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Apontamentos sobre a história dos grupos escolares no Brasil e na Paraíba

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APONTAMENTOS SOBRE A HISTÓRIA DOS GRUPOS ESCOLARES 
NO BRASIL E NA PARAÍBA 
 
Biancca de Sousa Padilha* 
Déborah Stephany A. de Lima** 
Kivya M. Palmeira Damasceno*** 
Vivian Costa Venâncio da Silva**** 
Professor Éder Dantas***** 
 
Resumo 
Os Grupos Escolares emergiu num momento onde a França acabara de passar pela 
Revolução Industrial, fazendo com que os objetivos e ideais da época sofressem algumas 
transformações, dando origem a este novo modelo de educação. No Brasil, sua chegada deu-
se no final do século XIX, entre os anos 1893 e 1894, no estado de São Paulo. Fazendo 
referência aos Grupos na Paraíba podemos dizer que estes possuíram seu início em 1916, 
tendo como pioneiro o Grupo Escolar Dr. Thomás de Mindello, no centro de João Pessoa. 
Este trabalho tem como objetivo informar a sociedade acadêmica sobre a posição que os 
Grupos Escolares ocupam em relação a historia da educação do Brasil. 
Palavras Chave: Grupos escolares, Brasil, Paraíba, República. 
 
 
*Graduanda em psicopedagogia na UFPB – biancca_sousa@hotmail.com 
**Graduanda em psicopedagogia na UFPB – deborah_stephany1@hotmail.com 
***Graduanda em psicopedagogia na UFPB – kiviya.damasceno@hotmail.com 
****Graduanda em psicopedagogia na UFPB – vivian.costavenancio@gmail.com 
*****Doutor em educação. Professor Adjunto I do Departamento de Psicopedagogia/UFPB. 
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1. INTRODUÇÃO 
Este artigo tratará sobre a emersão dos Grupos Escolares no Brasil republicano, 
trazendo a história de sua criação no mundo, sua trajetória na educação brasileira, mas 
especificamente no estado da Paraíba. 
O surgimento dos Grupos Escolares no Brasil se deu no final do século XIX, momento 
em que se organizava Estado republicano e federativo brasileiro. Resultado de ações políticas 
estaduais e nacionais, o estado de São Paulo foi pioneiro na instalação deste modelo de ensino 
sistematizado, com anormatização de conteúdos disciplinares e de método pedagógico com o 
intuito de se eliminar as escolas isoladas e de se obter um maior controle sobre a educação das 
crianças, futuros cidadãos, construtores da nação. 
A leitura sobre as primeiras instituições sobre Grupos Escolares é bastante escassa. 
Em nossas pesquisas bibliográficas podemos apontar o Grupo Escolar Dr. Bernardino de 
Campos como o pioneiro, entre os anos de 1893 e 1894. Servindo de exemplo para os demais 
Grupos Escolares que surgiram pelo país nos anos seguintes. 
A educação presente na época era bem diferente da proposta pelos Grupos Escolares 
como veremos mais adiante. Mas aos pobres continuou restando as poucas possibilidades de 
educação fornecida pelo trabalho meritório e missionário de alguns mestres-escolas que 
usavam o seu próprio domicílio para o acolhimento dos alunos. 
Para ilustrar como funcionavam os Grupos Escolares através da ótica de uma 
professora, encontramos na Escola Municipal do Ensino Fundamental Seráfico da Nóbrega, 
que já foi um grupo escolar, a Professora Laurise Barbosa, ex diretora da supracitada escola 
que atualmente está aposentada. Tivemos a oportunidade de realizar uma entrevista semi-
estruturada com a mesma e coletar relatos sobre seus dias de professora nos grupos escolares 
em que exerceu sua profissão e até mesmo relatos de seus dias de aluna. 
