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Na verdade, nós nos comunicamos querendo ou nãot pois a comunicação pode ser intencional ou não intencional, consciente ou inconsciente. E, ainda, prescinde de.palavras. Daí conhecer e ter domínio de uma língua, embora seja um instrumento valioso para a comunicação, não é, de certo, a única habilida- de requerida para tal. É além das palavras, ou apesar delas, que se dá o fenómeno da comunicação (...). Antes de tudo, é importante quando da produção de um texto, se perguntar: para quem escrevo? Qual o grau de conhecimento do interlocutor para o qual ora escrevo, acerca do tema?'Em que momento/situação esse texto será lido, utilizado? Tais questionamentos corroboram para construção de um texto coerente e inteligível para o interlocutor intencionado. > Um eterno estudante tem na vida muitos professores. No entanto, poucos são mestres de verdade, pois um mestre tem algo a mais: gosta do que faz e valoriza as pessoas acima de tudo. Por isso tenho a alegria de dizer que a professora Adria- na Barbosa foi e sempre será uma grande mestra. Tive o prazer de ser seu aluno em diversas disciplinas, além de ser um dos funda- dores do GETED (Grupo de Pesquisa em Teorias do Discurso) que ela coordena. Assim como foram as aulas dela para mim, certamente este material será de grande importância para todos que querem aprender técnicas fundamentais de leitura e escrita, úteis não somente no meio académico, mas para toda a vida. Lucas Nascimento Silva ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA PRÁTICA DE LEITURA E ESCRITA EM LÍNGUA PORTUGUESA ©2011 Adriana Maria de Abreu Barbosa Direitos desta edição reservados à Paço Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocó- pia, gravação, etc, sem a permissão da editora e/ou autora. Capa e Projeto Gráfico Laís Foratto Preparação Elisa Santoro Revisão NicoleGuim 1a Edição: Fevereiro de 2011 B2344 Barbosa, Adriana Maria de Abreu. Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa /Adriana Maria de Abreu Barbosa -- Jundiaí, Paço Editorial: 2011. 116 p. c/ Bibliografia. ISBN: 978-85-63381-75-0 1. Linguística. 2. Teoria do texto. 3. Coesão e coerência. 4. Resenha, l. Barbosa, Adriana Maria de Abreu. II. Título. CDD:41() Vianelo- Jundiaí-SP HA)/0/0 Dedicatória Ao Departamento de Letras da PUC-Rio, em es- pecial, as amigas da Cadeira de Comunicação e Expressão: onde tudo começou... PREFÁCIO Na realidade toda a palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. (...) Através da palavra defino-me em relação ao outro, isto é, em última instância, em relação à cole- tividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. BAKHTIN Em Prática da leitura e escrita em Língua Portuguesa, reúno no formato de explicações e exercícios o que tem sido minha experiência docente no ensino superior desde 1993. Aluando em disciplinas que têm como objetivo de- senvolver a competência de leitura e escrita nos graduan- dos, de modo a que possam produzir textos académicos considerados satisfatórios à demanda universitária, depa- ro-me com o desafio: ensina-se a escrever? A grande queixa de docentes, nas mais variadas áreas do saber, é sobre a falta de preparo dos alunos no que tange à expressão escrita. Ouve-se muito: os alunos não sabem interpretar e muito menos escrever. As razões levantadas são muitas e não é do interesse desse livro esgotá-las. Ao receber meus alunos, a cada semestre, reitero que escrever se aprende (não sei se ensina). A escrita é um processo, assim como todo aprendizado. Exige treino, exi- ge propósito e de preferência gosto. Aprende-se, inclusi- ve, a gostar de escrever, já que, como disse Saramago a uma entrevista a TV Futura, "escrever é dizer: este sou eu". Em outras palavras, quem escreve se deixa ver. Isso pode dar até um pouquinho de medo, mas nada tem a ver com aquela sensação-crença de que não escrevo porque não sei português. Afinal é impossível não sabermos nossa língua materna (sobre isso sugiro leitura de Perini ou Bagno, em vários textos esses autores esgotam esse argumento). Tomando a gramática da Língua a serviço do texto e seguindo as instruções básicas, mas fundamentais de Ge- raldi, partimos da convicção de que só é possível exercer a escrita, se e somente se: se tenha o que dizer; se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer; se tenha para quem dizer o que se tem a dizer; que o locutor se consti- tua como tal, enquanto sujeito que diz e, por fim, que se escolham as estratégias para realizar essas premissas (GE- RALDI, 1997:137). Por muito tempo se insistiu na técnica pela técnica, e o ensino da escrita consistia em apresentar as estratégias sem contextualização ou individualização, sobrando pou- co espaço para o exercício da autoria discente. A apresen- tação de modelos de escrita, entretanto, revelou-se pouco eficaz, pois os alunos continuavam inseguros na prática da escrita. Dentro de uma proposta de ressignificação do ensino de Língua, este livro apresenta discussões e atividades embasadas na teoria Sociointeracionista, atividades essas que têm sido utilizadas por mim nos últimos dez anos no formato de apostila. Nesta nova versão em livro, fico feliz que integrem comigo como autoras, quatro ex-alunas do curso de Letras da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, no campus de Jequié, entre as quais, duas foram minhas monitoras da disciplina Português Instrumental e, portanto, compartilharam comigo os planejamentos, ela- boração de revisão, avaliação de textos etc. Todas elas são hoje colegas de profissão aluando na docência. Os cinco capítulos apresentam, a meu ver, os pontos principais no ensino de leitura e produção textual. O pri- meiro aborda a concepção Sociointeracionista nos estudos da comunicação oral e escrita. O segundo trata de uma unidade importante na gramática do texto: o parágrafo. O terceiro capítulo propõe atividades de coesão c rortência, já que uma das maiores dificuldades dos alunos c mirgrar ideias e dar unidade ao texto. O quarto prestigia os géne- ros textuais resumo e resenha, géneros nos quais se exige o exercício da interpretação, síntese, objetividade e uso de paráfrases, competências cognitivas mais do que necessá- rias para o aprendizado de qualquer disciplina. Fechamos o livro com o tema Argumentação, pois sabemos da impor- tância da capacidade argumentativa exigida na produção de géneros textuais que o graduando terá que desenvolver na sua formação, a saber: seminários, resenhas, artigos, e monografia. É assim que compartilho com vocês, leitores e leito- ras, a proposta deste livro que tem como objetivo maior estimular o gosto pela escrita, transformando o ato de ler e escrever não apenas em uma necessidade ou sacrifício. Desejo desmistificar a crença de que escrever requer talen- to, já que acredito que se aprende a escrever ao longo de toda uma vida. ÍNDICE CAPITULO l O fenómeno da Comunicação 11 1. A Importância da Comunicação 11 1.1. Comunicação 14 2. Textos: Formatos e Funções 17 3. Os Géneros Textuais 18 4. Vocabulário 26 CAPÍTULO 2 O Parágrafo 31 1. Características e Definições 31 2. Parágrafo e Resumo 36 3. Paragrafação: Planejamento Micro-Textual 39 4. Pontuação 41 CAPÍTULO 3 Coesão & Coerência 47 1. Coesão 47 2. Coerência 59 CAPÍTULO 4 Resumo e Resenha 63 1. O que é resumir? 