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INTRODUÇÃO As infecções virais estão entre as principais causas de mor- bidade e de mortalidade no mundo inteiro. A despeito dos progressos realizados no desenvolvimento de fármacos anti- virais, as medidas de saúde pública e as vacinas profiláticas continuam sendo os principais métodos pelos quais a sociedade controla a disseminação das infecções virais. Essa situação fica dolorosamente patente diante da síndrome de imunodeficiên- cia adquirida (AIDS). Apesar dos avanços nas terapias com agentes anti-HIV, a AIDS continua sendo uma causa cada vez mais comum de morte, sobretudo em alguns países da África, onde até um em cinco indivíduos é infectado pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Essa enorme prevalência é atribuída, em grande parte, a falhas nas medidas de saúde pública e à falta de uma vacina efetiva contra o HIV, dentro de um contexto sócio-econômico onde os fármacos anti-HIV são de custo demasiado alto. Apesar dessas estatísticas desanimadoras, o conjunto de fármacos disponíveis para combater os vírus tem sido de ines- timável utilidade para salvar milhões de vidas a cada ano e para melhorar a qualidade de vida de incontáveis pacientes acometidos de doenças virais. Este capítulo descreve a fisio- logia da replicação viral e as etapas no ciclo de vida dos vírus que servem de alvos para os medicamentos antivirais atuais. Os conceitos-chave para este capítulo são os seguintes: (1) os vírus sofrem replicação intracelular, utilizando os mecanismos da célula hospedeira; (2) o modo de replicação intracelular diminui o número de alvos potenciais para os fármacos antivi- rais; e (3) os agentes antivirais atuais exploram as diferenças existentes entre as estruturas e as funções das proteínas virais e humanas para obter uma seletividade de ação antiviral. nn Caso Este fato aconteceu em 1993. O Sr. M, um homem de 26 anos de idade, procura a sua médica, a Dra. Rose, e queixa-se de faringite, febre e cansaço de várias semanas de duração. Ao exame físico, a Dra. Rose verifica a presença de linfadenopatia cervical bilateral, um achado compatível com os “sintomas de tipo gripal” do paciente. A Dra. Rose considera a possibilidade de uma infecção, possivel- mente um resfriado simples, uma gripe ou faringite. Devido aos sintomas do Sr. M que se assemelham à mononucleose, a Dra. Rose também inclui em seu diagnóstico diferencial a infecção por citomegalovírus (CMV), a infecção pelo vírus Epstein-Barr (EBV), a toxoplasmose e o HIV. Os testes laboratoriais para Streptococcus, CMV, EBV, toxoplasmose e HIV são negativos. O Sr. M está preo- cupado com a possibilidade de infecção pelo HIV, embora negue qualquer atividade sexual desprotegida, uso de drogas IV e outros riscos de exposição potencial. A Dra. Rose diz ao Sr. M que os seus sintomas irão logo desaparecer com repouso, mas recomenda uma nova consulta dentro de seis meses para acompanhamento. Ela explica ao Sr. M que, caso tenha recentemente contraído o HIV, seu organismo ainda não produziu anticorpos suficientes para serem evidentes no teste de anticorpos anti-HIV. Cinco anos depois, o Sr. M retorna ao consultório da Dra. Rose. Nesse intervalo de tempo, não consultou nenhum outro médico, e agora está apresentando vários sintomas novos. Surgiram múltiplas lesões abertas nos lábios e na boca e ele confessa que possui lesões semelhantes na área genital. O teste ELISA solicitado é posi- tivo para anticorpos anti-HIV, e a medida da carga viral revela níveis elevados de RNA do HIV no sangue. A contagem de células CD4 do Sr. M é de 100 por mm3 (faixa normal: 800 a 1.200 por mm3). A Dra. Rose prescreve imediatamente um esquema farmacológico de zidovudina (AZT), lamivudina (3TC) e ritonavir, explicando ao Sr. M que o uso de uma combinação de fármacos anti-HIV constitui a Farmacologia das Infecções Virais 36 Robert W. Yeh e Donald M. Coen Introdução Caso Fisiologia da Replicação Viral Ciclo de Vida dos Vírus Classes e Agentes Farmacológicos Inibição da Fixação e Entrada dos Vírus Inibição do Desnudamento Viral Inibição da Replicação do Genoma Viral Análogos Nucleosídios e Nucleotídios Anti-Herpesvírus Análogos Nucleosídios e Nucleotídios Anti-HIV e Anti-HBV Inibidores Não-Nucleosídios da DNA Polimerase Inibidores Não-Nucleosídios da Transcriptase Reversa (INNTR) Inibição da Maturação Viral Inibição da Liberação Viral Fármacos Antivirais com Mecanismos de Ação Desconhecidos Fomivirseno Ribavirina Fármacos que Modulam o Sistema Imune Conclusão e Perspectivas Futuras Leituras Sugeridas 610 | Capítulo Trinta e Seis melhor opção para reduzir a carga viral e impedir o desenvolvimento de doença mais grave. Além disso, a Dra. Rose prescreve aciclovir oral para tratar o herpes oral e genital do Sr. M. Nos três anos seguintes, a carga viral de HIV do Sr. M cai para níveis indetectáveis, e o seu estado melhora. As infecções por her- pesvírus também são controladas. Hoje em dia, a saúde do Sr. M está aparentemente boa, e, apesar de exigir considerável esforço, ele toma rigorosamente suas medicações. QUESTÕES n 1. Quais os mecanismos de ação dos três fármacos anti-HIV prescritos pela Dra. Rose? n 2. O que é o aciclovir, e como ele atua? n 3. Por que o aciclovir não provoca toxicidade significativa nos seres humanos, enquanto a AZT o faz? n 4. Quais os riscos e os benefícios de prescrever três agentes anti-HIV e apenas um agente anti-herpesvírus? FISIOLOGIA DA REPLICAÇÃO VIRAL Para replicar-se, os vírus incorporam-se aos mecanismos metabólicos da célula hospedeira. Em conseqüência, existem menos diferenças entre os vírus e seus hospedeiros humanos passíveis de explorar no desenvolvimento de fármacos do que aquelas observadas entre bactérias e seres humanos. É também mais difícil desenvolver agentes ativos contra um amplo espec- tro de vírus do que contra as bactérias. Essa dificuldade advém do fato de que os vírus constituem um grupo heterogêneo de agentes infecciosos, enquanto as bactérias compartilham, em sua maioria, uma estrutura de parede celular comum e mecanis- mos distintos de transcrição e tradução. Apesar desses obstáculos, todos os vírus codificam proteínas que diferem consideravelmente das proteínas correspondentes humanas. Em princípio, muitas dessas proteínas poderiam atuar como alvos para agentes antivirais. Na prática, entretanto, ape- nas algumas dessas proteínas virais serviram, até o momento, como alvos úteis para a terapia farmacológica. Os vírus ocorrem na forma de pequenas partículas, denomi- nadas vírions. Por sua vez, os vírions consistem em um geno- ma de ácido nucléico acondicionado dentro de uma camada de proteína codificada pelo vírus, denominada capsídio. Em alguns vírus, o capsídio é circundado por um envelope, uma membrana com dupla camada lipídica que contém proteínas do envelope codificadas pelo vírus. Os genomas virais podem consistir em DNA ou em RNA e podem ser de fita simples ou de fita dupla. CICLO DE VIDA DOS VÍRUS Quase todos os vírus apresentam o mesmo ciclo de vida geral para sua replicação. A Fig. 36.1 mostra esse ciclo como exem- plo de um vírus típico contendo DNA. A Fig. 36.2 ilustra o ciclo de replicação do HIV, que, por ser um retrovírus, contém RNA que é transcrito em DNA. (Uma ilustração ligeiramente diferente poderia ser apresentada para um vírus contendo RNA, como o vírus influenza, em que o próprio RNA viral é replicado e transcrito.) No início da infecção o vírus fixa-se à célula hos- pedeira. Essa fixação é mediada por proteínas existentes sobre a superfície do vírus, que se ligam especificamente a determi- nado componente da membrana do hospedeiro. Por exemplo, o envelope viral do HIV contém a glicoproteína gp120, uma proteína transmembrana que medeia a ligação e a fixação do vírus às células hospedeiras queexpressam os receptores CD4 e de quimiocinas, como CCR5 ou CXCR4 (Fig. 36.2). A seguir ocorre entrada do vírion, que atravessa a membrana celular do hospedeiro. No caso do HIV, o processo de entrada depende da gp41, uma proteína do envelope viral que efetua a fusão da membrana do HIV com a célula-alvo. A seguir, o vírion perde grande parte de suas proteínas do capsídio — o estágio conhecido como desnudamento —, de modo que o ácido nucléico torna-se disponível para transcri- ção em mRNA, que, a seguir, sofre tradução em ribossomos celulares. No caso dos retrovírus, o desnudamento permite a ocorrência da transcrição reversa. Para certos vírus do RNA, o desnudamento é seguido diretamente de tradução do RNA viral. A próxima etapa do ciclo é a replicação do genoma. Essa etapa exige um suprimento de ribonucleosídio trifosfatos para os vírus de RNA e de desoxirribonucleosídio trifosfatos para os vírus de DNA. No caso dos vírus de DNA, a geração des- ses desoxirribonucleosídios trifosfatos ocorre através de duas vias: a via de recuperação, que emprega a timidina cinase, uma enzima farmacologicamente importante, e a via de novo, que inclui a enzima timidilatocinase. Os nucleosídios trifosfatos são incorporados em novos genomas virais por uma polimerase viral ou celular (ver Cap. 37, para maiores detalhes sobre o metabolismo dos nucleotídios). No caso do herpesvírus simples (HSV), a geração de desoxirribonucleosídio trifosfatos envolve a fosforilação de nucleosídios através da via de recuperação por uma timidina cinase viral; a seguir, uma DNA polimerase viral adiciona desoxirribonucleosídio trifosfato ao genoma de DNA em crescimento. A exploração desse processo em duas etapas levou ao desenvolvimento de alguns dos agentes antivirais mais efetivos e seguros atualmente disponíveis, visto que as dife- renças existentes entre as cinases e as polimerases humanas e virais permitem que os fármacos tirem partido de duas etapas diferentes em uma única via. As proteínas virais sintetizadas no interior da célula orga- nizam-se com os genomas virais dentro da célula do hospe- deiro, num processo conhecido como montagem. No caso de numerosos vírus, a montagem é seguida de um processo conhecido como maturação viral, que é essencial para que os vírions recém-formados se tornem infecciosos. Tipicamente, esse processo envolve a clivagem de poliproteínas virais por proteases. No caso de alguns vírus, a maturação ocorre dentro da célula hospedeira; para outros, como o HIV, ocorre fora da célula hospedeira. Os vírus abandonam a célula por lise celular ou por brotamento através da membrana celular. No caso dos vírus influenza, os vírions recém-formados exigem uma etapa adicional de liberação da superfície extracelular da membrana celular do hospedeiro. Em resumo, quase todos os vírus sofrem replicação através das seguintes etapas: fixação, entrada, desnudamento, trans- crição, tradução, replicação do genoma, montagem e saída. Alguns vírus apresentam etapas adicionais, como maturação e liberação. As etapas da infecção dos retrovírus ocorrem numa seqüência diferente daquela observada na maioria dos outros vírus, apresentando etapas adicionais no seu ciclo de vida. Por exemplo, a replicação do HIV inclui uma etapa adicional de integração em que o genoma viral é incorporado ao genoma do hospedeiro (Fig. 36.2). Em cada uma dessas etapas, estão envolvidas proteínas específicas do hospedeiro e/ou vírus. As diferenças entre as proteínas virais e do hospedeiro em qual- quer uma dessas etapas podem ser utilizadas como alvo para a terapia antiviral. Farmacologia das Infecções Virais | 611 Os vírus possuem conjuntos amplamente diferentes de genes. Alguns deles, como o vírus da hepatite B (HBV), apresentam genomas compactos que só codificam proteínas do envoltório e algumas proteínas utilizadas na expressão dos genes e na replicação do genoma. Outros, como os herpesvírus, codifi- cam escores de proteínas que desempenham muitas funções diferentes. Por conseguinte, as proteínas virais que, até hoje, têm constituído os melhores alvos para os fármacos antivirais consistem em enzimas envolvidas na replicação do genoma ou na maturação, embora outras etapas no ciclo de vida dos vírus também possam servir de alvos para os agentes antivirais. CLASSES E AGENTES FARMACOLÓGICOS INIBIÇÃO DA FIXAÇÃO E ENTRADA DOS VÍRUS Todos os vírus precisam infectar células para a sua replica- ção. Por conseguinte, a inibição da etapa inicial de fixação e entrada dos vírus proporciona uma medida “preventiva” con- ceitual contra a infecção e, assim, pode limitar a disseminação do vírus pelo organismo. A enfuvirtida (T-20), um peptídio anti-HIV, é o primeiro fármaco aprovado pela FDA que atua ao inibir a entrada do vírus. Esse agente assemelha-se estru- turalmente a um segmento da gp41, a proteína do HIV que medeia a fusão da membrana. O mecanismo proposto para a fusão da membrana mediada pela gp41 e a ação da T-20 está ilustrado na Fig. 36.3. A proteína gp41 nativa é retida no vírion em uma conformação que impede a sua capacidade de fundir-se a membranas ou de ligar-se à T-20. A ligação do HIV a seus receptores celulares desencadeia uma mudança de conformação da gp41 que expõe o segmento ativo de fusão (peptídio de fusão), uma região de repetição heptada e uma segunda região de repetição heptada imitada pela T-20. A seguir, ocorre novo dobramento da gp41, de modo que os segmentos imitados pela T-20 ligam-se ao primeiro conjunto de repetições heptadas. Se o peptídio de fusão estiver corretamente inserido na membrana celular do hospedeiro, esse redobramento estabelece uma estrita proximidade entre o envelope do vírion e a membrana celu- lar, permitindo a fusão da membrana (através de mecanismos que ainda não estão bem esclarecidos). Entretanto, na presença Fixação e entrada Vírus Receptor Célula hospedeira Desnudamento Replicação do genoma Síntese de RNA Síntese protéica Saída e liberação Montagem e maturação Ribossomo do hospedeiro Bloqueadores dos canais iônicos Inibidores da fusão Inibidores da polimerase Saquinavir Ritonavir Inibidores da neuraminidase Amantadina Rimantadina Enfuvirtida (T-20) Aciclovir Zidovudina Efavirenz Inibidores da protease Zanamivir Oseltamivir Fig. 36.1 Ciclo de vida dos vírus e intervenção farmacológica. O ciclo de vida dos vírus pode ser dividido em uma seqüência de diversas etapas individuais em que cada uma representa um local potencial de intervenção farmacológica. Essa figura mostra um ciclo de replicação geral dos vírus no interior da célula, juntamente com uma lista de classes de fármacos e exemplo de agentes específicos que bloqueiam cada uma dessas etapas. Os agentes antivirais atualmente aprovados são, em sua maioria, análogos de nucleosídios cujo alvo é a replicação do genoma, inibindo, tipicamente, a DNA polimerase ou a transcriptase reversa viral. Várias outras classes de fármacos são dirigidas para outras etapas do ciclo de vida dos vírus, incluindo fixação e entrada, desnudamento, montagem e maturação, e saída e liberação. É preciso assinalar que os detalhes da replicação viral diferem para cada tipo de vírus, proporcionando freqüentemente alvos singulares para intervenção farmacológica e desenvolvimento de fármacos. Por exemplo, o ciclo de vida do HIV (e de outros retrovírus) inclui etapas adicionais, como integração (ver Fig. 36.2). 