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1 APONTAMENTOS SOBRE A HISTÓRIA DOS GRUPOS ESCOLARES NO BRASIL E NA PARAÍBA Biancca de Sousa Padilha* Déborah Stephany A. de Lima** Kivya M. Palmeira Damasceno*** Vivian Costa Venâncio da Silva**** Professor Éder Dantas***** Resumo Os Grupos Escolares emergiu num momento onde a França acabara de passar pela Revolução Industrial, fazendo com que os objetivos e ideais da época sofressem algumas transformações, dando origem a este novo modelo de educação. No Brasil, sua chegada deu- se no final do século XIX, entre os anos 1893 e 1894, no estado de São Paulo. Fazendo referência aos Grupos na Paraíba podemos dizer que estes possuíram seu início em 1916, tendo como pioneiro o Grupo Escolar Dr. Thomás de Mindello, no centro de João Pessoa. Este trabalho tem como objetivo informar a sociedade acadêmica sobre a posição que os Grupos Escolares ocupam em relação a historia da educação do Brasil. Palavras Chave: Grupos escolares, Brasil, Paraíba, República. *Graduanda em psicopedagogia na UFPB – biancca_sousa@hotmail.com **Graduanda em psicopedagogia na UFPB – deborah_stephany1@hotmail.com ***Graduanda em psicopedagogia na UFPB – kiviya.damasceno@hotmail.com ****Graduanda em psicopedagogia na UFPB – vivian.costavenancio@gmail.com *****Doutor em educação. Professor Adjunto I do Departamento de Psicopedagogia/UFPB. 2 1. INTRODUÇÃO Este artigo tratará sobre a emersão dos Grupos Escolares no Brasil republicano, trazendo a história de sua criação no mundo, sua trajetória na educação brasileira, mas especificamente no estado da Paraíba. O surgimento dos Grupos Escolares no Brasil se deu no final do século XIX, momento em que se organizava Estado republicano e federativo brasileiro. Resultado de ações políticas estaduais e nacionais, o estado de São Paulo foi pioneiro na instalação deste modelo de ensino sistematizado, com anormatização de conteúdos disciplinares e de método pedagógico com o intuito de se eliminar as escolas isoladas e de se obter um maior controle sobre a educação das crianças, futuros cidadãos, construtores da nação. A leitura sobre as primeiras instituições sobre Grupos Escolares é bastante escassa. Em nossas pesquisas bibliográficas podemos apontar o Grupo Escolar Dr. Bernardino de Campos como o pioneiro, entre os anos de 1893 e 1894. Servindo de exemplo para os demais Grupos Escolares que surgiram pelo país nos anos seguintes. A educação presente na época era bem diferente da proposta pelos Grupos Escolares como veremos mais adiante. Mas aos pobres continuou restando as poucas possibilidades de educação fornecida pelo trabalho meritório e missionário de alguns mestres-escolas que usavam o seu próprio domicílio para o acolhimento dos alunos. Para ilustrar como funcionavam os Grupos Escolares através da ótica de uma professora, encontramos na Escola Municipal do Ensino Fundamental Seráfico da Nóbrega, que já foi um grupo escolar, a Professora Laurise Barbosa, ex diretora da supracitada escola que atualmente está aposentada. Tivemos a oportunidade de realizar uma entrevista semi- estruturada com a mesma e coletar relatos sobre seus dias de professora nos grupos escolares em que exerceu sua profissão e até mesmo relatos de seus dias de aluna. 3 2. UMA VISÃO PANORÂMICA SOBRE O SURGIMENTO DOS GRUPOS ESCOLARES As Escolas Mútuas dominaram a educação primaria, até o final do século XIX, na Europa como no Brasil também. Neste período, todos os alunos eram reunidos em uma única sala tendo seus diferentes níveis de aprendizagem desconsiderados e eram orientados por apenas um professor. Esse tipo de escola tinha sua metodologia de ensino baseada nas teorias do professor inglês Joseph Lancaster, no século XVIII, onde o docente tinha como obrigação ser polivalente para atender seus alunos. A sociedade possuía uma economia baseada no campo, até meados do século XIX, quando ocorreu na Europa a Revolução Industrial, e assim passara agora a investir no trabalho urbano. Por sua vez, a urbanização que surgiu nesse período de industrialização deu origem a novas maneiras de vidas nos aspectos de um modelo de escola primaria: o Grupo Escolar. Esse modelo de instituição escolar teve origem em 1830, na França, com as denominações de escolas centrais, escola graduada ou