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2. UMA VISÃO PANORÂMICA SOBRE O SURGIMENTO DOS GRUPOS 
ESCOLARES 
As Escolas Mútuas dominaram a educação primaria, até o final do século XIX, na 
Europa como no Brasil também. Neste período, todos os alunos eram reunidos em uma única 
sala tendo seus diferentes níveis de aprendizagem desconsiderados e eram orientados por 
apenas um professor. Esse tipo de escola tinha sua metodologia de ensino baseada nas teorias 
do professor inglês Joseph Lancaster, no século XVIII, onde o docente tinha como obrigação 
ser polivalente para atender seus alunos. 
A sociedade possuía uma economia baseada no campo, até meados do século XIX, 
quando ocorreu na Europa a Revolução Industrial, e assim passara agora a investir no trabalho 
urbano. Por sua vez, a urbanização que surgiu nesse período de industrialização deu origem a 
novas maneiras de vidas nos aspectos de um modelo de escola primaria: o Grupo Escolar. 
Esse modelo de instituição escolar teve origem em 1830, na França, com as 
denominações de escolas centrais, escola graduada ou grupo escolar. A moderna organização 
do ensino proposta nas escolas centrais foi adotada em muitos países europeus como a que foi 
criada em 1869 na cidade de Lisboa em Portugal. Nos primeiros anos do ensino básico, até 
finais do século XX, a rede escolar portuguesa era ainda marcada por uma forte 
predominância de escolas isoladas de um único professor no meio rural. O agrupamento de 
professores em edifícios de quatro ou mais salas deu-se nas zonas urbanas a partir da década 
de 50 do século XX, esse agrupamento poucas vezes se encontra referenciado como 
constituindo “grupo escolar”. O Modelo escolar que se prolonga da escola central do século 
XIX apresentava um modelo organizativo mais complexo com uma escolaridade obrigatória 
de oito anos, seguidos de dois anos de escola complementar facultativa em alguns estados e 
escolas mistas. Nas escolas as classes se organizavam por três níveis: inferior, médio e 
superior. Os pensamentos das escolas centrais era em um lugar de cada escola singular ter um 
só professor, onde o mesmo regia todas as disciplinas da educação e da instrução e assim 
reunirem-se três ou quatro escolas singulares numa escola central. 
Em relação ao acompanhamento dos alunos, o professor acompanha o mesmo grupo 
de alunos ao longo de diferentes níveis escolar. A arquitetura dessas instituições escolares 
compõe diretoria, secretaria, portaria, salas de aula, biblioteca, lavabos, banheiros, vestíbulos, 
ambientes para trabalhos manuais, e campos de recreação. E todos esses elementos 
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precisavam atender as finalidades de convencer, educar e vigiar em favor do ideário 
republicano. Enfim, os prédios dos grupos escolares eram construídos de acordo com os mais 
modernos preceitos pedagógicos e de higiene, sendo também modelo de arquitetura para os 
prédios públicos da capital. 
É na cidade, sem dúvida que a escola vai ter que se defrontar continuamente 
e de forma sistemática com outras formas de socialização que ora se lhe 
mostram complementares, ora francamente antagônicas, como a rua, os 
espetáculos públicos e a fábrica, por exemplo. Em relação a essas, ora se 
desenvolve uma clara hostilidade, ora a apropriação de alguns de seus 
elementos, estruturantes, ora tentativas mais ou menos frutíferas de 
escolarização, ou seja, de submetê-las à cultura escolar. 
(2003 apoud, Farias Filho 2007). 
 
