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EEnvenenamento nvenenamento por por Fármacos e Fármacos e Toxinas AmbientaisToxinas Ambientais VIIIVIII INTRODUÇÃO A toxicologia é o estudo dos efeitos deletérios das substâncias físicas, químicas ou biológicas. O estudo sistemático da toxico- logia antecede o da farmacologia, e a descoberta da maioria dos agentes farmacologicamente ativos antes do século 20 teve como base o estudo dessas substâncias como venenos. Hoje em dia, a toxicologia também inclui muitos elementos de saúde pública, como segurança ocupacional e toxicologia ambiental, que procuram limitar as exposições ambientais a níveis aceitáveis; a toxicologia analítica, isto é, a avaliação quantitativa ou qualita- tiva da presença de substâncias tóxicas; e a toxicologia forense, isto é, o uso da toxicologia para fins legais. Este capítulo descreve os efeitos agudos e crônicos de toxi- nas xenobióticas importantes, isto é, de agentes que não são tomados pelos seus efeitos benéficos. Como o organismo huma- no não diferencia um xenobiótico tomado para fins terapêuticos de um “veneno”, a distinção entre fármaco e toxina é um tanto artificial. Por conseguinte, os princípios de farmacologia dis- cutidos anteriormente neste texto também são pertinentes ao estudo da toxicologia, razão pela qual não são repetidos neste capítulo. O presente capítulo discute o tratamento de algumas substâncias terapêuticas comumente tomadas em overdose, embora os mecanismos de toxicidade desses agentes possam ser discutidos em outros capítulos. nn Caso A família W está com problemas financeiros. Os tempos estão difíceis, e há poucas oportunidades na indústria do metal laminado. Depois de alguns meses de tentativa de equilibrar o orçamento da casa, o Sr. W decide não pagar a conta de luz. Pede empres- tado um gerador de propano de um amigo que trabalha com ar- condicionado. O Sr. e a Sra. W e seu filho adolescente montam o gerador na garagem ligada à casa, de modo que ninguém possa perceber que estão utilizando essa fonte de eletricidade. Naquela noite, reúnem-se na sala de estar para assistir televisão. Na manhã seguinte, um vizinho bate à porta, porém ninguém atende. Olha pela janela da sala de estar e, horrorizado, vê três pessoas estendidas sem movimento no sofá. Chama a polícia, que arromba a porta e confirma que toda a família morreu, incluindo os dois cães e um gato. QUESTÕES n 1. Qual ou quais toxinas podem ter causado a morte de toda a família e de seus animais? Envenenamento por Fármacos e Toxinas Ambientais 51 Sarah R. Armstrong, Joshua M. Galanter, Laura C. Green e Armen H. Tashjian, Jr. Introdução Caso Toxicidade Aguda dos Xenobióticos Monóxido de Carbono Ácidos e Bases Misturas Tóxicas Pesticidas Contaminantes Alimentares Plantas e Fungos Tóxicos Toxicidade Crônica dos Xenobióticos Tabaco Etanol Chumbo Cádmio Poeiras Tratamento das Exposições Agudas Princípios de Tratamento do Paciente Agudamente Envenenado Tratamentos Baseados na Toxicocinética Prevenção da Absorção Inibição da Toxificação Aumento do Metabolismo (Destoxificação) Aumento da Eliminação Inativação dos Venenos Agentes Quelantes de Metais Pesados Antivenenos e Ligação a Anticorpos Tratamento Farmacológico Antagonismo Farmacológico Intensificação Farmacológica da Função Fisiológica Restauração do Sítio Ativo Vias Metabólicas Alternativas Conclusão e Perspectivas Futuras Leituras Sugeridas 832 | Capítulo Cinqüenta e Um n 2. Por que os membros da família não foram alarmados por qualquer sintoma da(s) toxina(s)? n 3. Quais exames laboratoriais de rotina poderiam confirmar a provável causa da morte? n 4. Qual pode ter sido a fonte da(s) toxina(s)? TOXICIDADE AGUDA DOS XENOBIÓTICOS Numerosas substâncias podem causar doença aguda e grave, incluindo morte. Esta seção descreve algumas das causas não- farmacêuticas mais freqüentes de envenenamento agudo e seus mecanismos tóxicos. MONÓXIDO DE CARBONO A combustão (queima) de qualquer material orgânico produz o gás monóxido de carbono (CO) e outros produtos de com- bustão incompleta. Os equipamentos de combustão que ope- ram inapropriadamente, como sistemas de aquecimento no lar, podem liberar concentrações significativas de CO, e até mesmo os equipamentos que operam corretamente, se tiverem uma ventilação inadequada, podem permitir o acúmulo de CO para níveis tóxicos e até mesmo letais. Pessoas também já foram envenenadas por CO presente na exaustão de barcos a motores, minas, empilhadeiras que queimam gás liquefeito de petróleo (GLP) ou propano e equipamentos de recapeamento de gelo, automóveis, construções e muitas outras fontes. Muitos casos fatais devido a incêndio são provocados principalmente pela inalação de CO. Além disso, o cloreto de metileno, uma subs- tância química encontrada em aparelhos que pintam listras, é metabolizado a CO após inalação. Como o CO é um gás incolor e inodoro, e seus efeitos agudos são inespecíficos, muitas juris- dições exigem detectores de CO e alarmes nas residências. O CO provoca hipóxia tecidual, visto que ele se liga mais fortemente (mais de 200 vezes) ao ferro hêmico da hemoglobi- na do que o O2, reduzindo, assim, o transporte de oxigênio no sangue (Fig. 51.1). Além disso, a carboxiemoglobina (COHb) desloca a curva de dissociação da oxiemoglobina (OHb) para a esquerda, impedindo a dissociação do O2. O CO liga-se tam- bém aos citocromos e à mioglobina no músculo cardíaco e no músculo esquelético; esse CO ligado pode atuar como reserva- tório interno de CO à medida que as concentrações de COHb diminuem no sangue. O grau com que a ligação à hemoglobina versus citocromos é responsável pela toxicidade não está bem estabelecido. Como os sintomas iniciais do envenenamento pelo CO são inespecíficos, incluindo cefaléia, tontura, náusea e dispnéia, tanto o estabelecimento do diagnóstico acurado quanto a remo- ção da exposição podem ser tardios. Entretanto, a determinação da COHb é direta, e concentrações acima de cerca de 2% em não-fumantes ou acima de 5 a 10% em fumantes indicam uma exposição incomum. (Observe que a pO2 provavelmente está normal no paciente com envenenamento pelo CO.) Os sinais e sintomas de envenenamento agudo acompanham bem as con- centrações de COHb, com cefaléia intensa, vômitos e distúr- bios visuais na presença de 30 a 40% de COHb e colapso e convulsões com 50 a 60% de COHb. A morte tende a ocorrer com 70% ou mais de COHb, sendo possível na presença de concentrações mais baixas. Os sobreviventes do envenenamen- to pelo CO com hipóxia cerebral grave correm risco de lesão cerebral permanente. Como a concentração de COHb depende do nível de CO atmosférico, do nível de atividade, da duração da exposição e de outros fatores, não existe nenhum limiar definido de toxicidade. Entretanto, os atuais alarmes para CO de uso doméstico devem ser deflagrados na presença de con- centrações de 70 ppm ou mais, dependendo do tempo durante o qual essa concentração esteve presente. A meia-vida da COHb é de cerca de 5 horas no ar atmosfé- rico, mas diminui para cerca de 90 minutos em um ambiente de 100% de O2 em pressão normal. A terapia com oxigênio hiperbárico (3 atmosferas, 100% de O2) pode reduzir a meia- vida para cerca de 20 minutos. No caso apresentado na introdução, o monóxido de carbono produzido pelo gerador de propano portátil foi a toxina que levou a família W à morte. A colocação do gerador na garagem resultou na circulação de monóxido de carbono por toda a casa, N N N N Fe2+ O O N N N N Fe2+ C O A Oxiemoglobina Carboxiemoglobina B Pressão parcial de oxigênio (torr) 50% de carboxiemoglobinaHemoglobina normal Sa tu ra çã o de o xig ên io d a he m og lo bi na (% ) 0 0 20 40 60 80 100 120 25 50 75 100 Liberação diminuída de O2 Liberação normal de O2 Fig. 51.1 Mecanismo do envenenamento por monóxido de carbono. A. O sítio de ligação do oxigênio da hemoglobina é um heme ferroso que pode ligar-se reversivelmente ao oxigênio. O monóxido de carbono impede a ligação do oxigênio através da formação de uma ligação com o heme ferroso significativamente mais forte que a ligação heme-oxigênio (linha mais curta). B. O monóxido de carbono interfere acentuadamente no transporte de oxigênio não apenas pela sua capacidade de impedir a ligação do oxigênio, mas também pelo fato de aumentar a afinidade do heme pelo oxigênio. Em condições normais (linha azul), a saturação da hemoglobina com oxigênio atinge 85% nos alvéolos (onde a pressão parcial de oxigênio é de aproximadamente 90 torr). Nas pressões parciais teciduais (40 torr), a saturação da hemoglobina normal com O2 é de 60%. Por conseguinte, em condições normais, 25% dos sítios da hemoglobina liberam o seu oxigênio aos tecidos. Quando 50% dos sítios de ligação do oxigênio estão ocupados por monóxido de carbono (linha preta), a saturação de oxigênio da hemoglobina pode não ultrapassar 50% em uma pressão parcial de 90 torr. Nas pressões parciais teciduais (40 torr), a saturação de oxigênio da hemoglobina ainda é superior a 35%, indicando que menos de 15% dos sítios do heme liberaram o seu oxigênio aos tecidos. Envenenamento por Fármacos e Toxinas Ambientais | 833 em lugar de haver exaustão para o ambiente externo. A família W não reagiu à presença de monóxido de carbono devido à sua falta de odor, e esta foi a razão pela qual a família mor- reu enquanto estava assistindo televisão, sem qualquer alarme aparente. Se tivessem um detector de monóxido de carbono na casa, suas mortes poderiam ter sido evitadas. ÁCIDOS E BASES Os ácidos fortes, os álcalis (agentes cáusticos), os oxidantes e os agentes redutores danificam os tecidos, devido à sua capa- cidade de alterar a estrutura das proteínas, dos lipídios, dos carboidratos e dos ácidos nucléicos tão acentuadamente a ponto de ocorrer perda da integridade celular. Essas substâncias, como o hidróxido de potássio em materiais de limpeza de esgoto e o ácido sulfúrico em baterias de carro, produzem queimadu- ras químicas através da hidrólise, oxidação ou redução das macromoléculas biológicas ou desnaturação das proteínas. Os detergentes em altas concentrações também podem causar lesão tecidual inespecífica ao produzir ruptura e dissolução das membranas plasmáticas das células. Embora alguns desses agentes possam ser seletivos para determinadas macromoléculas, os agentes que provocam lesão direta dos tecidos tendem a ser relativamente inespecíficos. Por conseguinte, os sistemas mais comumente acometidos são aqueles mais expostos ao ambiente. A pele e os olhos são fre- qüentemente acometidos por salpicos ou líquidos derramados. O sistema respiratório é acometido quando são inalados gases ou vapores tóxicos, enquanto o sistema digestivo é afetado por ingestão acidental ou deliberada. Muitos agentes podem causar lesão dos tecidos profundos após romper a barreira formada pela pele. Outros agentes são capazes de atravessar a pele, causando relativamente pou- ca lesão local, porém destruindo os tecidos mais profundos, como os músculos ou o osso. Por exemplo, o ácido fluorí- drico (HF; encontrado em produtos de limpeza de argamassa, entre outros produtos) provoca queimaduras mais leves da pele do que uma quantidade equivalente de ácido clorídri- co (HCl). Entretanto, quando o HF alcança os tecidos mais profundos, ele destrói a matriz calcificada do osso. Além dos efeitos diretos do ácido, a liberação do cálcio armazenado no osso pode causar arritmias cardíacas potencialmente fatais. Por essa razão, o HF pode ser mais perigoso do que uma quantidade equivalente de HCl. Três características determinam a extensão da lesão teci- dual: a identidade do composto, sua concentração/potência