grupo escolar. A moderna organização do ensino proposta nas escolas centrais foi adotada em muitos países europeus como a que foi criada em 1869 na cidade de Lisboa em Portugal. Nos primeiros anos do ensino básico, até finais do século XX, a rede escolar portuguesa era ainda marcada por uma forte predominância de escolas isoladas de um único professor no meio rural. O agrupamento de professores em edifícios de quatro ou mais salas deu-se nas zonas urbanas a partir da década de 50 do século XX, esse agrupamento poucas vezes se encontra referenciado como constituindo “grupo escolar”. O Modelo escolar que se prolonga da escola central do século XIX apresentava um modelo organizativo mais complexo com uma escolaridade obrigatória de oito anos, seguidos de dois anos de escola complementar facultativa em alguns estados e escolas mistas. Nas escolas as classes se organizavam por três níveis: inferior, médio e superior. Os pensamentos das escolas centrais era em um lugar de cada escola singular ter um só professor, onde o mesmo regia todas as disciplinas da educação e da instrução e assim reunirem-se três ou quatro escolas singulares numa escola central. Em relação ao acompanhamento dos alunos, o professor acompanha o mesmo grupo de alunos ao longo de diferentes níveis escolar. A arquitetura dessas instituições escolares compõe diretoria, secretaria, portaria, salas de aula, biblioteca, lavabos, banheiros, vestíbulos, ambientes para trabalhos manuais, e campos de recreação. E todos esses elementos 4 precisavam atender as finalidades de convencer, educar e vigiar em favor do ideário republicano. Enfim, os prédios dos grupos escolares eram construídos de acordo com os mais modernos preceitos pedagógicos e de higiene, sendo também modelo de arquitetura para os prédios públicos da capital. É na cidade, sem dúvida que a escola vai ter que se defrontar continuamente e de forma sistemática com outras formas de socialização que ora se lhe mostram complementares, ora francamente antagônicas, como a rua, os espetáculos públicos e a fábrica, por exemplo. Em relação a essas, ora se desenvolve uma clara hostilidade, ora a apropriação de alguns de seus elementos, estruturantes, ora tentativas mais ou menos frutíferas de escolarização, ou seja, de submetê-las à cultura escolar. (2003 apoud, Farias Filho 2007). 3. GRUPOS ESCOLARES NO BRASIL: SEU INICIO E FIM Países como França, Estados Unidos, Espanha e Inglaterra já haviam instalado os Grupos Escolares obtendo êxito, antes de sua implantação no Brasil, no final do século XIX. Na educação brasileira, os Grupos surgiram através de Escolas Modelos, anexas às Escolas Normais, trazendo técnicas administrativo-pedagógicas e metodologias de ensino inovadoras. Os Grupos Escolares possuíam como uma de suas características fundamentais a organização de escolas graduadas, tornando o como padrão de ensino organizado. Devido às condições políticas e socioeconômicas, favoráveis à implantação deste novo modelo, o estado de São Paulo foi o pioneiro com a criação do Grupo Escolar Dr. Bernardino de Campos, o primeiro do Brasil, que atualmente funciona como E.M.E.F. Dr. Bernardino de Campos. Considerado um reflexo da filosofia positivista, essa nova organização de ensino estabeleceu-se fortemente no fim do século XIX, no ano de 1894. Sua expansão pelo território brasileiro foi rápida. Os Grupos Escolares foram instalados nas zonas urbanas, mas no interior dos estados as Escolas Mútuas se mantiveram como maioria. As principais características dos Grupos Escolares que os diferenciavam das Escolas Mútuas eram: Agrupamento de alunos com o mesmo nível de aprendizagem; possuir professores e planos de cursos definidos para cada série; e ter aprovação gradual dos alunos. 