscientização do assunto; contudo, segu- rança não signifi ca ausência de risco. Segundo último relato estatístico disponível pelo De- partamento de Aviação Civil (DAC), no ano de 2003, foram registrados 18 acidentes com helicópteros civis homologados, o que corresponde a 26% do total da aviação civil conside- rando um aumento de 125% em relação a 2002, que consta de oito ocorrências. Ainda, segundo dados do DAC, entre os anos de 1990 a 2000, as investigações sobre acidentes aeronáuticos em toda a aviação apontam a falha operacional como resultado de erro de julgamento do piloto em 42% como o maior índice estatístico. As novas tecnologias oferecem muitas maneiras capazes de melhorar os índices de segurança de vôo dos sistemas de prevenção já bastante seguros, apesar do rápido crescimento do tráfego nas últimas décadas. Porém, os erros por fator humano representam desafi os difíceis de superar, uma vez que o homem não pode ser programado para não errar [7]. Materiais e métodos Foram voluntários desse estudo 15 pilotos comandantes de vôo de helicópteros, no Grupamento de Rádio Patrulha Aérea da Polícia Militar (PM) do Estado de São Paulo (GRPAe), unidade Campo de Marte, na cidade de São Paulo, sendo todos do sexo masculinos, casados e com formação universitária, com idades entre 34 e 47 anos (38,8 ± 3,38), tempo de trabalho na Instituição entre 3 e 216 meses (133,2 ± 59,43), tempo de vôo semanais entre 3h e 30 horas (8 ± 7,6) e tempo de vôo catalogados na CIV (Caderneta Individual de Vôo) entre 800h e 4.000 horas (2.278 ± 1.210). Do turno de trabalho, 86,6% operam em categoria mista (diurno e noturno) e 13,33% apenas em diurno. Foram utilizados dois questionários para a coleta de dados: o ISSL - Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp [8], com sua devida autorização, e o Inventário de Dor de Wisconsin [9] adaptado pela pesquisadora e analisado pelo seu orientador. O ISSL identifi ca a sintomatologia que o indivíduo apre- senta, avaliando se ele possui sintomas de estresse, o tipo de sintomas existentes (se somáticos ou psicológicos) e a fase de estresse em que se encontra. O questionário é composto de três partes que se referem respectivamente às três fases do estresse: alerta, resistência e exaustão. O ISSL pode ser requisitado e avaliado tão somente por profi ssional da área da saúde com formação no curso específi co, sendo esse desen- volvido e promovido pela própria criadora do instrumento, na cidade de Campinas (SP). A autorização para a realização da pesquisa foi requisitada por Carta de Solicitação, ao Major Comandante Ofi cial do GRPAe, unidade Campo de Marte, seguida de uma cópia do Projeto de Pesquisa. Após a aprovação do Projeto de Pesquisa pelo Comitê de Ética da UMC, a entrega dos ques- tionários foi feita por intermédio de um Tenente Psicólogo da corporação, sendo esse responsável eleito pelo Capitão Médico da Corporação. Após o reconhecimento do Termo de Consentimento e mediante a assinatura da Declaração do Voluntário, cada participante recebeu uma cópia do Termo de Consentimento e uma outra da Declaração de sua par- ticipação voluntária. A coleta dos dados foi estabelecida para dia e horário pré- determinados pelo Major Comandante Ofi cial da Corporação após serem reunidos todos os instrumentos em data instituída aos pilotos para a entrega do material. O dados obtidos foram organizados em planilhas do software Excel, considerando o nível de signifi cância de 0,05 índice compatível com as ciên- cias contemporâneas na área da saúde para garantir a validade do resultado da pesquisa e assegurar a confi abilidade do saber geral, utilizando-se para a análise estatística o coefi ciente de correlação de Pearson. Este cálculo foi realizado para determinar a correlação linear entre Estresse e Dor. O coefi ciente “r” varia de -1 a +1, com o valor 0 (zero) signifi cando que as duas variáveis não variam em conjunto. Resultados Dos 15 participantes, 60% relataram ter sentido algum tipo de dor ou desconforto musculoesquelético relacionado Fisioterapia_v7n1.indb 45Fisioterapia_v7n1.indb 45 1/2/2006 18:50:141/2/2006 18:50:14 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200646 ao trabalho, enquanto 40% eram assintomáticos de dor. O Gráfi co 1 apresenta o porcentual de sintomas relatados pelos sujeitos sintomáticos por região corporal, na qual se obteve maior concentração dos sintomas nos membros superiores (53,3%), onde a região de ombros prevaleceu com 34,4%. Em membros inferiores, a concentração foi de 50% com destaque para a região de coluna lombar (25%). Gráfi co 1 - Porcentual dos sintomas de desconfortos musculoesqueléticos apontados por regiões corporais. Quanto à intensidade de dor na última semana, 20% citaram como forte, 20% como moderada e outros 20% como fraca (Gráfi co 2). Sendo a dor fraca caracterizada pelo apontamento de uma única região; já para as intensidades moderada e intensa pelo menos duas regiões foram citadas no diagrama do corpo humano. Dos assintomáticos de dor/desconforto na última semana (40%), a presença de dor após um dia de trabalho se deu em região lombar (70%) ou em região de ombros (30%), encontran do-se as regiões apontadas unicamente. Dos sin- tomáticos de dor na última semana, porém sem sintomas de estresse, a prevalência de dor deu-se 66,6% em ombros e lombar concomitantes com variações apenas em intensidades, e 33,3% apenas em ombro, não havendo apontamento único para lombar. Gráfi co 2 - Porcentual das diferentes intensidades de dor caracterizadas pelos pilotos na última semana. O Gráfi co 3 demonstra o diagnóstico do estresse por caracterização da fase em que se encontram o sujeitos sin- tomáticos, sendo que 60% dos participantes do estudo não apresentaram estresse, enquanto 40% situaram-se de forma prevalente na fase de “resistência”. Não houve registro para a fase “alerta”; e a fase de “quase-exaustão” foi singular sob o aspecto da sintomatologia psicossomática do indivíduo participante. Gráfi co 3 - Porcentual dos sujeitos em cada fase do estresse, segundo critério diagnóstico do ISSL. O Gráfi co 4 retrata a sintomatologia de estresse preva- lente encontrada entre os sujeitos sintomáticos. A natureza psicológica dos principais achados sugere o desgaste mental da profi ssão, uma vez que todos os sujeitos sintomáticos de estresse referiram algum tipo de dor. Porém, cabe ressaltar que dos sintomáticos de dor nem todos tinham estresse. Gráfi co 4 - Sintomatologia predominante apresentada pelos pilotos com estresse positivo. O gráfi co 5, considerando-se nesse estudo os valores numéricos: 1 = “não tem estresse”; 2 = “resistência”; e 3 = “quase exaustão”, a correlação para estresse e dor na última semana foi positiva moderada (r = 0,61), ou seja, os sintomáticos de estresse relataram algum tipo de dor mus- culoesquelética. Gráfi co 5 - Correlação entre nível de estresse e percepção de dor (EVA) presente na última semana. Fisioterapia_v7n1.indb 46Fisioterapia_v7n1.indb 46 1/2/2006 18:50:151/2/2006 18:50:15 47Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 O maior índice de correlação desse estudo deu-se no grupo sintomático de estresse e de dor (r = 0,90) em relação ao tempo de trabalho no GRPAe como piloto de helicóptero, como demonstra o Gráfi co 6. Vale salientar que nesse grupo comportam-se os sujeitos, entre os quais, com maior experiên- cia de trabalho de atividade aérea. Gráfi co 6 - Correlação entre tempo de trabalho (meses) e escala de dor (EVA) referida na última semana. de coluna cervical, citados ombros e pescoço com 47% das queixas, e a coluna lombar (25% das queixas). Essas regiões foram também identifi cadas como relevantes em outro estudo [12], acrescentando-se os sintomas de membro inferior (3,1% das queixas de dor em regiões de tornozelos e pés), que se destacou nesse estudo com taxa semelhante ao das queixas em regiões de punhos e mãos (3,1%). Aparentemente, o desconforto ou dor nas regiões de colunas cervical (ombros e pescoço) e lombar são decorrentes das posturas adotadas por esses profi ssionais durante a atividade de pilotagem do helicóptero. Na maior parte do tempo da atividade aérea, os tripulantes de comando mantêm o cotovelo direito em fl exão e sem apoio para o antebraço, submetido à posição neutra para preensão do cíclico. Além disso, ocorre uma contração isométrica dos músculos do pescoço, coluna vertebral e membro superior, visando a estabilização do braço, de maneira a permitir que os movimentos precisos da mão sejam realizados. Também, para manter o olhar sobre o painel de instrumentos, acomo- dando ainda o suporte capacete de proteção, a manutenção da postura estática dos segmentos corporais proximais à cabeça requer considerável nível de contração muscular isométrica, o que predispõe a ocorrência de fadiga e desconforto muscular nessa região [12-15]. Uma outra possibilidade para a ativação muscular não- voluntária isométrica é a atividade muscular exercida com a fi nalidade de estabilizar a cabeça, ombros e braços, visando permitir os movimentos de punhos e mãos. Essa ativação muscular contínua gera mudanças metabólicas locais que podem levar a um padrão refl exo de propagação da dor [1,16]. Por meio desse mecanismo, à medida que as fi bras começam a se tornar fatigadas, outras fi bras em cadeia são ativadas refl examente, que também serão sobrecarregadas em decor- rência da alta demanda física e cognitiva do trabalho. No que diz respeito às variáveis envolvendo tempo de exposição ao trabalho (anos de profi ssão, horas de vôo CIV), estresse e dor na última semana, a correlação signifi cativa de 0,90 demonstra que níveis de estresse nas fases de “re- sistência” e “quase-exaustão” desencadeiam sintomas psicos- somáticos. Contudo, a correlação moderada entre estresse e dor na última semana (r = 0,61), demonstra que dor e estresse podem ou não estar presentes concomitantemente. Ou seja, nos sujeitos assintomáticos de estresse (60%), três sujeitos não relataram qualquer tipo de dor na última semana (33,3%); outros três (33,3%) não referiram dor na última semana, porém, a memória subjetiva da dor, após um dia de trabalho, indicou duas citações para dor lombar e uma para região dos ombros. Já os assintomáticos de estresse, porém, com dor na última semana (33,3%), relataram diferentes intensidades da dor, sendo as regiões lombar e cervical as mais indicadas. Nos sujeitos sintomáticos de estresse (40%), todos referem qualquer tipo de dor na última semana. Embora a sintomatologia psicológica de estresse foi prevalente no grupo em fase de “resistência”, o sujeito na fase de “quase-exautão” O Gráfi co 7 monstra as alterações gerais para melhor vi- sualização da presença de qualquer alteração no desempenho das AVDs na última semana, tanto em sujeitos sintomáticos de dor como em assintomáticos. Gráfi co 7 - Caracterização em alterações, total ou parcial, nos desempenhos das AVDs na última semana. Discussão As prevalências encontradas nessa investigação suportam as hipóteses levantadas na literatura [7, 10, 11] no tocante as infl uências dos fatores de riscos ocupacionais na higidez dos pilotos de helicópteros, repercutindo, assim, na qualidade de vida desses trabalhadores e, conseqüentemente, na segurança de vôo. Os fatores associados ao estresse também foram consistentes com os achados nesses estudos, incluindo fatores importantes como tempo de carreira, idade e aspectos da organização do trabalho como a produtividade. Dentre as regiões corporais mais acometidas nos sujeitos sintomáticos de dor após um dia de trabalho estão as regiões Fisioterapia_v7n1.indb 47Fisioterapia_v7n1.indb 47 1/2/2006 18:50:161/2/2006 18:50:16 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200648 apresentou igualmente sinais físicos e psicológicos de estresse. Entre esses sujeitos estão os relatos de dor referida, em regiões de cabeça, mãos, abdominal, coxa, tríceps sural e pés, comumente indicados no questionário de Wisconsin. Portanto, considera-se uma evidência desse estudo que as fases de “resistência” e de “quase-exaustão”, que se carac- terizam por sintomatização de alterações fi siológicas decor- rentes da percepção de um agente estressor, por um período superior a uma semana, demonstrando uma incapacidade psico-comportamental de enfrentamento da situação ou do agente de estresse e/ou uma sobrecarga orgânica devido à alta demanda cognitiva [7]. O fato de não haver nesse estudo a caracterização da fase “alerta” de estresse pode ser um indicativo de que os sujeitos assintomáticos de estresse, porém com memória da dor após um dia de trabalho, apresentem essa qualifi cação transitória. Pois, a fase de alerta é caracterizada por sintomas alarmes de cansaço que regridem após um período de repouso, restabelecendo-se, assim, a homeostase. Contudo, essa pos- sibilidade não é uma afi rmativa dessa análise. O estresse tal qual é compreendido na literatura trata-se de um processo, abrangendo esferas do complexo social-individual, ou seja, a forma com que o sujeito age e interage em seu ambiente de convívio com o outro e consigo mesmo. A fase de “alerta” pode ser caracterizada como o ins- tante em que o organismo percebe o agente estressor e ativa o sistema de “luta ou fuga”, reagindo com a liberação de adrenalina pelo Sistema Nervoso Autônomo Simpático, desencadeando hiper-ventilação, taquicardia e elevação da pressão arterial. Na fase de “resistência”, há uma latência do agente estressor com o organismo, que utiliza as reservas de energia adaptativa, caracterizando falta de concentração, mal-estar e dúvidas quanto a si mesmos, tornando o indi- víduo mais suscetível a doenças. A fase de “quase-exaustão” qualifi ca o organismo enfraquecido, com manifestações de algumas patologias não tão graves, com baixa energia adapta- tiva à demanda do trabalho [17]. Conclusão Portanto, esse estudo sobre o trabalhador piloto de he- licóptero reporta ao estresse no ambiente de trabalho como uma desordem psicofi siológica, de natureza cumulativa, em face ao desempenho das tarefas e uma sensação de indis- posição às altas exigências da atividade profi ssional. A cor- relação apreciável desse estudo (r = 0,90) para os itens dor e tempo de trabalho no GRPAe aponta para a relação estresse e dor no ambiente de trabalho, comprovando que quanto mais tempo de profi ssão, tanto maior apresentam-se a prevalência e a intensidade de sintomas dolorosos musculoesqueléticos. Referências 1. Walsh IA, Gil Coury H. Evolução espontânea de sintomas musculoesqueléticos relacionados ao trabalho: um estudo pro- spectivo. Rev Bras Fisioter 2002;6(3):155-158. 2. Rosa GMM, Souza VCS, Pistarino LD, Gaban GA, Serafi m AD, Faria ETB. Análise da infl uência do estresse no equilíbrio postural. Fisioter Bras 2004;5(1):50-54. 3. Lipp, MN. Pesquisas sobre stress no Brasil: saúde, ocupações e grupos de riscos. 2a ed. Campinas: Papirus; 2001. 4. Oliveira, CG, Nadal J. Transmissibility of helicopter vibration in the spines of pilots in fl ight. Aviat Space Environ Med 2005; 76(6): 576-580. 5. Greenberg JS. Administração do estresse. 1a ed. Traduzida. 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Fisioterapia_v7n1.indb 48Fisioterapia_v7n1.indb 48 1/2/2006 18:50:171/2/2006 18:50:17 49Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Fatores que interferem na reabilitação protética de idosos amputados de membros inferiores Aspects that infl uence the prosthetic rehabilitation of elderly lower limb amputee Júnea Mara Gonçalves Moraes*, Daniele Sirineu Pereira*, Gisele de Cássia Gomes, M.Sc.**, Leani Souza Máximo Pereira, D.Sc.*** *Fisioterapeutas pela Universidade Federal de Minas Gerais, **Profª Assistente do Departamento de Fisioterapia da UFMG, ***Profª Adjunta do Departamento de Fisioterapia da UFMG Resumo Amputações de membros inferiores (AMI) têm relevante im- pacto na capacidade funcional e na qualidade de vida dos idosos. O uso da prótese por pacientes geriátricos pode promover maior independência e aumento da expectativa de vida. Entretanto, a rea- bilitação protética de idosos com AMI é tarefa complexa, em que vários fatores devem ser considerados. O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura sobre os fatores que interferem na reabilitação protética de idosos com AMI. Os fatores reportados na literatura, com impacto na reabilitação de idosos com AMI, foram: idade, nível e tipo de amputação, comorbidades, cicatrização, ream- putações, condições físicas, psicológicas e cognitivas. Orientações pré e pós-operatórias, cuidados com o coto e a escolha da prótese também interferem no sucesso da reabilitação. De acordo com a lite- ratura, inúmeros fatores podem interferir na protetização do idoso com AMI. Contudo, o sucesso na reabilitação pode ser alcançado desde que as propostas terapêuticas considerem as características peculiares dessa população. Palavras-chave: idoso, amputação, reabilitação, próteses. Revisão Abstract Lower limb amputation (LLA) represents a signifi cant impact to the elderly functional capacity, with consequences in their quality of life. The use of prosthesis for geriatric patients provides them with a greater independence and improved life expectancy. However, the prosthetic rehabilitation of elderly with LLA is a complex task, with several aspects that should be considered. The aim of this study was to make a literature review about the aspects that infl uence the prosthetic rehabilitation of the elderly with LLA. The aspects reported in the literature which have impact on the elderly with LLA rehabilitation were: age, level and type of amputation, co-morbidities, scarring, reamputation, physical, psychological and cognitive conditions. Pre and post surgery recommendations, caring of the stump and the selection of the prosthesis also infl uence the rehabilitation success. In accordance with the literature, innumerable aspects can infl uence the prosthetization of elderly with LLA. However, success in rehabilitation can be achieved provided the therapeutic approaches take into account the particularities of this population. Key-words: aged, amputation, rehabilitation, prostheses. Artigo recebido em 15 de dezembro de 2004; aceito em 15 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Daniele Sirineu Pereira, Rua Rio de Janeiro, 1186/1704 Centro 30160-041 Belo Horizonte MG, Tel: (31)3224- 5923/8821-1228, E-mail: danisirineu@yahoo.com.br Introdução O fenômeno de crescimento da população idosa brasileira é acompanhado por um aumento na prevalência de doenças crônico-degenerativas [1,2]. Neste contexto, as vasculopatias periféricas assumem um lugar de destaque entre as causas de incapacidade e óbito em idosos, sendo apontadas pela literatura como as principais responsáveis pelas amputações de membros inferiores (AMI) nestes indivíduos [2-4]. As AMI representam um importante impacto sócio-econômico, com diminuição da capacidade funcional, de socialização e conseqüentemente, da qualidade de vida do indivíduo [5-8]. Além disso, o mito de que idosos não possuem perspectiva de protetização acaba conduzindo-os à inatividade e ao declínio