e sua capacidade de tamponamento ou capacidade de resistir a mudanças no pH ou no potencial redox. Conforme assinalado anteriormente, o HF é mais lesivo do que uma quantidade equi- valente de HCl. Em geral, um ácido ou uma base mais fortes (medidos pelo pH) ou um oxidante ou redutor (medidos pelo potencial redox) irão provocar mais lesão do que um composto equivalente em pH ou potencial redox mais fisiológico. Uma solução de hidróxido de sódio 10-2 M em água apresenta um pH de 12, porém possui baixa capacidade de provocar lesão tecidual, visto que tem uma pequena capacidade de tampo- namento e é rapidamente neutralizada pelo tecido corporal. Em contrapartida, uma solução tamponada de pH 12, como aquela encontrada no concreto úmido pronto para uso [feito com Ca(OH)2], pode causar queimaduras alcalinas mais graves, visto que os tecidos são incapazes de neutralizar rapidamente o pH extremo do material. MISTURAS TÓXICAS O envenenamento por alguns materiais é incomum, visto que o “mecanismo” importante ocorre antes da exposição. Por exemplo, podem surgir sintomas agudos das vias respiratórias superiores e inferiores após a inalação de vapores quando se mistura alvejante doméstico (hipoclorito de sódio aquoso), seja intencionalmente ou não, com amônia aquosa ou com ácidos, como os produtos de limpeza para assoalho ou cerâmica à base de ácido fosfórico. Em ambos os casos, os materiais rea- gem para formar uma variedade de produtos tóxicos, como monocloramina e dicloramina, gás amônia, gás cloro, ácido clorídrico e ácido hidrocloroso. A exposição grave pode causar edema e lesão pulmonares. Observe que os produtos de limpeza re levantes nem sempre têm em seus rótulos as advertências apropriadas contra essas misturas. PESTICIDAS Os pesticidas incluem os inseticidas, os herbicidas, os raticidas e outros compostos destinados a matar organismos indesejáveis no ambiente. Pela sua própria natureza, os pesticidas — dos quais existem centenas (tanto naturais quanto sintéticos) — são biologicamente ativos; entretanto, o grau de sua especificida- de para os organismos-alvo varia, e, em conseqüência, muitos desses compostos provocam efeitos tóxicos nos seres huma- nos. Além disso, os pesticidas comerciais tipicamente contêm ingredientes “inativos” (inativos em relação à atividade deseja- da), que podem contribuir para a toxicidade humana, e alguns contêm substâncias sinérgicas para aumentar a letalidade do ingrediente ativo para o alvo. Alguns dos envenenamentos agu- dos mais comuns incluem os inseticidas organofosforados e piretróides e os raticidas. Os inseticidas organofosforados, que derivam do ácido fosfórico e tiofosfórico, incluem o paration, o malation, o diazinon, o fention, o clorpirifós e muitas outras substâncias químicas. Esses compostos amplamente utilizados são inibido- res da acetilcolinesterase (AChE), devido à sua capacidade de fosforilar a AChE em seu sítio ativo esterásico (Fig. 51.2). A inibição da AChE e o conseqüente acúmulo de acetilcolina nas junções colinérgicas do tecido nervoso e órgãos efetores pro- duzem efeitos agudos muscarínicos, nicotínicos e sobre o sis- tema nervoso central (SNC), como broncoconstrição, aumento das secreções brônquicas, salivação, lacrimejamento, sudorese, náuseas, diarréia e miose (sinais muscarínicos), bem como con- trações involuntárias, fasciculações, fraqueza muscular, cianose e elevação da pressão arterial (sinais nicotínicos). Os efeitos sobre o SNC podem incluir ansiedade, inquietude, confusão e cefaléia. Os sintomas aparecem habitualmente dentro de alguns minutos ou horas após a exposição e regridem em poucos dias nos casos de envenenamento não letal. Podem ocorrer exposições tóxicas por inalação, ingestão ou contato dérmico, dependendo da formulação do produto e do modo de seu uso ou uso incorreto. Em certas ocasiões, ocor- reram exposições secundárias tóxicas em pessoas que tiveram contato íntimo com a vítima de exposição direta; por exemplo, os que atendem na emergência e a equipe de emergência já sofreram os efeitos tóxicos dos organofosforados após entrar em contato — ou simplesmente ter estado próximo — com roupa, pele, secreções ou conteúdo gástrico contaminados. Como os inseticidas organofosforados comuns são metaboliza- dos e excretados de modo relativamente rápido, as toxinas não se acumulam no organismo. Entretanto, o efeito tóxico pode aumen- tar após exposições repetidas, visto que a recuperação da ativida- 834 | Capítulo Cinqüenta e Um O P R3R1 R2 O ON H R1 R2 O P ON CN O P O F O P O F S P OO O NO2 O P OR2R1 X H N O O HO H N O O O P R1O OH H N O O O P R1O OR2 N+ N OH O P OR2R1 OH N+ N O P O OR2R1 O P SO N S P SO O O O O O A B C D 1 4 2 3 Sarin Tabun Soman VX Paration Malation Organofosforado Carbamato Sítio ativo da acetilcolinesterase (serina) Acetilcolinesterase ligada ao organofosforado Após envelhecimento Organofosforado HOR2 Pralidoxima Pralidoxima ligada ao organofosforado Fig. 51.2 Estruturas e mecanismos dos inibidores da acetilcolinesterase. A. Estruturas dos inibidores da acetilcolinesterase típicos, com organofosforado à esquerda e um carbamato à direita. B. Estruturas dos principais gases de nervos – sarin, tabun, soman e VX, que são potentes inibidores da acetilcolinesterase humana. C. Estruturas dos inseticidas organofosforados paration e malation. As ligações tiofosfato entre o enxofre e o fósforo são oxidadas mais eficientemente pelas oxigenases dos artrópodes do que pelas oxigenases dos mamíferos, de modo que os compostos são menos tóxicos aos seres humanos do que os gases de nervos estruturalmente relacionados. D. Os organofosforados atacam o sítio ativo serina na acetilcolinesterase, formando uma espécie fósforo-oxigênio estável (1). A pralidoxima remove o organofosforado da serina, restaurando a acetilcolinesterase ativa (2). A pralidoxima ligada ao organofosforado é instável e regenera espontaneamente pralidoxima (3). A acetilcolinesterase ligada a organofosforados pode perder um grupo alcoxi, em um processo denominado envelhecimento. O produto final do envelhecimento é mais estável e não pode ser destoxificado pela pralidoxima. de da colinesterase, seja por dissociação da AChE fosforilada ou pela síntese original da enzima, é lenta na ausência de tratamento. Como os inseticidas organofosforados são preferencialmente toxi- ficados por colinesterases dos artrópodes e/ou preferencialmente destoxificados por carboxiesterases dos mamíferos, esses com- postos são mais tóxicos para os artrópodes do que para o homem, fornecendo um exemplo de toxicidade seletiva—embora também exista toxicidade para os seres humanos. Os inseticidas piretróides, como a permetrina, a deltame- trina, a cipermetrina e a ciflutrina, são substâncias químicas semi-sintéticas cuja estrutura está relacionada com as piretrinas de ocorrência natural encontradas nas flores do crisântemo. Os piretróides (e as piretrinas) possuem afinidade muito alta pelos canais de sódio da membrana plasmática, e, embora não alterem a atividade das correntes de sódio por despolarização da mem- brana, eles retardam significativamente o término do potencial Envenenamento por Fármacos e Toxinas Ambientais | 835 de ação. Os piretróides são pesticidas comuns em agricultura e também são encontrados em alguns produtos domésticos, incluindo xampus pediculicidas. Foram definidas duas classes de piretróides com base na sua atividade determinada, em grande parte, em experimentos laboratoriais. Os piretróides do tipo I não contêm grupo ciano, produzem correntes caudais de sódio de duração mais curta e descargas repetitivas e causam uma síndrome de tremores (T) em mamíferos, que pode incluir tremor fino, aumento de resposta aos estímulos e hipertermia. Os piretróides do tipo II geralmente contêm um grupo ciano, produzem uma corren- te caudal de sódio de duração mais longa e despolarização e bloqueio nervosos dependentes do estímulo e causam uma sín- drome de coreoatetose com salivação (CS), que pode consis- tir em contorções sinuosas (coreoatetose) e salivação, tremor grosseiro, convulsões clônicas e hipotermia. Alguns piretrói- des provocam síndromes intermediárias. Como nos animais de laboratório, os sinais T e CS também são observados em pessoas que sofrem grandes exposições agudas aos piretróides, como as que podem ocorrer durante o uso desses inseticidas na agricultura. Os piretróides são freqüentemente formulados com uma substância sinérgica, como o piperonil butóxido, que ini- be as enzimas do citocromo P450 (e, portanto, o metabolismo) dos insetos e que aumenta a toxicidade dos piretróides. A toxicidade dos piretróides é relativamente baixa nos seres humanos, entretanto, um pequeno número de relatos de casos de morte em indivíduos asmáticos expostos a xampus para cães contendo piretróides sugere o potencial de exacerbação da asma. A exposição ocupacional aos piretróides envolve freqüentemente tanto a inalação quanto a exposição dérmica, visto que os inse- ticidas são tipicamente pulverizados, e os trabalhadores podem ser expostos a essa nuvem. A absorção é rápida através dos pul- mões, porém muito lenta através da pele. Os sintomas comuns consistem em parestesias (mais freqüentemente na pele do rosto), tontura, cefaléia, visão turva, irritação nasal e laríngea e dispnéia. Não se sabe ao certo até que ponto outras substâncias químicas presentes na formulação dos inseticidas, como hidrocarbonetos do petróleo, contribuem para esses sintomas. CONTAMINANTES ALIMENTARES Estima-se que um em quatro norte-americanos padece de doença transmitida por alimentos significativa a cada ano. Os mecanismos de intoxicação alimentar envolvem infecção, que tipicamente se manifesta dentro de um a vários dias após a exposição, ou intoxicação por uma toxina pré-formada de micróbios ou algas, com sintomas que surgem dentro de poucas horas após a exposição. As intoxicações alimentares infecciosas são tipicamente causadas por espécies de Salmonella, Listeria, Cryptosporidium ou Campylobacter. As toxinas menos comuns, porém muito virulentas, incluem as da Escherichia coli entero- patogênica, que algumas vezes pode causar colite hemorrágica fatal e síndrome hemolítico-urêmica (SHU), provavelmente através da captação de proteínas bacterianas patológicas pelas células do hospedeiro. A intoxicação alimentar é freqüentemente causada por toxi- nas elaboradas pelo Staphylococcus aureus ou pelo Bacillus cereus ou por toxinas de algas marinhas ingeridas em frutos do mar. O S. aureus produz uma variedade de toxinas; as entero- toxinas estafilocócicas (ES) causam vômitos através da estimu- lação de receptores nas vísceras abdominais. O processamento inadequado dos alimentos após cozimento, seguido de refri- geração insuficiente, contamina alimentos ricos em proteínas, como carnes, frios e ovos e laticínios. O B. cereus é um contaminante comum do arroz cozi- do. Produz diversas toxinas, que causam vômitos e diarréia. Deve-se considerar particularmente a produção de cerulida, um pequeno peptídio cíclico que estimula os receptores 5-HT3 intestinais, resultando em vômitos. O peptídio é termoestável a 126oC durante até 90 minutos, de modo que o reaquecimento de arroz cozido contaminado tipicamente não irá impedir a intoxicação. As toxinas de algas são, em sua maioria, neurotóxicas e termoestáveis, de modo que, neste caso também, o cozimento não modifica as toxinas, que permanecem intactas. As toxinas de algas, como as saxitoxinas, formam um grupo de apro- ximadamente 20 guanidinas heterocíclicas que se ligam com alta afinidade ao canal de sódio dependente de voltagem, ini- bindo, assim, a atividade