5 Alguns autores sobre este tema concluem que a criação de escolas seriadas foi necessária para que a difusão da educação pudesse ocorrer. Com a implantação dos Grupos Escolares, foi observada pelos liberais republicanos que os mesmos eram como uma instituição de escola publica de qualidade, e seu objetivo era de elevar o Brasil ao nível dos países desenvolvidos. E outro ponto abordado por eles é que o surgimento dos Grupos Escolares significou e confirmou a concretização do capitalismo nas sociedades ocidentais em direção ao movimento de modernização. Com o passar dos anos, acontecimentos, surgimento de novas ideias e novos objetivos, deu-se que a partir da década de 1950, os Estados Unidos passou a enviar investimentos para a industrialização do Brasil. Nos anos 1960, um grande número de empresas multinacionais se instalaram no país fazendo com que começasse os investimentos numa educação profissionalizante, que foi concretizada com a aprovação da LDB n° 5692/71, que faz a junção do ensino primário com o ensino ginasial passando assim a existir o denominado Ensino de 1° Grau com duração de oito anos, e em relação ao curso colegial apenas o renomeou de Ensino do 2° Grau e permaneceu com a duração de três anos. A implantação da LDB n° 5692/71 resultou no surgimento de instituições de ensino para que fossem atendidos os recém-criados Ensinos de 1° e 2° Graus, abolindo assim os Grupos Escolares. 4. GRUPOS ESCOLARES NA PARAÍBA O surgimento dos grupos escolares na Paraíba veio em decorrência de sua primeira implantação no Estado de São Paulo, a partir dos anos de1890 e que passou a ser um modelo educacional-escolar a ser adotado por todos os Estados da Federação. No entanto, entre a criação do primeiro Grupo Escolar Paraibano e a criação do pioneiro do Brasil, verifica-se um distante espaço de tempo, cerca de 20 anos. A implantação do primeiro Grupo Escolar se deu a partir dos anos de 1916, na cidade da Parahyba, atual João Pessoa, criado à luz do ideário positivista e das reformas educacionais propostas para aquele momento histórico. Apesar de a primeira implantação ocorrer só em 6 1916, tal fato já havia sido planejado pelo então presidente do Estado, visando à importância de uma renovação no que diz respeito aos métodos pedagógicos da época. [...] a idéia de criar grupos escolares como instituição autônoma remonta a 1908, quando o presidente do estado, em mensagem enviada à Assembléia legislativa, ressaltou a necessidade de realizar uma reforma na instrução pública, apontando a importância de criação dos grupos escolares para a ‘moderna educação’... (PINHEIRO, 2002, p.127) A instalação dos Grupos Escolares na Paraíba foi resultado das aspirações culturais das lideranças políticas e de alguns intelectuais que se tornaram importantes atores das relações e nos jogo de poder, tanto de ordem econômica quanto política e cultural entre as esferas municipal, estadual e federal. Em geral, os Grupos Escolares eram instalados no centro urbano da cidade ou em bairros aonde residia à elite paraibana. Situado no centro da cidade, o Grupo Escolar Dr. Thomás de Mindello, no centro também se encontrava o Grupo Escolar Cel. Antônio Pessôa, localizado na Av. Beaurepaire Rohan, mais conhecida como Av. B. Rohan. Nos chamados bairros nobres da capital, se situaram os Grupos Escolares: Dr. Epitácio Pessoa, no Tambiá ; Isabel Maria das Neves, na Av. João Machado; D. Pedro II, localizado na Rua das Trincheiras. Os primeiros Grupos Escolares da Paraíba Grupo Escolar Dr. Thomás Mindello, primeiro Grupo Escolar paraibano, situado na Av. Guedes Pereira no centro urbano da cidade, construído pelo arquiteto italiano Pascoal Fiorillo em 1916 e inaugurado no mesmo ano. O prédio foi adquirido na administração do então 1º vice-presidente do Estado, o Coronel Antônio da Silva Pessoa. O Grupo escolar recebeu esse nome devido a uma homenagem feita ao intelectual e político Dr. Thomás de Aquino Mindello, que foi um professor conceituado entre a elite e apontado como principal reformador do Lyceu Parahybano. 7 A princípio, esse Grupo Escolar foi constituído por três cadeiras e/ou escolas isoladas, sendo: Uma mista, para ambos os sexos e as outras duas, uma sendo para o sexo masculino e outra para o sexo feminino. A cadeira mista ficou sob a responsabilidade da professora Julita Ribeiro, a do sexo masculino a cargo do professor Sizenando Costa, e a do sexo feminino sob os comandos da professora Maria Isabel Dantas. A direção desse Grupo Escolar ficou sob a responsabilidade do professor João Alcides Bezerra Cavalcanti, que também exercia o papel de inspetor. Os diretores dessas instituições assumiam um importante papel na estrutura hierárquico-burocrática e pedagógica. Cabia a eles, organizar burocraticamente as atividades internas coordenando professores, inspetores, alunos