3. GRUPOS ESCOLARES NO BRASIL: SEU INICIO E FIM 
 
Países como França, Estados Unidos, Espanha e Inglaterra já haviam instalado os 
Grupos Escolares obtendo êxito, antes de sua implantação no Brasil, no final do século XIX. 
Na educação brasileira, os Grupos surgiram através de Escolas Modelos, anexas às Escolas 
Normais, trazendo técnicas administrativo-pedagógicas e metodologias de ensino inovadoras. 
Os Grupos Escolares possuíam como uma de suas características fundamentais a organização 
de escolas graduadas, tornando o como padrão de ensino organizado. 
Devido às condições políticas e socioeconômicas, favoráveis à implantação deste novo 
modelo, o estado de São Paulo foi o pioneiro com a criação do Grupo Escolar Dr. Bernardino 
de Campos, o primeiro do Brasil, que atualmente funciona como E.M.E.F. Dr. Bernardino de 
Campos. Considerado um reflexo da filosofia positivista, essa nova organização de ensino 
estabeleceu-se fortemente no fim do século XIX, no ano de 1894. Sua expansão pelo território 
brasileiro
foi rápida. Os Grupos Escolares foram instalados nas zonas urbanas, mas no interior 
dos estados as Escolas Mútuas se mantiveram como maioria. As principais características dos 
Grupos Escolares que os diferenciavam das Escolas Mútuas eram: Agrupamento de alunos 
com o mesmo nível de aprendizagem; possuir professores e planos de cursos definidos para 
cada série; e ter aprovação gradual dos alunos. 
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Alguns autores sobre este tema concluem que a criação de escolas seriadas foi 
necessária para que a difusão da educação pudesse ocorrer. Com a implantação dos Grupos 
Escolares, foi observada pelos liberais republicanos que os mesmos eram como uma 
instituição de escola publica de qualidade, e seu objetivo era de elevar o Brasil ao nível dos 
países desenvolvidos. E outro ponto abordado por eles é que o surgimento dos Grupos 
Escolares significou e confirmou a concretização do capitalismo nas sociedades ocidentais em 
direção ao movimento de modernização. 
Com o passar dos anos, acontecimentos, surgimento de novas ideias e novos objetivos, 
deu-se que a partir da década de 1950, os Estados Unidos passou a enviar investimentos para 
a industrialização do Brasil. Nos anos 1960, um grande número de empresas multinacionais 
se instalaram no país fazendo com que começasse os investimentos numa educação 
profissionalizante, que foi concretizada com a aprovação da LDB n° 5692/71, que faz a 
junção do ensino primário com o ensino ginasial passando assim a existir o denominado 
Ensino de 1° Grau com duração de oito anos, e em relação ao curso colegial apenas o 
renomeou de Ensino do 2° Grau e permaneceu com a duração de três anos. 
A implantação da LDB n° 5692/71 resultou no surgimento de instituições de ensino 
para que fossem atendidos os recém-criados Ensinos de 1° e 2° Graus, abolindo assim os 
Grupos Escolares. 
 
4. GRUPOS ESCOLARES NA PARAÍBA 
 
O surgimento dos grupos escolares na Paraíba veio em decorrência de sua primeira 
implantação no Estado de São Paulo, a partir dos anos de1890 e que passou a ser um modelo 
educacional-escolar a ser adotado por todos os Estados da Federação. No entanto, entre a 
criação do primeiro Grupo Escolar Paraibano e a criação do pioneiro do Brasil, verifica-se um 
distante espaço de tempo, cerca de 20 anos. 
A implantação do primeiro Grupo Escolar se deu a partir dos anos de 1916, na cidade 
da Parahyba, atual João Pessoa, criado à luz do ideário positivista e das reformas educacionais 
propostas para aquele momento histórico. Apesar de a primeira implantação ocorrer só em 
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1916, tal fato já havia sido planejado pelo então presidente do Estado, visando à importância 
de uma renovação no que diz respeito aos métodos pedagógicos da época. 
[...] a idéia de criar grupos escolares como instituição autônoma 
remonta a 1908, quando o presidente do estado, em mensagem 
enviada à Assembléia legislativa, ressaltou a necessidade de realizar 
uma reforma na instrução pública, apontando a importância de 
criação dos grupos escolares para a ‘moderna educação’... 
(PINHEIRO, 2002, p.127) 
A instalação dos Grupos Escolares na Paraíba foi resultado das aspirações culturais 
das lideranças políticas e de alguns intelectuais que se tornaram importantes atores das 
relações e nos jogo de poder, tanto de ordem econômica quanto política e cultural entre as 
esferas municipal, estadual e federal. 
Em geral, os Grupos Escolares eram instalados no centro urbano da cidade ou em 
bairros aonde residia à elite paraibana. Situado no centro da cidade, o Grupo Escolar Dr. 
Thomás de Mindello, no centro também se encontrava o Grupo Escolar Cel. Antônio Pessôa, 
localizado na Av. Beaurepaire Rohan, mais conhecida como Av. B. Rohan. Nos chamados 
bairros nobres da capital, se situaram os Grupos Escolares: Dr. Epitácio Pessoa, no Tambiá ; 
Isabel Maria das Neves, na Av. João Machado; D. Pedro II, localizado na Rua das 
Trincheiras. 
 