neuronal e causando formigamento e dormência, perda do controle motor, sonolência, incoerência e, em doses suficientes (acima de cerca de 1 mg), paralisia respiratória. Muitas doenças transmitidas por alimentos parecem ser cau- sadas por patógenos que ainda não foram caracterizados. (Esti- ma-se que mais de 90% das espécies de micróbios existentes na terra ainda não foram isolados nem identificados.) Além disso, novos patógenos podem surgir devido a mudanças na ecologia ou nas tecnologias, ou podem aparecer através da transferência de fatores de virulência móveis, como os bacteriófagos. PLANTAS E FUNGOS TÓXICOS A ingestão de vegetais não alimentares por engano, como cogu- melos venenosos coletados por micologistas amadores, ou de outras plantas venenosas também pode causar doença aguda. Por exemplo, o cogumelo “chapéu-da-morte” altamente tóxico, Amanita phalloides, produz numerosas toxinas ciclopeptídi- cas que não são destruídas pelo cozimento nem por secagem, carecem de sabor distinto e são captadas pelos hepatócitos. As amatoxinas ligam-se fortemente à RNA polimerase II, retardando acentuadamente a síntese de RNA e de proteínas e levando à necrose dos hepatócitos. As falotoxinas e virotoxinas ligeiramente menos tóxicas interferem nas actinas F e G no citoesqueleto. Por conseguinte, o consumo de espécies de Ama- nita ou espécies relacionadas pode causar disfunção hepática grave e até mesmo insuficiência hepática (e renal) e morte. Os sintomas iniciais de envenenamento, como dor abdominal, náusea, vômitos e diarréia intensos, febre e taquicardia, podem surgir dentro de 6 a 24 horas após o consumo dos cogumelos. A função hepática e renal pode deteriorar, até mesmo enquanto os sinais iniciais regridem, resultando em icterícia, encefalopatia hepática e insuficiência hepática fulminante, e pode ocorrer morte dentro de 4 a 9 dias após o consumo. Não existe nenhum antídoto específico. Uma síndrome anticolinérgica pode ser causada pela inges- tão deliberada ou acidental de estramônio, uma planta per- tencente à família da Datura. Todas as partes da planta são tóxicas, porém as sementes e as folhas, em particular, contêm atropina, escopolamina e hioscinamina. Esses compostos são rapidamente absorvidos e produzem sintomas anticolinérgicos, como midríase, pele seca e ruborizada, agitação, taquicardia, hipertermia e alucinações. A mnemônica para os efeitos antico- linérgicos, “cego como um morcego, seco como um osso, ver- melho como uma beterraba, doido de atar e fogoso como uma lebre”, pode ser aplicada ao envenenamento pelo estramônio. Algumas plantas das famílias Umbelliferae (como salsa, pastinaga, endro, aipo e serralha), Rutaceae (com limão-doce e limão) e Moraceae (como figos) contêm isômeros psoralenos 836 | Capítulo Cinqüenta e Um (furocumarinas) nas folhas, nos caules ou na seiva, que podem ser absorvidos na pele após contato. A exposição subseqüente à radiação UV-A de comprimento de ondas >320 nm (geralmente através da luz solar) pode excitar as furocumarinas, que então formam complexos que provocam lesão do DNA no tecido epidérmico. Dentro de 2 dias, observa-se o aparecimento de queimaduras, vermelhidão e formação de vesículas nas áreas de contato com a planta e a luz; após cicatrização, a hiperpig- mentação pode persistir por vários meses. A resposta é maior com o maior contato com a planta, umidade e duração e inten- sidade da exposição à radiação. Esse mecanismo fitofototóxico não-alérgico constitui a base da terapia PUVA para o eczema e outros distúrbios dermatológicos. TOXICIDADE CRÔNICA DOS XENOBIÓTICOS A toxicidade crônica refere-se aos efeitos freqüentemente irreversíveis da exposição repetida a determinada toxina. A seguir, são descritas as toxicidades crônicas de alguns dos xenobióticos mais prevalentes. TABACO A fumaça do cigarro é a toxina mais importante e comumente encontrada nos Estados Unidos. É responsável por cerca de 30% de todas as mortes por câncer nos Estados Unidos e por um risco significativamente aumentado de doença pulmonar e doença cardiovascular. A fumaça de tabaco provoca não apenas câncer de pulmão, mas também cânceres da cavidade oral, do esôfago, do pâncreas e da bexiga. Acredita-se também que o fumo passivo — isto é, a exposição de não-fumantes à fumaça de cigarro — provoca câncer e doença cardiovascular, embora a magnitude desses riscos não esteja tão bem definida quanto aquela para fumantes. A carcinogenicidade da fumaça de cigarro deve-se, provavelmente, às ações combinadas de muitos dos numerosos carcinógenos, incluindo benzo(a)pireno, entre as 4.000 substâncias químicas existentes na fumaça de cigarro (Fig. 51.3). Vários desses carcinógenos não se limitam à fase de partícula ou “alcatrão”, porém encontram-se também na fase gasosa. Os cigarros com “baixo teor de alcatrão” são tão carcinogênicos e provocam tanta doença cardiovascular quanto os cigarros “regulares”. ETANOL O consumo excessivo de álcool etílico também constitui uma exposição tóxica comum e complexa. O consumo abusivo de álcool é observado numa minoria significativa de adolescentes; em adultos com coronariopatia, o consumo abusivo de álcool pode causar isquemia do miocárdio e angina. O álcool, em seu efeito agudo, é um sedativo (ver Caps. 11 e 17) e provoca retardo psicomotor. A maior parte da morbidade e mortalidade da intoxicação pelo álcool resulta de lesões sofridas (para não mencionar as infligidas) enquanto se está sob os efeitos do álcool. O consumo excessivo e crônico aumenta o risco de cirro- se, de carcinoma hepatocelular, pancreatite, acidente vascular cerebral hemorrágico e insuficiência cardíaca. A fisiopatolo- gia da miocardiopatia alcoólica é complexa e parece envolver morte celular e alterações patológicas na função dos miócitos. As mulheres tendem a ser mais suscetíveis do que os homens à miocardiopatia alcoólica. O HO OH O O OH O Glicuronato OH S Glutationa Benzo[a]pireno-4,5-epóxido Benzo[a]pireno-7,8-epóxido Benzo[a]pireno- 7,8-diol-9,10-epóxido (carcinógeno) Benzo[a]pireno Produtos conjugados (não-carcinogênicos) Fig. 51.3 Metabolismo do benzo[a]pireno. O benzo[a]pireno é um pré- carcinógeno que pode ser metabolizado por diversas vias. A oxidação da denominada região de reentrância produz o carcinógeno final, benzo[a]pireno- 7,8-diol-9,10-epóxido, que pode causar rupturas das fitas duplas no DNA. Por outro lado, a oxidação na denominada região K produz o 4,5-epóxido do benzo[a]pireno. A abertura do epóxido e a conjugação com glutationa ou glicuronato dá origem a produtos conjugados não-carcinogênicos, que são hidrofílicos e que podem ser excretados. O mecanismo da hepatotoxicidade alcoólica também é mul- tifatorial. Em primeiro lugar, está associada a uma deficiência nutricional, visto que os que fazem consumo abusivo e crônico de álcool obtêm a maior parte de suas calorias do próprio álcool. Isso leva a um estado hipermetabólico e a uma demanda aumen- tada de oxigênio no fígado. Por sua vez, os hepatócitos centro- lobulares pouco perfundidos ficam ameaçados. O metabolismo do álcool gera NADH e NADPH, que desvia o potencial redox do hepatócito. O potencial redox alterado leva a uma produção aumentada de ácido láctico e ácido úrico e ao desenvolvimen- to de hipoglicemia. Por fim, o metabolismo do etanol produz espécies reativas prejudiciais, incluindo acetaldeído (pela ação da álcool desidrogenase) e radicais hidroxila, ânions superóxido e peróxido de hidrogênio (produzido pela ação da enzima 2E1 do citocromo P450). Acredita-se que o etanol provoque tumores diretamente na orofaringe, na laringe e no esôfago, onde pode atuar de modo Envenenamento por Fármacos e Toxinas Ambientais | 837 noácidos. A exposição crônica ao chumbo resulta em nefrite intersticial, com desenvolvimento final de fibrose e doença renal crônica. CÁDMIO As poeiras e as fumaças contendo cádmio podem ser encon- tradas em diversas ocupações. O cádmio é tóxico para vários órgãos e pode ser carcinogênico para os pulmões e a próstata, mas também possui efeitos tóxicos particulares sobre o rim após exposição por inalação. A ocorrência de anormalidade da função renal, consistindo em proteinúria e diminuição da taxa de filtração glomerular (TFG), foi relatada pela primeira vez em operários que trabalhavam com cádmio, em 1950, e confirmada em numerosas pesquisas. A proteinúria consiste em proteínas de baixo peso molecular, como �2-microglobulina, proteína de ligação do retinol, lisozima e cadeias leves de imunoglobu- lina; essas proteínas normalmente são filtradas no glomérulo e reabsorvidas nos túbulos proximais. Os trabalhadores expostos ao cádmio também apresentam uma maior taxa de formação de cálculos renais, talvez devido à ruptura do metabolismo do cálcio em conseqüência de lesão renal. Há boas evidências de que a disfunção tubular renal só ocor- re após alcançar uma concentração limiar de cádmio no córtex renal. O limiar varia entre indivíduos, porém foi estimado em cerca de 200 �g/g de peso úmido. Vários estudos de preva- lência da proteinúria em populações de trabalhadores expostos sugerem que a exposição por inalação superior a cerca de 0,03 mg/m3 durante 30 anos está associada a um risco aumentado de disfunção tubular. Infelizmente, a remoção da exposição não interrompe necessariamente a doença em trabalhadores com lesão renal induzida pelo cádmio, e podem ocorrer diminuição progressiva da TFG e doença renal terminal. A evolução da doença pode depender tanto da carga corporal de cádmio quanto da intensidade da proteinúria por ocasião da última exposição. A não ser que a lesão renal seja significativa, a concentração urinária de cádmio reflete a carga corporal do metal. Embora a lesão renal seja claramente devida ao acúmulo de cádmio no rim, o mecanismo molecular dessa lesão não está bem esclarecido. A metalotioneína pode estar envolvida; essa proteína de ligação do cádmio, que é sintetizada no fígado e no rim, parece facilitar o transporte de cádmio para o rim e promover aí a sua retenção. POEIRAS Numerosos casos de lesão pulmonar ocupacional são provo- cados pela inalação de vários tipos de poeiras, como pó de carvão, asbesto, sílica cristalina ou talco. Várias formas de asbesto, como a amosite e a crocidolite, são carcinogênicas para os pulmões e/ou mesotélio após exposição prolongada a fibras de tamanho passível de inalação (<10 �m). O uso dis- seminado de produtos contendo asbesto na construção naval, construção civil, têxteis e outras indústrias em décadas passadas foi responsável por um grande número de casos de câncer; com efeito, devido ao período de latência, esse número ainda está aumentando. Embora o uso do asbesto tenha sido muito redu- zido nos Estados Unidos, produtos mais antigos (como isola- mento de canos) ainda são utilizados e fornecem oportunidades de exposição contínua. A exposição excessiva em conseqüência de afloramentos naturais de rochas contendo asbesto também pode ser problemática, especialmente em certas regiões da Califórnia, e a mineração extensa da vermiculita em Libby, sinérgico com a fumaça de tabaco. O etanol também está asso- ciado ao carcinoma hepatocelular ao induzir uma regeneração crônica de tecido lesado e ao induzir também a enzima 2E1 do citocromo P450, que pode ativar carcinógenos. O etanol também é um teratógeno; provoca a síndrome alco- ólica fetal, a causa prevenível mais comum de retardo men- tal. A despeito de pesquisa intensa, o mecanismo da síndrome alcoólica fetal permanece desconhecido. Por outro lado, o consumo leve a moderado de álcool parece proteger o indivíduo contra a doença cardíaca. Os mecanismos que medeiam essa redução de risco podem