e demais funcionários. Grupo Escolar Solon Lucena, um dos primeiros do Estado, e pioneiro da cidade de Campina Grande, começou a ser construído no dia 7 de janeiro de 1924, na então considerada principal avenida da cidade, a Floriano Peixoto, e foi inaugurada em 12 de outubro do mesmo ano. Vale ressaltar que o pioneiro Grupo Escolar campinense recebeu primeiramente, o nome de Grupo Escolar de Campina Grande, passando posteriormente, a ser denominado Grupo Escolar Solon de Lucena, em homenagem ao presidente do Estado. Segue na íntegra o decreto que valida o que foi exposto anteriormente: Denomina Solon de Lucena o grupo escolar de Campina Grande. O Dr. João Suassuna, Presidente o Estado da Parahyba, usando da atribuição que lhe outorga o § 1º do art. 36 da Constituição Estadual. Considerando que o grupo escolar de Campina Grande foi construído no governo do saudoso chefe Solon de Lucena e que à sua memória vem de ser prestada as mais expressivas homenagens pelo povo daquele município. DECRETA: Art. 1º - É denominado “Solon de Lucena” o grupo escolar da cidade de Campina Grande, criado pelo decreto 1.317, de 30 de setembro de 1924. Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário. O Secretário do Estado faça publicar o presente decreto, expedindo as ordens e comunicações necessárias. Palácio do Governo da Parahyba, em 26 de abril de 1926, 38º da Proclamação da República. 8 (Ass.) João Suassuna A inauguração desses grupos eram divulgadas pela imprensa local. As festas de inauguração dos mesmos ocupavam muito tempo com as preparações, que iam desde a elaboração até a execução do cronograma de atividades proposto no programa, Essas festas marcaram ritos de passagem e a difusão de costumes, envolvendo em determinados seguimentos sociais, o espírito cívico, ou seja, as festas escolares se configuraram num acontecimento público que reunia no mesmo evento a comunidade escolar, políticos, as famílias dos estudantes, a imprensa e os intelectuais da época. Dentro do exposto, fica claro que os Grupos Escolares Dr. Thomás Mindello e o Solon Lucena, primeiros a serem implantados na capital paraibana e na cidade de Campina Grande, respectivamente, surgiram como símbolo de inovação, tanto na cidade quanto dos aspectos pedagógicos. Nesse sentido, as referidas instituições escolares passaram a ser seguidas como modelos para as demais escolas primárias, disseminando nestas algumas das suas práticas inovadoras. 5. MEMÓRIAS DE UMA PROFESSORA Com o intuito de compreender como funcionavam os Grupos Escolares na prática do dia a dia, depois de uma breve busca na cidade de João Pessoa por escolas que foram um dia Grupo Escolar, nós encontramos a Escola Municipal do Ensino Fundamental Seráfico da Nóbrega e fomos até lá em busca de uma pessoa que trabalhou na época em que a supracitada escola funcionava como grupo escolar. Nenhum dos atuais funcionários da escola esteve nela enquanto grupo escolar, porém, a atual diretora lembrou-se da ex- diretora Laurise Barbosa que já estava na escola nos anos em que esta funcionava como Grupo escolar. Nós pegamos o contato de, como nós passamos a chamá-la, D. Laurise que nos atendeu e prontamente aceitou conversar conosco sobre as suas experiências como professora. Para a coleta de dados, nós utilizamos a entrevista semi-estruturada. O encontro aconteceu na Escola Seráfico da Nóbrega, onde a atual gestão atenciosamente cedeu o espaço de uma sala e a entrevista durou por volta de 1hr10min. Estavam presentes na sala as alunas 9 pesquisadoras Kivya Damasceno, Biancca Padilha e Vivian Venâncio mais a entrevistada, Laurise Barbosa. 5.1.Sobre a sua carreira Laurise Barbosa alfabetizou-se na cidade de Solânea- PB e depois se mudou com a família para Alagoinhas- PB, lá passou para um concurso e deu inicio a sua carreira de professora no Grupo Escolar de Alagoinhas, neste momento ela tinha o magistério, a graduação em pedagogia foi feita anos mais tarde. A professora compartilhou algumas de suas historias conosco, contou que era muito difícil ter professores no interior nessa época, mais que hoje e que quando entrou para o Grupo Escolar de Alagoinhas os professores de apoio estavam de licença e duas outras com licença gestante, desfalcando o quadro de professores. A diretora assumiu