63 2. Enxugando o texto 65 3. Resumir é interpretar. 67 4. Para que resumir? 71 5. O Resumo não mata o autor do texto original 73 6. Resenha 76 6.1. Resenha X resumo 77 6.2. Principais características da Resenha 77 CAPITULO 5 Argumentação 1. Discutindo teoria 2. Conhecendo os Textos. 3. Concluindo 4. Textos para Atividade... .89 .94 .95 .96 Referências... 111 O FENÓMENO COMUNÍCAÇÃO ProP Dra Adriana Maria de Abreu Barbosa 1. A Importância da Comunicação Sucesso e comunicação são palavras repetidamente as- sociadas em diversas publicações atuais sobre gestão de ne- gócios e mundo do trabalho. Dick Morris, "marqueteiro" do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, pensa resumir tudo que tem sido dito a esse respeito com a sintética e la- cunar sentença de efeito publicitário: "comunicação é tudo". Concordamos com ele, mas, afinal, o que isso significa? Uma corrente de estudos sobre comunicação afirma, acertadamente, que "tudo comunica", aprofundando assim a discussão apenas sugerida pelo publicitário. Na verdade, nós nos comunicamos querendo ou não, pois a comunica- ção pode ser intencional ou não intencional, consciente ou inconsciente. E, ainda, prescinde de palavras. Daí conhecer e ter domínio de uma língua, embora seja um instrumento valioso para a comunicação, não é, de certo, a única habi- lidade requerida para tal. É além das palavras, ou apesar delas, que se dá o fenómeno da comunicação. ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) Um exemplo desse vasto domínio dos sentidos gerados pela comunicação humana é a série de recursos linguísti- cos ou extralinguísticos de que dispomos para produção e interpretação de mensagens, como a entoação, o olhar, ou ainda, o gestual de quem fala. Além, é claro, do valor simbólico que determinados gestos e atitudes têm em cul- turas diferentes. Devido à variedade de recursos comple- mentares ao uso da língua e uma variedade ainda maior de significados culturais, um mesmo enunciado pode ser interpretado de diferentes maneiras. Costumo contar, em treinamentos de comunicação para empresas, como um simples pedido de documentos em uma recepção pode gerar significações díspares. Por exemplo, se a recepcionista pronuncia a palavra /documento/ com entoa- ção de pergunta e sorriso nos lábios, provavelmente, poderá ser interpretada como: ela está me desejando boas-vindas e me comunicando que preciso apresentar um documento. Já a mesma palavra / documento/ dita em tom mais grave, excla- mativo e sem expressões faciais cordiais, pode gerar um en- quadre de assimetria: a recepcionista está me lembrando que aqui eu só posso entrar se apresentar o documento, o que lhe dá algum poder sobre mim. Embora a mensagem seja a mesma - a frase "documento" - a metamensagem pode ser de solidariedade, ou, ao contrário, de demonstração de poder. O exemplo anterior nos lembra que todo enunciado com- põe-se de duas facetas: a mensagem e a metamensagem. Mensagem e metamensagem referem-se, respectivamente, às funções referencial e relacional da linguagem. A primeira veicula informações e conteúdos, enquanto a segunda vei- cula sentimentos e reflete relações sociais. Durante muito tempo, os estudiosos da comunicação privilegiaram a pri- I 12 l Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa meira, acreditando que a comunicação eficaz seria alcança- da caso o falante dominasse técnicas de uso da língua, nas quais se prioriza a busca da clareza e da objetividade. De fato falar e/ou escrever com clareza é uma das habi- lidades comunicativas que pode e deve ser sempre desen- volvida para melhorar a transmissão de nossas mensagens. Mas, como comunicação não pode ser entendida como mera transmissão de significados, e sim como construção conjun- ta de sentidos, não podemos negligenciar a importância da metamensagem. É por meio dela que definimos o compo- nente relacional de nossas comunicações, que determina no jogo da comunicação as imagens do locutor e interlocutor e o tipo de relação que está sendo travada entre eles. Desse modo, falar a mesma língua não pode mais ser entendido apenas como compartilhar um mesmo idioma, é preciso compartilhar valores, interesses e objetivos. Sob essa perspectiva, os estudos em comunicação reorientam o foco na figura do receptor. Para que haja compreensão é preciso haver alinhamento entre os participantes da co- municação. Cabe ao falante estar atento ao interlocutor, tentando colocar-se na pele do outro, para minimizar as possibilidades de ruídos da comunicação. Um dos proble- mas mais graves que pode ser melindrado nessas ocasi- ões envolve a questão do poder. Como já mencionamos no episódio da recepcionista, assimetrias são evidenciadas na e pela linguagem. Tomando isso como verdade, é também correto observar que assimetrias podem e devem ser con- tornadas por um bom desempenho comunicativo, por meio do qual se transforma essas relações em relações de com- plementaridades que favorecem uma comunicação eficaz. Comunicação essa que garante a vida em sociedade. 1 1 3 1 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) Note como a crónica de Veríssimo, abaixo, retoma a dis- cussão da importância da comunicação e aponta o papel relevante do interlocutor no fenómeno da comunicação. TUdo isso com a leveza e humor característicos do autor e do género por ele escolhido para comunicar (a crónica). 