incluir a produção aumentada de colesterol das lipoproteínas de alta densidade, plasminogênio e ativador do plasminogênio tecidual, associada a uma redução na produção de fibrinogênio e lipoproteína(a), diminuição da agregação plaquetária e alteração da função endotelial. CHUMBO O chumbo é ubíquo no meio ambiente, em virtude de sua per- sistência e uso anteriormente disseminado em tintas, encanamen- to, solda e como aditivo na gasolina. A exposição ao chumbo provoca toxicidade neural, tornando-a objeto de preocupação especial em fetos e crianças até aproximadamente 7 anos de idade. As crianças pequenas também correm risco, visto que têm mais probabilidade do que os adultos de ingerir poeira de tinta ou solo contaminados com chumbo. Embora a meia-vida do chum- bo nos tecidos moles seja relativamente curta, a sua meia-vida no osso estende-se por mais de 20 anos, e uma exposição consi- derável ao chumbo no início da infância pode resultar em níveis elevados de chumbo nos ossos durante décadas. Apesar de uma redução de cinco vezes na exposição ao chumbo desde a década de 1940 nos Estados Unidos, acredita-se que quase um milhão de crianças norte-americanas corram risco de envenenamento por chumbo. Algumas crianças pobres correm risco particular, devido à contaminação em moradias inadequadamente mantidas e antigamente pintadas com tinta a base de chumbo, exposição à água de antigos encanamentos de chumbo e/ou ingestão alimen- tar inadequada de cálcio e de ferro. O chumbo provoca uma ruptura da barreira hematoencefáli- ca, permitindo que tanto o chumbo quanto outras neurotoxinas potenciais alcancem o SNC. No SNC, o chumbo pode blo quear os canais de cálcio dependentes de voltagem, interferir na fun- ção dos neurotransmissores e, o mais importante, interferir nas interações celulares no cérebro; este último efeito provoca alte- rações permanentes nos circuitos neuronais. A encefalopatia por chumbo manifesta, que, hoje em dia, é felizmente rara nos Estados Unidos, resulta em letargia, vômitos, irritabilidade e tontura, podendo evoluir para alteração do estado mental, coma e morte. Nas crianças, o efeito mais importante é o risco de um déficit de QI de aproximadamente dois a quatro pontos para cada aumento de 10 �g/dL na concentração sangüínea de chumbo. O chumbo interfere na síntese da hemoglobina em múltiplas etapas, causando anemia microcítica hipocrômica. Especifica- mente, o chumbo inibe a ação da ácido delta-aminolevulínico desidratase (ALA-D), que catalisa a síntese de porfobilinogê- nio, um precursor do heme. O chumbo também inibe a incor- poração do ferro no anel de porfirina. No rim, o chumbo causa toxicidade tanto reversível quanto irreversível. O chumbo pode interferir reversivelmente na pro- dução de energia nas células tubulares proximais através de sua interferência na função mitocondrial, resultando em redução da reabsorção dependente de energia de íons, glicose e ami- 838 | Capítulo Cinqüenta e Um Montana, levou aparentemente a um risco aumentado de meso- telioma. O asbesto também provoca uma doença respiratória não-maligna grave, denominada asbestose, caracterizada por lesões fibróticas no parênquima pulmonar, que limitam as tro- cas gasosas. Os mecanismos pelos quais as fibras de asbesto causam lesão do pulmão ou da pleura ainda não estão bem esclarecidos, mas podem envolver a produção de espécies de oxigênio reativas por macrófagos procurando destruir as fibras. As características das fibras, como composição, comprimento e diâmetro, também desempenham um papel na toxicidade. O risco de câncer pulmonar em um indivíduo com exposição ao asbesto aumenta acentuadamente com o tabagismo, ultrapas- sando a soma dos riscos independentes associados ao asbesto e ao tabagismo como fatores separados—um exemplo lamen- tável de sinergismo na carcinogênese. O pulmão negro ou pneumoconiose dos carvoeiros (PC) é outra doença pulmonar fibrótica não-maligna (mas poten- cialmente fatal) induzida pela exposição excessiva ao pó de carvão. A forma simples da PC pode não limitar acentuada- mente a respiração, afetando apenas pequenas áreas do pulmão, enquanto a PC progressiva pode desenvolver-se e até mesmo agravar-se na ausência de exposição contínua, resultando em enfisema grave. É interessante assinalar que o pó de carvão não parece aumentar o risco de câncer de pulmão. Embora a exposição ocupacional ao pó de carvão tenha sido limitada por regulamentos nos Estados Unidos nessas últimas décadas, e a mineração seja menos comum do que no passado, milhares de mineradores em outros países, especialmente na China, correm risco de PC e doenças relacionadas. TRATAMENTO DAS EXPOSIÇÕES AGUDAS Em todas as exposições a substâncias tóxicas, o paciente deve ser removido do ambiente contaminado e estabilizado com medidas de suporte da vida convencionais. Uma vez o paci- ente estabilizado agudamente, devem-se tomar medidas para identificar a exposição precisa. Em alguns casos, a anamnese e o exame físico são suficientes, ao passo que, em outros casos, podem ser necessários exames laboratoriais especializados. Uma vez identificado o veneno, são empregadas várias estratégias para minimizar os danos, com base na natureza da toxina responsável. Uma estratégia consiste em alterar a toxi- cocinética de um veneno, de modo a minimizar a exposição ao (1) diminuir a absorção da toxina, (2) prevenir a toxificação de um composto benigno, ou (3) aumentar o metabolismo ou a eliminação da toxina. Uma segunda estratégia visa inativar uma toxina através de sua ligação a uma pequena molécula ou anticorpo, impedindo, assim, que a toxina possa interferir em processos bioquímicos e celulares essenciais. Uma estratégia final consiste em neutralizar a ação da toxina em nível bioquí- mico, celular ou corporal. O Quadro 51.1 (no final do capítulo) fornece uma lista de venenos importantes selecionados, juntamente com seus meca- nismos de toxicidade, receptores ou alvos, sinais clínicos e antí- dotos (quando houver). PRINCÍPIOS DE TRATAMENTO DO PACIENTE AGUDAMENTE ENVENENADO A abordagem inicial no tratamento de um paciente envenenado consiste em eliminar qualquer exposição adicional. Em muitos casos, essa etapa por si só é efetiva, visto que os mecanismos homeostáticos do corpo podem minimizar a lesão, respondendo adequadamente a algumas exposições de curta duração. Por exemplo, os sintomas agudos provocados pela inalação de altas concentrações de vapor de tricloroetileno são prontamente revertidos após remoção do paciente e sua colocação em um ambiente de ar fresco. Após remover o paciente da exposição, devem-se imple- mentar medidas de suporte, como proteção das vias aéreas, assegurar a ventilação e a perfusão dos órgãos-alvo e corrigir as anormalidades eletrolíticas. Por exemplo, a overdose de um antagonista beta-adrenérgico é tratada pela administração de glucagon para aumentar a freqüência cardíaca e pressão arterial e de líquidos parenterais para tratar a hipotensão. O glucagon aumenta o cAMP nas células cardíacas através da estimula- ção da ativação da adenilil ciclase mediada pelo receptor de glucagon. O glucagon também sofre metabolismo local a um fragmento de “miniglucagon”, que aumenta o Ca2+ intracelular (e, portanto, a contratilidade) ao estimular a fosfolipase A2 . Se necessário, pode-se regular o ritmo do coração utilizando compressões externas ou um fio marca-passo transvenoso. O envenenamento por salicilato, que provoca acidose metabóli- ca, é tratado com manejo eletrolítico agressivo: administra-se bicarbonato de sódio para manter o pH sérico normal e alca- linizar a urina. A alcalinização da urina promove a excreção renal de salicilato. A próxima etapa consiste em estabelecer a natureza do vene- no. Algumas vezes, o veneno é identificado a partir da anam- nese, como exposição ocupacional, ou a partir de evidências reunidas no local de ocorrência, como frasco de comprimidos vazio. Outras vezes, os sintomas do paciente são compatíveis com determinada toxídrome. Por exemplo, os sintomas de sobrecarga colinérgica (vômitos, diarréia, vasodilatação peri- férica, perda da acomodação e constrição pupilar) em contex- to de agricultura sugere uma exposição a pesticida. Todavia, com freqüência, particularmente no paciente obnubilado, pode ser necessário obter dados toxicológicos plasmáticos ou outras informações especializadas para estabelecer definitivamente o veneno e instituir o tratamento específico. TRATAMENTOS BASEADOS NA TOXICOCINÉTICA A abordagem toxicocinética visa minimizar a possibilidade do veneno de provocar lesão dos órgãos-alvo ao diminuir a quan- tidade do agente presente no organismo. Isso pode ser efetua- do através de prevenção da absorção e toxificação do veneno, aumento de seu metabolismo ou de sua eliminação. Prevenção da Absorção Em certas ocasiões, é possível impedir a absorção gastrin- testinal de material que foi ingerido, mas que ainda não foi absorvido através de lavagem gástrica. Em casos muito raros, pode-se induzir vômito em lugar de efetuar uma lavagem gástri- ca. O método mais comum de indução de vômito consiste na administração de xarope de ipeca, que atua através de um mecanismo duplo dentro de aproximadamente 15 a 30 minutos após a sua administração. Localmente, o xarope de ipeca irrita o trato gastrintestinal, ao passo que, em nível central, ativa a zona de gatilho quimiorreceptora na área postrema do cérebro (ver Cap. 13). A adsorção química de uma toxina com carvão ativado constitui outra maneira de impedir a absorção de toxi- nas ingeridas. O carvão ativado em pó fornece uma grande área de superfície sobre a qual podem ser adsorvidas numerosas Envenenamento por Fármacos e Toxinas Ambientais | 839 moléculas orgânicas pequenas. A seguir, o carvão passa pelo trato gastrintestinal e é eliminado nas fezes, juntamente com a toxina adsorvida. Em geral, o carvão ativado é mais efetivo para substâncias hidrofóbicas, enquanto é ineficaz para a maioria dos sais inorgânicos. Em alguns casos, podem-se administrar múltiplas doses de carvão ativado para interferir na circulação êntero-hepática de drogas que sofreram absorção sistêmica. Inibição da Toxificação Algumas vezes, é possível impedir a toxificação através da ini- bição das enzimas envolvidas na conversão do xenobiótico em seu produto tóxico. Na prática, algumas enzimas metabólicas específicas são alvos do tratamento, visto que a maioria das enzimas faz parte do sistema do citocromo P450. Entretanto, um alvo desse tipo de abordagem é a álcool desidrogenase, que converte álcoois em seus aldeídos correspondentes. Em muitos casos, o álcool original não é particularmente tóxico e pode ser excretado pelos rins; entretanto, o metabólito aldeído ou um metabólito mais distal são significativamente mais tóxicos. Por exemplo, o formeato é um metabólito tóxico do metanol (álcool metílico), enquanto o ácido glicólico é o metabólito tóxico do etileno glicol (um álcool bifuncional e componente de anticon- gelantes), que provoca depressão do SNC dependente da dose e acidose metabólica com hiato aniônico elevado. Como o etanol também é metabolizado pela álcool desidrogenase, pode atuar como inibidor competitivo do metanol e do etileno glicol. His- toricamente, pacientes que ingeriram metanol ou etileno glicol foram mantidos inebriados com soluções de etanol por via oral ou IV para minimizar a formação dos metabólitos mais tóxicos. Mais recentemente, tem-se utilizado o inibidor competitivo da álcool desidrogenase, o fomepizol. Ao contrário do etanol, o fomepizol em si não é metabolizado pela álcool desidrogenase e não produz sintomas de inebriação. Aumento do