funcional. Fisioterapia_v7n1.indb 49Fisioterapia_v7n1.indb 49 1/2/2006 18:50:181/2/2006 18:50:18 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200650 Embora o prognóstico do idoso amputado seja permeado por uma alta taxa de mortalidade, vários estudos têm demons- trado otimismo em relação à reabilitação funcional desses pacientes após a amputação [6,9-12], mesmo que as metas sejam menos ambiciosas. A utilização de dispositivos protéticos por pacientes geriátricos promove maior independência funcional, autono- mia e aumento da expectativa de vida dos idosos com AMI [13-15]. Entretanto, é necessário considerar a complexidade do processo de reabilitação protética (RP) de um idoso, pois geralmente, além da amputação, outras comorbidades estão presentes nesses indivíduos [3,13,16,17]. O presente estudo teve como objetivo fazer uma revisão bibliográfi ca sobre os fatores que interferem na RP de idosos submetidos à AMI. Material e métodos As bases eletrônicas de dados Medline, Lilacs e Scielo foram pesquisadas, com busca restrita ao período de 1993-2004. As palavras-chave utilizadas foram elderly, amputation, lower limb, rehabilitation, prosthetic. A busca restringiu-se a artigos publi- cados em inglês e português, cujas pesquisas fossem realizadas com humanos de faixa etária acima de 60 anos de idade. A seleção dos artigos foi realizada por meio dos seguintes crité- rios: 1. população: idosos amputados de membros inferiores; 2. etiologia da amputação: vasculopatia periférica, uma vez que a maioria das amputações na população geriátrica ocorre devido às mesmas; 3. tipo de amputação: unilateral ou bilateral; 4. nível da amputação: transtibial, transfemural ou desarticula- ção do quadril; 5. desfecho investigado: ênfase no processo de reabilitação. Foram encontrados 58 artigos científi cos, sendo incluídos 35 pela concordância com os critérios defi nidos, den- tre eles ensaios clínicos experimentais ou quasi-experimentais, estudos transversais e relato de caso. Resultados Para que um programa de reabilitação tenha sucesso, o idoso deve passar por uma avaliação pré-operatória minuciosa em que condições clínicas, como situação física e mental, e condições sócio-econômicas do indivíduo devem ser con- sideradas. A análise de tais fatores contribui não só para de- terminar o melhor nível de amputação, mas para estabelecer objetivos realistas para reabilitação [16]. Os fatores reportados na literatura que podem interferir, com grande impacto, na reabilitação de idosos com AMI foram a idade elevada, o nível e tipo de amputação, a inte- gridade da pele, a presença de comorbidades, reamputações, além do declínio das condições físicas, psicológicas e cogni- tivas [9,13,14,17,18]. A idade encontra-se fortemente relacionada à presença de comorbidades e à motivação, variáveis que interferem no resultado da reabilitação do idoso [7]. Ao investigar a infl uência da idade avançada na RP de am- putados, Kerstein et al. [19] verifi caram que esta se relacionou com níveis mais altos de amputação, incidência de amputa- ções bilaterais e maior tempo necessário para a reabilitação. Sakuma et al. [11] constataram que a maioria dos amputados idosos capazes de deambular com a prótese era 10 anos mais jovem, em comparação àqueles que não conseguiram a mar- cha. Flecher et al. [20] identifi caram a idade avançada como um preditor negativo para o sucesso com prótese, enquanto Bilodeau et al. [10] observaram que a utilização do dispositivo protético decresce com a idade. Entretanto, mesmo o aumento da idade sendo apontado como um dos principais fatores que interferem na RP, ele sozi- nho não é contra-indicação para tal [3,9,11]. Em um estudo de caso, duas idosas com mais de 90 anos, com amputação transtibial por doença vascular periférica (DVP), conseguiram marcha comunitária, apesar de infecções recorrentes do coto e comprometimentos circulatórios severos [12]. Em relação aos tipos de AMI, unilateral ou bilateral, Sakuma et al. [11], considerando a capacidade de deambular com a prótese, encontraram taxas de sucesso de 78% nas amputações transtibiais bilaterais e de 15% nas transfemorais bilaterais. De Fretes et al. [21] reportaram que 80,6% dos amputados bilaterais foram protetizados ainda no hospital. Já em um estudo brasileiro, Diogo [22] verifi cou que 58% dos idosos com AMI unilateral foram protetizados, contra 22% dos idosos com AMI bilateral, sendo que nestes últimos a dependência funcional foi maior. O nível de amputação aparece como um dos parâme- tros mais fortes para obtenção de sucesso com a prótese [9,13,18,20]. No estudo de Leung et al. [13], do grupo con- siderado sucesso na RP, 76% eram amputados transtibiais e apenas 20%, amputados transfemorais. Em uma análise prospectiva sobre o sucesso da RP de 116 idosos com AMI, 100% dos amputados transtibiais foram protetizados, sendo que destes, 73% deambulavam com a prótese por tempo integral. Em contraste, 73% dos indivíduos amputados transfemorais colocaram a prótese, e destes apenas 50% deambulavam com a prótese por tempo integral. A taxa de protetização dos amputados bilaterais neste estudo foi de 83%, sendo que 27% destes utilizavam a prótese por tempo integral [9]. Em um estudo com 241 pacientes idosos com AMI, não ocorreu relação entre o nível de amputação e a existência ou não de diabetes, nível de atividade de vida diária (AVD), mobilidade e cognição no período pré-operatório [4]. Níveis de amputação acima do joelho associaram-se a um risco maior de quedas [23], à baixa confi ança no equilíbrio e menor mobilidade protética em relação àqueles com amputações abaixo do joelho [24]. Estudos relatam correlação negativa entre o número de comorbidades e maiores níveis de independência na deam- bulação e sucesso no uso da prótese [13,17,25]. Na literatura, os fatores associados ao insucesso na RP foram doenças Fisioterapia_v7n1.indb 50Fisioterapia_v7n1.indb 50 1/2/2006 18:50:181/2/2006 18:50:18 51Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 cardiopulmonares e cerebrovasculares; alterações visuais e comprometimento cognitivo [9,14,26]. Entretanto, Steim- berg et al. consideram que a protetização do idoso apenas seria contra-indicada quando essas comorbidades estão em estágio severo o sufi ciente para impor rígidas limitações na tolerância ao esforço [27]. Não se observou vínculo entre a presença de diabetes com o processo de adaptação com a prótese e o desempenho funcional entre indivíduos com AMI [7,14], assim como não foram constatadas diferenças na prevalência do nível de amputação e na presença de comorbidades entre amputados diabéticos e não diabéticos [8]. Davis et al. [16] referem que as contraturas da articulação do joelho difi cultam e podem, até mesmo, impossibilitar o uso da prótese, corroborando com o estudo de Fletcher et al. [20], em que as contraturas em fl exão também constituíram um fator para o insucesso no uso da prótese. O estudo de Melchiorre et al. [25], ao avaliar o índice de independência funcional e o tempo de reabilitação de am- putados de etiologia vascular e traumática, não demonstrou diferença entre os dois grupos. Do mesmo modo, a causa da amputação não afetou o tempo gasto na reabilitação em estudo de Scremin et al. [28]. A integridade da pele do membro residual exerce infl uên- cia relevante na colocação da prótese [9,14,20]. McWhinnie et al. [14] relatam que a má cicatrização do coto ocorreu em 25% dos pacientes amputados abaixo do joelho, enquanto que não houve problemas de cicatrização nas AMI acima do joelho. Já em um estudo de Scremin et al. [28], o maior tempo para a cicatrização se associou mais à idade do que à causa da amputação. A presença de infecção e úlceras no coto foi descrita como fator relacionado ao atraso na adaptação da prótese [11,14], à falha na RP [9] e à menor funcionalidade no momento da alta da reabilitação [25]. A ocorrência de reamputações em idosos com AMI também é um fator relevante na RP desses indivíduos, sendo apontada como um dos motivos para o insucesso no uso da prótese [18,20]. Estudos demonstram que, após 5 anos de amputação de causa vascular, o risco de se perder o membro contralateral é de 20 a 50% [3], enquanto a taxa de reamputa- ção, após 8 anos, para um nível mais alto, foi de 44% e de 66%, considerando também a perda do membro contralateral [29]. McWhinnie et al. [14] verifi caram que o número de re- amputações foi maior entre os pacientes diabéticos quando comparado aos pacientes não diabéticos. A presença de fatores como idade, sexo, dor residual, gangrena, diabetes, doença isquêmica do coração, tabagismo e reconstrução vascular prévia não infl uenciaram a inde- pendência com a prótese [7,30,31]. Já o VO2 máx mostrou-se relevante preditor da capacidade funcional e do sucesso na RP de amputados por DVP [32]. Campbell e Ridler [33] encon- traram o nível de mobilidade e a independência no período anterior à amputação como bons preditores para indicar o uso da prótese por pacientes com AMI devido à DVP. Também indicadas na literatura como fatores fundamen- tais no sucesso da RP, são as orientações dadas aos pacientes antes e após a cirurgia de AMI. Diogo [34] menciona que orientações quanto à higiene, realização adequada do curativo e enfaixamento, posicionamento e exercícios são procedi- mentos essenciais para o bom preparo do coto, visando à colocação da prótese. A escolha adequada da prótese é outro aspecto impor- tante ao se iniciar a RP. Critérios como idade, peso, nível de amputação, estado geral do coto, condições físicas, nível de atividade física, ocupação do paciente, ambiente de moradia e trabalho, condições econômicas, a aparência do dispositivo protético, assim como as peculiaridades de cada indivíduo devem ser consideradas no momento da protetização [35,36]. A observação de todos estes critérios facilita a adaptação e a aquisição da prótese [35]. Outro fator que parece interferir no uso da prótese é a utilização da cadeira de rodas (CR), pelo idoso, como primeira opção para a locomoção. O uso da CR entre os idosos com AMI é muito comum, mesmo em indivíduos com condições de iniciar a marcha com andador ou muletas. Tal fato leva o paciente a acomodar-se, não desenvolvendo sua habilidade para a marcha e posterior protetização [37,38]. Em um estudo de Bilodeau et al. [10], o fato de o indivíduo possuir CR não contribuiu para o menor uso da prótese. A experiência de quedas, o medo de cair e a falta de con- fi ança no próprio equilíbrio são prevalentes entre indivíduos comunitários com AMI [23,24]. Entretanto, Miller et al. [24] verifi caram que a baixa confi ança no próprio equilíbrio foi o único fator que afetou a mobilidade com a prótese e o nível de participação social. A experiência com quedas e o medo de cair não exercem infl uência signifi cativa na mobilidade protética [24]. Discussão Mesmo que a reabilitação de idosos com AMI apresente inúmeras difi culdades, um percentual signifi cativo desses pacientes pode obter sucesso com a RP, tornando-se inde- pendente na deambulação com a prótese, no auto cuidado e, assim, retornar à vida comunitária. Atualmente, a taxa de sucesso na RP de idosos varia entre 30 e 60%, dependendo principalmente do nível da amputação [9,29]. Quanto mais proximal a amputação, maior é o gasto energético para deambulação com a prótese, difi cultando o seu uso pelos idosos. Tal difi culdade ocorre pela prevalência de doenças cardiopulmonares e a baixa tolerância ao exercício na população geriátrica. Dessa forma, idosos com AMI proxi- mais obtêm menor sucesso na deambulação com a prótese, pois o esforço exigido durante a marcha pode exceder a sua capacidade física [9,11,32]. Além disso, a perda do joelho aumenta a demanda ener- gética, diminui a propriocepção, o equilíbrio e a efi ciência da marcha [39]. A preservação do joelho, portanto, é importante Fisioterapia_v7n1.indb 51Fisioterapia_v7n1.indb 51 1/2/2006 18:50:191/2/2006 18:50:19 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200652 para a RP, pois diminui o gasto energético e, biomecanica- mente, minimiza as alterações do centro de massa, que ocor- rem durante a marcha e as transferências [39]. Apesar da reserva cardiopulmonar muitas vezes limitar a capacidade de deambulação do idoso com a prótese, é ne cessário considerar os outros benefícios proporcionados pelo uso da mesma, como a realização de atividades de vida diária básicas, garantindo um mínimo de funcionalidade para o paciente. Bilodeau et al. [10] constataram que 83% dos idosos com AMI estavam satisfeitos com a prótese, mesmo aqueles com baixo nível de atividade. Além disso, o dispositivo protético promove melhor imagem corporal, ajudando-os a desenvolver confi ança em suas habilidades físicas [10]. Nos estudos revisados, as comorbidades encontradas como principais preditores de insucesso foram doenças car- diopulmonares e alterações cognitivas [9,11,19,27]. Alguns autores são de opinião que os idosos com comorbidades não estão aptos à protetização, enquanto para outros, a gravidade da comorbidade é o que determina se o paciente é candidato ou não à protetização [14,20,27]. Dessa forma, não existe na literatura um consenso sobre a maneira de se identifi car com clareza um candidato potencial para colocação da pró- tese. Isso reafi rma a necessidade de uma avaliação criteriosa sobre as reais condições de saúde do idoso amputado para se descartar a possibilidade de protetização. Os achados de Miller et al. [24] acerca da baixa confi ança no equilíbrio em amputados de membro inferior também sugerem que tal condição deve receber atenção especial no processo de reabilitação. Um programa constituído por atividades que desenvolvam força, coordenação e equilíbrio pode aumentar ou, até mesmo, restabelecer a confi ança do indivíduo em seu equilíbrio, promovendo maior funcionali- dade e participação social. A presença de contraturas constitui um problema especial no processo de RP, podendo se desenvolver antes mesmo da amputação e, em muitos casos, torna-se um fator impedi- tivo para colocação da prótese. Todavia, as contraturas são evitáveis através do posicionamento adequado do membro acometido e da abordagem fi sioterapêutica, medidas que podem ser implementadas precocemente, antes mesmo da amputação. Ainda que a difi culdade de protetização em idosos am- putados bilaterais seja maior, esta não é uma condição que contra-indica o uso de prótese nesta população. Considerando todos os fatores que interferem no uso da prótese, a percenta- gem de idosos amputados bilaterais protetizados é bastante signifi cativa. Um ponto em comum em todos os estudos foi o uso de dispositivos de auxílio à marcha por estes pacientes, fato que pode ter contribuído para o sucesso da reabilitação desses indivíduos. Outro fator que infl uencia negativamente a reabilitação de idosos com AMI é o grande número de reamputações nesses indivíduos [11,18,20]. Atualmente, o que parece acontecer é a opção por uma amputação primária proximal, mesmo que a protetização de um idoso amputado transfemoral seja mais difícil. De acordo com os estudos revisados, isto ocorre, prin- cipalmente, para se evitar reamputações e conseqüentemente maior tempo de internação e declínio funcional. Adunsky et al. [4] reportam que a opção por uma amputação proximal é re- sultado de um alto grau de comprometimento e gravidade das doenças vasculares nos idosos e da alta incidência de infecções no coto no pós-operatório. Estudos indicam que a amputação primária em um nível proximal aumenta a chance de sucesso na recuperação no período pós-amputação e a relacionam a uma menor necessidade de reamputação [11,30]. O aumento da idade também se mostrou como um fator relevante na reabilitação de idosos com AMI [10,20,28]. No entanto, apesar das prováveis difi culdades, o idoso de idade mais avançada com AMI não está fadado ao fracasso na colocação de uma prótese. Resultados positivos na reabilitação protética de pacientes geriátricos, em muitos estudos, confi rmam que a idade avan- çada como fator isolado não é contra-indicação para o uso da prótese [9,11,12]. Contudo, para o sucesso na protetização de indivíduos idosos é imprescindível um enfoque amplo e específi co que respeite o tempo e as limitações dos mesmos. Em alguns estudos, foi encontrada relação entre idade e tempo necessário para reabilitação [19,28], evidenciando que o idoso exige um tempo maior para obter sucesso com a prótese. Segundo Scremin et al. [28], tal achado mostra o grande investimento necessário para que o idoso chegue a um nível de independência satisfatório, o que só pode ser obtido através da internação do paciente ou de tratamento ambulatorial intensivo. Assim, uma reabilitação bem feita é um ponto chave para o sucesso no uso da prótese por um amputado de membro inferior, principalmente se este é um idoso com múltiplos acometimentos. Fletcher et al. [20] relataram que de 199 pacientes idosos, 74% daqueles com amputação unilateral, reabilitados em uma clínica especializada, obtiveram sucesso com a prótese, em contraste com 9% que não receberam reabilitação especializada. Adunsky et al. [4], ao encontrarem resultados insatisfatórios quanto a protetização de idosos com AMI, consideraram que o tempo para a reabilitação foi insufi ciente e que a solução seria um período maior de treinamento funcional. De acordo com a literatura, existe uma grande probabi- lidade de sucesso na protetização de pacientes geriátricos. Entretanto, a indicação de prótese para esses pacientes não deve ser generalizada, sendo necessário o conhecimento dos fatores que interferem na protetização e no uso da prótese, ponderando custo/benefício, para realização de uma reabili- tação mais realista e sem tentativas frustrantes. Sobretudo, torna-se evidente a necessidade de uma equipe multidisci- plinar experiente e bem treinada envolvida no processo de reabilitação do idoso amputado. Os demais fatores, como integridade da pele, hábitos sociais, nível de mobilidade e independência anteriores à Fisioterapia_v7n1.indb 52Fisioterapia_v7n1.indb 52 1/2/2006 18:50:201/2/2006 18:50:20 53Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 amputação, orientações recebidas no pré e pós-operatório, quedas e medo de cair e demais condições físicas, psicológi- cas e cognitivas são achados muitas vezes isolados que não permitem conclusões quanto ao seu real impacto na RP dessa população. Conclusão A variedade de instrumentos e defi nições utilizadas nos estudos para defi nir a adaptação com a prótese, o sucesso na reabilitação e demais variáveis constituíram uma difi culdade para a comparação entre os resultados e a determinação da relevância dos fatores que interferem signifi cativamente na reabilitação de idosos com AMI. O que existe é uma grande similaridade dos achados e uma tendência dos resultados em favor da presença de comorbidades, idade, reamputações, tipo e nível de amputação como os principais fatores que interferem na protetização de idosos com AMI. Referências 1. Ramos LR, Rosa TEC, Oliveira ZM, Medina MCG, Santos FRG. Perfi l do idoso em área metropolitana na região sudeste do Brasil: resultados de inquérito domiciliar. Rev Saúde Pública 1993;27(2):87-94. 