uma turma, mas a outra ficaria sem aulas. Assim que informaram aos alunos, essas crianças começaram a chorar “todas as crianças chorando por que ficariam sem escola”, nas palavras de D. Laurise que continua a fala “Eu disse: Maria, pelo amor de Deus, não mande eles pra casa não, eu fico com as duas turmas”. E num pátio adaptado, ela terminou o ano letivo com as duas turmas. Quando se mudou para João Pessoa trabalhou temporariamente no Grupo Escolar Santa Julia e logo foi transferida para o Grupo Escolar Presidente João Pessoa. Com a construção do hotel Tambaú, o edifício da escola foi demolido para dar lugar ao que hoje é o Centro Turístico de João Pessoa. Sendo assim, o corpo docente e discente do Grupo Escolar Presidente João Pessoa foi transferido para o Grupo Escolar Seráfico da Nóbrega no ano de 1974. As historias de que se recordou desses anos surgiam como boas e saudosas lembranças da sala de aula e de seus alunos. Em 1991 o Grupo Escolar passou a ser Escola Municipal de Ensino Fundamental Seráfico da Nóbrega. Em 1988, Laurise foi eleita como diretora da escola, onde continuou mostrando competência até o ano de 2000. Em 2009 foi aposentada. No momento em que estávamos na escola, foi notório o carinho e respeito dos demais funcionários pela nossa entrevistada, que com muita vivacidade retribuía a todos atenciosamente. Emociona-se ao falar de seus ex-alunos, com os quais criou um vinculo afetivo, demonstrando amor pelo ato de educar. Também foi muito atenciosa conosco. 10 5.2.Sobre os grupos escolares Bem como a primeira parte da entrevista, nós continuamos a falar das experiências de D. Laurise, porém nesse segundo momento com um enfoque maior ao funcionamento e práticas do dia a dia de um Grupo Escolar, bem como as relações interpessoais estabelecidas fazendo uma comparação a escola atual. A responsabilidade dos Grupos Escolares era compartilhada entre o município e o governo do estado como ainda é hoje no ensino primário, fundamental e médio, tendo a diferença na divisão que houve em que o ensino fundamental fica sob responsabilidade do município e o ensino médio nas mãos do estado. Os horários de funcionamento se assemelham ao da escola atual. Pela manhã das 7hr às 11hr e pela tarde das 13hrs às 17hrs para o ensino primário, diferenciando-se no acrescimento de 30 minutos a carga horária e essa escola atual absorve todo o ensino fundamental. Todo Material didático tinha de ser comprado pelos pais das crianças; cadernos, livros e etc. A merenda escolar não tinha a mesma qualidade que encontramos na que é servida nas escolas hoje, não era uma boa alimentação. Dona Laurise comenta: “Hoje em dia o governo da tudo e eles não querem nada.” Nas Avaliações havia uma predominância de provas, mas também eram feitos trabalhos em equipe. Na hora da redação mostravam uma figura em um painel (ex: fazenda, campo de futebol, praça, um passeio) para a criança ver e partindo disto criar um titulo e compor sua redação. As Provas finais vinham da secretaria de educação lacradas, como no vestibular, padronizadas para todo estado. O aluno era aprovado se alcançasse mais de 50%. Para ser aprovado da 1° série para a 2° série na avaliação de português, por exemplo, o aluno tinha de ler e interpretar um texto oralmente para uma banca examinadora, isso por que era exigido que a criança estivesse completamente alfabetizada para sair da 1° série. Além das provas das demais disciplinas, como na de historia que era feita um dissertação sobre os temas propostos. As crianças ficavam dividas por sexo e idade, mas havia também turmas mistas. Quando perguntamos sobre a divisão pelo sexo ela relembrou e nos contou a seguinte historia. Quando Dona Laurise estava grávida do primeiro filho, no grupo escolar Santa Julia, onde havia acabado de chegar, a diretora disse “Minha filha o que eu faço agora? A sala de aula que eu tenho é uma sala de aula só masculina, não tem professora que queira pegar“ A resposta foi: “Pode me dar, não tem problema.” 