Metabolismo (Destoxificação) Teoricamente, é possível acelerar o metabolismo de uma subs- tância tóxica através da indução da isoenzima apropriada do citocromo P450. Lamentavelmente, devido ao tempo necessário para o processo de indução, essa abordagem não é apropriada para casos de intoxicação aguda e, em geral, não é utilizada clinicamente. Em alguns casos, as ações metabólicas de enzimas que não pertencem ao citocromo P450, que dependem de co-fatores ou co-substratos, podem ser aceleradas pela adição desses co-fato- res. O exemplo mais notável é o do envenenamento por cianeto, que é tratado com um “kit” contendo nitrito de amila ou nitrito de sódio e tiossulfato de sódio (Fig. 51.4). Os nitritos atuam por intermédio da oxidação da hemoglobina a metemoglobina, fornecendo um substrato capaz de competir com a citocromo c oxidase pelas moléculas de cianeto (ver adiante). A seguir, o cianeto ligado à metemoglobina é oxidado ao tiocianato rela- tivamente atóxico pela enzima rodanase (também conhecida como transulfurase). A adição de tiossulfato fornece uma fonte imediata de enxofre para a reação de destoxificação e aumenta o metabolismo do cianeto. Outro exemplo de suprimento de substrato numa reação de destoxificação é o uso da N-acetilcisteína no tratamento do envenenamento por acetaminofeno. O acetaminofeno pode ser convertido no metabólito hepatotóxico N-acetil-p-benzoquino- neimina (NAPQI) pela ação de enzimas do citocromo P450 no fígado (Fig. 51.5). A NAPQI pode ser destoxificada por conju- gação com a glutationa. Todavia, se a dose de acetaminofeno S-CN S S O--O O O N O N N N N Fe3+ C N Cu2+ N HN N H N N NH N N N N Fe3+ O O Cu2+ N HN N H N N NH N N N N Fe3+ O O Cu2+ N HN N H N N NH N N N N Fe2+ N N N N Fe3+ N N N N Fe3+ C N 3 NS+ N N Cl- A B -C N Citocromo c oxidase Cianocitocromo c oxidase Citocromo c oxidase Cianeto Ligação do cianeto Nitrito de amila Tiocianato Tiossulfato Hemoglobina Metemoglobina Cianometemoglobina Azul de metileno 1Oxidação da hemoglobina Rodanese 4 Redução da metemoglobina 2 Extração do cianeto a partir da citocromo c oxidase Fig. 51.4 Tratamento do envenenamento por cianeto. A. Estrutura do sítio ativo de cobre/heme da citocromo c oxidase, a enzima responsável pela etapa final da cadeia de transporte de elétrons (a redução de quatro elétrons do oxigênio a água). Aqui, a enzima é mostrada após redução do oxigênio à forma peróxido em ponte. B. O cianeto desloca o oxigênio devido à formação de uma ligação extremamente estável com o grupo do heme férrico na citocromo c oxidase. O tratamento do envenenamento por cianeto consiste em: (1) oxidação do ferro ferroso na hemoglobina à sua forma férrica (metemoglobina) pelo nitrito de amila ou nitrito de sódio. A metemoglobina compete fortemente pelo cianeto (2), facilitando a sua remoção do sítio ativo da citocromo c oxidase e atuando como escoadouro para o cianeto circulante. O cianeto é convertido em tiocianato através da ação da rodanese, uma enzima mitocondrial (3). A adição de tiossulfato de sódio fornece o enxofre necessário para a conversão do cianeto em tiocianato. Uma vez destoxificado o cianeto, a metemoglobina pode retornar à sua forma ferrosa (4) pela adição de azul de metileno. for grande o suficiente, ocorrerá depleção das reservas de glu- tationa, podendo resultar em hepatotoxicidade. Pode-se repor as reservas de glutationa pela administração de N-acetilcisteína (NAC), um precursor metabólico da glutationa. 840 | Capítulo Cinqüenta e Um seqüestro de íons, a forma neutra da toxina é filtrada através do glomérulo, e essa forma é desprotonada na urina alcalinizada (básica). A forma ionizada da toxina não é reabsorvida e, por conseguinte, é excretada na urina. Clinicamente, o seqüestro de íons é efetuado através da administração de bicarbonato ao paciente e titulação para um pH urinário de 7,5 a 8,5. Essa técnica tem sido particularmente efetiva para melhorar a elimi- nação dos salicilatos e do fenobarbital. Embora a acidificação da urina para aumentar a depuração uma toxina básica seja teoricamente possível, os perigos da acidose metabólica iatro- gênica da prática impedem o uso dessa abordagem. As técnicas de hemodiálise, hemofiltração e hemoperfusão dependem da purificação extracorpórea do sangue. Por esse motivo, essas técnicas só servem para substâncias que pos- suem um volume de distribuição relativamente pequeno, de modo que a remoção da substância tóxica do sangue não deixe um grande reservatório inacessível nos tecidos corporais. Em geral, a hemodiálise mostra-se útil para pequenas moléculas relativamente hidrossolúveis, que apresentam um pequeno volume de distribuição e que não estão firmemente ligadas às proteínas plasmáticas (que não podem atravessar a membrana de diálise). Na hemofiltração, o sangue é filtrado através de uma mem- brana porosa de tamanho variável, que permite a remoção de plasma com quantidade variável de proteína no ultrafiltrado. Como o plasma fica exposto a um filtro, mais do que a uma membrana semipermeável, as moléculas maiores podem ser mais depuradas com a hemofiltração do que com a hemo- diálise. Na hemoperfusão, o sangue circula através de uma colu- na, onde entra em contato com uma resina trocadora de íons ou com carvão ativado capaz de adsorver a toxina. As resinas trocadoras de íons ligam-se a sais inorgânicos, trocando-os por eletrólitos, como sódio ou cloreto. Devido ao contato direto entre o sangue e o material adsorvente, a hemoperfusão está associada a um risco de trombose. Além disso, a resina troca- dora de íons não é seletiva na sua ligação a íons e pode causar depleção do cálcio e do magnésio do plasma. Em circunstâncias extremas, pode ser possível efetuar uma troca de plasma ou exsangüineotransfusão, em que o plasma ou sangue do paciente é removido e substituído por plasma ou sangue total transfundido de um doador. Essa técnica é geral- mente reservada para recém-nascidos. INATIVAÇÃO DOS VENENOS A inativação é uma abordagem para reduzir a atividade de toxi- nas que penetraram na circulação e que não podem ser elimi- nadas rapidamente. Um inativador, como um agente quelante ou anticorpo, liga-se à toxina e, por conseguinte, impede a sua interação com os tecidos-alvo. A seguir, os complexos de toxina e inativador são depurados do corpo. Uma substância inativa- dora deve apresentar uma alta afinidade pela toxina, de modo que o equilíbrio favoreça fortemente o complexo inativado, devendo o complexo formado ter baixa toxicidade. Agentes Quelantes de Metais Pesados A inativação e a remoção dos metais pesados tóxicos, como chumbo, mercúrio ou cádmio, e de overdoses de metais, como ferro ou cobre, pode ser efetuada através da ligação do me tal a uma pequena molécula contendo um doador de elétrons nucleofílicos, como amina, hidróxido, carboxilato ou mercap- tano, para formar um complexo metal-ligante. Um quelante, Fig. 51.5 Mecanismo de envenenamento pelo acetaminofeno e seu tratamento. O acetaminofeno em si não é tóxico, mas pode ser convertido em metabólitos tóxicos no fígado pela ação oxidativa de enzima do citocromo P450 ou prostaglandina H sintase (PHS). A maior parte do acetaminofeno é conjugada a sulfato ou glicuronato através de reações de conjugação (fase II). Entretanto, uma pequena quantidade é oxidada a N-acetil-p- benzoquinoneimina (NAPQI), que pode ligar-se a proteínas hepáticas, causando necrose centrolobular (hepatotoxicidade). A NAPQI pode ser conjugada à glutationa, formando o conjugado de glutationa atóxico. Em casos de overdose de acetaminofeno, ocorre depleção da glutationa, e a NAPQI fica livre para causar hepatotoxicidade. Pode-se administrar a N-acetilcisteína (NAC) como antídoto. A NAC, que é um precursor metabólito da glutationa, proporciona a reposição dos níveis hepatocelulares de glutationa, impedindo, assim, a ocorrência de hepatotoxicidade induzida pela NAPQI. NH OH O NH O O S -O O O O OH OH OH O O-O NH O N O O NH OH O NH O Gly S Glu H N O OH O HS Acetaminofeno Glutationa Glicuronídio de acetaminofeno Fase II Fase II Enzima do citocromo P450 PHS Sulfato de acetaminofeno ou N-acetil-p-benzoquinoneimina (NAPQI) Hepatotoxicidade Excreção Conjugado de glutationa N-acetilcisteína (NAC) Aumento da Eliminação Um método comum de tratamento de um paciente que apre- senta envenenamento agudo consiste em facilitar a eliminação da toxina. Esse método pode ser efetuado através de aumento da depuração renal da toxina ou depuração artificial da toxina do plasma. No primeiro caso, o procedimento consiste em impedir a reabsorção tubular da toxina (seqüestro de íons), enquanto o segundo recorre à hemodiálise, hemofiltração ou hemoperfusão. O seqüestro de íons envolve a alcalinização da urina para aumentar a depuração renal de uma toxina fracamente ácida. No Envenenamento por Fármacos e Toxinas Ambientais | 841 termo de origem grega que significa “garra”, é uma estrutura multidenteada que apresenta múltiplos sítios de ligação (Fig. 51.6). A ligação do metal a múltiplos sítios desloca a constante de equilíbrio a favor da ligação do metal. A ligação metal-ligan- te de alta afinidade é fundamental, visto que o agente quelante deve competir com macromoléculas teciduais para a ligação. Além disso, o agente quelante deve ser atóxico e hidrossolúvel, e o complexo deve ser facilmente depurado. Por fim, um agente quelante ideal deve ter baixa afinidade de ligação por íons endó- genos, como cálcio. Para evitar a depleção do cálcio tecidual, muitos agentes quelantes são administrados na forma de com- plexos de cálcio. A seguir, o metal-alvo é trocado pelo cálcio, não ocorrendo depleção das reservas corporais de cálcio. Os agentes quelantes de metais pesados mais importantes são o edetato dissódico (o complexo dissódico de cálcio do EDTA), que pode ser utilizado para a ligação do chumbo; o dimercaprol (também conhecido como British anti-Lewisite, ou BAL), que liga o ouro, o arsênio, o chumbo e o mercúrio a seus dois grupos tióis; e o succímer (ácido 2,3-dimercap- tossuccínico), que suplantou o dimercaprol para a remoção do chumbo, do cádmio, do mercúrio e do arsênio. A desferro- xamina é utilizada para remoção de níveis tóxicos de ferro, como os que podem ocorrer em casos de overdose acidental de suplementos contendo ferro ou em pacientes com anemias cujo tratamento depende de transfusões. O deferasirox é um agente quelante de ferro biodisponível por via oral, recém-apro- vado pela U. S. Food and Drug Administration (FDA); esse agente pode suplantar a desferroxamina em muitas condições associadas a uma sobrecarga crônica de ferro. A remoção de cobre, tipicamente efetuada em pacientes com doença de Wil- son, utiliza a penicilamina ou, para pacientes que não toleram este fármaco, trientina. Antivenenos e Ligação a Anticorpos São também utilizados anticorpos como inativadores, em virtude de sua alta afinidade e alta especificidade pelos seus substratos. Os antivenenos são anticorpos dirigidos contra um veneno. São produzidos pela inoculação em um animal, habitualmente o cavalo, de pequenas quantidades do veneno para induzir uma resposta humoral de anticorpos. No paciente exposto ao veneno, o anti-soro eqüino purificado injetado liga- se ao veneno, inativando-o. Outra aplicação dos anticorpos como inativadores é a liga- ção da digoxina com imuno Fab antidigoxina. Esse tratamento é utilizado nos casos em que o paciente apresenta sinais ou sintomas produzidos por níveis plasmáticos tóxicos do fárma- co. Como o próprio nome sugere, o anticorpo inclui apenas o fragmento Fab da imunoglobulina. O imuno Fab antidigoxina deriva de carneiro imunizado. Um perigo inerente ao uso dos anticorpos como inativadores é o risco de desenvolvimento de doença do soro, uma reação de hipersensibilidade de tipo III. Tanto os antivenenos quanto o imuno Fab antidigoxina podem causar doença do soro. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Para as toxinas que atuam através de uma via metabólica espe- cífica, o tratamento pode consistir na administração de um fár- maco com ação farmacológica oposta ou na transposição da via metabólica que foi inibida. São utilizadas quatro grandes ca tegorias de tratamentos farmacologicamente mediados para os envenenamentos: (1) um antagonista do receptor pode bloquear o efeito de uma toxina que atua como agonista no receptor ou Fig. 51.6 Agentes quelantes de metais pesados. A. Um ligante (L) é um composto contendo uma base de Lewis (como grupos amina, tiol, hidroxila ou carboxilato), capaz de formar um complexo com um metal (M). B. Um agente quelante é um ligante multidenteado, isto é, um ligante capaz de ligar- se a um metal através de múltiplos átomos, como neste exemplo de ligante tetraamino ligado ao cobre (Cu2+) através de seus quatro grupos amina. C. São mostradas as estruturas do dimercaprol, do EDTA de cálcio, da penicilamina e da desferroxamina; os grupos que formam ligações com o metal estão identificados em azul. São também mostradas as estruturas tridimensionais do complexo de mercúrio do dimercaprol, do complexo de chumbo do EDTA, do complexo de cobre da penicilamina e do complexo de ferro da desferroxamina. Aqui, o metal pesado está indicado em azul. Para maior simplicidade, não são mostrados os átomos de hidrogênio. L M L L L H2N N NH2 N H2 Cu+2 SH NH2 OH OO- O- NN O O Na+O- O O O-Na+ Ca2+ H2N N H N N O OH O OH O HS OH SH 2 A C B Dimercaprol Edetato dissódico de cálcio (EDTA) Penicilamina Desferroxamina Complexo de mercúrio Complexo de chumbo Complexo de ferro Complexo de cobre que potencializa a ação do ligante endógeno do receptor; (2) um agonista do receptor ou um fármaco que intensifica a ação fisiológica do ligante endógeno podem restabelecer o equilíbrio em um receptor que foi bloqueado por uma toxina atuando como antagonista do receptor; (3) um fármaco pode restaurar a função fisiológica de uma enzima ou receptor através da remoção da toxina do sítio ativo da proteína; (4) é algumas vezes possível transpor totalmente a via metabólica ao utilizar alvos farma- cológicos distalmente ao receptor ou enzima inibidos. Antagonismo Farmacológico Em termos conceituais, o tratamento mais simples do envene- namento consiste na administração de um antagonista, que blo- 842 | Capítulo Cinqüenta e Um queia a ação de uma toxina que, direta ou indiretamente, resulta em ativação suprafisiológica de um receptor. Por exemplo, uma overdose de opióide pode ser tratada com naloxona, um antago- nista farmacológico do receptor opióide. A naloxona apresenta rápido início de ação e é altamente potente; com efeito, se não for observada nenhuma melhora dentro de 10 minutos após a administração de doses de naloxona de até 10 mg, deve-se con- siderar um diagnóstico diferente ou a possibilidade de múltiplas entidades tóxicas. Em virtude de sua meia-vida relativamente curta, a naloxona precisa ser administrada a cada 1 a 4 horas para proporcionar um antagonismo adequado dos receptores enquanto o opióide está sendo depurado. O flumazenil é um antagonista farmacológico do receptor GABAA (benzodiazepínico), utilizado no tratamento da over- dose de benzodiazepínicos. À semelhança da naloxona, o flu- mazenil apresenta rápido início de ação e é altamente potente; seus efeitos já podem ser observados dentro de 5 minutos após a administração de uma dose de até 3 mg. O flumazenil também apresenta meia-vida curta (de aproximadamente 1 hora) e deve ser administrado com freqüência para proporcionar um antago- nismo adequado dos receptores enquanto o benzodiazepínico está sendo depurado. O antagonismo farmacológico também pode ser utilizado quando o agente tóxico não é um agonista direto, mas cujo efei- to é aumentar indiretamente a concentração do ligante natural de um receptor. Os inibidores da AChE produzem concentra- ções suprafisiológicas de acetilcolina na fenda sináptica e uma toxídrome característica de excesso colinérgico — bradicardia, miose, hipersalivação, sudorese, diarréia, vômitos, broncocons- trição, fraqueza, paralisia respiratória e convulsões. Embora seja algumas vezes possível restaurar a atividade da AChE (ver adiante), o tratamento da inibição da AChE depende, em geral, da administração de um agente anticolinérgico, como a atropi- na. A atropina, através do antagonismo do receptor muscarínico de acetilcolina, restaura o equilíbrio colinérgico e impede a broncoconstrição, que constitui a causa mais comum de morte em pacientes com exposição a inibidores da AChE. A atropina não antagoniza os receptores nicotínicos de acetilcolina e não pode reverter a paralisia muscular. Intensificação Farmacológica da Função Fisiológica Quando a toxina é um antagonista competitivo do receptor, a administração de um agonista ou de um composto que aumenta a atividade do agonista pode constituir um tratamento efeti- vo. Por exemplo, a ingestão de bagas ou sementes (como do estramônio) contendo alcalóides da beladona produz um efei- to anticolinérgico semelhante ao da atropina, podendo resultar em delírio, coma e colapso respiratório. O tratamento envolve a administração de fisostigmina, que bloqueia o aumento do tônus colinérgico pela AChE. Deve-se assinalar que a atropina, um agente anticolinérgico, constitui o tratamento de escolha do envenenamento da AChE por organofosforados, enquanto um inibidor da AChE constitui o tratamento de escolha para envenenamento por uma toxina anticolinérgica. Restauração do Sítio Ativo Os efeitos de algumas toxinas que se ligam de modo covalente ao sítio ativo de um receptor ou de uma enzima podem ser anulados por um agente farmacológico capaz de deslocar a toxina e, portanto, de restaurar a atividade da enzima ou do receptor. Essa estratégia é mais bem ilustrada pelo tratamento para agentes tóxicos que se ligam ou que oxidam grupos heme. Os três protótipos de toxinas que atuam sobre grupos heme são o monóxido de carbono (que atua sobre a hemoglobina), o cianeto (que atua sobre a citocromo c oxidase) e os xeno- bióticos, como o nitrato, um contaminante comum da água em áreas rurais (que é reduzido no organismo a nitrito, que, a seguir, oxida a hemoglobina a metemoglobina). O tratamento do envenenamento por monóxido de carbono e cianeto consiste em deslocar a pequena molécula de seu heme- alvo. No caso do envenenamento por monóxido de carbono, são administradas altas concentrações de oxigênio. O oxigênio compete com o monóxido de carbono pela hemoglobina, e o monóxido de carbono livre é exalado. Concentrações mais altas de oxigênio resultam em maior deslocamento e eliminação mais rápida do monóxido de carbono. Em casos de envenenamento grave, o paciente pode ser colocado em câmara de oxigênio hiperbárico, que fornece oxigênio em pressões parciais acima da pressão atmosférica. O cianeto não pode ser deslocado pelo oxigênio. Todavia, o cianeto possui maior afinidade pela metemoglobina do que pela citocromo c oxidase (Fig. 51.4). Por conseguinte, obtém-se um competidor do cianeto através da oxidação da hemoglobina a seu estado férrico (metemoglobina) com nitrito de amila ou nitrito de sódio. A seguir, o cianeto é convertido em tiociana- to com o auxílio do tiossulfato de sódio. Uma vez passado o perigo da toxicidade do cianeto, o ferro férrico da metemoglo- bina pode ser reduzido a seu estado ferroso pela administração do agente redox ativo, azul de metileno. Em circunstâncias normais, a concentração de metemoglobina é mantida baixa através de duas vias de redução, a via da NADH diaforase, que responde por >95% da atividade redutora da metemoglobina, e a via da NADPH diaforase, que responde pelo restante. O azul de metileno é reduzido à azul de leucometileno pela NADPH diaforase; a seguir, o azul de leucometileno reduz a metemo- globina a hemoglobina, restaurando, assim, a sua capacidade de transporte de oxigênio. O tratamento agudo do envenenamento por organofosfora- dos envolve a restauração do sítio ativo da enzima. Enquanto a administração de agentes anticolinérgicos, como a atropina, pode bloquear o efeito do excesso de acetilcolina nos recep- tores muscarínicos, ela não restaura a função enzimática da AChE. Todavia, a pralidoxima consegue aumentar a hidrólise da ligação serina-fosfato entre o organofosfonado e a AChE. A pralidoxima contém um grupo amônio quaternário que coloca um nucleófilo oxima em estreita proximidade com o grupo fosfato eletrofílico do organofosforado (Fig. 51.2). A seguir, o organofosforado liga-se à pralidoxima, liberando AChE. A oxima fosforilada resultante é instável em água e sofre degrada- ção. Lamentavelmente, a AChE fosforilada também pode sofrer “envelhecimento” através da hidrólise de um grupo lateral alquila, e, a seguir, a enzima envelhecida mostra-se resistente à ação da pralidoxima. Por conseguinte, a pralidoxima deve ser administrada o mais cedo possível após a exposição a um organofosforado. Vias Metabólicas Alternativas Algumas vezes, é possível transpor por completo uma reação enzimática inibida pela toxina ao suprir o produto enzimático ou ao intensificar uma via metabólica alternativa. Um exemplo dessa estratégia terapêutica é fornecido pela administração de vitamina K em casos de certos envenenamentos por anticoa- gulantes. A varfarina, discutida no Cap. 22, e certos anticoag- ulantes utilizados como rodenticidas, incluindo brodifacoum, difacinona e derivados, inibem a regeneração da vitamina K Envenenamento por Fármacos e Toxinas Ambientais | 843 de sua forma epóxido. A vitamina K é necessária para a car- boxilação do glutamato para a formação de �-carboxigluta- mato, convertendo os fatores de coagulação precursores em suas formas ativas. Por conseguinte, a depleção das reservas de vitamina K reduzida resulta em depleção dos fatores da coagulação, inibindo, assim, a hemostasia e facilitando o san- gramento. Um tratamento para a overdose ou o envenenamento por esses anticoagulantes consiste na administração de vita- mina K suplementar, permitindo ao fígado gerar os fatores da coagulação ativos. Entretanto, como o fígado leva tempo para sintetizar os fatores da coagulação, o tratamento com vitamina K geralmente necessita de várias horas para melhorar a fun- ção da coagulação. Por conseguinte, em casos de sangramento, cirurgia ou traumatismo, pode ser necessário transpor toda a via metabólica e administrar plasma fresco congelado (PFC), que contém as formas ativas dos fatores da coagulação. n Conclusão e Perspectivas Futuras Grande parte do tratamento das exposições a substâncias tóxi- cas enfoca o paciente agudamente envenenado. Entretanto, a maior parte da morbidade associada a exposições a substân- cias tóxicas é causada por exposição crônica e pode tornar- se clinicamente aparente apenas dentro de vários anos após a exposição inicial. Com efeito, não existe, em geral, nenhum tratamento específico para a lesão causada por exposições crônicas a substâncias tóxicas, e grande parte do tratamento disponível é sintomático e de suporte. Por conseguinte, o estudo da toxicologia inclui não apenas a toxicologia mecanística, que foi discutida neste capítulo, mas também a toxicologia descritiva e a toxicologia regula- mentar. A toxicologia descritiva trata de estabelecer quais os compostos tóxicos e quais os seus efeitos tóxicos; a toxicologia regulamentar ajuda a desenvolver uma política pública capaz de minimizar razoavelmente a exposição a compostos tóxicos. Nos Estados Unidos, vários departamentos estão encarregados na criação dessa política. A FDA procura garantir a segurança do suprimento de alimentos, aprovar novos agentes terapêuti- cos e suspender aprovações de agentes ou dispositivos médicos inseguros (ver Caps. 48 e 49). A Environmental Protection Agency (EPA) estabelece e faz cumprir políticas relacionadas com a poluição ambiental e suas conseqüências para a saúde pública. A Occupational Safety and Health Administration (OSHA) regulariza as exposições no local de trabalho, enquan- to a Consumer Products Safety Commission (CPSC) atua para garantir a segurança das mercadorias para o consumidor. Espera-se que a aplicação de uma compreensão mecanística da toxicologia irá melhorar a toxicologia regulamentar e, assim, melhorar a saúde pública, particularmente no que concerne às implicações, para a saúde, da exposição a baixos níveis de poluentes no ambiente e prevenção de efeitos adversos perigo- sos de produtos farmacêuticos. Avanços significativos na toxi- cologia, como na farmacologia e na ciência médica, podem ser promovidos pelo progresso da genômica, desenvolvimento de “chips gênicos” e instrumentos de biologia computadorizada, que identificam traços genéticos ou outros traços responsáveis por respostas individuais a fármacos e toxinas. n Leituras Sugeridas Bornaya J, Glantz S. Cardiovascular effects of secondhand smoke: nearly as large as smoking. Circulation 2005;111:2684–2698. (Discussão dos riscos de saúde e os mecanismos tóxicos do taba- gismo passivo.) Klaassen CD, ed. Casarett & Doull sʼ Toxicology: The Basic Science of Poisons. 