612 | Capítulo Trinta e Seis de T-20, o fármaco liga-se ao primeiro conjunto de repetições heptadas e impede o processo de novo dobramento, impedindo, assim, a fusão do envelope do HIV com a membrana da célula hospedeira. Como a T-20 é um peptídio, deve ser administrada por via parenteral, tipicamente em injeções subcutâneas, duas vezes ao dia. Vários outros inibidores dafixação e da entrada do HIV estão em fase de desenvolvimento, incluindo inibidores da gp41 e antagonistas dos receptores de quimiocinas. São necessários estudos clínicos contínuos para determinar a eficácia e a segu- rança desses agentes. 1 Ligação 2 Fusão 3 Transcrição reversa 4 Integração 5 Transcrição 6 Tradução 7 Montagem e brotamento do vírion 8 Maturação (Protease) DNA HIV CD4 RNA (genômico e mRNA) Proteína do cerne Receptor de quimiocinas RNAfs gp120 gp41 Proteína da matriz Protease Integrase Integrase Transcriptase reversa Transcriptase reversa Protease Integrase Proteína do cerne Fig. 36.2 Ciclo de vida do HIV. O HIV é um retrovírus que infecta células CD4+. 1. A fixação do vírus depende de interações de ligação entre a gp160 (composta pelas proteínas gp41 e gp120) e os receptores CD4 e de certas quimiocinas da célula hospedeira. 2. A fusão da membrana viral (envelope) com a membrana plasmática da célula hospedeira permite a entrada do genoma do HIV complexado com certas proteínas do vírion na célula hospedeira. 3. O desnudamento permite a transcrição do RNA de fita simples (RNAFS) do genoma do HIV pela transcriptase reversa em DNA de fita dupla. 4. O DNA do HIV é integrado no genoma da célula hospedeira, numa reação que depende da integrase codificada pelo HIV. 5. A transcrição gênica e o processamento pós-transcrição por enzimas da célula hospedeira produzem RNA do HIV genômico e mRNA viral. 6. O mRNA viral é traduzido em proteínas nos ribossomos da célula hospedeira. 7. Ocorre montagem das proteínas em vírions imaturos, que sofrem brotamento a partir da membrana celular do hospedeiro. 8. Os vírions sofrem clivagem proteolítica, com maturação em vírions totalmente infecciosos. Os agentes anti-HIV atualmente aprovados são dirigidos contra a fusão, a transcrição reversa e a maturação virais. O desenvolvimento de resistência aos fármacos pode ser significativamente retardado com o uso de combinações de fármacos dirigidos contra uma única etapa (p. ex., dois ou mais inibidores da transcrição reversa) ou mais de uma etapa no ciclo de vida do HIV (p. ex., inibidores da transcriptase reversa e inibidores da protease). O diagrama mostra outros alvos potenciais para a futura terapia anti-HIV, incluindo proteínas envolvidas na ligação do HIV às células CD4+ (p. ex., gp120, gp41, receptores de quimiocina) e proteínas necessárias para a integração do DNA do HIV no genoma da célula hospedeira (p. ex., integrase). INIBIÇÃO DO DESNUDAMENTO VIRAL A amantadina e a rimantadina (cujas estruturas estão ilustra- das na Fig. 36.4) são inibidores do desnudamento viral, com atividade exclusiva contra o vírus influenza A (mas não contra os vírus influenza B ou C). A Fig. 36.4 fornece um diagrama de um modelo bem acei- to para o mecanismo de ação desses fármacos. Os vírions da influenza penetram nas células através de endocitose mediada por receptores e são internalizados em endossomos (ver Cap. 1). Com a acidificação dos endossomos, devido à ação de uma Farmacologia das Infecções Virais | 613 bomba de prótons endossômica, são observados dois eventos. Em primeiro lugar, ocorre uma mudança drástica na confor- mação da proteína do envelope viral, a hemaglutinina. Essa alteração de conformação permite a fusão do envelope do vírus influenza com a membrana do endossomo (ver discussão ante- rior sobre a fusão da membrana mediada pelo HIV). Essa ação, por si só, poderia liberar a ribonucleoproteína viral (incluindo o genoma de RNA do vírion), mas não seria suficiente para permitir a sua transcrição. Com efeito, é também necessário um segundo evento dependente de pH no interior do vírion. Esse evento consiste no influxo de prótons através de um canal de prótons denominado M2 no envelope viral, que induz a dissociação da proteína da matriz do vírion do restante da ribonucleoproteína. A amantadina e a rimantadina inibem o influxo de prótons através do M2. Ainda não se sabe ao certo o mecanismo exato pelo qual essa inibição ocorre. Esses fárma- cos, por serem moléculas hidrofóbicas com uma carga positiva em uma das extremidades, assemelham-se a bloqueadores dos canais iônicos celulares (ver Caps. 10 e 18). Podem simples- mente “tampar” (ocluir fisicamente) o canal; todavia, ainda não se sabe exatamente onde esses fármacos se ligam ao canal, nem exatamente como inibem o fluxo de prótons. A amantadina pode causar tontura e dificuldade de concen- tração; esses efeitos adversos devem-se, provavelmente, aos efeitos do fármaco sobre os canais iônicos. De fato, os efeitos não-premeditados da amantadina sobre os canais do hospedei- ro provavelmente respondem pela outra aplicação terapêutica desse fármaco: o tratamento da doença de Parkinson (ver Cap. 12). A rimantadina é um análogo da amantadina que possui um mecanismo de ação antiviral semelhante e que adquiriu uma aceitação muito mais ampla do que a amantadina na prática clínica, devido à sua falta relativa de efeitos adversos, parti- cularmente efeitos neurológicos que podem ser problemáticos no indivíduo idoso. A rimantadina é comumente utilizada como agente profilático em situações nas quais existe uma grande população com risco de morbidade da influenza (p. ex., clínicas geriátricas). INIBIÇÃO DA REPLICAÇÃO DO GENOMA VIRAL A grande maioria dos fármacos que inibem a replicação do genoma viral atua através da inibição de uma polimerase. Cada vírus emprega uma polimerase para a replicação de seu genoma. Alguns vírus (p. ex., papilomavírus) utilizam DNA Membrana plasmática da célula hospedeira Receptor de quimiocinas Peptídio de fusão HR1 HR2 gp41 Estágio intermediário Estágio intermediário impedido Pedículo de hemifusão Poro de fusão Membrana viral (envelope) gp120 CD4 A B F C D E Enfuvirtida (T-20) gp41 Fig. 36.3 Modelo de fusão mediada pela gp41 do HIV e ação da enfuvirtida (T-20). A. As glicoproteínas do HIV ocorrem na forma trimérica na membrana viral (envelope). Cada molécula de gp120 é representada como uma esfera fixada de modo não-covalente à gp41. B. A ligação da gp120 à CD4 e a certos receptores de quimiocinas na membrana plasmática da célula hospedeira provoca uma mudança de conformação da gp41 que expõe o peptídio de fusão, a região de repetição heptada 1 (HR1) e a região de repetição heptada 2 (HR2). O peptídio de fusão é inserido na membrana plasmática da célula hospedeira. C. A gp41 sofre mudanças adicionais na sua conformação, caracterizadas principalmente pelo desdobramento e redobramento das repetições HR2. D. O redobramento completo das regiões HR cria um pedículo de hemifusão em que os folhetos externos da membrana viral e da membrana da célula hospedeira são fundidos. E. A formação de um poro de fusão completo permite a entrada do vírus na célula hospedeira. F. A enfuvirtida (T-20) é um fármaco peptídio sintético que imita a HR2, liga-se à HR1 e impede a interação HR2-HR1 (seta tracejada). Por conseguinte, o fármaco atua contra a interação entre vírus e célula hospedeira no estágio de fixação, impedindo a fusão da membrana e a entrada do vírus. 614 | Capítulo Trinta e Seis polimerases celulares; para esses vírus, os fármacos dirigidos contra as polimerases também iriam inibir a replicação do DNA celular, sendo, portanto, inaceitavelmente tóxicos. Entretanto, os vírus codificam, em sua maioria, suas próprias polimerases, tornando essa etapa um excelente alvo para fármacos antivirais. Os vírus cujas polimerases serviram de alvos bem-sucedidos para fármacos aprovados pela FDA incluem certos herpesvírus humanos, o retrovírus HIV e o hepadnavírus HBV. Esses fár- macos constituem, em sua maioria, os denominados análogos nucleosídios (Fig. 36.5). Alguns deles, conforme discutido adiante, são inibidores não-nucleosídios da DNA polimerase ou transcriptasereversa. Estes últimos não se assemelham aos nucleosídios fisiológicos na sua estrutura, mas inibem a ativi- dade da DNA polimerase ou da transcriptase reversa através de sua ligação a um sítio diferente do sítio de ligação do desoxir- ribonucleosídio trifosfato. Todos os análogos nucleosídios precisam ser ativados por fosforilação, habitualmente à forma trifosfato, para exercer seus efeitos. A fosforilação permite que esses agentes imitem os trifosfatos de desoxirribonucleosídios, que são os substra- tos naturais das DNA polimerases. Os análogos nucleosídios inibem as polimerases ao competir com o substrato trifosfato natural; tipicamente, esses análogos também são incorporados na cadeia de DNA em crescimento, onde eles freqüentemente interrompem o processo de alongamento. Uma ou ambas as características — inibição enzimática e incorporação no DNA — podem ser importantes para a sua atividade antiviral. Quanto mais eficiente a fosforilação do análogo nucleosídio pelas enzimas celulares, e quanto mais potentes forem as for- mas fosforiladas contra as enzimas celulares, mais tóxico será o análogo nucleosídio. Por conseguinte, a seletividade depende do grau com que as enzimas virais fosforilam mais eficiente- ATP NH2 Membrana viral Membrana do endossomo Endossomo inicial Endossomo tardio pH baixo pH baixo + amantadina ou rimantadina HA ligada a ácido siálico no receptor celular Receptor celular internalizado ADP H+ H+ H+ H+ H+ H+ H+ H+ H+ ATP ADP H+ Dissociação da estrutura da matriz induzida por ácido Abertura do canal M2 para permitir a entrada de prótons Liberação de RNP do endossomo A alteração estrutural induzida pelo ácido na HA desencadeia a fusão da membrana ATP ADP H+ Amantadina ou rimantadina RimantadinaAmantadina CHNH2 CH3 NA Proteína da matriz RNP M2 H+ H+ H + H+ H+ H+ H+ H+ H+ H+ Fig. 36.4 Desnudamento do vírus da influenza e efeito da amantadina e da rimantadina. São mostradas as estruturas da amantadina e da rimantadina. O vírus da influenza penetra nas células hospedeiras através do processo de endocitose mediada por receptores (não ilustrada) e é contido dentro de um endossomo inicial. O endossomo inicial contém uma H+-ATPase que acidifica o endossomo ao bombear prótons do citosol para dentro do endossomo. Uma mudança de conformação dependente de pH baixo na proteína hemaglutinina (HA) do envelope viral desencadeia o processo de fusão da membrana viral com a membrana endossômica. Entretanto, a ligação da HA apenas não é suficiente para provocar o desnudamento viral. Além disso, os prótons do endossomo de pH baixo devem penetrar no vírus através de M2, um canal de prótons, regulados por pH no envelope viral, que se abre em resposta à acidificação. A entrada de prótons através do envelope viral provoca dissociação da proteína de matriz da ribonucleoproteína (RNP) do vírus da influenza, liberando a RNP e, portanto, o material genético do vírus para o citosol da célula hospedeira. A amantadina e a rimantadina bloqueiam a função dos canais iônicos M2 e, dessa maneira, inibem a acidificação do interior do vírion, a dissociação da proteína da matriz e o desnudamento. NA, Neuraminidase; ADP, difosfato de adenosina. Farmacologia das Infecções Virais | 615 mente