2. DATASUS. Informações do Datasul; base de dados. [citado 2004 jul 7]. Disponível em URL: http://www.datasus.gov. br/tabnet/tabnet.htm 3. Cutson TM, Bongiorni DR. 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Fisioterapia_v7n1.indb 54Fisioterapia_v7n1.indb 54 1/2/2006 18:50:221/2/2006 18:50:22 55Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 O exercício físico e a regeneração muscular The exercise and the muscle regeneration Fabiana Elisa Toressan Faria*, Viviane Balisardo Minamoto, D.Sc.** *Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Universidade Metodista de Piracicaba, **Docente do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Universidade Metodista de Piracicaba Resumo Um dos mais importantes avanços no tratamento das lesões musculoesqueléticas provém da compreensão de que o início rápido da atividade pode promover a recuperação da função, enquanto o tratamento desta com repouso prolongado poderá retardar a recuperação, desfavorecendo a regeneração muscular. Esta revisão objetiva estabelecer os mecanismos envolvidos na regeneração muscular e apresentar resultados de estudos relacionados ao efeito da mobilização no tratamento das lesões musculares. Os estudos apresentados recomendam a prática do exercício físico para auxiliar o processo de regeneração muscular, embora algumas variáveis como tempo de início, duração, intensidade e tipo de exercício devam ser alvos de pesquisas futuras. Palavras-chave: lesão muscular, mobilização, imobilização, regeneração. Revisão Abstract One of the best advance in the treatment of skeletal muscle injuries are related to the knowledge that exercise is important to improve muscle healing, while the use of inactivity can impair the healing process. The aim of this review is to present the mechanisms involved in the muscle regeneration and also to show the results of studies related to the effect of mobilization in the treatment of these muscle injuries. The studies suggest to use the physical exercise to improve the muscle regeneration process, although some variables such as the early or late onset, duration and intensity of exercise and the type of exercise should be studied in more detail. Key-words: muscle lesion, mobilization, immobilization, muscle regeneration. Artigo recebido em 15 de abril de 2005; aceito em 15 de novembro de 2005. Endereço para correspondência: Profa. Dra. Viviane Balisardo Minamoto, Curso de Mestrado em Fisioterapia, Universidade Metodista de Piracicaba, Rodovia do Açúcar, Km 156 Campus Taquaral 13417-530 Piracicaba SP, Tel: (19) 3124 1558, Fax (19) 3124 1659, E-mail: vbminamo@unimep.br Introdução As lesões musculares representam um grande número de lesões esportivas, profi ssionais e recreacionais. Estas lesões ocorrem através de vários mecanismos que variam do trauma direto, incluindo laceração e contusão muscular, até lesões indiretas associadas à distensão, isquemia e disfunções neurológicas [1]. O diagnóstico e o tratamento inapropriado dessas lesões podem comprometer a participação do atleta no treinamento e na competição. Deste modo, não é surpresa que profi s- sionais da área de medicina esportiva estejam empenhados em descobrir como favorecer e acelerar a recuperação de lesões musculares. Nestas circunstâncias, a questão da imobilização x mobilização pós-lesão apresenta crescente atenção, tanto na prática clínica quanto em pesquisas experimentais. Um dos mais importantes avanços no tratamento das lesões musculoesqueléticas provém da compreensão de que o início rápido da atividade pode promover a recuperação da função, enquanto o tratamento desta com repouso pro- longado poderá retardar a recuperação desfavorecendo a regeneração muscular [2]. Entretanto, algumas variáveis como intensidade, duração e início do exercício ainda merecem estudos, pois existe divergência na literatura em relação ao melhor protocolo de exercício realizado após lesão muscular. Sendo assim, a fi m de apresentar o efeito da mobilização no tratamento das lesões musculares, este artigo de revisão primeiramente estabelece os mecanismos envolvidos na re- generação muscular e posteriormente apresenta resultados de estudos relacionados ao uso da mobilização em músculos previamente lesados. Fisioterapia_v7n1.indb 55Fisioterapia_v7n1.indb 55 1/2/2006 18:50:231/2/2006 18:50:23 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200656 Para isso, foi realizada uma busca na base de dados Medline (palavras-chaves utilizadas: skeletal muscle injury, mobilization, immobilization, healing process), no período de 1985 a 2003, complementada com a busca de estudos citados nessas referências bibliográfi cas. Regeneração muscular O músculo esquelético é capaz de notável regeneração após lesão. Diferentes eventos ocorrem para ativar a completa regeneração muscular: fagocitose de fragmentos musculares, revascularização, ativação, proliferação e diferenciação de células precursoras musculares e reinervação [3]. Nos modelos experimentais de lesão muscular, a natureza da lesão determina a extensão na qual a revascularização, fagocitose, reinervação e miogênese devem ocorrem para regenerar o músculo [4]. Com exceção da fagocitose das fi bras fragmentadas, os eventos celulares e moleculares que ocor- rem após lesão são semelhantes aos que ocorrem durante a miogênese do embrião. Inicialmente, a lesão causa dissolução do sarcolema que leva a rápida necrose da fi bra muscular, com posterior aumento do número de células infl amatórias no local da lesão, sendo estas as principais características histopatológi- cas observadas na fase inicial do trauma muscular [5]. Assim, a fase inicial da lesão muscular é acompanhada pela ativação de células infl amatórias e miogênicas. Pesquisas recentes revelam que fatores liberados pelo músculo lesado ativam células infl amatórias intramusculares, que promoverão sinais quimiotáti- cos para células infl amatórias oriundas da circulação [5]. Os neutrófi los são as primeiras células infl amatórias a in- vadir o músculo lesado, liberando bradicinina, prostaglandina e histamina, causando vasodilatação e aumentando a permea- bilidade dos pequenos vasos [6], aumentando em quantidade de 1-6 horas após a lesão e permanecendo presentes poucas horas após a lesão [5,7]. Após a infi ltração de neutrófi los (~48h), os macrófagos tornam-se as células infl amatórias predominantes no local da lesão. Essas células mononucleares infi ltram-se no local para fagocitar o tecido lesado, condição importante para a regeneração muscular [8], ativar e regular a atividade mitótica das células miogênicas [5,7], além de liberar fatores de cresci- mento após a lesão [9,10]. A degeneração é seguida pela ativação do processo de re- paro muscular. A proliferação celular é um evento necessário para a regeneração muscular. A expansão das células miogêni- cas promove uma fonte sufi ciente de novos mionúcleos para o reparo muscular. As células miogênicas diferenciam-se e fundem-se às fi bras lesadas para reparo e/ou formação de novas miofi bras [5]. As células miogênicas responsáveis pela regeneração são as células satélites (CS), inicialmente descritas por Mauro [11]. Elas fazem parte de uma população de células com grande atividade mitogênica que contribui para o crescimento muscular pós-natal, reparo das fi bras musculares danifi cadas e manutenção do músculo esquelético adulto. Foram assim denominadas por sua localização anatômica na periferia de fi bras musculares multinucleadas maduras. São células indiferenciadas e mononucleadas, cuja membrana basal está em continuidade com a membrana basal da fi bra muscular. Enquanto o tecido muscular esquelético mantém-se livre de agressões, as CS permanecem em estado de quiescência (re- pouso). Entretanto, em resposta a estímulos como crescimen- to, remodelação ou trauma, as CS são ativadas, proliferam-se e expressam marcadores da linhagem miogênica. Essas células se fundem a fi bras musculares já existentes ou se fundem à CS vizinhas para gerar novas fi bras musculares [12]. A revascularização é fator importante para o sucesso e for- mação de nova fi bra muscular após uma severa lesão, levando nutrientes e oxigenação aos tecidos adjacentes para o reparo do tecido [9,13,14]. Deste modo, se a lesão levar a um compro- metimento vascular, o processo regenerativo será mais lento, devido ao retardo da fagocitose pelas células infl amatórias [15]. Além do suprimento sanguíneo, a integridade da lâmina basal também é importante no sucesso da regeneração, servindo como base para a formação do novo miotubo (precursor das miofi brilas) e o desenvolvimento mínimo de fi brose [8]. Resumindo, para que aconteça a regeneração, o tecido muscular passa por três fases. A primeira é a de destruição ou infl amatória aguda (zero a sete dias), a qual é caracterizada por formação de hematoma, necrose miofi brilar e reação celular infl amatória. A segunda é a fase de reparo ou proliferativa (sete a vinte e um dias), a qual consiste de fagocitose do tecido necrosado, regeneração das miofi brilas, produção do tecido conectivo de cicatrização e crescimento capilar. Já a terceira e última fase, de remodelação ou maturação (após vinte e um dias), caracteriza-se pela maturação das miofi brilas, contração e reorganização do tecido de cicatrização e restauração da capacidade funcional muscular [13,16]. O exercício e a regeneração muscular O rápido e completo reparo do tecido muscular lesado é objetivo óbvio, principalmente em caso de lesões em atletas, justifi cando as tentativas experimentais para se encontrar um tratamento viável que favoreça o reparo do músculo. Durante muito tempo, a imobilização foi utilizada para o tratamento das lesões musculares, sendo que na prática clínica os membros lesados são imobilizados por tempo sufi ciente para resultar em atrofi a das miofi brilas. Vários fa- tores podem afetar a severidade da atrofi a, assim como idade, sexo, duração da imobilização, tipo de fi bra predominante no músculo, grupo muscular e posição em que o músculo é imobilizado [17]. Além da atrofi a, redução da força e fl exi- bilidade muscular, a imobilização resulta em risco de nova lesão [18], fi brose intramuscular, perda de capilares, e várias alterações histoquímicas e bioquímicas [16], sendo que as alterações mais notáveis ocorrem durante a primeira semana de imobilização [19]. Fisioterapia_v7n1.indb 56Fisioterapia_v7n1.indb 56 1/2/2006 18:50:231/2/2006 18:50:23 57Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Atualmente, os efeitos deletérios da imobilização são bem enfatizados e a mobilização tem sido favorecida como forma de tratamento, sendo sua superioridade, em relação à imobilização, documentada em vários estudos clínicos [20,21]. Deste modo, é bem estabelecido que o tratamento que utiliza a mobilização é importante para a regeneração da fi bra muscular e para reativar a propriedade tênsil original do músculo. A mobilização provoca aumento do número de miotubos, rápido e intenso crescimento dos capilares, formação e orien- tação do tecido de cicatrização e ganho da força tênsil. Além disso, a força tênsil provida do exercício provoca alinhamento dos miotubos, transmitindo força de contração aos miofi bro- blastos no tecido de cicatrização, guiando o direcionamento e crescimento das miofi bras [6,18]. Entretanto, trabalho prévio realizado por Sayers & Clark- son [22] avaliou o efeito da mobilização x imobilização após lesão muscular, não sendo encontrada diferença muscular funcional entre os dois protocolos de tratamento. Esses autores verifi caram se exercícios leves poderiam resultar ou não em favorecimento da função dos músculos fl exores do cotovelo, previamente lesados por exercício excêntrico. O exercício leve empregado foi um regime de atividade diária que promoveu aumento na atividade muscular sem induzir lesões adicionais. Os indivíduos submeteram-se a quatro dias de exercício diário de duas séries de 25 movimentos de fl exo-extensão do cotovelo em toda amplitude de movimento, em velocidade lenta, cadên- cia constante, com período de repouso de dois minutos entre as séries. Ambos os tratamentos, exercícios leves e imobilização, dois regimes de tratamento opostos, resultaram no favoreci- mento da recuperação da força isométrica máxima. Entretanto, os exercícios leves ainda reduziram os índices de dor muscular nos quatro primeiros dias do experimento quando comparado ao grupo imobilizado, que apresentou exacerbação do quadro álgico. Sendo assim, mesmo não havendo diferença da força muscular entre os dois regimes de tratamento utilizados, o exercício mostrou-se mais efi ciente do que a imobilização em relação aos sintomas relacionados com a lesão muscular. Em outro estudo, Saxton & Donnely [23] mostraram que o exercício concêntrico leve, realizado durante 4 dias após lesão por exercício excêntrico máximo nos fl exores do antebraço, teve benefícios tanto na recuperação da força muscular quanto no alívio da dor quando comparado ao grupo controle. Pesquisando também os efeitos de contrações concêntri- cas leves na lesão muscular, porém no músculo quadríceps femoral, Sorichter et al. [24] empregaram os exercícios no dia anterior a lesão e após duas horas, durando até 9 dias da carga excêntrica. Baseados em imagens obtidas por ressonância magnética, marcadores infl amatórios e creatina quinase (CK), eles observaram que as contrações concêntricas adicionais não tiveram efeito signifi cativo na lesão muscular, sugerindo que o exercício concêntrico leve não acelera e nem prejudica o processo de regeneração muscular. A intensidade do exercício também foi alvo de estudos. Trabalho prévio mostra que as contrações excêntricas leves foram utilizadas como forma de tratamento durante o período de recuperação pós-lesão em fl exores e extensores do cotovelo [25]. O exercício teve início no dia posterior à lesão, durante 14 dias. O grupo não exercitado apresentou dor e fraqueza muscular, alterações na fl exibilidade articular e aumento dos níveis da CK no sangue. O grupo exercitado apresentou menores alterações em todos os parâmetros citados, sugerindo que a prática do exercício excêntrico leve após lesão foi benéfi ca para a recuperação muscular. Do mesmo modo, exercício de alta intensidade, como o exercício excêntrico máximo [26] foi empregado após lesão muscular, também induzida pelo exercício excêntrico. Neste trabalho a eletromiografi a, entre outros marcadores de lesão muscular, foi utilizada para analisar a resposta muscular após exercício. O autor concluiu que uma segunda série de exercícios excêntricos máximos realizados após três dias não aumenta a lesão e não retarda a recuperação, mesmo sendo esta série de exercícios mais extenuante que a inicial. Estudos prévios utilizando o exercício excêntrico máximo apresen- taram resultados similares, demonstrando que existe uma adaptação à carga, observada pela redução nos indicadores de lesão muscular (força, amplitude de movimento, dor, edema e circulação de proteínas no sangue) [27,28]. Uma outra variável bastante questionada em relação à mobilização é a determinação do início do retorno à ativi- dade pós-lesão muscular. Embora muitos atletas e não atletas defendam a continuidade da atividade na presença de dor muscular, não é sabido se esta prática irá exacerbar a lesão ou favorecer a recuperação da função muscular. Baseado em evidências clínicas, existem fortes evidências de que o melhor tratamento por meio da mobilização é aquele no qual a atividade inicia-se após curto período de imobiliza- ção, variando de um a cinco dias pós-trauma, seguido então de mobilização [18]. A maioria dos autores revela que a mobilização imediata- mente após a lesão pode causar novas rupturas e fraqueza do tecido na área lesada, devendo ser evitada nos primeiros dias após a lesão [18,21]. Estudos de Lehto et al. [29] e Clancy & Clarkson [30] sugerem que uma redução na atividade entre 3 a 5 dias é benéfi ca na recuperação da função muscular. Entretanto, esses resultados não foram encontrados por Gregory et al. [31]. Neste estudo, os autores compararam o re- sultado da atividade no reparo da contusão muscular resultante do trauma mecânico no tibial anterior do rato, empregando quatro regimes de exercício: corrida ou natação, sendo iniciadas imediatamente (após 1 hora) e após 72 horas da indução da lesão. O grupo controle não se exercitou. Em relação a dura- ção das atividades, a corrida foi realizada em uma esteira com inclinação de 10º, a 25m/min, por 15 minutos, e a natação foi realizada com a mesma duração, utilizando-se carga equivalente a 2% do peso corporal para evitar a fl utuação durante o exer- cício. Os animais exercitaram-se entre 1 e 32 dias. O processo Fisioterapia_v7n1.indb 57Fisioterapia_v7n1.indb 57 1/2/2006 18:50:241/2/2006 18:50:24 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200658 de resolução da contusão muscular foi analisado por meio da contagem manual de eritrócitos, leucócitos e fi bras colágenas. Os autores concluíram que a corrida com início imediato é o regime que mais favoreceu o processo de reparo da contusão muscular. Embora o emprego de qualquer regime de ativi- dade tenha sido melhor que a não atividade, o início imediato mostrou favorecer o processo de reparo da contusão e a corrida demonstrou resultados superiores à natação. Conclusão Os estudos disponíveis limitam maiores considerações a respeito da mobilização por não existir uma variedade de pes- quisas utilizando os mesmos protocolos de indução de lesão ou métodos para análise do processo de reparo muscular. Entretanto, os estudos apresentados mostram que, na maioria das vezes, a mobilização é um método muito favorável e efi caz para o tratamento de lesões musculares, tanto para a diminuição da dor quanto para a recuperação funcional do músculo. Deste modo, com base nos relatos apresentados, o exercício físico, recurso comum utilizado como parte do tratamento fi sioterapêutico, deve ser recomendado para o auxílio no processo de regeneração muscular, embora algumas variáveis como tempo de início, duração, intensidade e tipo de exercício devam ser alvos de pesquisas futuras. Referências 1. Kasemkijwattana C, Menetrey J, Somogyi G, Moreland M, Fu F, Buranapanitkit B, et al. Development of approaches to im- prove the healing following muscle contusion. 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Fisioterapia_v7n1.indb 58Fisioterapia_v7n1.indb 58 1/2/2006 18:50:251/2/2006 18:50:25 59Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Importância da conformidade dos equipamentos de ultra-som terapêutico com a NBR-IEC 1689 The importance of equipments accordance of therapeutic ultrasound with the NBR-IEC 1689 Elton Antônio Valentini*, Carlos Dias Maciel, D.Sc.**, Nivaldo Antonio Parizotto, D.Sc.