11 Antes de nos aprofundarmos nessa temática, criamos a ideia de que nessa época eram aplicados castigos físicos as crianças, engano nosso. As punições neste momento não era aplicada através de castigos físicos. Professora Laurise dividiu conosco uma historia do seu tempo de estudante, em Alagoinha. As crianças iam lanchar em casa, se ela não aparecesse em casa na hora do lanche sua mãe já sabia que ela havia ficado sem recreio por que tinha ‘aprontado’ alguma na escola. A punição física só acontecia quando chegava a sua casa. Ela aplicava o mesmo método com seus alunos, deixava o castigado na sala de aula na hora do recreio. Qualquer comportamento que fosse mais grave, a direção era acionada. Ela ainda nos confessa que se colocasse de castigo muito antes do recreio, na hora H o coração amolecia e ela acabava cedendo, para conseguir manter-se firme sempre segurava o máximo para só pôr as crianças de castigo próximo da hora de recrear, assim não tinha tempo de sentir dó. Comparando com a realidade atual da educação, nós perguntamos se o sistema era eficaz. Na opinião dela, aquela era a escola de qualidade. “Havia falhas por que em toda área há profissionais sem compromisso, naquela época também tinha, mas em uma escala muito menor. A educação foi cabide de emprego de político por muito tempo, o que gerou profissionais sem compromisso com educação. É o que cominou muito em aceitar todo que vem de cima para baixo.” 12 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os Grupos Escolares trouxeram para a educação e a sociedade brasileira muitas contribuições e mudanças. Uma delas é que sua criação possibilitou a participação da mulher na sociedade, uma vez que estas escolas eram divididas em turmas masculinas e femininas, fazendo com que nas Escolas Normais existisse um número significativo de alunas devido à possibilidade de ingresso nas escolas primárias. No sistema educacional, a metodologia de escola graduada trouxe vantagens e desvantagens. Sendo a vantagem, o rendimento do aluno por causa da maneira em que as salas eram divididas, tornando assim o trabalho do professor homogêneo; e a desvantagem foi a reprovação de alunos que em decorrência do ensino gradual criou-se a imagem de aluno “fraco” em virtude da repetência, assim, causando evasão escolar. Foi, então, que o magistério tornou-se uma profissão “digna, reconhecida e edificante” (SOUZA, p.50), pois reafirmou o status do professor diante da sociedade. O atendimento dos Grupos Escolares por muitos anos foi apenas para alunos das classes elitistas e, só a partir da década de 1950, abriram as portas para a sociedade, devido à grande busca pela escolarização. Mas, no entanto, os pobres, os negros e os miseráveis continuaram excluídos. Podemos considerar que os Grupos Escolares representaram um meio de ascensão social, tanto para os professores que desejavam alcançar seu status profissional, quanto para os alunos que desejavam chegar ao ensino secundário e, futuramente, ao ensino superior. Na escola atual, podemos verificar a herança histórica dos grupos escolares. Os professores ainda se formam para educar uma turma homogênea, usando metodologias iguais para indivíduos diferentes, sem levar em conta as peculiaridades de cada um, o que acarretava e ainda acarreta numa educação restrita apenas para aqueles que possuem condições favoráveis para aprender e aqueles que apresentavam dificuldades acabavam por repetir e abandonar a escola. A psicopedagogia entra no momento em que deve mostrar que há maneiras diversas de realizar os processos de ensino-aprendizagem e que as pessoas se desenvolvem cada uma no seu tempo, ou seja, ter a mesma idade não significa está com todos os aspectos do desenvolvimento iguais. 13 7. REFERÊNCIAS LIMA, Rosângela Fontes de lima; SILVA, Vivia de Melo. História da educação na Paraíba: Rememorar e Comemorar. João Pessoa, PB, 2011 PAIVA, Bruna Maria Morais de. Escolarização na primeira República: Organização e funcionamento do ensino noturno na Parahyba do Norte (1916- 1931) Dissertação (mestrado) –UFPB/CE; João Pessoa, 2010 Apresentação da Escola Municipal do Ensino Fundamental Seráfico da Nóbrega Organização: STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena Câmara. Histórias e Memórias da Educação no Brasil Vol. III. Pág. 68. Petrópolis, RJ. Ed. Vozes, 2011 Fonte: Google Books. Disponível em: <>.http://books.google.com.br/books?id=JY9TGY1bT3EC&printsec=frontcover&hl=ptBR&source=gbs _ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false >. Acessado em 28 de maio de 2013 as 16 horas e 04 minutos