6th ed. New York: McGraw-Hill; 2001. (Um livro que trata de toxicologia e fornece uma boa base de conhecimentos para a compreensão de toxicologia. Contém seções sobre princípios gerais, toxicocinética, toxicidade inespecífica, toxicidade órgão- específica, agentes tóxicos, toxicologia ambiental e aplicações de toxicologia, inclusive um capítulo sobre toxicologia clínica.) Lang CH, Frost RA, Summer AD, et al. Molecular mechanisms res- ponsible for alcohol-induced myopathy in skeletal muscle and heart. Int J Biochem Cell Biol 2005;37:2180–2195. (Revisão dos mecanismos celulares e moleculares por meio dos quais o álcool compromete a função da musculatura esquelética e cardíaca, com ênfase especial nas alterações nas vias de sinalização que regulam a síntese de proteínas.) Smilkstein MJ, Knapp GL, Kulig KW, et al. Efficacy of oral N-ace- tylcysteine in the treatment of acetaminophen overdose. Analy- sis of the national multicenter study (1976 to 1985). N Engl J Med 1988;319:1557–1562. (Estabeleceu os benefícios clínicos do tratamento da intoxicação por acetaminofeno (paracetamol) com N-acetilcisteína, uma fonte de cisteína para a produção de glutationa.) Tauxe RV. Emerging foodborne pathogens. Int J Food Microbiol 2002;78:31–41. (Sumário das fontes comuns de intoxicação ali- mentar.) Toxnet. Available at http://toxnet.nlm.nih.gov/. (Esse site governamen- tal, patrocinado pela National Library of Medicine, contém um imenso banco de dados sobre substâncias tóxicas e artigos sobre toxicologia.) Tzipori S, Sheoran A, Akiyoshi D, et al. Antibody therapy in the management of Shiga toxin-induced hemolytic uremic syndrome. Clin Microbiol Rev 2004;17:926–941. (Revisão da estrutura e do mecanismo de ação das toxinas Shiga, produzida por E. coli 0157: H7 e outras bactérias enteropáticas, as manifestações e o trata- mento da síndrome hemolítico-urêmica, e a utilidade potencial da terapia com anticorpos.) Weaver LK, Hopkins RO, Chan KJ, et al. Hyperbaric oxygen for acute carbon monoxide poisoning. N Engl J Med 2002;347:1057–1067. (Embora o oxigênio hiperbárico já tenha sido postulado para aju- dar a tratar o envenenamento por monóxido de carbono e seja usado desde 1960, esse estudo estabeleceu sua eficácia clínica na redução dos déficits cognitivos em 6 semanas e 12 meses.) 844 | Capítulo Cinqüenta e Um QU AD RO 5 1. 1 M ec an is m os d e To xi ci da de , A lv os /R ec ep to re s, Si na is C lín ic os e A nt íd ot os d e Ve ne no s Se le ci on ad os VE NE NO M EC AN IS M O DE TO XI CI DA DE AL VO /R EC EP TO R (Q UA ND O PE RT IN EN TE ) SI NA IS C LÍ NI CO S (T OD OS E XI GE M E XP OS IÇ ÕE S/ DO SE S SU FI CI EN TE M EN TE A LT AS , E A S UA O CO RR ÊN CI A NÃ O É ES PE RA DA E M T OD OS O S CO NT EX TO S) AN TÍ DO TO (Q UA ND O DI SP ON ÍV EL ) A ce ta m in of en o C on ve rt id o em N A PQ I re at iv a no f íg ad o N /A H ep at ot ox ic id ad e N -a ce til ci st eí na Á ci do c lo rí dr ic o Á ci do f or te ; qu ei m ad ur as q uí m ic as N /A Q ue im ad ur as q uí m ic as N en hu m Á ci do f lu or íd ri co Á ci do f or te ; di ss ol ve o o ss o → h ip er ca lc em ia N /A Q ue im ad ur as q uí m ic as , hi pe rc al ce m ia T ra ta m en to d a hi pe rc al ce m ia Á ci do n ítr ic o Pr ov oc a re aç ão d e hi pe rs en si bi lid ad e tip o I N /A B ro nc oc on st ri çã o as m át ic a N en hu m Á ci do s ul fú ri co Á ci do f or te N /A Q ue im ad ur as q uí m ic as N en hu m A ni dr id os á ci do s N uc le óf ilo s po te nt es ; pr ov oc am r ea çõ es d e hi pe rs en si bi lid ad e tip o II N /A Ir ri ta nt es d os o lh os e d a pe le N en hu m A nt id ep re ss iv os t ri cí cl ic os E fe ito s em el ha nt e ao d a qu in id in a so br e os ca na is d e só di o; a um en ta m o i nt er va lo Q R S C an ai s de s ód io A rr itm ia s ve nt ri cu la re s, h ip ot en sã o, b lo qu ei o ca rd ía co , br ad ia rr itm ia s, a ss is to lia B ic ar bo na to d e só di o A nt iv en en os Pr ov oc am r ea çõ es d e hi pe rs en si bi lid ad e tip o II I N /A D oe nç a do s or o N en hu m A rs ên io Po de s ub st itu ir o f os fa to e m d iv er sa s re aç õe s; lig a- se a r es íd uo s de c is te ín a na s pr ot eí na s; al te ra a m et ila çã o do D N A ; es tr es se o xi da tiv o; al te ra a p ro lif er aç ão c el ul ar ; pr om ot or d e tu m or es N /A C ar ci nó ge no ( pe le , pu lm ão , fí ga do ) D im er ca pr ol A sb es to s A s fi br as i na la da s al oj am -s e no s al vé ol os . A s fi br as i nd uz em o d ep ós ito d e fe rr o. A s fi br as t am bé m a tr ae m m ac ró fa go s → r ea çã o in fl am at ór ia → f or m aç ão d e co lá ge no N /A Fi br os e pu lm on ar , câ nc er d e pu lm ão , m es ot el io m a, po ss iv el m en te c ân ce r ga st ri nt es tin al N en hu m A tr op in a A nt ag on is ta n os r ec ep to re s co lin ér gi co s R ec ep to re s co lin ér gi co s m us ca rí ni co s G la uc om a, t aq ui ca rd ia Fi so st ig m in a B en ze no C on ve rt id o em f en ói s e po lif en ói s re at iv os n o fí ga do N /A D ep re ss ão d o SN C ( ag ud am en te ) D ep re ss ão d a m ed ul a ós se a, l eu ce m ia ( cr on ic am en te ) N en hu m a B en zo ca ín a O xi da a h em og lo bi na a m et em og lo bi na H em og lo bi na C ia no se , ná us ea , ve rt ig em , vô m ito s, c ol ap so , ta qu ic ar di a, ta qu ip né ia , co m a, c on vu ls õe s e m or te A zu l de m et ile no B er íli o A s pa rt íc ul as i na la da s po de m i nd uz ir a f or m aç ão de g ra nu lo m as N /A Pn eu m on ite q uí m ic a; c ar ci nó ge no s us pe ito ; hi pe rs en si bi lid ad e pu lm on ar N en hu m B ro di fa co um Im pe de a s ín te se d os f at or es d a co ag ul aç ão at ra vé s da i ni bi çã o da r eg en er aç ão d a vi ta m in a K E pó xi do r ed ut as e Sa ng ra m en to V ita m in a K Pl as m a fr es co c on ge la do C ád m io In ib e a sí nt es e de a lf a- 1- an tit ri ps in a; p ro vo ca pr ot ei nú ri a N /A C ar ci no gê ni co ; vô m ito s, e de m a pu lm on ar ( ag ud o) ; en fi se m a, in su fi ci ên ci a re na l, os te om al ac ia ( cr ôn ic a) Su cc ím er C hu m bo L ig a- se a r es íd uo s de c is te ín a na s pr ot eí na s. D es tr ói a b ar re ir a he m at oe nc ef ál ic a; i nt er fe re no s ca na is d e cá lc io d ep en de nt es d e vo lta ge m ; na s in al iz aç ão i nt er ce lu la r ne ur on al e n a fu nç ão do s ne ur ot ra ns m is so re s; i ni be a s ín te se d e he m og lo bi na M úl tip lo s: p ir im id in a 5ʼ -n uc le ot id as e; d es id ra ta se do á ci do � -a m in ol ev ul ín ic o (A L A -D ) A ne m ia h ip oc rô m ic a; r et ar do d o de se nv ol vi m en to ; en ce fa lo pa tia ; pr ov áv el c ar ci nó ge no h um an o; t ox ic id ad e re na l; ne ur op at ia p er if ér ic a E de ta to d is só di co d e cá lc io D im er ca pr ol Su cc ím er C ia ne to L ig a- se à c ito cr om o c ox id as e, i m pe di nd o a re du çã o do o xi gê ni o a ág ua , in te rr om pe nd o a ca de ia d e tr an sp or te d e el ét ro ns C ito cr om o c ox id as e A ci do se l ác tic a, r es pi ra çõ es i rr eg ul ar es ; co nv ul sõ es , co m a; m or te N itr ito d e am ila N itr ito d e só di o T io ss ul fa to d e só di o Envenenamento por Fármacos e Toxinas Ambientais | 845 C lo re to d e pl at in a L ig aç ão c ru za da d a Ig E ; pr ov oc a re aç ão d e hi pe rs en si bi lid ad e tip o I N /A B ro nc oc on st ri çã o as m át ic a N en hu m C lo rp ir of ós In ib e a ac et ilc ol in es te ra se A ce til co lin es te ra se (d ir et am en te ); r ec ep to re s de ac et ilc ol in a (i nd ir et am en te , au m en ta nd o a co nc en tr aç ão de a ce til co lin a na s in ap se e na j un çã o ne ur om us cu la r) N áu se a, v ôm ito s, d ia rr éi a, h ip er sa liv aç ão , pa ra lis ia m us cu la r, br ad ic ar di a A tr op in a Pr al id ox im a C ob re G er a ra di ca is l iv re s N /A H ep at ot ox ic id ad e; d is fu nç ão c er eb el ar ; he m at úr ia , pr ot ei nú ri a, ol ig úr ia e /o u ur em ia Pe ni ci la m in a, t ri en tin a C or an te s de a ni lin a O xi da m a h em og lo bi na a m et em og lo bi na H em og lo bi na C ia no se , ná us ea , ve rt ig em , vô m ito s, c ol ap so , ta qu ic ar di a, ta qu ip né ia , co m a, c on vu ls õe s e m or te A zu l de m et ile no D ia zi no n In ib e a ac et ilc ol in es te ra se A ce til co lin es te ra se (d ir et am en te ); r ec ep to re s de ac et ilc ol in a (i nd ir et am en te , at ra vé s de a um en to d a co nc en tr aç ão d e ac et ilc ol in a na s in ap se e n a ju nç ão ne ur om us cu la r) N áu se a, v ôm ito s, d ia rr éi a, h ip er sa liv aç ão , pa ra lis ia m us cu la r, br ad ic ar di a A tr op in a Pr al id ox im a D if ac in on a Im pe de a s ín te se d os f at or es d a co ag ul aç ão at ra vé s da i ni bi çã o da r eg en er aç ão d a vi ta m in a K E pó xi do r ed ut as e Sa ng ra m en to V ita m in a K Pl as m a fr es co c on ge la do D ig ox in a A um en ta a s co nc en tr aç õe s in tr ac el ul ar es d e C a2 + N a+ /K + -A T Pa se E xt ra -s ís to le v en tr ic ul ar , bl oq ue io A V Fa b an tid ig ox in a D iis oc ia na to s Pr ov oc am r ea çõ es d e hi pe rs en si bi lid ad e tip o II N /A A sm a at íp ic a; i rr ita çã o re sp ir at ór ia N en hu m D ió xi do d e en xo fr e Pr ov oc a re aç ão d e hi pe rs en si bi lid ad e tip o I N /A B ro nc oc on st ri çã o as m át ic a N en hu m D io xi na V ár io s; i nd uz o c ito cr om o P4 50 a tr av és d o re ce pt or A h R ec ep to r de a ri l hi dr oc ar bo ne to Po ss ív el c ar ci no gê ne se ; po rf ir ia c ut ân ea t ar di a; c lo ra cn e N en hu m E sp or os d e bo lo re s Pr ov oc a re aç ão d e hi pe rs en si bi lid ad e tip o I, tip o II I N /A R in ite a lé rg ic a; b ro nc oc on st ri çã o as m át ic a; p ne um on ite d e hi pe rs en si bi lid ad e A nt i- hi st am ín ic os G lic oc or tic ói de s E st er ói de s an ab ól ic os R ec ep to re s de e st er ói de s D is tú rb io s da s lip op ro te ín as , do en ça c ar