*** *Mestrando, Programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia, Escola Engenharia de São Carlos (EESC), Universidade de São Paulo (USP), São Carlos, São Paulo, **Programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia, Escola Engenharia de São Carlos (EESC), Universidade de São Paulo (USP), São Carlos, São Paulo, ***Laboratório de Eletrotermofototera- pia, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, São Paulo Resumo O ultra-som é um aparelho muito utilizado na prática clínica em fi sioterapia. Estudos referentes a sua efi cácia nas mais variadas doenças tratadas pela fi sioterapia são freqüentemente publicados, adotando os mais variados parâmetros acústicos possíveis com o equipamento ultra-sônico para efetivar o tratamento. Do mesmo modo, muitos trabalhos com o intuito de caracterizar o campo acústico produzido por este equipamento, bem como avaliação deste campo acústico foram realizados. Grande parte dos trabalhos realizados com avaliação de equipamentos de ultra-som mostra que a maioria deles apresenta um ou mais parâmetros fora de calibração. O escopo deste artigo é alertar sobre a importância da calibração e familiarizar o fi sioterapeuta com a NBR-IEC 1689, que é a norma em vigência no Brasil, que prescreve sobre o desempenho e os métodos de medição de campo acústico de aparelhos de ultra-som terapêutico com faixa de freqüência de 0,5 a 5 MHz. Palavras-chave: instrumentação, normas, técnicas de fi sioterapia, ultra-som. Revisão Abstract The ultrasound is a much used device on physical therapy clinical practice. Studies on its effi cacy in a large group of diseases treated by physical therapy are frequently published, adopting many possible acoustic parameters with the ultrasonic equipment to obtain the cure. In a similar way many works that intend to characterize the acoustic fi eld produced by this device, as well as the evaluation of ultrasound equipments show that most part of them brings two or more parameters out of the calibration. The scope of this paper is to advise the physical therapist on the importance of the calibration and the importance of this familiarization in accordance with the NBR-IEC 1689, which is the nowadays standard in Brazil that prescribes the performance and methods of measurement of acoustic fi eld for therapeutic ultrasonic devices with frequency band from 0.5 to 5 MHz. Key-words: instrumentation, standard, physical therapy technics, ultrasound. Recebido 2 de agosto de 2005; aceito 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Prof. Dr. Carlos Dias Maciel, Universidade de São Paulo-USP, Escola de Engenharia de São Carlos, Rua Trabalhador Sancarlense, 400, 13560-000 São Carlos SP, Tel: (16) 3373-9350, E-mail:maciel@sel.eesc.usp.br Introdução Dizer que o ultra-som é uma modalidade terapêutica freqüentemente utilizada na prática da fi sioterapia é uma minimização da realidade. Pesquisas revelam números incon- testáveis de sua importância na clínica. De acordo com Daniel & Rupert [1], nos Estados Unidos, 72,1% dos profi ssionais quiropratas entrevistados usam ultra-som em suas clínicas, já entre os fi sioterapeutas o uso é de 94%, segundo Lindsay [2]. Segundo Roebroeck et al. [3] no Canadá 94% dos fi siotera- peutas utilizam esta modalidade. Aproximadamente 54% dos atendimentos particulares britânicos e 20% dos atendimentos no National Health Service envolvem o uso do ultra-som [4]. Na Austrália 90% dos fi sioterapeutas tem acesso ao ultra-som, e 80% deles o usam diariamente [5]. Apesar desta grande utilização, os mecanismos pelo qual o ultra-som produz efeitos terapêuticos são bastante controver- sos. Speed [6] diz que estudos in vitro demonstram numero- Fisioterapia_v7n1.indb 59Fisioterapia_v7n1.indb 59 1/2/2006 18:50:261/2/2006 18:50:26 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200660 sos mecanismos (estimulação no reparo pelos fi broblastos, síntese do colágeno, regeneração tecidual, consolidação de fratura óssea), mas in vivo estes mecanismos são de difícil reprodução e visualização. Já Ter Haar [7] diz que apesar deste elevado uso, há uma escassez de trabalhos clínicos científi cos na área de ultra-som para fi sioterapia, fazendo com que os tratamentos sejam determinados em grande parte empiricamente. Gam & Johannsen [8] em uma análise de pesquisas sobre a efi cácia do ultra-som, comentam que o principal problema destas pesquisas está na metodologia utilizada (tempos de aplicação variados, parâmetros com valores variados, falta de especifi cação de parâmetros, falta de descrição se os apare- lhos estavam calibrados). Da mesma maneira Van der Windt et al. [9] descrevem problemas metodológicos nas pesquisas sobre os mecanismos de ação do ultra-som. Uma das formas de minimizar estes problemas metodológicos é conhecer os parâmetros que efetivamente caracterizam o campo acústico. Mas também de nada adianta conhecer os parâmetros e não se ter certeza se o equipamento utilizado está calibrado. Sendo assim a discussão sobre a efi cácia do ultra-som terapêutico no tratamento de lesões deve começar com a preo- cupação se os aparelhos utilizados estão ou não calibrados. Para descobrir se o aparelho de ultra-som está calibrado é necessário avaliar o campo acústico gerado pelo transdutor. Para isto, muitas técnicas podem ser usadas. A norma vigente no Brasil para avaliação de campo acústico é a NBR-IEC 1689. Neste sentido, conhecer a NBR-IEC 1689 é dar o primeiro passo para estudar os efeitos do ultra-som pra utilização clínica em condições adequadas. Na NBR-IEC 1689 são especifi cados métodos e caracteri- zação do desempenho da saída de equipamento de Fisioterapia baseado em ensaios de referência de rotina. Também especifi ca as características a serem declaradas pelo fabricante de equi- pamentos ultra-sônicos para Fisioterapia; prescrições para o desempenho e segurança do campo ultra-sônico gerado pelo equipamento de Fisioterapia; critérios de aceitação para aspectos de desempenho de equipamento ultra-sônico de Fisioterapia. No intuito de apresentar a NBR-IEC 1689, serão descri- tos os parâmetros que devem ser avaliados de acordo com a norma, que também são um importante subsídio para o conhecimento do campo acústico gerado pelo aparelho de ultra-som. Em seguida serão descritos os dois métodos propostos pela norma para a avaliação e caracterização do feixe ultra-sônico. Por fi m serão apresentados alguns traba- lhos realizados nas últimas décadas que procuraram avaliar a calibração dos aparelhos utilizados em fi sioterapia. Parâmetros a serem avaliados pela NBR-IEC 1689 Os parâmetros avaliados pela NBR-IEC 1689 podem ser divididos nos que estão relacionados com o feixe no tempo e aqueles que estão relacionados com o feixe no espaço. Os parâmetros temporais e espectrais são: a freqüência de trabalho acústica, duração de pulso, período de repetição, fator de operação, potência de saída declarada, intensidade efetiva, intensidade máxima do feixe e forma de onda de modulação. Já os parâmetros espaciais são: a área de radiação efetiva (ARE), relação de não uniformidade do feixe (RNF) e tipo de feixe. O ultra-som é transmitido na forma de onda longitudi- nal, onda transversal ou de onda de superfície. No tecido biológico a principal forma de propagação é a longitudinal, onde a agitação das partículas se dá paralelamente à direção de propagação da onda, constituindo zonas de compressão e rarefação. Nas zonas de compressão ocorre um aumento da pressão em relação ao equilíbrio. Nas zonas de rarefação ocorre uma diminuição na pressão em relação ao equilíbrio. As ondas ultra-sônicas apresentam características dos demais tipos de ondas, como o comprimento, a amplitude, o período e a freqüência [10]. A freqüência de uma onda de ultra-som é o número de vezes que se repetem zonas de compressão ou zonas de rarefação por segundo. Sua unidade é Hertz (Hz) sendo uti- lizados os valores KHz (1000 Hz) e MHz (1.000.000 Hz). A freqüência do transdutor depende da freqüência de res- sonância da cerâmica piezoelétrica localizada no cabeçote do transdutor ultra-sônico. Piezoeletricidade é a propriedade de alguns tipos especiais de cristais, responsável pela produção de polarização elétrica quando há aplicação de uma pressão mecânica proporcional. O efeito oposto também é obser- vado, a geração de uma deformação mecânica devido a uma polarização elétrica [11]. À medida que a cerâmica piezoelétrica do cabeçote se desloca para frente e para trás, forma uma onda ultra-sônica que se propagará no tecido [12]. A freqüência de ressonância da cerâmica piezoelétrica está intimamente relacionada com os materiais que a compõe e com a espessura da cerâmica. Quando o ultra-som está sendo transmitido no modo pulsado, há interrupções freqüentes na geração da onda acústica. Desta forma ocorrem no meio irradiado intervalos de tempo onde ocorrem mudanças de pressão (deslocamento da onda) e intervalos de tempo onde a pressão permanece inalterada (Figura 1). O intervalo de tempo que ocorre estes aumentos e diminuições na pressão do meio é a duração do pulso. No período de repetição de pulso considera-se o intervalo de tempo onde ocorrem as mudanças de pressão no meio (pulso ultra-sônico) e o intervalo de tempo em que a pressão permanece inalterada. Pode-se defi nir período de repetição de pulso o valor absoluto do intervalo de tempo após o qual ocorrem as mesmas características de uma forma de onda periódica, sendo o valor de referência igual a soma da amplitude da pressão mínima e 10% da diferença entre as amplitudes das pressões mínima e máxima [13]. Fisioterapia_v7n1.indb 60Fisioterapia_v7n1.indb 60 1/2/2006 18:50:271/2/2006 18:50:27 61Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Na utilização do modo pulsado há, portanto dois tipos de freqüências a serem consideradas, a freqüência de onda (f) e a freqüência de repetição de pulso (fr) [14]. O fator de operação é a relação entre a duração do pulso e o período de repetição do pulso. Figura 1 - Esquema da duração de pulso e período de repetição do pulso. intensidade de pico espacial e pico temporal (Intensity spacial peak and temporal peak – ISPTP). Já se a medida for em uma área grande, com um intervalo de tempo maior onde teremos a média de pressão ou a potência média, obtém-se uma inten- sidade média espacial e média temporal (Intensity spacial avarege and tempotal avarege – ISATA). Para obter-se a intensidade média espacial e pico temporal (Intensity spacial avarege and temporal peak – ISATP) deve-se medir a intensidade em um pico de pressão ou pico de potência em uma área grande. Quando se deseja uma intensidade de pico espacial e média temporal (Intensity spacial peak and temporal avarege – ISPTA) a aquisição dos dados se dá em um ponto de área muito pequena num intervalo de tempo grande o sufi ciente para se adquirir a média das pressões ou então a potência média. O campo de um disco piezoelétrico circular é complexo. Nas proximidades do transdutor há muitos picos e vales de pressão espalhados de maneira desordenada. À medida que se afasta do transdutor, o padrão do campo se torna mais uniforme [15]. A região próxima ao transdutor é conhecida como campo próximo ou zona de Fresnel; a região para além do campo próximo é o campo distante, ou zona de Fraunhoffer [12]. Figura 2 - Ilustração conceitual da distribuição de intensidade e do feixe ultra-sônico (modifi cado de Wells [15]). Quando uma onda sonora se propaga no meio, ela trans- mite energia. A potência de um aparelho de ultra-som é a quantidade de energia ultra-sônica gerada em um intervalo de tempo, é expressa em Watts. Quando se refere à potência de pico, fala-se do máximo pico de pressão da onda sonora em um intervalo de tempo. Já quando se fala em potência média, são todas as oscilações na pressão divididas pelo intervalo de tempo transcorrido; a potência média sempre vai ser menor que a potência de pico. Observando a fi gura 1, a potência média pode diminuir quando se aumenta o tempo de pulso desligado, mantendo o período de repetição do pulso e a duração de pulso. Mas aumentando-se a duração de pulso e mantendo-se o período de repetição do pulso, aumenta-se a potência média. A potência de saída declarada pode ser mensurada utili- zando-se uma balança de força de radiação. Neste caso tem-se a potência média. Para a avaliação da potência devem-se ajustar os controles do aparelho de forma que este produza a máxima potência de saída no cabeçote aplicador. Esta potência é avaliada em todos os valores de tensão de rede permitida, pois, depen- dendo da qualidade da rede elétrica utilizada no aparelho de ultra-som, a potência de saída pode variar com a variação de tensão. Além disto a norma também pede que se varie a tensão 10% acima e abaixo das tensões nominais permitidas, para avaliar como se comporta a potência de saída no cabeçote aplicador. A NBR-IEC 1689 permite uma variação de 20% entre a potência de saída declarada no aparelho e a potência que o aparelho está produzindo. Intensidade acústica é a energia (E) que atravessa uma área (S) em um intervalo de tempo (t), expressa em Watts/ cm2 [4]. Sendo assim, medindo-se um pico de pressão ou pico de potência, em um ponto de área muito pequena tem-se uma Devido a esta complexidade do campo próximo é impor- tante caracterizar no campo acústico as intensidades de pico espacial e pico temporal, que é a intensidade que, quando muito alta, pode ser lesiva ao tecido. Se adquirirmos apenas intensidades de média espacial e média temporal ignora-se os picos de pressão que estão presentes no campo acústico. Quando se avalia o campo acústico através dos métodos sugeridos pela NBR-IEC 1689 tem-se condições de localizar estes pontos de intensidade de pico espacial e pico temporal, pois as medidas são realizadas pontualmente pelo hidrofone (transdutor, com área de recepção muito pequena, que produz sinais elétricos em resposta a sinais acústicos lançados na água pelo cabeçote de ultra-som). A intensidade efetiva é obtida da relação da potência de saída declarada pela área de radiação efetiva. Esta intensidade não pode ser maior que 3,0 W/cm2. A área de radiação efetiva do cabeçote aplicador (ARE) é a região na face do transdutor que realmente emite campo ultra-sônico. Esta área não é igual à área da face do cabeçote Fisioterapia_v7n1.indb 61Fisioterapia_v7n1.indb 61 1/2/2006 18:50:281/2/2006 18:50:28 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200662 aplicador e nem sempre é igual à área da cerâmica piezoelé- trica, pois quando a cerâmica vibra, as estruturas próximas a ela também vibram, podendo emitir energia ultra-sônica. Este efeito é conhecido como efeito de borda. Segundo a NBR-IEC 1689 para se ter o conhecimento da área de radiação efetiva é necessário descobrir a área de seção transversal do feixe de cada um dos quatro planos da varredura. A área de seção transversal do feixe (ASTF) é a região no plano varrido que contém 75% da energia total do feixe ultra-sônico. Após a verifi cação da área de seção transversal nos quatro planos varridos faz-se uma regressão linear do plano mais distante da face do transdutor até a face do transdutor e encontra-se a área de radiação efetiva do cabeçote aplicador (Figura 3). Figura 3 - Aquisição da área de radiação efetiva do cabeçote aplicador. Ao se realizar um corte transversal no eixo axial do feixe ultra-sônico será visualizado o tipo de feixe produzido pelo transdutor de ultra-som, que pode ser colimado, divergente ou convergente (Figura 5). No caso de um feixe colimado a intensidade média mantém-se quase inalterada quando o feixe está se afastando do transdutor. No feixe convergente a intensidade média aumentará e atingirá o máximo ao chegar no foco. No caso de um feixe divergente a intensidade média diminui quando o feixe se afasta do transdutor. O tipo de feixe ideal para transdutores de fi sioterapia é o colimado, onde teoricamente a intensidade média se mantém inalterada. Figura 5 - “Tipos de feixe”. (a) colimado; (b) convergente; (c) diver- gente. Realizando um corte transversal no campo acústico gerado pelo cabeçote aplicador de ultra-som espera-se que o formato deste campo seja um círculo perfeito. Na realidade o formato do campo normalmente não é um círculo perfeito. Esta irregularidade na forma do feixe num corte transversal e a variação das intensidades ao longo do feixe é chamada de não-uniformidade do feixe (Figura 4). Quanto menor a relação de não-uniformidade, ou seja, quanto mais circular o feixe num corte transversal, mais simétrico será o feixe. A relação de não uniformidade do feixe é a relação entre o quadrado da pressão acústica efi caz máxima e a média espacial do quadrado da pressão acústica efi caz, tomada sobre a área de radiação efetiva. A NBR-IEC 1689 diz que transdutores de ultra-som para fi sioterapia devem ter uma RNF ≤ 8. Figura 4 - Corte transversal no campo ultra-sônico mostrando a não- uniformidade do feixe. A forma de onda de modulação é como se apresenta a onda acústica ao observar vários pulsos e traçada uma envoltória por um tempo sufi cientemente longo para incluir toda informação acústica signifi cativa na onda modulada por amplitude. Podem ser encontrados vários tipos de forma de onda, entre elas forma retangular, dente de serra, irregular, contínua e triangular (Figura 6). Figura 6 - Formas de onda de modulação. (a) dente de serra, (b) retan- gular, (c) triangular. Metodologia para a avaliação do campo acústico Para as técnicas de varredura global e varredura de linha ou diametral são necessários um tanque acústico, um hidrofone e um cabeçote aplicador de ultra-som. Fisioterapia_v7n1.indb 62Fisioterapia_v7n1.indb 62 1/2/2006 18:50:291/2/2006 18:50:29 63Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 O tanque acústico deve estar cheio de água desgaseifi cada para evitar a cavitação das ondas ultra-sônicas. O tamanho deste tanque deve ser sufi cientemente grande para permitir a imersão tanto do cabeçote quanto do hidrofone. O hidrofone é um transdutor que produz sinais elétricos em resposta a sinais acústicos lançados na água pelo cabeçote de ultra-som. Este hidrofone deve estar em um suporte que permita movimentação no mínimo em três graus de liber- dade (Fig.7). O elemento ativo do hidrofone deve ter um raio máximo de 0.5 mm quando a freqüência do transdutor é menor ou igual a 3 MHz [12]. O transdutor que irá ser avaliado também deve ter um suporte com três graus de liberdade de movimentação (Figura 7). Tanto os suportes do hidrofone e do cabeçote quanto as paredes do tanque acústico deve ser bons ou revestidos de bons absorvedores de energia ultra-sônica para que ocorra o mínimo de reverberação. Figura 7 - Graus de liberdade do transdutor e do hidrofone. Na varredura global o hidrofone varrerá quatro planos paralelos à face do cabeçote (Figura 7). Para a aquisição dos quatro planos desloca-se o hidrofone em uma linha per- pendicular à face do transdutor, chamada de eixo de alinha- mento, até o mais distante possível desta face. O hidrofone é deslocado novamente em direção a face do transdutor até encontrar o primeiro pico de pressão acústica, que se refere a fronteira entre o campo distante e o campo próximo, neste sítio se localizará um plano de varredura, com os outros três se localizando entre este plano e a