o fármaco do que as enzimas celulares, bem como do grau com que a síntese de DNA viral é mais potente e efetiva- mente inibida do que as funções celulares. O desafio no plane- jamento de análogos nucleosídios é fazer com que o fármaco tenha uma semelhança suficiente com um nucleosídio natural para que possa ser ativado por enzimas celulares, porém nem tão semelhante a um nucleosídio natural a ponto de inibir os processos celulares. Todos os análogos nucleosídios recorrem a variações dessas características para atingir seus respectivos graus de seletividade. As duas principais categorias de análo- gos nucleosídios são os agentes anti-herpesvírus e os agentes anti-HIV. Dois agentes anti-HIV (adefovir e lamivudina) e um terceiro fármaco, o entecavir (Fig. 36.5), também foram aprovados para uso contra o vírus da hepatite B. Análogos Nucleosídios e Nucleotídios Anti-Herpesvírus Embora as doenças causadas por herpesvírus não ameacem a vida da maioria dos indivíduos acometidos, algumas delas — como o herpes genital, causado pelo HSV, e o herpes zoster, causado pelo vírus varicela zoster (VZV) — podem ser dolo- rosas e emocionalmente debilitantes. Entretanto, para pacientes imunocomprometidos, como Sr. M, as doenças causadas por herpesvírus, como a esofagite por HSV e a pneumonia ou reti- nite por CMV, podem provocar doenças devastadoras ou até mesmo fatais. Os herpesvírus também possuem a propriedade de latência, em que os genomas virais residem no interior de uma célula e só expressam, no máximo, alguns genes, escapan- do assim da vigilância imune. A seguir, os vírus podem sofrer reativação muito tempo depois da infecção primária, causando doença. Nenhum fármaco antiviral atualmente disponível tem a capacidade de atacar os vírus durante o período de latência; com efeito, todos os fármacos disponíveis só atuam sobre vírus que sofrem replicação ativa. O HSV é o herpesvírus mais bem caracterizado em termos de sua replicação, que corresponde ao esquema apresentado na Fig. 36.1. A exemplo de todos os herpesvírus, o HSV é um grande vírus que contém DNA de fita dupla, que codifica uma variedade de proteínas envolvidas na replicação do DNA. Essas proteínas são classificadas em dois grupos. O primeiro grupo, que inclui a DNA polimerase viral, participa diretamente na replicação do DNA e é absolutamente essencial para a repli- cação do vírus; o segundo grupo, que inclui a timidina cinase viral, ajuda catalisar a formação dos trifosfatos de desoxirribo- nucleosídio necessários para a replicação do DNA. As proteínas incluídas no segundo grupo não são essenciais para a replicação do vírus em cultura celular ou em certas células de hospedeiros mamíferos, visto que as enzimas celulares podem substituir suas atividades. A DNA polimerase e a timidina cinase virais diferem suficientemente das enzimas celulares corresponden- tes para permitir o desenvolvimento de análogos nucleosídios antivirais seletivos. Aciclovir O aciclovir (ACV) é um fármaco utilizado contra o HSV e o VZV. O aciclovir, que ilustra os mecanismos fundamentais dos análogos nucleosídios, é o fármaco que convenceu a comuni- dade médica de que os agentes antivirais podem ser seguros e efetivos. O aciclovir foi descoberto durante uma triagem de compostos para atividade contra a replicação do HSV. Possui alto índice terapêutico (dose tóxica/dose efetiva) em virtude de sua elevada seletividade. A estrutura do aciclovir consiste em uma base guanina fixada a um anel de açúcar rompido e incompleto (Fig. 36.5). Essa molécula acíclica semelhante a açúcar responde pelo nome do composto e por certos aspectos de sua ação. Tanto o HSV quanto VZV codificam uma timidina cinase (TK) que tem a capacidade de fosforilar não apenas a timidina (dT), mas também outras pirimidinas, como dU e dC, timidilato (dTMP) e uma variedade de análogos nucleosídios — incluindo alguns, como o aciclovir, que não contêm uma base pirimidina. Nenhuma enzima de mamífero fosforila o aciclovir de modo tão eficiente quanto as timidina cinases do HSV e do VZV. Por conseguinte, as células infectadas por HSV e por VZV contêm muito mais aciclovir fosforilado do que as células não infecta- das; esse achado explica grande parte da seletividade antiviral do aciclovir. Ocorre também alguma fosforilação nas células não infectadas, respondendo, talvez, por parte da toxicidade do aciclovir (que é relativamente incomum). A fosforilação do ACV produz o composto monofosfato de ACV. A seguir,esse monofosfato é convertido em difosfato de ACV e trifosfato de ACV, talvez exclusivamente por enzimas celulares (Fig. 36.6A). A seguir, o trifosfato de ACV inibe a DNA polimerase do herpesvírus; além disso, inibe a DNA poli- merase viral mais poderosamente do que a DNA polimerase celular. A inibição da DNA polimerase do HSV in vitro é um processo em três etapas. Na primeira etapa, o trifosfato de ACV inibe competitivamente a incorporação do dGTP (a presença de altas concentrações de dGTP pode reverter a inibição nessa etapa inicial). A seguir, o trifosfato de ACV atua como subs- trato e é incorporado na cadeia de DNA em crescimento, em oposição a um resíduo C. A polimerase é translocada para a posição seguinte no molde, mas não pode adicionar um novo trifosfato de desoxirribonucleosídio, devido à ausência de 3�- hidroxila no trifosfato de ACV. Por conseguinte, o trifosfato de ACV também é um elemento de terminação da cadeia. Por fim, contanto que o próximo trifosfato de desoxirribonucleosídio esteja presente, a polimerase viral congela em um “complexo de ponta morta”, resultando em inativação aparente da enzima (Fig. 36.6B). (O mecanismo de “congelamento” da polime- rase permanece desconhecido.) É interessante assinalar que a DNA polimerase � celular não sofre inativação no complexo de “ponta morta”. Ainda não se sabe se a etapa de inativação é importante in vivo ou se a incorporação do ACV e a termi- nação da cadeia são suficientes para inibir a replicação viral. De qualquer modo, os estudos de mutações de resistência ao ACV no gene da DNA polimerase viral mostram que os efeitos do trifosfato do ACV sobre a polimerase viral constituem um importante componente da seletividade do aciclovir. Todos os mutantes resistentes ao aciclovir estudados até hoje contêm mutações no gene da timidina cinase (TK), no gene da DNA polimerase ou em ambos. Como a TK não é essencial para a replicação do vírus em cultura celular, as mutações que inativam a enzima de modo parcial ou completo não impedem a replicação do vírus. Além disso, algumas mutações de TK tornam a enzima incapaz de fosforilar o aciclovir, porém per- mitem a fosforilação da timidina. Como a DNA polimerase é essencial para a replicação do vírus, as mutações de resistência não inativam essa enzima, porém a alteram, de modo que são necessárias concentrações mais altas de trifosfato de ACV para inibi-la. Clinicamente, a resistência do HSV ao aciclovir constitui principalmente um problema no hospedeiro imunocomprome- tido. Em modelos animais de infecção pelo HSV, os mutan- tes resistentes ao aciclovir são freqüentemente atenuados para reduzir a patogenicidade, porém o grau de atenuação depende, usuario Highlight usuario Highlight Cássio! Sticky Note Inibidor da DNA Polimerase (inibe alongamento da fita de DNA viral) usuario Highlight usuario Highlight 616 | Capítulo Trinta e Seis N NN N NH2 O OH HO NH N N O NH2NO OH HO O OH HO N N NH2 O O OH OH HO N N N NH2 O O OH HO N NH O O N N NH2 O O HO P HO OH O N NHN N O NH2O HO N NHN N O NH2O O O H2N N NHN N O NH2O O OH O H2N N NHN N O NH2 HO OH N NHN N O NH2O HO OH N NN N NH2 O O O O N NN N NH2 OP HO O OH N NN N NH2 OP O O O O O O O O O O N3 HO N NH O O NH N N O N O HO O HO N N NH2 O O HO N N NH F 2 O O HO N NH O O S O N S N O NH2 OH N NN N NH NH2 HO NH NN N O CH2 HO HO NH2 Desoxiadenosina Desoxiguanosina Desoxicitidina Desoxitimidina A Nucleosídios nativos B Análogos nucleosídios e nucleotídios anti-herpesvírus C Análogos nucleosídios e nucleotídios anti-HIV D Análogos nucleosídios e nucleotídios anti-hepatite B E Análogo nucleosídio antivírus de RNA Aciclovir Valaciclovir (pró-fármaco) Ganciclovir Valganciclovir (pró-fármaco) Penciclovir Fanciclovir (pró-fármaco) Cidofovir Lamivudina (3TC) Entricitabina (FTC)Estavudina (d4T) Zalcitabina (ddC) Didanosina (ddI) Disoproxil de tenofovirAbacavir Zidovudina (AZT) Adefovir Entecavir Ribavirina Fig. 36.5 Análogos nucleosídios e nucleotídios antivirais. A. Os nucleosídios empregados como precursores para a síntese de DNA estão representados aqui em suas conformações anti. Cada nucleosídio consiste em uma base purina (adenina e guanina) ou pirimidina (citosina e timidina) ligada a um açúcar desoxirribose. Esses desoxinucleosídios são fosforilados em um processo em etapas às formas trifosfato (não indicadas) para uso na síntese de ácidos nucléicos. B. Com exceção do cidofovir, os análogos nucleosídios e nucleotídios anti-herpesvírus apresentados aqui são imitações estruturais da desoxiguanosina. Por exemplo, o aciclovir consiste em uma base guanina ligada a um açúcar acíclico. O cidofovir, que imita o desoxinucleotídio monofosfato de desoxicitidina, Farmacologia das Infecções Virais | 617 N NHN N O NH2 O HO N NHN N O NH2 O O P HO O OH N NHN N O NH2 O O P O O OH P HO O OHN NHN N O NH2 O O P O O OH P O O OH P HO O OH A B Aciclovir Timidina cinase do HSV ou do VZV Cinase celular Cinase celular Monofosfato de aciclovir Difosfato de aciclovirTrifosfato de aciclovir (pppACV) DNA polimerase viral pppACV pppdG dC dG dC dG ACV ACV pppdC dC dG 1 2 3 A ligação do pppACV à DNA polimerase viral compete com a ligação de pppdG. O ACV é incorporado à cadeia do DNA em crescimento, bloqueando o crescimento adicional da cadeia. Quando ocorre ligação do próximo trifosfato de desoxinucleosídio, a DNA polimerase viral é “congelada”. Fig. 36.6 Mecanismo de ação do aciclovir. A. O aciclovir é um análogo nucleosídio seletivamente fosforilado pela timidina cinase do HSV ou do VZV, gerando o monofosfato de aciclovir. A seguir, as enzimas celulares do hospedeiro fosforilam seqüencialmente o monofosfato de aciclovir às suas formas difosfato e trifosfato (pppACV). B. O trifosfato de aciclovir possui um mecanismo em três etapas para inibição da DNA polimerase do herpesvírus in vitro: (1) atua como inibidor competitivo da ligação de dGTP (pppdG); (2) atua como substrato da dC, com a qual sofre emparelhamento na fita modelo, tornando-se incorporado à cadeia de DNA em crescimento, levando à terminação da cadeia; e (3) captura a polimerase na cadeia de DNA interrompida pelo ACV quando ocorre ligação do próximo trifosfato de desoxirribonucleosídio (indicado aqui como dCTP ou pppdC). utiliza uma ligação fosfonato (C-P) para imitar a ligação P-O fisiológico do nucleotídio nativo. O valaciclovir, o fanciclovir e o valganciclovir são pró-fármacos biodisponíveis por via oral do aciclovir, penciclovir e ganciclovir, respectivamente. C. Os análogos nucleosídios e nucleotídios anti-HIV imitam uma variedade de nucleosídios e nucleotídios endógenos e exibem variações não apenas no açúcar, como também na sua base. Por exemplo, a AZT é uma imitação da desoxitimidina que possui um grupo 3�-azido em lugar do 3�-OH nativo. A estavudina, a zalcitabina e a lamivudina também contêm açúcares modificados ligados a bases normais. O tenofovir, que é apresentado aqui na forma de seu pró-fármaco, o disoproxil de tenofovir, é um análogo fosfonado do monofosfato de desoxiadenosina. Entre os análogos que contêm bases modificadas, a didanosina imita a desoxinosina e é convertida em didesoxiadenosina, enquanto a entricitabina contém uma citosina fluoro-modificada, eo acabavir, uma guanina ciclopropil-modificada. D. O adefovir é um análogo fosfonato do nucleotídio endógeno monofosfato de desoxiadenosina, enquanto o entecavir é um análogo desoxiguanosina com um componente incomum substituindo a desoxirribose. Esses dois compostos e a lamivudina (ver painel C) foram aprovados para uso no tratamento da infecção pelo HBV. E. A ribavirina, que contém uma imitação de purina fixada à ribose, foi aprovada para uso contra os vírus de RNA, o HCV e o RSV. 618 | Capítulo Trinta e Seis em grande parte, do tipo de mutação. Esses estudos sugerem que existem múltiplos mecanismos através dos quais o vírus pode sofrer mutação para reter tanto a sua resistência a fárma- cos quanto a sua patogenicidade. O valaciclovir é um pró-fármaco do aciclovir cuja biodispo- nibilidade oral é cerca de cinco vezes maior que a do aciclovir (Fig. 36.5). Esse composto, que contém uma estrutura de aci- clovir ligada de modo covalente a uma valina, é rapidamente convertido em aciclovir após administração oral. Fanciclovir e Penciclovir O fanciclovir (Fig. 36.5) é o análogo diacetil 6-desoxi do penciclovir, a forma ativa do fármaco. O fanciclovir é bem absorvido por via oral e, subseqüentemente, é modificado por uma esterase e por uma oxidase, produzindo o penciclovir. Nos seres humanos, essa modificação resulta em biodisponibilidade oral de cerca de 70%. A exemplo do aciclovir, a estrutura do penciclovir consiste em uma guanina ligada a uma molécula acíclica semelhante a açúcar, que carece de um componente 2� CH 2. O mecanismo de ação do penciclovir assemelha-se ao do aci- clovir (Fig. 36.6), com diferenças apenas quantitativas detecta- das por ensaios bioquímicos e análises de mutantes resistentes. O penciclovir é ativado mais eficientemente pela TK do HSV e do VZV que o aciclovir; entretanto, o trifosfato do penciclovir é um inibidor menos seletivo das DNA polimerases virais que o trifosfato de ACV. O fanciclovir é utilizado no tratamento de infecções por HSV e herpes zoster (que é causado pela reativa- ção do ZVZ), enquanto a pomada de penciclovir é utilizada no tratamento do herpes simples causado pelo HSV. Ganciclovir As infecções humanas pelo CMV são inaparentes na maioria dos adultos; entretanto, o CMV pode provocar doenças poten- cialmente fatais, como a pneumonia, ou retinite passível de ameaçar a visão em indivíduos imunocomprometidos. O CMV é muito menos sensível ao aciclovir do que o HSV e o VZV, primariamente devido ao acúmulo de uma quantidade muito menor de aciclovir fosforilado nas células infectadas por CMV do que nas células infectadas por HSV ou VZV. O ganciclovir é um análogo nucleosídio que foi originalmente sintetizado como derivado do aciclovir, com a intenção de desenvolver outro fármaco anti-HSV. Entretanto, constatou-se que o ganciclovir é muito mais potente do que o aciclovir contra o CMV, e o ganciclovir foi o primeiro agente antiviral aprovado para uso contra o CMV. A exemplo do aciclovir, o ganciclovir contém uma guanina ligada a uma molécula acíclica semelhante a açúcar, que care- ce de um componente 2�. Entretanto, o ganciclovir contém o grupo 3�CHOH que está ausente no aciclovir (Fig. 36.5). Por conseguinte, o ganciclovir assemelha-se mais estreitamente ao composto natural dG, e essa semelhança pode ser responsável pela sua maior toxicidade. (Com efeito, o ganciclovir é tão tóxico que só deve ser utilizado para o tratamento de infecções graves.) O CMV não codifica um homólogo da TK do HSV (que fosforila o ganciclovir com muita eficiência). Todavia, os estu- dos genéticos realizados revelaram a existência de uma protei- nocinase viral, denominada UL97, que fosforila o ganciclovir, resultando em um aumento de 30 vezes na quantidade de gan- ciclovir fosforilado nas células infectadas, em comparação com as células não infectadas. O trifosfato de ganciclovir inibe mais poderosamente a DNA polimerase do CMV do que as DNA polimerases celulares. Por conseguinte, a exemplo do aciclovir e HSV, o ganciclovir mostra-se seletivo contra o CMV em duas etapas: a fosforilação e a polimerização do DNA. Todavia, a seletividade contra o CMV em cada etapa não é tão pronun- ciada quanto a do aciclovir contra o HSV; em conseqüência, o fármaco é mais tóxico do que o aciclovir. A toxicidade mani- festa-se mais comumente na forma de supressão da medula óssea, particularmente neutropenia. À semelhança do aciclovir, a resistência ao ganciclovir representa um problema clínico em uma minoria de pacientes. O valganciclovir é um pró-fármaco do ganciclovir cuja bio- disponibilidade oral é maior que a do ganciclovir. O valganci- clovir é um éster valina do ganciclovir, tornando a relação entre o valganciclovir e o ganciclovir semelhante àquela observada entre o valaciclovir e o aciclovir (Fig. 36.5). Cidofovir Esse análogo acíclico da citosina contendo fosfonato, tam- bém conhecido como hidroxifosfonilmetoxipropilcitosina (HPMPC), representa um desvio no mecanismo de ação dos análogos nucleosídios anti-herpes. Com efeito, a HPMPC pode ser considerada mais um nucleotídio do que um análogo nucleosídio. Com o seu grupo fosfonato, o cidofovir imita o monofosfato de desoxicitidina; assim, já está fosforilado (Fig. 36.5). Por conseguinte, o cidofovir não necessita de cinases virais para a sua fosforilação e, portanto, mostra-se ativo con- tra mutantes virais deficientes em cinase, que são resistentes ao ganciclovir. Apesar de o cidofovir assemelhar-se estrutu- ralmente a um composto fosforilado, ele penetra nas células com razoável eficiência. É ainda fosforilado (duas vezes) por enzimas celulares, produzindo um análogo de dCTP que inibe as DNA polimerases do herpesvírus mais potentemente do que as DNA polimerases celulares. A seletividade foi confirmada por mapeamento de mutações de resistência à HPMPC no gene da DNA polimerase do CMV. O cidofovir foi aprovado para uso no tratamento da retinite por CMV em pacientes com HIV/AIDS. O difosfato de cido- fovir possui meia-vida intracelular prolongada. Por conseguin- te, o seu uso requer doses relativamente infreqüentes (apenas uma vez por semana ou menos). Devido a seu mecanismo de depuração renal, o cidofovir deve ser administrado com pro- benecid. (O probenecid inibe um transportador de ânions no túbulo proximal e, portanto, diminui a excreção do cidofovir.) A nefrotoxicidade constitui um importante problema, e é preciso ter muita cautela na administração desse fármaco. Dois fármacos relacionados que contêm fosfonato são os análogos acíclicos do monofosfato de desoxiadenosina, o teno- fovir e o adefovir (Fig. 36.5). O tenofovir, que foi aprovado como fármaco anti-HIV em 2001, pode ser administrado apenas uma vez ao dia, o que representa uma importante vantagem para os indivíduos infectados pelo HIV que devem obedecer a com- plexos esquemas de quimioterapia de combinação. O adefovir foi aprovado como agente anti-HBV em 2002. Os mecanismos de ação desses fármacos contra seus respectivos vírus asseme- lham-se aos do cidofovir contra o CMV. (Ver discussão sobre a replicação do HIV e do HBV, adiante, juntamente com outros fármacos ativos contra esses vírus.) Outros Análogos Nucleosídios Anti-Herpesvírus Vários outros análogos nucleosídios com atividade anti-her- pesvírus foram desenvolvidos e aprovados antes do desenvolvi- usuario Highlight usuario Highlight usuario Highlight usuario Highlight usuario Highlight Farmacologia das Infecções Virais | 619 mento do aciclovir. Esses agentes apresentam maior toxicidade do que o aciclovir, de modo que não são amplamente utilizados; todavia, estão incluídos no Resumo Farmacológico, no final do capítulo. Análogos Nucleosídios e Nucleotídios Anti-HIV e Anti-HBV O HIV é um retrovírus. Todos os retrovírus contêm um genoma de RNA dentrode um capsídio circundado por um envelope lipídico clivado de glicoproteínas. O capsídio também contém um pequeno número de enzimas; duas dessas enzimas, a trans- criptase reversa e a protease, são particularmente importantes do ponto de vista farmacológico. Ambas as enzimas são essen- ciais para a replicação do HIV (Fig. 36.2). A transcriptase reversa (TR) é uma DNA polimerase capaz de copiar tanto o DNA quanto o RNA. A TR transcreve o genoma retrovi- ral de RNA em DNA de fita dupla após a entrada do vírus em uma nova célula. Uma vez integrado o DNA viral, através da ação da enzima viral integrase, a RNA polimerase celular o transcreve de volta em RNA para produzir um RNA viral genômico de comprimento total, bem como os mRNA que codificam as diversas proteínas virais. As proteínas estruturais organizam-se no RNA genômico de comprimento total, e pouco depois o vírus sofre brotamento através da membrana celular e amadurece em uma forma capaz de infectar novas células. A protease cliva as proteínas virais durante os processos de montagem e maturação (ver discussão adiante). Na ausência dessas clivagens, as partículas virais formadas permanecem funcionalmente imaturas e não-infecciosas. A exemplo dos herpesvírus, o HIV produz infecções latentes nos seres humanos, e parece não haver nenhum fármaco anti- viral disponível capaz de atacar o vírus durante a sua latência. Na verdade, os fármacos disponíveis só atuam sobre os vírus em replicação. Zidovudina A exemplo dos agentes anti-herpesvírus anteriormente descri- tos, a zidovudina (azidotimidina, AZT) é um análogo nucleo- sídio com um açúcar alterado. Especificamente, a AZT contém uma base timina ligada a um açúcar, em que a 3� hidroxila nor- mal foi convertida em grupo azido (Fig. 36.5). Por conseguinte, à semelhança do aciclovir, a AZT é um agente obrigatório de terminação da cadeia. A AZT é um excelente substrato para a timidina cinase celu- lar (Km = 3 �M), que fosforila a AZT a monofosfato de AZT. (Ao contrário dos herpesvírus, o HIV não codifica a sua própria cinase.) A seguir, o monofosfato de AZT é convertido na forma de difosfato pela timidilato cinase celular e na forma trifosfato pela nucleosídio difosfato cinase celular. Por conseguinte, ao contrário do aciclovir e do ganciclovir, não se observa nenhuma seletividade na etapa de ativação, e a AZT fosforilada acumula- se em quase todas as células que sofrem divisão no corpo, e não apenas nas células infectadas. O trifosfato de AZT, cujo alvo é a TR do HIV, é um inibidor consideravelmente mais potente da TR do HIV do que das DNA polimerases humanas testadas até hoje. O mecanismo detalhado pelo qual a AZT inibe a TR não está totalmente elucidado; todavia, a exemplo do aciclovir, a incorporação do trifosfato de AZT na cadeia de DNA em crescimento é importante. Assim, a AZT pode ser comparada com o aciclovir e o gan- ciclovir (Quadro 36.1). O aciclovir é o mais seletivo desses fármacos, em virtude de sua alta seletividade tanto na etapa de ativação quanto na de inibição. A AZT é provavelmente o fármaco de menor seletividade, visto que não é seletiva na etapa de ativação. Embora a AZT seja relativamente seletiva na etapa de inibição, as formas fosforiladas da AZT inibem enzimas celulares importantes. O monofosfato de AZT, p. ex., é um substrato e também um inibidor da timidilato cinase celular, que é essencial para a replicação celular. O ganciclovir ocupa uma posição intermediária quanto à sua seletividade, exibindo uma seletividade modesta nas etapas de ativação e de inibição. Devido particularmente a seu acúmulo em quase todas as células que sofrem divisão no corpo, a toxicidade da AZT fos- forilada representa um sério problema clínico. Em particular, a AZT provoca supressão da medula óssea, que se manifesta mais comumente na forma de neutropenia e anemia. A toxicidade da AZT parece ser causada não apenas pelos efeitos do trifosfa- to de AZT sobre as polimerases celulares, mas também pelos efeitos da forma monofosfato sobre a timidilato cinase celular (ver anteriormente). A eficiência clínica limitada da AZT e os problemas relacionados com a sua toxicidade e desenvolvi- mento de resistência levaram ao desenvolvimento de outros fármacos anti-HIV e ao uso da quimioterapia de combinação contra o HIV (Boxe 36.1). Lamivudina Dispõe-se de vários outros análogos nucleosídios anti-HIV, que utilizam mais as enzimas celulares do que enzimas virais para ativação em suas formas de trifosfato. Esses análogos, ilustra- dos na Fig. 36.5, estão relacionados no Resumo Farmacológico, no final do capítulo. A exemplo da AZT, todos esses análogos atuam como elementos obrigatórios de terminação da cadeia. A maioria exibe toxicidades que se acredita sejam devidas à inibição da DNA polimerase mitocondrial pelas formas de tri- fosfato. Entre esses análogos, a lamivudina ou 3TC parece exibir menor toxicidade. Isso pode estar relacionado com a sua estrutura notavelmente incomum: a 3TC é um L-estereoisôme- QUADRO 36.1 A Seletividade de Ação dos Análogos Nucleosídios Antivirais É Determinada pela Especificidade das Cinases e Polimerases Virais e Celulares FÁRMACO ESPECIFICIDADE DA CINASE ESPECIFICIDADE DA POLIMERASE Aciclovir TK viral >> Cinases celulares DNA polimerase viral >> DNA polimerase celular Ganciclovir UL97 viral > Cinases celulares DNA polimerase viral > DNA polimerase celular Zidovudina (AZT) TK celular TR viral >> DNA polimerase celular Os fármacos são apresentados por ordem de seletividade de ação: >>, grande diferença de especificidade; >, diferença modesta de especificidade. TK, timidina cinase; TR, transcriptase reversa. usuario Highlight usuario Highlight usuario Highlight usuario Highlight usuario Highlight Cássio! Sticky Note Inibidores da transcriptase reversa usuario Highlight usuario Highlight 620 | Capítulo Trinta e Seis Quando a AZT foi introduzida pela primeira vez, a monoterapia com esse fármaco retardou a progressão da doença em indivíduos infectados pelo HIV e prolongou a sobrevida de pacientes com AIDS avançada. No final da década de 1980 e no início da década de 1990, a AZT representou um grande avanço no tratamento. Todavia, desde então as desvantagens da AZT como monoterapia passaram a ser bem reconhecidas. A AZT provoca considerável toxicidade — incluindo anemia, náusea, cefaléia, insônia, artralgia e, raramente, acidose lática — e produz apenas uma redução modesta (3 a 10 vezes) e transitória na carga viral do HIV no plasma. Os pacientes tratados com AZT como monoterapia em sua maioria evoluem inexoravelmente para a AIDS. Na maioria desses pacientes, pode-se detectar a presença de vírus resistente à AZT e, em geral, acredita-se que essas variantes resistentes à AZT contribuem para a baixa eficácia a longo prazo da monoterapia com AZT. Foram observados problemas semelhantes com o uso da maioria dos outros fármacos anti-HIV como monoterapia. Quando a 3TC, os INNTR ou os inibidores da protease são utilizados como agentes isolados, embora a eficácia antiviral inicial observada seja maior que a da AZT (redução de >30 vezes na quantidade de HIV no