1.1. Comunicação Lu is Fernando Veríssimo* 22/371995 Casais com problemas de comunicação têm um antece- dente antigo. Adão e Eva, segundo Génesis. Pode-se imaginar o cli- ma quando Adão acordou e levou dois sustos: estava sem uma costela e com Uma mulher. Especula-se que os dois levaram dois dias para se falar. Para Começar, não tinham sido formalmente apresentados. E que assunto poderiam ter, naquele primeiro encontro? Como foi seu dia? - Nem me fale. Até a hora da sesta estava tudo normal. Depois que sofri uma cirurgia e mudei de estado civil e a população da Terra duplicou, tudo em questão de horas. — E eu? Há horas eu nem existia. Agora estou aqui, mu- lher feita, nua e falando aramaico. Minha tese é que Adão e Eva só se falaram no terceiro dia, e assim mesmo porque Adão foi levado por uma neces- sidade premente. - Me coça atrás? E Eva coçou suas costas, e Adão finalmente com/>/ • ( •< v i deu os desígnios do Senhor ao criar a mulher. r:mhoni nos anos que se seguiram não fossem poucas as i/r/<v; cm pensou em dizer a Deus que preferia sua ms/< • /< / ( / < • n » / / < / . l 1 4 1 Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa Quando passaram a ter assunto, Adão e Eva despertaram o ciúme de Deus. Porque tinham uma coisa em comum da qual Deus não compartilhava: a humanidade, suas glorias e suas misérias. Os banhos de riacho e o medo do escuro, o ca- funé e o furúnculo. E Deus providenciou o pecado para ter um motivo nobre para expulsa-los do Paraíso, já que não podia só alegar tagarelice. E quando a prole de Adão e Eva deu sinais de entendimento, pois falavam a mesma língua e celebravam a mesma humanidade, Deus decretou a destruição de Babel e a confusão das línguas. E assim duas vezes usou Deus o De- mónio para criar a desarmonia entre os homens. Primeiro na forma da Serpente. Depois na forma do Tradutor. Mas tudo que é humano quer se comunicar. Sem a mulher, Adão arranjaria outro jeito de coçar as costas. Talvez encon- trasse até uma maneira de se reproduzir sozinho. Afinal, anos depois, um descendente seu inventou o xerox. Quando Deus lhe deu a mulher, não lhe deu uma fêmea, uma companheira ou alguém para cuidar das suas camisas. Deu o que ele preci- sava para progredir, a precondição para o autoconhecimento e a razão, sem falar na literatura. Um interlocutor. 1 Após a leitura comente: - qual o assunto da crónica; 151 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) - que tese o autor defende sobre o referido assunto; - quais tópicos abordados no texto teórico são retoma- dos pelo cronista; Depois das duas leituras (o texto teórico e o de Veríssi- mo), escreva o que você pensa sobre a importância da co- municação. Escolha ao menos uma passagem de um dos textos para fazer um tipo de referência: uma citação textual ou uma paráfrase. l 161 Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa 2. Textos: Formatos e Funções Como vimos, um mesmo assunto pode receber um tra- tamento totalmente diferente de acordo com a intenção comunicativa do autor. Este tratamento diferenciado vai garantir ao texto um formato e uma função. O texto teórico-científico preocupa-se em definir e ex- plicar o assunto "comunicação", já a crónica, embora tam- bém esteja de certo modo definindo um conceito de comu- nicação, não tem foco no esclarecimento do assunto e sim no prazer e entretenimento do leitor. Além disso, o texto científico não retrata opinião pessoal do autor do texto e sim compilação e organização de conhecimentos e infor- mações referenciadas em pesquisa. Já a crónica expressa a crítica e posicionamento do autor. Sendo assim, os textos (orais e escritos) podem ser clas- sificados por suas especificidades que compreendem for- matos e funções. Para Roman Jakobson, o foco depositado em um dos elementos da comunicação (emissor, receptor, canal, mensagem, contexto, código) determina a função predominante da comunicação. Segundo a classificação do autor, existem as seguintes funções comunicativas: - Emotiva: foco nos sentimentos do emissor - Conativa: foco nos sentimentos, interesses e simpatia do interlocutor - Poética: foco na elaboração e embelezamento da mensagem - Referencial: foco na representatividade do contexto - Fática: foco na funcionalidade do canal - Metalinguística: foco no esclarecimento do código l 171 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) 3. Os Géneros Textuais Mas como falar em comunicação sem citar os veículos pelos quais ela se locomove? Para isso precisamos falar de Géneros. São inúmeros os géneros textuais que circulam na nossa sociedade, como por exemplo, a crónica e o texto teóríco- científico supracitados. Eles são quase incontáveis, já que são produtos do cotidiano, e suscetíveis a mudanças e adapta- ções conforme a necessidade de uso dos falantes. Já os tipos de textos são limitados quanto ao seu número e não partem de experiências sociais, estando mais ligados à forma. Koch (2003) afirma que a competência sociocomuni- cativa do falante/ouvinte é que o conduz à distinção dos géneros e, consequentemente, a sua competência textual permite-lhe saber quais sequências predominam em um texto para classificar o seu tipo. Há então uma capacidade metatextual, segundo ela, que provém do contato cotidia- no do sujeito com os textos. Obviamente, os falantes/ouvintes da língua têm, a todo instante, contato com algum texto, seja ele verbal ou não- verbal. Portanto, entendemos que, tendo esse contato, to- dos eles desenvolvem certa capacidade de diferenciação entre um texto e outro por algumas características pró- prias de cada texto. Essas características próprias, sendo elas o veículo da comunicação, a linguagem ut i l izada, en- tre outras, é que vão levar o falante/ouvinte, ao enconlrar- se com diferentes textos, a saber que não se trata de lexlos do mesmo género, mesmo que talvez ele não saiba ainda a definição do que é um género textual. Por falar em definição, vejamos a definição de ('.curros textuais segundo Marcuschi: l 18 l Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa Usamos a expressão género textual como uma noção pro- positalmente vaga para referiras textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam ca- racterísticas sóciocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característi- cos. (Marcuschi, 2005: 22-23) Dessa forma, os géneros estabilizam as atividades co- municativas do nosso dia a dia, embora não sejam uma ma- terialização textual inflexível, sendo entidades sóciodiscur- sivas bastante dinâmicas, segundo o autor. Provavelmente, por conta dessa maleabilidade é que os géneros sejam de difícil definição formal, pois não se caracterizam por parti- cularidades linguísticas, e sim, cognitivas e institucionais. O grande número de géneros possibilita uma maior varie- dade linguística a circular na sociedade e ajuda a desfazer o abismo ainda existente entre a oralidade e a