face do cabeçote. Todas as varreduras globais devem ser grades quadradas com o ponto central no eixo de alinhamento do feixe. A varredura não deve ter um movimento contínuo, mas deve ser realizada em passos discretos com os valores de tensão efi caz ou de pico medidos a cada passo. O tamanho do passo deve estar entre 0,5 mm e 1,0 mm, e não maior que 2,0 mm. E o número de pontos da varredura deve ser no mínimo 100, uma matriz 10x10. Na varredura de linha ou diametral os procedimentos para a aquisição dos quatro planos de medição são iguais à varredura global. O ponto central ou comum das quatro varreduras de linha deve encontrar-se no eixo de alinhamento do feixe. No plano a ser varrido, o hidrofone desloca-se no eixo Y, passando pelo ponto central que está localizado no eixo de alinhamento, captando os sinais em uma linha de varredura. Esta linha deve ter o mesmo número de pontos de cada lado do ponto central. Após a varredura desta linha gira-se o ca- beçote do ultra-som 45º e varre-se outra linha, até completar quatro linhas que se cruzam no ponto central de alinhamento. Estas quatro linhas dividirão o plano em oito áreas iguais, e deve conter no mínimo 50 passos cada linha. Após a aquisição destes pontos calcula-se a área de secção transversal do feixe. Repete-se o procedimento nos outros três planos. Neste procedimento o hidrofone só precisará de dois graus de liberdade para realizar a varredura. Figura 8 - Esquema da varredura de linha ou diametral. Nos dois métodos para a avaliação, os dados são coletados pontualmente, nos dando a real aparência do campo acústico, principalmente nos mostrando a localização das regiões de pontos quentes (picos de pressão e intensidade), que podem causar lesões teciduais quando muito altas. Resultados de trabalhos que realizaram a avaliação do campo acústico de transdutores de ultra-som para fisioterapia Nas últimas três décadas muitos trabalhos, em várias par- tes do mundo, foram realizados no sentido de analisar campo acústico gerado por aparelho de ultra-som para fi sioterapia. Fipe e Parnell [16] mediram, conforme a IEC 150, a área de radiação efetiva, a potência de saída e a intensidade de 18 equipamentos. Destes, 78% estavam operando fora da tolerân- cia especifi cada. Este trabalho foi realizado na Austrália. No Canadá, Snow [17] avaliou a potência de saída, a freqüência e o temporizador de 26 equipamentos. Obser- vou que 81% dos equipamentos tinham níveis de potência variando ± 20% do indicado no painel, 27% estavam com o temporizador sem exatidão. A freqüência foi considerada inaceitável em apenas 1 aparelho. Também no Canadá, Ross et al. [18] testaram 89 equipa- mentos. Os parâmetros avaliados foram potência, intensidade, exatidão do temporizador e freqüência. Observaram que 78% Fisioterapia_v7n1.indb 63Fisioterapia_v7n1.indb 63 1/2/2006 18:50:301/2/2006 18:50:30 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200664 tinham erros extrapolando ± 20% da potência especifi cada. No parâmetro intensidade, 63% dos aparelhos estavam fora da tolerância de ± 20%. O temporizador de 23% dos equi- pamentos estava fora de padronização, e 13% das unidades estavam com freqüência fora do limite de ± 5%. Na Holanda, Hekkenberg et al. [19] examinaram a inten- sidade, a área de radiação específi ca, a potência e a relação de não uniformidade do feixe de 28 aparelhos. Verifi caram que 79% dos aparelhos não atendiam completamente aos limites de tolerância. Lloyd e Evans [20] mediram 67 cabeçotes Reino Unido. Avaliaram intensidades de 0,25; 0,50; 1,00 e 2,00 W/cm2. Dos cabeçotes testados, 59% estavam fora do limite de tolerância de ± 30%. Na Escócia, Pye e Milford [21] analisaram 85 aparelhos de ultra-som, verifi cando os parâmetros de potência acústica de saída, freqüência, tempo de pulso e exatidão do tempo- rizador. A potência estava fora do limite de tolerância de ± 30% em 69% das unidades. Todos os equipamentos estavam dentro da tolerância de ± 5% para a freqüência. A exatidão do temporizador estava fora do especifi cado no painel do aparelho em 87% dos equipamentos. Artho et al. [22] testaram nos Estados Unidos 83 unidades de ultra-som usados em clínicas. Os equipamentos foram analisados em 4 intensidades diferentes (0,5; 1,0; 1,5 e 2,0 W/cm2) usando freqüência de 1 MHz no modo contínuo. Os parâmetros medidos foram a potência de saída e precisão do temporizador. Dos equipamentos testados 39% estavam com potência de saída fora do limite de tolerância de ± 20%, e 52% estavam com o temporizador funcionando incorretamente. No Brasil dois trabalhos apresentam avaliação de campo acústico gerados por aparelhos de ultra-som. Em Piracicaba, São Paulo, Guirro et al. [23] analisaram a potência em 31 equipamentos. Nas intensidades de 0,1; 0,2; 0,5; 0,8; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5 e 3,0 W/cm2, na freqüência de 1.0 MHz. Nenhum dos equipamentos avaliados condizia com as especifi cações dos fabricantes. No Rio de Janeiro, Ishikawa [24] realizou a avaliação de 33 aparelhos de serviços públicos e privados daquela cidade. Foram avaliados todos os parâmetros pedidos pela NBR-IEC 1689. De todos os equipamentos avaliados, nenhum atendeu completamente a norma. Discussão A avaliação de campo acústico gerado por aparelho de ultra-som é uma preocupação mundial. Apesar das diferenças de metodologia utilizadas nos trabalhos citados encontramos resultados que podem ser relacionados entre si. Em todos os trabalhos, a maioria dos aparelhos estava fora do limite de tolerância. No exterior a média de aparelhos que estavam fora do limite de tolerância é de 69%, um índice muito alto. Se os parâmetros estiverem abaixo do limite inferior de tolerância, pode não ocorrer efeito nenhum, acarretando em perda de tempo e de dinheiro. Já, o que é pior, se os parâmetros estiverem acima dos limites de tolerância, os riscos de lesão tecidual são muito grandes. Num trabalho realizado por Cunha et al. [25], cujos re- sultados mostram que apenas alterando o modo de emissão do ultra-som de pulsado para contínuo, o que produz um acúmulo de calor no sítio da aplicação, houve piora no desem- penho deste método para reparação do tendão em ratos. Estes dados demonstram o quanto devemos nos preocupar com alterações nos parâmetros de emissão de um equipamento de ultra-som na área de Fisioterapia [25]. No Brasil esta realidade é ainda mais preocupante. Nos dois trabalhos citados nenhum dos aparelhos conseguiu atender totalmente as especifi cações exigidas. O trabalho de Ishikawa [24], que avaliou todos os parâme- tros pedidos pela norma, encontrou problemas como a falta de especifi cação de alguns parâmetros no manual de alguns equipamentos, parâmetros abaixo do limite de tolerância, parâmetros acima do limite de tolerância e parâmetros que constavam na norma e não eram produzidos pelo aparelho. Apesar do tema já ser debatido há muito tempo e muitos acharem que já é um assunto esgotado, enquanto os equi- pamentos continuarem sendo avaliados e apresentarem pro- blemas, os usuários desta tecnologia continuarão perdendo tempo, dinheiro e principalmente pondo sua integridade física em risco. Utilizando o sistema de medicina baseada em evidências, Robertson e Baker [26] mostraram que há pouca evidência sobre a efetividade clínica do ultra-som ativo comparado com o placebo no tratamento da dor e de lesões muscu- loesqueléticas, além do reparo de tecidos moles. Muitos dos equipamentos utilizados nestes trabalhos não referem se haviam sido submetidos a uma calibração ou checagem da intensidade de emissão do campo ultra-sônico. Apesar disso, a preocupação com a segurança e confi abilidade dos equipamentos tem sido uma constante através da história da utilização clínica do ultra-som terapêutico [27]. O fato de continuar havendo uso não controlado dos equipamentos como se encontra na atualidade, de tal forma que a norma existe, mas não há mecanismos de controle sobre o cumprimento integral das normas por parte das empresas e principalmente por parte dos profi ssionais que fazem uso desta ferramenta de trabalho, certamente haverá uma grande perda de investimentos na área de atendimento da saúde da população. Isso decorre pelo fato de que muitos profi ssionais acham que estão efetuando seus tratamentos corretamente, mas os seus clientes não estão recebendo aquilo que foi planejado para atuar sobre o alvo do tratamento. O aspecto ético se agrava ainda mais sob esta ótica. Conclusão A tecnologia de ultra-som é muito utilizada na rotina clínica do fi sioterapeuta. E a correta calibração dos aparelhos Fisioterapia_v7n1.indb 64Fisioterapia_v7n1.indb 64 1/2/2006 18:50:311/2/2006 18:50:31 65Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 de ultra-som é fundamental para a efi ciência dos mesmos no tratamento das diferentes lesões. Trabalhos com avaliação de campo acústico gerado por aparelhos de ultra-som mostram que a maioria dos equipamentos utilizados na clínica apresenta problemas na calibração. A correta calibração dos equipamentos de ultra-som é a base para a compreensão dos mecanismos de ação deste como uma modalidade terapêutica efi caz. Pois de nada adianta conhecer os parâmetros que caracterizam o campo acústico e os mecanismos de ação do ultra-som no reparo de lesões se os aparelhos não estiverem corretamente calibrados. Por isto é importante que o fi sioterapeuta conheça o equipamento que está em suas mãos, e conheça a norma vigente, adquirindo assim subsídios para reivindicar que os aparelhos estejam de acordo com o exigido, para a sua segurança e segurança de seu paciente. Referências 1. Daniel DM, Rupert RL. Calibration and electrical safety status of therapeutic ultrasound used by chiropractic physicians. J Manipulative Physiol Ther 2003;26:171-5. 2. Lindsay DM, Dearness J, McGinley CC. A Electrotherapy usage trends in private physiotherapy practice in Alberta. Physio- therapy Canada 1995;47:30-4. 3. Roebroeck ME, Dekker J, Oostendorp RAB. The use of thera- peutic ultrasound in physical therapy: practice patterns in Dutch primary healt care. Phys Ther 1998;78: 470-8. 4. Ter Haar G. Physic of therapheutic ultrasound. Physiotherapy 1987;73:110-3. 5. Lindsay D, Dearness J, Richardson C, Chapman A, Cuskelly G. A survey of electro modality usage in private physiotherapy practices. 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Fisioterapia_v7n1.indb 65Fisioterapia_v7n1.indb 65 1/2/2006 18:50:321/2/2006 18:50:32 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200666 Osteogenese imperfeita – características clínicas, moleculares e tratamento Osteogenesis imperfecta – treatment, clinical and molecular traits Gabriela Pinheiro Rebouças Martins*, Marcus Vinicius Amaral**, Henrique Douglas Melo Coutinho, M.Sc.*** *Discente, Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte FMJ, **Discente, Universidade Federal do Ceará UFC, ***Docente, Universidade Regional do Cariri, URCA Resumo Osteogênese imperfeita (OI) é um distúrbio hereditário na formação óssea, que resulta principalmente em fragilidade óssea. Possui uma grande variabilidade fenotípica, que segue desde um leve aumento na incidência de fraturas a fraturas intrauterinas e morte no período perinatal. Mutações nos genes COL1A1 ou COL1A2 que codifi cam respectivamente as cadeias proα1(I) e proα2(I) do colágeno tipo I são responsáveis por mais de 90% dos casos de OI. Nesta artigo são revisadas as variantes clínicas e moleculares bem como as perspectivas de tratamento mais atuais utilizadas para OI. Foi realizada uma revisão na bibliografi a especializada utilizando os bancos de dados internacionais Scielo, Lilacs, Highwire e Pubmed. A busca pela terapia gênica trás grandes perspectivas com relação à cura para OI. Palavras-chave: Osteogênese imperfeita, COL1A1, COL1A2, colágeno tipo I. Revisão Abstract Osteogenesis imperfecta is a heritable disorder of bone formation with bone fragility being the major clinical feacture. It exhibits a broad range of phenotype variability, ranging from light increase in the incidence of the fractures to multiple fracturing in uteru and perinatal death. Mutations in either the COL1A1 or COL1A2 that encode the chains proα1(I) and proα2(I) of type I collagen are responsible for more than 90% of the cases of OI. In this article is revised the clinical and molecular variants as well as the more current perspectives of treatment for OI. It was made a review using the especialized bibliography disponible in the international databanks Scielo, Lilacs, Highwire and Pubmed. The search for the gene therapy introduces great perspectives with relation to the cure for OI. Key-words: osteogenesis imperfecta, COL1A1, COL1A2, collagen type I. Recebido 9 de novembro de 2005; aceito 10 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Henrique Douglas Melo Coutinho, Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Centro de Ciências Exatas e da Natureza – CCEN, Departamento de Biologia Molecular – DBM, Laboratório de Biologia Molecular E Ecologia – LABIME 58051-900 João Pessoa PB, E-mail: hdouglas@zipmail.com.br, h-douglas@bol.com.br Introdução Osteogênese imperfeita (OI) é um distúrbio hereditário no metabolismo do colágeno I, comprometendo generaliza- damente o tecido conjuntivo [1]. É uma doença heterogenia que resulta principalmente em fragilidade óssea, mas também pode ocorrer esclera azulada, dentinogênese imperfeita, e perda auditiva [2]. Exibe uma abrangência com relação à severidade clínica, variando de múltiplas fraturas intra-útero e morte perinatal, a estatura adulta normal com baixa incidência de fraturas [3]. É atualmente classifi cada em sete tipos baseados em apre- sentações clínicas e arquitetura óssea. Mutações nos genes do colágeno I (COL1A1 e COL1A2) estão comumente asso- ciadas à osteogênese imperfeita, mas não sendo considerado um pré-requisito para o diagnóstico, pois as novas formas de OI (tipos V, VI, VII) não estão associadas com defeitos nos genes do colágeno I [3]. Mais de 200 mutações diferentes que afetam a síntese ou a estrutura do colágeno tipo I já foram encontradas em pacientes com OI. A heterogeneidade clínica desta doença refl ete uma heterogeneidade ainda maior em nível molecular [4,5,6]. Por muito tempo, o tratamento da OI limitou-se ás medidas conservadoras, com mínima atividade física e eventuais correções cirúrgicas das deformidades. Ultima- mente, no entanto, o uso dos bifosfonatos, componentes inibidores da reabsorção óssea, como tratamento para OI mudou a qualidade de vida dos pacientes [7]. Por ser uma doença genética considerada incurável, terapias celulares e terapias gênicas estão sendo investigadas como potencial tratamento [9]. Fisioterapia_v7n1.indb 66Fisioterapia_v7n1.indb 66 1/2/2006 18:50:321/2/2006 18:50:32 67Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Osteogênese imperfeita e sua diversidade clínica Uma grande gama de variações clínicas já foi reconhecida, desde a forma letal perinatal até apenas um leve aumento na freqüência de fraturas. A heterogeneidade clínica pode ser explicada pelo menos em parte, pela heterogeneidade alélica: os fenótipos variam de acordo com a cadeia do protocolágeno I que está afetada, e de acordo com o tipo e a localização da mutação no lócus [6]. O sistema de classifi cação de Sillence divide a OI em quatro tipos (I a IV) priorizando para analise dessa classifi - cação a arquitetura óssea. As novas formas de OI (tipos V a VII), baseando-se apenas em apresentações clínicas poderiam estar todas incluídas no tipo IV de OI [3]. O tipo I é a forma mais branda, não sendo deformante e resultando em pacientes com estatura normal e tipicamente apresentando esclera azulada. Fraturas não são comumente observadas no nascimento sendo mais comuns durante o desenvolvimento infantil e decrescendo após a puberdade [3], é dividida em dois subtipos A e B baseado na presença ou ausência de dentinogênese imperfeita [10]. O tipo II é a forma mais severa sendo letal no período perinatal. Pacientes com OI tipo II mostram severas de- formidades nos ossos longos, tórax e fraturas intra-útero. Insufi ciência pulmonar é a principal causa de morte. Aproxi- madamente 60% dos afetados morrem no primeiro dia de vida e 80% morrem no primeiro mês principalmente por infecções ou insufi ciência cardíaca congestiva [10]. O tipo III é uma rara doença autossômica recessiva carac- terizada por moderada a severa fragilidade óssea. É a mais severa forma compatível com a sobrevivência após o período perinatal [7]. Fraturas intrauterinas, deformidade óssea, baixa estatura e face triangular são características de pacientes com OI tipo III [9]. O tipo IV é clinicamente o grupo mais diverso na clas- sifi cação de Sillence e engloba todos os pacientes que não se encaixam nos tipos (I a III). O fenótipo pode variar de severo a brando, com os pacientes mais severamente afetados apresentando fraturas no nascimento, sofrendo moderada deformidade esquelética e adquirindo baixa estatura [3]. Estrutura normal do colágeno e sua relação com a osteogenese imperfeita Algumas características do colágeno tipo I normal são essenciais na avaliação da patogenia da doença [6]. É a maior proteína da matriz extracelular da pele, ossos, tendões e muitos outros tecidos conjuntivos [11], trata-se de uma proteína trimérica (tendo três subunidades) com uma estru- tura tripla hélice [3]. É codifi cada por dois genes: COL1A1 e COL1A2, localizados no braço longo do cromossomo 17 (17q21. 