Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Noc¸o˜es Topolo´gicas do Plano Americo Cunha Andre´ Zaccur De´bora Mondaini Ricardo Sa´ Earp Departamento de Matema´tica Pontif´ıcia Universidade Cato´lica do Rio de Janeiro 1 Distaˆncia entre dois pontos do plano Um sistema de coordenadas cartesiano em R2 (no plano) e´ definido por um par de eixos perpendiculares (eixo x e eixo y) que possuem uma mesma origem O. Num sistema de coordenadas desse tipo, um ponto P ∈ R2 e´ representado por um par ordenado da forma (xp, yp), como ilustrado na Figura 1. x y P xp yp Figura 1: Representac¸a˜o cartesiana de um ponto do plano. A distaˆncia entre A = (xa, ya) e B = (xb, yb), dois pontos do plano, e´ dada por d(A,B) = √ (xb − xa)2 + (yb − ya)2. (1) Para verificar a origem da fo´rmula acima, assumindo que a distaˆncia entre dois pontos na reta e´ dada pelo mo´dulo da diferenc¸as entre eles, vamos considerar o triaˆngulo retaˆngulo ilustrado na Figura 2. 1 x y A xa ya B xb yb Figura 2: Distaˆncia entre dois pontos do plano. A distaˆncia entre os pontos A e B, denotada por d(A,B), corresponde a` hipote- nusa desse triaˆngulo retaˆngulo, enquanto que os catetos tem comprimentos |xb−xa| e |yb − ya|. Logo, pelo teorema de Pitagoras[ d(A,B) ]2 = (xb − xa)2 + (yb − ya)2, (2) que equivale a d(A,B) = ± √ (xb − xa)2 + (yb − ya)2. (3) Como a distaˆncia entre dois pontos e´ sempre na˜o negativa, podemos descartar a fo´rmula com sinal negativo antes da raiz. Com isso mostramos que a distaˆncia entre os pontos A e B e´ dada pela Eq.(1). Exerc´ıcio 1.1 Mostre que a func¸a˜o distaˆncia satisfaz as seguintes propriedades: • d(A,B) ≥ 0 • d(A,B) = 0 se e somente se A = B • d(A,B) = d(B,A) • d(A,B) ≤ d(A,C) + d(C,B) onde C = (xc, yc) 2 2 Sequeˆncia de pontos no plano Uma sequeˆncia em R2 e´ uma lista ordenada de pontos da forma Pn = (xn, yn) onde n = 1, 2, 3, · · · . Logo, xn e yn sa˜o sequeˆncias de nu´meros reais (que voceˆ estudou em Ca´lculo 1). Exemplos • Pn = (n, n2) • Pn = (2, (−1)n) • Pn = (n, pi) • Pn = ( 3n3 + n2 + 7 2n3 + n+ 1 , 4n3 + 8 7n4 + 1 ) • Pn = ( sin ( 1 n + pi 2 ) , 1 n cos ( n3 + n+ 1 )) Uma sequeˆncia de pontos Pn = (xn, yn) converge a um ponto P∞ = (x∞, y∞) do plano, se a distaˆncia d(Pn, P∞) converge a zero, i.e., lim n→∞ d(Pn, P∞) = 0. Nesse caso dizemos que P∞ e´ o limite de Pn quando n→∞ e escrevemos lim n→∞ Pn = P∞. (4) A quantidade d(Pn, P∞) define uma sequeˆncia de nu´meros reais. A convergeˆncia dessa sequeˆncia pode ser analisada pelos resultados estudados em Ca´lculo 1. Considere a sequeˆncia Pn = (e −n/4 cosn, e−n/4 sinn). Vamos mostrar que essa sequeˆncia converge ao ponto P∞ = (0, 0). De fato, d(Pn, P∞) = √ (e−n/4 cosn− 0)2 + (e−n/4 sinn− 0)2 = √ e−n/2 ( cos2 n+ sin2 n ) = e−n/4, donde lim n→∞ d(Pn, P∞) = lim n→∞ e−n/4 = 0. Se uma sequeˆncia Pn = (xn, yn) na˜o tem limite, dizemos que ela diverge. Um caso especial de divergeˆncia ocorre quando a distaˆncia de Pn a` origem O = (0, 0) for para o infinito, i.e., lim n→∞ d(Pn, O) = ∞. Nesse caso dizemos que Pn vai para o infinito. 3 Exerc´ıcio 2.1 Calcule o limite (caso exista) de cada uma das sequeˆncias abaixo: • Pn = (n, n2) • Pn = (2, (−1)n) • Pn = (n, pi) • Pn = ( 3n3 + n2 + 7 2n3 + n+ 1 , 4n3 + 8 7n4 + 1 ) • Pn = ( sin ( 1 n + pi 2 ) , 1 n cos ( n3 + n+ 1 )) • Pn = ( pi + 1/n, 1− 1/n) • Pn = ( n, (−1)n) • Pn = ( cos (e−n), sin (e−n) ) • Pn = ( cos (2pin), sin (2pin+ pi/2) ) Exerc´ıcio 2.2 Considere Pn = ( xn, f(xn) ) , onde f : R → R e´ uma func¸a˜o cont´ı- nua e xn sequeˆncia de nu´meros reais que converge a 1. (a) Calcule (caso exista) o limite de Pn quando n→∞. (b) Explicite treˆs exemplos de Pn como acima. 