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Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 33 3. Operações preliminares do processo de industrialização da cana. 3.1. Introdução. As primeiras etapas do processo de produção do açúcar e do álcool é incluída no item Operações Preliminares da industrialização da cana de açúcar, pois refere-se a atividades, desde as desenvolvidas no campo envolvendo a avaliação do estágio de maturação da cana, o corte e carregamento, até o transporte e descarregamento, já dentro do parque industrial da usina. 3.2. Avaliação do estágio de maturação da cana-de-açúcar. A cana-de-açúcar constitui-se de uma gramínea caracterizada pela elevada eficiência fotossintética (plantas de ciclo C4), que acumula sacarose como carboidrato de reserva no interior de células que constituem o tecido parenquimatoso dos colmos. O início do acúmulo de sacarose ou a passagem da planta do estágio vegetativo ao estágio de maturação é estimulada pela deficiência hídrica ou deficiência térmica ou ambas. Existem vários métodos para avaliar a qualidade da cana. Os que baseiam-se em análises tecnológicas apresentam bons resultados. Como pode-se observar na Figura 3.1, o acúmulo de sacarose na cana é característico. Assim que a planta deixa o estágio vegetativo, iniciando o processo de maturação, o teor de sacarose na planta aumenta progressivamente até determinado valor, o qual é definido como ponto de máximo. Em seguida inicia-se um processo de hidrólise ou inversão da sacarose por enzimas da própria planta (obtenção de energia para os processos vitais), fazendo com que o teor total do açúcar na planta decresça progressivamente. Esses teores plotados em função do tempo fornecem a curva de maturação da cana. Conhecendo-se essa curva e definindo-se o teores mínimos de sacarose, que as variedades devam apresentar, ao passar para o estágio de maturação, que permitam às canas serem industrializadas, é possível definir a época da safra e a duração do período em que a mesma possa ser cortada. Esse período varia para as diferentes variedades e é definido como Período Útil de Industrialização (PUI). Considerando que a safra de cana tem duração média 220 dias, é possível agrupar e classificar as variedades segundo a duração do seu PUI. Dessa forma, as variedades podem ser classificadas em de PUI curto (70 - 110 dias), de PUI médio (110- 150 dias) e de PUI longo (> 150 dias). Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 34 Figura 3.1. Curvas de maturação de variedades precoces, médias e tardias. Outro critério utilizado para a classificação das variedades leva em consideração a época em que as mesmas passam a apresentar o teor mínimo de sacarose estabelecido que permita a sua industrialização. Por esse critério, e considerando as regiões centro-sul do Brasil, tem-se variedades precoces (aquelas que apresentam condições de corte nos meses de maio a junho), variedades médias (acham-se aptas à industrialização nos meses de julho a agosto) e variedades tardias (apresentam condições de corte nos meses de setembro a novembro). Uma terceira forma de se classificar as variedades de cana-de-açúcar baseia-se no potencial da mesma em acumular sacarose. Assim, pode-se classificá-las em variedades ricas, variedades médias e variedades pobres. Esse terceiro tipo de classificação pode ser adotado quando se trabalha com manejo de variedades, o qual permite conhecer o comportamento de cada uma das variedades disponíveis nas diferentes condições que se fizerem presentes. De posse dessas informações é possível se estabelecer um plano de colheita procurando-se, ao longo de toda a safra cortar talhões que estejam o mais próximo possível do seu ponto máximo de acúmulo de sacarose. Entretanto, apenas o teor de sacarose da cana para a indústria não é suficiente. Assim, além da Pol (% aparente de sacarose no caldo), outras variáveis são consideradas nessa avaliação (% A. R. no caldo, Fibra %, cana e Pureza do caldo). Os valores dessas variáveis, utilizados como parâmetros para avaliação do estágio de maturação da cana, variam em função das variedades cultivadas, tipo de solo, condições climáticas, ano agrícola e época de safra. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 35 Na Tabela 3.1 são apresentadas algumas variáveis tecnológicas e seus respectivos valores para o início de safra e decorrer da safra, sugeridas como parâmetros para a avaliação do estágio de maturação da cana baseados em análise tecnológica. Tabela 3.1. Parâmetros utilizados na avaliação do estágio de maturação da cana-de-açúcar. Variáveis Parâmetros Início de safra Decorrer da safra Brix % C.E. 18,0 18,0 Pol % C.E. 14,4 15,3 A.R. % C.E. 1,5 1,0 Pureza Aparente 80 85 Essa avaliação técnica deve ser realizada em dois estágios: uma inicial em condições de campo, quando se determina a % de sólidos solúveis no caldo da porção mediana dos colmos (Brix determinado ao refratômetro de campo) amostrados no talhão. Se os resultados obtidos excederem o valor 18, isso é um indicativo de que o referido talhão tem condições para ser submetido às análise tecnológicas em laboratório. Nesse caso, coleta-se, ao acaso, de 15 a 20 colmos por talhão, que serão analisados, sendo os resultados obtidos confrontados com os parâmetros apresentados na Tabela 3.1. 3.3. Corte da cana-de-açúcar. O corte da cana-de-açúcar pode ser realizado manualmente com o auxílio de um podão ou mecanicamente através de colhedoras de cana. Em regiões de topografia acidentada não existe outra possibilidade a não ser o corte manual. Para o Estado de São Paulo, as áreas cultivadas com cana-de-açúcar possibilitam as duas opções, sendo que as de topografias planas são reservadas à colheita mecanizada, cuja participação tem aumentado nos últimos anos em função de serem elevados os encargos sociais que incidem sobre a contratação de pessoal para a realização do corte e devido ao avanço tecnológico e melhoria do desempenho que têm apresentado as colhedoras mecânicas que estão sendo lançadas no mercado. O corte manual normalmente é efetuado em cana que foi submetida à queimada, normalmente realizada na tarde do dia anterior. Essa operação, embora seja desvantajosa para a indústria em termos de rendimento e qualidade da matéria prima, é adotada pelo setor por aumentar o rendimento, especialmente do corte manual, além de expor menos os trabalhadores à ação de animais peçonhentos (abelhas, cobras, etc.). Uma vez queimada a cana, seu corte resume-se apenas na incisão do podão na base do colmo bem rente ao solo, procurando-se reduzir ao máximo, a ocorrência de “bituca” no campo. No Estado de São Paulo são cortadas manualmente cinco linhas de cana por cortador, sendo os colmos amontoados na terceira linha, formando montes de volumes suficientes para que sejam apreendidos pelas garras hidráulicas que, acopladas a tratores, Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 36 executam a operação de carregamento dos colmos sem que seja necessário o rastelamento dos mesmos. Figura 3.2. Queimada da cana. Jaboticabal, SP, 1999. Figura 3.2. Corte manual de cana queimada. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 37 Figura 3.3. Corte manual de cana crua. No caso do corte mecanizado existem máquinas que dispensam a queimada da cana. Cortam, despalham e depositam o colmo na leira para posterior carregamento ou picam os mesmos em toletes, dispondo-os em carretas ou nos próprios caminhões transportadores. As vantagens desse sistema estão no menor custo, menos encargos sociais, possibilidade de se evitar as queimadas, reduzindo os danos causados ao ambiente. Como desvantagens pode-se citar a necessidade de mão de obra mais qualificada, de solo com topografia plana, além de o investimento inicial ser elevado. Figura 3.4. Corte mecanizado de cana crua picada. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 38 3.4. Carregamento. O carregamento da cana-de-açúcar pode ser manual ou mecanizado. O carregamento manual necessita que haja o enfeixamento prévio da cana, para que os feixes, contendo em torno de 20 colmos possam ser dispostos nos veículos transportadores. Para tanto, deve-se dispor de 4 pessoas, duas no veículo transportador e duas no solo. Nesse caso, a carga é montada feixe a feixe. É um processo quase que artesanal, demorado e de custo elevado, adequando-se apenas a indústrias de pequeno porte. A vantagem desse sistema é que como os feixes são dispostos de forma ordenada, é possível, num mesmo volume transportar uma maior quantidade de matéria prima. Foto 3.5. Carregamento manual de cana crua enfeixada. O carregamento mecanizado é o