31-17q22.05), e no cromossomo 7 (7q21.3-7q22.1) respectivamente [12]. Tem sua formação a partir de uma proteína precursora, o pró-colágeno tipo I [13]. A molécula de pró-colágeno tipo I é formada por duas cadeias proα1(I) codifi cadas no cromossomo 17 e uma cadeia similar mais distinta, de proα2(I) codifi cada no cromossomo 7 [6]. A via desde a seqüência de DNA até a proteína fi nal de colágeno I envolve muitas etapas. A complexidade desta via cria muitas oportunidades para erros, na replicação, tran- scrição, tradução ou modifi cação pós-traducional, que podem causar a doença [13]. Natureza das mutações Diversas mutações têm sido descobertas nos dois genes do colágeno tipo I, (COL1A1 e COL1A2), e estão sendo tabuladas nos arquivos das mutações do colágeno humano [3,8]. Aproxi- madamente 95% dos casos de OI são causados por mutações heterozigotas dominante nos genes COL1A1 e COL1A2 [14]. A maioria das mutações que causam a doença é de ação dominante [6], como citado a cima, mas algumas são recessivas, por exemplo, as mutações que causam OI tipo III, que são freqüentemente do tipo sentido trocado nos códons da glicina [6]. Estudos do colágeno I tem revelado dois tipos de defeitos, pacientes com OI leve (tipo I) tem uma redução na produção de colágeno [1], que está associada com mutações que resultam na interferência da síntese de mRNA por um alelo COL1A1, levando à metade a síntese de colágeno I [10], sendo carac- terizado como efeito quantitativo, pacientes com a forma moderada ou severa de OI produzem uma estrutura anormal do colágeno I, caracterizando um defeito qualitativo [1]. Cerca de 85% das mutações são descritas como uma sim- ples mudança de nucleotídeo, responsável pela substituição da glicina na tripla hélice, estas mutações afetam a propagação e o dobramento da proteína, Na matriz extracelular ela pode afe- tar o processamento do pró-colágeno ou interferir na relação colágeno-colágeno, ou ainda a interação colágeno-proteína da matriz extracelular [10]. Outras mutações incluem substitui- ções sem sentido nos códons da arginina ou glutamina, e uma variedade de mutações em íntrons [3]. Códons fi nalizadores prematuros, pequenos trechos de inserção ou deleção (em geral de 1 ou dois pares de bases) ou mutações de sítio de corte constituem a maioria das mutações [6]. Genótipo x fenótipo A relacionamento entre genótipo e fenótipo em OI ainda está incompletamente entendido. Em geral, defeitos qualita- tivos são mais severos que os defeitos quantitativos. Dentre as mutações estruturais do colágeno uma ampla variedade de características fenotípicas tem sido detectada [10]. Existem algumas razões para explicar estas variações [3]. Primeiro, a tripla hélice do colágeno não é uma estrutura uniforme [3], e o papel bioquímico da cadeia onde ocorreu a mutação também é uma importante variante [10]. Segundo, as conseqüências intracelulares das mutações não são constantes. Finalmente, Fisioterapia_v7n1.indb 67Fisioterapia_v7n1.indb 67 1/2/2006 18:50:331/2/2006 18:50:33 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200668 as mutações genéticas não ocorrem isoladamente, mas outros fatores podem infl uenciar na resistência óssea. Estes fatores podem ser devidos a variações ambientais nutricionais ou gené- ticas entre os diferentes indivíduos, e provavelmente explica o fato de algumas mutações comumente observadas poderem ser associadas com uma grande variedade de fenótipos [3]. Tratamento Historicamente, o tratamento tem sido limitado a vita- minas, suplementos hormonais, analgésicos para aliviar as dores ósseas crônicas, a detecção rápida de fraturas, uso de apoios ortopédicos e hastes intramedulares pra prevenir a deformidade progressiva [5]. Terapias farmacológicas têm sido usadas com pouco sucesso. Agentes usados na terapia farmacológica incluem, cálcio, fl úor, calcitonin, esteróides anabólicos e magnésio. Recentemente, entretanto, o uso dos bifosfonatos em crianças com OI vem mostrando alguns efeitos na redução da incidência de fraturas [9]. Os bifosfo- natos possuem componentes sintéticos que são análogos ao pirofosfato, um inibidor endógeno da reabsorção óssea [5]. Administrações endovenosas de bifosfanatos, desenvolvida no começo dos anos 90, estavam dentro dos primeiros agente que proporcionavam aos pediatras uma oportunidade para tratar crianças com OI [1]. Dentre os efeitos benéfi cos já relatados da terapia com bifosfonatos em OI estão, o aumento da densidade mineral óssea, diminuição da taxa de fraturas, normalização do metabolismo ósseo e signifi cativa redução nas dores ósseas, e conseqüente melhoramento na qualidade de vida [5]. Tera- pias com bifosfonatos não são a cura para a OI, pois embora melhore a resistência óssea aumentando a qualidade de vida do paciente, não corrigi os defeitos genéticos [3]. A perspectivas sobre a possibilidade de cura pela terapia gênica vêm aumentando a cada dia. Terapia gênica consiste na introdução de um gene em uma célula com o fi m de obter um efeito terapêutico [13], entretanto, utiliza-la para OI é um grande desafi o, pois a maioria das mutações é do tipo dominante negativa, e apenas fornecer o gene normal sem suprimir o gene mutante pode não causar um benefício signifi cante. Em contraste em algumas mutações onde ocorre apenas a perda de função, onde um alelo não é expresso ou é ausente, podem ser bem susceptíveis à terapia gênica, pois a introdução de cópias funcionais dos genes seria sufi ciente para a correção [9]. Muitas pesquisas estão sendo feitas com relação à terapia gênica para OI, mais ainda não existe um protocolo com efi cácia comprovada. Com o advento da terapia gênica surgirão novas perspectivas para melhorar a qualidade de vida das pessoas com OI, é preciso lembra que essa busca recém se inicia. Conclusão A OI representa um conjunto de alterações genéticas que afetam a estrutura ou a síntese do colágeno tipo I, acarretando fragilidade óssea e possível morte. Esta alteração genética ocorre em uma frequência de 1/10000 ou 1/12000. Devido ao fato de ser uma malformação genética, os mecanismos de tratamento ainda não são defi nitivos, sendo esta uma das áreas de expectativa de ação da terapia gênica. De qualquer forma, atualmente existem diversos métodos bioquímicos e moleculares tanto para diagnosticar durante o pré-natal, logo após o nascimento ou o risco de incidência deste problema. Uma vez detectado, os profi ssionais que trabalham na área de ortopedia (tanto médicos quanto fi sioterapeutas) devem indicar aos pais cuidados respiratórios e precaução contra danos ósseos, além do tratamento com suplementação ali- mentar e a base de bifosfonatos. Referências 1. Maasalu K, Haviko T, Martson A. Treatment of children with osteogenesis imperfecta in Estonia. Acta Paediatr 2003;92:452- 5. 2. Cole WG. The molecular pathology of osteogenesis Imperfecta. Clin Orthop Relat Res 1997;343:235-48. 3. Roughley PJ, Rauch F, Glorieux FH. Osteogenesis imperfecta - clinical and molecular diversity. Eur Cell Mater 2003;5:41-7. 4. Benusiené E, Kucinskas V. COL1A mutation analysis in lithuanion patients with osteogenesis imperfecta. J Appl Genet 2002;44(1):95-102. 5. 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Fisioterapia_v7n1.indb 68Fisioterapia_v7n1.indb 68 1/2/2006 18:50:341/2/2006 18:50:34 69Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Distrofi a muscular intermediária entre Duchenne e Becker Intermediate muscular dystrophy between Duchenne and Becker Elaine Maria Bueno da Silva*, Thaís Helena Brunheroto Nucci*, Cristina Iwabe, M.Sc.**, Maria da Graça Baldo Deloroso, M.Sc.*** *Fisioterapeutas graduadas pelo Centro Universitário Hermínio Ometto Uniararas, **Fisioterapeuta graduada pela USP, especialista em neurologia infantil Unicamp, docente do curso de fi sioterapia Uniararas, supervisora do curso de fi sioterapia Unip Campinas, ***Fisioterapeuta graduada pela Unimep, docente do curso de fi sioterapia Uniararas e Fafi ca/Catanduva Resumo As miopatias são caracterizadas por distúrbios bioquímicos nas fi bras musculares, decorrentes de alteração na produção e função de proteínas musculares (distrofi na). Dentre os principais tipos de distrofi a muscular, destacam-se a distrofi a muscular de Duchenne e a distrofi a muscular de Becker. Existe, porém, uma forma inter- mediária de miopatia com características intermediárias entre Duch- enne e Becker. O objetivo deste trabalho foi relatar o caso de um indivíduo do sexo masculino, nove anos de idade, com diagnóstico de distrofi a intermediária entre Duchenne e Becker. Inicialmente foi realizada anamnese com o responsável e avaliação do sujeito quanto à força muscular e, posteriormente, avaliação funcional de acordo com a escala de Vignos. O sujeito apresentou atraso e difi culdade na aquisição de algumas atividades motoras como fi car de pé e marcha; aos seis anos de idade apresentou início dos sintomas com quedas freqüentes; aos nove anos apresentou difi culdade na deambulação, aumento da lordose lombar, défi cit de equilíbrio, fraqueza muscular e diminuição da funcionalidade, principalmente de membros infe- riores. O quadro clínico da distrofi a intermediária é semelhante à distrofi a muscular de Duchenne, porém com início um pouco mais tardio, assemelhando-se à distrofi a muscular de Becker. Palavras-chave: distrofi a muscular de Duchenne, distrofi a muscular de Becker, distrofi a muscular intermediária. Estudo de caso Abstract The myopathy is characterized by biochemical defi ciencies in muscle tissue due to alteration in the production and function of muscle proteins (dystrophin). Among the main types of muscular dystrophy they are distinguished Duchenne muscular dystrophy and Becker muscular dystrophy. It exists, however, one intermediate form of myopathy with intermediate characteristics between Duchenne and Becker. The objective of this study was to relate the case of an individual male, nine years old, with diagnosis of intermediate dystrophy between Duchenne and Becker. Initially it was done anamneses with tutors, then it was analysed muscle strength and functional evaluation with Vignos scale. The subject demonstrated delay and diffi culty in the acquisition of some motor activities like standing and gait; frequent falls at six years; at nine years, diffi culty in the gait, increase of lumbar lordosis, balance defi cit, muscular weakness and reduction of the functionality, mainly of lower limbs. In conclusion, the clinical process of the intermediate dystrophy is similar to the Duchenne muscular dystrophy, however with delay in the onset, it is similar to Becker muscular dystrophy. Key-words: Duchenne muscular dystrophy, Becker muscular dystrophy, intermediate muscular dystrophy. Artigo recebido em 20 de outubro de 2004; aceito em 5 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Profa. Cristina Iwabe, Rua Sacramento, 1091/32 Centro 13023-185 Campinas SP, E-mail: cristinaiwabe@uniararas.br Introdução Dentre as principais doenças neuromusculares, pode-se citar a Distrofi a Muscular de Duchenne (DMD), a Distrofi a Muscular de Becker (DMB) e, atualmente, tem-se obser- vado um tipo intermediário a estas duas, com características semelhantes. A DMD e DMB formam um conjunto de miopatias degenerativas, geneticamente determinadas (doença ligada ao sexo), ocasionando a falta de uma proteína muscular denominada distrofi na. Tal défi cit resulta em “fragilidade” muscular com inclusão de fi brose e gordura entre as fi bras musculares, as quais se tornam incapazes de responder aos estímulos do sistema nervoso central que chegam até o mús- Fisioterapia_v7n1.indb 69Fisioterapia_v7n1.indb 69 1/2/2006 18:50:351/2/2006 18:50:35 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200670 culo e, conseqüentemente, de se contraírem. Acomete todos os grupos musculares de fi bras estriadas, caracterizando-se por degeneração, necrose, variações de forma e volume (fi bras atrófi cas e hipertrófi cas), aumento dos núcleos centrais das fi bras musculares e interposição progressiva de conjuntivo e tecido gorduroso entre elas [1]. Na DMD, a criança apresenta aparente desenvolvimento motor normal, porém, por volta dos três anos de idade, inicia história de quedas freqüentes, marcha digitígrada e difi cul- dade para subir e descer escadas. Ao se levantar do chão, utiliza-se de uma manobra característica, denominada levan- tar de Gower [2,3]. A perda progressiva da força muscular geralmente é simétrica, iniciando nas regiões proximais dos membros, progredindo para regiões distais. O desequilíbrio na ação da musculatura, perda da força muscular e a ação da gravidade podem ocasionar deformidades articulares, como escolioses, que prejudicam o alinhamento postural do indivíduo. Outro sinal característico é a pseudo-hipertrofi a de tríceps sural (panturrilha), quadríceps, glúteo e deltóide, devido ao acúmulo de gordura entre as fi bras musculares, e também ocorre o aumento da lordose lombar durante a marcha [2,3]. Por volta dos sete a oito anos de idade, a cri- ança perde a capacidade de deambulação, sendo necessária a locomoção na cadeira de rodas. Geralmente, progridem para óbito durante a segunda ou terceira década de vida, em conseqüência da imobilidade geral, principalmente da mus- culatura respiratória. Há rigidez da parede torácica, microa- telectasia pulmonar, aspiração e difi culdade para eliminação das secreções, devido à capacidade reduzida de tossir [3-5]. As anormalidades cardíacas podem ser detectadas precocemente, logo ao nascimento, aumentando com a idade, até que esteja presente em todos os pacientes aos 18 anos. Em relação à parte cognitiva, acreditava-se antigamente que essas crianças apresentassem inteligência normal, mas diversos autores descreveram defi ciência cognitiva e apatia, em porcentagem signifi cativa, desses pacientes [3]. A DMB é uma forma de miopatia menos grave do que a DMD, sendo seu curso também progressivo, porém de início mais tardio e lento, iniciando-se aproximadamente na adolescência, podendo ocasionar a perda de capacidade de locomoção na segunda ou terceira década de vida [6]. A car- diomiopatia pode ocorrer em cerca de 50% dos indivíduos, da mesma forma que a instalação das deformidades articulares e escolioses, as quais podem surgir mais tardiamente do que na DMD. O óbito é raro antes de 21 anos, ocorrendo geralmente próximo dos 40 anos ou devido às complicações respiratórias e cardíacas. O quadro clínico da DMB apresenta variabilidade muito maior que a do tipo Duchenne, tanto no surgimento dos primeiros sinais, como na evolução da doença. Assim, é comum encontrarmos em uma mesma família, indivíduos afetados pela DMB que apresentam diferentes graus de comprometimento [4]. Tanto para o diagnóstico da DMD, quanto para DMB são utilizados os exames laboratoriais (análise da creatinafos- foquinase – CK, DNA), eletromiografi a (EMG) e a biópsia muscular [7]. A forma intermediária de miopatia é um tipo raro de doença neuromuscular, com características motoras semel- hantes à DMD e DMB, porém não há base literária sufi ciente para a sua descrição. Desse modo, o objetivo desse trabalho é relatar o caso raro de um indivíduo com distrofi a muscular intermediária e, através da descrição do caso clínico, serão acrescentadas a seguir as principais características encontradas nesse tipo de distrofi a. Material e métodos Foi analisado no setor de pediatria da clínica de fi sioterapia do Centro Universitário Hermínio Ometto – Uniararas, um sujeito do sexo masculino, nove anos de idade, com diag- nóstico clínico de distrofi a muscular intermediária. Inicialmente, foi realizada anamnese com o responsável, a fi m de verifi car dados da gestação e parto, as principais etapas do desenvolvimento neuromotor, o início dos sintomas e os exames laboratoriais para diagnóstico. Após a anamnese, o sujeito foi avaliado segundo a fi cha de avaliação fi sioter- apêutica da Clínica de Fisioterapia da Faculdade Hermínio Ometto - Uniararas, no setor de pediatria, quantifi cando a força de grupos musculares de membros superiores (MMSS) e inferiores (MMII), e a avaliação funcional de MMSS e MMII, segundo a escala modifi cada de Vignos et al. [8] (quadro I). Quadro I - Escala de avaliação funcional de Vignos et al. [8] Grau 1: Caminha e sobe escadas sem necessitar de ajuda Grau 2: Anda e sobe escadas com ajuda do corrimão Grau 3: Caminha e sobe escadas lentamente, apoiando-se no corrimão. Grau 4: Anda sem ajuda e se levanta da cadeira, mas não consegue subir escadas. Grau 5: Anda sem ajuda, mas não é capaz de levantar-se da cadeira ou de escalar degraus. Grau 6: Caminha somente com ajuda de aparelhos ortopédi- cos longos para membros inferiores. Grau 7: Caminha com auxilio de aparelhos ortopédicos longos para os membros inferiores, mas precisa de ajuda para equili- brar-se. Grau 8: Mantém-se em pé com auxilio dos aparelhos ortopédi- cos, porém não consegue andar, nem mesmo com ajuda. Grau 9: Confinada à cadeira de rodas. Os flexores do cotovelo vencem a ação da gravidade. Grau 10: Confinada à cadeira de rodas. Os flexores do coto- velo não conseguem vencer a ação da gravidade. Resultados Sujeito do sexo masculino, nove anos de idade, segundo o relato da mãe, é fi lho adotivo, sendo o primeiro fi lho da mãe biológica, não apresentando nenhum caso dessa patologia Fisioterapia_v7n1.indb 70Fisioterapia_v7n1.indb 70 1/2/2006 18:50:361/2/2006 18:50:36 71Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 na família. Nasceu de parto normal, a termo, peso de 2,5 kg, apresentando parada cardiorrespiratória ao nascimento, permanecendo internado por sete dias na unidade de terapia intensiva, evoluindo sem seqüelas motoras. Em relação ao desenvolvimento motor, apresentou atraso no sentar sem apoio, não engatinhou, iniciou aos nove meses a postura de pé com apoio e aos dois anos a marcha independente. Aos seis anos, apresentou quedas freqüentes, alterações na postura em pé, com défi cit de equilíbrio, base alargada, além de iniciar a marcha digitígrada. Aos nove anos, apresentou difi culdade para subir e descer escadas, com maiores défi cits de força e equilíbrio, principalmente em MMII, aumentado a difi culdade para deambulação independente. Em relação à força muscular, apresenta fraqueza muscular mais acentuada nos músculos proximais dos MMII compara- dos com os MMSS (Tabela I). Tabela I - Análise da força muscular em MMSS e MMII no indivíduo com Distrofi a Muscular Intermediária. Músculo Grau de força muscular MMSS Flexor de ombro 4 Extensor de ombro 4 Abdutor de ombro 4 Adutor de ombro 4 Rotador interno 3 Rotador externo 3 Pronador 4 Supinador 4 Flexor de cotovelo 4 Extensor de cotovelo 4 Flexor de dedos 4 Extensor de dedos 4 Flexor de punho 4 Extensor de punho 4 MMII Flexor de quadril 2 Extensor de quadril 2 Abdutor de quadril 2 Adutor de quadril 2 Rotador interno 3 Rotador externo 3 Flexor do joelho 3 Extensor do joelho 3 Dorsiflexor tornozelo 3 Flexor plantar tornozelo 4 Flexor de dedos 3 Extensor de dedos 3 Em relação à avaliação funcional de MMSS e MMII verifi cou-se maior grau de funcionalidade nos MMSS (Ta- bela II). Tabela II - Avaliação da capacidade funcional no indivíduo com Distrofi a Muscular Intermediaria segundo escala de Vignos et al. [8] Membros Grau de funcionalidade MMSS 3 MMII 2 Para confi rmação do diagnóstico clínico foi realizado o exame laboratorial de CK (945 US/ml, com valores normais de aproximadamente 40 US/ml para idade até 14 anos) e clínico de DNA, observando deleção molecular no gene da distrofi na, compatíveis com o diagnóstico de Distrofi a Muscular Pro- gressiva Xp21, o qual abrange tanto a DMD quanto a DMB. Devido ao resultado dos exames laboratoriais e à análise do quadro clínico demonstrado pelo sujeito, o qual não apresenta características compatíveis isoladamente com a DMD ou com a DMB, foi caracterizada a Distrofi a Muscular Intermediária. Discussão Através do caso relatado, pode-se observar que o primeiro sintoma a ser observado na Distrofi a Muscular Intermediária assemelha-se a DMD, o qual se caracteriza por início da mar- cha digitígrada e quedas freqüentes [5]. Porém, nessa forma de distrofi a intermediária, o indivíduo apresentou início dos sintomas aos seis anos de idade, ou seja, em período mais tardio do que a DMD, pois esta inicia seus primeiros sintomas entre 3-5 anos de idade e aos sete ocasiona a perda da capacidade de andar. Por outro lado, apresenta início precoce para caracterizar DMB, onde os primeiros sintomas são mais lentos, mantendo- se a marcha inalterada até os 15 anos de idade [6]. Para realização do diagnóstico clínico, pode ser realizado o teste enzimático de CK, no qual o indivíduo no início da DMD geralmente apresenta o índice de CK até 50 vezes