escrita, sus- citando um hibridismo que "[...] inviabiliza deforma defi- nitiva a velha visão dicotômica ainda presente em muitos manuais de ensino de língua". (Marcuschi, 2005: 21). Para a definição de tipos textuais, temos: Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de seis categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. (Marcuschi, 2005:22) Observamos, portanto, que se trata de uma definição relacionada à forma e suas peculiaridades linguísticas e l 191 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) estruturais, o que traz certas limitações tanto para o en- sino, quanto para a quantidade de tipos existentes, já que não se partem de necessidades advindas dos falantes de se comunicarem, sendo uma estrutura fixa. Então um tipo textual é caracterizado por traços que formam uma sequ- ência e não um texto e quando o classificamos estamos nomeando um predomínio de um tipo de sequência. É notável, porém, que num género textual encontramos geralmente mais de um tipo dessas sequências, cabendo ao género uma heterogeneidade que faz dele um instru- mento importante para agirmos em situações de lingua- gem e ensino, potencializando a ação do falante/ouvinte, a ação do educador e do educando. 2 Relacione as funções propostas por Jakobson aos gé- neros textuais abaixo: ( ) carta de amor ( ) verbete de dicionário ( ) texto de enciclopédia ( ) relatório técnico ( ) letra de música ( ) currículo ( ) anúncio 3 Pense em outros géneros textuais e analise o seu formato e sua função. Agora pense quais textos prefere escrever e ou falar. Procure descobrir o porquê, baseado nas características Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa e reflexões feitas até agora sobre o fenómeno da comunica- ção. Organize seu pensamento sobre o assunto e prepare-se para relatá-lo oralmente para seu grupo de trabalho. Depois que cada um do grupo expor sua preferência e razões, o gru- po deverá elaborar um relatório escrito do que foi discutido. Leitura Complementar: FEITOSA, Vera. Comunicação na Tecnologia. Manual de Redação Científica. São Paulo: Brasiliense, 1987. pp. 11-21. 4 Após a primeira leitura do texto de Feitosa, retorne ao texto, procurando responder as seguintes questões: a) Quais as diferenças entre a comunicação escrita e a oral que são apontadas no texto? Você concorda com o que é exposto? b) Comente as primeiras diretrizes para uma comunica- ção eficiente. l 201 121 l ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) c) Quais os elementos presentes num processo de comu- nicação? Exemplifique estes elementos. Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa f) Comente um dos cinco tópicos apontados pelo autor como devendo ser objeto de reflexão mais profunda. d) Que outro conceito importante é apresentado no pri- meiro capítulo? Como ele interfere na comunicação? g) Segundo Feitosa, o autor de qualquer texto deve procurar responder a 4 perguntas. Explique com suas próprias pala- vras quais as implicações de cada uma destas perguntas. e) Por que o ponto de partida de um texto é a caracteri- zação do receptor? 1 2 2 1 5 Baseie-se nas respostas dadas ao questionário da ativi- dade, selecione os tópicos mais relevantes para elaboração de um resumo. Elabore um resumo e crie um título. Objetivo deste resumo: servir de material de estudo para o aluno do curso, fixando os conceitos/definições e estratégias apontadas pela autora. 1231 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) Ainda sobre textos informativos - o relatório técnico Segundo Othon Garcia, dentre os diversos tipos de re- dação técnica, o relatório é o mais exemplar deles, por- que, por apresentar um número extenso de variedades, por meio dele exercitamos habilidades comunicativas especí- ficas, como descrição de mecanismo, procedimentos e/ou objetos; narrativa minuciosa de ocorrências; explanação didática e sumário. Entretanto, é essa mesma variedade que impossibilita 'receitas' generalizantes de como fazer um relatório; só a prática nos leva a esse resultado. Dependendo de seu propósito ou finalidade podemos classificar os relatórios em: de gestão (relatórios empresa- riais periódicos), de inspeção, de pesquisa e de tomada de contas, só para citar alguns. Apesar de suas especificida- des, todo relatório, como texto informativo que é, prioriza a clareza e a objetividade da mensagem, logo apresenta uma estrutura, composta de partes, relativamente fixas, de modo a garantir sua inteligibilidade. Assim, temos uma introdução na qual se expõe o propó- sito ou objetivo do relatório. Em seguida, o desenvolvimento relata minuciosamente o fato e/ou procedimento, indicando a data, o local, o processo, a discussão (análise do que foi ob- servado). Por fim, a conclusão é o espaço para avaliações e/ou recomendações. Em casos de relatórios extensos (máximo 50 laudas), recomenda-se um sumário para facilitar a consulta. Além de uma estrutura específica, existem outras estra- tégias que permitem garantir as seguintes qualidades do texto técnico: a concisão, a coerência e a objetividade. Grice, teórico da comunicação, aponta as máximas que norteiam, mesmo que inconscientemente, nossas comunica- ções. O autor chama o conjunto dessas máximas de Princípio 1 2 4 1 Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa da Cooperação. São recursos usados pelo emissor para facilitar o entendimento de sua mensagem ao receptor. Como se fosse um jogo, todos conhecem as "regras" e se utilizam delas tanto para emitir como para decodificar as mensagens recebidas. Máximas que garantem clareza, coerência e concisão/ objetividade, respectivamente: - Quantidade Ao elaborar sua mensagem, avalie a quantidade de informação necessária ao interlocutor para entender sua comunicação. Informação demais ou de menos não comu- nica. Muita informação, pouca objetividade. Pouca infor- mação, fala lacunar, inconclusa. - Qualidade Diga somente aquilo que considera verdadeiro. Pesqui- se, informe-se e verifique a validade das informações. Uti- lize informações que possam ser confirmadas/provadas. - Relação Acrescente apenas informações relevantes ao assunto tratado. Vale perguntar, ao planejar seu texto, qual a rela- ção existente entre as informações apresentadas. - Modo Refere-se à escolha de vocabulário, estrutura frasal, paragrafação, topicalização, formas de dizer que melhor apresentem sua ideia. Com o mesmo intuito, Vera Feitosa sugere as quatro perguntas primordiais ao processo de elaboração de um relatório técnico. 