plasma), ela ainda é incompleta, e verifica-se o desenvolvimento de resistência ainda mais rapidamente do que a que se desenvolve à AZT. A toxicidade, as propriedades farmacocinéticas desfavoráveis e as interações medicamentosas também representam problemas significativos com muitos dos agentes disponíveis. Em virtude dessas desvantagens, a quimioterapia de combinação (i. é, o uso de “coquetéis de fármacos”; ver Cap. 39) tornou- se o padrão de tratamento para indivíduos infectados pelo HIV. Os “coquetéis” são mais eficazes do que os agentes isolados e produzem maiores reduções na carga viral do HIV. A quimioterapia de combinação também diminui odesenvolvimento de resistência, visto que a replicação do vírus é inibida de modo mais eficiente e, portanto, as probabilidades de ocorrência de mutações durante a replicação são reduzidas, e visto que são necessárias múltiplas mutações para conferir resistência a todos os fármacos incluídos no “coquetel”. Teoricamente, a quimioterapia de combinação pode permitir que cada fármaco seja utilizado em doses mais baixas, diminuindo, assim, a sua toxicidade. Hoje em dia, é amplamente aceito que os pacientes infectados pelo HIV devem iniciar o seu tratamento com quimioterapia de combinação, e não com um único fármaco. Com efeito, todos os novos fármacos anti-HIV são atualmente aprovados pela FDA para uso em combinação apenas, e certos fármacos são associados em comprimidos. Um aspecto que ainda está sendo discutido é determinar se o paciente deve ser tratado com quimioterapia de combinação o mais cedo possível (“golpe rápido e certeiro”) — o que também submete o paciente aos efeitos adversos desagradáveis e aumenta o risco de aderência inadequada BOXE 36.1 Quimioterapia de Combinação no Tratamento do HIV ao tratamento (p. ex., resistência) —, ou se a melhor estratégia é permitir que a carga viral ultrapasse determinados limiares (ou que as contagens de células T ou CD4+ sofram uma queda abaixo de certos limiares) antes de instituir a quimioterapia de combinação. Para resolver esta questão, podem ser necessários estudos a longo prazo que incluam um período de acompanhamento significativo. Em 2006, um único comprimido contendo três agentes anti-HIV — tenofovir, entricitabina e efavirenz — foi aprovado para uso em um esquema de dose única ao dia, esperando-se assim melhorar a aderência do paciente ao tratamento. Na quimioterapia de combinação antibacteriana e antineoplásica, é típico associar apenas agentes que afetam diferentes alvos (ver Cap. 39). Todavia, na quimioterapia de combinação anti-HIV, foram associados dois ou até mesmo três inibidores da TR (p. ex., tenofovir, entricitabina e efavirenz), com benefícios evidentes. Um fator responsável por esse sucesso pode ser a baixa eficácia de cada um dos fármacos isoladamente; a associação desses fármacos pode produzir maior eficácia. (Como alguns desses fármacos apresentam perfis de toxicidade que diferem uns dos outros, é possível associar esses agentes sem aumento significativo da toxicidade global.) Um segundo fator é que as mutações que conferem resistência a determinado fármaco não produzem necessariamente resistência aos outros fármacos. Por exemplo, os mutantes resistentes à AZT continuam sendo sensíveis à INNTR e até mesmo a alguns outros análogos nucleosídios. Um terceiro fator possível é que as mutações que conferem resistência a determinado fármaco possam suprimir os efeitos de mutações que conferem resistência a outro fármaco, embora o significado clínico desse achado seja controvertido. Um quarto fator possível é que certas mutações de resistência diminuem o “condicionamento” do vírus, isto é, a sua capacidade de replicação no paciente. Por conseguinte, pode ser benéfico incluir no esquema de terapia de combinação um fármaco ao qual o vírus seja resistente, a fim de manter uma pressão seletiva a favor desse vírus resistente a fármacos. Em muitos pacientes submetidos a terapia de combinação anti-HIV (freqüentemente denominada terapia anti-retroviral intensamente ativa ou TARIA), a quantidade de vírus no sangue cai abaixo do limite de detecção (menos de 50 cópias de RNA do HIV/mL em um teste padrão). Alguns cientistas especularam que o vírus poderia ser erradicado com “coquetéis” de fármacos se o tratamento fosse mantido por um período suficientemente longo. Entretanto, os fármacos anti-HIV, a exemplo dos agentes anti-herpesvírus, só atacam os vírus em replicação e não os vírus latentes, e as evidências mais firmes são as de que os vírus latentes podem permanecer no corpo durante muitos anos. Apesar dessa limitação e do custo algumas vezes proibitivo dos agentes anti-HIV, a terapia de combinação foi, talvez, a melhor notícia no tratamento da AIDS desde o início da epidemia. ro, não o D-estereoisômero padrão dos nucleosídios biológicos, e contém um átomo de enxofre em seu anel de cinco membros (Fig. 36.5). A ausência de certas toxicidades da 3TC também pode ser atribuível à sua inibição relativamente fraca da DNA polimerase mitocondrial. Com efeito, o trifosfato de 3TC é um inibidor consideravelmente mais potente da TR do HIV do que das polimerases celulares. Entretanto, verifica-se o rápido desenvolvimento de resistência à 3TC em pacientes tratados com esse fármaco apenas, de modo que a lamivudina é utilizada em associação com outros agentes anti-HIV (Boxe 36.1). A entricitabina (FTC) está estruturalmente relacionada com a 3TC (Fig. 36.5). Esse composto pode ser administrado apenas uma vez ao dia, constituindo uma importante vantagem para pacientes com HIV. Além do seu uso no tratamento da infecção pelo HIV, a 3TC também é administrada a pacientes com infecções crônicas pelo Farmacologia das Infecções Virais | 621 HBV e evidências de replicação viral ativa. O HBV é um vírus de DNA incomum. No interior do vírion do HBV, existe um genoma de DNA de fita parcialmente dupla e uma DNA poli- merase viral, que também atua como TR. Após a sua entrada no núcleo da célula, essa polimerase compete com a síntese do DNA viral. O DNA resultante não se integra normalmente; na verdade, serve de modelo epissomal para transcrição pela RNA polimerase celular, que o transcreve em RNA, produzindo o RNA genômico de comprimento total e os mRNA que codifi- cam as várias proteínas virais. A seguir, as proteínas estruturais, incluindo a polimerase viral, organizam-se no RNA genômico de comprimento total. No interior das partículas resultantes, que ainda se encontram na célula infectada, a polimerase trans- creve o RNA em DNA de fita parcialmente dupla. Por fim, a partícula viral sofre brotamento a partir da célula, adquirindo um envelope lipídico. O trifosfato de 3TC é um inibidor muito potente da polimerase do HBV. Inibidores Não-Nucleosídios da DNA Polimerase Os análogos nucleosídios podem inibir as enzimas celulares, bem como as enzimas virais. Em conseqüência, foram envida- dos esforços para descobrir compostos com estruturas diferen- tes, passíveis de atuar seletivamente sobre as enzimas virais. O primeiro desses compostos de uso clínico foi o foscarnet (ácido fosfonofórmico, PFA; Fig. 36.7). O foscarnet inibe as DNA e RNA polimerases codificadas por uma ampla variedade de vírus. Possui espectro de atividade relativamente amplo in vitro (incluindo contra o HIV); todavia, clinicamente, é uti- lizado para certas infecções graves por HSV e CMV, quando a terapia com aciclovir ou com ganciclovir não é bem-suce- dida (p. ex., devido ao desenvolvimento de resistência). Além disso, deve-se assinalar que certos mutantes de polimerases resistentes ao aciclovir e ao ganciclovir exibem, pelo menos, resistência moderada ao foscarnet. Quanto a seu mecanismo de ação, o foscarnet difere dos análogos nucleosídios, visto que não há necessidade de sua ativação por enzimas celulares ou virais; com efeito, o foscarnet inibe diretamente a DNA polimerase viral ao imitar o produto pirofosfato da polimerização do DNA. A seletividade resulta da sensibilidade aumentada da DNA polimerase viral em relação às enzimas celulares; esse resultado bioquímico foi confirmado pela existência de mutantes de DNA polimerase resistentes ao foscarnet. Como seria de esperar de um composto que imita tão estreitamente uma substância natural (pirofosfato), a sele- tividade do foscarnet não é tão elevada quanto a do aciclovir. O foscarnet inibe a divisão celular em concentrações que não são muito mais altas do que a sua concentração anti-herpes-vírus efetiva. As principais desvantagens do uso do foscarnet incluem sua falta de biodisponibilidade oral e baixa solubilida- de; o comprometimento renal constitui sua principal toxicidade, que limita a dose. Inibidores Não-Nucleosídios da Transcriptase Reversa (INNTR) Os inibidores não-nucleosídios da transcriptase reversa (INNTR) efavirenz, nevirapina e delavirdina foram desen- volvidos através do uso de uma abordagem racional de tria- gem de alta produtividade baseada em alvos (Boxe 36.2 e Fig. 36.7). Esses fármacos inibem diretamente seus alvos, sem a necessidade de qualquer modificação química. Os estudos de cristalografia com raios X revelaram que os INNTR ligam- se próximo ao sítio catalítico da TR. Os INNTR permitem a P HO O OH O OH N H N O H N S O O N N HN HN N NN O Cl N H O O F3C Foscarnet Efavirenz Nevirapina Delavirdina Fig. 36.7 Inibidores não-nucleosídios da DNA polimerase e transcriptase reversa. O foscarnet é um análogo pirofosfato que inibe as DNA e RNA polimerases virais. O foscarnet foi aprovado para o tratamento das infecções por HSV e CMV que são resistentes a análogos nucleosídios anti-herpesvírus. Os inibidores não-nucleosídios da transcriptase reversa (INNTR) — efavirenz, nevirapina e delavirdina — inibem a transcriptase reversa do HIV-1. Os INNTR foram aprovados em associação com outros agentes anti-retrovirais no tratamento da infecção causada pelo HIV-1. Observe que as estruturas dos INNTR diferem significativamente daquelas dos análogos nucleosídios e nucleotídios anti-HIV (compare com a Fig. 36.5). ligação da TR a um trifosfato de nucleosídio e molde iniciador, porém inibem a junção dos dois. Os INNTR são biodisponíveis por via oral e, tipicamente, seus efeitos adversos (mais comu- mente exantema) são menos graves que aqueles do foscarnet e da maioria dos análogos nucleosídios. A principal limitação para o uso de INNTR consiste no rápido desenvolvimento de resistência, exigindo o uso desses fármacos em associação com outros agentes anti-HIV (Boxe 36.1). Um dos INNTR, o efavi- renz, foi o primeiro fármaco anti-HIV a ser tomado uma vez ao dia. Em 2006, um único comprimido contendo efavirenz, tenofovir e FTC foi aprovado pela FDA para a administração uma vez ao dia. usuario Highlight usuario Highlight 622 | Capítulo Trinta e Seis 36.3 e Fig. 36.9). Seu planejamento começou com a identificação de um dos substratos naturais da protease do HIV, um sítio para a clivagem de uma proteína mais longa na TR. Esse sítio é notá- vel, visto que contém uma ligação fenilalanina-prolina (Phe-Pro) (Fig. 36.9, parte superior); as enzimas de mamíferos raramente ou nunca efetuam a sua clivagem nesse sítio. Para aproveitar a característica de dímero simétrico da estrutura da protease do HIV, foram desenvolvidos inibidores correspondentemente simé- tricos, em que a Pro foi substituída por uma Phe. Além disso, foi utilizado CHOH em lugar do C = O nativo da ligação peptídica para imitar o estado de transição de catálise pela protease, que é o intermediário catalítico que se liga mais estreitamente à enzima (Fig. 36.9). Os inibidores desenvolvidos, ao contrário do peptídio original e do estado de transição nativo, não podem ser clivados pela enzima. O Boxe 36.3 analisa como esses inibidores simétri- cos evoluíram até o ritonavir (ver também Fig. 36.9). Embora um planejamento mais engenhoso não seja uma garantia de que um fármaco será ativo contra um vírus atra- vés do mecanismo esperado, os inibidores da protease atuam conforme esperado. Os compostos são potentes em cultura celular, embora sejam freqüentemente menos potentes contra a replicação do vírus do que contra a enzima in vitro. Conforme esperado, as células infectadas pelo HIV expostas a inibidores da protease continuam produzindo proteínas virais, porém essas proteínas não são processadas de modo eficiente. As partículas virais sofrem brotamento a partir das células infectadas, porém essas partículas são imaturas e não-infecciosas. Evidências con- vincentes de que os inibidores da protease atuam conforme esperado provêm da observação de que as mutações que con- ferem resistência aos fármacos estão mapeadas em seqüências do HIV que codificam a protease. Os inibidores da protease, quando utilizados em associação com outros agentes anti-HIV, tiveram grande impacto na terapia da AIDS (Boxe 36.1). Todavia, também apresentaram efeitos adversos inesperados envolvendo anormalidades metabólicas e na distribuição da gordura, e os mecanismos desses efeitos adversos ainda estão pouco elucidados. INIBIÇÃO DA LIBERAÇÃO VIRAL O planejamento racional também levou ao desenvolvimento de inibidores das neuraminidases do vírus da influenza. O funda- mento lógico desses inibidores, que bloqueiam a liberação do vírus da célula hospedeira, provém do mecanismo de fixação e liberação