Os primeiros Grupos Escolares da Paraíba 
Grupo Escolar Dr. Thomás Mindello, primeiro Grupo Escolar paraibano, situado na 
Av. Guedes Pereira no centro urbano da cidade, construído pelo arquiteto italiano Pascoal 
Fiorillo em 1916 e inaugurado no mesmo ano. O prédio foi adquirido na administração do 
então 1º vice-presidente do Estado, o Coronel Antônio da Silva Pessoa. O Grupo escolar 
recebeu esse nome devido a uma homenagem feita ao intelectual e político Dr. Thomás de 
Aquino Mindello, que foi um professor conceituado entre a elite e apontado como principal 
reformador do Lyceu Parahybano. 
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A princípio, esse Grupo Escolar foi constituído por três cadeiras e/ou escolas isoladas, 
sendo: Uma mista, para ambos os sexos e as outras duas, uma sendo para o sexo masculino e 
outra para o sexo feminino. A cadeira mista ficou sob a responsabilidade da professora Julita 
Ribeiro, a do sexo masculino a cargo do professor Sizenando Costa, e a do sexo feminino sob 
os comandos da professora Maria Isabel Dantas. A direção desse Grupo Escolar ficou sob a 
responsabilidade do professor João Alcides Bezerra Cavalcanti, que também exercia o papel 
de inspetor. Os diretores dessas instituições assumiam um importante papel na estrutura 
hierárquico-burocrática e pedagógica. Cabia a eles, organizar burocraticamente as atividades 
internas coordenando professores, inspetores, alunos e demais funcionários. 
Grupo Escolar Solon Lucena, um dos primeiros do Estado, e pioneiro da cidade de 
Campina Grande, começou a ser construído no dia 7 de janeiro de 1924, na então considerada 
principal avenida da cidade, a Floriano Peixoto, e foi inaugurada em 12 de outubro do mesmo 
ano. Vale ressaltar que o pioneiro Grupo Escolar campinense recebeu primeiramente, o nome 
de Grupo Escolar de Campina Grande, passando posteriormente, a ser denominado Grupo 
Escolar Solon de Lucena, em homenagem ao presidente do Estado. 
Segue na íntegra o decreto que valida o que foi exposto anteriormente: 
 
Denomina Solon de Lucena o grupo escolar de Campina Grande. 
 
O Dr. João Suassuna, Presidente o Estado da Parahyba, usando da atribuição que lhe 
outorga o § 1º do art. 36 da Constituição Estadual. 
Considerando que o grupo escolar de Campina Grande foi construído no governo do saudoso 
chefe Solon de Lucena e que à sua memória vem de ser prestada as mais expressivas 
homenagens pelo povo daquele município. 
DECRETA: 
Art. 1º - É denominado “Solon de Lucena” o grupo escolar da cidade de Campina Grande, 
criado pelo decreto 1.317, de 30 de setembro de 1924. 
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário. 
O Secretário do Estado faça publicar o presente decreto, expedindo as ordens e 
comunicações necessárias. 
Palácio do Governo da Parahyba, em 26 de abril de 1926, 38º da Proclamação da 
República. 
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(Ass.) João Suassuna 
A inauguração desses grupos eram divulgadas pela imprensa local. As festas de 
inauguração dos mesmos ocupavam muito tempo com as preparações, que iam desde a 
elaboração até a execução do cronograma de atividades proposto no programa, Essas festas 
marcaram ritos de passagem e a difusão de costumes, envolvendo em determinados 
seguimentos sociais, o espírito cívico, ou seja, as festas escolares se configuraram num 
acontecimento público que reunia no mesmo evento a comunidade escolar, políticos, as 
famílias dos estudantes, a imprensa e os intelectuais da época. 
Dentro do exposto, fica claro que os Grupos Escolares Dr. Thomás Mindello e o Solon 
Lucena, primeiros a serem implantados na capital paraibana e na cidade de Campina Grande, 
respectivamente, surgiram como símbolo de inovação, tanto na cidade quanto dos aspectos 
pedagógicos. Nesse sentido, as referidas instituições escolares passaram a ser seguidas como 
modelos
para as demais escolas primárias, disseminando nestas algumas das suas práticas 
inovadoras. 
 