125 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) a) O que o receptor precisa saber? b) Para que o receptor precisa dessas informações? c) Que tipo de informações o receptor já tem sobre o assunto? d) Qual será a utilização e o alcance do texto? 6 Compare o relatório entregue pelo seu grupo (ativida- de 3) com os dos demais grupos. Analise se os relatórios atendem às máximas de Grice e respondem satisfatoria- mente as perguntas propostas por Vera Feitosa. Reorga- nize as informações, reescrevendo o relatório de seu gru- po no formato proposto por Othon Garcia: "Assim, temos uma introdução na qual expõe-se o propósito ou objetivo do relatório. Em seguida o desenvolvimento relata minu- ciosamente o fato e ou procedimento, indicando a data, o local, o processo, a discussão (análise do que foi observa- do). Por fim, a conclusão é o espaço para avaliações e ou recomendações" 4. Vocabulário Escrever também consiste na arte de dizer da melhor maneira possível, daí a necessidade de escolha vocabu- lar para atingir nosso objetivo, que, no caso da escri- ta científica, visa à especificidade e à informatividade. Portanto, tem vezes que precisamos de palavras mais específicas. Há em português uma série de verbos genéricos que na modalidade oral são usados indiscriminadamente e fun- cionam bem, entretanto o texto escrito científico exige que Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa os troquemos por outros mais específicos ao contexto e a intenção comunicativa. 7 Considerando as alterações necessárias na comple- mentação verbal, troque os verbos grifados por verbos mais específicos: Se pegarmos a questão da saúde, o naturalismo revela- se benéfico. O rádio leva mensagens a toda população, pois pega em qualquer lugar. Esta criança tem bronquite logo não tem boa saúde. Os economistas têm teses com as quais não se pode estar de acordo. Por esta rua andam muitos carros. 1271 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) Só no segundo mês, apareceram os sintomas da doença. Só no último dia de aula, aparecia o seu nome na lista. O alho dá mau hálito Finalmente deu com a solução do problema. O togo fez a madeira em carvão. Estava calado, mas^ que falasse. Ele ignorava que 'tépido' é 'morno'. Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa Viver é lutar. Há vezes, entretanto, que um erro ortográfico implica não apenas inadequação e sim erro semântico. Isto é, usa- mos uma palavra que não significa o que desejamos. É o caso de homónimos e parônimos. 8 Escolha a palavra que garante a correção do enunciado: Eis a { seção; cessão; sessão } de roupas masculinas. A milionária fez { sessão; cessão; seção } de seus bens a um orfanato. Os sócios foram convocados para uma { cessão; ses- são; seção } extraordinária. Não tem { descrição; discrição } o mal-educado. Isso não tem mais { conserto; concerto }. Somos contra a { descriminação; discriminação } racial. Ele ocupa { eminente; iminente } cargo na empresa. Minha { intenção; intensão } era ir para longe dali. Em síntese quando se trata de escolha de vocabulário, devemos: evitar repetições, buscar especifldade e correção. 9 Escolha o vocabulário apropriado para um registro for- mal da carta de pedido abaixo (elaborado por Clarissa Ro- lim Pinheiro Bastos da Puc-Rio) 1 2 8 1 1 2 9 1 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) ETCETERA & TAL Vitória, 16 de julho de 1999 Ao BANCO BANCADO S. A. Caixa Postal 999, Porto Alegre (RS) Senhores: Solicitamos a esse banco _ necer informações de nos for- sobre a situação econômi- co-financeira da Empresa Industrial, cujo nome consta na ficha-cadastro anexa. Apressamo-nos a recorrer aos Senhores, pois exis- tem , nos comerciais desta capital, de que essa empresa está concordata aos seus credores. O pronto atendimento do presente pedido nos livrará de grande , pois somos credores da referida organi- zação e nada soubemos até o momento de positivo quanto à sua situação. Como é de , as informações prestadas terão caráter estritamente confidencial. Atenciosamente Fulano de Tal Diretor Presidente a a fineza a detalhadas a boatos a círculos o obséquio Minuciosas Alaridos Meios o desplante miúdas rumores expedientes o benefício particulares alardes centros o favor pormenorizadas murmúrios trânsitos O PARÁGRAFO ProP Dra Adriana Maria de Abreu Barbosa 1. Características e Definições Indicado materialmente na página impressa ou manus- crita por um ligeiro afastamento da margem esquerda da folha1, o parágrafo permite ao leitor acompanhar melhor a proposição e desenvolvimento de ideias do escritor. Por meio do parágrafo, o escritor isola ideias-tópicos, em es- pecial nos textos dissertativos e argumentativos2, que são centrais para o deciframento do texto. Um parágrafo-padrão consiste em: - Tópico frasal - um ou dois períodos curtos em que se expressa de maneira sumária e sucinta a ideia principal; - Desenvolvimento - esclarecimento e explanação do tópico; - Conclusão - retomada do tópico, ou encaminhamento e relação com o próximo parágrafo. 1 Mais recentemente, há outra opção. Não fazer essa margem, porém aumentar o espaçamento entre linhas na mudança de parágrafos. 2 Já na narração o núcleo é um incidente(episódio) e na descri- ção, um quadro. 1 3 0 1 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) Desse modo, o parágrafo-padrão, embora encadeado à progressão do texto, tem estrutura completa que lhe permi- te certa autonomia em relação ao resto do texto. Em outras palavras, é possível entender a ideia proposta pelo parágra- fo, mesmo quando o retiramos do texto. Como é o caso do parágrafo introdutório do texto de Wrana Panizzi (reitora da UFRGS) publicado na revista Galileu em fevereiro de 2004: "Universidade em perigo", este é o titulo do editorial do "Lê Monde", datado de 21 de Janeiro último. O jornal expressa des- sa maneira sua preocupação com as "alarmantes dificuldades vividas pela universidade francesa" e, comentando um relatório oficial, afirma que "a França corre o sério risco de ficar para trás na corrida tecnológica mundiaF caso não aumente seus investimentos em ensino superior de 1,1% para 1.6% do PIB. Embora não saibamos qual o desenvolvimento do refe- rido texto, compreendemos o parágrafo, pois ele está com- pleto, tornando-se, assim, um fragmento de texto altamente informativo. Ele afirma que a universidade francesa neces- sita de investimentos de modo a garantir que o país acom- panhe a tecnologia mundial. Isso é sustentado por meio de um desenvolvimento que nos apresenta um fato/ "alar- mantes dificuldades"/ uma fonte / relatório oficial/ e dados numéricos / 1.1% e 1.6%. Sendo assim, o parágrafo afirma uma necessidade, comprova e conclui apontando a solução. "Vida autónoma" para o parágrafo de um texto que vai dis- cutir a importância de mudanças nas universidades brasi- leiras para o crescimento do nosso país. É uma introdução que tangencia o foco do texto. Isto é, embora não seja uma introdução clássica (apresentação sumário do tópico a ser desenvolvido) ela é um exemplo de parágrafo-padrão. 