do vírus. O vírus da influenza fixa-se às células através de interações entre a hemaglutinina, uma proteína pre- sente no envelope viral, e componentes de ácido siálico, que são encontrados em muitas glicoproteínas de superfície celular. Após a saída do vírus da influenza das células, no final de um ciclo de replicação, a hemaglutinina sobre os vírions nascen- tes liga-se novamente aos ácidos siálicos, fixando, assim, os vírions à superfície celular e impedindo a liberação viral. Para superar esse problema, o vírus da influenza codifica uma enzi- ma ligada ao envelope, denominada neuraminidase, que cliva o ácido siálico das glicoproteínas de membrana, permitindo, assim, a liberação do vírus. Na ausência de neuraminidase, o vírus permanece fixado e incapaz de disseminar-se para outras células. Em 1992, foi estabelecida a estrutura do complexo neuraminidase-ácido siálico. A estrutura mostra que o ácido siálico ocupa duas das três bolsas bem definidas da enzima. Com base nessa estrutura, em grande parte, foi desenvolvido um novo análogo do ácido siálico para maximizar interações energicamente favoráveis em todas as três bolsas de ligação potenciais (Fig. 36.10). Esse composto, atualmente conhecido BOXE 36.2 Desenvolvimento dos Inibidores Não-Nucleosídios da Transcriptase Reversa (INNTR) Os inibidores não-nucleosídios da transcriptase reversa (INNTR) foram descobertos com o uso de métodos de triagem de alta pro- dutividade. O gene que codifica a TR do HIV foi hiperexpresso em E. coli, e grandes quantidades de TR foram purificadas e utilizadas em um ensaio de TR capaz de ser facilmente automatizado. Com o uso desses ensaios, milhares de compostos foram submetidos a triagem quanto à sua capacidade de inibir a TR. A seguir, os compostos candidatos foram testados quanto à sua especificidade em uma contratriagem, avaliando a sua capacidade de inibir uma polimerase não-relacionada. Os compostos que surgiram foram quimicamente modificados para melhorar os seus perfis de esta- bilidade, farmacocinética e toxicidade. Esse processo finalmente levou aos INNTR, que são altamente específicos, inibindo a TR do HIV-1 em baixas concentrações sem inibir a TR do vírus HIV-2 estreitamente relacionado. INIBIÇÃO DA MATURAÇÃO VIRAL Para muitos vírus, incluindo o HIV, a montagem das proteínas e do ácido nucléico em partículas não é suficiente para pro- duzir um vírion infeccioso. Com efeito, é necessária uma etapa adicional, denominada maturação. Na maioria dos casos, os vírus codificam proteases, que são essenciais para a matura- ção. Em conseqüência, tem havido grande empenho na desco- berta de fármacos ativos contra as proteases virais. Parte do estímulo nesses esforços envidados resultou do sucesso e das experiências adquiridas com o desenvolvimento dos inibidores da protease do HIV. Os agentes antivirais aprovados cujo alvo é a proteasedo HIV — saquinavir, ritonavir, amprenavir, indinavir, nelfinavir, lopinavir, atazanavir, tipranavir e darunavir (todos eles ilustrados na Fig. 36.8, exceção do darunavir) — são exemplos bem-sucedidos de planejamento racional de fármacos (Boxe 36.3 e Fig. 36.9). A protease do HIV constituiu (e continua sendo) um alvo atraente para intervenção farmacológica por diversas razões. Em primeiro lugar, é essencial para a replicação do HIV. Em segun- do lugar, é suficiente a ocorrência de uma mutação pontual para inativar a enzima, sugerindo que uma pequena molécula poderia inibir com êxito a sua atividade. Em terceiro lugar, os substratos da protease do HIV são conservados e um tanto incomuns, sugerindo a necessidade de especificidade e de um ponto de início para o planejamento de fármacos. Em quarto lugar, a protease do HIV — ao contrário das proteases humanas mais estreitamente relacio- nadas — é um dímero simétrico de duas subunidades idênticas, em que cada uma contribui para o sítio ativo, sugerindo novamente a necessidade de especificidade e de ponto de início para o pla- nejamento de fármacos. Por fim, a enzima pode ser facilmente hiperexpressa e submetida a ensaio, e a sua estrutura cristalina já foi estabelecida. Todos esses fatores reunidos aumentaram a probabilidade de êxito na descoberta de fármacos. O inibidor da protease do HIV ritonavir fornece um exemplo de planejamento racional de fármacos. O ritonavir é um peptido- mimético (i. é, que imita a estrutura de um peptídio; ver Boxe usuario Highlight usuario Highlight Farmacologia das Infecções Virais | 623 NH2 HNO O O O OH N S O Amprenavir Saquinavir Lopinavir Indinavir Ritonavir Nelfinavir Atazanavir Tipranavir N N H N H H N H NH2 N H O O O OH N N N NH H N O O OH OH O O O OH HN H N N H N O O O O OH N N N H N H H N N S S O HO OH N O S O H H H N N H F3C SO2 NH N N O O OH H3CO OCH3 O O OO OH N H H N H NN H N Fig. 36.8 Inibidores da protease anti-HIV. A figura mostra as estruturas dos inibidores da protease anti-HIV aprovados — amprenavir, saquinavir, lopinavir, indinavir, ritonavir, nelfinavir, atazanavir e tipranavir. Esses compostos imitam peptídios (peptidomiméticos), e todos eles, à exceção do tipranavir, contêm ligações peptídicas. Um nono inibidor da protease anti-HIV, o darunavir, foi aprovado em 2006 (não ilustrado). como zanamivir, inibe a neuraminidase, com Ki de cerca de 0,1 nM. O zanamivir é ativo contra a influenza A e a influenza B, com potência de cerca de 30 nM. Os estudos conduzidos com mutantes resistentes confirmaram o mecanismo de ação anteri- ormente descrito. (Até o momento, a resistência aos inibidores da neuraminidase ainda não surgiu como importante problema clínico.) Todavia, o zanamivir possui baixa biodisponibilidade oral e, portanto, deve ser administrado por inalador. Os esforços envidados para melhorar a farmacocinética do zanamivir resultaram em um novo fármaco, o oseltamivir (Fig. 36.10), cuja biodisponibilidade oral é de cerca de 75%. O oselta- mivir liga-se a duas das três bolsas de ligação da neuraminidase. Quando administrado de modo profilático, o oseltamivir dimi- nui o número de casos de influenza em populações suscetíveis (p. ex., residentes de asilos). Tanto o oseltamivir quanto o zanami- vir diminuem a duração dos sintomas gripais em pacientes que já foram infectados pelo vírus. Entretanto, essa redução é de apenas um dia, em média, e até mesmo esse efeito modesto requer que os fármacos sejam tomados dentro de dois dias após o aparecimento dos sintomas. Embora se tenha reconhecido universalmente que até mesmo um dia a menos de gripe representa um benefício, existe considerável desacordo quanto ao fato de o benefício justificar o custo desses fármacos e seus efeitos adversos potenciais. Talvez mais conhecida seja a aparente eficiência do oseltamivir na pre- venção da mortalidade humana pela influenza aviária H5N1, que levou à sua estocagem na antecipação de uma pandemia potencial de influenza. De qualquer modo, os inibidores da neuraminidase representam um triunfo no planejamento racional de fármacos. 624 | Capítulo Trinta e Seis N N H H N N H H N O O OH O N OH O N N Cbz Val H N N H N H OH OOH Val Cbz H N H N OH ValVal Cbz Cbz N N H H N N H O N S O O OH O N S H2N NH2 OH N O H N Ile H N Asn Leu Leu O N O H N Ile H N Asn HO OH P (phe) -1 P (pro)1 P2P-2P-3 Seqüência do substrato pol Ataque pela protease Eixo de simetria de rotação Modelo do estado de transição na seqüência do substrato A B IC50 da protease > 200 µM IC50 da protease = 5 nM Atividade antiviral < 1 µM IC50 da protease < 1 nM Atividade antiviral < 1 µM Baixa solubilidade aquosa IC50 da protease < 1 nM Atividade antiviral = 0,1 µM Boa solubilidade Baixa biodisponibilidade oral Ritonavir IC50 da protease < 1 nM Atividade antiviral = 25 nM Solubilidade satisfatória Boa biodisponibilidade oral A-74702 A-74704 A-75925 A-77003 Fig. 36.9 Etapas na evolução do ritonavir. A. O produto do gene pol do HIV possui uma seqüência de fenilalanina (Phe)-prolina (Pro) que é incomum como sítio de clivagem para proteases humanas. A protease do HIV cliva essa ligação Phe-Pro. O estado de transição da reação da protease inclui um eixo de simetria de rotação. B. O desenvolvimento de um inibidor seletivo da protease do HIV baseado na estrutura começou com um composto (A-74702) que continha dois análogos de fenilalanina e um componente CHOH entre eles. Esse composto, que apresentou atividade inibitória fraca, foi então modificado para maximizar a sua atividade de antiprotease e, ao mesmo tempo, maximizar a atividade antiviral, a solubilidade aquosa e a biodisponibilidade oral. A maximização da atividade antiprotease foi medida como uma redução progressiva de IC50, isto é, concentração do fármaco necessária para produzir uma inibição de 50% da enzima. Ver o Boxe 36.3 para maiores detalhes. Farmacologia das Infecções Virais | 625 emparelhamento de bases com o segmento de RNA específico do vírus e interromper a sua função ao inibir o processamento ou a tradução do RNA ou ao promover a sua degradação. Se o RNA viral for um mRNA, a ligação do oligonucleotídio deve impedir a síntese da proteína codificada pelo mRNA. O fomivirseno é o primeiro fármaco oligonucleotídio aprova- do pela FDA. Trata-se de um fosforotioato oligonucleotídio (i. é, substituição de um dos oxigênios por enxofre na estrutura fosfo- diéster) planejado para ligar-se a um mRNA que codifica a IE2, uma proteína reguladora de gene do CMV. Apesar de sua grande carga negativa, os oligonucleotídios penetram eficientemente nas células. Numa cultura celular, em condições apropriadas, o fomi- virseno é mais potente do que o ganciclovir contra o CMV, exibin- do atividade em concentrações da ordem de submicromolar. Apesar de seu planejamento, não é absolutamente certo que o fomivirseno atue através de sua ligação ao mRNA da IE2. Alterações efetuadas na seqüência do fomivirseno, que reduzem de modo considerável o emparelhamento de bases, não diminuem significativamente a atividade viral, enquanto as alterações que não reduzem consideravelmente o empare- lhamento de bases podem causar uma notável redução na ati- vidade antiviral. Foi isolado um mutante de CMV resistente, porém a sua mutação não se encontra na região complementar do fomivirseno. De qualquer modo, o fármaco foi aprovado para o tratamento da doença oftálmica por CMV e é utiliza- do principalmente na rinite causada peloCMV. Entretanto, o paciente deve ser altamente motivado para receber a terapia, devido à administração intravítrea do fármaco. A despeito de suas limitações, o fomivirseno pode abrir o caminho para o desenvolvimento de outros fármacos oligonu- cleotídios. Por fim, RNA anti-sentido, outros RNA inibitórios, ribosinas antivirais ou até mesmo proteínas inibitórias podem ser administrados através de abordagens de terapia gênica. As abordagens de terapia anti-sentido e terapia gênica também podem melhorar a compreensão da função dos genes virais e da célula hospedeira. Ribavirina A ribavirina foi desenvolvida como “agente antiviral de amplo espectro” e, com efeito, exibe atividade contra numerosos vírus in vitro, bem como eficácia contra diversos vírus in vivo. Toda- via, para uso em pacientes, a ribavirina só foi aprovada na forma de aerossol (aplicação tópica aos pulmões) para a infecção grave pelo vírus sincicial respiratório (RSV) e apenas em associação com interferona no tratamento da infecção crônica pelo vírus da hepatite C (HCV). Em nível estrutural, a ribavirina difere dos outros análogos nucleosídios, visto que possui um açúcar natural (ribose) fixado a um componente não-natural semelhante a uma base, que se assemelha mais às purinas (adenina ou guanina) (Fig. 36.5). Seu mecanismo de ação ainda não está bem elucidado. A ribavirina é convertida em monofosfato pela adenosina cinase celular, e sabe- se que o fármaco inibe a monofosfato de inosina desidrogenase celular, reduzindo, assim, os reservatórios celulares de GTP (ver Cap. 37). A princípio, pode parecer improvável que esse mecanismo possa conferir uma atividade antiviral seletiva, embora haja alguns dados que sustentam esse conceito a partir de estudos de mutan- tes virais. É possível que certas enzimas virais, como a enzima que adiciona caps de 7-metilguanosina ao mRNA, tenham valo- res mais altos de Km (e, portanto, menores afinidades) para a GTP do que a maioria das enzimas celulares. Por conseguinte, a redu- ção das concentrações intracelulares de GTP abaixo dos valores de Km dessas enzimas virais pode ter um efeito antiviral seletivo. BOXE 36.3 Desenvolvimento do Ritonavir O desenvolvimento do ritonavir é um exemplo de planejamento de fármacos com base na estrutura (“racional”). Os cientistas começaram com um modelo do estado de transição que é produzido durante a clivagem de um substrato pela protease do HIV (Fig. 36.9). Foi planejado um análogo do estado de transição, utilizando apenas um resíduo em cada lado do sítio de clivagem. Sabendo que a protease do HIV é um dímero simétrico, os cientistas decidiram utilizar o mesmo resíduo — fenilalanina — em ambos os lados do sítio de clivagem, com um grupo CHOH que imita o estado de transição como centro de simetria. Essa molécula, A-74702, demonstrou ser um inibidor muito fraco da protease do HIV; todavia, a adição de grupos simétricos em ambas as extremidades para formar A-74704 (Fig. 36.9, onde Val