4 3 Regio˜es abertas e fechadas O disco aberto de centro C = (xc, yc) e raio r > 0 e´ o conjunto dos pontos P = (x, y) em R2 tais que d(C,P ) < r, (5) ou seja √ (x− xc)2 + (y − yc)2 < r. (6) A u´ltima inequac¸a˜o equivale a (x− xc)2 + (y − yc)2 < r2, (7) cuja interpretac¸a˜o geome´trica e´ apresentada na Figura 3. O referido conjunto esta´ na cor cinza (a linha tracejada na˜o faz parte do conjunto). x y C xc yc r Figura 3: Disco aberto de centro C e raio r > 0. O disco fechado de centro C = (xc, yc) e raio r > 0 e´ o conjunto dos pontos P = (x, y) em R2 tais que d(C,P ) ≤ r, (8) ou seja √ (x− xc)2 + (y − yc)2 ≤ r, (9) ou, ainda, (x− xc)2 + (y − yc)2 ≤ r2. (10) Agora o c´ırculo de centro C e raio r faz parte do conjunto, como ilustrado na Figura 4. 5 x y C xc yc r Figura 4: Disco fechado de centro C e raio r > 0. Dado uma regia˜o D ⊆ R2, dizemos que um ponto P ∈ D e´ um ponto de fronteira de D se todo disco aberto de centro P e raio r > 0 contiver pontos que esta˜o em D e pontos que na˜o esta˜o em D. Se P na˜o for ponto de fronteira de D existem duas possibilidades: 1. existe um disco aberto de centro P e raio r > 0 que conte´m somente pontos de D; 2. existe um disco aberto de centro P e raio r > 0 que conte´m somente pontos que na˜o pertencem a D. No primeiro caso P e´ dito um ponto interior de D, enquanto que no segundo caso P e´ dito um ponto exterior de D. Como exemplo, considere a regia˜o D = { (x, y) ∈ R2 ∣∣ a ≤ x ≤ b e c ≤ y ≤ d} , e os pontos A, B, C e D, todos ilustrados na Figura 5. x y a b c d A B C D Figura 5: Um exemplo de classificac¸a˜o de pontos do plano. 6 Claramente, a regia˜o D e´ um retaˆngulo. Os pontos B e C, que esta˜o respectiva- mente numa aresta e num ve´rtice de D, sa˜o pontos de fronteira, pois qualquer disco aberto centrado num desses pontos possui elementos de D e elementos que na˜o esta˜o em D. Note que A e´ ponto interior, pois existe um disco aberto centrado em A que possui somente elementos de D. Finalmente, o ponto D e´ exterior, pois existe um disco aberto centrado nele que na˜o conte´m elementos de D. A partir das caracterizac¸o˜es acima definimos as noc¸o˜es de regia˜o aberta e regia˜o fechada no plano. Uma regia˜o D e´ aberta se conte´m somente pontos interiores, i.e., na˜o conte´m nenhum ponto de fronteira. Vejamos dois exemplos (ilustrados na Figura 6): • D1 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ |x| < 2, |y| < 2 e x2 + y2 > 1} • D2 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ x > y2} 1−1 2−2 x y (a) D1 x y (b) D2 Figura 6: Exemplos de regio˜es abertas. Se uma regia˜o D contiver todos os seus pontos de fronteira ela e´ chamada de fechada. Vejamos dois exemplos (ilustrados na Figura 7): • D3 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ 1 ≤ x2 + y2 ≤ 4} • D4 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ y = x} 7 1−1 2−2 x y (a) D3 1 1 x y (b) D4 Figura 7: Exemplos de regio˜es fechadas. Note que a regia˜o D3 possui pontos interiores e de fronteira, enquanto que D4 possui somente pontos de fronteira. O interior e a fronteira das regio˜es acima podem ser caracterizados pelas equac¸o˜es e/ou inequac¸o˜es que os definem. Por exemplo, o interior de D1 e´ definido pelas inequac¸o˜es |x| < 2, |y| < 2 e x2 + y2 > 1. Ja´ a fronteira de D1, que na˜o faz parte da regia˜o, e´ caracterizada pela unia˜o das curvas • L1 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ x = 2 e − 2 ≤ y ≤ 2}, • L2 = { (−2, y) ∈ R2 ∣∣∣ − 2 ≤ y ≤ 2}, • L3 = { (x, 2) ∈ R2 ∣∣∣ − 2 ≤ x ≤ 2}, • L4 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ y = −2 e − 2 ≤ x ≤ 2}, • L5 