1321 Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa O tópico frasal do parágrafo acima é a situação da universi- dade francesa que nos foi apresentada na forma de uma citação afirmativa. Existem, segundo Othon Garcia, algumas formas para construção de um tópico frasal e ou dar início a um parágrafo: - Declaração afirmativa ou negativa; - Interrogação; - Alusão histórica. 1 Observe os tópicos frasais e numere de acordo com a nomenclatura sugerida por Othon sobre tipos de tópicos: ( ) O debate sobre o destino da instituição universitária no mundo globalizado não é brasileiro. Ele ocorre na Fran- ça, na Inglaterra, na Alemanha e em tantos outros países. Isso acontece porque o conhecimento hoje, mais do que ontem, é absolutamente estratégico para o desenvolvimen- to das nações, como reconhece o editorial do "Lê Monde". ( ) O mercado para universitários está tão saturado que dirigir táxi se tornou uma alternativa. Será verdade? Vamos por partes. Inicialmente, a resposta não pode ser baseada na observação casual ("outro dia tomei um táxi."). E com dados estatísticos que se respondem a tais perguntas. A primeira questão é saber se o ensino superior leva ao em- prego ou ao desemprego. Ora, os diplomados do ensino superior têm uma taxa de desemprego de 2,7%, compara- da com os 6,7% para os que pararam no secundário. Quer dizer, embora não seja uma garantia perfeita contra o de- semprego, o diploma reduz os riscos em mais da metade. ( ) Quando me formei em economia, recebi várias ofertas de emprego de economista. Hoje, pouquíssimos graduados viram economistas no sentido estrito do termo, talvez 1%. Sa- 1 3 3 1 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) turação dos mercados? Se tomarmos uma definição rigorosa, saturação significa que os benefícios económicos não justifi- cam os custos do diploma. Como, em média, os universitários ganham mais do que os que pararam no 2° grau (sobretudo com o passar dos anos), amplamente compensando os custos, não há propriamente saturação. Mas há outras mudanças. Quanto ao desenvolvimento do parágrafo, António Suárez Abreu (1999) nos sugere algumas possibilidades: - Desenvolvimento por detalhes: que consiste em listar exemplos que evidenciem o tópico apresentado. Daí preferir- mos a terminologia desenvolvimento por lista de exemplos; - Desenvolvimento por definição: que consiste em con- ceituar algo apresentado pelo/no tópico; - Desenvolvimento por exemplo específico: que consiste em ilustrar um exemplo com detalhamento. Daí preferir- mos a terminologia desenvolvimento por ilustração; - Desenvolvimento por fundamentação da proposta: que consiste em fundamentar o tópico com referências biblio- gráficas, citação de fontes, dados estatísticos. Isto é, evi- dências argumentativas. - Desenvolvimento por comparação: que se vale de uma analogia para esclarecer o tópico. 2 Observe os parágrafos abaixo e numere-os, conforme os tipos de desenvolvimentos apresentados: ( ) Tendo em vista que a Terra é nossa morada, devería- mos preservá-la do mesmo modo que preservamos nossas casas. Imaginemos, por exemplo, se decidíssemos dar uma festa em nossa residência e no dia seguinte nos deparásse- 1341 Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa mós com peças roubadas, tapetes molhados e vasos quebra- dos. Obviamente, ficaríamos furiosos não só pelo valor sen- timental de nossas perdas, mas também pelo gasto posterior que teríamos para repará-las. Sob essa ótica, somos levados a concluir que o meio ambiente reage do mesmo modo, no entanto, em maior escala, ou seja, sua depreciação não é tão facilmente restaurada e seus danos se tornam, muitas vezes, irreversíveis, quando não, fatais à humanidade. ()Uma das maiores empresas de prospecção de petróleo do mundo, a Petrobrás, consegue conciliar desenvolvimento tecnológico à preservação do meio ambiente. Um exemplo disso é o apoio dado ao projeto TAMAR, que vem salvando e monitorando a vida de tartarugas marinhas. Desse modo, a Petrobrás tem contribuído para a preservação dessa espécie. ( ) Muitos lugares, como as ilhas do Caribe e do Pacífico estão sofrendo com o acúmulo excessivo de lixo. Os ater- ros não são a única consequência disso, devido a mais de 80% das águas não serem saneadas por falta de métodos modernos e eficientes, a poluição da água é um grande pro- blema ecológico dessas ilhas. "As pequenas ilhas do Caribe, do Pacífico e do Índico são as nações mais vulneráveis do planeta, devido às previsões de águas potáveis se vêem res- tringidas". Explicou Klaus Toepfer, diretor da PNUMA. ( ) Imaginemos um urubu chamado Zeca. Ele e outros urubus habitam um lixão próximo a um grande aeroporto. Muitos de sua espécie já morreram e Zeca ainda é obrigado a dividir os céus com enormes aviões que todos os dias pou- sam e decolam do aeroporto. Várias vezes, Zeca quase foi su- gado pelas turbinas de uma dessas máquinas enquanto pro- curava por um lugar tranquilo para descansar. Todos esses infelizes acontecimentos são frutos da falta de consciência ecológica em nosso país que permite a construção de lixões 1 3 5 1 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) em lugares inapropriados. Se Zeca morasse em um país mais desenvolvido, provavelmente ele não correria esses riscos. É preciso aumentar a consciência ecológica em nosso país e aproveitar para aprender com outros povos beneficiando-se da globalização. Só assim avançaremos tecnologicamente e preservaremos o nosso planeta e suas espécies. ( ) Consciência ecológica é a compreensão do indivíduo acerca da natureza e dos cuidados necessários para a preserva- ção do meio ambiente no mundo globalizado, no qual a maior parte da população preocupa-se apenas com um consumismo excessivo, sem comprometimento com o futuro do planeta. 2. Parágrafo e Resumo De parágrafos bem estruturados decorre a possibilida- de de captação do tópico frasal, isto é, do enunciado que sintetiza a ideia essencial do parágrafo. Inventariando os tópicos frasais, traça-se, consequentemente, o esquema das linhas fundamentais de onde se poderá partir para o exercício de resumo do texto. 