é valina e Cbz é carbobenziloxi) resultou em um aumento de mais de 40.000 vezes na potência (IC50 = 5 nM). Entretanto, todas as tentativas no sentido de modificar A-74704 para melhorar a sua solubilidade aquosa também reduziram a potência, de modo que um inibidor potente relacionado, A-75925, cujo centro de simetria foi uma ligação C-C entre dois grupos CHOH, tornou-se a base para modificações adicionais. Alterações simétricas efetuadas em ambas as extremidades da molécula resultaram em um inibidor solúvel e altamente potente, A-77003. Esse composto não era, entretanto, biodisponível por via oral. Outras modificações, que removeram um grupo OH central e alteraram outros componentes em cada extremidade da molécula, produziram um composto — o ritonavir — que era menos solúvel porém exibia melhor atividade antiviral e boa biodisponibilidade oral. As concentrações terapêuticas de ritonavir alcançadas no plasma ultrapassam acentuadamente a concentração necessária para a sua atividade antiviral. No processo de planejamento de fármacos baseado na estrutura, as modificações sucessivas dessas moléculas recorreram a estruturas radiográficas da protease do HIV complexada com cada inibidor. Ao examinarem essas estruturas, os cientistas foram capazes de fornecer estimativas acerca dos grupos químicos específicos a acrescentar ou remover. O resultado foi o inibidor da protease do HIV terapeuticamente útil, o ritonavir. FÁRMACOS ANTIVIRAIS COM MECANISMOS DE AÇÃO DESCONHECIDOS Apesar do sucesso crescente do planejamento racional de fár- macos, diversos agentes antivirais atuam através de mecanismos desconhecidos ou apenas parcialmente elucidados. Alguns desses agentes, como o fomivirseno, foram originalmente desenvolvidos para atuar através de um mecanismo específico; entretanto, pos- teriormente, foi constatado terem outros efeitos farmacológicos. Outros, como a ribavirina, foram descobertos empiricamente. Fomivirseno Um novo agente, o fomivirseno, foi planejado para ser um oli- gonucleotídio anti-sentido. Os oligonucleotídios anti-sentido são dirigidos para RNA específicos, que atuam como alvos. Esta- tisticamente, um oligonucleotídio complementar com um RNA viral e com comprimento de mais de 15 bases terá um sítio de ligação exclusivo para o vírus em relação ao genoma humano completo. Esse oligonucleotídio deve ser capaz de efetuar um 626 | Capítulo Trinta e Seis OH N OHHO HO O HN COOH H2N NH O COOH OHH N OHHO HO O HO H N O O O O H2N Sítio ativo da neuraminidase A B C Ácido siálico Zanamivir GS4071 (metabólito ativo do pró-fármaco oseltamivir) Ácido siálico Glicerol Carboxilato Hidroxila Zanamivir Oseltamivir Glicerol Carboxilato Grupo hidrofóbico Bolsa hidro- fóbica Carboxilato Guanidino Fig. 36.10 Planejamento de inibidores da neuraminidase com base na estrutura. A. Modelo de ácido siálico (estrutura que preenche o espaço) ligado à neuraminidase do vírus da influenza A, mostrando os aminoácidos ligados ao ácido siálico na forma de bastões. Essa estrutura foi utilizada para planejar análogos no estado de transição capazes de ligar-se mais firmemente à neuraminidase do que o ácido siálico, resultando em potentes inibidores da enzima. B. Estruturas do ácido siálico e dos inibidores da neuraminidase, o zanamivir e o oseltamivir. C. Representação esquemática do sítio ativo da neuraminidase do vírus da influenza, mostrando a ligação do ácido siálico, do zanamivir e do oseltamivir a vários aspectos diferentes do sítio ativo. (O oseltamivir é o pró- fármaco etil éster do GS4071.) A inibição da RNA polimerase viral poderia representar um segundo mecanismo seletivo possível para a ação da ribavirina. É interessante assinalar que tanto o difosfato quanto o trifos- fato de ribavirina possuem atividade inibitória contra a RNA polimerase de certos vírus. Um terceiro mecanismo possível também envolve a RNA polimerase viral. A natureza sujeita a erros dessa enzima resulta em elevadas taxas de mutação, e foi constatado que a ribavirina aumenta as taxas de mutação de diversos vírus (incluindo o HCV) quando estudados em um sistema de replicação in vitro. Acredita-se que a taxa aumentada de mutação seja causada pela incorporação da ribavirina no RNA (sem terminação da cadeia), embora possa também haver uma contribuição dos efeitos do fármaco sobre as reservas de GTP. O mecanismo proposto, denominado “catástrofe por erro”, postula que a taxa aumenta- da de mutação impele a taxa já elevada de erros da polimerase “além dos limites” de um “limiar de erro”, de modo que ocor- re pouca ou nenhuma produção de genomas virais funcionais. Esse conceito é interessante, porém controvertido. Por exem- plo, as mutações que fazem com que a replicação do RNA do HCV se torne resistente àribavirina não têm sido encontradas no gene da RNA polimerase viral. Não se sabe se algum dos mecanismos propostos para a ação da ribavirina seja relevante para o efeito terapêutico do fármaco sobre as infecções humanas por RSV ou HCV. Com efeito, no caso do HCV, é possível que parte dos efeitos terapêuticos da Farmacologia das Infecções Virais | 627 ribavirina seja mediada pelo sistema imune. A aquisição de maiores conhecimentos sobre os mecanismos de ação da ribavi- rina poderá levar a um aprimoramento das terapias antivirais. FÁRMACOS QUE MODULAM O SISTEMA IMUNE Três classes de fármacos que tornam explícito o uso dos pro- cessos imunes do hospedeiro são utilizadas no tratamento das infecções virais. Essas classes incluem imunização, interfero- nas e imiquimode. Para os conhecimentos básicos do sistema imune, ver Cap. 40. A imunização ativa e a imunização passiva inibem a infecção viral através do suprimento de anticorpos dirigidos contra proteínas do envelope viral. A seguir, esses anticorpos bloqueiam a fixação e a penetração dos vírions nas células e aumentam a sua eliminação. Alguns anticorpos são diretamente virucidas, levando à destruição ou inativação dos vírions antes que o vírus possa interagir com o seu receptor nas células-alvo. Naturalmente, existem muitas vacinas que fornecem exemplos de imunização ativa contra vírus (p. ex., sarampo, caxumba, rubéola, hepatite B), e essas vacinas são, em sua maioria, uti- lizadas de modo profilático. Um exemplo de vacina utilizada terapeuticamente é a vacina anti-rábica, que pode salvar vidas de indivíduos já infectados pelo vírus da raiva. Entre os exem- plos de imunização passiva, destaca-se o uso profilático de imunoglobulinas humanas misturadas com atividade anti-RSV ou um anticorpo monoclonal humanizado, o palivizumab, na prevenção da infecção por RSV em crianças de alto risco. As interferonas e o imiquimode fazem uso da resposta imune inata (ver Cap. 40) e não são diretamente dirigidos para produtos gênicos virais. As interferonas foram inicialmente identificadas como proteínas que eram produzidas em resposta à infecção viral e capazes de inibir a replicação do mesmo vírus ou de outros vírus. Existem dois tipos principais de interferonas. As inter- feronas do tipo I incluem a interferona � e a interferona �, que são produzidas por muitos tipos celulares e que interagem com o mesmo receptor de superfície celular. As interferonas do tipo II incluem a interferona �, que é tipicamente produzida por células do sistema imune, em particular células T, e que interage com um receptor distinto. A interação das interferonas com seus receptores induz uma série de eventos de sinalização que ativam e/ou induzem a expressão de proteínas que combatem as infecções virais. Um exemplo relativamente bem elucidado de uma proteína desse tipo é a proteinocinase denominada PKR, que é ativada por RNA de fita dupla. (O RNA de fita dupla é freqüentemente produzido durante infecções virais.) A PKR fosforila um componente do mecanismo de tradução do hospe- deiro, impedindo, assim, a síntese protéica e, conseqüentemente, a produção de vírus nas células infectadas. A interferona � é utilizada como agente terapêutico no tra- tamento do HCV, HBV, condiloma acuminado (causado por cer- tos HPV) e sarcoma de Kaposi (que é causado por herpesvírus associado ao sarcoma de Kaposi [KSHV], também conhecido como herpesvírus humano 8). A interferona � é habitualmente modificada com polietileno glicol (pegilada) para melhorar o seu perfil farmacocinético após injeção. Embora o mecanismo pelo qual as interferonas inibem a replicação de certos vírus seja razoavelmente bem compreendido (p. ex., através da indução da PKR), os mecanismos de ação das interferonas contra o HCV, o HBV, os HPV e os KSHV permanecem pouco elucidados. É interessante assinalar que todos esses vírus codificam proteínas que inibem a ação da interferona. A compreensão do mecanismo dessa inibição pode ajudar a esclarecer a ação das interferonas na inibição da replicação viral. Esta é uma área ativa de pesquisa. A interferona � também é utilizada no tratamento de certos tumores relativamente raros, enquanto a interferona � é uti- lizada no tratamento da esclerose múltipla. Mais uma vez, os mecanismos pelos quais as interferonas exercem seus efeitos terapêuticos nessas situações clínicas estão pouco elucidados. O imiquimode foi aprovado para o tratamento de certas doenças causadas por HPV. O imiquimode interage com os receptores semelhantes a Toll, TLR7 e TLR8, para reforçar a imunidade inata, incluindo a secreção de interferonas. Os receptores semelhantes a Toll são proteínas de superfície celular que reconhecem padrões moleculares associados a patógenos. A ativação dos receptores semelhantes a Toll induz eventos de sinalização intracelulares que são importantes na defesa contra patógenos. No caso do imiquimode, ainda não se sabe exata- mente como essa estimulação resulta em tratamento efetivo da doença causada por HPV. n Conclusão e Perspectivas Futuras As diversas etapas no ciclo de vida dos vírus proporcionam a base para a compreensão dos mecanismos de ação dos agentes antivirais atualmente disponíveis e para o desenvolvimento de novas terapias antivirais. A grande maioria dos fármacos anti- virais disponíveis no momento atual inibe os vírus no estágio de replicação do genoma, tirando proveito das diferenças estru- turais e funcionais existentes entre as polimerases virais e do hospedeiro. Além disso, a enfuvirtida (T-20) inibe a fixação e a entrada do vírus, a amantadina e a rimantadina inibem o desnu- damento viral, os inibidores da protease inibem a maturação do vírus, e os inibidores da neuraminidase inibem a liberação dos vírus. Entretanto, é importante ter em mente que muitos desses fármacos inibem apenas um vírus (p. ex., HIV) e, em alguns casos, apenas um tipo desse vírus específico (p. ex., HIV-1, mas não HIV-2). Apenas uma minúscula fração de vírus causadores de doença humana pode ser tratada efetivamente com as tera- pias antivirais disponíveis no momento atual. Todavia, foram feitos grandes avanços. Como no caso do Sr. M, o tratamento do HIV com uma combinação de fármacos pode reduzir a carga viral para níveis indetectáveis e retardar a progressão da AIDS em muitos anos. Embora as terapias antivirais ainda não repre- sentem uma prevenção ou cura para essa doença, esses trata- mentos já diminuíram tanto a morbidade quanto a mortalidade do HIV/AIDS em milhões de indivíduos. n Leituras Sugeridas Coen DM, Richman DD. Antiviral agents. In: Knipe DM, Howley PN, Griffin DE, et al., eds. Fields Virology. 5th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2006. (Revisão detalhada dos aspectos gerais e específicos dos mecanismos e usos dos agentes antivirais.) Flexner CF. HIV-protease inhibitors. N Engl J Med 1998;338:1281– 1292. (Discussão detalhada dos mecanismos da protease e dos aspectos clínicos dos inibidores da protease.) Hay AJ, Wolstenholme AJ, Skehel JJ, et al. The molecular basis of the specific anti-influenza inhibition of amantadine. EMBO J 1985;4:3021–3024. (Esse artigo clássico pode ser utilizado na identificação do alvo de um fármaco.) LaBranche C, Galasso G, Moore JP, et al. HIV fusion and its inhibition. Antiviral Res 2001;50:95–115. (Resumo dos fatos conhecidos sobre a fusão do HIV e inclui uma discussão dos inibidores de fusão que estão sendo investigados.) von Itzstein M, Wu WY, Kok GB, et al. Rational design of potent sialidase-based inhibitors of influenza virus replication. Nature 1993;363:418–423. (Descrição do projeto baseado em estrutura do zanamivir.) 