5. MEMÓRIAS DE UMA PROFESSORA 
 
Com o intuito de compreender como funcionavam os Grupos Escolares na prática do 
dia a dia, depois de uma breve busca na cidade de João Pessoa por escolas que foram um dia 
Grupo Escolar, nós encontramos a Escola Municipal do Ensino Fundamental Seráfico da 
Nóbrega e fomos até lá em busca de uma pessoa que trabalhou na época em que a supracitada 
escola funcionava como grupo escolar. Nenhum dos atuais funcionários da escola esteve nela 
enquanto grupo escolar, porém, a atual diretora lembrou-se da ex- diretora Laurise Barbosa 
que já estava na escola nos anos em que esta funcionava como Grupo escolar. Nós pegamos o 
contato de, como nós passamos a chamá-la, D. Laurise que nos atendeu e prontamente aceitou 
conversar conosco sobre as suas experiências como professora. 
Para a coleta de dados, nós utilizamos a entrevista semi-estruturada. O encontro 
aconteceu na Escola Seráfico da Nóbrega, onde a atual gestão atenciosamente cedeu o espaço 
de uma sala e a entrevista durou por volta de 1hr10min. Estavam presentes na sala as alunas 
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pesquisadoras Kivya Damasceno, Biancca Padilha e Vivian Venâncio mais a entrevistada, 
Laurise Barbosa. 
5.1.Sobre a sua carreira 
Laurise Barbosa alfabetizou-se na cidade de Solânea- PB e depois se mudou com a 
família para Alagoinhas- PB, lá passou para um concurso e deu inicio a sua carreira de 
professora no Grupo Escolar de Alagoinhas, neste momento ela tinha o magistério, a 
graduação em pedagogia foi feita anos mais tarde. A professora compartilhou algumas de suas 
historias conosco, contou que era muito difícil ter professores no interior nessa época, mais 
que hoje e que quando entrou para o Grupo Escolar de Alagoinhas os professores de apoio 
estavam de licença e duas outras com licença gestante, desfalcando o quadro de professores. 
A diretora assumiu uma turma, mas a outra ficaria sem aulas. Assim que informaram aos 
alunos, essas crianças começaram a chorar “todas as crianças chorando por que ficariam sem 
escola”, nas palavras de D. Laurise que continua a fala “Eu disse: Maria, pelo amor de Deus, 
não mande eles pra casa não, eu fico com as duas turmas”. E num pátio adaptado, ela 
terminou o ano letivo com as duas turmas. 
Quando se mudou para João Pessoa trabalhou temporariamente no Grupo Escolar 
Santa Julia e logo foi transferida para o Grupo Escolar Presidente João Pessoa. Com a 
construção do hotel Tambaú, o edifício da escola foi demolido para dar lugar ao que hoje é o 
Centro Turístico de João Pessoa. Sendo assim, o corpo docente e discente do Grupo Escolar 
Presidente João Pessoa foi transferido para o Grupo Escolar Seráfico da Nóbrega no ano de 
1974. As historias de que se recordou desses anos surgiam como boas e saudosas lembranças 
da sala de aula e de seus alunos. Em 1991 o Grupo Escolar passou a ser Escola Municipal de 
Ensino Fundamental Seráfico da Nóbrega. Em 1988, Laurise foi eleita como diretora da 
escola, onde continuou mostrando competência até o ano de 2000. Em 2009 foi aposentada. 
No momento em que estávamos na escola, foi notório o carinho e respeito dos demais 
funcionários pela nossa entrevistada, que com muita vivacidade retribuía a todos 
atenciosamente. Emociona-se ao falar de seus ex-alunos, com os quais criou um vinculo 
afetivo, demonstrando amor pelo ato de educar. Também foi muito atenciosa conosco. 
 