dí ac a, h ep at om a, tr an st or no s ps iq ui át ri co s e es ta do s hi po go ná di co s N en hu m E ta no l E st im ul a os r ec ep to re s G A B A , in ib e os re ce pt or es d e gl ut am at o; d ef ic iê nc ia s nu tr ic io na is ; m et ab ol iz ad o a in te rm ed iá ri os tó xi co s (a ce ta ld eí do ) R ec ep to re s G A B A (i nt en si fi ca o e fe ito ), re ce pt or es d e gl ut am at o (i ni bi do r) D ep re ss ão d o SN C ( ag ud am en te ); c ir ro se h ep át ic a, m io ca rd io pa tia ( cr ôn ic a) ; sí nd ro m e al co ól ic a fe ta l N en hu m É te re s de g lic ol N ef ro to xi na d ir et a N /A L es ão r en al e h ep át ic a N en hu m E til en o gl ic ol C on ve rt id o em á ci do o xá lic o → c ri st ai s de ox al at o de c ál ci o no r im N /A In su fi ci ên ci a re na l ag ud a E ta no l Fo m ep iz ol Fe nt io n In ib e a ac et ilc ol in es te ra se A ce til co lin es te ra se (d ir et am en te ); r ec ep to re s de ac et ilc ol in a (i nd ir et am en te , au m en ta nd o a co nc en tr aç ão de a ce til co lin a na s in ap se e na j un çã o ne ur om us cu la r) N áu se a, v ôm ito s, d ia rr éi a, h ip er sa liv aç ão , pa ra lis ia m us cu la r, br ad ic ar di a A tr op in a Pr al id ox im a (C on ti nu a) 846 | Capítulo Cinqüenta e Um VE NE NO M EC AN IS M O DE TO XI CI DA DE AL VO /R EC EP TO R (Q UA ND O PE RT IN EN TE ) SI NA IS C LÍ NI CO S (T OD OS E XI GE M E XP OS IÇ ÕE S/ DO SE S SU FI CI EN TE M EN TE A LT AS , E A S UA O CO RR ÊN CI A NÃ O É ES PE RA DA E M T OD OS O S CO NT EX TO S) AN TÍ DO TO (Q UA ND O DI SP ON ÍV EL ) Fe rr o G er a ra di ca is l iv re s; a cu m ul a- se n o te ci do ca rd ía co c om h em os si de ri na → d eg en er aç ão ce lu la r e fi br os e N /A H ep at ot ox ic id ad e, c ar di ot ox ic id ad e D es fe rr ox am in a Fu m aç a de c ig ar ro C ar ci no gê ne se q uí m ic a, e nt re o ut ro s m ec an is m os N /A C ân ce r de p ul m ão , câ nc er o ro fa rí ng eo , ou tr os c ân ce re s; en fi se m a; d oe nç a ca rd io va sc ul ar N en hu m H al ot an o A lte ra a s pr ot eí na s he pá tic as , in du zi nd o um a re aç ão a ut o- im un e N /A H ep at ite a ut o- im un e N en hu m H id ra la zi na Pr ov oc a re aç ão a ut o- im un e at ra vé s da in du çã o de a ut o- an tic or po s di ri gi do s co nt ra a m ie lo pe ro xi da se N /A Sí nd ro m e se m el ha nt e ao l úp us N en hu m H id ró xi do d e cá lc io A ge nt e cá us tic o (á lc al i) ; qu ei m ad ur as q uí m ic as N /A Q ue im ad ur as q uí m ic as N en hu m Is on ia zi da Pr ov oc a re aç ão a ut o- im un e at ra vé s da in du çã o de a ut o- an tic or po s di ri gi do s co nt ra a m ie lo pe ro xi da se N /A Sí nd ro m e se m el ha nt e ao l úp us N en hu m M al at io n In ib e a ac et ilc ol in es te ra se A ce til co lin es te ra se (d ir et am en te ); r ec ep to re s de ac et ilc ol in a (i nd ir et am en te , au m en ta nd o a co nc en tr aç ão de a ce til co lin a na s in ap se e na j un çã o ne ur om us cu la r) N áu se a, v ôm ito s, d ia rr éi a, h ip er sa liv aç ão , pa ra lis ia m us cu la r, br ad ic ar di a A tr op in a Pr al id ox im a M er cú ri o O s co m po st os a lq ui la s ão n eu ro to xi na s di re ta s (e sp éc ie s re at iv as ); o s sa is m er cú ri co s lig am -s e ao s re sí du os d e ci st eí na n as p ro te ín as , ca us an do al te ra çõ es n a es tr ut ur a da p ro te ín a N /A Pn eu m on ite i nt er st ic ia l, co lit e m em br an os a (a gu da ); r ea çõ es ps ic ót ic as , in su fi ci ên ci a re na l, tr em or m us cu la r, de m ên ci a, pa ra lis ia c er eb ra l, re ta rd o m en ta l (c rô ni co ); t er at óg en o D im er ca pr ol Su cc ím er M et an ol Fí ga do : fo rm al de íd o C él ul as d a re tin a: á ci do f ór m ic o (n eu ro to xi na ) N /A C eg ue ir a E ta no l Fo m ep iz ol M et ild op a Pr ov oc a re aç ão a ut o- im un e N /A A ne m ia h em ol íti ca N en hu m M et oc lo pr am id a O xi da a h em og lo bi na a m et em og lo bi na H em og lo bi na C ia no se , ná us ea , ve rt ig em , vô m ito s, c ol ap so , ta qu ic ar di a, ta qu ip né ia , co m a, c on vu ls õe s e m or te A zu l de m et ile no M on óx id o de c ar bo no L ig a- se à h em og lo bi na , im pe di nd o o tr an sp or te de o xi gê ni o; d es vi a a cu rv a de s at ur aç ão d e ox ig ên io p ar a a es qu er da , im pe di nd o a lib er aç ão do o xi gê ni o H em og lo bi na C ef al éi a, i sq ue m ia c ar dí ac a (e m p ac ie nt es c om c ar di op at ia pr ee xi st en te ), a ci do se l ác tic a; s in to m as n eu ro ló gi co s, in cl ui nd o co nv ul sõ es , co m a e m or te O xi gê ni o hi pe rb ár ic o M or fi na A go ni st a op ió id e R ec ep to re s op ió id es D ep re ss ão r es pi ra tó ri a, c on st ip aç ão , ná us ea , vô m ito s, s ed aç ão , eu fo ri a, v as od ila ta çã o pe ri fé ri ca , re te nç ão u ri ná ri a, m io se , de pe nd ên ci a de d ro ga s N al ox on a M os ta rd as n itr og en ad as A lq ui la m o D N A N /A Fo rm aç ão d e ve sí cu la s cu tâ ne as ; ca rc in og ên es e N en hu m M PT P C on ve rs ão e m M PT + , um a ne ur ot ox in a N /A Si nt om as p ar ki ns on ia no s N en hu m N itr ito d e am ila O xi da a h em og lo bi na e m et em og lo bi na H em og lo bi na C ia no se , ná us ea , ve rt ig em , vô m ito s, c ol ap so , ta qu ic ar di a, ta qu ip né ia , co m a, c on vu ls õe s e m or te A zu l de m et ile no QU AD RO 5 1. 1 M ec an is m os d e To xi ci da de , A lv os /R ec ep to re s, Si na is C lín ic os e A nt íd ot os d e Ve ne no s Se le ci on ad os ( Co nt in ua çã o) Envenenamento por Fármacos e Toxinas Ambientais | 847 N itr ito s O xi da m a h em og lo bi na a m et em og lo bi na H em og lo bi na C ia no se , ná us ea , ve rt ig em , vô m ito s, c ol ap so , ta qu ic ar di a, ta qu ip né ia , co m a, c on vu ls õe s e m or te A zu l de m et ile no N itr og lic er in a O xi da a h em og lo bi na a m et em og lo bi na H em og lo bi na C ia no se , ná us ea , ve rt ig em , vô m ito s, c ol ap so , ta qu ic ar di a, ta qu ip né ia , co m a, c on vu ls õe s e m or te A zu l de m et ile no Pa ra tio n In ib e a ac et ilc ol in es te ra se A ce til co lin es te ra se (d ir et am en te ); r ec ep to re s de ac et ilc ol in a (i nd ir et am en te , au m en ta nd o a co nc en tr aç ão de a ce til co lin a na s in ap se e na j un çã o ne ur om us cu la r) N áu se a, v ôm ito s, d ia rr éi a, h ip er sa liv aç ão , pa ra lis ia m us cu la r, br ad ic ar di a A tr op in a Pr al id ox im a Pê lo s de a ni m ai s L ig aç ão c ru za da d a Ig E ; pr ov oc am r ea çã o de hi pe rs en si bi lid ad e tip o I N /A R in ite a lé rg ic a; a sm a A nt i- hi st am ín ic os G lic oc or tic ói de s Pe nt ad ec ac at ec ol Pr ov oc a re aç ão d e hi pe rs en si bi lid ad e tip o IV N /A D er m at ite d e co nt at o N en hu m Po ei ra d e ca rv ão A s pa rt íc ul as f in as i rr ita m o s pu lm õe s e as m uc os as N /A Ir ri ta çã o da s m uc os as ; ir ri ta çã o pu lm on ar ; pn eu m oc on io se N en hu m Po ei ra d e fe no Pr ov oc a re aç ão d e hi pe rs en si bi lid ad e tip o I, tip o II I N /A R in ite a lé rg ic a; b ro nc oc on st ri çã o as m át ic a; p ne um on ite d e hi pe rs en si bi lid ad e A nt i- hi st am ín ic os G lic oc or tic ói de s Pr im aq ui na O xi da a h em og lo bi na a m et em og lo bi na H em og lo bi na C ia no se , ná us ea , ve rt ig em , vô m ito s, c ol ap so , ta qu ic ar di a, ta qu ip né ia , co m a, c on vu ls õe s e m or te A zu l de m et ile no Pr oc ai na m id a Pr ov oc a re aç ão a ut o- im un e at ra vé s da i nd uç ão de a ut o- an tic or po s di ri gi do s co nt ra o D N A N /A Sí nd ro m e se m el ha nt e ao l úp us N en hu m Sa ri n In ib e a ac et ilc ol in es te ra se A ce til co lin es te ra se (d ir et am en te ); r ec ep to re s de ac et ilc ol in a (i nd ir et am en te , au m en ta nd o a co nc en tr aç ão de a ce til co lin a na s in ap se e na j un çã o ne ur om us cu la r) N áu se a, v ôm ito s, d ia rr éi a, h ip er sa liv aç ão , pa ra lis ia m us cu la r, br ad ic ar di a A tr op in a Pr al id ox im a Sí lic a A s pa rt íc ul as f in as i na la da s de s íli ca c ri st al in a de po si ta m -s e no s pu lm õe s, i nd uz in do u m a re aç ão i nf la m at ór ia N /A Fi br os e pu lm on ar ; câ nc er d e pu lm ão ; es cl er od er m ia N en hu m So m an In ib e a ac et ilc ol in es te ra se A ce til co lin es ta ra se (d ir et am en te ); r ec ep to re s de ac et ilc ol in a (i nd ir et am en te , au m en ta nd o a co nc en tr aç ão de a ce til co lin a na s in ap se e na j un çã o ne ur om us cu la r) N áu se a, v ôm ito s, d ia rr éi a, h ip er sa liv aç ão , pa ra lis ia m us cu la r, br ad ic ar di a A tr op in a Pr al id ox im a Su lf on am id as O xi da m a h em og lo bi na a m et em og lo bi na H em og lo bi na C ia no se , ná us ea , ve rt ig em , vô m ito s, c ol ap so , ta qu ic ar di a, ta qu ip né ia , co m a, c on vu ls õe s e m or te A zu l de m et ile no Ta bu n In ib e a ac et ilc ol in es te ra se A ce til co lin es te ra se (d ir et am en te ); r ec ep to re s de ac et ilc ol in a (i nd ir et am en te , au m en ta nd o a co nc en tr aç ão de a ce til co lin a na s in ap se e na j un çã o ne ur om us cu la r) N áu se a, v ôm ito s, d ia rr éi a, h ip er sa liv aç ão , pa ra lis ia m us cu la r, br ad ic ar di a A tr op in a Pr al id ox im a Ta lc o A s pa rt íc ul as i na la da s pr ov oc am f or m aç ão d e gr an ul om as N /A Fi br os e pu lm on ar N en hu m (C on ti nu a) 848 | Capítulo Cinqüenta e Um VE NE NO M EC AN IS M O DE TO XI CI DA DE AL VO /R EC EP TO R (Q UA ND O PE RT IN EN TE ) SI NA IS C LÍ NI CO S (T OD OS E XI GE M E XP OS IÇ ÕE S/ DO SE S SU FI CI EN TE M EN TE A LT AS , E A S UA O CO RR ÊN CI A NÃ O É ES PE RA DA E M T OD OS O S CO NT EX TO S) AN TÍ DO TO (Q UA ND O DI SP ON ÍV EL ) Te tr ac lo re to d e ca rb on o C on ve rt id o em r ad ic al t ri cl or o re at iv o no f íg ad o N /A H ep at ot ox ic id ad e, t ox ic id ad e re na l N en hu m Te tr ac lo ro et ile no (p er cl or oe til en o) C on ve rt id o em e sp éc ie r ea tiv a at ra vé s da a çã o de e nz im a do c ito cr om o P4 50 N /A D ep re ss ão d o SN C ( ag ud am en te ); p os sí ve l ca rc in og ên es e N en hu m To xi na b ot ul ín ic a B lo qu ei a a lib er aç ão d e ac et ilc ol in a Si na pt ob re vi na o u pr ot eí na s as so ci ad as à s in ap se Pa ra lis ia m us cu la r N en hu m T ri ni tr ot ol ue no O xi da a h em og lo bi na a m et em og lo bi na H em og lo bi na C ia no se , ná us ea , ve rt ig em , vô m ito s, c ol ap so , ta qu ic ar di a, ta qu ip né ia , co m a, c on vu ls õe s e m or te A zu l de m et ile no U ru sh io l Pr ov oc a re aç ão d e hi pe rs en si bi lid ad e tip o IV N /A D er m at ite d e co nt at o G lic oc or tic ói de s V ar fa ri na Im pe de a s ín te se d os f at or es d a co ag ul aç ão a o in ib ir a r eg en er aç ão d a vi ta m in a K E pó xi do r ed ut as e Sa ng ra m en to ; te ra to gê ni co , ca us an do d ef ei to s fa ci ai s V ita m in a K Pl as m a fr es co c on ge la do V X In ib e a ac et ilc ol in es te ra se A ce til co lin es te ra se (d ir et am en te ); r ec ep to re s de ac et ilc ol in a (i nd ir et am en te , au m en ta nd o a co nc en tr aç ão de a ce til co lin a na s in ap se e na j un çã o ne ur om us cu la r) N áu se a, v ôm ito s, d ia rr éi a, h ip er sa liv aç ão , pa ra lis ia m us cu la r, br ad ic ar di a A tr op in a Pr al id ox im a QU AD RO 5 1. 1 M ec an is m os d e To xi ci da de , A lv os /R ec ep to re s, Si na is C lín ic os e A nt íd ot os d e Ve ne no s Se le ci on ad os (C on tin ua çã o)