elevado [2], fato observado no sujeito analisado. Pode ser realizado também o exame de DNA, o qual pode ser utilizado para identifi cação da localização anormal do gene em Xp21 e que são particu- larmente úteis em conjunto com o teste de CK sérica para o diagnóstico clínico [5]. Segundo estudos de Leitão et al. [1], 60 a 70% dos indivíduos diagnosticados como DMD ou DMB apresentam uma deleção molecular no gene da distrofi na, característica observada no indivíduo do nosso estudo, o qual apresentou exame compatível com distrofi a muscular progres- siva Xp21. Essa denominação abrange as distrofi as musculares, tanto do tipo Duchenne, como do tipo Becker, que são doenças genéticas de herança recessiva ligada ao cromossomo X, e que afeta indivíduos do sexo masculino. Devido à escassez na literatura, deve-se valorizar prin- cipalmente a descrição clínica e os achados dos testes de genética molecular para realização do seu diagnóstico clínico. Calcula-se que aproximadamente 15% dos pacientes que recebem inicialmente o diagnóstico de DMD apresentam início do acometimento motor tardiamente ou evoluem com acometimento moderado [6]. Fisioterapia_v7n1.indb 71Fisioterapia_v7n1.indb 71 1/2/2006 18:50:371/2/2006 18:50:37 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200672 Em relação ao quadro motor do sujeito, verifi cou-se iní- cio da fraqueza muscular na região proximal dos membros, principalmente em MMII, concordando com relatos de Burns e Macdonald [3]. A marcha do indivíduo analisado também apresenta alterações semelhantes à DMD, como oscilações laterais do tronco, abdução do membro inferior ipsilateral, devido à fraqueza do glúteo médio, aumento da fl exão do quadril, a fi m de compensar a fraqueza dos músculos dor- sifl exores de tornozelo. Tais características manifestam-se à medida que a força muscular dos membros diminui [3]. Em alguns casos de DMD pode-se observar atraso no desenvolvi- mento motor [2], fato também observado no nosso estudo, no qual o sujeito apresentou atraso nas aquisições de posturas altas como sentar, fi car de pé e andar. Em relação à capacidade funcional, nas distrofi as muscu- lares, os MMSS tendem a manter a sua capacidade funcional por mais tempo do que os MMII, porém, devido ao início da fraqueza muscular mais proximal (cintura escapular), o indivíduo apresenta difi culdade para manipulação e preensão de objetos, conseqüente à falta de estabilidade proximal [3]. Essa característica foi observada no nosso estudo, o qual o indivíduo apresentou maior grau de funcionalidade em MMSS. Essa maior funcionalidade do MMSS deve-se princi- palmente ao maior grau de força muscular apresentado pelo indivíduo, além de não apresentar deformidades articulares. Isso demonstra que a manutenção do comprimento ideal do músculo possibilita maior geração de força e, conseqüente- mente, maior uso do membro [9,10]. A força de contração muscular (tensão) gerada pelo músculo é quantifi cada pela freqüência de disparos dos neurônios motores alfa e proporcional ao número de fi bras extra-fusais estimuladas por este neurônio motor [7,9,10]. Para que o músculo possa gerar contração ativa máxima, é necessário também que se encontre em um comprimento ideal (comprimento de repouso) que corresponde à posição na qual o músculo deve agir com força e efi ciência. A tensão gerada pelo músculo pode cair se esse comprimento for inferior ou exceder o de repouso, pois, se for maior, haverá menos ligações cruzadas de actina e miosina disponível para interagir e, se for menor, ocorrerá interferência entre as moléculas, porque a sobreposição é muito grande. Portanto, alterações posturais podem mudar esse comprimento de repouso e diminuir a capacidade do músculo de gerar tensão [10]. A fraqueza muscular não apenas resulta em perda do movimento ou de estabilidade de uma determinada articula- ção, mas também gera um estado de desequilíbrio muscular que afeta todos os grupos musculares referentes à produção de movimentos coordenados [10]. Desse modo, a fraqueza muscular encontrada nos músculos proximais dos membros do indivíduo pode afetar a produção de força dos músculos adjacentes, alterando assim a sua funcionalidade, característica observada nos MMII do sujeito. Além disso, é importante que os músculos mantenham seu comprimento de repouso ideal, a fi m de possibilitar a geração de força. Conclusão Devido à variabilidade de tipos de doenças neuromuscula- res, é importante conhecer e identifi car todas as características clínicas de cada patologia a fi m de possibilitar o diagnóstico e tratamento preciso. Devido às características clínicas en- contradas, principalmente o início dos sintomas motores, a Distrofi a Muscular Intermediária apresenta quadros motores semelhantes à DMD, porém com início dos sintomas no período entre a DMD e DMB, ou seja, aproximadamente aos seis anos de idade. A evolução motora tende a seguir os mesmos sintomas relatados para a DMD e DMB, com perda progressiva da força muscular, da capacidade funcional, até atingir a perda da deambulação independente, locomovendo- se em cadeira de rodas, porém em idades intermediárias àquelas relatadas para a DMD e DMB. Devido à probabili- dade de acometimento cardíaco e à perda progressiva de fi bras musculares, como nos demais tipos de distrofi a, o óbito pode ser ocasionado devido à insufi ciência respiratória associada. O diagnóstico deve ser realizado com base nos exames laborato- riais, clínicos, mas, principalmente, no conhecimento prévio das demais patologias neuromusculares e na análise do quadro motor do indivíduo. O tratamento fi sioterapêutico deve ser iniciado o mais precocemente possível, a fi m de prevenir a instalação de deformidades articulares, retardar a perda da força muscular e aperfeiçoar a capacidade respiratória e fun- cional do indivíduo, da mesma forma já relatada nos casos de DMD e DMB. È necessário, portanto, o conhecimento das características da patologia a fi m de propor o tratamento terapêutico adequado, considerando sempre a evolução da própria patologia. Referências 1. Leitão AVA et al. Progressive muscular dystrophy - Duchenne type: controversies of the kinesitherapy treatment. São Paulo Med J 1995;113(5):995-9. 2. Shepherd RB. Fisioterapia em pediatria.3a ed. São Paulo: Santos; 1998. 3. Burns W, Mac Donald J. Fisioterapia e crescimento na infância. São Paulo: Santos; 1999. 4. Stokes M. Neurologia para fi sioterapeutas. São Paulo: Premier; 2000. 5. Diament A, Cypel S. Neurologia infantil. 3a ed. São Paulo: Atheneu; 1998. 6. Kudo et al. 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Coura Pereira*, Roger Duarte da Paz*, Flávia Maria Campos de Abreu*** *Fisioterapeuta Graduado na Universidade Presidente Antônio Carlos UNIPAC, Barbacena MG, **Fisioterapeuta, Membro do Grupo Latino Americano para a Maturidade -GDLAM, Laboratório de Biociências da Motricidade Humana-LABHIM RJ, ***Fisioterapeuta Graduada na UEMG, Membro do Grupo Latino Americano para a Maturidade-GDLAM, Laboratório de Biociências da Motricidade Humana-LAB- HIM RJ, Docente Titular de Fisioterapia Aplicada à Geriatria UNIPAC Resumo O presente trabalho foi realizado através da seleção de um individuo idoso portador de osteoartrite de joelho, no qual foram utilizados para confi rmação da patologia o diagnóstico médico, o exame radiológico e a sintomatologia clínica. Foram realizados um total de 36 sessões de fi sioterapia exclusivamente de alongamento estático e fortalecimento excêntrico do quadríceps femoral, com freqüência de três sessões por semana, com duração média de 50 minutos cada sessão. Foram utilizadas as escalas de força manual, goniometria passiva, perimetria, índice algo-funcional de Lequesne e escala de Cincinnati, para mensuração, com obtenção de ganhos signifi cativos, demonstrados em forma de gráfi cos. Devemos con- siderar que apesar de haverem possíveis variáveis nesta pesquisa por ter sido realizada somente com uma amostra, concluímos que o exercício excêntrico de quadríceps femoral produz uma melho- ra substancial no quadro álgico e incapacitante em indivíduos portadores de osteoartrite de joelho, resultando em uma melhor qualidade de vida. Palavras-chave: idoso, osteoartrite, exercício excêntrico, qualidade de vida. Estudo de caso Abstract The current work was performed through the selection of an elderly individual with knee osteoarthritis, confi rmed by medical diagnostic, radiology examination, and clinical symptoms. A total of 36 physical therapy sessions exclusively of static stretching and eccentric strengthening of the femoral quadriceps were performed, with a frequency of three sessions per week, with an average duration of 50 minutes each session. The manual force scales, the passive goniometry, perimetry, Lequesne index and Cincinnati scale used for mensuration with signifi cant gains, shown in graphs were also performed. We should consider that although there might be possible variables in this research, since it was performed only with one person, we concluded that the eccentric exercise of femoral quadriceps produces a substantial improvement in the algic and disability process in patients with knee osteoarthritis, resulting in a better quality of life. Key-words: elderly, osteoarthritis, eccentric exercise, quality of life. Recebido 18 de maio de 2005; aceito 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Igor Magalhães e Souza, Av. João Monlevade, 498 B Pioneiros 36420-000 Ouro Branco MG, Tel: (31)3741-3869 /9731- 8363 ou (32)3331-1911, E-mail: igaofi sio@zipmail.com.br Introdução Segundo dados do IBGE, no ano de 2030 o Brasil terá a sexta população mundial em número absoluto de idosos [1,2]. Ao longo da segunda metade do século XX, os idosos, a velhice e o processo de envelhecimento humano vêm ganhando espaços cada vez maiores no cenário nacional, alcançando o verdadeiro ápice gerontológico em sua última década [3,4,5]. A osteoartrite, também denominada doença degenera- tiva articular, é uma patologia muito freqüente que envolve degeneração da cartilagem, remodelagem do osso subcon- dral, crescimento excessivo de osso nas margens articulares, Fisioterapia_v7n1.indb 73Fisioterapia_v7n1.indb 73 1/2/2006 18:50:381/2/2006 18:50:38 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200674 derrame articular e espessamento da sinóvia ou da cápsula articular [6]. Esta patologia está associada a alterações nas fi bras de colágeno, proteoglicanas, na síntese de condrócitos, na hi- dratação e nas propriedades mecânicas da cartilagem afetada. É comum a ocorrência da osteoartrite em articulações que sofrem maior descarga de peso corporal, como os joelhos. Os primeiros sintomas são dor, rigidez matinal, diminuição ou perda de movimento, crepitações, edema, fraqueza e es- pasmos musculares [7,8,9]. Se existir movimento, na articulação acometida, o osso subcondral torna-se esclerótico, e se não existe movimento considerável, o osso e toda a musculatura adjacente sofre atrofi a. Também é comum estarem presentes áreas de foco de sinovite crônica secundária, caracterizada por infi ltrado de lin- fócitos, em casos de osteoartrite mais avançados [10,11,12]. A osteoartrite é uma doença multifatorial, dentre as cau- sas incluem-se fatores genéticos, metabólicos, enzimáticos, biomecânicos, sexo feminino, e idade avançada. Existem dife- renças na patogênese entre homens e mulheres. Nas mulheres a osteoartrite está associada à obesidade ou estresse articular e é freqüentemente bilateral, enquanto nos homens ocorre por trauma ou lesão, sempre unilateralmente[13,14]. Na última década, cientistas e fi siologistas do exercício têm intensifi cado e focalizado as pesquisas em relação ao treinamento de força para pessoas idosas, com o objetivo de minimizar ou reverter à redução da força muscular relacionada com a idade [15,16]. Nos exercícios isotônicos excêntricos ocorre um tipo de sobrecarga muscular dinâmica que geram tensão e alonga- mento muscular quando aplicada a uma força externa e ocor- rem em muitas funções diárias tais como, abaixar o corpo contra a gravidade e descer escadas, além de proporcionar uma maior fonte de absorção de choque. Acredita-se que as contrações musculares excêntricas forneçam uma maior quan- tidade de força ao músculo do que as contrações concêntricas. Em relação à contração isométrica, as contrações excêntricas geram uma maior quantidade de tensão no músculo, além de um menor consumo de oxigênio e energia [17]. A realização de exercícios físicos pela população idosa é de fundamental importância quando considerarmos seus benefícios para aumentar a independência funcional [18]. O presente estudo visa realizar um programa de fortaleci- mento com exercícios exêntricos em ambos os joelhos em uma idosa de 75 anos, buscando a minimização do quadro àlgico, melhora da força muscular, melhora da A.D.M. e melhora da qualidade de vida nos aspectos psicológicos, emocionais e funcionais. Material e métodos O presente trabalho foi realizado através da seleção de um individuo portador de osteoartrite de joelho, no qual foram utilizados para confi rmação da patologia o diagnóstico médico, o exame radiológico, a idade, o sexo e sintomatologias clínicas. Nos critérios de inclusão, constam: idade mínima de 70 anos, bom estado mental, lucidez e cooperação ao tratamento, presença de edema, dor e crepitações no joelho, presença de limitação funcional no joelho, fraqueza muscular em membros inferiores, confi rmação de osteoartrite de joe- lho pela visualização dos sinais característicos no RX. Nos critérios de exclusão, constam: presença de patologias graves, como câncer, cardiopatias e doenças pulmonares. O tratamento foi realizado no IMAF (Instituto Mauro Alcides Ferreira) na cidade de Barbacena MG, tendo início no dia 15/03/2004 com término no dia 25/06/2004. Os materiais utilizados no estudo foram: goniômetro (marca ISP), fi ta métrica, tornozeleira de 1 e de 2 kg, esfi g- momanômetro (marca Solidor), estetoscópio (marca Rap- paport Premium), Escala de Pontuação de Cincinnati, Índice Algo-Funcional de Lequesne para artrose de joelho e Escala de Força Manual. Na avaliação inicial foi constatado tratar-se de um indi- víduo independente em suas atividades diárias, porém com certas restrições, onde suas principais queixas eram a dor freqüente nos joelhos, onde também interferia na qualidade do sono noturno, fraqueza em membros inferiores no cami- nhar, subir escadas e agachar-se. Foram observadas a presença de crepitações em ambos os joelhos, edema no joelho esquerdo, hipotrofi a muscular em todos os músculos do membro inferior bilateralmente, com maior acometimento do lado esquerdo onde possuía um maior grau de artrite. No aspecto psicológico, trata-se de um paciente seden- tário, depressivo, ansioso, com pouca atividade social e pouco comunicativa. Através da avaliação pelo teste de graduação manual de força muscular, foram detectados pequenos défi cits no grau de força muscular dos músculos do membro inferior, com exceção dos músculos adutores do quadril, fl exor dos dedos e extensor dos dedos, bilateralmente. Também foram de- tectadas alterações na fl exibilidade e no equilíbrio, com maior ênfase no membro inferior esquerdo, detectado através da análise da goniometria. A análise do trofi smo muscular tam- bém foi realizada bilateralmente, através da perimetria. Foram utilizadas as escalas de Índice-Algo Funcional de Lequesne, para artrose de joelho e Escala de Pontuação de Cincin- nati. O Índice-Algo Funcional de Lequesne compreende um questionário administrado ao paciente com perguntas relacionadas a dor e ao comprometimento funcional e sua utilização representa um importante auxilio na avaliação das ações terapêuticas a serem seguidas. Em cada sessão foram realizadas três séries de dez repetições para cada exercício, com um total de 36 sessões fi sioterapêuticas, com uma freqüência de três sessões por se- mana, com duração média de 50 minutos cada sessão. A cada doze sessões foram feitas reavaliações idênticas à primeira para se observar à evolução da paciente. Fisioterapia_v7n1.indb 74Fisioterapia_v7n1.indb 74 1/2/2006 18:50:391/2/2006 18:50:39 75Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Os sinais vitais foram monitorados no início e no fi nal de cada sessão, sendo eles formados pela medição da pressão arterial, freqüência cardíaca e freqüência respiratória. A partir dos dados encontrados na avaliação inicial, esta- beleceu-se um programa de treinamento baseado no ganho de força e endurance muscular para o músculo quadríceps femoral, na intenção de minimizar os efeitos limitantes causa- dos por uma osteoartrite de joelho presente. Ao fi nal da avaliação foram reunidas todas as informações colhidas e planejado o tratamento fi sioterapêutico dando início assim ao tratamento a seguir: alongamento estático dos músculos quadríceps, ísquio tibiais, tríceps sural e tibial anterior, bilateralmente (3 séries de 20 segundos cada), exer- cício ativo resistido isotônico excêntrico para quadríceps, 1 – começando com uma tornozeleira de 1 kg, evoluindo para uma tornozeleira de 2 kg ao fi nal do tratamento, para retorno de extensão de joelho (paciente sentada na maca com os MMII pendentes, sem realizar a contração concêntrica de quadríceps, sendo realizado passivamente pelo terapeuta); 2 – com resistência manual para o movimento de retorno de fl exão de joelho, com o quadril a 90º de fl exão e estabilizado, paciente em decúbito dorsal (resistência executado pelo mes- mo terapeuta durante todo tratamento); 3 – com resistência manual para o movimento de retorno de fl exão de joelho e quadril, paciente em decúbito dorsal (resistência executada pelo mesmo terapeuta durante todo tratamento). Resultados e discussão Os resultados seguintes foram baseados em uma compa- ração entre os dados obtidos na primeira avaliação, antes da execução do tratamento proposto, e os dados da avaliação pós-tratamento. Ao fi nal do programa observou-se uma melhora no aspecto psicológico do indivíduo. Existe uma relação entre a saúde dos idosos e relacionamentos sociais, onde se pode observar, uma melhor saúde no idoso quando ele se encontra envolvido com a sociedade [19,20]. Houve uma melhora signifi cativa no quadro da paciente através do teste de graduação manual da força e a progressão da carga nos exercícios de fortalecimento. No teste de graduação manual de força muscular houve um aumento no escore obtido. Mesmo se tratando de um teste subjetivo, este é um teste válido e reconhecido, por isso foram tomadas algumas precauções para que certas infl uên- cias externas não interferissem no tratamento, sendo elas: a avaliação inicial e reavaliações seguintes foram realizadas por um mesmo avaliador; o avaliador não teve acesso aos resulta- dos obtidos na avaliação anterior durante a reavaliação. Os membros inferiores, que representaram o alvo do pro- grama de treinamento obtiveram melhora nos graus de força em todos os grupos musculares. Os grupos dos músculos extensores e fl exores do quadril e do joelho receberam ini- cialmente grau 3 de força na escala