sistema de descarregamento adotado por indústrias de médio e grande porte. O equipamento utilizado constitui-se de garras hidráulicas acopladas a tratores, as quais apreendem um determinado volume de cana, elevam-no e o descarregam nos veículos transportadores. Esse sistema apresenta rendimento muito bom, porém é necessário que seja feito o amontoamento da cana cortada para que se forme um volume suficiente que permite a sua apreensão pelas garras hidráulicas da carregadora. Mais recentemente, a Copersucar desenvolveu equipamento que efetua o carregamento da cana enleirada, sem incorporar quantidades excessivas de terra à matéria prima, o que deprecia por demais sua qualidade, resultando no comprometimento do rendimento do processo industrial. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 39 Figura 3.6. Carregamento mecanizado de cana inteira queimada – Vista frontal. Figura 3.7. Carregamento mecanizado de cana inteira queimada – Vista lateral. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 40 Figura 3.8. Carregamento mecanizado de cana picada via transbordo. 3. 5. Transporte. São vários os sistemas de transporte da cana-de-açúcar do campo para a indústria. A adoção de um determinado sistema varia de acordo com as peculiaridades da região produtora. Dessa forma, os seguintes sistemas são encontrados no Brasil: - Transporte em lombo de animal - característico de regiões montanhosas do Estado do Rio de Janeiro e algumas regiões do Nordeste. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 41 Figura 3.9. Transporte intermediário da cana-de-açúcar com catracas e tração animal – Região Nordeste – Brasil. - Transporte ferroviário - existe em várias regiões do Brasil. Já foi mais adotado, mas cedeu lugar ao transporte rodoviário a partir da década de 60 quando houve grande incentivo à indústria automobilística por ocasião da sua implantação no país, através do aumento e melhoria da malha viária existente. É um sistema de transporte de custo reduzido pela grande quantidade de produto transportado a cada viagem. Há gastos com manutenção dos veículos e das linhas férreas que fica a cargo do interessado. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 42 Figura 3.10. Transporte ferroviário de cana-de-açúcar adotado no Vietnã. - Transporte hidroviário - esse sistema de transporte também é de custo reduzido em decorrência da grande quantidade de matéria prima transportada a cada viagem. Há despesas apenas a manutenção dos veículos transportadores (barcaças). Entretanto, tem-se a necessidade de dispor de um sistema de hidrovia adequado, o que constitui-se no fator limitante. No Estado de São Paulo, a Usina Diamante utiliza-se desse sistema, cujo percurso se faz na Hidrovia Tietê - Paraná. Figura 3.11. Transporte hidroviário da cana-de-açúcar adotado no México. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 43 Figura 3.12. Vista aérea de barcaça empregada no transporte de cana-de- açúcar. Usina Diamante – SP – Brasil. - Transporte rodoviário - é o mais empregado no Estado de São Paulo. Entretanto necessita de uma malha viária adequada, que possibilite o transporte de caminhões de carga em grande número. Os veículos empregados podem ser: caminhões (“toco”, “truck”, “truck” tracionando uma carreta ou “truck” tracionando duas carretas) ou tratores tracionando uma ou duas carretas. Figura 3.13. Caminhão Truck tracionando duas carretas para o transporte de cana-de-açúcar – “Treminhão” – Lotação 45 toneladas. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 44 Em regiões de difícil acesso existem associações de sistemas como transporte em lombo de animais até um carreador principal, passando a carretas tracionadas por tratores ou caminhões que conduzem a matéria prima até a indústria. Para o caso de regiões pantanosas, como as que ocorrem aos sul do Estados Unidos da América do Norte, o meio de transporte adotado é o aeroviário, sendo a cana transportada através de balões. Em algumas regiões de difícil acesso em Cuba, são empregados cabos aéreos, que suportam guindastes responsáveis pelo transporte da cana. O custo do transporte varia de acordo com o sistema adotado, que por sua vez depende das peculiaridades da região canavieira. Entretanto, o que ocorre é uma relação inversa entre o custo do transporte e a quantidade de matéria prima transportada, ou seja, quanto maior a quantidade transportada por viagem menor será o custo do sistema. Dessa forma, os menores custos ocorrem quando se empregam o sistema hidroviário ou ferroviário. Outro aspecto que deve ser considerado em relação ao transporte é a distância a ser percorrida. Estudos econômicos realizados, para o transporte rodoviário, limitam a distância máxima em 20 km. Acima disso, o sistema torna-se antieconômico. 