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ y = √1− x2 e − 1 ≤ x ≤ 1}, • L6 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ y = −√1− x2 e − 1 ≤ x ≤ 1}, onde cada uma dessas curvas e´ definida em termos de gra´ficos de func¸o˜es (na varia´vel x ou na varia´vel y), i.e., a fronteira de D1 e´ L1 ∪ L2 ∪ L3 ∪ L4 ∪ L5 ∪ L6. No caso do conjunto D3, a fronteira e´ definida por C1 ∪ C2 onde • C1 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ x2 + y2 = 1}, 8 • C2 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ x2 + y2 = 4}. Ja´ o interior de D3 e´ definido pelas inequac¸o˜es 1 < x2 + y2 e x2 + y2 < 4. Em geral, um conjunto definido por uma inequac¸a˜o da forma g(x, y) ≤ 0 tem interior caracterizado por g(x, y) < 0 e fronteira por g(x, y) = 0. Atenc¸a˜o: existem regio˜es que na˜o sa˜o abertas nem fechadas (pense em alguns exemplos). Se uma regia˜o D esta´ contida num disco enta˜o ele e´ dita limitada. Nos exemplos acima sa˜o limitadas as regio˜es D1 e D3. Ja´ as regio˜es D2 e D4 sa˜o ilimitadas, pois nenhum disco as conte´m. Chama-se de compacta uma regia˜o que e´ fechada e limitada. A u´nica regia˜o compacta entre os exemplos acima e´ D3. Vejamos agora um u´ltimo exemplo. Considere a regia˜o do plano definida por D5 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ x ≥ 0 e x ≤ y ≤ ecosx} , ilustrada na Figura 8. x y x0 y0 Figura 8: Regia˜o D5. Essa regia˜o pode ser escrita como um conjunto onde x varia num intervalo nu- me´rico e y varia entre duas func¸o˜es de x, i.e., D5 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ 0 ≤ x ≤ x0 e x ≤ y ≤ ecosx} , onde x0 e´ a soluc¸a˜o de x = e cosx. Tambe´m e´ poss´ıvel descrever D5 como a unia˜o de dois conjuntos onde y varia num intervalo nume´rico e x varia entre duas func¸o˜es de y, i.e., D5 = R1 ∪R2 onde R1 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ 0 ≤ y ≤ y0 e 0 ≤ x ≤ y} , e 9 R2 = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ y0 ≤ y ≤ e e 0 ≤ x ≤ cos−1 (ln y)} . sendo y0 = x0 e e = exp (1) = 2, 718281828459045 · · · . Exerc´ıcio 3.1 Considere as regio˜es exibidas na Figura 9. (a) Explicite os conjuntos as definem. (b) Classifique-as quanto a`s noc¸o˜es de: aberto, fechado, limitado. Lembre-se: fechado e limitado e´ dito compacto. x y 2 x y 4−4 2 −2 x y x y Figura 9: Regio˜es do exerc´ıcio 4.1. Exerc´ıcio 3.2 Descreva as regio˜es abaixo na forma D = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ a ≤ x ≤ b e f(x) ≤ y ≤ g(x)} , explicitando a, b, f e g. Fac¸a um esboc¸o dessas regio˜es e encontre a projec¸a˜o orto- gonal no eixo x. • D = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ |x| ≤ y ≤ 1− x2} • D = { (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ |x| ≤ y ≤ √1− x2} 10 Exerc´ıcio 3.3 Escreva a fronteira de cada uma das regio˜es acima como a unia˜o de duas curvas C1 e C2, C1 ∪ C2, onde cada curva dessas curvas e´ dada por{ (x, y) ∈ R2 ∣∣∣ y = f(x) e a ≤ x ≤ b} . Em cada caso explicite a, b e f . 4 Topologia no espac¸o As noc¸o˜es definidas acima (aberto, fechado e limitado) podem ser generalizadas para regio˜es no espac¸o considerando que a distaˆncia entre os pontos A = (xa, ya, za) e B = (xb, yb, zb) e´ dada por d(A,B) = √ (xb − xa)2 + (yb − ya)2 + (zb − za)2. (11) Consequentemente, a noc¸a˜o de disco e´ naturalmente estendida para a noc¸a˜o de bola. Assim, definimos a bola fechada de centro C = (xc, yc, zc) e raio r > 0 como o conjunto dos pontos P = (x, y, z) em R3 tais que d(C,P ) ≤ r, (12) ou seja (x− xc)2 + (y − yc)2 + (z − zc)2 ≤ r2. (13) Uma ilustrac¸a˜o dessa bola pode ser vista na Figura 10. x y z C xc yc zc Figura 10: Bola fechada de centro C e raio r > 0. 11