3 Examine a paragrafação do texto seguinte: a) marque no texto os tópicos frasais de cada parágrafo b)reescreva os tópicos para figurarem como linhas de um esquema REB1MBOCA & CIA: CHIPS DE DOIS GUMES Como em outros campos da indústria, a eletrônica e, em especial os computadores, vêm ganhando cada vez Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa mais espaço nos carros. No começo, os "cérebros eletrô- nicos" se instalaram nas linhas de montagem, assumin- do a operação de ferramentas pesadas e de função com- plexa, que antes demandavam a ação de vários homens, mais tempo e riscos de segurança e ainda dificultavam que se mantivesse um padrão preciso de produção. Ou seja, máquinas gerenciadas por máquinas são mais capazes de fazer a mesma coisa, milhares e milhares de vezes, exata- mente da mesma forma. O homem, nem sempre. Essa precisão fez com que, no final dos anos 80, os computadores embarcassem de vez nos carros. Aos pou- cos, funções que dependiam exclusivamente da perícia e a sensibilidade do motorista e a regulagem de peças mecâ- nicas, passaram a ter o apoio da eletrônica. Os primeiros a sofrerem essa intervenção foram nossos pés direitos e os carburadores. Com os sistemas de injeção eletrônica, ganhou-se eficiência. Carros afogados em excesso de com- bustível por conta de motoristas com o "sapato pesado" ou carburadores desregulados saíram de cena. O consumo e a poluição caíram e o aproveitamento da energia gerada pela combustão melhorou: os carros com injeção eletrôni- ca de combustível "andam mais" que os carburados. Ao longo dos anos 90, os chips, bits e bytes se espalharam pelos carros, especialmente pelos modelos mais sofisticados. E trouxeram mais segurança - caso, por exemplo, dos freios assistidos com o sistema ABS, que é capaz de dosar a pressão de frenagem nos discos e lonas de freios - de um modo que so- mente os super-heróis dos quadrinhos poderiam fazer - e con- forto, na regulagem automática do ar-condicionado; na memó- ria para guardar os ajustes de bancos, espelhos e volante para cada condutor e até mesmo para fornecer informações sobre 1361 1371 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) velocidade média, consumo e outros dados instantaneamente. Isso e muitas outras coisinhas e coisonas que, em carros como o Citroen C5, ocupam a mufa de alardeados 18 computadores. E qual o preço de tanta modernidade? No caso dos sistemas já incorporados pelos modelos "populares", como a injeção eletrônica, esse custo inicial se dilui e, muitas vezes, pode até diminuir (chips são mais baratos que um carburador). E continua mais baixo, pois, em tese, exigem menos manutenção que os antigos. Em caso de pane ou quebra, no entanto, a coisa muda, já que, geralmente, não se conserta componentes eletrônicos como módulos de injeção. O indicado normalmente é a cara troca. Para aborrecer ainda mais os amantes da tecnologia, um levantamento recente realizado na Alemanha e divulgado pela Deutche Welle (http:7Avww.dw-world.de) mostra que o número de panes que automóveis com menos de cinco anos de uso so- frem nas estradas de lá por conta da eletrônica está crescendo à beça. Em 2003, foram nada menos do que 57% dos defeitos registrados. O número de recalls das fábricas pelo mesmo mo- tivo também aumentou. Uma explicação estaria na insuficiência de energia nos carros para tantas traquitanas. Segundo Helmut Schmaler, perito em eletrônica do Automóvel Clube Alemão, há anos as fábricas planejam instalar nos carros baterias de 42 volts. E não fizeram isso até hoje por questões de segurança e de custos. Ou seja, apesar de toda a tecnologia e evolução, ainda existem ajustes importantíssimos a serem feitos no que deveria ser básico nos automóveis. E se isso acontece na Ale- manha, imagine em outros países ao sul do Equador. Henrique Hoifman O Dia 12/02/2004 Caderno Automania 1381 Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa 3. Paragrafação: Planejamento Micro-Textual A ordem dos parágrafos e a relação entre eles (sinalizada pelas marcas de coesão) apontam para o planejamento textu- al, revelando objetivos e intenções comunicativas. Parágrafos bem estruturados e conectados aos outros facilitam o trabalho do leitor, pois aumentam a legibilidade do texto, demonstran- do, assim, a escrita competente do autor que planejou bem o seu texto para alcançar maior compreensão de suas ideias. 4 Você consegue colocar este texto em ordem? UNIVERSITÁRIOS DIRIGINDO TÁXI Cláudio y oura e Castro (in: Veja, 9 de setembro de 1999) ( ) Mas esse mercado que parece tão despreocupado com o conteúdo específico dos cursos, na verdade, torna-se cada vez mais exigente quanto à capacidade do diplomado de usar bem a cabeça. As empresas (e o setor informal não é diferente) querem quem entenda o que leu, escreva coisa com coisa, lide com quantidades, fale inglês, ajunte as peças de um problema e encaminhe a solução, tome decisões, en- fim, que saiba pensar. Os quatro anos de faculdade são o mo- mento de burilar essas habilidades. Interessa o conteúdo do curso, apenas na medida em que algumas carreiras dão mais oportunidades de exercitar a cabeça. Interessa supremamen- te a qualidade do curso, bem como o esforço do aluno, pois cada vez menos a empresa se importa com o diploma em si e cada vez mais pela capacidade do diplomado de entender o 139! ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) mundo e aprender com a experiência. Ter informações não é importante, saber buscá-las é. Infelizmente, muito do nosso ensino superior não entendeu isso e continua insistindo em especializações bobas, currículos abarrotados de informa- ções e pouca ênfase em aprender a usar a cabeça. ( ) O mercado para universitários está tão saturado que dirigir táxi se tornou uma alternativa. Será verdade? Vamos por partes. Inicialmente, a resposta não pode ser baseada na observação casual ("outro dia tomei um táxi."). E com dados estatísticos que se respondem a tais pergun- tas. A primeira questão é saber se o ensino superior leva ao emprego ou ao desemprego. Ora, os diplomados do ensino superior têm uma taxa de desemprego de 2,7%, compara- da com os 6,7% para os que pararam no secundário. Quer dizer, embora não seja uma garantia perfeita contra o de- semprego, o diploma reduz os riscos em mais da metade. ( ) Quando me formei em economia, recebi várias ofertas de emprego de economista. Hoje, pouquíssimos graduados viram economistas no sentido estrito do termo, talvez 1%. Sa- turação dos mercados? Se tomarmos uma definição rigorosa, saturação significa que os benefícios económicos não justifi- cam os custos do diploma. Como, em média, os universitários ganham mais do que os que pararam no 2° grau (sobretudo com o passar dos anos), amplamente compensando os custos, não há propriamente saturação. Mas há outras mudanças. ( ) Aí estamos. O diploma já não é mais uma passagem permitindo entrar no avião que leva ao país das maravi- lhas. É apenas uma lista dos equipamentos que levaremos para empreender uma jornada que pode ter muitos desti- nos. Ademais, o equipamento não é garantido pelo fabri- cante e os bons destinos requerem seu uso competente. 