628 | Capítulo Trinta e Seis Re su m o Fa rm ac ol óg ic o Ca pí tu lo 3 6 Fa rm ac ol og ia d as Inf ec çõ es V ira is Fá rm ac o Ap lic aç õe s Cl ín ic as Ef ei to s Ad ve rs os G ra ve s e Co m un s Co nt ra -I nd ic aç õe s Co ns id er aç õe s Te ra pê ut ic as IN IB ID O RE S DA F IX AÇ ÃO E E N TR AD A D O S VÍ RU S M ec an is m o — B lo qu ei am a f ix aç ão e a e nt ra da d o H IV a o in ib ir a f us ão m ed ia da p el a gp 41 d o en ve lo pe d o H IV c om a m em br an a pl as m át ic a do h os pe de ir o E nf uv ir ti da ( T 20 ) V ír us d a im un od ef ic iê nc ia h um an a (H IV ) Sí nd ro m e de G ui ll ai n- B ar ré , in su fi ci ên ci a re na l, tr om bo ci to pe ni a, ne ut ro pe ni a, e os in of il ia N eu ro pa tia p er if ér ic a, pa ra lis ia d o se xt o ne rv o, co nj un tiv ite H ip er se ns ib ili da de à e nf uv ir tid a A e nf uv ir tid a é um p ep tíd io q ue d ev e se r ad m in is tr ad o po r vi a pa re nt er al , co m i nj eç õe s du as v ez es a o di a IN IB ID O RE S D O D ES N U DA M EN TO V IR AL M ec an is m o — I ni be m o d es nu da m en to d o ví ru s da i nf lu en za A a tr av és d o bl oq ue io d e M 2, u m c an al d e pr ót on s qu e ac id if ic a o in te ri or d o ví ru s; a a ci di fi ca çã o é ne ce ss ár ia p ar a qu e a pr ot eí na d a m at ri z vi ra l se ja di ss oc ia da d a ri bo nu cl eo pr ot eí na v ir al A m an ta di na R im an ta di na In fl ue nz a A Pa rk in so ni sm o (a m an ta di na ) Sí nd ro m e m al ig na ne ur ol ép ti ca , ex ac er ba çã o de t ra ns to rn o m en ta l H ip ot en sã o or to st át ic a, ed em a pe ri fé ri co , di st úr bi o ga st ri nt es tin al , co nf us ão , to nt ei ra , in sô ni a, ir ri ta bi lid ad e, a lu ci na çã o H ip er se ns ib ili da de à a m an ta di na o u à ri m an ta di na A r im an ta di na p ro vo ca m en os e fe ito s ne ur ol óg ic os d o qu e a am an ta di na AN ÁL O G O S N U CL EO SÍ D IO S E N U CL EO TÍ D IO S AN TI -H ER PE SV ÍR U S M ec an is m o — A f os fo ri la çã o do f ár m ac o po r ci na se s vi ra is l ev a à in ib iç ão d a sí nt es e de D N A n as c él ul as i nf ec ta da s po r ví ru s. O a ci cl ov ir , o v al ac ic lo vi r, o f an ci cl ov ir , o p en ci cl ov ir , o g an ci cl ov ir e o v al ga nc ic lo vi r sã o fo sf or ila do s po r ci na se s vi ra is e , a s eg ui r, i ni be m a D N A p ol im er as e vi ra l. O c id of ov ir é f os fo ri la do p or e nz im as c el ul ar es , p or ém i ni be , a s eg ui r, a D N A p ol im er as e do C M V A ci cl ov ir V al ac ic lo vi r H er pe sv ír us s im pl es ( H SV ) V ír us v ar ic el a- zo st er ( V Z V ) In su fi ci ên ci a re na l (a dm in is tr aç ão in tr av en os a) , pú rp ur a tr om bo ci to pê ni ca tr om bó ti ca e m p ac ie nt es im un oc om pr om et id os , al te ra çõ es e nc ef al op át ic as , sí nd ro m e he m ol ít ic o- ur êm ic a D is tú rb io g as tr in te st in al , ag ita çã o, t on tu ra H ip er se ns ib ili da de a o ac ic lo vi r ou a o va la ci cl ov ir O v al ac ic lo vi r é um p ró -f ár m ac o do a ci cl ov ir , co m m el ho r bi od is po ni bi lid ad e or al F an ci cl ov ir P en ci cl ov ir H SV V Z V E ri te m a m ul ti fo rm e D is tú rb io g as tr in te st in al , ce fa lé ia H ip er se ns ib ili da de a o fa nc ic lo vi r ou a o pe nc ic lo vi r O f an ci cl ov ir é u m p ró -f ár m ac o di ac et il 6- de so xi a ná lo go d o pe nc ic lo vi r, a fo rm a at iv a do f ár m ac o G an ci cl ov ir V al ga nc ic lo vi r C ito m eg al ov ír us ( C M V ) N eu tr op en ia , tr om bo ci to pe ni a, a ne m ia , fe br e, f le bi te N eu tr op en ia g ra ve T ro m bo ci to pe ni a gr av e O v al ga nc ic lo vi r é um p ró -f ár m ac o do g an ci cl ov ir , co m m el ho r bi od is po ni bi lid ad e or al C id of ov ir R et in ite p or C M V N ef ro to xi ci da de , ne ut ro pe ni a, a ci do se m et ab ól ic a, d im in ui çã o da pr es sã o in tr a- oc ul ar D is tú rb io g as tr in te st in al , ce fa lé ia , ex an te m a In su fi ci ên ci a re na l A ge nt es n ef ro tó xi co s co nc om ita nt es In je çã o in tr a- oc ul ar d ir et a D ev e se r co -a dm in is tr ad o co m p ro be ne ci d M ei a- vi da l on ga , ex ig in do a pe na s um a do se s em an al m en te Farmacologia das Infecções Virais | 629 V id ar ab in a Id ox ur id in a T ri fl ur id in a C er at ite p or H SV R ar am en te v id ar ab in a pa ra i nf ec çã o gr av e po r H SV o u V Z V Ir ri ta çã o oc ul ar , la cr im ej am en to , in to le râ nc ia à lu z H ip er se ns ib ili da de àv id ar ab in a, i do xu ri di na ou t ri fl ur id in a O s pr im ei ro s fá rm ac os a nt i- H SV , po is a pr es en ta m m ai or to xi ci da de e m c om pa ra çã o co m o ut ro s ag en te s A t ri fl ur id in a é ut ili za da e m p re pa ra çã o of tá lm ic a AN ÁL O G O S N U CL EO SÍ D IO S E N U CL EO TÍ D IO S AN TI -H IV E A N TI -H BV M ec an is m o — O s an ál og os n uc le os íd io s an ti- H IV s ão f os fo ri la do s po r ci na se s ce lu la re s e, a s eg ui r, i ni be m a t ra ns cr ip ta se r ev er sa v ir al . O s an ál og os n uc le os íd io s an ti- H B V t am bé m s ão f os fo ri la do s po r en zi m as ce lu la re s, p or ém i ni be m , a s eg ui r, a H B V p ol im er as e Z id ov ud in a (A Z T ) E st av ud in a (d 4T ) Z al ci ta bi na ( dd C ) L am iv ud in a (3 T C ) E nt ri ci ta bi na ( F T C ) D id an os in a (d dI ) A ba ca vi r H IV V ír us d a he pa tit e B ( H B V ) (l am iv ud in a) N eu tr op en ia , an em ia , pa nc re at it e, a ci do se lá ti ca , he pa to m eg al ia c om es te at os e, n eu ri te ó pt ic a, ne ur op at ia p er if ér ic a, hi pe rs en si bi li da de f at al (a ba ca vi r) H ip er se ns ib ili da de à z id ov ud in a, es ta vu di na , za lc ita bi na , la m iv ud in a, en tr ic ita bi na , di da no si na o u ab ac av ir A m ai or p ar te d a to xi ci da de d ev e- se à i ni bi çã o da D N A po lim er as e m ito co nd ri al p el as f or m as t ri fo sf at o do s fá rm ac os A l am iv ud in a é a m en os t óx ic a, p os si ve lm en te d ev id o à es tr ut ur a de L -e st er eo is ôm er o A e nt ri ci ta bi na é a dm in is tr ad a um a ve z ao d ia Te no fo vi r A de fo vi r E nt ec av ir H IV ( te no fo vi r) H B V ( ad ef ov ir , en te ca vi r) A ci do se l át ic a, he pa to to xi ci da de (t en of ov ir ), t ox ic id ad e re na l (a de fo vi r) H ip er se ns ib ili da de a o te no fo vi r, ad ef ov ir o u en te ca vi r A d os e de e nt ec av ir d ev e se r aj us ta da p ar a pa ci en te s co m in su fi ci ên ci a re na l m od er ad a IN IB ID O RE S N ÃO –N U CL EO SÍ D IO S DA D N A PO LI M ER AS E M ec an is m o — I ni be m d ir et am en te a D N A p ol im er as e vi ra l ao i m ita r o pr od ut o de p ir of os fa to d a re aç ão d a D N A p ol im er as e F os ca rn et H SV C M V C om pr om et im en to r en al , de se qu il íb ri o el et ro lí ti co , co nv ul sõ es A ne m ia , fe br e, d is tú rb io ga st ri nt es tin al A dm in is tr aç ão c on co m ita nt e de t ri óx id o de ar sê ni o, b ep ri di l, le vo m et ad il, m es or id az in a, pi m oz in a, p ro bu co l, tio ri da zi na , zi pr as id on a, p en ta m id in a in tr av en os a O c om pr om et im en to r en al c on st itu i a pr in ci pa l to xi ci da de q ue lim ita a d os e ad m in is tr ad a IN IB ID O RE S N ÃO -N U CL EO SÍ D IO S DA T RA N SC RI PT AS E RE VE RS A (I N N TR ) M ec an is m o — L ig am -s e pr óx im o ao s íti o ca ta lít ic o da t ra ns cr ip ta se r ev er sa e , p or ta nt o, i ni be m a a çã o da e nz im a de u ni r os d es ox ir ri bo nu cl eo sí di os c om a f ita i ni ci ad or a- m od el o E fa vi re nz N ev ir ap in a D el av ir di na H IV E xa nt em a, e fe ito s ps iq ui át ri co s (d ep re ss ão , id ea çã o su ic id a) , to nt ur a, in sô ni a A a dm in is tr aç ão c on co m ita nt e de f ár m ac os m et ab ol iz ad os p el a 3A 4 do c ito cr om o P4 50 es tá c on tr a- in di ca da p ar a to do s os I N N T R — é p re ci so v er if ic ar o m et ab ol is m o do s m ed ic am en to s ad m in is tr ad os co nc om ita nt em en te a nt es d e pr es cr ev er IN N T R V er if ic a- se o r áp id o de se nv ol vi m en to d e re si st ên ci a, e xi gi nd o o us o de ss es f ár m ac os e m a ss oc ia çã o co m o ut ro s ag en te s an ti- H IV IN IB ID O RE S DA M AT U RA ÇÃ O V IR AL M ec an is m o — I ni be m a p ro te as e do H IV n ec es sá ri a pa ra a m at ur aç ão v ir al ; os v ír io ns d o H IV s of re m r ep lic aç ão e b ro ta m en to a p ar tir d a cé lu la , p or ém e ss as p ar tíc ul as n ão s ão i nf ec ci os as Sa qu in av ir R it on av ir A m pr en av ir In di na vi r N el fi na vi r L op in av ir A ta za na vi r T ip ra na vi r D ar un av ir H IV D is lip id em ia ( ↑ co le st er ol , ↑ tr ig lic er íd io s) , lip od is tr of ia , hi pe rg lic em ia C om pr om et im en to h ep át ic o gr av e A dm in is tr aç ão c on co m ita nt e de s ub st ra to s da 3 A 4do c ito cr om o P4 50 c om b ai xo s ín di ce s te ra pê ut ic os , in cl ui nd o de ri va do s do es po rã o do c en te io , pi m oz id a, m id az ol am , tr ia zo la m O l op in av ir é a dm in is tr ad o em a ss oc ia çã o co m o r ito na vi r; o ri to na vi r in ib e a 3A 4 do c ito cr om o P4 50 , au m en ta nd o, a ss im , os n ív ei s pl as m át ic os d e lo pi na vi r M ui to s in ib id or es d a pr ot ea se s ão i nd ut or es e /o u in ib id or es d as en zi m as P 45 0, p ar tic ul ar m en te a 3 A 4 do c ito cr om o P4 50 , co m nu m er os as i nt er aç õe s m ed ic am en to sa s fa rm ac oc in ét ic as (C on ti nu a) 630 | Capítulo Trinta e Seis Re su m o Fa rm ac ol óg ic o Ca pí tu lo 3 6 Fa rm ac ol og ia d as I nf ec çõ es V ira is ( Co nt in ua çã o) Fá rm ac o Ap lic aç õe s Cl ín ic as Ef ei to s Ad ve rs os G ra ve s e Co m un s Co nt ra -I nd ic aç õe s Co ns id er aç õe s Te ra pê ut ic as IN IB ID O RE S DA L IB ER AÇ ÃO V IR AL M ec an is m o — I ni be m a n eu ra m in id as e do v ír us d a in fl ue nz a, f az en do c om q ue o s ví ri on s re cé m -s in te tiz ad os p er m an eç am f ix ad os à c él ul a ho sp ed ei ra Z an am iv ir O se lt am iv ir In fl ue nz a A e B B ro nc oe sp as m o, d ep re ss ão re sp ir at ór ia D is tú rb io g as tr in te st in al , ce fa lé ia , si nt om as n as ai s H ip er se ns ib ili da de a o za na m iv ir o u os el ta m iv ir In ib em t an to a i nf lu en za A q ua nt o a in fl ue nz a B O z an am iv ir é a dm in is tr ad o po r in al ad or O o se lta m iv ir f oi a pr ov ad o pa ra p ro fi la xi a e tr at am en to ; o za na m iv ir s ó es tá i nd ic ad o pa ra t ra ta m en to AG EN TE S AN TI VI RA IS C O M M EC AN IS M O S D E AÇ ÃO D ES CO N H EC ID O S M ec an is m o — V er f ár m ac o es pe cí fi co F om iv ir se no R et in ite p or C M V ( se gu nd a lin ha ) D is tú rb io s in fl am at ór io s do ol ho , el ev aç ão t ra ns itó ri a da pr es sã o in tr a- oc ul ar Te ra pi a co m c id of ov ir I V o u in tr av ítr ea de nt ro d e 2- 4 se m an as d ev id o ao r is co d e in fl am aç ão o cu la r ex ag er ad a O f om iv ir se no f oi p la ne ja do c om o nu cl eo tíd io a nt i- se nt id o, po ré m o s eu v er da de ir o m ec an is m o de a çã o pe rm an ec e in ce rt o A dm in is tr aç ão i nt ra ví tr ea R ib av ir in a V ír us s in ci ci al r es pi ra tó ri o (R SV ) V ír us d a he pa tit e C ( em a ss oc ia çã o co m i nt er fe ro na s) B ra di ar ri tm ia , hi po te ns ão , pa nc re at it e, a ne m ia he m ol ít ic a, p úr pu ra tr om bo ci to pê ni ca tr om bó ti ca , he pa to to xi ci da de , in fe cç ão ba ct er ia na , su ic íd io E xa nt em a, d is tú rb io ga st ri nt es tin al , ce fa lé ia , co nj un tiv ite , fa di ga G ra vi de z ou m ul he re s co m p ot en ci al d e en gr av id ar ( in al aç ão ) D ep ur aç ão d a cr ea tin in a in fe ri or à 5 0 m L / m in ( or al ) C ar di op at ia s ig ni fi ca tiv a (o ra l) H em og lo bi no pa tia s (o ra l) H ep at ite a ut o- im un e (o ra l, em a ss oc ia çã o co m p eg in te rf er on a al fa -2 a) D es co m pe ns aç ão h ep át ic a gr av e A r ib av ir in a po de i ni bi r a m on of os fa to d e in os in a de si dr og en as e, r es ul ta nd o em n ív ei s ce lu la re s m ai s ba ix os d e G T P; a r ib av ir in a ta m bé m p od e in ib ir R N A p ol im er as es v ir ai s ou t or na r as p ol im er as es m ai s su je ita s a er ro s A dm in is tr aç ão n a fo rm a de a er os so l pa ra t ra ta m en to d a in fe cç ão p or R SV AG EN TE S AN TI VI RA IS Q U E M O D U LA M O S IS TE M A IM U N E M ec an is m o — A s in te rf er on as a tiv am c as ca ta s de s in al iz aç ão q ue l ev am à p ro du çã o de p ro te ín as a nt iv ir ai s, i nc lu in do a p ro te in oc in as e R , q ue i m pe de o m ec an is m o de t ra du çã o do h os pe de ir o na s cé lu la s in fe ct ad as p or ví ru s. O i m iq ui m od e in te ra ge c om r ec ep to re s se m el ha nt es a T ol l pa ra r ef or ça r a im un id ad e in at a, i nc lu in do a s ec re çã o de i nt er fe ro na s In te rf er on a- � H C V H B V Sa rc om a de K ap os i L eu ce m ia m ie ló id e cr ôn ic a L eu ce m ia d e cé lu la s pi lo sa s M el an om a m al ig no C ar ci no m a de c él ul as r en ai s H em or ra gi a gá st ri ca , an em ia a pl ás ic a, ne ut ro pe ni a, tr om bo ci to pe ni a, a um en to da s en zi m as h ep át ic as , do ença s au to -i m un es , tr an st or no p si có ti co D ep re ss ão , al te ra çã o do es ta do m en ta l, si nt om as se m el ha nt es à g ri pe H ip er se ns ib ili da de à i nt er fe ro na -� M od if ic ad a co m p ol ie til en og lic ol p ar a m el ho ra r o pe rf il fa rm ac oc in ét ic o In te rf er on a- � E sc le ro se m úl tip la Ig ua is a os d a in te rf er on a- � H ip er se ns ib ili da de à i nt er fe ro na -� o u pr od ut os d e al bu m in a hu m an a Im iq ui m od e Pa pi lo m av ír us h um an o (H PV ) C ar ci no m a de c él ul as b as ai s C er at os e ac tín ic a Ir ri ta çã o da p el e, i nc lu in do er ite m a, e ro sã o su pe rf ic ia l e fo rm aç ão d e cr os ta s e se ns aç ão d e qu ei m aç ão H ip er se ns ib ili da de a o im iq ui m od e L av ar a s m ão s an te s e de po is d a ap lic aç ão