 
 
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5.2.Sobre os grupos escolares 
Bem como a primeira parte da entrevista, nós continuamos a falar das experiências de 
D. Laurise, porém nesse segundo momento com um enfoque maior ao funcionamento e 
práticas do dia a dia de um Grupo Escolar, bem como as relações interpessoais estabelecidas 
fazendo uma comparação a escola atual. 
A responsabilidade dos Grupos Escolares era compartilhada entre o município e o 
governo do estado como ainda é hoje no ensino primário, fundamental e médio, tendo a 
diferença na divisão que houve em que o ensino fundamental fica sob responsabilidade do 
município e o ensino médio nas mãos do estado. Os horários de funcionamento se 
assemelham ao da escola atual. Pela manhã das 7hr às 11hr e pela tarde das 13hrs às 17hrs 
para o ensino primário, diferenciando-se no acrescimento de 30 minutos a carga horária e essa 
escola atual absorve todo o ensino fundamental. Todo Material didático tinha de ser comprado 
pelos pais das crianças; cadernos, livros e etc. A merenda escolar não tinha a mesma 
qualidade que encontramos na que é servida nas escolas hoje, não era uma boa alimentação. 
Dona Laurise comenta: “Hoje em dia o governo da tudo e eles não querem nada.” 
 Nas Avaliações havia uma predominância de provas, mas também eram feitos 
trabalhos em equipe. Na hora da redação mostravam uma figura em um painel (ex: fazenda, 
campo de futebol, praça, um passeio) para a criança ver e partindo disto criar um titulo e 
compor sua redação. As Provas finais vinham da secretaria de educação lacradas, como no 
vestibular, padronizadas para todo estado. O aluno era aprovado se alcançasse mais de 50%. 
Para ser aprovado da 1° série para a 2° série na avaliação de português, por exemplo, o aluno 
tinha de ler e interpretar um texto oralmente para uma banca examinadora, isso por que era 
exigido que a criança estivesse completamente alfabetizada para sair da 1° série. Além das 
provas das demais disciplinas, como na de historia que era feita um dissertação sobre os temas 
propostos. 
 As crianças ficavam dividas por sexo e idade, mas havia também turmas mistas. 
Quando perguntamos sobre a divisão pelo sexo ela relembrou e nos contou a seguinte historia. 
Quando Dona Laurise estava grávida do primeiro filho, no grupo escolar Santa Julia, onde 
havia acabado de chegar, a diretora disse “Minha filha o que eu faço agora? A sala de aula 
que eu tenho é uma sala de aula só masculina, não tem professora que queira pegar“ A 
resposta foi: “Pode me dar, não tem problema.” 
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Antes de nos aprofundarmos nessa temática, criamos a ideia de que nessa época eram 
aplicados castigos físicos as crianças, engano nosso. As punições neste momento não era 
aplicada através de castigos físicos. Professora Laurise dividiu conosco uma historia do seu 
tempo de estudante, em Alagoinha. As crianças iam lanchar em casa, se ela não aparecesse 
em casa na hora do lanche sua mãe já sabia que ela havia ficado sem recreio por que tinha 
‘aprontado’ alguma na escola. A punição física só acontecia quando chegava a sua casa. Ela 
aplicava o mesmo método com seus alunos, deixava o castigado na sala de aula na hora do 
recreio. Qualquer comportamento que fosse mais grave, a direção era acionada. Ela ainda nos 
confessa que se colocasse de castigo muito antes do recreio, na hora H o coração amolecia e 
ela acabava cedendo, para conseguir manter-se firme sempre segurava o máximo para só pôr 
as crianças de castigo próximo da hora de recrear, assim não tinha tempo de sentir dó. 
Comparando com a realidade atual da educação, nós perguntamos se o sistema era 
eficaz. Na opinião dela, aquela era a escola de qualidade. “Havia falhas por que em toda área 
há profissionais sem compromisso, naquela época também tinha, mas em uma escala muito 
menor. A educação foi cabide de emprego de político por muito tempo, o que gerou 
profissionais sem compromisso com educação. É o que cominou muito em aceitar todo que 
vem de cima para baixo.” 
 