1401 Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa Para quem tem o diploma, resta o consolo de que a jorna- da é muito mais árdua para os que não o tem. ( ) A grande mudança, em todos os lugares do mundo, é a perda do vínculo claro entre diploma e ocupação. O en- genheiro vira suco, o economista vende terreno. O econo- mista Roberto Macedo, discutindo ideias semelhantes (no livro Seu Diploma, Sua Prancha, altamente recomendável), mostra como mesmo em empresas de primeira linha o nexo entre diploma e o que fazem os funcionários é mais do que ténue. Há gente com praticamente todos os tipos de diplo- ma exercendo praticamente todas as ocupações. O mercado não encontra grande diferença entre o engenheiro, o conta- dor e o advogado. Mas premia a pessoa bem informada (não importa muito em quê) e descarta a mal informada. Exceto nas profissões legais, pessoas com as mais variadas forma- ções são aprovadas nos concursos públicos mais difíceis. ( ) Enfrentamos uma longa crise económica e um pro- cesso em que a economia se livra das gordurinhas acumu- ladas ao longo dos anos de protecionismo. Nesse clima de vacas magras, ficou muito mais difícil para um universitário conseguir trabalho. É duro lutar quatro anos para conseguir um diploma que não mais dá acesso aos empregos sonha- dos. Mas o consolo é que sem o diploma seria muito pior. 4. Pontuação No que tange à estrutura interna do parágrafo, perío- dos curtos e pontuação garantem a clareza da informação. Três vícios de estrutura são comuns em textos de alunos que escrevem períodos muito longos: a subordinação ex- cessiva, frases incompletas ou fragmentadas e pontuação equivocada, ou mesmo ausência dela. 141 l ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) - Subordinação excessiva-. Ex: A escrita é inerente ao ofício do pesquisador e fica sendo de sua inteira responsabilidade a comunicação do que descobriu, criou, desenvolveu, por isso é mais neces- sária a comunicação escrita que é mais eficaz e sem ruído, por mais que a comunicação escrita esteja em crise é ne- cessário que um cientista se adapte nas formas de escrever porque a comunicação oral nem sempre é suficiente, por atingir um número muito pequeno de pessoas, podendo criar mal entendido principalmente nos trabalhos cientí- ficos. - Frases incompletas: Ex.l.: Na comunicação oral, segundo a autora, pode não atingir o desejado e gerar mal entendido. Ex.2.: O que a família precisa é de transparência,de pais e filhos que se compreendam e troquem experiências, sem inibições, sem medo do que os outros irão pensar. Que se divirtam como crianças, e pensem como adultos. Mas que acima de tudo que sejam cúmplices e se amem mutuamente. - Pontuação: Ex.: Por este motivo, o ato de comunicar-se abrange uma gama de recursos, se valendo de expressões faciais, gestos e até mesmo do próprio silêncio, pois quando um indivíduo se cala, ele se expressa por um modo rudimentar de linguagem, uma linguagem que não apresenta um sig- nificado muito explícito, mas que tem significado, sendo bem ilustrado pelo texto de Veríssimo quando Adão acorda e leva um susto ao ver Eva, o próprio susto não seria a ex- pressão de surpresa ao ver uma mulher pela primeira vez, Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa sendo portanto o comunicado da sua descoberta, poden- do a mensagem ser facilmente entendida pelo interlocutor, deste modo a comunicação se faz um elo que aproxima os semelhantes. 5: Uso da Dúvidas ninguém as tem. Ao injusto nada devo. Começaram antes do início do mês as obras. Sócrates o grande filósofo chorou. Maria sai da lata. Não diga isso Mariana. Leu ou melhor devorou o livro. Pode-se apontar além disso outro mal-entendido a res- peito da greve em serviços essenciais. 142 l 143 l ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) O espírto busca a luz; o coração amor. Desde que entraram na moda as peças napoleônicas adquiriram valores incalculáveis. Desde que entraram na moda as peças napoleônicas adquiriram valores incalculáveis as normas de etiqueta francesas. Olho o papel risco nomes canso-me. Trancou tudo porém esqueceu o cofre. Trancou tudo esqueceu porém o cofre. O homem falava e gesticulava. O homem falava e a multidão gesticulava. 1441 Prática de leitura e escrita em Língua Portuguesa ATIVIDADE 6: dois -pontos e ponto-e- Relacione à cada frase a explicação correspondente que justifica a sua escolha de pontuação. ( ) separa as orações coordenadas adversativas e conclusivas com conjunção deslocada; ( ) separa orações que já têm vírgula no seu interior; ( ) separa orações que fazem paralelismo ou contraste; ( ) aparece no final dos itens de uma enumeração; ( ) antes de aposto e oração apositiva ( ) antes de citações; ( ) antes de explicações e ou esclarecimentos; ( ) depois de: a saber, tais como, por exemplo. a) Manda quem pode obedece quem tem juízo. b) Ganhava pouco tinha conseguido entretanto uma fortuna. c) No início não entendia o funcionamento da empresa dois anos depois sabia mais que o dono. d) Para os amigos tudo para os inimigos a lei. e) Tivera uma infância cheia de dissabores não preten- derá pois rever os amigos daquela época. f) "Outros leram da vida um capítulo tu leste o livro inteiro."(Carlos Drummond) g) O jardim enfeitado de flores anunciava um lugar de paz a varanda de onde se via o mar tinha uma rede branca estendida. h) Cada funcionário em seu lugar a sala impecavelmen- te limpa nenhum rádio ligado o chefe voltou. 1451 ADRIANA MARIA DE ABREU BARBOSA (Org.) i) Indicaram três cidades Belo Horizonte Florianópolis e Recife. j) Restava um consolo a seguradora pagaria tudo. k) Disse Mário Quintana " O pior dos nossos problemas é que ninguém tem nada com isso". 1) O detetive guardou a prova do crime um chaveiro de prata. m) Anunciada a inflação de novembro 37%. 1461