manual de força; o grupo dos abdutores de quadril esquerdo receberam inicialmente grau 3 de força muscular e o grupo do lado direito grau 4; o grupo dos adutores de quadril receberam inicialmente grau 5 de força; o grupo dos dorsifl exores do tornozelo receberam grau 3 de força; o grupo dos plantifl exores do tornozelo receberam grau 4 inicialmente e bilateralmente na escala manual de força. Na reavaliação fi nal, depois de 36 sessões realizadas, o grupo dos fl exores de quadril mantiveram grau 5 de força bilateralmente; o grupo dos extensores de quadril mantiveram com grau 4 de força; o grupo dos abdutores de quadril man- tiveram grau 5 de força bilateralmente; o grupo dos adutores de quadril mantiveram grau 5 de força bilateralmente; o grupo dos extensores do joelho direito permaneceu com grau 5, e o joelho esquerdo permaneceu em grau 4; o grupo dos fl exores de joelho direito evoluíram para grau 5, e o grupo esquerdo manteve grau 4 de força; o grupo dos dorsifl exores do tornozelo direito evoluiu para grau 5 de força e o grupo do lado esquerdo evoluiu para grau 4 de força; o grupo dos plantifl exores evoluíram para grau 5 de força. Gráfi co I - Escala manual de força muscular Existem recentes pesquisas que apontam que os indiví duos idosos podem benefi ciar-se dos exercícios aumentando não só a resistência e a força muscular, mas também o equilíbrio e a mobilidade, causando uma signifi cativa redução nos riscos de quedas e lesões, melhorando a capacidade funcional total. Com o envelhecimento, a perda de força é maior em membros inferiores do que superiores, já que estes permanecem mais ativos. Treinamento físico pode não restaurar tecidos que já foram destruídos, mas geram uma certa proteção contra um número de doenças crônicas relacionadas ao envelhecimento. O mais importante é maximizar as funções fi siológicas do organismo que ainda permanecem preservadas [21,22,23]. Devemos levar em conta o ganho signifi cativo em relação à carga imposta durante a primeira e a ultima sessão, que obteve um aumento de 100% nesta carga o que nos leva a concluir um ganho expressivo de força muscular, pois do contrário não conseguiríamos aumentar esta carga em tão pouco tempo de treinamento. Fisioterapia_v7n1.indb 75Fisioterapia_v7n1.indb 75 1/2/2006 18:50:401/2/2006 18:50:40 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200676 Houve uma melhora signifi cativa na amplitude de movi- mento (A.D.M.) dos membros inferiores da paciente sendo mensurada através da goniometria passiva. Os dados relatados a seguir correspondem à diferença entre a avaliação inicial e a fi nal, apesar de terem sido realizadas a goniometria em cada reavaliação. No grupo muscular dos fl exores de quadril do lado direito houve um ganho de 20% na A.D.M. e do lado esquerdo o ganho foi de 25%; o grupo dos extensores de quadril do lado direito teve um ganho de 80% e do lado esquerdo de 100%; no grupo dos abdutores de quadril direito houve um ganho de 55% e no lado esquerdo houve um ganho de 50%; no grupo dos adutores de quadril direito houve um ganho de 35% e do lado esquerdo houve um ganho de 27%; no grupo dos fl exores de joelho direito houve um ganho de 22% e do lado esquerdo houve um ganho de 19,5%; no grupo dos extensores de joelho não houve alteração; no grupo dos dorsifl exores do tornozelo direito houve um ganho de 33% e do lado esquerdo houve um ganho de 60%; no grupo dos plantifl exores do lado direito houve um ganho de 50% e do lado esquerdo houve um ganho de 42%. Gráfi co II - Goniômetria. amplitude de movimento, maior facilidade nas atividades de desgaste, pois serve como um sinalizador para os músculos que estão prestes a serem utilizados, melhora na consciência corporal, ativa a circulação e auxilia na liberação de movi- mentos bloqueados por tensões emocionais [24]. Um aspecto importante na saúde física é a integridade do sistema músculo esquelético que é formado por três compo- nentes básicos: força muscular, resistência e fl exibilidade. Se houver um comprometimento de um desse três componentes a adaptação músculo esquelética também estará comprometi- da e poderá causar um grande impacto na saúde e bem estar deste indivíduo. Portanto, realizar programas de treinamento que incluam estes três componentes é de grande valor para uma manutenção da qualidade da saúde [24,25]. Na avaliação inicial foram realizadas medidas métricas, através da perimetria, sendo elas infra e supra-patelar. Na avaliação fi nal constatou-se um pequeno ganho no trofi smo muscular de todo o membro inferior bilateralmente, princi- palmente no músculo quadríceps femoral, mesmo não sendo o objetivo principal do treinamento. Mas também sabemos que é inevitável um ganho de força muscular, sem obtermos um ganho de trofi smo muscular, por menor que seja. Sempre que a contração muscular encontrar uma resistên- cia irá ocorrer uma tensão em todas as estruturas do músculo. Esse aumento na tensão estimula os mecanismos de hiper- trofi a, hiperplasia e proliferação conjuntiva. A hipertrofi a é o maior causador de aumento de volume dos músculos e consiste no acúmulo de proteína contrátil nas fi bras brancas e vermelhas. Já a hiperplasia muscular consiste no aumento do número de fi bras. A proliferação do tecido conjuntivo funcional do músculo, camadas formadas pelo endomísio, perimísio e epimísio apresentam uma pequena contribuição para o volume muscular [26]. Em relação aos ganhos obtidos, na medida infra-patelar do joelho direito houve um ganho de 11% e no joelho es- querdo de 13%; na medida supra-patelar houve um ganho de 3% bilateralmente. Conclui-se então que, apesar da pequena diferença encontrada no resultado pré e pós-teste em ambos membros inferiores, houve um pequeno ganho no trofi smo muscular do músculo quadríceps femoral. Gráfi co III - Perimetria. Os alongamentos são importantes elos contra uma vida sedentária, onde se mantém os músculos mais fl exíveis, prepa- rando-os para o movimento e ajudando na mudança de uma vida de inatividade para uma vida mais ativa e demonstra que estes devem ser realizados de forma correta, pois poderão trazer mais prejuízos do que benefícios [14]. Os alongamentos podem ser realizados antes e depois das atividades causando uma manutenção da fl exibilidade e ajudando na prevenção de lesões. Entre outros benefícios, na prática do alongamento encontra-se redução das tensões musculares, sensação de relaxamento, melhora da coorde- nação motora pela facilitação dos movimentos, aumento na Fisioterapia_v7n1.indb 76Fisioterapia_v7n1.indb 76 1/2/2006 18:50:411/2/2006 18:50:41 77Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 O sistema de classifi cação mais utilizado atualmente na dor e capacidade funcional de um indivíduo portador de uma osteoartrite de joelho é o Índice Algo-Funcional de Lequesne, onde avalia as condições físico-funcionais do paciente e a gravidade da lesão, além de avaliar a dor ou incômodo, a capacidade de distância máxima de marcha e a difi culdade da vida cotidiana, como por exemplo subir e descer escadas ou agachar-se completamente. O escore varia entre 1 e 24 pontos, proporcionando uma classifi cação da gravidade da osteoartrite em leve, moderada, grave, muito grave e extrema- mente grave [10]. O Índice-Algo Funcional de Lequesne, compreende um questionário administrado ao paciente com perguntas relacionadas a dor e ao comprometimento funcional e sua utilização representa um importante auxilio na avaliação das ações terapêuticas a serem seguidas [27]. Gráfi co IV -Índice Algo-funcional de Lequensne. Gráfi co V - Escala de Cincinnati. No Índice Algo-Funcional de Lequesne obteve-se um ganho de 94% em relação á primeira e última avaliação rea- lizada. Na avaliação inicial, obteve-se uma pontuação na escala igual a 17,5 pontos, sendo que na última avaliação obteve-se um escore de 9,0 pontos. Concluímos que houve um ganho signifi cativo no quadro álgico e capacidade funcional da paciente pesquisada, quando avaliada pela escala em questão. O Cincinnati Rating System possui a pontuação máxima de 100 pontos onde o escore de 95 a 100 pontos é con- siderado excelente, 84 a 94 bom, 65 a 83 razoável e 64 ou menos pontos insatisfatório. O questionário Cincinnati é viável para ser usado como método de acompanhamento e documentação de um tratamento realizado e apresenta-se sensível às alterações dos sintomas dos pacientes com o passar do tempo [28]. Na Escala de Pontuação de Cincinnati obteve-se um aumento de 292% no escore total do joelho direito, onde na avaliação inicial tinha-se um valor de 28 pontos na escala e na avaliação fi nal obteve-se 82 pontos. Porém no joelho esquerdo obteve-se um ganho de 345 % com valor inicial de 22 pontos e 76 pontos na avaliação fi nal. Concluímos assim que houve um ganho considerável na Escala de Pontuação de Cincinnati onde foram avaliadas as características de dor e capacidade funcional, entre outras. Conclusão É importante ressaltar que se torna cada vez mais ne- cessário uma melhor qualidade de vida na população idosa, visto que em 2030 o Brasil terá a sexta população mundial em número absoluto de idosos, o que nos força cada vez mais a buscar por conhecimentos e pesquisas sobre as patologias que geram a incapacidade funcional e os possíveis tratamentos desses indivíduos. Diante disso, obteve-se resultados satisfatórios através do programa de fortalecimento muscular excêntrico do quadrí- ceps femoral no tratamento da osteoartrite de joelho em uma idosa de 75 anos. Com os resultados pode-se concluir haver um grande benefício com o programa de alongamento estático e exercício excêntrico para se obter ganho no forta- lecimento muscular, na fl exibilidade e na hipertrofi a muscular, ou seja, na capacidade funcional total deste indivíduo. Outros fatores importantes visíveis nos benefícios do programa de exercícios realizado foram à melhora no fator psicológico, no nível de ansiedade, no quadro de depressão e um maior convívio social. Deve-se considerar que apesar de haverem possíveis variáveis nesta pesquisa por ter sido realizada somente com uma amostra, foram alcançados os objetivos principais do es- tudo, onde se conclui que o exercício excêntrico de quadríceps femoral produz uma melhora substancial no quadro álgico e incapacitante em indivíduos portadores de osteoartrite de joelho, resultando em uma melhor qualidade de vida. É importante que sejam realizadas mais pesquisas sobre o programa de fortalecimento exclusivamente excêntrico, bus- cando uma maior população, de forma randomizada, na busca de uma comprovação científi ca sobre os efeitos fi siológicos presentes ao fi nal do programa de exercício excêntrico. Fisioterapia_v7n1.indb 77Fisioterapia_v7n1.indb 77 1/2/2006 18:50:421/2/2006 18:50:42 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200678 Referências 1. Coloma AL et al. Adaptações ao treinamento de força na terceira idade. [citado 2004 oct 28]. Revista On-line 2004;(7). Disponível em URL:http://www.phorte.com/phorteonline. 2. Ramos LR. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. Cad Saúde Pública 2003;19(3). 3. Baraúna MA et al. Estudo do equilíbrio estático de idosos e sua correlação com quedas. Fisioter Bras 2004;5(2):136-41. 4. Geib LTC et al. Sono e envelhecimento. Revista Psiquiátrica 2003;25(3). 5. Prado SD, Sayd JD. A pesquisa sobre envelhecimento humano no Brasil: grupos e linhas de pesquisa. Ciência & Saúde Coletiva 2004;9(1). 6. Kauffman T. A Importância dos exercícios físicos na terceira idade. In: Kauffman T. Manual de reabilitação geriátrica. 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A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform require- ments for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especifi cações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fi ca entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notifi cado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modifi cações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científi co, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científi ca apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 fi guras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografi a: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográfi cas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científi co, novidade, interesse profi ssional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 2. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de inves- tigação já publicados em revistas científi cas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 3. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profi ssionais de Fisioterapia (novas técnicas, legislação, por exem- plo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 4. Estudo de caso São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indi- víduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 5. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. PREPARAÇÃO DO TEXTO 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as fi guras em arábico, e envie de acordo com as especifi cações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfi ca – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e mé- todos, resultados, discussão, conclusão e bibliografi a. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identifi car com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualifi cação curricular e títulos acadêmi- cos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter par ti cipado do trab- alho o sufi ciente para assumir a res pon sabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos da- dos; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação defi nitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifi ca a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é sufi ciente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodolo gia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio fi nanceiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no fi nal do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográfi cas devem seguir o estilo Vancouver defi nido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográfi cas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin – Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 – Lapa – 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel: (21) 2221 4164 – E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Consulte o texto completo das Normas em nosso site: www.atlanticaeditora.com.br Normas de publicação Fisioterapia Brasil Fisioterapia_v7n1.indb 79Fisioterapia_v7n1.indb 79 1/2/2006 18:50:431/2/2006 18:50:43 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 200680 Calendário de eventos 2006 Março 20 a 25 de março 5th International Conference on Advances in Pulmonary Rehabilitation and Management of Chronic Respiratory Failure Stresa, Itália Informações: congressi@effetti.it 22 de março Evidence-Based Cognitive Rehabilitation New Orleans, Estados Unidos Informações: info@cforums.com Abril 6 a 9 de abril Reatech – V Feira Internacional de tecnologias em reabilitação e inclusão Centro de Exposições Imigrantes, São Paulo Informações: www.cipanet.com.br 28 de abril a 1 de maio 40º Encontro Nacional de Atividade Física, Fisioterapia e Nutrição Poços de Caldas, MG Tel: (35) 3222-2344 Maio 12 a 14 de maio IIº Congresso Goiano de Fisioterapia Castro´s Park Hotel, Goiânia, GO Informações: cgofisio@terra.com.br 25 a 27 de maio XXVII Congresso da Sociedade de cardiologia do Estado de São Paulo XII Simpósio de Fisioterapia Campos do Jordão, SP Informações: www.socesp.org.br Junho 15 a 18 de junho 19º Congresso paulista de Educação Física Jundiaí, SP Tel: (11) 4587-9611 23 a 25 de junho Congresso Internacional de Fisioterapia e Terapia Manual Hotel Intercontinental, Rio de Janeiro Informações: Tel.:(21) 9449-0372 bruna@rygy.com.br 29 de junho a 1 de junho Cardiovascular Prevention 2006 – Setting up a Rehabilitation Clinic Sophia-Antipolis, France Informações: sdeambrosis@escardio.org Setembro 6 a 9 de setembro 13º Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva Unicenp, Curitiba, PR Informações: www.sifr2006.com.br 13 a 16 de setembro XII Congresso Latinoamericano de Fisioterapia e Kinesiologia Bogotá, Colômbia Informações: congresoclafk@ascofi.org.co 22 e 23 de setembro III Congresso Brasileiro de Fisioterapia da Escoliose UniFMU, São Paulo, SP Informações: www.escoliose.fst.br E-mail: nepebiomec@uol.com.br Tel: (11) 3283 –1157 Outubro 6 a 9 de outubro V CONNEFI – Congresso Norte Nordeste de Fisioterapia Hotel Tropical, Manaus, AM Organização: SOAMFI (Sociedade Amazonense de Fisioterapia) Informações: Adriana (92) 8812-7674, Dr. Marcos Cortez (92) 8111-1030, www.soamfi.org. 18 a 21 de outubro 6th Mediterranean Congress on Physical and Rehabilitation Medicine Algarve, Portugal Informações: werner@medicongress.com Fisioterapia_v7n1.indb 80Fisioterapia_v7n1.indb 80 1/2/2006 18:50:441/2/2006 18:50:44 Fisioterapia Brasil (vol.7, nº2 março/abril 2006 - 81~164) EDITORIAL Sobre verdades e mentiras nas publicações cientifi cas, Marco Antonio Guimarães da Silva ........................................................ 83 ARTIGOS ORIGINAIS Avaliação do ensino-aprendizagem em ventilação mecânica nos cursos de fi sioterapia no Paraná, Erica Fernanda Osaku, Heitor Silvério Lopes, Esperidião Elias Aquim .......................................................................................... 84 Incidência de patologia respiratória em portadores de refl uxo gastroesofágico, Eloisa Aparecida Nelli, Ana Beatriz de Lima Poloni, Carolise Bonilha, Alceu Sergio Trindade Junior ............................................. 87 Variações anatômicas entre o nervo isquiático e o músculo piriforme e sua relação com a síndrome do piriforme, Luciany Everardo Atencio Santamaría Fagundes, Fábio Urbini Carnevalli, Osvaldo Pelozo Júnior, Silvio Antônio Garbelotti Júnior ......................................................................... 90 Aspectos clínicos e anatomopatológicos da reparação de defeito osteocondral experimental da cabeça umeral de cães, após aplicação de laser a diodo de arsenieto de gálio, Cristina Boock de Souza Rodrigues, Ricardo Junqueira Del Carlo, Celber René Limonge, Betânia de Souza Monteiro, Lisandra Cristina Perez Pinheiro, Antônio José Natali, Taise Domingues de Souza ............................................................................................................................ 95 Isostretching no tratamento da lombalgia crônica, Paola Moreira Lopes, Th ais Cristina Mackert, Moacir Chien-Min Haruo Yau, Ligia Maria Facci .................................................................................... 99 Comportamento das forças de reação do solo na marcha em condições de instabilidade patelofemoral, Fernanda Ishida Corrêa, João Carlos Ferrari Corrêa, José Luís Martinelli, Marco Antônio Araújo, Eduardo Filoni, José Augusto Peres ........................................................................ 104 Análise histomorfométrica e funcional do miocárdio de ratos wistar