3.6. Pesagem e amostragem da matéria prima. Logo na entrada do parque industrial, os veículos transportadores passam pela balança, onde se realiza a pesagem da matéria prima. Essa operação é feita com o objetivo de se ter o total controle da quantidade de cana-de-açúcar que chega à indústria. Também essa etapa do processo é muito importante pois é nela que se realiza a identificação e quantificação da matéria prima própria e de fornecedores, além da definição dos pontos de retirada de amostra do material. O controle realizado é empregado como base, juntamente com os resultados das análises tecnológicas, para o pagamento da cana recebida. Assim, veículo ao chegar na indústria é pesado, sendo registrado seu peso bruto. Após a amostragem da matéria prima para análises tecnológicas e descarregamento, o veículo, então vazio, passa novamente pela balança, onde é registrada a tara. Com essas duas informações fica simples quantificar a matéria prima que entrou no processo. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 45 Figura 3.14. Pesagem cana ao entrar na usina. Detalhe de um caminhão trucado tracionando duas carretas – “Treminhão” Figura 3.15. Amostragem de matéria prima para análise tecnológica realizada através de sondagem lateral, empregando-se Sonda Marca Codistil. 3.7. Descarregamento. Nas usinas brasileiras os sistemas adotados com maior freqüência são o guindaste lateral móvel (guindaste tipo Hilo), o guindaste não rotativo móvel (ponte rolante) e o basculamento lateral. Entretanto, além desses, são possíveis os seguintes equipamentos: - guindastes rotativos fixos auto-sustentáveis; - guindastes rotativos fixos sustentados por cabos; Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 46 - raspadores alternativos ou contínuos; - basculamento de topo. Figura 3.16. Guindaste rotativo fixo auto-sustentável. México. Figura 3.17. Guindaste rotativo fixo sustentado por cabos. México. O guindaste tipo Hilo, constitui-se de 4 cabos de aço, os quais têm uma de suas extremidades presas por ganchos nas bordas das mesas laterais e a outra ao moitão que, através de um cabo de aço, comunica-se com o motor responsável pelo acionamento do guindaste. Os cabos de aço que partem do moitão passam por sob a carga de cana a ser descarregada, nos pontos entre os fueiros da carroceria ou vagão transportador. O levantamento do moitão tensiona os cabos por sob a carga de cana, esticando-os. Com isso, a carga é retirada dos veículos e colocadas sobre a mesa lateral. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 47 Figura 3.18. Descarregamento de cana por guindaste tipo Hilo. A ponte rolante, por sua vez, além do descarregamento, através da remoção da cargas por elevação, também transportam-nas envoltas por cabos de aço aos locais desejados dentro do seu raio de ação. Assim, a cana descarregada pela ponte rolante pode ser disposta sobre a mesa lateral ou conduzida e disposta no galpão onde se faz o provisionamento para a moagem noturna. Figura 3.19. Sistema de descarregamento de cana por ponte rolante adotado em unidades industriais de pequeno porte. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 48 Figura 3.20. Sistemas de descarregamento de cana (guindaste tipo hilo e ponte rolante). Usina São Carlos – Jaboticabal – SP – Brasil, 1999. O guindaste tipo Hilo é utilizado tanto para descarregar a cana sobre a mesa lateral de alimentação da esteira principal como para descarregar a cana utilizada no provisionamento efetuado em pátio. Nesse caso, pelo menos dois guindastes são necessários. Um instalado próximo à mesa lateral e outro próximo ao pátio. O transporte e disposição da cana no pátio além da sua introdução no processo de fabricação são executados por tratores dotados de garras hidráulicas. Figura 3.20. Sistema de descarregamento de cana por basculamento lateral da carroceria. Usina Costa Pinto – Piracicaba – SP – Brasil. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 49 3.7. Provisionamento. O provisionamento de cana para a moagem noturna faz-se necessário uma vez que o corte da cana, em sua grande maioria, realiza-se apenas durante o dia. Dessa forma, como as indústrias operam 24 horas por dia, deve-se providenciar matéria prima para viabilizar esse funcionamento de forma ininterrupta. O armazenamento da cana-de-açúcar pode ser efetuado em galpão ou em pátios. Nos galpões as cargas de cana são amontoadas umas sobre as outras, o que se torna um problema operacional uma vez que a primeira carga que entra no galpão será a última a sair, aumentando o tempo de armazenamento e a queda da qualidade. A vantagem desse sistema é que como as cargas são sobrepostas, a área necessária para se construir o galpão é menor do que a necessária para se construir o pátio. Nos pátios as cargas são dispostas lado a lado segundo a ordem de chegada, a qual é respeitada quando do seu ingresso no processo de industrialização. A área necessária é maior, além da necessidade de se dispor de tratores que farão toda a movimentação das cargas. Além disso, a falta de habilidade dos operadores dessas máquinas pode danificar grandes quantidades de colmos através do esmagamento. Assim, são expostas as partes internas dos colmos que, com a incorporação de terra, tem sua deterioração acelerada. Figura 3.21. À frente, Sistema de armazenamento de cana em Pátio. Ao fundo Sistema de armazenamento em Galpão. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 50 Segundo HUGOT a quantidade de cana que deve ser reservada para a moagem noturna pode ser calculada através da seguinte equação: P = 12C + A, onde: P = provisionamento (TC). C = capacidade de moagem (TCH). A= fator de segurança (A = 3C). 3.8. Armazenamento. Devemos evitar o armazenamento da matéria-prima pois trata-se de material que se deteriora com grande facilidade. Causas ambientais ou acidentais podem provocar acúmulo de matéria-prima no pátio das unidades, como por exemplo: - ambiental: chuva - acidental: quebra da moenda - criminal: greve na empresa. Algumas modificações podem ocorrer nos colmos de cana durante o armazenamento. Entretanto, os mais importantes são mencionados a seguir. Ressecamento dos Colmos Caracteriza-se pela perda contínua de água, aumento do teor de fibra, o que resulta em dificuldades na moagem, aumentando as perdas de sacarose no bagaço, podendo levar à obtenção de um caldo misto mais diluído, em decorrência do aumento do volume de água de embebição empregado na fase de extração. Respiração Mesmo após o corte a cana contínua respirando, diminuindo as reservas nutritivas dos colmos através do processo denominado inversão da sacarose, que se realiza em decorrência da ação do seu próprio metabolismo da planta e de microrganismos biodeterioradores. Como resultado tem-se a diminuição dos níveis de açúcares. Há influência marcante das condições climáticas locais sobre a velocidade e intensidade desse fenômeno. Assim, em regiões de clima quente e úmido, em comparação com regiões de clima frio e seco, as perdas, nessa fase, são mais acentuadas. Desenvolvimento de microrganismos Os microrganismos presentes no ar e principalmente na terra que acompanha a matéria prima vinda do campo, se desenvolvem às custas dos açúcares, ocasionando, não só redução nos seus teores, mas também a produção de metabólitos que, muitas vezes, como é o caso de ácidos orgânicos e polissacarídeos (gomas) são extremamente prejudiciais tanto no processo de fabricação do açúcar quanto do álcool. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 51 3.9. Receptores da Cana. Os equipamentos utilizados na recepção da cana, são denominados de mesas laterais de alimentação da esteira de cana. Nas usinas brasileiras existem vários tipos, os quais são mencionados a seguir. - Mesa lateral de forro fixo; - Mesa lateral de forro fixo com correntes móveis; - Mesa lateral de forro móvel; - Mesa 45º. 3.9.1. Mesa lateral de forro fixo. As cargas de cana, uma vez retiradas dos veículos transportadores pelos diferentes sistemas de descarregamento disponíveis, são colocadas sobre a mesa lateral, cujo fundo apresenta inclinação de 14-18º. As cargas subseqüentes promovem o deslocamento das cargas anteriores pela ação do seu próprio peso. Esse sistema tem como inconveniente a descontinuidade no fornecimento de cana à esteira principal que alimenta as moendas. Tal fato influencia sobremaneira na capacidade e eficiência da extração. 