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Os Grupos Escolares trouxeram para a educação e a sociedade brasileira muitas 
contribuições e mudanças. Uma delas é que sua criação possibilitou a participação da mulher 
na sociedade, uma vez que estas escolas eram
divididas em turmas masculinas e femininas, 
fazendo com que nas Escolas Normais existisse um número significativo de alunas devido à 
possibilidade de ingresso nas escolas primárias. 
No sistema educacional, a metodologia de escola graduada trouxe vantagens e 
desvantagens. Sendo a vantagem, o rendimento do aluno por causa da maneira em que as 
salas eram divididas, tornando assim o trabalho do professor homogêneo; e a desvantagem foi 
a reprovação de alunos que em decorrência do ensino gradual criou-se a imagem de aluno 
“fraco” em virtude da repetência, assim, causando evasão escolar. Foi, então, que o magistério 
tornou-se uma profissão “digna, reconhecida e edificante” (SOUZA, p.50), pois reafirmou o 
status do professor diante da sociedade. 
O atendimento dos Grupos Escolares por muitos anos foi apenas para alunos das 
classes elitistas e, só a partir da década de 1950, abriram as portas para a sociedade, devido à 
grande busca pela escolarização. Mas, no entanto, os pobres, os negros e os miseráveis 
continuaram excluídos. 
Podemos considerar que os Grupos Escolares representaram um meio de ascensão 
social, tanto para os professores que desejavam alcançar seu status profissional, quanto para 
os alunos que desejavam chegar ao ensino secundário e, futuramente, ao ensino superior. 
 Na escola atual, podemos verificar a herança histórica dos grupos escolares. Os 
professores ainda se formam para educar uma turma homogênea, usando metodologias iguais 
para indivíduos diferentes, sem levar em conta as peculiaridades de cada um, o que acarretava 
e ainda acarreta numa educação restrita apenas para aqueles que possuem condições 
favoráveis para aprender e aqueles que apresentavam dificuldades acabavam por repetir e 
abandonar a escola. A psicopedagogia entra no momento em que deve mostrar que há 
maneiras diversas de realizar os processos de ensino-aprendizagem e que as pessoas se 
desenvolvem cada uma no seu tempo, ou seja, ter a mesma idade não significa está com todos 
os aspectos do desenvolvimento iguais.
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7. REFERÊNCIAS 
 
 
LIMA, Rosângela Fontes de lima; SILVA, Vivia de Melo. História da educação na 
Paraíba: Rememorar e Comemorar. João Pessoa, PB, 2011 
 
 
PAIVA, Bruna Maria Morais de. Escolarização na primeira República: Organização e 
funcionamento do ensino noturno na Parahyba do Norte (1916- 1931) Dissertação (mestrado) 
–UFPB/CE; João Pessoa, 2010 
 
 
Apresentação da Escola Municipal do Ensino Fundamental Seráfico da Nóbrega 
 
 
Organização: STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena Câmara. Histórias e Memórias 
da Educação no Brasil Vol. III. Pág. 68. Petrópolis, RJ. Ed. Vozes, 2011 
 
Fonte: Google Books. Disponível em: 
<>.http://books.google.com.br/books?id=JY9TGY1bT3EC&printsec=frontcover&hl=ptBR&source=gbs
_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false >. Acessado em 28 de maio de 2013 as 16 horas e 04 
minutos

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