3.9.2. Mesa lateral de forro fixo com correntes móveis Essas mesas são horizontais e como as mesas laterais, em geral, têm 10-12 m. de comprimento e 5 a 6 m. de largura. Apresentam fendas transversais a cada 1 a 2 m. por onde se movimentam correntes com saliências que se incumbem de transportar por arraste, os colmos até a esteira principal. 3.9.3. Mesa lateral de forro móvel São mesas horizontais cujo fundo acha-se apoiado em anteparos hidráulicos que, uma vez acionados, promove a elevação do lado externo da mesa, aumentando sua inclinação em direção à esteira principal. O lado interno ou mais próximo do esteirão de cana é fixo através de parafusos formando um ponto de articulação. 3.9.4. Mesa de 45º Este receptor de cana, também é uma mesa de forro fixo com correntes móveis. Porém, diferentemente do modelo mencionado no item 3.9.2., apresenta inclinação de 45º. Esse modelo é muito adotado em usinas do Estado de São Paulo, pelo fato de que a mesma apresenta alta eficiência de lavagem da cana, pois associa o transporte da cana em pequenas quantidades a um grande volume de água de lavagem. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 52 Apresentam fendas no sentido transversal distanciada de 1 a 2 m. uma das outras, em cujo interior circulam correntes sem fim com saliências que promovem o transporte ascendente dos colmos de cana por arraste. O seu acionamento é feito por motor elétrico com comando manual. Figura 3.22. Mesa lateral de alimentação inclinada em 45 o . 3.10. Condutores de matéria-prima. Os equipamentos responsáveis pela condução da cana até as moendas e através dessas são denominados condutores de cana. À saída do último terno de moendas os equipamentos responsáveis pelo transporte da matéria prima passam então a ser denominados de transportadores de bagaço. Dessa forma os condutores de cana são agrupados como o descrito nos itens subseqüentes. 3.10.1. Esteira principal. Através das mesas laterais, os colmos de cana são conduzidos no sentido transversal até a esteira principal passando, a partir daí, a ser transportados no sentido longitudinal. A estrutura física da esteira principal é composta de 2 partes: - parte fixa: estrutura de sustentação e paredes laterais. - parte móvel: tapete rolante de taliscas metálicas fixadas através de parafusos salientes a duas ou mais correntes sem fim. Entretanto, a esteira principal como um todo pode ser dividida em 3 partes distintas : - parte horizontal - parte alimentadora (15 - 20m.) - parte elevadora - inclinação 16-22º , (10-15m de comprimento.) - queda, caída ou bicão - inclinação 40-45º e comprimento de 1,5 a 3,5 m. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 53 A movimentação da esteira principal pode ocorrer de 3 maneiras: - Ligação direta ao eixo da primeira unidade esmagadora; - Motor elétrico independente; - Motor vertical a vapor independente. Figura 3.23. Vista da esteira principal – parte horizontal. Usina São Carlos, Jaboticabal, SP. É nessa parte do processo que se realiza o preparo da cana para a moagem. Inicialmente, o colchão de cana sofre a ação um jogo de facas cujo objetivo é uniformizar a sua espessura. Esse jogo de facas também é denominado de jogo de facas nivelador. Em seguida, a cana sofre a ação de um segundo jogo de facas ou desfibrador, quando ocorre o preparo da cana propriamente dito. Esse preparo visa expor as partes internas dos colmos, onde se acumula a sacarose, o que facilitará a ação das moendas, resultando no aumento da eficiência da extração. O posicionamento desses equipamentos na esteira principal varia de uma unidade industrial para outra. Assim, as facas niveladoras podem-se posicionar no final da parte horizontal ou alimentadora e as facas preparadoras no final da parte elevadora. Outra possibilidade é o posicionamento dos dois jogos de faca na parte elevadora: um no início e o outro próximo ao final desse setor da esteira principal. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 54 O acionamento das facas pode ser realizado por motor elétrico, a vapor ou turbina a vapor. São equipamentos de alta rotação e baixa pressão. Não visam extração de forma direta, mas sim o retalhamento dos colmos de cana. Os jogos de facas acham-se envoltos por um cofre metálico cujo objetivo é evitar a projeção de pedaços de cana para fora da esteira ou mesmo pedaços de facas resultantes de quebras acidentais. Os desfibradores podem substituir os jogos de facas picadoras ou preparadores com maior eficiência. Em algumas unidades industriais os mesmos podem atuar em conjunto, ou seja, 1 jogo de facas niveladoras, 1 jogo de facas picadoras e 1 desfibrador. Estes últimos são equipamentos mais robustos e sofisticados, com os quais tem sido obtidos os melhores resultados em termos de preparo da cana. Outra possibilidade de localização desses equipamentos é o posicionamento do jogo de facas niveladoras no final da parte alimentadora (horizontal) e o jogo de facas picadoras ou desfibrador na parte média da parte elevadora, antes do local em que se acha instalado o eletroímã. O eletroímã, trata-se de um equipamento cujo objetivo é reter pedaços de ferro que por ventura acompanhem a cana, impedindo que os mesmos atinjam as moendas, o que causaria danos significativos às camisa dos cilindros. Normalmente, é posicionado no final da parte elevadora alguns centímetros acima do colchão de cana. 3.10.2. Condutores intermediários Os condutores intermediários estão localizados entre um terno e outro de moenda. Eles têm a função de transportar a cana de um terno para outro, em fluxo contínuo, num processo semelhante ao da esteira principal. Sua estrutura pode ser de borracha vulcanizada ou taliscas metálicas, de madeira com ou sem rastelos, presas por parafusos salientes à duas correntes paralelas sem fim. 3.10.3. Condutores de alimentação forçada ou "Chut Donnelly". Substituem o conhecido bicão (queda livre), tem como finalidade assegurar uma alimentação mais regular da cana na moenda e, como conseqüência, aumentar a capacidade de moagem. Esse sistema caracteriza-se por um recipiente metálico em cujo interior há o acúmulo de cana desintegrada a ser moída no respectivo terno de moendas. Em condições de funcionamento o Chut Donnelly opera sempre volumes predefinidos de cana controlados por sensores eletrônicos que, por sua vez, regulam a velocidade da esteira principal. Dessa forma, esse volume constante de cana dentro do Chut Donnelly contribui para fazer com que a cana seja forçada a passar pela abertura de entrada do terno, de forma contínua e uniforme, resultando em aumento da capacidade de moagem. O ideal é que na entrada de cada terno se disponha de um equipamento com essas características. Entretanto, existem unidades industriais que, por restrições econômicas, optam por instalá-los em um ou alguns pontos ao longo do tandem de moendas. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 55 3.10.4. Condutores de bagaço. Ao final da fase de extração tem-se, além do caldo misto, o bagaço, que se constitui em material fibroso composto principalmente de água (48 a 52%) e sacarose (0-3%). Em função dos seus poderes caloríficos, este pode ser empregado dentro do mesmo processo como fonte de energia através da sua queima nas caldeiras. A quantidade de bagaço produzida é da ordem de 250-260 Kg ton -1 . Porém nem tudo é queimado nas caldeiras. Em destilarias autônomas as sobras são maiores, porém em usinas de açúcar e álcool essa é da ordem de 10% do total originado das moendas. O excedente pode ter outras destinações, como por exemplo: ser queimado com a finalidade de gerar energia elétrica a ser fornecida às concessionárias (co-geração de energia), ser empregado na composição de ração animal após ser parcialmente hidrolisado através da elevação e quebra brusca da pressão em equipamentos específicos (bagaço parcialmente hidrolisado), como condicionador de propriedades físicas e químicas do solo, como matéria prima para a produção de isopor, plásticos e autopeças biodegradáveis ou ainda como matéria prima para a fabricação de etanol mediante hidrólise (ácida ou enzímica). Figura 3.24. Esteira de forro fixo com rastelos móveis, conduzindo bagaço das moendas às caldeiras. Usina São Carlos – Jaboticabal – SP – Brasil. Capítulo 3 Operações Preliminares MARCOS OMIR MARQUES 56 Figura 3.25. Monte excedente de bagaço. Usina São Carlos – Jaboticabal – SP – Brasil.